1960 SUBVERÃO DO UEITO E DIAÉTICA DO DEEO
ESCRITOS Jacques Lacan
Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano
Este exo representa a comunicação que foi nossa conribuição a um Congresso reunido em Royaumon aos cuidados dos "Colóquios osócos inteacionais, sob o íuo A dialética, para ele nos havendo convidado Jean Wahl Ee se reaizou de 19 a 23 de seembro de 1960. Foi a daa dese exo, anterior ao Congresso de Bonneval do qua saiu o que o sucede, que nos fez publicá-o: para dar ao leior uma idéia do avanço em que sempre se maneve nosso ensino em relação ao que dee podamos dar a conhecer. (O grafo aqui produzido foi consrudo para nosso Seminário sobre as formações do inconsciene. Eaborouse especialmene com base na esruura do chiste, omada como pono de parida diane de um audiório surpreso Isso se deu no primeiro rimesre ou seja, o úlimo de 1957. Um resumo com a gura aqui foecida foi publicado na época no Bulletin de Psychologie.)
Uma esruura é consitutiva da prática a que chamamos psica nálse. Essa estrutura não pode ser indferene a um públco como este, que se supõe filosofcamene nformado. Que ser flósofo quer dizer interessar-se por aquilo em que todo o mundo está ineressado sem saber, es uma afirmação neressante, por oferecer a particulardade de que sua pertinênca não implica que ela seja demonsrável. É que só se pode de monsrá-la se todo o mundo se toar filósofo Digo sua pertinência pertinência flosófica, flosófica, á que tal foi, af afinal inal de conas, c onas, o esquema que Hegel nos deu da Hisória na Fenomenologia do espíri espírito to.. 807
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Resumilo, assim, em o ineresse de nos apresenar uma mediação fácil para siuar o sujeio por uma relação com o saber. Fácil ambém para demonsrar a ambigüidade dessa relação. A mesma ambigüidade que manifesam os efeios da ciência no universo conemporâneo O douto que faz ciência é ambém um sujeio, ele próprio, e aé particularmene qualificado em sua constituição, como o demonstra o fao de a ciência não er vindo ao mundo sozinha (de o paro não ter sido sem vicissiudes, e de ter sido precedido por alguns fracassos: abortos ou premauração) premauração ) . Ora, esse sujeio que deve saber o que faz, ao menos segundo se presume, não sabe o que, de fato, nos efeitos da ciência, ineressa a todo o mundo Ao menos assim parece no universo contemporân contemporâneo eo onde odos se enconram enconram em seu nível, por por anto, quano a esse ponto de ignorância Isso, por si só, jusifica que se fale de um sujeio da ciência Afirmação à qual preende igualar-se uma episemologia da qual se pode dizer que, nesse aspecto, ela mosra mais preensão do que sucesso Daí, aprendamos aqui, a referência oalmene didáica que fomos buscar em Hegel, para deixar claro, para as finalidades de formação que nos são próprias, o que acontece com a quesão do sujeio, al como a psicanálise propriamene a subverte. O que nos qualifica para proceder por essa via é, evidene mente, nossa experiência dessa práxis. O que nos determinou a isso, como aesarão os que nos seguem, foi uma carência da teoria, reforçada por um abuso em sua transmissão, os quais, por não deixarem de ser s er perigoso peri gososs para a própri própriaa práxis, práxi s, resulam, ano um quano o ouro, numa ausência oal de satus cienfico. Formular a quesão das condições mínimas exigíveis para al status não era, talvez, um pono de parida desoneso. Consa ouse que ele leva longe Não é à amplitude de um quesionamento social que nos referimos aqui, ou seja, ao reservatório das conclusões que tivemos de irar conra os noórios desvios, na Inglaterra e na América, da práxis que se auoriza do nome psicanálise. É propriamente a subversão que enaremos definir, descul pandonos perane esta assembléia, cuja qualidade acabamos de
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invocar, por não poder fazer mais em sua presença do que fora dela, ou sea, por tomá-la tal e qual como pivô de nossa demonstração, ficando a nosso encargo ustificar perante ela a pouca margem que lhe deixamos Mas usando sua benevolência para considerar aceito que as condições de uma ciência não podem ser o empirismo. Num segundo tempo, deparando com o que já se constituiu, com um rótulo científico, sob o nome de psicologia. O que recusamos. Precisamente porque iremos demonstrar que a função do sujeito, tal como a instaura a experiência freudiana, desqualifica na raiz o que sob esse título só faz, não importa a forma de que se revistam suas premissas, perpetuar um contexto acadêmico Seu critério é a unidade do sueito que existe com base nos pressupostos desse tipo de psicologia, nela cabendo até tomar como sintomático que seu tema sea cada vez mais enfaticamente isolado, como se se tratasse do retoo de um certo sueito do conhecimento, ou fosse preciso que o psíquico se fizesse valer como duplicando o organismo. É preciso aqui tirar um padrão da idéia, para a qual conui todo um pensamento tradicional, de habilitar a expressão não infundada estado do conhecimento" . Quer se trate dos estados de entusiasmo em Platão, dos graus do samadhi samadhi no budismo, ou do Erlebnis, experência vivida do alucinógeno, convém saber o que uma teoria qualquer autentica disso. Autentica disso no registro do que o conhecimento comporta de conaturalidade. É claro que o saber hegeliano, na Aujebung logicizante em que se fundamenta, faz tão pouco caso desses estados quanto a ciência modea, que neles pode reconhecer um obeto da ex periência como enseo de definir certas coordenadas, mas em hipótese alguma uma ascese que sea, digamos, epistemogênica ou noófora Justamente Justamen te a razão por que sua refe referência rência é para nós pertinente pert inente Pois supomos estar bastante informados da práxis freudiana para apreender que tais estados não desempenham nela nenhum papel papel mas aquilo cu cu o destaque destaque não se aprecia aprecia é o fato de que essa pretensa psicologia das profundezas não pensa em obter deles uma luz, por exemplo, nem tampouco lhes atribui uma cotação no que ela desenha como percurso.
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Pois é esse o sentido, no qual não se nsiste, do distancamento com que Freud procede procede no tocante aos estados hipnóides, hipnóide s, quando quando se trata de expicar até mesmo apenas os fenômenos da hsteria Aí está o fato assombroso: ee prefere a isso o discurso da histérica. O que denomnamos de momentos momentos fecundos" fecundos" em nosso poscionamento do conhecmento paranóco não é uma referênca freudiana. Temos certa difculdade de toar ntelgve, num meo que se envadece do mas incrve logs lo gsmo, mo, o que compo comporta rta interroga interrogarr o nconsciente tal como o fazemos, sto é, até que ele dê uma resposta que não seja da ordem do êxtase nem do abatimento, mas, mas , antes, que que diga por por quê. Se conduzmos o sujeto a algum lugar, é a uma decfração que já pressupõe no nconscente essa espéce de lógica em que se reconhece, por exemplo, uma voz interrogativa, e até o encamnhamento de uma argumentação. A está toda a tradção pscanaítca para sustentar que a nossa só pode ntervir nela entrando pelo ugar certo, e que, ao se antecpar a ela, só consegue seu fechamento. Em outras paavras, a psicanáise que se apóia em sua fide lidade freudiana não pode, de manera alguma, darse como um rto de passagem a uma experênca arquetpica ou de algum modo nefáve: no dia em que aguém enunciar alguma cosa dessa ordem que não seja um minus habens, é porque porque todo limte lim te terá sido aboido nea. Cosa de que ainda estamos longe. 1 Isso não passa de uma aproxmação de nosso tema. Pois trata-se de discernir mas de perto o que o própro Freud, em sua doutrina, artcula como consttuindo um passo copei cano"
Mesmo tentando despertar interesse, sob a rubrica de fenômenos Psi, na telepata ou em toda a psicologia gótica que se possa ressuscitar de um Myers, o mais mai s vugar andariho andariho não conseguirá transpor o campo em que Freud o conteve de antemão, ao expor o que ele retém desses fenômenos como tendo que ser no sentido estrito, traduzido nos eeitos de cruzamento de discursos contemporâneos. A teoria psicanalítica, mesmo ao se prosttur continua a se fazer de pudica (aço bastante conhecido do bordel). Como se diz desde Sartre, é uma respetosa: não vai rodar a bolsinha de qualquer ado da rua (nota de 1966). 1.
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Porven Porvenu uaa basa basa que que um pivilégio pivilégio sej sej a banido banido no caso, o que cooca a Tea no luga cenra? A subseqüene desiuição do homem de um ugar análogo, pela p ela viória da idéia da evolução, dá o sentimeno de que haveria nisso nis so um ganho que se conf co nfirma irmaria ria por sua constância Mas, acaso temos anta ceeza de que haja nisso um ganho ou um progresso essencia? Seá que alguma coisa oa evidene que a oura verdade, se assim chamarmos a verdade reveada, enha padecido seiamene com isso? Então não se acha que o heiocenrismo não é, por exaar o ceno, menos enganoso do que ali ver a Terra, e que o fao da eclípica cetamene dava um modeo mais esimulane de nossas relações com o verda deiro, antes de perde muio de seu ineresse, po já não passar de uma Tea maiavai-comasouras? De quaquer modo, não é por causa de Dawin que os homens se consideram menos fina-or denre as ciauas, já que é precisamene disso que ele os convence. A apliação do nome de Copéico a uma sugesão inguageia em ecusos mais dissimulados, que ocam justamente no que já acaba de se insinuar em nossa pena como relação com o vedadeiro, ou seja: a saber, o surgimeno da elipse como não sendo indigna do lugar de onde recebem seu nome as chamadas verdades superiores. A revolução não é menor po se referir apenas apenas às " revouções revouções ceeses . Desse momeno em diane, deese aí não mais em apenas o senido de revogar uma bobagem da radição eigiosa, que, como bem se vê, não se sai pio por isso, mas de aar mais inimamene o regime do sabe ao da vedade. Pois, se a obra de Copéico, como saienaram outos anes de nós, não é ão copeiciana quano se supõe, é porque nela a dourina da dupa verdade ainda dá abigo a um saber que até então, convém dizer, inha oda a apaência de se conenar com ea. Eisnos pois evados à froneira sensível entre a verdade e o sabe, a qual se pode dize, afinal, que nossa ciência, à primeira visa, parece er mesmo reomado a soução de fecha. Mas, se a históia da Ciência, Ciência, em sua enrada no mundo, ainda é paa nós suficientemene palpitante para que saibamos que nessa fronteia algo se mexeu naquele momeno, alvez seja aí que a psicanálise se desaca, po epresenta o advento de um novo sismo.
