1953 FUNÇÃO E CAMPO DA AA E DA INGUAGEM
EscRITos Jacques Lacan CAMPO
FREUDIANO
NO BRASIL
Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise
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ELATÓRO DO ONGRESSO DE OMA REALZADO NO STTUTO D SOLOGA DELLA NVERSTÁ D OMA EM 26 E 27 DE SETEMBRO DE 953
PREFÁCIO Em paicua, não convém esquecer que a sepaação ente emioogia, anatoma, fisiologa, psicologia, socoogia e clnica não exise na natureza, e que exste apenas uma disciplina: a neurobiologia, à qual a oservação nos obrga a acescena o epíeo humana no que nos concee. (Ciação escolhda para exergo de um Instiuo de Psicanáise em 19.)
O discurso que encontraremos aqui merece ser introduzido por suas circunstâncias Pois traz delas a marca Seu tema foi proposto ao autor para constituir o relatório teórico de praxe, na reunião anua da qual havia dezoito anos que a sociedade então representativa da psicanálise na França seguia a tradição, toada venerável sob o títuo Congresso dos Psicanalistas de Lngua Francesa" , estendido há dois anos aos psicanaistas de línguas românicas (sendo nee incuída a Hoanda, por uma tolerância de linguagem). Esse Congresso deveria ter ugar em Roma, no mês de setembro de 1953. Entrementes Entrementes,, graves dissenções introduziram introduziram no grupo fra francês ncês uma secessão. Elas se haviam revelado por ocasião da fundação de um instituto de psicanálise. Pudemos então ouvir a equipe que ograra impor seus estatutos e seu programa proclamar que impediria de faar faar em Roma Ro ma aquee que, juntamente com outros, havia tentado introduzir ali uma concepção diferente, e para esse fim ela empregou todos os meios a seu alcance Contudo, Contu do, não pareceu àqueles àquele s que desde então haviam fundad fundadoo a nova Sociedade Francesa de Psicanáise que eles devessem privar da anunciada exposição a maioria estudantil que aderia a 238
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seu ensino, nem tampouco que devessem abdicar do lugar eminente em que ela fora prevista. As generosas simpatias que vieram do grupo italiano em seu auxíio não os deixavam na posição de óspedes inoportunos na Cidade Universal Quanto ao autor deste discurso, ee pensava ser socorrido, ainda que tivesse de se mostrar um tanto aquém da tarefa de faar da fala, por uma certa conivência inscrita neste ugar mesmo Ele se lembrava, com efeito, que bem antes que aqui se revelasse a glória do mais ato trono do mundo, Aulo Gélio, em suas Noites áticas, dera ao local camado Mons Vaticanus a etimoogia de vagire, que designa os primeiros primeiros babucios da fala. fala. E que, qu e, portan portanto to,, caso cas o seu discurso discurso não viesse viess e a ser nada além de um vagido, ao menos ele coeria ali o auspcio de renovar em sua discipina os fundamentos que ela retira da linguagem. Do mesmo modo, mod o, essa ess a renovação renovação tirava da da istória is tória demasiado demasiado sentido para que ele não rompesse, por sua vez, com o estio tradicional tradicional que situa a relação" entre entre a compilação compilação e a sntese, snt ese, para le dar o estilo irônico de um questionamento dos funda mentos dessa disciplina. Uma vez que seus ouvintes ouvin tes eram esses estudantes que esperam de nós a fala, foi sobretudo para estes que ele fomentou seu discurso, para renunciar, em reação a eles, às regras que se observam entre os áugures, de imitarem o rigor através da minúcia e confundirem regra e certeza. No conito, com efeito, que os levara ao atua desfeco, tinam-se dado mostras, quanto à sua autonomia de sujeitos, de um desconecimento tão exorbitante que a exigência primordial advinha de uma reação contra o tom permanente que permitira esse excesso. É que, para-além das circunstâncias locais que aviam moti vado esse conito, viera à uz um vício que as ultrapassava em muito. Que se ouvesse simplesmente podido ter a pretensão de reguar de maneira tão autoritária a formação do psicanaista levantava a questão de saber se os modos estabelecidos dessa formação não levavam ao fim paradoxal de uma depreciação perpetuada. Decerto, as formas iniciáticas e poderosamente organizadas em que Freud viu a garantia da transmissão de sua doutrina
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justif ju stifcam camse se na posção de uma dscplina que só pode pode sobrevver ao se manter no nível de uma experênca ntegral. Mas não terão eas evado a um formalsmo enganador que desencoraja a ncatva ao penalizar o risco e que faz do reno da opnão dos doutos o prncípo de uma prudência dócl onde a autenticdade da pesqusa se embota antes de se esgotar? A extrema complexidade das noções empregadas em nosso campo camp o faz faz com que em nenhum nenh um outro outro lugar um espírto espírto ao expor seu julgamento corra mas totamente o rsco de descobrir sua medda. Mas sso devera trazer a conseqüência de transformar em nosso propósto primordial senão únco o franqueamento das teses pela elucdação dos prncípos A severa seleção que se mpõe com efeto não podera fcar a cargo cargo dos adamentos indefndos ind efndos de uma cooptaçã cooptação o mnudente m nudente mas da fecundidade da produção concreta e à prova dialétca de argumentações contradtórias Isso não impca de nossa parte nenhuma valorzação da divergência. Muito pelo contráro não foi sem surpresa que pudemo pudemoss ouvr ouv r no Congresso Inteaconal Inteaconal de Londr Londres es ao qua por termos desrespeitado as formas comparecemos como socitantes socitantes uma personal personalidad idade e bem-nte bem-ntencio ncionada nada a nosso respeito deplorar que não pudéssemos justifcar nossa secessão por algum desacordo doutrna Quererá sso dzer que uma associação que se pretende nteaconal tem outra fnadade que não a de manter o princípio da comundade de nossa experênca? Sem dúvda é esse o segredo de polichinelo que de há muito já não é segredo e foi sem nenhum escândao que ao impene tráve tráve sr Zilboorg Zilboorg o qual pond pondo o de ado ado nosso nosso caso insista em que nenhuma secessão fosse aceta senão a título de um debate científco o penetrante sr Wder pôde retrucar que, a confrontarmos os princípios em que cada um de nós julgava fundamentar sua experiênca nossos muros se dssolveriam mui to depressa na confusão de Babe Quanto a nós pensamos que se inovamos não é de nosso gosto fazer disso um mérto Numa dscplina dscpl ina que só deve deve seu se u valor científ científico aos conceitos teóricos que Freud forjou no progresso de sua experência mas os quas por serem ainda mal critcados e por isso conservarem
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a ambigüidade da língua vulgar, beneficiam-se dessas ressonân cias, não sem incorrer em mal-entendidos, parecernos-ia pre maturo romper a tradição de sua terminologia Mas, parecenos que esses termos só podem esclarecerse ao estabelecermos sua equivalência com a linguagem atual da an tropologia ou com os mais recentes problemas da filosofia, onde, muitas vezes, a psicanálise só tem a se beneficiar. Urgente, em todo caso, parecenos a tarefa de destacar, em noções que se enfraquecem num uso rotineiro, o sentido que elas resgatam tanto de um retorno à sua história quanto de uma reflexão sobre seus fundamentos subetivos É essa, sem dúvida, a função de quem ensina, da qual todas as outras dependem, e é nela que melhor se inscreve o valor da experiência Se a negligenciamos, obliterase o sentido de uma ação que só extrai seus efeitos do sentido, e as regras técnicas, ao se reduzirem a receitas, suprimem da experiência qualquer alcance de conhecimento e mesmo qualquer critério de realidade Pois ninguém é menos exigente do que um psicanalista quanto àquilo que pode conferir status a uma ação que ele próprio não está longe de considerar como mágica, na impossibilidade de saber onde situála numa concepção de seu campo que ele nem pensa em atribuir à sua prática O exergo cujo oamento transpusemos para este prefácio é um belíssimo exemplo disso Do mesmo modo, será que ela se harmoniza com uma con cepção da formação analítica que sea a de uma auto-escola que, não satisfeita em aspirar ao privilégio singular de entregar a carteira de habilitação, se imaginasse em condições de controlar a construção automobilística? Essa comparação vale o que vale, mas é bem equivalente às que têm curso em nossos mais graves concílios e que, apesar de haverem nascido em nosso discurso aos idiotas, nem sequer têm o sabor do trote de calouros, calour os, mas nem n em por por isso isso deixam deixam de parecer receber um valor de uso de seu caráter de pomposa inépcia Isso começa pela conhecida comparação entre o candidato que se deixa arrastar prematuramente prematuramente para a prática e o cirurgião cirurg ião que opera sem assepsia, e vai até aquela que incita a chorar sobre esses desafortunados estudantes, a quem o conito de seus mestres dilacera como aos filhos no divórcio dos pais.
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Sem dúvida, essa última novidade nos parece inspirarse no respeito devido àquees que efetivamente sofreram o que cha maremos, moderando nosso pensamento, uma pressão sobre o ensino que os o s submeteu submeteu a uma rude prova, mas também podemos podemos indagar-n indagar-nos, os, ao ouvir o trêmolo trêmolo na boca dos mestres, se os limites do infantilismo não terão sido recuados, sem aviso prévio, até a parvoíce. As verdades que esses cichês ocultam, no entanto, mereceriam que as submetêssemos a um exame mais sério. Método de verdade e de desmistificação das camufagens subjetivas, manifestaria a psicanáise uma ambição desmedida ao aplicar seus princípios à sua própria corporação, isto é, à concepção que têm os psicanalistas de seu papel junto ao doente, de seu lugar na sociedade dos espíritos, de suas relações com seus pares e de sua missão de ensino? Talvez, por reabrir algumas janelas para a luminosidade do pensamento de Freud, esta exposição alivie em alguns a angústia gerada por uma ação ação simbólica quando ela el a se perde em opacidade própria. Seja como for, for, ao evocar as circunstâncias deste discurso, discurs o, não estamos de modo algum pensando em descupar suas insuficiên cias, por demais evidentes, pela pressa que lhe foi imposta, uma vez que é dessa mesma pressa que ele adquire seu sentido e sua forma. Aliás, demonstramos, num sofisma exemplar do tempo inter subjetivo, 1 a função da pressa na precipitação lógica em que a verdade encontra sua condição insuperáve. Nada há de criado que não apareça na urgência, e nada na urgência que não gere sua superação na fala Mas nada há, tampouco, que não se torne contingente nela, quando chega para o homem o momento em que ele pode identificar numa única razão o partido que escolhe e a desordem que denuncia, para compreender sua coerência no rea e se antecipar, por sua certeza, à ação que os cooca em equilíbrio.
1.
Cf O tempo tempo ógico ógico e a asserção asserção de certeza certeza anteci antecipad pada" a" , p. l 97
Fuçã cm d f d um m scás scás
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INTRODUÇÃO Determinaremos isso enquanto ainda estamos no afélio de nossa matéria, pois, quando chegarmos ao periélio, o calor será capaz de nos fazer esquecê-la. (Lichtenberg) "Flesh composed of suns. How can such be? exclaim the simple ones.2 R. Browning Parleying with Certain People)
Tamanho é o pavor que se apodera do homem ao descobrir a imagem de seu poder que ele dela se desvia na ação mesma que he é própria, quando essa ação a mostra nua. É o caso da psicanáise. A desco descober berta ta promet prometéic éicaa de Freud Freud fo foii uma uma ação desse tipo; sua obra noo atesta; mas ela não está menos presente em cada experiência humildemente conduzida por um dos trabalhadores formados em sua escola. Podemos acompanhar, ao longo dos anos decorridos, essa aversão do interesse pelas funções da fala e pelo campo da linguagem Ela motiva as mudanças de objetivo e de técnica" que são decaradas no movimento e cuja reação com o amor tecimento da eficácia terapêutica é, no entanto, ambígua. Com efeito, efeito, a promoç promoção ão da resistência do ob objj eto na teoria e na técnica técn ica deve ser submetida, ela mesma, à dialética da análise, que só pode reconhecer nisso um álibi do sujeito. Tentemos esboçar a tópica desse movimento Ao considerar a literatura que chamamos de nossa atividade científica, os problemas problemas atuai atuai s da psicanálise psicanáli se destacam-se destac am-se nitidamente sob so b três três aspectos: A) Função do imaginário, digamos, ou, mais diretamente, das fantasias na técnica da experiência e na constituição do obeto nas diferentes etapas do desenvovimento psquico. O impulso proveio, aqui, da psicanáise de crianças, e do terreno favoráve oferecido às tentativas e às tentações dos investigadores pela abordagem das estruturações préverbais. É também a que sua culminação provoca agora um retorno, evantando o problema da sanção simbólica a ser dada às fantasias em sua interpretação "'Matéra composta de sós Como é possíve isso?, exclamam os simples (NE) 2.
