Celeste Duque
2004-2005
Índice 1. Caracterização dos aspectos psicológicos dos três trimestres da gravidez Primeiro trimestre Segundo trimestre Terceiro trimestre
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Gravidez: 1º Trimestre É frequente a mulher ter inconscientemente noção das transformações bioquímicas e corporais que assinalam a presença da gravidez e expressar esta percepção através de sonhos ou “intuições”, muito antes de qualquer confirmação (e.g., falta de ciclo menstrual, exame obstétrico). 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] É a partir do momento desta percepção – consciente ou inconsciente – da gravidez que se inicia a formação da relação mãe-bebé e das inevitáveis alterações ao nível da rede de inter-comunicação familiar.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] É igualmente neste momento que se vai instalar o sentimento básico que irá acompanhar a grávida durante os 3 trimestres de gravidez, mas também depois do parto a ambivalência afectiva é o querer e não querer, ao mesmo tempo.
Uma oscilação entre querer aquele filho e não o querer.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Não existe uma gravidez totalmente aceite ou rejeitada; mesmo quando o sentimento predomina para uma das vertentes a verdade é que a outra está sempre omnipresente. Este sentimento é perfeitamente normal e caracteriza todos relacionamentos interpessoais significativos . 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Uma pessoa nunca ama ou odeia totalmente, de facto a complexidade dos relacionamentos humanos é suficientemente grande que permite a coexistência dos mais diversos sentimentos.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] A gravidez implica grandes transformações – interpessoais, intra-psíquicas, etc. No 1º trimestre o feto ainda não é sentido de forma concreta e as alterações do esquema corporal ainda são pouco perceptíveis, muito discretas. Como tal, as manifestações comuns da ambivalência são os sentimentos de dúvida entre estar ou não grávida, mesmo depois de confirmação médica.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Também pode evocar uma mistura de sentimentos de alegria, apreensão, irrealidade e, nalguns casos, uma franca rejeição.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Por outro lado há a ideia de o feto não estar ainda suficientemente “preso” ao útero, o que provoca inúmeras fantasias de aborto e, em alguns casos tentativas propositadas ou “acidentais” – tais como excesso de exercício e actividade física, exagerada propensão a tombos e quedas, fumar e/ou beber excessivamente.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Outras vezes o desejo de abortar é excessivamente disfarçado – mecanismo de formação reactiva, que se pode manifestar por Auto-protecção e cautela exageradas que levam a mulher a restringir drasticamente várias actividades, inclusive As relações sexuais por medo de prejudicar o feto.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] A primeira reacção à gravidez, não se cristaliza, a oscilação de sentimentos pode levar à transformação de uma rejeição inicial em aceitação e vice-versa.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Uma das primeiras manifestações do 1º trimestre é a hipersonia: a mulher tem uma maior necessidade de repouso como se se preparasse para as tensões fisiológicas adicionais que aí vêm.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Soifer (1971), psicanalista, interpreta este fenómeno em termos de regressão e identificação da mulher com o feto. A hipersonia costuma estar ligada ao retraimento isso traz repercussões ao nível familiar, e se a grávida é multípara os outros filhos vão aperceberse, consciente ou inconscientemente, destas modificações podendo levá-los a desenvolver sentimentos de inquietação, dificuldades de sono e alimentação, ou mesmo regredirem no desenvolvimento, mesmo que a mãe não os tenha informado do seu estado de grávida. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] As náuseas e e vómitos são os sintomas mais comuns do início da gravidez. São múltiplos os factores que podem explicar o fenómeno. As teorias que enfatizam apenas os factores endócrinos, e tóxicos estão superadas. Nem todas as mulheres vomitam, e há culturas em que as náuseas e vómitos da gravidez são fenómenos desconhecidos. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Caplan (1960) supõe que as mudanças hormonais da gravidez explicam em parte a ocorrência as náuseas e vómitos. A grande amplitude e variação destes sintomas sugerem a presença da influência de factores psicológicos.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] A psicogénese é largamente aceite nos casos de hiperemese gravídica o grau patológico dos vómitos na gravidez que requer, com frequência, hospitalização, pois põe em risco a saúde da mãe e a vida do “feto”.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Kroger & De Lee (1946) trataram com hipno-análise, 21 pacientes hospitalizadas por hiperemese, e verificaram que em 19 casos os sintomas desapareceram. Concluíram que a rejeição inconsciente da gravidez era o factor básico, da sintomatologia. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Harvey & Sherfey (1954) compararam 20 grávidas hospitalizadas por hiperemese, com 14 grávidas de controlo Utilizaram como instrumentos o Teste do Rorschach e avaliações clínicas, concluíram:
