Jean-Pierre Ryngaert Ryngaert
Professor de Estudos Teatrais da Universidade de Paris III, diretor teatral e um dos responsáveis pela Mousson D’Étéî (festival anual de teatro contemporneo!" Introdução à análise do teatro
#$$%, &'o Paulo Martins )ontes
IV. Enunciados e enunciação •
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*+naert inicia o te-to falando .ue é comum uma identi identi/ca /ca0'o 0'o do teatr teatro o com 1a so soma ma das intera intera02e 02ess entr entre personaens por intermédio da fala3, pois disso resultaria um efeito de verossimil4an0a" verossimil4an0a" 5o inte interi rior or do te-t te-to o pron pronun unci ciad ado o pelo peloss ator atores es,, é poss poss6v 6vel el identi/car, de forma eral, monólogos e diálogos" &er &eria nece necess ssár ário io,, por orta tant nto, o, iden identi ti/ /ca carr o co con7 n7u unto nto dos enun enunci ciad ados os do te-t te-to o para para res espo pond nder er a se seu uin inte te .ues .uest' t'o o quem fala a quem e por qu!
". # estatu estatuto to$ $ da fala fala
8 rera de funcionamento Diálogo e monólogo •
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9 distin0'o entre os dois é menos evidente do .ue parece, até por por.ue .ue am am:o :oss as assu sume mem m for forma mass dive divers rsas as co conf nfor orme me as dramaturias" Diáloo de/nido primeiramente como 1conversar entre duas pessoas3, o .ue no teatro nem sempre sini/ca um intercm:io de falas" 5o teatro clássico, o diáloo pode assemel4ar;se a uma o série de mon
diál diálo oo o clás clássi sico co pode pode se as asse seme mel4 l4ar ar a uma uma troc troca a o ver:al cerrada, com réplicas :reves alternadas .ue mais parecem um duelo ver:al" Mon
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Para ele, o ator de%ne seus apoios de representação e toda fala& no teatro& 'usca seu destinatário" Por vees é dif6cil identi/ ti/car uma fala pr
A fala e a ação •
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5o teatro admite;se, por conven0'o tácita, .ue todo discurso das personaens é 1a0'o falada3 (Pirandello! ou .ue 1falar é faer3" Porém orém,, as rela0 ela02e 2ess entr entre e as situ situa0 a02e 2ess de fala fala e as o situa02es dramáticas variam consideravelmente" o 1Uma personaem fala para air so:re a outra, para come co ment ntar ar uma uma a0 a0'o 'o rea eali lia ada da,, anun anunci ciar ar uma uma outr outra, a, lamentá;la, enaltec=;la3" 9 fala de uma personaem indica a rela0'o .ue ela tem com o mundo a partir do uso .ue ela fa da linuaem" E-istem dois casos importantes a partir da fala o A fala é ação (ecFett! o A fala é instrumento da ação (desencadeia ou comenta a a0'o! 9lumas o:ras com:inam esses dois 1estatutos3 ou os o alternam" > teatro e-plora as oposi02es .ue e-istem entre a persnaem e seu discurso, entre fala e o conteto de sua enuncia0'o" o &'o os desvios e as rupturas da fala .ue apontam as inconru=ncias do real e e-p2em os conGitos ocultos"
E as didascálias*?