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B) Noção das reações libidinais de objeto, que, renovando a idéia do progresso da análise, reformua em surdina sua condução. A nova perspectiva partiu, aqui, da extensão do método às psicoses e da abertura momentânea da técnica a dados de princípio diferente. A psicanáise desemboca então numa feno menoogia existencia, ou até num ativismo movido pea cari dade. Também aí se exerce uma nítida reação em favor de um retoo ao eixo técnico da simboização C) Importância da contratransferência e, correlativamente, da formação do psicanaista. Aqui, a ênfase veio dos embaraços do término da análise, que se juntam aos do momento em que a psicanáise didática se encerra com a introdução do candidato na prática. E a mesma osciação se observa aí de um lado, e não sem coragem, aponta-se o ser do anaista como eemento não desprezíve nos efeitos da análise, e que deve incusive ser exposto em sua conduta no fim da partida; nem por isso se deixa de promulgar energicamente, por outro ado, que nenuma so lução pode provir senão de um aprofundamento cada vez mais intensificado da moa inconsciente. Esses três problemas têm um traço comum, à parte parte a atividade atividade pioneira que manifestam em três fronteiras diferentes, com a vitaidade da experiência que os sustenta. Trata-se da tentação que se apresenta ao anaista de abandonar o fundamento da fala, justamente em campos em que sua utiização, por confinar com o inefável, exigiria mais do que nunca seu exame: a saber, a pedagogia matea, a ajuda samaritana e a mestridominação dialética Toase grande o perigo quando, aém disso, ele abandona sua inguagem, em benefício de linguagens já insti tuídas e das quais ele conhece pouco as compensações que elas oferecem à ignorância. Na verdade, gostaríamos de saber mais sobre os efeitos da simbolização na criança, e as mães oficiantes na psicanálise, ou as que dão a nossos mais elevados conselhos um ar de matriar cado, não estão ivres da confusão de ínguas em que Ferenczi aponta a ei da reação criança-adulto 3
Ferenczi Ferenczi,, " Confusion of tongues betweeen the adult and the child, lnt. Joura of Psyc Psycho ho 1949 XXX XX X IV, p5-0
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As idéias concebidas por nossos doutos sobre a reação de objeto acabada são de concepção bastante incerta e, ao serem expostas, deixam transparecer uma mediocridade que não honra a profissão. Não há dúvida de de que esses e sses efei efeito toss onde o psicanaista se aproxima do tipo de herói modeo iustrado por façanhas derrisórias derrisórias numa situação situação de descaminho descaminho só poderiam poderiam ser corrigidos por um mero retoo ao estudo, no qual o psicanaista deveria toar-se mestre/senhor, das funções da faa. Mas parece que, desde Freud, esse campo centra de nosso domnio caiu no abandono Observese o quanto ele mesmo se preservou de incursões grandes demais em sua periferia: desco brindo os estádios libidinais da criança na análise de adutos e só intervindo, no Pequeno Hans, por intermédio de seus pais; decifrando uma faixa inteira da linguagem do inconsciente no delrio paranóide, mas utilizando para isso apenas o texto-chave deixado por Schreber na ava de sua catástrofe menta. E assu mindo, em contrapartida, quanto à diaética da obra e à tradição de seu sentido, e em toda a sua altivez, a posição de mestria, de dominação. Equivalerá isso a dizer que, se o lugar do mestre/senhor permanece vazio, é menos em virtude de seu desaparecimento do que de uma crescente obliteração do sentido de sua obra? Acaso não basta, para nos convencermos disso, constatar o que sucede nesse ugar? Nele se transmite uma técnica, de estilo enfadonho ou até reticente em sua opacidade, e que qualquer arejamento crítico parece transtoar Na verdade, ela assume o aspecto de um formalismo levado ao cerimonia, e a tal ponto que podemos indagarnos se não sucumbe à aproximação aproximação mesma com a neurose obsessiva através da qua Freud visou tão convincentemente o uso, senão a gênese, dos ritos religiosos A anaogia se acentua ao considerarmos a iteratura que essa atividade produz para dea se aimentar temse ai a impressão freqüente de um curioso circuito fechado, onde o desconheci mento da origem dos termos gera o problema de atribu-os, e onde o esforço de resover esse probema reforça esse desco nhecimento. Para remontar às causas dessa deterioração do discurso ana ltico, é egtimo apicar o método psicanaltico à coetividade que o sustenta.
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Com efeito, faar da perda do sentido da ação analtica é tão verdadeiro e tão tão inócuo quan quanto to expi ex picar car o sintoma sint oma por por seu sentido, se ntido, enquanto esse sentido não é reconhecido. Mas sabemos que, na ausência desse reconhecimento, a ação só pode ser sentida como agressiva no nível em que se situa, e que, na ausência das resistên resis tência cias" s" sociais em que o grupo anaítico encontrou encontrou meios de se tranqüilizar, os imites de sua tolerância à sua própria atividade, atividade, agora agora acolhida" , senão aceita, já não não depende dependem m senão do índice numérico em que se mede sua presença na escala social. Esses princípios bastam para situar as condições simbóicas, imaginárias e reais que determi determinam nam as as defesas defesas isolamento, anulação anulação,, denegaç denegação ão e, em geral, geral, desconhe desconhecime cimento nto que po demos reconhecer na doutrina. Por conseguinte, se avaliarmos por sua massa a importância que tem o grupo norteamericano para para o movimento psicanalítico, psi canalítico, apreciaremos em seu peso as condições que ali se encontram. Na ordem simbólica, para começar, não se pode desprezar a importância importância do fator c que destacamos no Congresso de Psiquia tria de 1950 como uma caracter caracterstica stica constante de um dado meio mei o cultural: condição, aqui, do antihistoricismo em que todos concordam em reconhecer o traço traço principal da comunicação" nos EUA, e que, a nosso ver, é o oposto diametra da experi experiência ência anaítica Ao que vem somar-se uma forma mental bastante autóctone que, sob o nome de behaviorismo, domina a tal ponto a noção psicoógica na América que está claro que doravante, supera por completo, na psicanálise, a inspiração freudiana. Quanto às outras duas ordens, deixamos aos interessados a tarefa de apreciar o que os mecanismos manifestos na vida das sociedades psicanaíticas devem, respectivamente, às reações de imponência no interior do grupo e aos efeitos sentidos de sua livre iniciativa no conjunto do corpo social, bem como a con fiança que convém depositar na noção, saientada por um de seus mais lúcidos representantes, da convergência que se exerce entre a estranheza de um grupo em que predomina o imigrante e o distanciamento a que o arrasta a função invocada peas condições acima indicadas da cultura. De qualquer qualquer modo, evidenciase de maneira maneira incontestável incontestável que a concepção da psicanálise pendeu ali para a adaptação do indivduo ao meio social, para a busca dos patters de conduta
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relations, e para toda a objetvação objetvação mpcada na noção noç ão de human relations, e é realmente uma posição de exclusão prvlegada com respeito ao obeto humano que se indica na expressão, nascda lá mesmo, human engineering.
Portanto, é à distânca necessária para manter ta posção que podemos atribuir o eclipse, na pscanálse, dos termos mas vívidos vívidos de sua experi experiênca ênca o inconscente, a sexualidade , dos quas parece que a própra menção logo deverá apagar-se. Não temos que tomar partdo quanto ao formalismo e ao espírto mercantlsta que os documentos oficias do próprio grupo menconam para denuncá-os. O farseu e o loista só nos nteressam por sua essência comum, fonte das dfculdades que um e outro têm com a faa, especialmente quando se trata do talking shop, de falar de negócos. É que, se a ncomunicablidade dos motivos pode sustentar um magstéro, ea não se equpara à mestria, ao menos àquela exgida por um ensino. Aás, percebemos sso quando fo precso, precso , no passado, para sustentar sua primaza, dar, quanto à forma, ao menos uma lção. Es por que o apego ndefectvelmente reafrmado por essa mesma facção pea técnica tradicona, após um baanço das provas efetuadas nos campos-fronteira anteriormente enumera dos, não se dá sem equívoco; ee se aquilata pea substitução do termo ortodoxa peo termo clássica para quaificar essa técnica. Fca-se preso às convenções, na mpossibilidade mpossibilidade de saber, sobre a doutrina, dizer o que quer que seja. Afrmamos, quanto a nós, que a técnca não pode ser com preendida nem corretamente aplcada, portanto, quando se des conecem os concetos que a fundamentam. Nossa tarefa será demonstrar que esses conceitos só adqurem peno sentido ao se orentarem num campo de lnguagem, ao se ordenarem na função da fala Ponto em que notamos que, para manejar quaquer conceto freudano, a leitura de Freud não pode ser tida como supérua, nem mesmo quanto àquees que são omônimos de noções correntes Como o demonstra a desventura, trazida à nossa embrança por esta estação do ano, de uma teoria dos instintos resenhada em Freud por um autor pouco atento à parcea ex pressamente mítica, no dizer de Freud, que ela contém Mani festamente, ee não podera estar atento, uma vez que a aborda
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através da obra de Mare Bonaparte, a qua cita ncessantemente como um equvaente do texto freudano, e sem que nada advrta o letor quanto a sso, fiandose talvez, não sem razão, no bom gosto deste em não confundi-as, mas nem por sso dexando de provar que não entende nada do verdadeiro nvel da informação de segunda mão Mediante o que, das reduções às deduções e das nduções às hpóteses, o autor conclu pela estrita tautologia de suas premissas falsas, ou seja, conclui que os instintos de que se trata são redutí redutíveis vei s ao arco reexo. Ta como a pilha de pratos pratos cujo desmoronamento se destila na narrativa clássica, dexando nas mãos do artista apenas dois pedaços descasados pelo estron do, uma construção complexa, que vai da descoberta das migrações da lbido pelas zonas erógenas até a passagem metapsco lógica de um prncpo de prazer generalzado ao instinto de morte, transformase no bnômo de um instinto erótico passvo, moldado moldado na ativdad ativdadee das catad catadora orass de piolho, caras ao poeta, poeta, 4 e de um instnto destrutivo, simplesmente dentificado com a motricidade Resultado que merece uma menção muto honrosa para a arte, voluntária ou não, de evar ao rigor as conseqüêncas de um ma-entenddo. I. FALA VAZIA E FALA PLENA NA REALIZAÇÃO PSICANALÍTICA DO SUJEITO Dá em minha ca fala verdadeira e estáve e faze de mim 'nteele consolacion consolacion cap.XLV Que não se língua cuta (L 'nteele deve conar em odos, e do ligeiro tropeço das palavras).5 Cause sempre. 6 (Lema do pensameno "causaisa .)
Quer se pretenda agente de cura, de formação ou de sondagem, a psicanálse dspõe de apenas um meio: a fala do paciente A evidênca desse fato não justifica que se o neglgence. Ora, toda faa pede uma resposta.
4 Ausão a um poema de Arthur Rimbaud, Les chercheuses de poux. (N.E) e n ma bouche parole parole vraie et e t estable et fay de moy mo y Zangue caulte 5 Donne en (Lnteele consolacion, XLV< Chapie: Qu on ne doit pas chascun croire et du legier trebuchement de paroles). (N.E.) 6. Cause toujours. (N.E.)
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Mostraremos que não há faa faa sem resposta, mesmo que depare apenas com o silêncio, desde que ea tenha um ouvinte, e que é esse o cee de sua função na anáise. Mas, se o psicanaista ignorar que é isso que se dá na função da fala, só fará experimentar mais fortemente seu apelo, e, se é o vazio que nea se faz ouvir inicialmente, é em si mesmo que ele o experimentará, e é para-além da fala que irá buscar uma realidade que preencha esse vazio. Assim, ee passa a analisar o comportamento do sujeito para ali encontrar o que ele não diz. Mas, para obter a conssão, é preciso que fae disso Então, ee recupera a palavra, mas toada suspeita por só haver respondido à derrota de seu silêncio, ante o eco percebido de seu próprio nada Mas qual foi, então, esse apelo do sueito, para-além do vazio de seu dito? Apeo à verdade em seu princípio, através do qua vacilarão vacilarão os apeos de necessidades nece ssidades mais humildes humild es Mas, primeiro e de imediato, apelo próprio do vazio, na hiância ambígua de uma sedução tentada sobre o outro, através dos meios em que o sueito cooca sua complacência e em que irá engajar o monumento de seu narcisismo. " Aí está ela, a intros introspec pecção ção!! , excama o homem prob proboo que he conhece muito bem os perigos. Ele decerto não é, admite, o útimo a haver saboreado seus encantos, ainda que hes tenha esgotado o benefício. Pena que não tenha mais tempo a perder Pois vocês ouviriam poucas e boas se ele chegasse a seu divã. É estranho que um analista, para quem esse personagem é um dos primeiros encontros de sua experiência, ainda mencione a introspecção na psicanáise Pois, uma vez aceito o desafio, furtam-se todas essas coisas esplêndidas que se acreditava ter de reserva. O preço delas, assumida sua obrigação, parece pequeno, mas apresentamse outras tão inesperados para nosso homem que, a princípio, parecemhe tolas e o deixam caado por um bom tempo Destino comum 7 Ee apreende então a diferença entre a miragem de monólogo com que as fantasias acomodatícias estimuavam sua actância e o trabalho forçado desse discurso sem escapatória, que o 7
Parágrafo reescrito (1966).
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psicólogo, não sem humor, e o terapeuta, não sem astúcia, enfeita enfeitaram ram com o nome de de associação livre" Pois tratase realmente de um trabaho, e tanto é um trabalho que se pôde dizer que ele exige uma aprendizagem, e chegar a ver nessa aprendizagem o valor formativo desse trabalho. Mas, ao entendêo dessa maneira, que outra coisa ele formaria senão um operário especializado? Portanto, que acontece com esse trabalho? Examinemos suas condições e seu fruto, na esperança de aí ver melhor seu objetivo e seu benefício. Reconheceuse de passagem a pertinência do termo durcharbeiten, ao qual equivale o ingês working through, e que entre nós desesperou os tradutores, ainda que a eles se ofereça o exercício exercício de esgotamento perenemente impresso em nossa língua pela marca de um mestre do estio: Cem vezes no trabaho, reco recome meça çaii " , mas, como como progride progride a obra obra aqui? 8 A teoria nos lembra a tríade frustração, agressividade, re gressão. Essa é uma explicação de aparência tão compreensível que bem poderia dispensarnos de compreender. A intuição é ági, mas uma evidência deve ser-nos tão mais suspeita quanto mais se toa uma idéia idé ia aceita Venha a análise análi se surpreender surpreender sua sua fragilidade, convém não nos contentarmos com o recurso à afetividade. Palavra-tabu da incapacidade dialética, que, junto com o verbo intelectualizar, cuja acepção pejorativa faz dessa incapacidade um mérito, com ele permanecerá na história da íngua íng ua como estigmas estig mas de nossa nos sa obtusidade em reaçã reação o ao sujei sujeito. to. 9 Indaguemos, antes: de onde vem essa frustração? Será do siêncio do analista? Uma resposta à faa vazia, mesmo e sobre tudo aprobatória, freqüentemente mostra por seus efeitos que é bem mais frustrante do que o silêncio. Não se tratará, antes, de uma frustração que seria inerente ao próprio discurso do sujeito? O sujeito não se empenha neste numa despossessão cada vez maior do ser de de si s i mesmo, o qual em virtude de pintu pinturas ras sinceras, que nem por isso toam menos incoerente a idéia, de retificações que não conseguem destacar sua essência, de apoios
8 Alusão
frase de Boieau Vingt fois sur le métier remettez votre ouvrage (Vinte vezes vezes no tra trabalho, balho, recomeçai vossa obra" obra" ) (N. ( N.E.) E.) 9 Antes escrevêramos: em matéria de psicologia (1966) à
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e defesas que não impedem sua estátua de vaciar, de abraços narcísicos narcísicos que que constituem constituem um sopr soproo de animação animação ee acaba reconhecendo que nunca foi senão um ser de sua obra no imaginário, e que essa obra desengana nele quaquer certeza. Pois, nesse trabaho que faz de reconstruí-la para um outro, ee reencontra a aienação fundamental que o fez construí-a como um outro, e que sempre a destinou a he ser furtada por um outro.10 Esse ego, cuja força nossos teóricos definem agora pela capacidade de suportar uma frustração, é frustração em sua essência 11 É frustração, não de um desejo do sujeito, mas de um objeto em que seu desejo está aienado, e, quanto mais este se elabora, mais se aprofunda no sujeito a alienação de seu gozo. Frustraçã Frustraçãoo em segundo grau, portanto, portanto, e de tal ordem ordem que, viesse vie sse o sujeito a reduzirhe a forma em seu discurso à imagem apassivadora pela qual o sujeito se faz objeto na exibição do espelho, não poderia satisfazerse com ela, uma vez que, mesmo atingindo nessa imagem sua mais perfeita semelhança, seria ainda o gozo do outro que ele faria reconhecer ai É por isso que não há resposta adequada para esse discurso, pois o sujeito tomará por desprezo qualquer faa que se comprometa com seu equívoco. A agressividade que o sujeito experimenta aqui nada tem a ver com a agressividade animal do desejo frustrado Essa refe rência com que aguns se contentam mascara uma outra, menos agradável para todo o mundo: a agressividade do escravo, que responde à frustração de seu trabalho com um desejo de morte.