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Grávidas com hiperemese, apresentam maior incidência de distúrbios gastrointestinais em situações de tensão, dismenorréia, e frigidez; Eram mais imaturas, mais dependentes da mãe, mais ansiosas e tensas durante a gravidez. Encontraram correlação positiva entre o grau de perturbação emocional e a severidade e duração da hiperemese. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Robertson (1946), duvidando da rejeição da gravidez como única explicação para as náuseas e vómitos entrevistou 100 mulheres antes de engravidarem e colectou informações sobre atitudes em relação à sexualidade, ligação à figura materna e tendência à dispepsia. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Chegou à conclusão que os motivos mais salientes eram: a aversão ao coito e a frigidez; Maior grau de dependência em relação à mãe , maior severidade de sintomas; A hipótese da dispepsia não foi confirmada.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Chertok (1963), demonstrou a importância da ambivalência em relação à gravidez na etiologia das náuseas e vómitos. A maioria das grávidas que mais vomitaram caracterizava-se por
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Fortes oscilações entre a aceitação e a rejeição da gravidez. Encontrou, igualmente, forte correlação positiva entre os vómitos e a experiência negativa (de desagrado) dos primeiros movimentos fetais E correlação negativa entre vómitos “contribuição” positiva do marido na relação conjugal. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Outra manifestação peculiar da gravidez são os desejos Vontade compulsiva intensa por determinado alimento, não especialmente desejado fora da gravidez; podem degenerar em bulimia ou polidipsia.
e as aversões. Tudo indica que os desejos e aversões estão intimamente relacionados. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Threthovan e Dickens (1972) realizaram uma investigação sobre a etiologia dos desejos e aversões, dividiram-nas em 4 categorias: a) b) c) d)
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Teorias baseadas em superstições e folclore; Teorias físicas; Teorias psicológicas ou psicodinâmicos; Teorias que atribuem as perversões alimentares se deve, às alterações do paladar e do olfacto. 5º CLE - Psicologia V - 2004-2005
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Teorias baseadas em superstições e folclore: quando um certo alimento desejado não é comido a criança fica prejudicada, desfigurada ou com alguma marca; Teorias físicas que atribuem a pica (desejo compulsivo de comer substâncias estranhas tais como barro, cimento, sabão, carvão, etc.), em particular a uma necessidade de compensar uma determinada deficiência nutritiva; 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Teorias psicológicas ou psicodinâmicos que tendem a explicar estes fenómenos em termos de insegurança, sugestão, ambivalência, necessidade de atenção e regressão. Teorias que sugerem que grande parte das perversões de apetite na gravidez se deve, em parte, às alterações do paladar e do olfacto que ficam mais embotados e daí a preferência por substâncias de sabor e cheiro mais activos e picantes. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] O aumento de apetite pode atingir graus de verdadeira voracidade, com o consequente aumento de peso e complicações obstétricas.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Vários factores psicodinâmicos podem actuar nestes casos, nos primeiros meses Gravidez Colman (1969) verificou que há grande correspondência entre aumento de peso e crescimento fetal; Ganho ponderal interpretado como sinal do desenvolvimento normal do feto. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Maldonado (1980) refere que a dificuldade de manter uma alimentação adequada pode actuar como um mecanismo de autoprotecção: O feto é sentido como um parasita, sugando incessantemente as reservas da mãe que passa a comer em excesso a fim de compensar as “perdas”. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Igualmente presente na génese da voracidade durante a amamentação: Em que o bebé é sentido como um “sugador”, esvaziando a mãe que, deste modo precisa compensar as perdas através do aumento, exagerado, de apetite.