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Pois retomemos por essa vertente o serviço que esperamos da fenomenologia de Hege. É o de marcar ali uma soução ideal, a de, por assim dizer, um revisionismo permanente, no qua a verdade está em constante reabsorção naquilo que tem de per turbador, não sendo em si mesma senão o que falta na reaização do saber. A antinomia que a tradição escolástica situava como um princípio é tida como resovida aqui, por ser imaginária A verdade não é outra coisa senão o que o saber só pode aprender que sabe ao pôr em ação sua ignorância. Crise real em que o imaginário se resolve, para empregarmos nossas categorias, por engendrar uma nova forma simbólica Essa dialética é conver gente e chega à conjuntura definida como saber absoluto. Tal como é deduzida, ela só pode ser a conjunção do simbóico com um real do qual nada mais há a esperar. Que é isso, se não um sujeito consumado em sua identidade consigo mesmo? No que se lê que esse sujeito já é perfeito ai e constitui a hipótese fundamenta de todo esse processo Com efeito, ele é nomeado como sendo seu substrato, e se chama Selbstbewusstsein, o ser de si consciente, todo-consciente Quisera Deus que assim fosse, mas a história da própria ciência, ciência , quer dizer, dizer, da nossa, noss a, e desde desde que ela nasceu, se situarmos situarmos seu nascimento original nas matemáticas gregas, apresentase, antes, em desvios que satisfazem muito pouco a esse imanen tismo, e as teorias, com ef efeito não nos deixemos deixemos engan enganar ar quanto a isso pea reabsorção da teoria restrita na teoria gene ralizada, de modo algum principiam segundo a diaética: tese, antítese e síntese Aiás, Ai ás, certos estaidos est aidos que se fazem fazem ouvir muito confusamente confusamente nas grandes consciências responsáveis por algumas mudanças cardinais na física não deixam de nos lembrar que, afinal, tanto nesse saber quanto nos outros, é em outro lugar que tem de soar a hora da verdade. E por que não veríamos que a espantosa deferência de que se beneficia o espalhafato psicanaítico na ciência pode ser devida ao que a psicanáise aponta de uma esperança teórica que não é apenas de desarvoramento? Não estamos faando, bem entendido, da extraordinária trans ferência ateral pela qua vêm recobrarse na psicanálise as categorias de uma psicoogia que com isso revigora seus usos vis de exploração social Pela razão que enunciamos, conside ramos o destino da psicologia irremissivemente selado
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De qualquer modo, nossa dupla referência ao sueio absouto de Hegel e ao sueito aboido da ciência dá o escarecimento necessário para formular em sua verdadeira medida a dramai cidade de Freud: reingresso da verdade no campo da ciência, ao mesmo tempo em que ela se impõe no campo de sua práxis: recacada, ea ai reoa. Quem não vê a distância que separa a desgraça da consciência a qua, por mais mais potente potente que se se a seu apri aprimoram morameno eno em Hege, podemos dizer que ainda é tão-somente a suspensão de um sabe saberr do mal-es mal-esar ar da civilizaç civilização ão em Freud, Freud, mesmo que que seja apenas na inspiração de uma frase como que renegada que ele nos assinala o que, ao êlo, não podemos aricuar senão como a relação de ravés (em ingês, diríamos skew) que separa o sueio do sexo? Nada há, portano, em nossa verene para situar Freud que se ordene pea astrologia judicaória da qual se impregna o psicólogo Nada que provenha da qualidade e aé do inensivo, nem de nenhuma fenomenologia com a qua o idealismo possa reassegurar-se No campo freudiano, apesar das palavras, a consciência é um raço ão caduco, para basear o inconsciene em sua negação (esse inconsciente data de são Tomás), quano o afeo é incapaz de desempenhar o pape do sujeio protopático, uma vez que esse é um cargo que não tem tiular ai. O inconsciene inconsc iene,, a parti partirr de Freud, Freud, é uma cadeia de signif signi ficantes que em agum lugar (numa oura cena, escreve ee) se repee e insiste, para inerferir nos cores que lhe oferece o discurso efeivo e na cogiação a que ee dá forma. Nessa fórmula, que só é nossa por ser conforme tanto ao texto freudiano quano à experiência que ele inaugurou, inau gurou, o ermo crucial é o significante, ressusciado da reórica antiga pea ingüísica modea, numa dourina cuas eapas não podemos assinaar aqui, mas da qual os nomes de Ferdinand de Saussure e Roman Jakobson indicarão a aurora e a cuminância aua, embrando que a ciênciapiloo do esruuraismo no Ocidene em suas raízes na Rússia em que floresceu o formaismo. Genebra, 1910 e Perogrado, 920, dizem bem por que seu instrumento faltou a Freud Mas essa falha da história só faz oar mais instrutivo o fato de que os mecanismos descros por Freud como sendo os do processo primário, onde o inconsciene enconra seu regime, abrangem exaamene as funções que essa escoa oma
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por determinantes das vertentes mas radcais dos efeitos da lnguagem, quais sejam, a metáfora e a metoníma, ou, dito de outra maneira, os efeitos de substtuição e combinação do signifcante nas dmensões respectvamente sncrônica e diacrônica em que eles aparecem no discurso Uma vez reconhecda a estrutura da nguagem no ncons ciente, que tipo de sujeito podemos conceber-lhe? Podemos tentar aqui, numa preocupação de método, partir da defnção estrtamente ngüística do [Eu como sgnfcante: onde ee não é nada aém do sher sh er ou ndcatvo que, no sujeito do enunciado, designa o sujeto enquanto ee fala naquee mo mento. O que quer dzer que designa o sujeito da enuncação, mas não o sgnifca. É o que se evdencia pelo fato de que todo signfcante do sujeito da enunciação pode fatar no enuncado, além de haver os que dferem do [Eu, e não apenas no que é nsufcientemente chamado de casos da primeira pessoa do snguar, se lhe acrescentarmos seu alojamento na invocação plura e até no Si da auto-sugestão. Pensamos, por exempo, ter reconhecdo o sujeto da enun ciação no significante ne, chamado pelos gramáticos de ne expetivo, termo em que já se anunca a ncrível opnão daquees dentre os melhores que tomam sua forma como entregue ao caprcho Possa o encargo que lhe damos fazêos corrigrem-se nsso, antes que [ se revele que eles não entendem nada do assunto (retrem esse ne e minha enuncação perde seu vaor de ataque, elidndome o [Eu] no mpessoal) Mas temo, assim, que eles [' venham a me execrar (passem ao largo desse n', e sua ausência, reduzindo o alegado temor da afrmação de minha repugnânca a uma asserção tímda, reduz a ênfase de mnha enuncação, situando-me no enuncado). 3 Mas, se dgo tue [mata", por eles me aborrecerem, onde me situe eu senão no tu [ calado" calado" em que os fto com desdém? desdém?4
2 A frase frase em francê francêss constrói-se constrói-se é claro com o ne (... avant qu'il ne soit aéré quils ny comprennent rien), donde sua colocação entre colchetes. (N.E.) 3 Ver nota anterior. (N.E.) ce qu ils il s m assomment o me situé-je 4 No original: Mais si je dis "tue pour ce sinon dans le tu dont je les toise? Tue mata, é o particípio de calar em sua
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Não façam façam cara cara feia, feia, evoco de viés vié s o que me repugna encobrir com a carta marcada da clínica. Qua sea, a maneira certa de responder à pergunta Quem está falando? falando? , quando se tra trata ta do sueito sueito do inconsciente inconsciente Pois essa resposta não poderia provir dee, se ele não sabe o que diz e nem sequer que está faando, como nos ensina a experiência inteira da anáise. Com o que o lugar do inter-dito, que é o intradito de um entredoissueitos, é justamente aquele em que se divide a transparê transparência ncia do sueito clássi clá ssico, co, para para passar aos efeitos fading que especificam o sujeito freudiano, por sua ocultação por um significante cada vez mais puro quer esses efeitos nos evem aos confins em que lapso e chiste em sua cousão se confundem, quer até onde a elisão é tão mais ausiva ao esconder em sua toca a presença, que é espantoso que a caça ao Dasein não tenha tirado maior proveito disso. Para que não sea vã nossa caçada, a nós, analistas, convém reduzir tudo à função de corte no discurso, sendo o mais forte aquee que serve de barra entre o significante e o significado. Ali Al i se surpre surpreend endee o sujeito qu quee nos inter interessa, essa, pois po is,, ao se s e vincular à significação, ei-o no mesmo barco que o préconsciente Peo que chegaríamos ao paradoxo de conceber que o discurso na sessão analítica só tem vaor por tropeçar ou até se interromper como se a própria sessão não se instituísse como ruptura num discurso faso, digamos, naquilo que o discurso realiza ao se esvaziar como fala, ao não ser mais do que a moeda de efígie desgastada de que faa Malarmé, passada de mão em mão "em siêncio Esse corte da cadeia significante é único para verificar a estrut estrutura ura do sujeito sujeito como co mo descontinuidade no rea. Se a lingüística lingüísti ca nos promove o significante, ao ver nee o determinante do significado, a anáise revea a verdade dessa relação, ao fazer dos furos do sentido os determinantes de seu discurso. É por essa via que se cumpre o imperativo que Freud eva ao subime da sentenciosidade présocrática: Wo Es war, soll
exão feminina (caada, e homófono de tu (tu pronome ou o paricípio de calar que aqui pode ainda ser visto como parte da palavra tue; situésitué-je je. . . evoca a homofonia ene situé (siuado, stue e si tué (tão morto. (N.E.)