Parágrafo reescrito (1966) 1 Eis a o tormento de um desvio que tanto é prático quanto teórico Pois, identicar o ego com a disciplina do sujeito sujeito é confundir confundir o isolamento imaginário com o domnio dos instintos. É expor-se através disso, a erros de juízo na condução do tratamento, tratamento, tais tai s como com o amejar um reforço reforço do ego em muitas muita s neuroses motivadas por sua estrutura demasiadamente forte, o que é um caminho sem saída Acaso não lemos na pena de nosso amigo Michael Baint que o reforço do ego deve avorecer o sujeito que sofre de ejaculatio precox, porque lhe permitiria uma suspensão mais prolongada de seu desejo? Como pensar assim, no entanto, se é precisamente ao fato de seu desejo estar suspenso na função imaginária do ego que o sujeito deve a abreviação do ato a qual a clínica psicanalítica mostra claramente estar ligada à identifcação narcísica com o parceiro? 0.
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Concebe-se, por conseguinte, como essa agressividade pode responder a quaquer intervenção que, denunciando as intenções imaginárias do discurso, desmonte o objeto que o sujeito cons truiu para para satisfazê- satisfazê-as as É a isso que q ue se chama, com efeito, efeito, anáise das resistências, cuja vertente perigosa aparece de imediato Ea já é assinalada pea existência do ingênuo que nunca viu mani festar-se senão a significação agressiva das fantasias de seus sujeitos. 12 Esse é o mesmo que, não hesitando em defender uma análise " causaista, que visaria vi saria a tran transfo sforma rmarr o suj suj eito em seu presente através de doutas explicações de seu passado, trai suficiente mente, até em seu tom, a angústia de que quer pouparse, por ter que pensar que a liberdade de seu paciente está presa à de sua intervenção. Que o expediente a que ee se atira possa em algum momento ser benéfico para o sujeito, eis o que não tem outra importância senão a de uma brincadeira estimuante, e que não nos reterá por muito mais tempo. Visamos, antes, ao hic et nunc em que aguns crêem dever encausurar o man manejo ejo da anáise. Ee pode ser úti, de fato, desde que a intenção imaginária que o anaista descobre ali não seja por por ee e e desvincuada d reação reação simbóica e m que ea e a se exprime exprime Nada deve ser ido nisso, no que concee ao eu do sujeito, que não possa ser reassumido por ele sob a forma do [eu], isto é, na primeira pessoa " Só fui fui assim para me trans transfo form rmar ar no que posso ser : se não fosse esse o despontar permanente da assunção que o sujeito faz de suas miragens, onde poderí poderíamos amos disceir um progr progress esso o aqui? O anaista, portanto, não pode sem perigo acuar o sujeito na intimidade de seu gesto, ou mesmo de sua estática, a não ser para reintegráos como partes mudas em seu discurso narcísico, o que foi notado de maneira muito sensve até por jovens praticantes. O perigo não está na reação negativa do sujeito, mas antes em sua captura numa objetivação, não menos imaginária do que
Isso, no própro rabalho a que concedemos a palma no n o m de nossa no ssa inodução (1966). Fica marcado, no que virá a seguir, que a agressividade é apenas um efeio colaeral da usração analíica, quando ese pode ser reforçado por um certo po de inervenção inervenção que, como al, não é a razão razão do par frustr frustração ação-regr -regressão. essão. .
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antes, de sua estátca ou de sua estátua, numa situação renovada de sua alienação. Muito pelo contrário, a arte do analista deve consstr em suspender as certezas do sujeto, até que se consumem suas últmas mragens é no dscurso que deve escandrse a reso lução delas. Anda que esse dscurso, com efeito, pareça meio vazio, isso só acontece quando se o toma por seu valor aparente: aquele que justifca a frase de Mallarmé, quando este compara o uso comum da lnguagem com a troca de uma moeda cujo verso e anverso já não mostram senão figuras apagadas, e que é passada de mão em mão em slêncio" slê ncio" . ssa metáf metáfora ora basta para nos lembrar que a fala, mesmo no auge de sua usura, preserva seu valor de téssera. Mesmo que não comunque nada, o dscurso representa a exstênca da comunicação; mesmo que negue a evdência, ele afrma que a fala constitui a verdade; mesmo que se destine a enganar, ele especula com a fé no testemunho. Alás, o psicanalista sabe melhor do que ninguém que a questão questão aí é ouvir a que parte" parte" desse dscurso é confiado o termo signifcatvo, e é j ustamente assm que ele opera, no melhor dos casos: tomando o relato de uma história cotidiana por um apólogo que a bom entendedor drge suas meias-palavras, uma longa prosopopéia por uma interjeção direta, ou, ao contráro, um simples lapso por uma declaração muto complexa, ou até o suspiro de um slêncio por todo o desenvolvmento lírico que ele vem suprir. Assm, é uma pontuação oportuna que dá sentido ao discurso do sujeito. É por isso que a suspensão da sessão, que a técnica atual transforma numa pausa puramente cronométrica e, como tal, indiferente à trama do discurso, desempenha aí o papel de uma escansão que tem todo o valor de uma ntervenção preci pitando os momentos conclusivos E sso indica libertar esse termo de seu contexto rotneiro, para submetê-lo a todos os fins úteis da técnica É assm que se pode operar a regressão, que é apenas a atualização, no discurso, das relações fantasístcas restauradas por um ego a cada etapa da decomposção de sua estrutura. Pois, afnal essa regressão não é real; mesmo na linguagem, ela só se manifesta manifesta por inexões, inexõ es, fraseados, tropeço tropeçoss muito ligeiros" ligeiro s"
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que, quando muto, não poderam ultrapassar o artfíco da fala babyish no adulto. Imputarlhe a realdade de uma relação atual com o objeto equvale a projetar o sujeto numa lusão alenante, que só faz repercutr um álb do pscanalsta. Por sso é que nada extravara mas o pscanalsta do que procurar guarse por um pretenso contato expermentado com a readade do sujeto. Essa péroa da pscooga ntuconsta, ou então fenomenológca, assumu no uso contemporâneo uma extensão bastante sntomátca da rarefação dos efetos da faa no presente contexto socal. Mas, seu valor obsessvo torna-se flagrante ao ser promovdo numa relação que, por suas própras regras, mpede quaquer contato real. Contudo, os jovens analstas que se dexarem levar pelo que esse recurso mpca de dons mpenetráves não encontrarão nada melhor para retroceder do que referrse ao sucesso das própras supervsões [ contrôles] a que se submetem. Do ponto de vsta do contato com o real, a possbdade mesma dessas supervsões se toara um probem probema. a. Muto pelo contrário, contrário, o supervsor manfesta manfesta neas uma segunda vsão, convra dzer, que, para ele, toa a experênca exper ênca ao menos tão nstrutva quanto para o supervsonando. E sso, quase que sobretudo por este últmo exbr menos esses dons, que alguns os tomam por anda mas ncomuncáves, fa zendo de seus segredos técncos um embaraço maor A razão desse engma é que o supervsonando desempenha al o papel de ftro, ou então de refratr do dscurso do sujeto, e assm, apresenta-se nteramente pronta ao supervsor uma estereografa que já destaca os três ou quatro regstros em que ele pode er a dvsão consttuda por esse dscurso. Se o supervsonando pudesse ser posto peo supervsor numa posção subjetva dferente da mpcada peo snso termo contrôle (vantajosamente substtuído, mas apenas na íngua n gesa, por supervision), o mehor fruto que extrara desse exer cíco sera aprender a se manter, ee mesmo, na posção de subjetvdade secundára em que a stuação cooca medatamente o supervsor. Ee encontrara aí a va autêntca para atngr o que a fórmua ássca da atenção dfusa ou dstraída do analsta só exprime muto aprxmatvamente. Pos o essencal é saber o que vsa essa atenção: não, certamente, e todo o nosso trabalho está a para demonstrálo, um objeto para-além da faa do sujeto, como
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alguns se empenham em nunca perder de vista. Se tivesse que ser essa a via da análise, sem dúvida aguma seria a outros meios que ela recorreria, ou então, esse seria o único exemplo de um método que proibisse a si mesmo os meios de atingir seu fim. O único objeto que está ao alcance do analista é a reação imaginária que o iga ao sujeito como , e, na impossibilidade de eliminála, élhe possíve servirse dea para regular o auxo de seus ouvidos, segundo o uso que a fisiologia, de acordo com o Evangeho, mostra ser normal fazer: ouvidos para não ouvir, ou, dito de outra maneira, para fazer a detecção do que deve ser ouvido. Pois não existem outros, nem terceiro nem quarto ou vidos, para uma uma trans transaud audição ição que se pretender pretenderia ia direta do inconsciente pelo inconsciente. Diremos o que convém pensar dessa pretensa comunicação. Abordamos a função da faa na anáise por seu aspecto mais ingrato, o da faa vazia, em que o sujeito parece falar em vão de aguém que, mesmo he sendo semehante a ponto de ee se enganar, nunca se aiará à assunção de seu deseo. Aí mostramos a fonte da depreciação crescente de que a fala tem sido obeto na teoria e na técnica, e foi preciso levantarmos pouco a pouco, qual uma pesada roda de moinho tombada tombada sobre sobre si mesma, me sma, aquilo que só pode servir de voante no movimento da análise, ou seja, os fatores psicofisiológicos individuais que, na realidade, são excluídos de sua dialética. Dar como objetivo à análise modificar sua própria inércia é condenarse à cção do movimento, onde uma certa tendência da técnica parece efetivamente satisfazer-se. Se agora voltarmos nossos olhos para o outro extremo da experi experiên ência cia ana analí lítica tica em sua história história,, sua casuíst casuística, ica, no processo do tratamento , encontraremos, opondose à anáise do hic et nunc, o vaor da anamnese como índice e como moa do progresso terapêutico na intrasubetividade obsessiva, a inter-subjetividade histérica, na análise da resistência, a inter pretação simbóica. Aqui começa a realização da fala pena. Examinemos a relação que ea constitui. Lembremonos de que o método instaurado por Breuer e Freud foi, ogo depois de seu nascimento, batizado por uma das pacientes de Breuer, Anna 0., com o nome nome de de " ta taki king ng cure cure . Recordemos Recordemos que foi a experiência inaugurada com essa histérica hi stérica que os evou à descoberta do acontecimento patogênico chamado traumático.