8 indica02es c=nicas ou ru:ricas •
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9s variantes na percep0'o su:7etiva das ru:ricas evidenciam as rela02es entre palavra e a0'o, situa0'o e enuncia0'o e situa0'o dramática" 9s defasaens entre palavra e a0'o podem revela elar contradi02es na representa0'o, criando efeitos de distor0'o ou de distanciamento, até mesmo e-pondo o pro:lema do estatuto do te-to do teatro" Ele apresenta .ue o termo 1fala3 desina, em seu livro, os te-tos pronunciados pelas personaens"
+. ,ituaç ,ituaçes es de fala fala
1> modo de e-press'o no teatro n'o consiste em palavras, mas em pessoas .ue se movem em cena empreando palavras"3 H
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> diál diálo oo o de teat teatrro pode pode se serr es estu tuda dado do co como mo uma uma troc troca a conv co nver ersa saci cion onal al entr entre e enun enunci ciad ador ores es,, de co comp mprree eens ns'o 'o das das rela02es entre as palavras e a.ueles .ue as diem, e analisar por .ue as diem" 9 análise das falas (como situa02es de comunica0'o! e das rela02es de for0a entre os enunciadores a7udará a construir estes como personaens"
A análise conversacional •
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19 análise dos dados e-tralinu6sticos da intera0'o permite compreender por .ue e como os enunciados se formaram"3 Em toda comunica0'o ver:al, e-istem dois tipos de pressupostos con nver versa0 a0'o 'o tem tem suas suas tro troca cass em Ritual Ritual social social a co o fun0'o do .uadro social dos indiv6duos, .ue 7á tem um con4ecimento apropriado so:re essa situa0'o" /digo social uma conversa0'o se desenvolve a partir o de um c< c
O diálogo de teatro como conversação •
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1Aonversa0'o3 é um termo utiliado como e.uivalente de fala inte interrca cam: m:ia iada da,, .ue .ue é 7ust 7ustam amen ente te o .ue .ue *+na +naer ertt .uer .uer estudar" Pier Pierre re Jart4o Jart4omas mas o:serv o:servava ava simili similitud tudes es entre entre o diálo diáloo o de teatro e o diáloo comum, mas a caracter6stica essencial do prim primei eiro ro é a de 4ist 4istrecc4ioni, por outro lado, o:serva .ue um te-to teatral (e-ceto as ru:ricas! é uma se.u=ncia estruturada de réplicas a caro de diferentes personaens .ue entram em intera0'o" *+naert +naert compartil compartil4a 4a a e-peri=nc e-peri=ncia ia do linuista linuista americano americano r+an K" AroL, .ue coletou N4 de conversas entre casais para o seu doutorado e oraniou uma pe0a de teatro em cima delas" O
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Todos Todos os linuistas su:lin4am a diferen0a de oraniam do material teatral, 7á .ue por trás do diáloo e-iste um autor .ue .ue es está tá lá para ara preo preorrdena denarr as se se.u .u=n =nci cias as dial dialo oad adas as,, manifestar inten02es e oraniar o discurso das personaens em prol prol de um o:7e o:7eti tivo vo má má-i -imo mo a co comu muni nica ca0' 0'o o co com m os espectadores"
Desvios • •
Diferen0a entre o falor comum e o uso da fala no teatro" &'o &'o era eralm lmen ente te 1e 1emi miss ssor ores es 4uma 4umano noss .ue .ue fae faem m um uso uso inco incom mum da l6n l6nua ua co comu mum3 m3,, produi duin ndo dois dois tipo tiposs de situa0'o de fala 9 co comu muni nica ca0' 0'o o teat teatra rall oper operan ando do no eiei-o inte intern rno o da o rela0'o entre os indiv6duos e no ei-o e-terno, entre o 9utor e o Jeitor e o PB:lico, através de uma cadeia de emissores" dupl pla a enun enunci ciaç ação ão e-pli > termo du -plica ca es essa sa particularidade" > pB:lico tem o estatuto de destinatário indireto, pois é a ele .ue todos os discursos s'o diriidos, meso .ue somente de maneira impl6cita" E-istem tam:ém outras varia02es, resultantes de dram dramat atur uri ias as dife diferrente entes, s, pois pois é o 6ndi 6ndice ce das das estrat*gias de informação do autor .ue decide o .ue o pB:lico deve sa:er e como deve sa:=;lo" > .ue é escrito no teatro é falso, destinado a produir o sentido" Porta ortant nto, o, *+na +naer ertt apon aponta ta a nece necess ssid idad ade e de analisar como os diáloos s'o constru6dos pelos diferentes autores autores e o .ue estes esperam deles" Para >recc4ioni, 1o 1o discurso teatral elimina muitas esc pro(eto art0stico e-iste a partir de cruam cruament entos, os, so:re so:repo posi0 si02es 2es e entre entrela0 la0ame amento ntoss .ue conduem a efeitos de sentido" 1Tudo é permitido no diáloo teatral, tanto mais .ue no diáloo a fala está sempre em :usca de seu destinatário"3
Interesse prático desse modo de análise