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Ich werden, que mas de uma vez comentamos e que ogo faremos faremos
compreender de outra manera Contentandonos com um passo em sua gramátca: lá onde sso fo . o que sgnfca? Se S e foss fossee apenas sso que tvesse sdo (no aorsto), como á chegar justamente al para me fazer ser, ao enuncá-lo agora? Mas o francês dz: L ou c'était. Srvamo-nos do benefíco que ee nos oferece de um mperfeto caro. Lá onde sso era, estava no nstante exato, á onde sso era, estava um pouqunho, entre a extnção que anda brlha e a ecosão que tropeça, [Eu] posso vr a sêo, por desaparecer de meu dto. Enuncação que se denunca, enuncado que renunca a s mesmo, gnorânca que se dsspa, oportundade que se perde, que resta aqu senão o vestígo do que é realmente precso que exsta para car do ser? Um sonho narrado por Freud em seu artgo "Formulações sobre os dos prncípos do funconamento psíquco 5 foece nos, gada ao patétco em que se apóa a fgura de um pa defunto, por ser a a de um fantasma, a frase: ele não saba que estava morto. Da qual já fzemos um pretexto para lustrar a relação do sujeto com o sgnfcante, através de uma enuncação com que o ser estremece, pela vaclação que he retoa de seu própro enuncado. Se a fgura só subsste por não lhe ser dta a verdade que ela gnora, que acontece, então, com o [] de que essa subsstênca depende? Ele não saba saba . Mas um pouqunho pouqunho e ee fcava fcava sabendo, sabendo, ah! que sso nunca aconteça! Antes que ee saba, que morra [Eu]. Sm, é assm que o [Eu] surge lá, lá onde sso estava: mas, quem saba que [Eu] estava morto? Ser de nãoente, é assm que advém o [Eu] como sujeto que se conjuga pea dupla aporia de uma subsstênca verdadera, que se abole por seu saber, e de um dscurso em que é a morte que sustenta a exstênca .
5. GW, VIII, p.237-8 [ESB "Formulações sobre os dos princípios do funcio
nament namento o mental mental , volXII] volXI I]
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Havemos nós de pôr esse ser na balança com o que Hege forjou como sujeito, por ser o sujeito que sustenta sobre a história o discurso do saber absouto? Estamos lembrados de que ee nos atesta haver experimentado a tentação da oucura E não é nossa via aquela que a supera, por ir até a verdade da futilidade desse discurso? Não exponhamos aqui nossa doutrina da oucura. Pois esta digressão escatológica está aí apenas para apontar com que hiância se separam, a freudiana da hegeiana, essas duas relações do sujeito com o saber E porque não há raiz mais segura do que os modos como disso se distingue a diaética do desejo Pois em Hegel, é ao desejo, à Begierde, que compete a responsabiidade pelo mínimo de ligação que o sujeito precisa guardar com o antigo conhecimento, para que a verdade seja imanente à reaização do saber. A astúcia da razão significa que o sujeito, desde a origem e até o fim, sabe o que quer. É aí que Freud reabre, na mobilidade de onde saem as revoluções, a junção entre verdade e saber Pois nea se vincula o desejo ao desejo do Outro, mas nesse circuito reside o desejo de saber. O biologismo bi ologismo de Freud nada tem a ver com co m a ab abj eção pregadora que hes chega às lufadas da oficina psicanalítica. E seria preciso fazer vocês vivenciarem o instinto de morte que ai se abomina para colocáos no diapasão da biologia de Freud Pois eudir o instinto de morte de sua doutrina é desco nhecêa em caráter absouto. Pela abordagem abordagem que lhes lhe s preparamos, preparamos, recon r econheça heçam m na metáfora metáfora do retoo ao inanimado, do qual Freud reveste todo corpo vivo, a margem para-aém da vida que a linguagem assegura ao ser pelo fato de ele faar, e que é justamente aquela em que esse ser investe na posição de significante não somente o que se presta a isso em seu corpo, por ser permutáve, mas esse próprio corpo. Onde se evidencia então que a relação do objeto com o corpo não se define, de modo algum, como sendo de uma identificação parcial que devesse totalizarse nee, uma vez que, ao contrário, esse objeto é o protótipo da dotação de sentido do corpo como pivô do ser. Topamos aqui a parada do desafio que nos fazem, ao traduzir pelo substantivo "instinto o que Freud chama de Trieb: o que drive traduziria muito bem em inglês, mas que é evitado ai, e
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razão por que a paavra dérive [deriva] seria em francês nosso último recurso, caso não conseguíssemos dar à bastardia da palavra pulsão seu ponto de cunhagem. Daí insistirmos em promover que, baseado ou não na obser vação bioógica, o instinto, dentre os modos de conhecimento que a natureza exige do ser vivo para que ele satisfaça suas necessidades, definese como o conhecimento que é admirado por não poder ser um saber Mas outra coisa é aquilo de que se trata em Freud, que é efetivamente um saber, mas um saber que não comporta o menor conhecimento, já que está inscrito num discurso do qual, à semelhança do grilhão grilhão de antigo uso, o suj eito que traz sob sua cabeeira o codicio que o condena à morte não sabe nem o sentido nem o texto, nem em que língua ele está escrito, nem tampouco que foi tatuado em sua cabeça raspada enquanto ele dormia. Esse apóogo mal chega a exagerar a pouca fisiologia que o inconsciente implica. Isso se há de apreciar na contraprova da contribuição que a psicanálise deu à fisioo fisioogia gia desde que ela existe: essa contribuição contribuição é nula, até mesmo no que concee aos órgãos sexuais. Nenhuma fabuação prevalecerá contra este baanço. Pois a psicanáise implica, é claro, o real do corpo e o imaginário de seu esquema mental. Mas, para lhes reconhecer o alcance na perspectiva que do desenvolvimento se autoriza, primeiro é preciso notar que as integrações mais ou menos parcelares que parecem produzir sua ordenação funcionam ali, antes de mais nada, como os eementos de uma heráldica, de um brasão do corpo O que se confirma peo uso que se faz deas para decifrar os desenhos infantis. É esse o princípio, e votaremos ao assunto, do privilégio paradoxal que é o do fao na diaética inconsciente, sem que baste para expicá-lo a teoria já produzida do objeto parcial. Cabenos dizer agora que, a se conceber o tipo de apoio que fomos buscar em Hegel para criticar uma degradação tão inepta da psicanáise que não encontra para si outra razão de interesse senão a de ser a atual, é inadmissível que nos imputem ser enganado por um esgotamento puramente dialético do ser, e não podemos tomar um certo fiósofo6 por irresponsáve quando ele autoriza esse malentendido. 6
Trata-se Trata-se do amgo am go que nos convidou para este colóquio, depois depoi s de ter deixado deixado
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Pois onge de ceder a uma redução logicizante, ali onde se trata do desejo, encontramos em sua irredutibilidade à demanda a própria mola do que também também impede de reduzilo à necessidad neces sidade. e. Para dizê-lo eipticamente: que o desejo seja articulado é justa mente por isso que ee não é articuáve. Entendase: no discurso que lhe convém, ético, e não psicoógico É portanto preciso levar muito mais longe, diante de vocês, a topologia que elaboramos para nosso ensino neste último lustro, ou seja, introduzir um certo grafo que prevenimos garantir apenas, entre outros, o emprego que faremos dee, tendo sido construído e ajustado a céu aberto para situar, em sua disposição em patamares, a estrutura mais amplamente prática dos dados de nossa nos sa experiênci experiência a Ele El e nos servirá aqui para apresentar onde se si tua o desejo em rela ção a um sujeito defi nido por sua articulação pelo significante S s�
GRAFO :
transp transpare arecer cer alguns meses me ses antes an tes as reservas reservas que tirava de de sua ontologia ontolog ia pessoal pesso al contra contra os psicanalistas por demais demai s voltados volt ados a seu ver para o hegeianismo, como se algum outro senão nós oferecesse neste um ponto de apoio nessa coetividade. Isso na intermitência de páginas de seu diário atradas aos ventos (por acaso sem dúvida) qe dee as haviam arrancado. Ao que lhe zemos ver que para fazer essa sua ontologia interessar-se por isso mesmo nos termos divetidos de que ele a reveste em bilhetes famliares achávamos esse processo "não cetamente mas talvez destinado a desvirtuar os espíritos.