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Se esse acontecimento foi reconhecido como a causa do sintoma sintoma,, foi foi porque porque a coocação de um em palavras palavras (nas stores" da doente) determinou a eiminação do outro Aqui, o termo conscientização, retirado da teoria psicológica que logo se atri buiu ao fato, guarda um prestígio que merece a desconfiança que tomamos por boa norma exercer no tocante às expicações que funcionam como evidências. Os preconceitos psicoógicos da época opunhamse a que se reconhecesse na verbalização como ta uma outra realidade que sua atus vois. O fato é que, no estado hipnótico, ela é dissociada da conscientização, e isso bastaria para fazer revisar essa concepção de seus efeitos. Mas como é que os valentes da Aujebung behaviorista não dão aqui o exempo, dizendo que não têm que saber se o sujeito se lembrou do que quer que fosse? Ele apenas narrou o aconte cimento. Quanto a nós, diremos que ele o verbalizou 1 3 , ou, para desenvover esse termo, cujas ressonâncias em francês evocam uma outra imagem de Pandora que não a da caixa onde talvez conviesse encerráo, que ele o fez passar para o verbo, ou, mais precisamente, para o epos onde reaciona com o momento presente as origens de sua pessoa. Isso, numa linguagem que permite a seu discurso ser entendido por seus contemporâneos e, mais ainda, que pressupõe o discurso presente destes Assim é que a recitação do epos pode incuir um discurso de outrora em sua língua arcaica, ou mesmo estrangeira, ou efetivar-se no tempo presente, com toda a animação do ator, porém à maneira de um discurso indireto, isoado entre aspas no fio da narrativa, e, se ee é encenado, é num paco que implica a presença não somente do coro, mas também dos espectadores. A rememoração hipnótica é, sem dúvida, reprodução do passado, mas é sobretudo uma representação faada e, como ta, impica toda sorte de presenças Ea é, para a rememoração vígi daquilo daquilo que curiosament curiosamentee chamamos chamamos na análise de o materi material al"" , aquilo que o drama, produzindo ante a assembléia dos cidadãos os mtos originais da pólis, é para a história, a qual sem dúvida é feita de materais, mas nos quais uma nação de nossa época aprende a ler os símboos de um destino em marcha. Podemos dizer, na inguagem heideggeriana, que ambos constituem o
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verbalizar zar e, também, " lavra lavrarr um auto auto " autuar utuar . (N.E.) Verbalizer: " verbali
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sujeito como gewesend, isto é, como sendo aquele que assim foi oi.. Mas, na unidade unidade intea dessa temporaização, temporaização, o ente marca marca a convergência dos tendo sido. Ou seja, supondo-se outros encontros desde qualquer um desses momentos tendo sido, dees teria saído um outro ente, que faria o sujeito ter sido totamente diverso. A ambigüidade da revelação histérica do passado não decorre tanto da vaciação de seu conteúdo entre o imaginário e o rea, pois ele se situa em ambos. Tampouco se trata de que ea seja mentirosa É que ea nos apresenta o nascimento da verdade na faa e, através disso, esbarramos na realidade do que não é nem verdadeiro nem faso Peo menos, isso é o que há de mais perturbador em seu problema. Pois a verdade dessa reveação é a faa presente, que a atesta na realidade atual e que funda essa verdade em nome dessa realidade. Ora, nessa realidade, somente a fala testemunha a parcela dos poderes do passado que foi afastada a cada encr zilhada em que o acontecimento fez uma escoha Eis por que a condição de continuidade na anamnese, onde Freud aquiata a integridade da cura, nada tem a ver com o mito bergsoniano de um restabeecimento da duração, onde a auten ticidade de cada instante seria destrída por não resumir a modulação de todos os instantes antecedentes antecedentes.. É que não se trata, para Freud, nem de memória bioógica, nem de sua mistificação intuicionista, nem da paramnésia do sintoma, mas de rememo ração, isto é, de história, fazendo assentar unicamente sobre a navaha das certezas da data a balança em que as conjecturas sobre o passado fazem osciar as promessas do futuro Sejamos categóricos: não se trata, na anamnese psicanalítica, de reaidade, mas de verdade, porque o efeito de uma fala pena é reordenar as contingências passadas dando-lhes o sentido das necessidades por vir, tais como as constitui a escassa iberdade pela qual o sujeito as faz presentes Os meandros da investigação que Freud realizou na exposição do caso do Homem dos Lobos" confirmam estas afirmações, neas retomando seu pleno sentido. Freud exige uma objetivação total da prova quando se trata de datar a cena primária, mas supõe, sem mais aquela, todas as ressubjetivações do acontecimento que lhe pareçam necessárias para explicar seus efeitos a cada vota em que o sujeito se reestrutur reestrutura, a, isto is to é, é , tantas reestrturações do acontecimento quan-
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tas se operem, como se exprime ee, nactrglich, a posterori. 1 4 Mais ainda, com uma audácia que beira a desenvotura, ee decara considerar egítimo elidir, na anáise dos processos, os intervalos de tempo em que o acontecimento permanece atente no sujeito 15 Ou seja, ee anula os tempos para compreender compreender em prol dos momentos de concluir que precipitam a meditação do sujeito rumo ao sentido a ser decidido do acontecimento origina. Notese que tempo para compreender e momento de concluir são funções que definimos num teorema puramente lógico, 16 e que são famiiares a nossos alunos, por se haverem demonstrado muito propícias à análise dialética por onde os guiamos no processo de uma psicanáise. É justamente essa assunção de sua história peo sujeito, no que ea é constituída pea faa endereçada ao outro, que serve de fundamento ao novo método a que Freud deu o nome de psicanáise, não em 904 - como como antig antigame amente nte ensinava uma uma autorid autoridade ade que, qu e, por po r ter rejeitad rejeitadoo o manto de um siênci siê ncioo prudente prudente,, pareceu nesse dia só conhecer de Freud o título de suas obras -, porém em 1895Y Ta como Freud, não negamos, nessa anáise do sentido de seu método, a descontinuidade psicofisiológica psicofisioló gica manifesta manifestada da pelos estados em que se produz o sintoma histérico, nem que este possa possa ser tra trata tado do por por métodos métodos - hipnose hipnose ou ou narcos narcosee que reproduzem a descontinuidade desses estados. Simpesmente, e tão expressamente quanto ee se proibiu, a partir de um certo momento, de recorrer a eles, reprovamos qualquer apoio nesses estados, tanto para explicar o sintoma quanto para curálo Pois, se a originalidade do método é feita dos meios de que ele se priva, é que os meios que ele se reserva bastam para
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GW XII p71, Cinq psychanalyses Paris, PUF p356 adução precária do termo n , últimas lnha lnhas s Acha-se Acha-se gr grfad fadaa na nota nota a noção noção de 15. GW, XII p 72 , n poster ror ori] i] Cinq psychanalyses p356, n.. Nachtrglichkeit [a poste 16 Cf. p. 20310 20310 desta desta coletân coletânea ea 17 Num arigo acessíve ao eitor francês menos exigente, uma vez que foi publcado na Revue Neurologique cuja coleção encontra-se habituamente nas bibliotecas das salas de plantão. O equívoco aqu denunciado ilustra ene ouros como se situava a referida referida autorda autordade de que saudamos saudamos na p p 247 247 8 comparatv comparatva a mente a sua leadership.
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constituir um campo cujos limites definem a relatividade de suas operações. Seus meios são os da fala, na medida em que ela confere um sentido às funções do indivíduo; seu campo é o do discurso concreto, como campo da realidade transindividual do sujeito; suas operações são as da istória, no que ela constitui a emer gência da verdade no real. Primeiramente, com efeito, quando o sujeito se engaja na análise, ele aceita uma posição mais constituinte, em si mesma, do que todas as instruções pelas quais se deixa mais ou menos enganar: a da interlocução; e não vemos nenum inconveniente em que que esta observação deixe deixe o ouvinte ouvinte desconcertado. Pois isso iss o noss dará no dará ensej ensej o de d e insistir em e m que a alocução alocução do su suje jeito ito comporta comporta um alocutário, 1 8 ou, em outras palavras, que o locutor 1 9 constitui-se ali como intersubjetividade. Em segundo lugar, é com base nessa interlocução, na medida em que ela inclui a resposta do interlocutor, que se resgata para nós o sentido do que Freud exige como restabelecimento da continuidade nas motivações do sujeito. O exame operacional desse objetivo mostra-nos, com efeito, que ele só se satisfaz na continuidade intersubjetiva do discurso em que se constitui a istória do sujeito. É assim que o sujeito pode vaticinar sobre sua istória sob o efeito de qualquer uma dessas drogas que adormecem a cons ciência e que receb recebera eram, m, em nossa no ssa época, o nome de soros da verdade" verdade" , onde a seguranç segurançaa no contra-senso contra-sen so trai trai a ironia carac carac terística da linguagem Mas, a própria retransmissão de seu discurso gravado, ainda que feita pela boca de seu médico, não pode, por lhe cegar dessa forma alienada, ter os mesmos efeitos que a interlocução psicanalítica. fale " como quem não não se dirige aos presenes Ele El e se dirige 1 8 Mesmo que ele fale
ao (grande) Ouo cuja teoria rmamos desde então e que comanda uma epoché na retomada deste termo a que contnuamos a nos adstringir até hoje: intersubjetividade ( 1966). 1 9 Retiramos esses termos do saudoso Édouard Pichon que tanto nas ndicações que deu para a vinda à luz de nossa disciplna quano nas que o guiaram pelas trevas das das pessoas, mosrou uma arte dvinatór dvinatória ia que só podemos relacionar relacionar com seu exercício da semântica.
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Por isso, é na instauração de um terceiro termo que a desco berta freudiana do inconsciente se esclarece em seu verdadeiro fundamento e pode ser formulada de maneira simpes, nos seguintes termos: O inconsciente é a parte do discurso concreto, como transin dividual, que falta à disposição do sujeito para restabeecer a continuidade de seu discurso consciente. Assim desaparece o paradoxo apresentado pela noção de inconsciente, se a relacionarmos com uma realidade individual. Pois Poi s reduzila à tendência tendên cia inconsciente não é resolver o parad paradoxo oxo,, a não ser eudindo a experiência, que mostra claramente que o inconsciente incons ciente participa participa das nções nçõe s da idéia idéia ou até do do pensamento É nisso que insiste Freud claramente, claramente, quando, não podendo evitar evitar no pensamento inconsciente a conjunção de termos contrários, dálhe o viático desta invocação: sit venia verbo 20 Do mesmo modo, obedecemos a ele ao rejeitar, com efeito, a fata para com o verbo, mas o verbo reaizado no discurso que corre como o ane, de mão em mão, para dar ao ato do sujeito que recebe sua mensagem o sentido que faz desse ato um ato de sua história, e que lhe dá sua verdade Por conseguinte, a objeção de uma contradição in terminis, evantada contra o pensamento inconsciente por uma psicologia mal fundamentada em sua ógica, cai por terra com a própria distinção do campo psicanalítico, na medida em que ele manifesta a realidade do discurso em sua autonomia, e o eppur si muove! do psicanalista une-se ao de Gaieu em sua incidência, que não é a da experiência do fato, mas a do experimentum mentis O inconsciente é o capítuo de minha história que é marcado por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado Mas a verdade pode ser resgatada; na maioria das vezes, já está escrita em outro lugar. Qua seja: nos monumentos: e esse é meu corpo, isto é, o núceo histérico da neurose em que o sintoma histérico mostra a estrutura estrutura de uma linguagem e se decifra como uma inscrição que, uma vez recolhida, pode ser destruída sem perda grave;
0. Com perdã perdão o da palav palavra" ra" (NE ( NE.) .)
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nos documento documentoss de arquvo, gualmente: e esses são as lembranças de mnha nfânca, tão mpenetráves quanto eles, quando não lhes conheço a procedênca; na evoução evoução semântca: semântca: e sso s so corresp correspon onde de ao estoque estoque e às acepções do vocabuláro que me é partcuar, bem como ao esto de mnha vda e a meu caráter; nas tradções tradções também, também, ou sea, sea, nas lendas que sob for forma ma heroczada veculam mnha hstóra; nos vestígos, enfm, enfm, que conservam conservam nevtavelmente as dstorções exgdas pela renserção do capítulo adulterado nos capítuos que o enquadram, e cuo sentdo mnha exegese res tabelecerá. O estuda estudante nte que que tver a déa tão rara, rara, é verdade, verdade, que nosso ensno ensno se empenha empenha em dfu dfund nd la la de que, que, para para compreend compreender er Freud, a letura de Freud é preferível à do sr. Fenchel, poderá aperceber-se, ao empreendê-la, de que o que acabamos de ex prmr é tão pouco orgnal, mesmo em sua verve, que não aparece nsto uma únca metáfora que a obra de Freud não repta com a freqüênca de um motvo onde transparece sua própra trama. Ele então poderá facmente verfcar, a cada nstante de sua prátca, que, a exemplo da negação que sua repetção anula, essas metáforas perdem sua dmensão metafórca, e reconhecerá que sso se dá porque ee atua no campo própro da metáfora, que não é senão snônma do desocamento smbólco empregado no sntoma Depos dsso, ele jugará melhor o desocamento magnário que motva a obra do sr. Fenchel, avalando a dferença de coerênca e efcáca técnca entre a referênca aos pretensos estádos orgâncos do desenvovmento ndvdual e a nvestga ção dos acontecmentos pecuares à hstóra de um sueto. Ea é exatamente a que separa a pesqusa hstórica autêntca das pretensas es da hstória, das quas podemos dzer que cada época encontra seu flósofo flósofo para dfund dfundas as ao sabor dos valores que nela prevalecem Isso não quer dzer que não haa nada a reter dos dferentes sentdos descobertos na marcha gera da hstória, ao ongo da va que vai de Bossuet (JacquesBéngne a Toynbee (Aod) e que é pontuada peas construções de Auguste Comte e Karl Marx. Todos sabem, por certo, que elas vaem tão pouco para
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orientar a pesquisa sobre um passado recente quanto para pre sumir com aguma razão acontecimentos futuros. Aiás, eas são tão modestas que adiam para depois de amanhã suas certezas, e tampouco são tão austeras que não admitam os retoques que permitem prever o que ocorreu ontem Se seu pape, portanto, é bastante minguado para o progresso científico, seu interesse, no entanto, situa-se alhures: está em seu papel de ideais, que é consideráve. Pois ee nos leva a distinguir o que podemos chamar de funções primária e secun dária da historicização Pois, afirmar da psicanálise e da história que, como ciências, eas são ciências do particular não quer dizer que os fatos com que elas idam seam puramente acidentais, senão factícios, e que seu valor último se reduza ao aspecto bruto do trauma. Os acontecimentos se engendram numa historicização primá ria, ou sea, a história já se faz no paco em que será encenada depois de escrita, no foro íntimo e no foro exteo Numa dada época, um certo tumuto no faubourg Saint-An toine é vivido por seus atores como vitória ou derrota do Paramento ou da Corte; noutra, como vitória ou derrota do pro etaria etariado do ou da burguesia. burguesia. E embora embora seam seam os povos" , para faar como Retz, que sempre arca com os custos, não se trata em absouto de um um mesmo acontecimen acontecimento to histórico quer quer dizer, eles não deixam o mesmo tipo de embrança na memória dos homens. Ou seja, com o desaparecimento da realidade do Parlamento e da Corte, o primeiro acontecimento retoará a seu valor traumático, suscetível de um progressivo e autêntico apagamento, se não reavivarmos expressamente seu sentido Já a embrança do segundo continuará continuará muito viva, mesmo sob a censura censura do mesmo modo que a amnésia do recalque é uma das formas mais vivas de memória , enquanto houver homens que submetam sua revota à ordem da luta peo advento poítico do proletariado, isto é, homens para quem as palavras-chave do materialismo dialético tenham sentido. Portanto, seria um exagero transpormos essas observações para o campo da psicanálise, uma vez que eas á estão ali e que a desintricação que nee produzem entre a técnica de decifração do inconsciente e a teoria dos instintos, ou das pusões, é incontestáve
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O que ensinamos o suj suj eito a reconhecer reconhecer como seu inconsc in conscente ente é sua hstória hstória ou seja seja,, nós o aj aj udamos a perfaz perfazer er a historic zação atual dos fatos que já determinaram em sua exstênca um certo número de reviravotas" hstórcas. Mas, se ees tiveram esse papel, já fo como fatos hstórcos sto é como reconhecidos num certo sentdo ou censurados numa certa ordem. Assm toda fxação numa pretensa fase instntual é antes de mais nada um estigma histórico: página de vergonha que se esquece ou se anula ou págna de glóra que constrange Mas o esquecido é lembrado nos atos, e a anulação opõe-se ao que é dito alhures assim como o dever de gratidão perpetua no símboo a própria mragem em que o sujeito se descobre preso Dito de manera sucinta, os estádos instintuais já estão ao serem vvdos, organizados como subjetvdade E, falando cla ramente a subjetividade da criança que grava como vitórias e derrotas a epopéa da educação de seus esfíncteres gozando nela com a sexualização maginária de seus se us orfícos orfícos coaca c oacas s fazendo de suas expulsões excrementícias agressão, de suas retenções sedução, e de seus relaxamentos símboos essa subjetividade não é fundamentalmente dierente da subjetividade do pscana lsta que se empenha em restabeecer, para compreendê-as, as formas do amor que ee denomina pré-genta. Em outras paavras o estádo ana não é menos puramente histórco ao ser vivido do que ao ser repensado nem menos puramente fundamentado na intersubjetividade. Ao contrário, sua homoogação como etapa de uma pretensa maturação ins tintual leva diretamente as melhores cabeças a se perderem, a ponto de verem nee a reprodução, na ontogênese de um estádio do filo filo anmal que é precso r busca busc ar nos áscaris ou nas medusas medus as,, especuaçã especuação o esta est a que, que , apesar apesar de engenhosa na pena pe na de um Bant, B ant, leva em outros lugares aos mas inconsistentes devaneos, ou mesmo à loucura que que vai buscar no protista o esquema magináro do dlaceramento corpora cujo temor domnaria a sexuaidade feminna. Por que, nesse caso, não procurar a imagem do eu no camarão a pretexto de que ambos recuperam após cada muda, sua carapaça? Um tal de Jaworski nos anos de 90-1920, edfcou um beíssmo sist sis tema em que o plano bológico era reenco reencontr ntrado ado até mesmo nos confins da cutura, e que precsamente, dava à ordem dos crustáceos seu cônjuge hstórico se não me falha a
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Escrito Escritos s [Écrits [Écrits - ]acques ]acques Lacan Lacan
memória, em alguma fase tardia da Idade Média, sob a aegação de um florescimento florescimento comum da armadu armadura ra aliás, não deixando deixando viúva de seu correspondente humano nenhuma forma anima, sem excetuar os mouscos e os percevejos Analogia não é metáfora, e o recurso que nela encontraram os fiósofos da natureza exige o gênio de um Goethe, cuj cuj o próprio próprio exempo não é animador Nada repugna mais ao espírito de nossa discipina, e foi ao se afastar expressamente disso que Freud abriu a via adequada à interpretação dos sonhos e, com ela, à noção do simboismo anaítico. Essa noção, dizemos nós, vai estritamente contra o pensamento anaógico, que uma tradição duvidosa faz com que alguns, até mesmo entre nós, ainda considerem solidário É por isso que os excessos no ridículo devem ser utilizados por seu valor descerrador, pois, por abrirem os ohos para o absurdo de uma teoria, fazem com que estes se votem para perigos que nada têm de teórico Essa mitoogia da maturação dos instintos, construída com trechos seetos da obra de Freud, efetivamente gera problemas espirituais cujo vapor, condensado em ideais de nuvens, por sua vez irriga com seus aguaceiros o mito original As melhores penas destiam sua tinta formulando equações que satisfaçam às exigências do misterioso genital lve (há noções cuja estranheza conciia-se mehor com o parêntese de um termo tomado de empréstimo, e que rubricam sua tentativa com uma confissão de non liquer1 liquer1).). Ninguém, entretanto, parece abaado peo malestar daí resutante, e antes se vê nisso motivo para incentivar todos os Münchhausen da normaização psicanaltica a se puxarem pelos pelos cabelos, cabel os, na esperança esperança de atingirem o céu da plena reaização reaização do objeto genita, ou do objeto puro e simpes Se nós, psicanaistas, estamos bem situados para conhecer o poder das paavras, isso não é razão para valorizálo no sentido ins oúvel, el, nem para " atar fa fardos rdos pesados e insuportáveis para do insoúv com eles vergar os ombros ombros dos homens homens , como se exprime exprime a madição de Cristo aos fariseus no texto de são Mateus Assim, a pobreza dos termos em que tentamos incuir um problema subjetiv subjetivo o pode deixar a desejar desejar aos ao s espíritos espíritos exigentes, exige ntes,
21.