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5a passaem R cena, é preciso falar escol4as art6sticas .ue se fundam, entre outros dados, so:re a análise das situa02es de fala" 9s primeiras decis2es da representa0'o s'o responder 1.uem fala a .uem e por .u=3" > tecido relacional .ue se esta:elece entre as personaens é decorrente da aten0'o dada Rs trocas ver:ais propostas no te-to, 7usti/cando e produindo a fala" > teatro dá conta das rela02es 4umanos mesmo .uando as critica ou as parodia" > teatro do sil=ncio, inclusive, interroa a fala 4umana através de sua aus=ncia"
O" Para um estudo do diálogo Os temas do diálogo •
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> primeiro passo para a:ordar um framento de diáloo é identi/car so:re o .ue falam as personaens" Entretanto, duas di/culdades se apresentam 9 facilidade em limitar;se aos randes temas, ao .ue é o tradicionalmente apresentado como essencial" 9 di/culdade em separar os conteBdos dos enunciados o das implica02es da fala, das rela02es de for0a entre as personaens" Para identi/car os temas com precis'o, é preciso nomeá;los de formas distintas, para depois oraniá;los e 4ierar.uiá;lo 4ie rar.uiá;los" s" >s temas devem ser com:inados com a análise das rela02es de for for0a entr entre e as pers person ona aen enss e o es estu tudo do das das .ues .uest2 t2es es liadas R estratéia de informa0'o do autor"
O que está em ogo no diálogo # respeito às regras con)ersacionais o
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É Btil o:servar a se as reras elementares da conv co nver ersa sa00'o s'o res esp peita eitad das ou infr infrin ini id das as 4á alter ern nncia e cooper era a0'o entre as falasS >u as per perso son naen aenss es escu cuttam am;s ;se, e, res esp ponde ondem m;se ;se ou até até interrompem;seS 9s falas s'o :reves ou lonasS E-iste um intercm:io ou mudam de assunto fre.uentementeS Essas o:serva02es permitem identi/car as rela02es de for0a e da maneira como os diáloos s'o estruturados pelo autor"
#s pressupostos da fala o
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>:se >:serv rvar ar por por .ue .ue a pers person ona aem em se auto autori ria a a fala falarr como fala" *+naert, *+naert, nesse ponto, ressalta .ue o sil=ncio é a norma e nen4uma fala é espontnea"
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uadro social a fala vai no sentido .ue é esperado ou rompe com o c .ue interessa s'o as diferentes posi02es ocupadas pela personaem, de uma réplica a outra" 9s personaens ocupam papéis diferentes e sucessivos, pois numa conversa0'o, 1nada 7amais está totalmente e-posto e-posto ("""! e os e.uil6:rios e.uil6:rios .ue ali se realiam sempre sempre s'o precários e provisrecc4ioni!" 5o teatro, toda fala :usca seu destinatário e a escol4a /nal /nal do dest destin inat atár ário io muit muitas as vee veess s< ac acon onte tece ce nos nos ensaios, por decis'o do diretor" 15o rande 7oo teatral no enunciador;destinatário, a for0a da réplica pode até ser a resposta a uma perunta .ue n'o /ura no diáloo mas R .ual a personaem responde como se respondesse a si mesma"3
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Estratégia de informação •
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Aomo indicado pela dupla enuncia0'o, a fala das personaens tam:ém tem como o:7etivo fornecer ao leitor e, posteriormente, ao pB:lico, informa02es so:re o .ue se passa e o desenvolvimento da intria" 9 estratéia di respeito, portanto, ao modo como a informa0'o é transmitida corresponde a uma vontade declara par para um auto autor, r, se7a e7a em fun0' un0'o o de uma époc época, a, de uma uma estética ou, pelo menos, do caráter espec6/co de uma escrita" o Para os clássicos, a informa0'o deve ser completa" 5o teatr teatro o contem contempor porne neo, o, ser serve; ve;se se amplam amplament ente e da o elipse" 9 rela0'o entre a fala das personaens, sua verossimil4an0a, e a forma como a informa0'o é transmitida s'o essenciais para *+naert" #s modos de informação ao espectador o o o
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9:undante (todas as informa02es fornecidas pela fala! *ara (nen4uma informa0'o fornecida pela fala! Diret Direta a (inf (infor orma ma02 02es es for forneci necida dass pelo pelo .ue .ue s' s'o, o, co como mo mon
A poética do te!to de teatro •
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Um enunciado n'o pode se reduir a uma situa0'o de fala ou de comunica0'o" 1É um para parado do-o do disc discur urso so teat teatra rall depe depend nder er ao me mesm smo o tempo da comunica0'o ordinária, da comunica0'o particular autorespectador, e da literatura, portanto, da arte"3 Em todo todo te-t te-to o de teat teatrro 4á rela0 ela02e 2ess entr entre e os elem elemen ento toss materiais do discurso, independente de seus enunciadores"