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Eis o que se poderia dizer que constitui sua célula elementar (cf. grafo 1). Ali se articula o que chamamos ponto de basta, pelo qual o significante detém o deslizamento da significação, de outro modo indefinido Presume-se que a cadeia significante é sustentada pelo vetor S S' Sem sequer entrar na sutileza da direção retrógrada em que se produz seu cruzamento redobrado pelo vetor � � que apenas se veja neste último o peixe que ele fisga, menos apropriado para representar o que ele furta à captação em seu nado vivo do que a intenção que se esforça por afogálo no uxo do pré-texto, ou seja, a realidade que se imagina no esquema etológico do retoo da necessidade. Desse ponto de basta, encontrem a função função diacrônica na frase, frase, na medida em que ela só fecha sua significação com seu último termo, sendo cada termo antecipado na construção dos outros e, inversamente, selandolhes o sentido por seu efeito retroativo. Mas a estrutura sincrônica é mais oculta, e é ela que nos leva à origem É a metáfora como aquilo em que se constitui a atribuição primária, primária, aquela que promulga o " o cachorro faz miau, o gato faz auau com que a criança, de um só golpe, desvin culando a coisa co isa de seu grito, eleva elev a o signo sign o à função função do significante significante e eleva a realidade à sofstica da significação, e, através do desprezo pela verossimilhança, descortina a diversidade das objetivações a serem verificadas de uma mesma coisa Exigirá essa possibilidade a topologia de um jogo dos quatro cantos? Eis o tipo de pergunta que não parece nada e que, no entanto, pode causar certo alvoroço, se dela tiver que depender a construção subseqüente. Vamos poupá-los pou pá-los das etapas, dando-lhes dando-lhe s logo de sada a função dos dois pontos de cruzamento nesse primeiro grafo Um, co notado por A, é o lugar do tesouro do significante, o que não quer dizer do código, pois não é que se conserve nele a corres pondência unvoca entre um signo e alguma coisa, mas sim que o significante só se constitui por uma reunião sincrônica e enumerável, na qual qualquer um só se sustenta pelo princípio de sua oposição a cada um dos demais. O outro, conotado por (A), é o que se pode chamar a pontuação, onde a significação se constitui como produto acabado. Observe-se a dissimetria entre um, que é um local (mais lugar do que espaço), e o outro, que é um momento (mais escansão do que duração) -
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Ambos paicipam da ofeta ao significane que o fuo no eal consiui, um como um oco de eceptação, ouo como bocagem paa a sada A submissão do sujeito ao significante, que se poduz no cicuito cicuito que vai de (A) a A e vola vol a de A paa paa (A), (A ), é popiam popiamente ente um cícuo, na medida em que a asseção que ai se insaua, po não se fecha em nada senão em sua pópia escansão, ou, em ouas palavas, na fala de um ao em que encone sua cereza, emete apenas a sua pópia anecipação na composição do significane, em si mesma insignificante. A quadaua desse cícuo, paa se possvel, exige somene a compleude da baeia significane instaada em A, que sim boliza, po conseguinte, o luga do Outo. Donde se vê que esse Ouo nada é senão o puo sujeito da modea esatégia dos jogos, como tal pefeiamene acessvel ao cácuo da conjecua, na medida em que o sujeito eal, po nee pauta o seu, não em que eva minimamene em cona nenhuma abeação dia sub jeiva no senido comum, iso é, psicológica, mas a simpes inscrição de uma combinaóia cujo esgotamento é possvel Essa quadaua é impossíve, no entanto, mas unicamene peo fao de que o sujeio só se constiui ao se subtai dela e ao descompletá-la essencialmente, po te, ao mesmo tempo, que se cona ali e desempenha uma função apenas de falta. O Ouo, como sio pévio do puo sujeito do significante, ocupa a posição mesa, de dominação, antes mesmo de e acesso à exisência, paa dizêo com Hegel e cona ele, como absouo Senho/ Senho/Mese. Mese. Pois o que é omiido na n a mediocidade mediocidade da modea teoia da informação é que só se pode seque faa de código quando ese já é o código do Ouo; oa, é de ago bem difeene que se aa na mensagem, uma vez que é po ela que o sujeito se consitui, uma vez que é do Ouo que o sujeito ecebe a pópria mensagem que emie. E esão jusificadas as notações A e (A). Mensagens de código e códigos de mensagem disingui-seão como formas puas no sujeito da psicose, aquele que se contenta com esse Ouo pévio Obsevemos, ene paêneses, que esse Outo, distinguido como uga da Fala, impõese iguamene como estemunha da Vedade. Sem a dimensão que ee constiui, o engano da Faa não se disinguiia do disface que, na uta combativa ou na exibição sexual, é bem difee difeene ne dela. Manifesando Manifesando-se -se na captua captua imaginária, imaginár ia, o disface disface se intega no jogo jo go de apoximação apoximação e upua
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que constitui a dança originária em que essas duas situações vitais encontram sua escansão, e nos parceiros que neas se ordenam em sua, ousaramos escrever, dancidade O animal, aiás, mostra-se capaz disso ao ser acuado; consegue despistar, esboçando esboçand o uma retirada que é um engodo. Isso pode chegar a ponto de sugerir na presa a nobreza de honrar o que há na caça esportiva. Mas o animal não finge fingir. Não deixa rastros cujo engodo consista em se fazerem tomar por falsos sendo verda deiros, isto é, quando são os que dariam a pista certa Tampouco apaga seus rastros, o que já seria, para ee, fazer-se sujeito do significante. Tudo isso foi apenas confusamente articuado por alguns fiósofos, ainda que profissionais Mas está claro que a Fala só começa com a passagem do fingimento à ordem do significante, e que o signif s ignificante icante exige um outro outro ugar ugar o ugar do do Outro, o Outrotestemunha, o testemunho Outro que não quaquer de seus parceiros para que que a Faa Faa que ele ele sustenta possa pos sa mentir, mentir, isto é, coocar-se como Verdade Assim, é de outro lugar que não o da Realidade conceida pea Verdade que esta extrai sua garantia: é da Faa. Como é também desta que ea e a recebe a marca que a institui numa estrutura estrutura de ficção. O dito primeiro decreta, legifera, sentencia, é orácuo, confere ao outro real sua obscura autoridade. Tomem apenas um significante como insgnia dessa onipo tência, ou seja, desse poder todo em potência, desse nascimento da possibiidade, e vocês terão o traço unário, que, por preencher a marca invisíve que o sujeito recebe do significante, aliena esse sujeito na identificação primeira que forma o ideal do eu. O que é inscrito pela notação I(A), com a qual devemos substituir, nesta eta pa, o � S barrado do vetor retrógrado, fa zendo com que ee se transponha de sua extremidade para sua partida (cf grafo 2). GRFO 2:
I(A)
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Efeito de retroversão pelo qual o sujeito, em cada etapa, transforma-se naquilo que era, como antes, e só se anuncia "ele terá terá sido , no n o futu futuro ro anterior. anterior. Aqui se insere a ambigüidade de um desconhecer [méconnatre] essencial ao conhecer-me me connatre] Pois tudo de que o sujeito pode se assegurar, nessa retrovisão, é de vir a seu encontro a imagem, esta, antecipada, que ele tem de si mesmo em seu espelho. Não retomaremos aqui a função de nosso " estádio estádio do espelho , ponto estratégico estratégico prime primeiro, iro, organizado organizado por nós como objeção ao favorecimento dado na teoia ao pretenso eu autônomo, cuja restauração acadêmica justificava o proposto contra-senso de seu reforço, num tratamento desde então desviado para um sucesso adaptativo: fenômeno de abdi cação mental, ligado ao envelhecimento do gupo na diáspora da guerra, e redução de uma prática eminente a um rótulo apropriado à exploração do American way of le.7 Como quer que seja, o que o sujeito encontra nessa imagem alterada de seu copo é o paradigma de todas as fomas da semelhança que levaão para o mundo dos objetos um toque de hostilidade, projetando nele a transformação da imagem nací sica, que, do efeito jubilatóio de seu encontro no espelho, transforma-se, no confronto com o semelhante, no escoadouro da mais íntima agressividade É essa imagem que se fixa, eu ideal, desde o ponto em que o sujeito se detém como ideal do eu. O eu, a patir daí, é função de domínio, jogo de imponência, rivalidade constituída Na captura que sofre de sua natureza imaginária, ele mascaa sua duplicidade, qual seja, que a consciência com que ele garante a si mesmo uma existência incontestável (ingenuidade que se espraia pela meditação de um Fénelon) não lhe é de modo algum imanente, mas transcendente, uma vez que se apóia no taço unáio do ideal do eu (o que o cogito catesiano não desconhece8) . Donde o próprio próprio ego transcendental transcendental se s e v ê relativizado, relativizado, implicado como está no desconhecimento em que se inauguram as identi ficações do eu. 7 Deixamos esse parágrafo apenas como marco de uma batalha superada (nota
de 1962; onde estávamos com a cabeça?) 8. Parêneses aqui como acréscimo, xando elaborações sobre a identicação poseriores ( 1962).
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Esse processo imaginário, que da imagem especular vai até a constituição do eu, no caminho da subjetivação signifi cante, é expresso em nosso grafo pelo vetor i( a).m, de sentido único, mas dupamente articuado, uma primeira vez como cur tocircuito em uma segunda vez como via de retoo em sA. A. O que mostra que o eu só se competa ao ser articulado não como [Eu] do discurso, mas como metonímia de sua signi ficação (o que Damourette e Pichon tomam pea pessoa plena que ees opõem à pessoa sutil, não sendo esta útima outra coisa senão a função anteriormente designada como sher. A promoção da consciência como essencial ao sujeito, na conseqüência histórica do cogito cartesiano, é para nós a acen tuação enganosa da transparência do [Eu] como ato, à custa da opacidade do significante que o determina, e o deslizamento peo qual o Bewusstsein serve para abranger a confusão do Selbst vem justamente demonstrar, na Fenomenologia do espírito pelo rigor de Hegel, a razão de seu erro O movimento movime nto mesmo que desequiibra desequi ibra o fenômeno fenômeno do espírit espírito o, fazendoo pender para a relação imaginária com o outro (com o outro, isto é, com o semelhante, a ser conotado com a minúsculo), toa visível seu efeito: a saber, a agressividade, que se toa o fie da baança em too do qual irá decompor-se o equilírio do semehante com o semelhante na reação do Senhor com o Escravo, prenhe de todas as astúcias peas quais a razão vai aí pôr em marcha seu reino impessoal Dessa Dess a servidão inaugura dos caminho ca minhoss da liberdade, liberdade, por certo certo mais mito do que gênese efetiva, podemos aqui mostrar o que ela esconde, precisamente por tê-lo reveado como nunca dantes. A uta que a instaura é bem denominada como de puro prestígio, e o desafio, pondo em jogo a vida, é adequado para fazer eco ao perigo da prematuração genérica do nascimento, ignorado por Hegel Hege l e do qual zemos ze mos a mola dinâmica da captu captura ra especular Mas a morte, justamente por estar impressa na função do desaf des afio io aposta mais honesta que a de de Pascal, ainda que também também se trate de um pôquer, pôquer, já que aqui cobrir a aposta é limitado , mostra, ao mesmo tempo, o que é eidido tanto de uma regra prévia quanto do regulamento conclusivo. Pois é preciso, afinal de contas, que o vencido não pereça, para que produza um escravo. Em outras paavras, o pacto é em toda pate anterior à -
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vioência, antes de perpetuála, e aquio a que chamamos sim bóico domina o imaginário, pelo que podemos indagarnos se o assassinato é mesmo o absoluto Mestre/Senhor. Pois não basta decidir por seu efeito: a Morte. Tratase ainda de saber qual morte, 9 a que é trazida pela vida ou aquea que a traz. Sem preudicar a dialética hegeliana por uma constatação de carência, há muito evantada a propósito da questão do vnculo da sociedade dos senhores, mestres, queremos aqui tão-somente sublinhar o que, a partir de nossa experiência, sata aos olhos como sintomático, isto é, como instalação no recalque Trata-se, propriamente, do tema da Astúcia da razão, cuo erro, anteriormente apontado, não apequena seu peso de sedução. O trabaho, diz-nos ele, a que se submete o escravo, renunciando ao gozo por medo da morte, será justamente a via pela qual ee reaizará a iberdade. Não há engodo mais manifesto politicamente e, ao mesmo tempo, psicoogicamente O gozo é fáci para o escravo e deixará o trabalho na servidão. A astúcia da razão seduz pelo que nela ressoa de um mito individual muito conhecido pelo obsessivo, de quem sabemos que a estrutura não é rara na intelligentsia. Mas, por menos que este escape à má-fé do professor, é bem difíci ee se enganar quanto ao que é o seu trabalho que deve dar-lhe acesso ao gozo. Prestando uma homenagem propriamente inconsciente à história escrita por Hege, é freqüente ee encontrar seu álibi na morte do Mestre/Senhor. Mas, que acontece com essa morte? Ele simplesmente a espera. De fato, é do lugar do Outro, em que ele se instaa, que ele acompanha o ogo, toando qualquer risco inoperante, em especia o de alguma alguma disputa, disputa, numa " consciênciade-si consciênci ade-si para para a qua só existe morte para dar risada. Assim, não pensem os fiósofos poder não dar importância à irrupção que foi a fala de Freud no que concee ao deseo E is i s s o a pretext pretexto o de d e que a demanda, demanda, untament untamentee co c o m os efeitos efeitos da frustração, inundou tudo o que lhes chega de uma prática
9 Também aí, referência ao que professamos em nosso seminário sobre A ética da psicanálise (1959-60, a ser pubicado) a respeito da segunda morte. Queremos muito com Dylan Thomas, que não haja duas deas. Mas, nesse caso, será mesmo o absouo Mesre/Senhor a única que resa? [A ética da psicanálise já esá pubicada: O eminário lvro 7 Rio de aneiro, Jorge Zahar 988. (NE.)]