" Nã Não o conven convence ce . (NE.)
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por menos que ees os comparem àqueles que estruturavam, até mesmo em sua confusão, as antigas querelas em too da Natu reza e da Graça. 22 Desse modo, ea pode deixá-os temerosos quanto à qualidade dos efeitos psicoógicos e sociológicos que podemos esperar de seu uso. E se desejará que uma melhor apreciação das funções do lgos dissipe os mistérios de nossos carismas fantásticos Para nos atermos a uma tradição mais clara, tavez ouçamos a céebre máxima em que La Rochefoucaud nos diz que á pessoas que nunca se averiam apaixonado, se nunca tivessem ouvido faar de amor" , não no sentido romântico de uma rea ização" totamente imaginária do amor, que fizesse disso uma amarga objeção a ele, mas como um reconhecimento autêntico do que o amor deve ao símbolo e do que a faa comporta de amor De qualquer modo, basta nos reportarmos à obra de Freud para avaiar em que categoria secundária e ipotética ee situa a teoria dos instintos Ea não poderia, a seu ver, sustentar-se nem por um instante contra o mais ínf ínfimo imo fato particular de uma história, insiste, e o narcisismo genital que ee invoca no mo mento de resumir o caso do Homem dos Lobos mostra-nos suficientemente o desprezo que ee vota à ordem constituída dos estádios libidinais. Mais ainda, Freud só evoca ali o conito dos instintos para dee se afastar prontamente, e para reconhecer, no isolamento iso lamento simbóico do eu não sou castrado" em que se afir afirma ma o sujeito, a forma compusiva em que fica fixada sua escoa heterossexua, contra o efeito de captura omossexuaizante sofrido peo eu, reconduzido à matriz imaginária da cena pri mária É esse, na verdade, o conflito subjetivo, onde se trata apenas das peripécias da subjetividade, tanto assim que o [eu] ganha e perde perde do do eu" ao sabor da catequ catequizaç ização ão reigiosa ou da Au.lrung doutrinante, conito cujos efeitos Freud fez o sujeito perceber mediante seus préstimos, antes de noos expicar na dialética do complexo de Édipo Essa referência à aporia do cristianismo anunciou outra mais precisa em seu auge jansenista, jansenis ta, ou sej sej a a Pascal, cuja aposta ainda virgem forçou-nos forçou-nos a retomar retomar tudo para para chegar chegar ao ao que ela esconde esconde de inestimável inestimáve l para o analista ainda mantido em reserva reserva nesta data (unho de 1 966 966). ).
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Escritos Escritos [Écrits [Écrits - ]acques Lacan Lacan
É na anáise de um caso como esse que vemos com careza que a realização do amor pefeito não é um fruto da natueza, mas da graça, isto é, de um acodo intersubjetivo que impõe sua harmonia à natueza dilaceada que o sustenta. Mas, então, que é esse esse suj suj eito eito cujo cujo entendim entendimento ento vocês nos episam? episam? exclama, exclama, enfim, enfim, um ouvinte ouvinte impac impacient iente. e. Acaso já não recebemos do sr. de La Palice a lição de que tudo o que é vivenciado pelo indivíduo é subjetivo? Boca ingênua cujo cujo elogio há de ocupa meus derr derrade adeio ioss dias, abe-te mais uma vez para me ouvir Não é preciso fechar os olho ol hoss O su suje jeit itoo vai muito aém do que o indivíduo experimenta " sub subjetivamente jetivamente : vai exatamente exatamente tão tão longe quanto quanto a verdad verdadee que ele pode atingi, e que tavez saia dessa boca que você já acaba acaba de fechar fechar outra outra vez. Sim, Sim , essa ess a verdad verdadee de d e sua história não está toda em seu desenrola, mas o lugar se marca aí, nos choques dooosos que ee e e expeimenta por por conhece apenas apenas suas réplicas, r éplicas, ou então em páginas cuja desordem mal lhe popociona algum alívio Que o inconsciente do sujeito é o discurso do outro, eis o que aparece, ainda mais caramente do que em qualquer lugar, nos estudos que Freud consagrou ao que chama de teepatia, na medida em que ela se manifesta no contexto de uma experiência anaítica. Coincidência das coocações do sujeito com fatos de que ee não pode esta infomado, infomado, mas que continuam a se move move nas ligações de uma outra experiência em que o psicanaista é interlocu interlocutor tor coincidência também, também, na na maior maioria ia das vezes, constituída po uma convergência totamente veba ou homo nímica, ou que, quando inclui um ato, tata-se é de um acting out de um paciente do analista, ou de um fiho em anáise do anaisado Casos de essonância em redes comunicantes de discuso, cujo estudo exaustivo escareceria os fatos análogos apresentados pela vida cotidiana. A onipesença do discurso humano tavez possa, um dia, ser abarcada sob o céu aberto de uma onicomunicação de seu texto O que não que dize que por isso ee seja mais hamonizado Mas é esse o campo que nossa experiência polaiza, polaiza, numa elação que só é a dois na aparência, pois quaquer coocação de sua estutura apenas em termos duais éhe tão inadequada na teoria quanto destrutiva para sua técnica
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Função e camo da fala e da linguagem em psicanálise psi canálise 11.
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SÍMBOLO E LINGUAGEM COMO ESTRUTURA E LIMITE DO CAMPO PSICANALÍTICO Tén arkén o ti kai /alô ymin. (Evangelho segundo são João, VIII, 5)23 Faça Faç a palavr palavras as cruzadas. (Conselhos a um jovem psicanalista)
Para retomar o fio de nossa formulação, repetimos que é pela redução da história do sujeito particular que a análise toca em Gestalten relacionais que ela extrapola num desenvolvimento regular; mas que nem a psicologia genética nem a psicologia diferencial diferencial que podem ser esclarecidas por ela são de sua alçada por exigirem condições de observação e de experiência que só mantêm com as suas relações de homonímia Vamos ainda mais longe: o que se destaca como psicologia no estado bruto da experiência comum (que só se confunde com a exper experiência iência sensível para o pro proffission is sional al das idéias) ou seja seja,, numa suspensão qualquer da preocupação cotidiana, no espanto surgido daquilo que irmana os seres numa disparidade que ultrapassa a das figuras grotescas de um Leonardo ou de um Goya ou na surpresa que contrasta a espessura própria de uma pele com a carícia de uma palma que anima a descoberta sem que ainda a aten atenue ue o deseo deseo - isso podemos dizer é abo abolido lido numa experiência arisca a esses caprichos insubmissa a esses mistérios. Uma psicanálise normalmente chega a seu termo sem nos info in form rmar ar grande grande coi c oisa sa sobre o que noss n ossoo paciente herda propria propria mente de sua sensibilidade aos golpes e às cores, da presteza com que capta isto ou aquilo ou dos pontos fracos de sua ce de seu poder de reter ou de inventar ou da intensidade de seus gostos. Esse paradoxo é apenas aparente e não resulta de nenhuma carência pessoal e se pode ser motivado pelas condições nega tivas de nossa experiência ele apenas nos pressiona um pouco mais a interrogar esta última sobre o que ela tem de positivo.
23.
" E sou o princ princípi ípio, o, o mesmo que que vos fa fao o (N.E.) (N. E.)
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Escritos Escritos [Écrits [Écrits - ]acques Lacan Lacan
Pois ele não se resolve nos esfor esforços ços de alguns alguns que seme seme hanes aos fiósofos que Plaão rdcularizava, por serem evados por seu apete do rea rea a abraçar árvores árvores passam a toma tomarr qualquer episódio em que despone essa readade fugdia pela reação vivida de que se mostram tão ávdos Pos são justamente esses que, dando a s mesmos como objevo aqulo que esá paraaém paraaé m da nguagem, reagem ao ao proibido proibido tocar" tocar" nscro em nossa regra com uma espécie de obsessão. Nnguém duvida que, por esse caminho, farejarse mutuamente oe-se a quin essência da reação ransferencal Não esamos exagerando nada: um jovem psicanasta, em seu rabaho de canddatura, pode auamente saudar nessa sub-ofação de seu sujeto, obda após dois ou três anos de vã psicanálise, o esperado advento da reação de objeto, e dee colher o dignus est intrare de nossos votos, garanes de suas capacdades Se a pscanálise pode oarse oarse uma ciênca pos ainda ainda não o é , e se não deve deve degenera degenerarr em em sua técnica o que que tavez já se s ej a um fat fato o , devemos resgaar resgaar o sentido sentido de sua experiência. experiência. Nada melhor poderíamos fazer, para esse fim, do que retoar à obra de Freud. Não basta a aguém dizer-se técnco para se autorizar, por não compreender um Freud 111, a recusáo em nome de um Freud 11 que ee acredia compreender; e a própria gnorânca que se em do Freud I não é desculpa para que as cnco cnco grandes psicaná psi canáses ses seja sejam m omadas omadas por uma série de casos tão ma escohidos quano mal expostos, anda que se fque deslumbrado com o fato de o grão de verdade que elas continham haver escapado a isso 24 Então, que retomemos a obra de Freud na Traumdeutung, para ali nos relembrarmos que o sonho tem a estrutura de uma frase, ou melhor, atendonos à sua era, de um rébus, iso é, de uma escrta da qua o sonho da crança represenara a ideografia primorda, e que reproduz no aduto o emprego fonéico e simbólco, simultaneamene, dos elemenos signifcanes que tano enconramos nos herógfos do ango Egto quano nos caraceres cujo uso a Chna conserva.
24 Formulação colhida da boca de um dos psicanalistas mais interessados nesse
debate (1966).
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Mas sso anda é apenas a decfração do nstrmento. É na versão do texto que o mportante começa, o mportante que Freud nos dz ser dado na eaboração do sonho, sto é, em sua retórca. Elpse e pleonasmo, hpérbato ou sepse, regressão, repetção, aposção, são esses os deslocamentos sntátcos, e metáfora, catacrese, antonomása, alegora, metoníma e snédoque, as condensações semântcas em que Freud nos ensna a ler as ntenções ostentatóras ou demonstratvas, dssmuladoras ou persuasvas, retaadoras ou sedutoras com que o sujeto modula seu dscurso onírico. Sem dúvda, postuou postu ou como regra regra que é sempre sempre precso buscar nele a expressão de um desejo. Mas, vamos entendê-lo bem. Se Freud admte, como motvo de um sonho que parece contrarar sua tese, o própro desejo de contradzêlo, no sujeto que ee tentou convencer,25 como não vria a admtr o mesmo motvo para s própro, consderando que, para ter chegado a sso, é de um outro que he tera advndo sua e? Numa paavra, em parte aguma evdenca-se mais claramente que o desejo do homem encontra seu sentdo no desejo do outro, não tanto porque o outro detenha as chaves do objeto desejado, mas porque seu prmero objeto é ser reconhecdo pelo outro Quem dentre nós, alás, não sabe por experênca que, uma vez envered enveredada ada a análse na va da tra transf nsferênc erênca a e para para nós essa é a ndcação de que ela efetvamente o está , todo sonho do pacente é nterpretado como provocação, confssão velada ou dgressão, por sua reação com o dscurso analítco, e que, à medda que progrde a anáse, ees se reduzem cada vez mas à função de elementos do dálogo que nela se reaza? Quanto à pscopatooga da vda cotdana, outro campo con sagrado por uma outra obra de Freud, está caro que todo ato faho é um dscurso bemsuceddo, ou até formulado com graça, e que, no apso, é a mordaça que gra em too da faa, e justamente peo quadrante necessáro para que um bom enten dedor encontre al sua mea palavra Gegenwunschtrume e , n Traumdeutung GW, li, p. l 567 e 1 634. 634. Tra Trad. d. 25 Cf. " Gegenwunschtrum inglesa, edição Standard, IV p. 5 1 e p. l 57-. 57- . Tr Trad. ad. fr francesa, ncesa, ed. ed. Alcan Alcan,, p. l 40 e p.l46 ad. brasileira, ESB IV p.l65 e p.l70-l, 2• ed. rev.