A restrição alimentar e a necessidade de manter uma dieta mais proteica, menos calórica, é sentida como mais uma privação ou sacrifício imposto
pela maternidade. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] A dificuldade de manter a alimentação adequada evitando certos alimentos deve-se à necessidade de se “dar” gratificações para compensar as privações pessoais associadas com a vinda do bebé. A voracidade pode também indicar a presença de sentimentos de hostilidade e desejos de destruir o feto camuflados por uma formação reactiva de preocupação excessiva com o bom desenvolvimento fetal. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Ainda como manifestação da ambivalência podem surgir sentimentos de culpa associados à impressão de não se estar a alimentar adequadamente, e, em consequência, medo de estar a fazer mal ao bebé.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Todos estes factores etiológicos estão intimamente ligados a um dos temores mais universais da gravidez: O medo de ter um filho deformado; Que nasça com algum tipo de deficiência.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Em níveis simbólicos, mais profundos, isto pode expressar o medo que os próprios sentimentos de hostilidade e rejeição, que fazem parte da ambivalência, e são vivenciados como maus e destruidores, possam ter prejudicado irremediavelmente o feto gerado dentro de si. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Caplan (1960) acredita que as oscilações de humor, tão frequentes desde o início da gravidez, estão intimamente relacionados com as alterações de metabolismo.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] É frequente que mulheres que predominantemente aceitam a gravidez podem passar por períodos depressivos e crises de choro mulheres que predominantemente rejeitam a gravidez podem passar por períodos de grande euforia e bem-estar. 27-Fev-2004
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] É, igualmente, frequente que O aumento da sensibilidade, está intimamente ligado às oscilações de humor. Há também um aumento: Maior sensibilidade nas áreas do olfacto, paladar e audição.
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] O que se expressa em termos emocionais através do aumento da irritabilidade A mulher fica mais irritada e vulnerável a certos estímulos exteriores que anteriormente não a afectavam (chora e ri mais facilmente).
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Gravidez: 1º Trimestre [cont] Colman (1969) observou estas mesmas Oscilações de humor, Aumento da sensibilidade e irritabilidade
mas atribui estas modificações à ampliação do campo de consciência, que acarretaria também A presença de sintomas psiquiátricos transitórios (e.g., compulsões, ruminações obsessivas e fobias) 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre É considerado o período mais estável do ponto de vista emocional. Impacto dos primeiros movimentos fetais, é o fenómeno central neste trimestre.
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Gravidez: 2º Trimestre [cont] Bonnaud e Revault d’Allones (1963) afirmam: Percepção dos primeiros movimentos fetais tende a Favorecer a aceitação da gravidez Maior grau de ambivalência Reacções de intensa rejeição
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85% 10% 5%
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Gravidez: 2º Trimestre Maldonado (1980) é de opinião que: Percepção dos primeiros movimentos fetais levam ao estabelecimento decisivo de sentimentos de personificação do feto.