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caída numa banaidade educativa que já não é resgatada nem mesmo por sua indoência. Sim, os traumas enigmáticos da descoberta freudiana já não passam de vontades reprimidas. A psicanálise nutre-se da ob servação da criança cria nça e do infantili infantilismo smo das observaçõ obse rvações es Poupemos seus relatórios, tantos quantos são, todos tão edificantes. E tais que o humor nunca mais é nees admitido Seus autores, doravante, estão por demais preocupados com uma posição de medahões para ainda levar minimamente em conta o aspecto irremediavelmente extravagante que o incons� ciente conserva por suas raízes lingüísticas. Impossível, no entanto, para os que sustentam que é pela acolhida dada à demanda que se introduz a discordância nas necessidades presumidas na origem do sujeito, negigenciar o fato de que não há demanda que não passe de algum modo pelos desfilamentos do significante E, se a anankê somática da incapacidade do homem de se mover, a forti ortior orii de bastar a si mesmo, durante um período após seu nascimento, nascime nto, garante gar ante a base de uma psicologia da dependência, como haveria ela de elidir o fato de que essa dependência é mantida por um universo de inguagem, justamente na medida em que por e através dele as necessidades se diversificaram e desdobraram a ta ponto que seu acance se afigura de ordem totalmente diversa, quer seja reacionado com o sujeito ou com a poítica? Expicitando: a tal ponto que essas necessidades passaram para o registro do desejo, com tudo o que ele nos impõe imp õe por confronta confrontarr nossa no ssa nova no va experiência, por seus se us paradoxos paradoxos de sempre para o moralista, pea marca de infinitude que nee destacam os teóogos, e até pela precariedade de seu status, tal como esta se anuncia na útima moda de sua formulação, pro movida por Sartre desejo, paixão inúti. O que a psicanálise nos demonstra no tocante ao desejo, em sua função que podemos chamar de a mais natural, já que é dela que depende a manutenção da espécie, não é apenas que ele está submetido, em sua instância, sua apropriação, em suma, em sua normalidade, aos acidentes acident es da história do suj suj eito (idéia do traum traumaa como contingência), mas também que tudo isso exige o concurso de elementos estruturais que, para intervir, prescindem perfeita mente desses acidentes, e cuja incidência desarmônica, inespe rada, dicil de reduzir, reamente parece deixar na experiência um resduo que conseguiu arrancar de Freud a declaração de
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que a sexuadade deva razer a marca de aguma fissura pouco natural. Sera um erro acrediarmos que o mio freudano do Édpo acaba quanto a esse aspeco, com a eooga. Pos não basta agiar o fanoche da rvadade sexual. E mas convira ler nee o que, em suas coordenadas Freud impõe à nossa reexão, pois eas retoam à pergunta de onde ele mesmo partu: que é um Pa? o Pa morto responde responde Freu Freud, d, mas nnguém nnguém o escua, escua, e quano ao que Lacan reoma disso sob a rubrica de Nome doPa, é amentáve que uma siuação pouco centífca coninue a deixálo privado de seu púbco normal 1 0 Mas a reflexão anaíca em grado vagamente em oo do probemátco desconhecimeno, entre aguns primitivos, da função do gentor e houve até quem debatesse sobre isso, sob a bandera contrabande contrabandeada ada do do " culturalsmo culturalsmo , a respeito respeito das for for mas de uma auordade à qual nem se pode dizer que algum seor da anropoogia enha razido uma defnção de alguma amplude. Será porvenura preciso que se nos alie a práica, que em agum momeno avez adquira força de uso de insemnar arfcalmene as mulheres, desrespeiada a probção fálca, com o esperma de grandes homens para que exraiam de nós um veredio sobre a função paea? O Édipo, todava não pode manterse indefndamente em cartaz em formas de sociedade nas quas se perde cada vez mais o sentdo da tragédia. Paramos da concepção do Ouro como ugar do sgnficane Qualquer enuncado de auordade não tem nee oura garanta senão sua própra enunciação, pois lhe é nú procurar por esa num outro signifcane que de modo algum pode aparecer fora desse ugar. o que formuamos ao dizer que não exste mealnguagem que possa ser faada ou, mas aforiscamente que não há Outro do Ouro. como mposor que se apresenta 1 0 Que nessa digressão enhamos igado tal caracerística àquela época ainda
que em ermos mas vigoosos assume um valor de encontro por ter sido precisamene com base no Nome-do-Pai que três anos depois, ecebemos a sanção de pôr em banho-maia as eses que havíamos prometdo a nosso ensino em razão da permanência dessa siuação.
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para suprr sua falta, o Legsador (aquele que alega ergr a Le). Porém não a Lei em s, não mais do que aquele que dea se auorza. Que dessa auoridade da Le o Pa possa ser tdo como o representane orgnal, eis o que exige especfcar sob qua modaldade prvlegada de presença ee se susena, paraalém do sujeio levado a ocupar reamene o ugar do Outro, ou seja, a Mãe A perguna, portanto, é afastada Há de parecer esranho que, descortnando-se nela o espaço desmedido que toda demanda mplica por ser petção de amor amor , não dexemos mas espaço nsso para a ctada perguna. E a concentremos, ao contráro, no que se fecha no para aquém, pelo mesmo efeo da demanda, para dar propramene lugar ao desejo Com Co m ef efeo, eo, é mu muoo smple smplesme smene ne e drem dremos os em que que senido senido como desej desej o do Ouro Ouro que que o desej desej o do homem homem ganha forma, porém, anes de mas nada, somene guardando uma opacidade subjeva, para representar nele a necessdade. Opacdade que diremos de que maneira consu como que a subsânca do desejo O desejo se esboça na margem em que a demanda se rasga da necessidade: essa margem é a que a demanda, cujo apelo não pode ser ncondconal senão em reação ao Outro, abre sob a forma da possível faha que a necessdade pode aí introduzr, por não haver saisfação universal (o que é chamado de angúsia) Margem que, embora sendo linear, dexa transparecer sua vergem, por mas que seja cobera pelo psoteo de eefane do capricho do Ouro É esse capricho, no enanto, que nroduz o fantasma da Onipoênca, não do sujeo, mas do Ouro em que se insaa sua demanda á era tempo de esse clichê imbecil ser recoocado, de uma vez por odas, e por todos, em seu devdo lugar), e, junamene com esse fanasma, a necessdade de seu refreameno pea Le Anda nos detemos nisso, porém, para volar ao staus do desejo que se apresenta como autônomo em relação a essa medação da Lei, por ser no desejo que ela se orgina, no fao de que, através de uma smera singuar, ele nverte o incond cona da demanda de amor pela qual o sujeio permanece na sujeção do Outro, para eleválo à poênca da condção absoua (onde o absouto ambém quer dizer desprendmento)
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Quano ao ganho obido em reação à angúsia no que ange à necessidade, esse desprendimeno em êxio desde sua moda lidade mais humilde, aquea sob a qua um certo psicanaisa a vislumbrou em sua práica com a criança, denominando-a de obj obj eo ra ransici nsicional onal em our ouras as palavras, o pedaço de pan pano o e o caco querido que não abandonam mais o ábio nem a mão. Isso, há que dizêlo, é apenas emblema; o represenane da represenação, na condição absolua, esá em seu ugar no in consciene, onde causa o desejo, segundo a esruura da fanasia que dee exrairemos Pois aí a í se vê que a insciência insciênci a que que o homem home m em de de seu desej desej o é menos insciência insciên cia daquio daquio que ee demanda demanda que, afina, pode ser cingid cingido o do que insciência a parir parir da qual qual ele deseja deseja E é a isso que corresponde nossa formuação de que o inconsciene é discurso do Ouro, Ouro, onde se deve enender enender o " de no senido do de aino (deerminação objeiva): de Alio in oratione (concluam tua res agitur). Mas acrescenando acrescenando ambém que o desej desej o do homem é o dese d esejj o d o Ouro, Ouro, onde o " de foece a deerminação deerminação chamada chamada pelos gramáicos de subjeiva, ou seja, é como Ouro que ee deseja (o que dá a verdadeira dimensão da paixão humana). Eis Ei s por que a perguna GRFO 3: do Ouro, que reoa para o sujeio do lugar de onde ele espera um oráculo, formulada como u m "Che vuoi? que que quer quer você? , é a que melhor conduz ao cami nho de seu próprio dese jo caso caso ele se ponha, ponha, graças à habiidade de um parceiro chamado psicanaisa, a reomála, mesmo sem saber disso muio bem, no senido de um " Que quer quer ele de I(A) mim? mim? . ; A idéia idéia é de de a partr de , " por : por outro teu ato é preparado preparado no dscurso dscurso . (N.E.)