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Mas, vamos direo ao ponto em que o lvro desemboca no acaso e nas crenças que ee gera, e especalmente aos fatos em que ele faz quesão de demonstrar a eficácia subjetiva das associações com números deixados por cona do acaso de uma escolha motivada ou de um soreio aleaóro. Em parte alguma reveamse mehor do que nessa ocorrênca as esruuras domi nanes do campo pscanaíico. E o apeo feio de passagem a mecansmos nelecuas desconhecdos já não é, nesse ponto, senão a desculpa aia pea oal confiança depostada nos smbolos, e que vacila ao ser saisfeia para-além de quaquer imite Pois se, para admiir um sinoma na pscopaooga pscana íca, seja ee neuróico ou não, Freud exge o mínimo de sobredetermnação consiudo por um dupo senido, símbolo de um conio defuno, paraalém de sua função, num conio presente não menos simbólico, e se ele nos no s ensnou ensnou a acompanhar, acompanhar, no exto das associações lvres, a ramifcação ascendene dessa inhagem simbóica, para nela detecar, nos pontos em que as formas verbais se cruzam novamene, os nós de sua estrutura, já está perfeitamene caro que o sintoma se resove por intero numa anáise lnguajeira, por ser ee mesmo esruurado como uma lnguagem, por ser a inguagem cuja faa deve ser iberada. É àquee que não aprofundou a naureza da lnguagem que a experiência da assocação com números poderá mosrar, de imediao, o que há de essencia a apreender aqu, isto é, o poder combnaóro que ordena seus equívocos, para neles reconhecer a moa própra do inconscene. Com efeo, se dos números obidos por core na seqüênca dos algarismos do número escohdo, de sua combinação por todas as operações da aritmétca, ou da divisão repetda do número origina por um dos números cssíparos, os números resulanes26 revelamse smboizanes, enre todos, na história caracersca do sujeio, é porque eles já esavam aenes na escolha esco lha de que partir partiram am e port portanto, anto, se refu refuar armo moss como como
26 Convém
para apreciar o fruto desses procedmentos nos ineirarmos das notas promovidas por nós desde essa época, encontradas no livro de Émile Borel sobre o acaso, a respeto da triviaidad triviaidadee do que assim a ssim se s e obtém de de " notáve a partir de um número qualquer (1966).
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supersticiosa a idéia de que foram ustamente esses números que determinaram o destino do sueito, é forçoso admitir que é na ordem de existência de suas combinações isto é, na inguagem concreta que eles representam, que reside tudo o que a anáise revea ao sueito como seu inconsciente. Veremos que os filólogos e etnógrafos nos revelam o suficiente, quanto à certeza combinatória verificada nos sistemas completamente inconscientes com que lidam para que a formu lação aqui proposta não tenha para eles nada de surpreendente Mas, se aguém continuasse reticente ante nossa colocação apear apearam amos os uma vez mais para o testemunho daquee que tendo descoberto o inconsciente não é injustificadamente considerado como apontando seu ugar: ele não nos faltará. Pois por mais abandonada que sea por nosso interesse por motivos motivos óbvios , O chiste e sua relação com o inconsciente (Le Mot d'esprit et l'inconscient) continua a ser a obra mais incontestável porque a mais transparente, em que o efeito do inconsciente nos é demonstrado até os confins de sua fineza; e a face que ele nos revela é ustamente a do espírito da espiri tuosidade na ambigüidade que he confere a inguagem onde a outra face face de de seu poder de realeza é a saliência" pela qua sua orde ordem m inteira inteira aniquila-se num instante saiência com efeito efeito em que sua atividade criadora desvelalhe a gratuidade absoluta em que sua dominação sobre o rea exprime-se no desaio do contrasenso em que o humor na graça maliciosa do espírito livre simboliza uma verdade que não diz sua útima palavra. Convém acompanhar acompanhar nos meandros admiravelmente insisten insiste n tes das linhas desse livro, o passeio a que Freud nos conduz por esse jardim seleto do mais amargo amor. Ai tudo é substância, tudo é pérola. O espírito, que vive como exilado na criação de que é o esteio invisve sabe-se capaz a quaquer instante, de aniquilá-a. Formas altaneiras ou pérdas, eegantes ou bonachonas dessa reaeza oculta não há uma só nem mesmo entre as mais desprezadas, cujo briho secreto Freud não saiba fazer cintiar. Histórias do casamenteiro que percorre os guetos da Morávia imagem desacreditada de Eros e como este fiho da penúria e da dor guiando com seus préstimos discretos a avidez do grosseirão e, de repente, achin cahando-o com uma répica uminosa em seu contra-senso Aquele Aquele que assim as sim deixa escapar escapar a verdad verdade" e" , comenta comenta Fre Freud ud na realidade fica feiz por tirar a máscara"
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É a verdade, de fato, que em sua boca arranca essa máscara, mas para que o espírito coloque outra mais enganosa: a sofística que não passa de estratagema, a lógica que é apenas um engodo, e até o cômico, que só entra ali para of ofusca uscar.r. O espírito está sempre sempre noutro lugar. O espírito comporta, de fato, fato, tamanha condicionalidade lidade subetiva subetiva ( . . . ) só é espírito espírito e espirituoso espirituoso aquilo aquilo que eu aceito como como tal" , prossegue prosseg ue Freud, Freud, que sabe do que que está falando. falando. Em parte alguma, com efeito, a intenção do indivíduo é mais manifest manifestamen amente te superada pelo pelo achado do sueito sueito em part partee alguma a distinção que fazemos entre ambos faz-se sentir melhor , uma vez que não só é preciso que alguma coisa me haja sido estranha em meu achado para que eu extraia dele meu prazer, mas também porque é preciso que permaneça assim para que o achado surta efeito Isso se dá pela necessidade, tão bem marcada por Freud, do terceiro ouvinte sempre suposto, e pelo fato de que o chiste não perde seu poder em sua transmissão em estilo indireto. Em suma, apontando no lugar do Outro o amboceptor que esclarece o artifício da palavra, eclodindo em sua suprema alacridade. Uma única razão de fracasso fracasso para a espirituosidade: a insipidez da verdade que se explica. Ora, isso concee diretamente a nosso problema. O atual desprezo pelas investigações sobre a língua dos símbolos, que se lê à simples visão dos sumários de nossas publicações de antes e depois da década de 1920, não corresponde a nada menos, para nossa disciplina, do que uma mudança de obeto, cuja tendência a se alinhar no nível mais rasteiro da comunicação, para se harmonizar com os novos obetivos propostos à tecnica, talvez tenha que responder pelo balanço bastante sombrio que os mais lúcidos fazem de seus resultados. 27 Com efeito, como haveria a fala de esgotar o sentido da fala ou ou,, para para dizêlo dizêlo melho melhor, r, com com o logicismo logicismo positiv positivista ista de Oxfor Oxford, d, o sentido do sentido , a não ser ser no ato que o gera? Assim, a invers inversão ão goeth goethean eanaa de sua presen presença ça nas nas origens origens No começo era era a ação" inverte-se inverte-se,, por sua vez: era realmente realmente o verbo que estava no começo, e vivemos em sua criação, mas é
Cf. C.. C. . Obemdo Obemdorf, rf, Unsatisfa Unsatisfacto ctory ry results of psychoanalytic thera therapy" py" Psychoanalytic Quarterly, 19 p.393-407. 27.
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a ação de nosso espírito que dá coninuidade a essa criação, renovando-a sempre E só podemos votar as costas para essa ação deixandonos impelir cada vez mais adiane por ea. Nós mesmos só o enaremos sabendo que é esse o seu cami caminh nho o. . . Ninguém deve desconhecer a lei: essa fórmula, ranscrita do humor de um Código de Jusiça, exprime no enano a verdade em que nossa experiência se fundamena e que ela confirma. Nenhum homem a desconhece, com efeito, já que a ei do homem é a lei da inguagem, desde que as primeiras palavras de reco nhecimento presidiram os primeiros dons, tendo sido preciso haver os deesáveis daneses, que vinham e fugiam pelo mar, para que os homens aprendessem a temer as paavras enganosas com os dons sem fé. Aé enão, para os pacíficos Argonautas que uniam peos aços de um comércio simbóico as ilhotas da comunidade, esses dons, seu ao e seus obeos, sua instiuição como signos e sua própria fabricação estavam tão misturados com a fala que eram designados por seu nome. 28 Será nesses dons, ou então nas senhas que nees harmonizam seu contrasenso sauar, que começa a inguagem com a lei? Pois esses e sses dons á são símboos, símboos, na medida em que que símbolo símbolo quer quer dizer pacto e em que, anes de mais nada, ees são significanes do pacto que consiuem como significado como bem se vê no fao fa o de que os ob obj etos da roca simbóica vasos feios para ficar vazios, escudos pesados demais para carregar, feixes que se ressecarão, ressecarão, lanças enterradas enterradas no soo são desprovidos desprovidos de de uso por destinação, senão supéruos por sua abundância. Será essa es sa neuralização do significante signific ante a oaidade oai dade da naureza da inguage ing uagem? m? Tomada por esse vaor, enconraríamos seu esboço esb oço nas gaivotas, por exemplo, durante a exibição sexua, maeria izado no peixe que elas passam umas às ouras de bico em bico, e no qual os eoogistas se realme realmene ne cabe ver nisso niss o com ees o insrumeno de uma agitação do grupo que seria equivalene a uma fesa fesa estariam perf perfeitamen eitamene e usificad u sificados os em reconhecer um símboo.
28 Cf., entre outros Do Kamo, de Maurice Leenhardt caps.IX e X.
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Vêse que não recuamos em buscar fora do domínio umano as origens do comportamento simbóico. Mas certamente não através através de uma eaboração eaboração do signo aquela aquela em que se empena empena após tantos outros, o sr Jues H Massermann 29 e na qua nos deteremos por um instante não apenas pelo tom desenvoto com que ele trilha seu camino mas pea acoida que ela recebeu dos redatores de nosso oa oficial que, em conformidade com uma tradição retirada das das agências de emprego emprego nunca desprezam nada do que possa foecer foecer a nossa nossa discipina boas refe referê rências" ncias" . Pensem, pois num homem que reproduziu a neurose, ex-pe ri-men-tamen-te, num cão amarrado sobre uma mesa, e por que meios engenosos: uma campaina o prato de cae que ela anuncia e o prato de maçãs que cega inoportunamente dispensoos do resto Não á á de ser ele peo menos menos é o que que nos assegu as segura ra ee próprio próprio quem se deixa deixará rá apanar apanar pelas amplas rumin ruminações" ações" pois é assim que se exprime, exprime, que que os filósofos dedicaram ao problema da linguagem. Ele vai agarrá-o pela goela para vocês Imaginem que, por um judicioso condicionamento de seus reflexos, consegue-se que um ratolavador 30 se dirija a seu guarda-comida ao lhe ser apresentado o cartão onde se pode ler seu cardápio Não nos é dito se este faz menção aos preços, mas se acrescenta a tirada convincente de que por menos que o serviço o tenha decepcionado, ele toará a rasgar o cartão demasiadamente promissor como faria com as cartas de um infiel uma amante irritada (sic). Esse é um dos arcos pelos quais o autor faz passar a estrada que leva do sina ao símboo Circua-se nela em mão dupla, e a via de retoo não mostra obras de arte inferiores Pois se, no omem vocês associarem à projeção de uma luz intensa diante de seus oos o ruído de uma campainha, e depois o mane manejj o desta ao ser emitida a ordem contrai contraia" a" (em inglês, ingl ês,
Jules Jule s H H Massermann, " Language Language ehavor ehavor and dynamc dynamc psychiay , Inter Joual Joual of Ps Psych ychoa oan. n. , 194, 1 e 2, p.-8. 30 Raton-laveur, assim chamado por lavar os aimentos antes de ingerilos A espécie brasileira desses caívoros do gênero Procyon é conhecida como guaxinim, ratolavador e mãopelada entre outros. (N.E) 29.
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suj eito, ao moduar moduar ele mesmo contrct), vocês conseguirão que o suj essa ordem, ao murmurá-la murmurá-la e, em pouco tempo, ao simples si mplesmen mente te prod produzi uzia a em seu pensamento pensamento,, obtenha a contraçã contração o de sua pupila, ou seja, uma reação do sistema que se diz autônomo, por ser comumente inacessível aos efeitos intencionais. Assim, o sr Hudgin Hud gins, s, a acreditar acreditarmos mos em nosso autor, autor, criou num grupo grupo de sujeitos uma configuração altamente individualizada de reações afins e viscerais do símboo ideativo (ideasymbol) 'contract, uma reação reação que poderia ser atribuída atribuída,, através de suas sua s experiências exper iências particulares, a uma fonte aparentemente ongínqua, mas, na realidade, basicamente fisioógica nesse exempo, a simples proteç proteção ão da retina retina contra uma uz excessiva" E o autor concui A importânci importânciaa dessas experiênc experiências ias para a pesquisa psicossomática e lingüistíca nem sequer necessita de maior elaboração. Teríamos no entanto, quanto a nós, ficado curiosos em saber se os sujeitos assim educados também reagem à enunciação do mesmo vocábuo, articuada nas locuções marriage contract bridgecontrct breach of contrct, ou então progressivamente reduzida à emissão de sua primeira sílaba: contct contrc conta contr A contraprova, exigível como método rigoroso, ofer ofereceece-se se aqui por si só, peo murmúrio murmúrio entre dentes dessa de ssa sílaba peo leitor francês que não houvesse sofrido outro condiciona mento senão a viva luz proetada sobre o problema peo sr. Jules H. Massermann Perguntaríamos então a este se os efeitos assim observados nos sueitos condicionados continuariam a lhe parecer capazes de prescindir tão facimente de ser eaborados. Pois, ou bem ees não se produziriam mais, assim evidenciando que não dependem sequer condiionamente do semantema, ou bem con tinuariam a se produzir, levantando a questão dos limites deste timo. Dito de outra maneira, ees fariam surgir no próprio instru mento da palavra a distinção entre significante e significado, tão levianamente confundida pelo autor no termo idea-symbol. E sem precisar interrogar as reações dos sujeitos condicionados à ordem don 't contrct, ou à conjugação inteira do verbo to contract, poderíamos fazer observar ao autor que o que define um elemento qualquer de uma língua como pertencente à lin guagem é que ee se distingue como tal, para todos os usuários dessa íngua, no suposto conjunto constituído peos elementos homóogos .