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Gravidez: 2º Trimestre Atribui-lhe características próprias, de acordo com a interpretação dos movimentos. Sentido como carinhoso ou delicado – movimentos percebidos como suaves; Atribuídas características de agressividade e ataque – movimentos percebidos como bruscos e violentos (e.g., “socos” e “patadas”)
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Gravidez: 2º Trimestre Em três casos de Maldonado (1980) os movimentos fetais eram interpretados como agressão ao corpo da mãe (como se o feto estivesse a destruí-la; movimentos fetais do tipo ritmado, interpretados como sensação de prisão e desejo de sair do útero; grávida apenas dormia de costas, quando estava de lado e sentia o feto a mover-se, interpretava os movimentos como “queixas” do feto por estar a ser indevidamente comprimido. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Movimentos lentos e estereotipados das últimas semanas de gravidez, que já tinha ultrapassado a data prevista de término, foram interpretados como se o feto estivesse a “espreguiçar-se” sem a menor vontade de nascer.
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Gravidez: 2º Trimestre A ambivalência é observada quando os movimentos fetais podem ser interpretados de várias formas: Alívio ao sentir os movimentos – sinal que o feto está vivo Ansiedade – quando não consegue perceber os movimentos durante 1 ou 2 dias. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre A interpretação dos movimentos fetais pode ser encarada como mais uma etapa no estabelecimento da relação mãe-bebé: Em “fantasia”, a mãe, atribui ao feto a aquisição de características peculiares e já está a comunicar através da diversidade dos seus movimentos.
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Gravidez: 2º Trimestre A interpretação dos movimentos fetais pode ainda ser colocada num continuum geral de personificação/despersonificação. Há mulheres que não são capazes de vivenciar o feto de forma diferenciada Sentem-no como uma “massa” ou um “caroço” que se desenvolve no seu útero.
Outras conseguem diferenciar nitidamente a posição dos membros, do tronco, à medida que a gravidez avança. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre O impacto dos movimentos fetais no marido ou companheiro, pode desencadear reacções intensas: Profundos sentimentos de inveja Por não poder sentir o filho a crescer dentro de si;
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Gravidez: 2º Trimestre A partir do sentimento de inveja: Formação de uma situação triangular adulta O homem “participa” dos movimentos fetais sentindo-os através do ventre da mulher Comunicando com ele através de um processo de personificação (semelhante ao da mulher). O feto é introduzido na dinâmica do relacionamento familiar.
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Gravidez: 2º Trimestre Noutros casos, observa-se no marido, o reavivar de antigos conflitos e rivalidades Em relação à própria mãe, quando grávida dos irmãos Tende a sentir o feto como um “intruso”, que lhe vai usurpar o lugar de destaque junto da mulher. Vivência marcadamente regressiva
Ou em relação aos irmãos 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Num caso acompanhado por Maldonado, o marido perguntou à grávida se ela continuaria a cozinhar para ele depois que o bebé nascesse: Marcada regressão à fase oral.
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Gravidez: 2º Trimestre Noutro caso, de uma gravidez que sucede 10 anos após o casamento, o feto é encarado como um verdadeiro obstáculo que se interpunha entre os dois Dominava claramente o medo que o bebé viesse “atrapalhar” a vida a dois Neste caso o bebé nasceu prematuro de 7 meses. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Alterações do desejo e do desempenho sexual tendem a surgir com maior predominância a partir do 2º trimestre. Embora por vezes elas se manifestem desde o início da gravidez. Remete para a forma como a sexualidade é vivida
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Gravidez: 2º Trimestre Mais raramente, verifica-se um aumento da sexualidade Algumas mulheres experimentam pela primeira vez o orgasmo durante a gravidez (Caplan, 1960). A explicação prende-se com o facto de estas mulheres viverem a sua sexualidade com elevados níveis de culpabilidade, 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre com grande receio de engravidar Paradoxalmente, quando já estão grávidas permitem-se viver plenamente a sexualidade. Outra explicação prende-se com a auto-imagem Quando grávidas sentem-se mais femininas, mais mulheres Abandonam uma posição mais infantil e permitem-se uma sexualidade adulta.
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Gravidez: 2º Trimestre Habitualmente verifica-se uma quebra ou perda total de interesse sexual, que pode chegar à frigidez e desinteresse total Tanto por parte da mulher Mais raramente, por parte do homem.