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É esse patamar superposto da estrutura que evará nosso grafo (cf grafo 3) à sua forma completa, por aí se ntroduzr, antes de mas nada, como o desenho de um ponto de nterrogação plantado no círcuo do A maiúscuo do Outro, smbolzando com uma homografa desconcertante a pergunta que ele expressa. De que frasco frasco ee e e é o abrdor? abrdor? De que qu e resposta é o sgnfcante, sgnfcante, chave unversal? Observese que é possível encontrar um ndíco na clara aenação que dexa ao sujeto o benefíco de esbarrar na questão de sua essênca, na medda em que ele pode não desconhecer que o que desea se lhe aparece como aquo que ee não quer, forma assumda pela denegação em que se nsere snguarmente o gnorado desconhecmento de s mesmo, medante o qua ele trans transffere a permanênca de seu ddese esejj o para um eu que, no entanto, entanto , é evdentemente ntermtente, e, em contrapartda, protege-se de seu deseo atrbundo-he essas própras ntermtêncas. É claro que se pode fcar surpreso com a extensão do que é acessível à conscêncade-s, desde que se o tenha apreenddo por outras vas. O que é justamente o caso aqu. Pos, para descobrr dsto tudo a pertnênca, é precso que um estudo bastante aprofundado, e que só pode stuarse na experênca anaítca, nos permta completar a estrutura da fan tasa, lgandohe essencamente, sejam quas forem suas esões ocasonas, na condção de obeto (cujo prvlégo não fzemos mas do que roçar de leve, acma, através da dacrona), o momento de umang ou ecpse do sujeto, estretamente lgado à Spaltung ou fenda que ele sofre por sua subordnação ao sgnfcante Isso é o que smbolza a sgla ($0a) que ntroduzmos, sob a forma de um agortmo que, não por acaso, rompe o eemento fonemátco consttuído pela undade sgnfcante, até seu átomo tera. É que ele é feto para permtr um sem-número de leturas dferentes, mutplcdade admssíve desde que o falado contnue preso à sua ágebra. Esse algortmo e seus análogos utzados no grafo não des mentem de modo agum, com efeto, o que dssemos sobre a mpossbldade de uma metanguagem Ees não são sgnfcan tes transcendentes; são os índces de uma sgnfcação absoluta, déa que, sem maores comentáros, parecerá apropriada, espe ramos, à condção da fantasa
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O grafo inscreve que o desejo é regulado a partir da fantasia, assim formulada de maneira homóloga ao que acontece com o eu em relação à imagem do corpo, exceto que ela e la continua conti nua a marca marcarr a inversão dos desconhecimentos desconheci mentos em que se fundamentam, fundamentam, respec vamente, um u m e outro. Assim se s e fecha fecha a via imaginária por onde na análise devo advir advir,, lá onde ' tava [à ou s'était] o inconsciente Digamos, para reavivar a metáfora de Damourette e Pichon sobre o eu gramatical, aplicandoa a um sujeito a que ela se destina melhor, que a fantasia fantasia é propr propriame iamente nte o " estojo estojo daquele [Eu] que é primordialmente recalcado, por só ser indicável no fading da enunciação Eis agora, com efeito, nossa atenção solicitada pelo status subjetivo da cadeia significante no inconsciente, ou melhor, no (Urverdrngng). recalque primário (Urverdrngng). Concebe-se melhor, em nossa dedução, que tenha sido preciso nos interrogarmos interrogarmos sobre a função função que sustenta suste nta o sujeito do inco i ncons ns ciente, apreender que é difícil designálo em qualquer lugar como sujeito de um enunciado, e portanto, como o articulando, quando ele nem sequer sabe que fala. Daí o conceito de pulsão com que ele é designado por uma localização orgânica, oral, anal etc, que satisfaz à exigência de estar tão mais longe do falar quanto mais ele fala. Mas, se nosso grafo GRFO COMPLETO: completo nos permite si tuar a pulsão como te souro dos significantes, sua notação como (�Oa) mantém sua estrutura, li gandoa à diacronia. Ela é o que advém advé m da da deman da quando o sujeito aí desvanece. Que a de manda também desapa rece é evidente, exceto que resta o corte, pois este continua presente no que distingue a pulsão puls ão da função orgânica que ela habita: ou seja, seu arti l(A) $ fício gramatical, muito patente nas reversões de
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sua articuação com a fonte e com o objeto (Freud, quanto a isso, é inesgotáve). A própria deimitação da "zona erógena que a pusão isola do metabo metaboism ismoo da função função (o ato de dev devoração concee a outros órgãos além da boca, perguntem ao cão de Pavlov) é obra de um corte que se beneficia do traço anatômico de uma margem ou uma borda borda ábio ábios, s, " cerca dos dentes dentes , borda borda do ânus, ânus, sulco sulc o peniano, vagina, fenda palpebral e até o pavilhão da orelha (evitamos aqui as precisões embrioógicas) A erogeneidade respiratória é pouco estudada, mas, evidentemente, é peo espas mo que ela entra em jogo Observese que esse traç traçoo do cort cortee é não nã o menos meno s evident evidentemen emente te preponderante no objeto descrito pea teoria anaítica mamio, cíao, falo (objeto imaginário), uxo urinário (Lista impensá ve, se não lhe forem acrescentados, conosco, o fonema, o ohar, a voz o nada) Pois porvent porventura ura não vemos que a car carac acte terístic rísticaa " parcial parcial , justi ju stific ficada adamen mente te acentuada acentuada nos objetos, não é apicá vel por eles serem parte de um objeto tota, que seria o corpo, mas por só representarem parcialmente a função que os produz? Traço comum a esses objetos em nossa elaboração: ees não têm imagem especular, ou, dito de outra maneira, ateridade. 1 2 Isso é o que hes permit permitee serem serem o " estofo estofo , ou, ou , melhor melhor dizendo, dizendo, o forro, forro, sem no entanto entan to serem o avesso av esso,, do d o próprio próprio suj suj eito tomado por sujeito da consciência. Pois esse sujeito, que acredita poder ter acesso a si mesmo ao se designar no enunciado, não é outra coisa senão um objeto desse tipo Perguntem ao angustiado com a página em branco, e ee lhes dirá quem é o excremento de sua fantasia. É a esse objeto inapreensível no espeho que a imagem especuar dá sua vestimenta Presa capturada na rede da sombra, e que, despojada de seu volume que enche a sombra, toa a estender o engano cansado desta útima com ar de presa O que o grafo nos propõe agora situa-se no ponto em que toda cadeia significante se honra ao fechar sua significação. Se é preciso esperar ta efeito da enunciação inconsciente, é aqui em S(A, e há que êo: signicante de uma falta no Outro,
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que justcamos desde então por um modelo topológco exaído da eoria das superfícies na analysis situs (noa de 1962).
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inerente à sua função mesma de ser o tesouro do significante. (che e vuoi) a responder Isso, na medida em que o Outro é solicitado (ch pelo valor desse tesouro, isto é, a responder, certamente, de seu lugar na cadeia inferior, mas nos significantes que constituem a cadeia superior, ou seja, em termos de pulsão A falta falta de que se s e trata trata é, com efeito, efeito, aquilo aqui lo que á form formula ulamos mos:: que não há h á Outro Outro do Outro Outro Mas esse e sse traço traço do Sem-Fé Sem -Fé da verdade, verdade, será mesmo ele a última palavra que presta para dar sua resposta pergunta "que " que quer quer de de mim o Outr Outroo ? , quando nós, analistas, à pergunta somos seus porta-vozes? porta-vozes? Ceram Cerament entee não, e j ustament ustamentee porque porque nosso ofício nada tem de doutrina Não temos que responder por nenhuma verdade última, última, especialmente especial mente nem pró nem contra religião alguma. Já é muito que aqui devamos situar, no mito freudiano, o Pai morto Mas um mito não se basta em não sustentar nenhum rito, e a psicanálise não é o rito do Édipo, observação a ser desen volvida mais tarde. Decerto o cadáver é um significante, mas o túmulo de Moisés está tão vazio para Freud quanto o de Cristo para Hegel Abraão a nenum dos dois revelou seu mistério. Quanto a nós, pariremos do que a sigla S articula, por ser antes de tudo um significante Nossa definição do significante (não existe outra) é um significante é aquilo que representa o sueito para outro significante. Esse significante, poranto, será aquele para o qual todos os outros significantes representam o sueito ou seja, na falta desse significante, todos os demais não representariam nada. Já que nada é representado senão para algo Ora, estando a bateria dos significantes, tal como é, por isso mesmo completa, esse significante só pode ser um traço que se traça por seu círculo, sem poder ser incluído nele. Simbolizável pela inerência de um ( 1) no conunto dos significantes Como tal, ele é impronunciável, porém não sua operação, pois ela é o que se produz toda vez que um nome próprio é pronunciado Seu enunciado igualase a sua significação Daí resulta que, calculando esta última segundo a álgebra de que nos servimos, ou sea
_ _ _ S com S - ( 1), temos.. s . - s (o enuniado), . .f.1cado) s (s1g
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É isso que falta ao sujeito para se pensar esgotado por seu cogito, ou seja, o que ele é de impensável. Mas, de onde provém esse ser que aparece como que faltando no mar dos nomes próprios? Não podemos perguntálo a esse sujeito na condição de [Eu]. Para saber disso, faltalhe tudo, uma vez que se esse sujeito, [Eu], estava morto, como dissemos, ee não saberia. Ele não me sabe vivo, pois. Assim, como hei de me prováo [Eu]? Pois, a rgor, posso provar ao Outro que ele existe, não, é caro, com as provas da existência de Deus com que os séculos o matam, porém amandoo, solução foecida pelo querigma cristão. Essa, aliás, aliás , é uma solução solu ção por demais precári precáriaa para que que sequer pensemos em fundamentar nea um desvio quanto ao que cons titui nosso probema, qual seja: Que sou [Eu? Sou no lugar lugar de onde se vocif vocifera era que " o universo universo é uma fah fahaa na pureza do Não-Ser . E não sem razão, porque, para se preservar, esse lugar faz o próprio Ser ansiar com impaciência Chamase o Gozo, e é aquele aquele cuja fata toaria vão o universo. 1 3 Esta Estare reii eu, pois, encar encarre rega gado do dele? Sim, sem dúvida. dúvida. Esse gozo cuja fata toa o Outro inconsistente, será ele, então, o meu? A experência prova que ele me é comumente proibido, e não apenas, como suporiam os imbecis, por um mau arranjo da sociedade, mas, diria eu, por culpa do Outro, se ele existisse: não existindo o Outro, só me resta imputar a culpa ao [Eu], isto é, acreditar naquio a que a experiência nos conduz a todos, com Freud na dianteira: ao pecado original. Pois, ainda que não tivéssemos de Freu Freudd sua s ua confissão, tão expressa quanto desolada, persistiria persistiria o fato de que o mito útimo a nascer nascer na históra históra que devemos a sua su a pena não pode servir para para nada nada aém do da maçã maldita, exceto por aquio que não entra em seu patrimônio de mito, pelo fato de que, sendo mais sucinto, ele é sensivemente menos cretinizante.