Em seuida, *+naert apresenta um modelo de análise do diáloo de "arivau! " 5a análise, ele identi/ca .uadro social conversa0'o posi0'o das personaens, destinatários o .ue a fala desvenda • • • •
V. 1 personagem ". 2e'ates 2e'ates em torno torno de uma identid identidade ade m/)el m/)el #onfus$es a propósito da identi%cação •
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E-is E-iste te uma uma trad tradi0 i0'o 'o da prát prátic ica a teat teatrral .ue .ue a lin linua uae em m e-pri -prime me 4a:i 4a:itu tua a a co cons nsid ider erar ar a per perso sona nae em m co como mo uma uma consci=ncia autnoma" >s pro: pro:le lema mass te< e
+. 1preender 1preender a persona personagem gem entre entre o te3to te3to e o palco &ode'se dispensar a personagem? •
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5os te-tos, o rau de realidade de uma personaem pode se reduir até o estatuto de enunciador annimo" 9 /c0' /c0'o o teat teatra rall tem, tem, para para *+na +naer ert, t, a nece necess ssid idad ade e da per perso sona na em na es escr crit ita, a, 1c 1co omo mar arcca uni/ uni/ca cado dorra dos dos procedimentos de enuncia0'o, como um vetor essencial da a0'o, como uma encruil4ada do sentido3" Em seuida, na passaem do te-to ao palco, o ator continua seu tra:al4o so:re o sens6vel a partir da unidade do papel" Por /m, o pB:lico se apoia na personaem para entrar na /c0'o"
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Para ara *o:er o:ertt 9:ir 9:irac ac4e 4ed, d, a pers person ona aem em é 1uma 1uma so soma ma de sin sini/ i/ca can ntes tes cu7o cu7o sin ini/ad i/ado o deve eve ser co con nstr stru6do 6do pelo elo espectador3" 19 personaem n'o e-iste verdadeiramente no te-to, ela s< se realia no palco, mas ainda assim é preciso partir do potencial te-tual e ativá;lo para c4ear ao palco"3
&ersonagem a montante( personagem a usante •
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*+na +naer ertt aar aarra ra;s ;se e R 4ip< 4ip
4. Para Para um estudo estudo da persona personagem gem &rinc)pios •
19 personaem é uma encruil4ada do sentido" Vá necessariamente trocas entre a personaem analisada como uma identidade ou até como uma su:stncia, a personaem vetor da a0'o e a personaem su7eito de discurso" &'o essas trocas .ue l4e conferem toda a sua comple-idade"3
#arteira de identidade •
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1>s discursos das personaens s'o reunidos so: a mesma sila, .ue constitui a primeira pista de sua identidade"3 1Uma personaem n'o se constr levan levanta tame ment nto o dos dos tra0 tra0os os pert pertin inen ente tess para para ca cada da pers person ona aem em torn torna; a;se se indi indisp spen ensá sáve vel, l, 7á .ue .ue per permite mite recon4ecer oposi02es e semel4an0as"3 o
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5# fato de a personagem ser rei s/ tem realmente sentido se a considerarmos em relação às outras& que não são reis.6
*ic4ard Monod 1constela02es de personaens3" 9 individualidade de cada personaem é constru6da no interior do rupo de protaonistas, protaonistas, mostrando;se pertinentes somente as semel4an0as e oposi02es" 9 personaem te-tual come0a nas informa02es te-tuais da pe0a, mas dei-am uma marem de interpreta0'o importante, .ue é a do tra:al4o art6stico" 9ssim, compete ao palco ativar as refer efer=n =nci cia as, dan dando;l do;l4 4es ou n'o impo imporrtnc tncia ia par ara a a personaem" W
A personagem( força atuante •
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Ela:orou;se a imaem de uma personaem de/nida pelas a02es .ue realia, como suporte e vetor de for0as atuantes, pelo pelo me meno noss se se und undo a co con nce cep0 p0'o 'o tradic adicio iona nall de uma uma personaem;nBcleo" 9ris 9rist< t
O sueito do discurso( o oeto do discurso •
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Aada personaem tem um con7unto de réplicas, monutr >utras as fae faem m um disc discur urso so so so:r :re e si mesmas" 5'o se pode con/ar muito nos discursos .ue as personaens fae faem m so so:r :re e si me mesm smas as,, co como mo anál anális ises es,, e-pli -plica ca02 02es es ou .uei-as" 9 lin linua uae em m de ca cada da inte interl rloc ocut utor or s< tem tem um inte interres esse se limitado .uando n'o se veri/ca a .uem ela se dirie e por .ue se constr autor fa falar personaens .ue t=m necessidade do corpo de um ator para nascerem e da presen0a do pB:lico para e-istirem plenamente"3 19 personaem de teatro ee, no te-to, um fantasma em :usca de enca encarrna0' na0'o o e, na repr epres esen enta ta0' 0'o, o, um co corp rpo o se semp mprre usurpado, por.ue a imaem .ue nos é dada n'o é a Bnica poss6vel e 7amais é completamente satisfat
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