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Gravidez: 2º Trimestre São vários os factores etiológicos: Cisão entre maternidade e sexualidade Sensação que a mulher grávida é “pura” e assexuada;
Uma das manifestações de ambivalência Medo de atingir, fazer mal, ou “amassar” feto, muitas vezes, motiva Formação reactiva de excessiva cautela e protecção 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Num caso clínico de uma gravidez “acidental”, a aversão ao relacionamento sexual, era basicamente motivada pelo desejo inconsciente de vingança e punição para o homem que a tinha engravidado.
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Gravidez: 2º Trimestre Noutro caso clínico de gravidez “acidental”, de uma mulher que não queria ter filhos, a aversão ao relacionamento sexual, verificou-se que esta mulher pretendia continuar eternamente no papel de “filha” para se permitir ser “mulher” e “mãe” História regressa: Tinha mantido uma profunda relutância ao relacionamento sexual com o marido, que evitava sempre que conseguia; Durante a gravidez, sempre que o marido tentava aproximar-se, ameaçava-o que iria voltar para casa da mãe dela. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Landis (1950), num estudo realizado às oscilações da sexualidade durante a gravidez, através de inquérito a 200 casais observou: Diminuição, a partir do 1º trimestre Diminuição, a partir do 2º trimestre Diminuição nos três últimos meses
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27% 43% 79%
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Gravidez: 2º Trimestre Kenny (1973) estudou, retrospectivamente, por questionário, o efeito da gravidez e do aleitamento, no comportamento sexual de 33 mulheres. Definiu operacionalmente o funcionamento sexual em termos de Desejo, Frequência e Orgasmo,
em 5 períodos. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Os três trimestres , durante a amamentação e após o desmame. Verificou que: Maioria não reportou alterações significativas da sexualidade na gravidez, excepto no 3º trimestre, altura em que se verificava uma diminuição; 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre 82% achavam que as relações sexuais deviam ser mantidas durante a gravidez; 75% reportou funcionamento sexual durante a gravidez, idêntico ao praticado antes de engravidar, durante a época de amamentação; Maioria das mulheres reportou a volta do desejo em torna da 4ª semana após o parto.
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Gravidez: 2º Trimestre É importante considerar a influência dos factores culturais na sexualidade, durante a e após a gravidez. Raphael (1973), estudou comparativamente diversas sociedades: Observou que o período de abstinência, culturalmente aceite, é extremamente variável: 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Desde alguns dias até 2 anos após o parto. Aparentemente este longo período de proibição prende-se essencialmente com o facto de o leite materno ser a única fonte de nutrição do bebé; Ter outro filho, antes do desmame tardio do 1º quase que implicaria na morte deste.
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Gravidez: 2º Trimestre Forma como a mulher sente as alterações do esquema corporal está intimamente relacionada com as alterações da sexualidade; a atitude do marido em relação às modificações corporais da mulher; e o modo como ela encara a gravidez. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre São possíveis diferentes reacções: A sensação de ser fecunda e estar desabrochando como mulher é frequentemente acompanhada de sentimentos de orgulho pelo corpo grávido; Principalmente, quando este último aspecto é compartilhado pelo marido.
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Gravidez: 2º Trimestre Noutros casos a reacção é a oposta: As alterações corporais são vividas como deformações A mulher sente-se feia, um “monstro”, sexualmente incapaz de atrair alguém; Quando esta vivencia é muito intensa, nem mesmo a atitude de admiração do marido pode ser aceite; e a mulher suspeita que o marido apenas pretende consolá-la. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Nestes casos observa-se, quase sempre, uma retracção sexual O que tem como consequência, a provocar, na relação conjugal sentimentos de ciúme e suspeita de infidelidade; São mesmo muito frequentes as relações/ligações extraconjugais durante a gravidez da mulher, quando o marido tende a dissociar maternidade e sexualidade. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Um dos temores universais associados à gravidez está associado às alterações corporais Medo de irreversibilidade, dificuldade em acreditar que as diferentes partes do corpo tal como têm a capacidade de se ampliar para se ajustar às necessárias adaptações da gravidez, também têm a capacidade de, finda esta iniciar o processo inverso para voltar ao “normal”.