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Decorre daí que os efeitos particulares desse elemento da linguagem estão ligados à existência desse conjunto, anterior mente a sua possível ligação com qualquer experiência particular do sujeito E que considerar esta última ligação fora de qualquer referência à primeira consiste, simplesmente, em negar nesse elemento a função própria da linguagem Alerta de princípios que talvez evitasse a nosso autor desco bir, com uma u ma ingenuidade ímpar, a co coespondência espondência textual das categoias da gramática de sua infância nas relações da realidade. Esse monumento de ingenuidade, aliás de espécie bastante comum nessas questões, não mereceria tantas atenções se não fosse obra de um psicanalista, ou melhor, de alguém que nele reúne, como que por acaso, tudo o que se produz, numa ceta tendência da psicanálise, a título de teoria do ego ou de técnica de análise das defesas, ainda por cima oposto à experiência freudiana, assim manifestando a contrario a coerência de uma sadia concepção da linguagem com a manutenção dessa expe riência Pois a descoberta de de Freud é a do campo das das incidências, incidênci as, na natureza do homem, de suas relações com a ordem simbólica, e do remontar de seu sentido às instâncias mais radicais da simbolização no ser Desconhecer isso é condenar a descoberta ao esquecimento, a experiência à ruína E declaramos, como uma afirmação que não pode ser isolada da seriedade de nossa colocação atual, que a presença do supra evocado ratolavador na poltrona em que a timidez de Freud, a nos fiarmos em nosso autor, teria confinado o analista, colocan do-o atrás do divã, di vã, nos pareceria prefe preferí rível vel à do sábio que sustenta sobre a linguagem e a fala semelhante discurso. Pois o ratolavador pelo menos, graças a Jacques Prévert ( Uma pedra, pedra, duas casas, cas as, três três uínas, uínas, quatro quatro coveiros, um j ardim, algumas flores, um ratolavador" 3 ), entrou para sempre no besti bes tiário ário poético e, como tal, participa em sua essência da função função eminente do símbolo; mas o ser à nossa semelhança que assim professa o desconhecimento sistemático dessa função banese para sempre de tudo o que possa ser por ela chamado a existir. Por conseguinte, a questão do lugar que cabe ao citado seme
Une pierre, deux maisons tris ruines quatre fossoyeurs un jardin jardin des eurs, un raton-laveur (N.E.) 31.
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lhante na cassificação natural nos pareceria decorrer apenas de um humanismo fora de propósito, se seu discurso, ao se cruzar com uma técnica da fala da qua detemos a guarda, não fosse fecundo demais, incusive gerando nela monstros estéreis. Que se saiba, portanto, já que ee também se vangloria de desafiar a censura de antropomorfismo, que este é o último termo de que nos serviríamos para dizer que ele faz de seu ser o padrão de todas as coisas. Voltemos a nosso objeto simbólico, que por sua vez é muito consistente em sua matéria, ainda que tenha perdido o peso de seu uso, mas cujo sentido imponderável acarretará deslocamentos de certo peso. Estarão aí, portanto, a lei e a inguagem? Talvez ainda não. Pois, mesmo que aparecesse entre as andorinhas agum caíde da colônia que, sorvendo o peixe simbólico do bico hiante das outras andorinhas, inaugurasse a exploração da andorinha pea andorinha, cuja fantasia um dia nos comprazemos em tecer, isso não bastaria para reproduzir entre eas a fabulosa história, imagem da nossa, cuja epopéia alada nos manteve cativos na ilha dos pingüins, e fataria alguma coisa para criar um universo andorinizado" Essa aguma coisa completa o smbolo, para para dele fazer a inguagem. Para que o objeto simbólico, iberto de seu uso, transformese na palavra ibertada do hic et nunc, a diferença não é a quaidade, sonora, de sua matéria, mas seu ser evanes cente, onde o smboo encontra a permanência do conceito. Pea paavra, que já é uma presença feita de ausência, a ausência mesma vem a se nomear em um momento original cuja perpétua recriação o taento de Freud captou na brincadeira da criança E desse par modulado da presença e da ausência, que basta iguamente iguamente para constituir o rastro rastro na areia areia do traço simples e do traço interrompido dos ka mânticos da China, nasce o universo de sentido de uma lngua, no qua o universo das coisas vem se dispor Por aquilo que só toma corpo por ser o vestgio de um nada, e cujo suporte desde então não pode alterarse, o conceito, resguardando a permanência do que é passageiro, gera a coisa. Pois ainda não é o bastante dizer que o conceito é a própria coisa, o que uma criança pode demonstrar contrariando a escola É o mundo mundo das palavras que cria o mundo das coisas, coisa s, inic i nicialmente ialmente
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confundidas no hic et nunc do todo em devir, dando um ser concreo à essência delas e dando lugar, por oda parte, àquilo que é desde sempre Kthéma es aei. O homem fala, pois, mas porque o símbolo o fez homem. Se, com efeio, dons superabundantes acolhem o esrangeiro que se deu a conhecer, a vida dos grpos naturais que constituem a comunidade está sujeia às regras da aliança, as quais ordenam o senido em que se efetua a troca das mulheres, e aos présimos recíprocos que a aliança deerm deermin ina: a: como diz o provérbio sironga, um parene por aliança é uma coxa de elefante. A aliança rege uma ordem preferencial cuja lei, implicando os nomes de pa rentesco, é para o grupo, como a linguagem, imperaiva em suas formas, mas inconsciene em sua esruura. Ora, nessa esrutura, cuja harmonia ou cujos impasses regulam a troca restrita ou generalizada que nela discee o etnólogo, o eórico, atônito, reenconra oda a lógica das cobinações: assim, as leis do número, iso é, é , do símbolo mais purificado, purificado, revelam-se reve lam-se imanenes ao simbolismo original. Pelo menos, é essa riqueza das formas em que se desenvolvem as chamadas estruuras elementares de parenesco que as toa legveis E isso leva a pensar que talvez seja apenas nossa inconsciência de sua permanência que nos permite crer na liberdade das escolhas nas chamadas esruuras complexas da aliança sob cuja lei vivemos Se a estatsica já deixa entrever que essa liberdade não se exerce ao acaso, é por9ue uma lógica subjetiva a orienaria em seus efei !os. E justamene nesse senido que o complexo de Edipo, na medida em que continuamos a reconhecêlo como co mo abarcand abarcando o por sua significação o campo inteiro de nossa experiência, será declarado em nossa posulação como marcando os limites que nossa disciplina aribui à subjeividade ou seja, aquilo que o sueito pode conhecer de sua paricipação inconsciente no mo vimento das esruturas complexas da aliança, verificando os efeios simbólicos, em sua exisência particular, do movimento tangencial para o inceso que se manifesta desde o advento de uma comunidade universal. A Lei primordial, portanto, é aquela que, ao reger a aliança, superpõe o reino da culura ao reino da natureza, enregue à lei do acasalameno A proibição do incesto é apenas o eixo subje tivo, tivo , desnudado desnudado pela pel a tendência modea a reduzir reduzir à mãe e à irmã os objetos inerdiados às escolhas do sujeito, aliás coninuando a não ser facultada oda e qualquer licença para-além disso
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Essa ei, portanto, portanto, faz fazse se conhecer suficientemente como idên tica a uma ordem de inguagem Pois nenhum poder sem as denominações do parentesco está em condições de instituir a ordem das preferências e tabus que atam e tramam, através das gerações, o fio das linhagens E é justamente a confusão das gerações que, na Bíia, como em todas as leis tradicionais, é madita como a abominação do verbo e a desolação do pecador. Sabemos com efeito da devastação, que chega até mesmo à dissociação da personaidade do sujeito, que pode exercer uma fiiação faseada, quando a pressão do meio se empenha em sustentar-lhe a mentira. Eles podem não ser menores quando um homem, casandose com a mãe da muher com quem teve um filho, faz com que este tenha por irmão um fiho que será irmão de sua mãe Mas se, depois depois disso e o caso caso não é in invent ventado ado , ele for adotado por um casal compassivo em que um dos cônjuges seja uma filha de um casamento anterior do pai, irá descobrir-se mais uma vez meioirmão de sua nova mãe, e podemos imaginar os sentimentos complexos com que aguardará aguardará o nascimento de uma criança que será, ao mesmo tempo, seu irmão e seu sobrinho, nessa situação repetida. Do mesmo modo, a simpes defasagem que se produz nas gerações por um fiho temporão, nascido de um segundo casa mento e cuja jovem mãe seja contemporânea de um irmão mais velho, pode produzir efeitos que se aproximam disso, e sabemos ter sido esse o caso de Freud. Essa mesma função da identificação simbólica pea qua o primitivo supõe reencar o ancestra homônimo, e que até no homem modeo determina uma recorrência ateada do caráter de cada um, introduz portanto, nos sujeitos submetidos a essas discordâncias da relação patea, uma dissociação do Édipo em que convém ver a mola constante de seus efeitos patogênicos. De fato, mesmo representada por uma única pessoa, a função patea concentra em si relações imaginárias e reais, sempre mais ou menos inadequadas à reação simbóica que a constitui essenciamente. É no nome do pai que se deve reconhecer reco nhecer o suporte da função função simbóica que, desde o limiar dos tempos históricos, identifica sua pessoa com a imagem da ei Essa concepção nos permite estabelecer uma distinção cara, na anáise de um caso, entre os efeitos inconscientes dessa função e as relações narcísicas, ou
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Escritos Escritos Écrits Écrits - ]acques Lacan Lacan
entre ees e as reações reais que o sujeit sujeito o mantém com a imagem e a ação da pessoa que a encarna, daí resulando um modo de compreensão que irá repercuir na própra condução das iner venções A prática nos confirmou sua fecundidade, anto a nós quanto aos aunos que induzimos a esse método E ivemos freqüenemene a oportunidade, em supervisões ou em casos comunicados, de saientar as confusões prejudiciais geradas por seu desconhecimento. Assim, é a virude do verbo que perpeua o movimento da Grande Dvida da qual Rabeais, numa metáfora célebre, estende a economia até os astros E não ficaremos surpresos com o fao de o capítulo em que ele nos apresena, com a inversão macar rônica dos ermos de parenesco, uma anecipação das descober as etnográficas mosrarnos nee a adivinhação substaniva 2 do mistério humano que aqui enamos elucidar Idenificada com o hau sagrado ou com o mana onipresente, a Dívida inviolável é a garania de que a viagem para a qual são impeidas as muheres e os bens reconduza a seu ponto de partida, num ciclo infaível, outras mulheres e outros bens, portadores de uma enidade idênica: o símbolo zero, diz Lévi-Strauss, reduzindo à forma de um signo algébrico o poder da Fala. Os símbolos efetivamente envolvem a vida do homem numa rede tão oa que conjugam, antes que ee venha ao mundo, aquees aquees que irão irão gerá-lo gerá-lo em ce e osso" ; razem razem em seu nascimeno, com os dons dos astros, senão com os dons das fadas, o traçado de seu desino; foecem as paavras que farão dele um u m fie fie ou um renegado, a lei lei dos dos a aos os que o seguirão até ali onde ee ainda não está e para-além de sua própria morte; e, através dees, seu fim enconra senido no juízo fina, onde o verbo verbo absove seu ser ou o condena condena a menos menos que ele ain ainjj a a realização subjetiva do serparaamore Servidão e grandeza em que se aniquilara o vivene, se o desejo não preservasse seu papel nas interferências e nas pusa ções çõe s que fazem convergir convergir para ee os cicos cic os da inguagem, ing uagem, quando quando a confusão confusão das ínguas ínguas misuras mis urasee a ees e as ordens se s e conraram conraram nas diacerações da obra universal
32 Substantique:
alusão alus ão a La substantifque substantifque moelle" moelle" , de Rabelais Rabelais Trata-se Trata-se do que há de mais rico num texto em termos de substância (N.E)
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Mas, esse próprio desejo, para ser satisfeito no homem, exige ser reconhecido, pelo acordo da fala ou pela lua de prestígio, no símbolo ou no imaginário. O que esá em jogo numa psicanálise é o advento, no sujeio, do pouco de realidade que esse desejo susena nele em relação aos conios simbólicos e às fixações imaginárias, como meio de harmonizaçã harmonização o deses, de ses, e nossa nos sa via é a experiência intersub intersubjei jeiva va em que esse desejo se faz reconhecer. Por conseguinte, vêse que o problema é o das relações, no sujeito, entre a fala e a linguagem. Três paradoxos nessas relações apresenamse em nosso cam po. Na loucura, sej sej a qual for sua naur naureza, eza, convém reconhecermos, de um lado, a liberdade negaiva de uma fala que renunciou a se fazer reconhecer, ou seja, aquilo que chamamos obstáculo à transferência, e, de ouro lado, a formação singular de um delírio que - fabulatório, fa fantástico ntástico ou cosmológi cosmo lógico; co; interprea interpreativo, tivo, reivindicatório reivindicatório ou ou idealista - obje objeiva iva o su suj eio em uma lingua gem sem dialética 33 A ausência da fala manifesase nela pelas estereotipias de um discurso em que o sujeito, podese dizer, é mais falado do que fala: ali reconhecemos os símbolos do inconsciente sob formas perificadas, que, ao lado das formas embalsamadas com que se apresenam os mitos em nossas coletâneas, enconram seu lugar numa história naural desses símbolos. Mas é um erro dizer que o sujeito os assume: a resisência a seu reconhecimeno não é menor do que nas neuroses, quando o sujeito é induzido a ela por uma entaiva de tratamento. Notese de passagem que valeria a pena situar no espaço social os lugares que a culura conferiu a esses sujeitos, espe cialmente quano à sua destinação a serviços sociais aferentes da linguagem, pois não é improvável que nisso se demonsre um dos fatores que destinam esses sujeios aos efeitos da ruptura produzida pelas discordâncias simbólicas, caracerísicas das esruturas complexas da civilização
Aforsmo Afor smo de Lichtenbe Lichtenberg rg:: " Um louco louc o que se imagi im agina na prí príncipe ncipe só dife difere re do príncipe que efetivamente o é pelo fato de aquele ser um príncipe negativo, enquanto este é um louco negativo. Consderados sem seu sinal, eles são semelhantes. 33.