traduzido po " falha 1 3 Lacan utiliza nas duas frases o termo défaut, ora traduzido
oa ata po exigênca de estlo (" .. .' . ' univers univers est e st un défaut défaut dans dans a pureté du por " fata Non-Être. e. e " .. .a Jouissance et c'est elle dont !e défaut endrat van lunives. (N.E.)
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Mas o que não é mio, e que Freud no enano formuou ão ogo formuou o Édipo, é o complexo de casração. Enconramos nesse complexo a moa mesra da própria sub versão que aqui enamos aricuar com sua diaéica. Pois, propriamene desconhecido aé Freud, que o inroduz na forma ção do deseo, o complexo de casração á não pode ser ignorado por nenhum pensameno sobre o sueio. Na psicanálise, sem dúvida, muio longe de se haver enado articulá-lo mais cedo, foi precisamene em nã compreender a razão dele que houve quem se empenhasse. Eis por que esse grande corpo, muio parecido com um Sansão, fica reduzido a girar a mó para os filiseus da psicologia geral. Seguramene, há nisso o que se chama um osso. Por ser usamene o que expomos aqui: esruura no sueio, o compexo de casração consiui nese essencialmene a margem que odo pensameno eviou, eviou, salou, salou, conoou ou encobriu, odas as vezes em que aparenemene conseguiu apoiar-se num círcuo, fosse ele dialéico ou maemáico. Por isso iss o é que de bom grado grado levamos aqueles que nos no s seguem aos ugares em que a lógica é perurbada pela desencadeada disjunção enre o imaginário e o simbólico, não para nos com prazerm prazermos os com os o s paradoxos paradoxos que ali se geram, nem com co m nenhuma pre preens ensaa crise do pensameno, mas, ao conrá conrário rio,, para lhes reduzir o falso brilho à hiância que eles aponam, para nós sempre simplesmene simp lesmene edificane, e sobreudo para para enar fo for ar ali méodo de uma espécie de cálculo cujo segredo a inadequação como a faria revear. Como aconece com o fanasma da causa, que perseguimos na mais pura simbolização do imaginário, pela alernância enre o semelhane e o dessemehane. 14 Assim, observemos realmene o que faz objeção a conferirmos a nosso significane S( o senido do Mana ou de qualquer um de seus congêneres É que não podemos conenarnos em articulá-lo a parir da miséra do fao social, ainda que acuado num preenso fao oa. 1 Mais recentemene, em sentido oposto na tentativa de homologa superfícies
opologicamente denidas nos temos aqui empegados da articulação subjeia. E aé na simples efuaç efuação ão do peenso peenso paadoxo paadoxo do "Eu " Eu minto (nota de 96). 96 ).
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Sem dúvida, Claude LéviStrauss, comentando Mauss, quis reconhecer nisso o efeito de um smbolo zero. Mas é do signi ficante da falta desse símbolo zero, antes, que nos parece tratar-se em nosso caso. E foi por isso que indicamos, mesmo com o risco de cair em algum desagrado, até onde pudemos levar o desvio do algoritmo matemático para nosso uso o smbolo , ainda grafado i na teoria dos números complexos, evidentemente só se justifica por não aspirar a nenhum automatismo em seu emprego subseqüente. Aquilo a que é preciso nos atermos é que o gozo está vedado a quem fala como tal, ou ainda, que ele só pode ser dito nas entrelinhas por quem quer que seja sujeito da Lei, já que a lei se funda justamente nessa proibição. Com efeito, efeito, viesse viesse a Lei a ordenar ordenar " Goza Goza , o sujeito sujeito só poderia poderia respond responder er a isso com um " Ouço , 15 onde o gozo não seria mais do que subentendido. Mas não é a Lei em si que barra o acesso do sujeito ao gozo; ela apenas faz de uma barreira quase natural um sujeito barrado Pois é o prazer que introduz no gozo seus limites, o prazer como ligação da vida, incoerente, até que uma outra proibição, esta incontestável, se eleve da regulação descoberta por Freud como processo primário e pertinente lei do prazer. Dissemos que Freud, nesse aspecto, só fez seguir o caminho por onde já avançava a ciência de sua época, ou mesmo a tradição de um longo passado. Para aquilatar a verdadeira audácia de seu passo, basta considerarmos sua recompensa, que não se fez esperar: o fracasso quanto ao heteróclito do complexo de castração. É a simples indicação desse gozo em sua infinitude que comporta a marca de sua proibição e, para constituir essa marca, implica um sacrifcio o que cabe num único e mesmo ato, com a escolha de seu smbolo, o falo. Essa escolha é permitida porque o falo, ou seja, a imagem do pênis, é negativizado em seu lugar na imagem especular. É isso que predestina o falo a dar corpo ao gozo, na dialética do desejo
15.
Destaca-se aqui a homofona entre jouis (goza) e j 'ou (ouço. (N.E.
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É preciso, portanto, distnguir do princípio do sacrfício, que é simbóico, a função maginária que se sacrifica a ee, mas que o vea ao mesmo tempo que lhe dá seu instrumento A nção imaginária é aquea que Freud formuou como presidindo o investimento do objeto como narcísco Fo a isso que nós mesmos voltamos, ao demonstrar que a magem espe cular é o canal adotado pela transfusão da lbdo do coo para o objeto Mas, desde que fique preservada uma parte dessa imersão, concentrando em si o que há de mais íntmo no auto-erotismo, sua posção em ponta" na forma a predspõe à fantasia de caducidade em que vem concurse a excusão em que ela se acha da magem especuar e do protótipo que esta consttui para o mundo dos objetos Assim Assi m é que o órgão órgão eréct eréct vem a smbolzar smbolzar o lugar do do gozo, go zo, não como ele mesmo nem tampouco como imagem, mas como parte faltante na imagem desejada: por isso é que ee é guaáve ao . da signficação, produzda acma, do gozo que ele restitui, peo coeficiente de seu enunciado, à função de fata de sgnif cante (-1). Se assim lhe é dado estabelecer a proibição do gozo, não é, contudo, por essas razões de forma, mas porque a ultrapassagem deas expressa o que reduz qualquer gozo cobçado à brevdade do auto-erotismo as vias completamente traçadas pea confor mação anatômica do ser falante, ou seja, a mão mas aperfeiçoada do macaco, na verdade não foram desprezadas, numa certa ascese filosófica, como vas v as de uma sabedoria abusivamente abusiva mente quaificada quaificada de cínica Aguns, na atualdade, sem dúvida obcecados com essa lembrança, acreditaram, falando conosco, poder fazer o própro Freud derivar dessa tradção: técnica do corpo, como diz Mauss Mas o fato é que a experiência anaítca nos ensina o caráter orgna da cupa gerada por sua prátca Cupa lgada à evocação do gozo que fata fata ao ao servço prestado no órgão real, e consagração da função do signficante magnáro, marcando os objetos com a probção. Ta é, de fato, a função radcal na qua uma época mas selvagem da anáise encontrava causas mais acdentas (educa tvas), assim como fazia pender para o trauma as outras formas pelas quais tnha o mérito de se interessar, de sacraização do órgão (crcuncisão)
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A passagem do (-) (phi minúsculo) da imagem fáica de um lado ao outro da equação do imaginário e do simbóico positi va-o, de qualquer modo, ainda que ee venha preencher uma falta. Por mais que seja suporte do (-1), ali ee se transforma em < (phi (phi maiús ma iúscuo cuo), ), o falo simbóico impossíve impossíve de negativizar, significante do gozo E é essa característica do que explica tanto as particuaridades da abordagem da sexuaidade pea mulher quanto o que faz do sexo masculino o sexo frágil no tocante à perversão. Não abordaremos aqui a perversão, porquanto ea apenas acentua a função do desejo no homem, na medida em que ee institui o predomínio, no lugar priviegiado do gozo, do objeto a da fantasia, fantasia, que ele colo c oloca ca no ugar ugar do A perversã perversão o acresce acrescen n ta a isso uma recuperação do que não pareceria original, se não conceisse ao Outro como tal de um modo muito particular Somente nossa fórmua da fantasia permite evidenciar que o sujeito, aqui, faz-se instrumento do gozo do Outro Interessa mais aos fiósofos captar a pertinência dessa fórmula no neurótico, justamente porque ele a faseia. O neurótico, de fato, histérico, obsessivo ou, mais radical mente, fóbico, é aquee que identifica a falta do Outro com sua demanda, < com D. D resuta que a demanda d o Outro Outro assume a ffunção unção de obj eto em sua fantasi fantasia, a, isto é, é , que sua fantasia fantasia (noss (n ossas as fórm fórmula ulass permitem permitem sabêo de imediato) reduz-se à pulsão: ($oD. Por isso é que o catálogo das pusões pôde ser organizado no neurótico. Mas essa ess a prevaência dada pelo neurót neurótico ico à demanda, a qual, por uma anáise que pende para a faciidade, fez todo o tra tratam tament ento o deslizar para o manejo da frustração, esconde sua angústia do desejo do Outro, impossível de desconhecer quando é encoberto apenas pelo objeto fóbico, e mais difíci de compreender nas outras duas neuroses, quando não se dispõe do fio que permite situar a fantasia como desejo do Outro. Então encontramos seus dois termos como que fr fragmentados: gmentados : um no obsessiv obse ssivo, o, na medida em que ele nega o desejo do Outro, formando sua fantasia para acentuar a impossibilidade do esvaecimento do sujeito, e outro no histérico, na medida em que nee o desejo só se mantém pea insatisfação que lhe é trazida ao se furtar ai como objeto. Esses traços t raços confirma confirmams msee pela necessidade, necessi dade, fundamental, ndamental, que q ue tem o obsessivo de se coocar como caucionador do Outro, e também pelo aspecto Sem-Fé da intriga histérica