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Gravidez: 2º Trimestre A explicação psicológica prende-se com medo de ficar irremediavelmente modificada como pessoa, pela experiência da maternidade; de nunca mais recuperar a sua antiga identidade; de se transformar numa outra pessoa com mais perdas do que ganhos. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Caplan (1960) considerou que a introversão e a passividade são características emocionais, mais peculiares, da gravidez. Em geral evidenciam-se no final do 1º trimestre (quando a hipersonia desaparece) e vão aumentando ao longo da gravidez.
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Gravidez: 2º Trimestre A mulher sente que o “ritmo” do seu organismo é mais lento Tende a ficar mais concentrada em si mesma, mais retraída Algumas sentem-se menos dispostas à actividade e, por vezes, esta mudança é sentida como desagradável. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Caplan (1961) considera que a introversão e a passividade derivam das mudanças metabólicas, e que esta etapa é importante para preparar a mulher para a maternidade. E que, nos primeiros meses após o parto ela necessita de mais afecto, cuidados e protecção; Precisa de receber mais do que de dar.
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Gravidez: 2º Trimestre Aparentemente as mulheres que mais apoio e afecto receberam são, posteriormente, as que mais conseguem dar afecto e carinho ao bebé; As que menos receberam, tendem a apresentar dificuldades em desempenhar o papel de pessoa fundamentalmente doadora e é comum privarem o bebé em suas necessidades de afecto.
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Gravidez: 2º Trimestre Esta maior necessidade de afecto pode ter um efeito perverso na relação conjugal O homem pode sentir-se “sobrecarregado” por ser excessivamente solicitado e exigido a dar mais de si, ao mesmo tempo que recebe menos (que é privado de atenção e cuidados). Pode surgir o receio de vir a ser eternamente “explorado”, ou ter que “ceder” e que a mulher fique “mimada” para sempre (com tudo o que de negativo está associado à palavra) 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre No caso de haver mais filhos estes tendem a captar a “retracção” da mãe e são frequentes Os comportamentos que visam solicitar mais atenção e cuidados Crises de ciúme motivadas
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Gravidez: 2º Trimestre Factores que condicionam a lactação bem sucedida Não é a atitude favorável, ou não, relativamente à amamentação; O afecto demonstrado pelo bebé; A preocupação com a saúde; A tendência a apresentar engurgitamento ou abcesso mamário. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre A investigação levada a cabo por Raphael, em 1973, demonstrou que o que condiciona a lactação é A qualidade e o grau de ajuda que a nova mãe recebe após a alta hospitalar As que não tinham nenhuma ajuda ou que estavam cercadas de pessoas com atitudes hostis, críticas ou coercivas tendiam a não produzir leite de forma satisfatória. 27-Fev-2004
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Gravidez: 2º Trimestre Raphael comenta, igualmente, que o tipo de ajuda tão necessário pode assumir diversas formas: Rituais e proibições Divisão de tarefas domésticas que permitem à mãe períodos maiores de repouso e despreocupação, etc.
Em última análise, permite à mãe sentir-se segura e estabelecer com o bebé o ritmo individual da amamentação. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre O nível de ansiedade tende a elevar-se de novo, com a proximidade do parto e da mudança de rotinas de vida a que o bebé obriga. A ansiedade é especialmente aguda nos dias que antecedem a data provável de parto e agrava-se ainda mais quando esta data é ultrapassada. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Sentimentos são contraditórios Por um lado, desejo de ter o filho – terminar a gravidez E, por outro, a vontade de prolongar a gravidez para adiar a necessidade de proceder às novas adaptações/modificações a que o bebé origina. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Caplan (1961) observou que no 3º trimestre há uma maior probabilidade de a grávida reviver antigos conflitos com os seus pais ou irmãos, que tinham sido reprimidos e esquecidos. Considera, também, que isso se deve à mudança de equilíbrio entre o Ego e o Id, o que facilita o aparecimento de conflitos e fantasias na consciência e enfraquece o sistema defensivo. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Obviamente que o ressurgimento destes antigos conflitos e permite atingir um maior grau de maturidade ou intensificar as soluções doentias dadas aos seus problemas que passam a interferir na relação mãe-bebé – de referir que estas não comprometem o teste da realidade. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Esta mudança de equilíbrio tende a desaparecer por volta da 2ª ou 3ª semana, altura em que ocorre, de novo, a repressão maciça das fantasias e pensamentos irracionais surgidos no decorrer da gravidez. Os temores mais comuns na gravidez estão bastante associados às fantasias que surgem neste período. Os temas têm um carácter de auto-punição: 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Medo de: Morrer no parto Ficar com a vagina permanentemente alargada Ficar com os órgãos genitais dilacerados pelo parto Não ter leite suficiente ou ter leite fraco Simbolizando sentimentos de inadequação e desvalorização como mãe.
Ficar “presa” e ter que alterar toda a rotina de vida. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Caplan está convicto que os temas de autopunição estão directamente relacionados com sentimentos de culpa da grávida: Em relação a conflitos com a própria mãe Em relação à masturbação Evidentemente, num nível mais profundo, reflecte sentimentos ambivalentes em relação à sexualidade. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] As observações clínicas de Kitzinger (1967) mostram que muitas mulheres que temem não ter “passagem” para o bebé apresentam dificuldades na relação sexual.
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Sonhos e fantasias conscientes mais frequentes: Na gravidez: Sonhar com o parto, com o bebé e com as alterações do esquema corporal; As expectativas em relação a si própria como mãe e em relação ao bebé são temas também frequentemente expressos em sonhos. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Num caso acompanhado por Maldonado: Uma primípara sonhou que o bebé tinha nascido muito antes da data prevista, não lhe dando tempo para preparar nada Expressando assim a sua sensação de não estar preparada para ser mãe.
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Num outro caso : Sonhou com o bebé a chorar, com uma boca enorme e ela aflita sem conseguir tirar leite do seio para dar ao filho Expressando assim a preocupação de não ter reservas afectivas suficientes para satisfazer um bebé imaginado como voraz e sugador. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Winget e Kapp (1972) tentaram pesquisar factores psicológicos do parto prolongado em primípares. Numa amostra de 70 grávidas, divididas em três grupos: Parto rápido – a menos de 10 horas; Parto intermediário – 10 a 20 horas; Parto longo – mais de 20 horas. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Ansiedade estava presente em cerca de 80% dos sonhos do grupo de trabalho de parto rápido; Somente em 25% dos sonhos do grupo de parto prolongado; Sonhos sobre o bebé e o parto constituíam cerca de 1/3 dos sonhos de todos os sujeitos, não havendo diferenças nos 3 grupos. 27-Fev-2004
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Verificou-se que as grávidas cujos sonhos não continham temas de ansiedade tendiam a ter partos prolongados devido à acção uterina ineficiente, o que confirma a hipótese que A função do sonho é tentar dominar, em fantasia, uma tensão antecipada na vida real.
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] As grávidas cujos sonhos contêm temas de ansiedade e sentimentos negativos estão a tentar enfrentar antecipadamente a crise do parto sem recorrer maciçamente, como as mulheres do parto prolongado, a mecanismos de repressão e negação da ansiedade.
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Gravidez: 3º Trimestre [cont] Sindroma de Couvade Threthovan (1969), analisou 327 homens durante a gravidez das mulheres
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