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De fato, a imagem do Pai idea é uma fantasia de neuróticos Paraalém da Mãe, Outro rea da demanda de quem se quereria que ela acalmasse o desejo (isto é, o desejo dele), perfilase a imagem de um pai que fecharia os olhos aos desejos. Mediante o que fica ainda mais acentuada acent uada do que reveada a verdadeira verdadeira função função do Pai, que é, essencialmente, unir (e não opor) um desejo à Lei. O Pai desejado peo neurótico, como se vê, é claramente o Pai morto. Mas é também um Pai que seria perfeitamente senhor/mestre de seu desejo, o que teria o mesmo vaor para o sujeito. Vê-se a um dos escohos que o anaista deve evitar, e o princípio da transferência no que esta tem de intermináve. Eis por que uma vaciação cacuada da neutralidade" neutralidade" do anaista pode valer, para uma histérica, mais do que todas as interpretações, com o risco de transtoo enouquecido que disso pode resutar Desde, é caro, que esse transtoo enlouquecido não acarrete o rompimento e que a seqüência convença o sujeito de que o desejo do analista não teve nada a ver com isso. Esta observa observação ção não constitui, é claro, um conseho conseh o técnico, mas uma visão aberta para a questão do desejo do analista, para aqueles que de outro modo não poderiam ter idéia dela como deve o analista preservar para o outro a dimensão imaginára de sua nãodominação, de sua imperfeição necessária, eis o que é tão imporante estabelecer quanto o fortalecimento, nee vountário, de sua insciência quanto a cada sujeito que vai procurálo em análise, de sua ignorância sempre renovada de que algum dees constitua um caso. Voltando à fantasia, digamos que o perverso imagina ser o Outro para garantir seu gozo, e que é isso que o neurótico revela, ao se imaginar perverso: ele, para se assegurar do Outro. Eis o que foece o sentido da pretensa perversão situada no princípio da neurose. Ea existe no inconsciente do neurótico como fantasia fantasia do Outro. Outro. Mas isso is so não quer dizer que, no perverso, o inconsciente esteja plenamente a céu aberto. Também ee se defende, à sua maneira, em seu desejo. Pois o desejo é uma defesa, 16 proibição de ultrapassar um imite no gozo.
doi s pontos Lacan Lacan usa o termo termo défe défense" nse" , em duas de suas sua s dif diferente erentess 1 6 Nos dois
acepções (N.E.)
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A fantasia em sua estrutura por nós denida contém o - função imaginária da castração castra ção sob uma um a form formaa oculta ocult a e reversível de um de seus termos para o outro. Quer dizer que à maneira de um número complexo ela imaginariza se nos permitirem este termo) alteadamente um desses termos em relação ao outro. Incluída no objeto a está o agalma, o tesouro inestimável que Alcibíades proclama estar encerrado na caixa rústica que forma para ele a figura de Sócrates. Mas observemos que ela é marcada pelo sinal (). É por não ter visto o rabo de Sócrates se nos permitirem dizêlo segundo Platão, que não nos foece os detalhes que o sedutor Alcibíades exalta nele o agama, a maravilha que ele gostaria que Sócrates lhe cedesse declarando seu desejo declarando-se flagrantemente nessa ocasião a divi são do sujeito que ele traz em si Assim é a mulher por trás de seu véu é a ausência do pênis que faz dela o falo objeto do desejo. Evoquem essa ausência de maneira mais precisa fazendoa usar um mimoso postiço debaixo do tra)vestido de baile a fantasia e vocês ou sobretudo ela verão que tenho razão: o efeito é 100% garantido como o ouvimos de homens sem rodeios É assi as sim m que ao mostrar mostrar seu objeto como co mo castrado castrado Alcibíade Alcibíadess se exibe como desej desej ante o que não escapa escapa a Sócrate Sócratess para para um outro presente entre os convivas Agatão a quem Sócrates precursor da análise e igualmente seguro de seu ofício nessas altas rodas não hesita em chamar de objeto da transferência deixando claro com uma interpretação o fato que muitos ana listas continuam a ignorar: que o efeito amor-ódio na situação psicanalítica está do lado de fora. Mas Alcibíades nada tem de neurótico. Aliás é por ser o desejante por excelência e o homem que vai to longe quanto possível no gozo que ele pode desse modo só que com a ajuda de uma embriaguez instrumental) produzir diante de todos a articulação central da transferência presentificação do objeto adoado por seus reflexos Nem por isso ele deixou de projetar Sócrates no ideal do Mestre/Senhor perfeito a quem pela ação de (), Alcibíades imaginarizou por completo No neurótico o () insinuase sob o � da fantasia fav favore ore cendo a imaginação que lhe é própria a do eu É que a castração imaginária imaginária e o neurótic neuróticoo a sof sofre reuu logo de saída saída é a que
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susena esse eu forte que é o dele tão fore diríamos que seu nome próprio o importuna que o neurótico é no fundo um SemNome Sim esse eu que alguns analisas continuam opando por reforçar é aquilo sob o qual o neuróico esconde a casração que ele nega Mas essa casração contrariando essa aparência é algo a que ele se apega. O que o neuróico não quer o que ele el e recusa encaiçadame encaiç adamente nte aé o fim da análise é sacrificar sua castração ao gozo do Outro deixandoo servirse dela. E não está errado é claro pois embora no fundo se sinta o que exise de mais inúil uma FaltaaSer ou um Amais por que sacrificaria ele sua diferença (udo menos isso) ao gozo de um Ouro que não nos esqueçamos não existe? É, mas se porvenura existisse gozaria com ela. E é isso que o neuróico não quer Pois imagina que o Outro demanda sua casração O que a experiência analica aesta é que a castração de qualquer modo é o que rege o desejo no normal e no anormal. Desde que oscile na aleância entre � e a na fantasia a casração faz desta úlima a cadeia simulaneamente fexvel e inexensível pela qual a suspensão do investimeno objeta que não pode ultrapassar certos limies naturais assume a função ranscendental de garantir o gozo do Outro que me é ransmitido por essa cadeia na Lei Para quem quer realmente confronarse com esse Outro abr abre-se e-s e a via de experimentar experimentar não sua demanda demanda mas sua vontade Portano de se realizar como objeto de se toar a múmia de uma certa iniciação budista ou de saisfazer a vontade de castração inscrita no Outro o que leva ao supremo narcisismo da Causa perdida (essa é a via da tragédia grega reenconrada por Claudel num crisianismo desesperado) A casração significa que é preciso que o gozo sea recusado para que possa ser aingido na escala invertida da ei do desejo Não iremos aqui mais adiane Este artigo é divulgado pela primeira vez, poso que uma inesperada penúria das verbas que comumente se prodigalizam para a publicação desses ipos de colóquios, inclusive integral,
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o deixou em suspenso, com o conjunto das belas coisas que deste constituíram o oamento. Note-se, a bem da boa norma, que o desenvolvimento "copeiciano é um acréscimo, e que a última palavra palavra sobre a castração não teve tempo de se enunciar, substituída, aliás, por algumas trações na máquina, no sentido modeo, pelas quais se pode materializar a relação do sujeito com o signi cante. Da simpatia natural por toda discussão, não excluamos aquela que uma discordância nos inspirou. Não nos havendo aigid de modo algum o termo "anti-humana com que alguém quis marcar nossa exposição, chegando antes a nos lisonjear o que ele importa de novidade para essa categoria, por lhe ter dado a oportunidade de nascer, não foi com menor interesse que registramos a saraivada, pronta a segui-lo, da palavra "infeo " infeo , já que qu e a voz que a desferiu, desferiu, invocando o marxismo, dava-lhe um certo relevo. Somos sensíveis ao humanismo, convém reconhecê-lo, quando ele vem de uma esfera em que, embora não sendo de uso menos ardiloso do que alhures, pelo menos ressoa com uma nota de candura: "Quando o mineiro chega em casa, sua mulher o esfrega... esfrega... Aí, mostramo-nos sem defesa. Foi numa conversa pessoal que um dos que nos são próximos nos perguntou (foi essa a forma de sua pergunta) se falar para o quadro-negro implicava a conança num escriba eteo. Ela não é necessária, foi-lhe respondido, para quem quer que saiba que todo discurso extrai seus efeitos do inconsciente.