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O segundo caso é representado pelo campo privilegiado da descoberta psicanalítica: ou seja, os sintomas, a inibição e a angústia, na economia constitutiva das diferentes neuroses. Nele, a fala é expulsa do discurso concreto que ordena a consciência, mas encontra apoio, quer nas funções naturais do sujeito, por menos que um espinho orgânico esboce nelas a hiância de seu ser individual em sua essência, que faz da doença a introdução do vivente na existência do sujeito, 34 quer nas imagens que organizam, no limite do Umwelt e do Innenwelt, sua estruturação relaciona!. O sintoma, aqui, é o significante de um significado recalcado da consciência do sujeito Símbolo escrito na areia da ce e no véu de Maia, ele participa da linguagem pela ambigüidade semântica que já sublinhamos em sua constituição. Mas é uma fala em plena atividade, pois inclui o discurso do outro no segredo de seu código. Foi decifrando essa fala que Freud encontrou a linguagem primeira dos smbolos, 35 ainda viva no sofrimento do homem da civilização (Das Unbehagen in der Kultur [O mal-estar na cultu]). Hieróglifos da histeria, brasões da d a fo fobia, labirintos labirintos da Zwangs neurose; encantos da impotência, enigmas da inibição, oráculos da angústia; armas eloqüentes do caráter, 36 chancelas da auto punição punição,, disfarces disfarces da perversão perversão - tais são os hermetismos hermetismos que nossa exegese resolve, os equvocos que nossa invocação dis solve, os artifícios que nosso discurso absolve, numa libertação do sentido aprisionado que vai da revelação do palimpsesto à palavra dada do mistério e ao perdão da fala. O terceiro paradoxo da relação da linguagem com a fala é o do sujeito que perde seu sentido nas objetivações do discurso. Por mais metafísica que pareça sua definição, não podemos exper iência. desconhecer sua presença no primeiro plano de nossa experiência. Pois Poi s nisso niss o está es tá a alienação mais profunda profunda do suj suj eito da civi ci viliz lização ação
34 Para obter medatamente a conimação subjetiva desse comenáio de Hege
basa ter visto na recente epidema um coeho cego no meo de uma esada erguendo para o sol poene o vazio de sua visão transmudada em olhar: ele é humano a ponto de ser ágico. 35 As linhas supra e inf mostram a acepção que damos a esse termo 36 O erro de Reich, ao ua voltaremos fê-o toma armas por uma armadura.
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científica e é com ea que deparamos em primeiro lugar quando o suj suj eito começa a nos falar de si: do mesmo modo modo para resovêla inteiramente a anáise deveria ser levada ao extremo da sabedoria. Para foecer disso uma formuação exemplar não poderíamos encontrar encontrar terreno terreno mais pertinente do que o uso do discurso d iscurso corrente corrente fazendo notar que o "isso sou ["ce ["ce suis-je suis-je ] da época de Vilon mo do omem modeo. inverte inverteuu-se se no " sou eu [" c 'est mo O eu do homem modeo mode o adquiriu adquiriu sua forma forma como co mo indicamos indicamo s em outro ponto no impasse diaético da bela ama que não reconece a própria razão de seu ser na desordem que ea denuncia no mundo. Mas uma saída se oferece ao sujeito para a resolução desse impasse em que delira seu discurso. A comunicação pode se estabelecer para ee validamente na obra comum da ciência e nas utilizações que ela ordena na civilização universa; essa comunicação será efetiva no interior da enorme objetivação constituída por essa ciência e le permitirá esquecer sua subje tividade. Ele coaborará eficazmente com a obra comum em seu trabalo cotidiano e povoará seu lazer com todos os encantos de uma cutura profusa que do romance policial às memórias istóricas das conferências educativas à ortopedia das reações de grupo dar-e-á meios de esquecer sua vida e sua morte ao mesmo tempo que de desconecer numa falsa comunicação o sentido particuar de sua vida. Se o sujeito não encontrasse numa regressão muitas vezes levada até o estádio do espeo o espaço de uma etapa em que seu eu contém suas façanas imaginárias quase não averia limites atribuíveis à creduidade a que ele tem que sucumbir nessa situação. E é isso que toa temível nossa responsabiidade quando e oferecemos com as manipuações míticas de nossa doutrina doutrina uma u ma oportunidade oportunidade suplementar de se aienar na trindade decomposta do ego do superego e do d, por exemplo. Há aí um muro de linguagem que se opõe à fala e as precauções contra o verbaismo que são um tema do discurso do omem " norma de nossa nos sa cutura cut ura só s ó fazem fazem reforçarle reforçarle a espessura. Não seria inútil avaiar esta última pea soma estatisticamente determinada dos quilos de pape impresso dos quilômetros de sulcos discográficos e das oras de transmissão radiofônica que a referida cutura produz per capita nas zonas A, B e C de sua
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área. Esse seria um belo objeto de pesquisa para nossos órgãos culurais, e nee veramos que a quesão da inguagem não está ineiramene contida na área das circunvouções em que seu uso se reflete no indivduo. We are the hollow men We are the stued men Leaning together Head Headpiece piece flled with strw AlasP7
e assim por diante. A semelhança dessa situação com a aienação da oucura, na medida em que a forma dada mais acima é auêntica, ou seja, em que nela o sujeito é mais falado do que fala, ressata evidentemene da exigência, suposa pela psicanáise, de uma faa verdadeira Se essa conseqüência, que leva ao limite os paradoxos paradoxos constitutivos constitu tivos de nossa no ssa formuação formuação atual, atual , fosse voltada voltada contra o próprio bom senso da perspectiva psicanalítica, confe riríamos a essa objeção oda a sua perinência, mas para nos vermos confirmados por ela: e isso, por uma inversão dialética em que não nos falariam padrinhos auorizados, a começar pea denúncia hegeliana da da fiosofia fiosofia do do crânio" crânio" e detendo-nos detendo-nos so mente ante a advertência de Pascal, que ecoa, desde o despontar da era histór histórica ica do do eu" , nestes ter termos mos:: os homens são ão necessariamene oucos que seria enouquecer por uma outra forma de oucura não ser louco." Isso não quer dizer, no enano, que nossa cultura avance por revas exeas à subjetividade criadora Esta, ao conrário, nunca deixou de miitar naquela para renovar o poder jamais esgotado dos símboos, na troca humana que os raz a lume. Levar em cona o pequeno número de sujeios que sustenam essa criação seria ceder a uma perspectiva romântica, coejando o que não é equivaene. O fato é que essa subjeividade, em qualquer campo que apareça, matemático, poltico, religioso ou pubicitário, coninua a impusionar em seu conjuno o movi mento humano E uma mirada não menos iusória decero nos
37. Somos os homens ocos ocos I Somos os homens empalhados Todos encostados,
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Com o capacete cheio de palha. Ai de nós!" (N.E.)
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fari fariaa acentuar este traço oposto: que seu caráter simbólico nunca foi mais patente. A ironia das revoluções é que eas geram um poder ainda mais absouto em seu exerccio, não, como se costuma dizer, por ele ser mais anônimo, mas por estar mais reduzido às palavras que o significam. E mais do que nunca, por outro ado, a força das igrejas reside na inguagem que elas souberam conservar: instância, convém dizer, que Freud deixou na penumbra no artigo em que nos desena o que camaremos de subjetividades coletivas da Igreja e do Exército. A psicanáise desempenou um papel na direção da subjeti vidade modea, e não pode sustentá-o sem ordená-lo pelo movimento que na ciência o eucida. É esse o probema dos fundamentos que devem assegurar a nossa disciplina seu lugar nas ciências: probema de formaiza ção, na verdade muito mal introduzido. Pois parece que, retomados justamente por um caprico do esprito médico em oposição ao qua a psicanáise teve que se constituir, foi a exempo dele, com um atraso de meio século em relação relação ao movimento movimento das ciências, ciênc ias, que procur procuramos amos igarnos ig arnos a elas Objetivação abstrata de nossa experiência em princpios fict cios ou simuados simuad os do método método experimental: experimental : aí encontramos o efeito de preconceitos cujo campo, antes de mais nada seria preciso limpar, se quisermos cultivá-o segundo sua estrutura autêntica. Praticantes da função simbóica, é espantoso que nos esqui vemos de aprofundála, a ponto de desconecer que é ela que nos situa no cee do movimento que instaura uma nova ordem das ciências, com um novo questionamento antropoogia Essa nova ordem não significa nada aém de um retoo a uma noção de ciência verdadeira que já tem seus ttulos ttulos inscritos numa tradição que parte do Teeteto. Essa noção se degradou, como se sabe, na inversão positivista que, coocando as ciências do omem no coroamento coroamento do edifcio das ciências experimentais, experimentais, na verdade as subordinou a estas Essa noção provém de uma visão errônea da istória da ciência, baseada no prestgio de um desenvolvimento especializado dos experimentos. Mas, oje em dia, vindo as ciências conjecturais resgatar a noção da ciência de sempre, elas nos obrigam a rever a classi ficação das ciências que herdamos do século XIX, num sentido que os espritos mais úcidos denotam claramente.
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Basta acompanharmos a evoução concreta das disciplinas para nos apercebermos disso. A ingüística pode servirnos de guia neste ponto, já que é esse o papel que ela desempenha na vanguarda da antropoogia contemporânea, e não poderíamos ficar-he indiferentes. A forma de matematização em que se inscreve a descoberta do fonema, como função dos pares de oposição compostos peos menores menores elementos discriminativos discriminativos captáveis da semântica, eva nos aos próprios fundamentos nos quais a doutrina final de Freud aponta, numa conotação vocálica da presença e da ausência, as origens subjetivas da função simbólica E a redução de todas as ínguas ao grupo de um número pequeníssimo dessas oposições fonêmicas, dando início a uma formaização igualmente rigorosa de seus mais elevados morfe mas, cooca a nosso acance uma abordagem estrita de nosso campo. Cabe a nós com ea nos aparelharmos para encontrar aí nossas incidências, como já faz, por estar numa inha paralea, a etno grafia, decifrando os mitos segundo a sincronia dos mitemas. Não é patente que um Lévi-Strauss, ao sugerir a impicação das esuturas d linguagem e da parte das eis sociais que rege a aliança e o parentesco, já vai conquistando o terreno mesmo em que Freud assenta o inconsciente? 38 Por conseguinte, é impossível não centrar numa teoria geral do símboo uma nova classificação das ciências em que as ciências do homem retomem seu ugar centra, na condição de ciências da subjetividade. Indiquemos o princípio disso, que não deixa de invocar uma elaboração A função simbóica apresentase como um duplo movimento no sujeito: o homem faz de sua ação um objeto, mas para a ela devover em tempo hábi seu lugar fundador Nesse equívoco, que opera a todo instante, i nstante, reside todo o progresso progresso de uma função função em que se ateam a ação e o conhecimento. 39 Exemplos tomados de empréstimo, um dos bancos escolares, outro do que há de mais vivo em nossa época:
Language and the analysis analysis of social laws 38 Cf Claude Lévi-Sauss, " Language
American Anthropologist, ol ol53 53 n n ab abil il-ju -junh nho o de 19 5 1 p 1 55-6 3 39 Esses últimos quatro paágaos foram eesctos (1966).
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- o primeiro, primeiro, matemá matemático tico primeiro primeiro tempo, tempo, o homem ob ob etiva em dois números cardinais duas coleções que contou segundo tempo, realiza com esses números o ato de adicionálos (cf o exemplo citado por Kant na introdução à estética transcendental, transcendental, §IV da 2ª edição da Críica da razão pura); - o segundo, histórico primei primeiro ro tempo, tempo , o homem que tra tra balha balha na produçã produção o em noss n ossaa sociedade inclui inc luise se na n a categoria dos proletários; segundo tempo, em nome desse vínculo, ele faz greve geral. Se esses dois exemplos brotam, para nós, dos campos mais contra contrasta stante ntess no concreto - o funcio funcioname namento nto cada vez mais lícito da lei matemática, a face implacável da exploração capi talista -, é que, que , embora embora eles nos pareçam provir de muito longe, seus efeitos vêm a constituir nossa subsistência, e justamente por se cruzarem numa dupla inversão: a mais subjetiva ciência forou uma nova realidade, as trevas da divisão social armamse de um símbolo atuante. Aqui, á não parece aceitável a oposição que se traçaria entre as ciências exatas e aquelas para as quais não há por que declinar da denominação de conjecturais, por falta de fundamento para essa oposição. 40 Pois a exatidão se distingue da verdade e a conectura não impede o rigor E se a ciência experimental herda das matemá ticas sua exatidão, nem por isso sua relação com a natureza é menos problemática Se nosso vínculo com a natureza realmente nos incita a nos perguntarmos, poeticamente, se não é seu próprio movimento que encontramos em nossa ciência, essa voz Que se reconhece ao soar Já não ser voz de ninguém Como é de bosques e mar,4 1
está claro que nossa física é apenas uma fabricação mental cuo instrumento é o símbolo matemático
40 Esses dois últimos parágrafos foram reescritos (1966). 41 . " ... cette o I Qui se connaft quand elle sonne I N'être plus la voix de
personne
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Tant que des ondes et e t de bois, ..." ... " , Pau Paul Valéry. (N.E.) (N.E .)
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Pois Poi s a ciência ciên cia experimental não se define define tanto pela quantidade quantidade a que efetivamente se aplica, mas pela medida que introduz no real. Como se vê pela medida do tempo, sem a qual ela seria impossvel. O relógio de Huyghens, o único a lhe conferir sua precisão, é apenas o órgão realizador da hipótese de Galileu sobre a eqüigravidade dos corpos, ou seja, sobre a aceleração uniforme, que confere sua lei, por ser a mesma, a toda queda. Ora, é divertido salientar que o aparelho foi concludo antes que a hipótese pudesse ser confirmada pela observação, e que, em vista disso, ele a toou inútil no exato momento em que lhe ofereceu o instrmento de seu rigor. 42 Mas a matemática pode simbolizar um outro tempo, notada mente o tempo intersubjetivo que estrutura a ação humana, do qual a teoria dos jogos, ainda chamada de estratégia, e que mais valeria valeri a chamar de estocástica, começa começ a a nos foecer foecer as fórmula fórmulas. s. O autor destas linhas tentou demonstrar, na lógica de um sofisma, as molas de tempo pelas quais a ação humana, na medida em que se ordena pela ação do outro, encontra na esca esc ansão de suas sua s hesitações o advento de sua certeza e, na decisão que a conclui, dá à ação do outro, que desde então ela passa a incluir com sua sanção quanto ao passado, seu sentido por vir. Ali se demonstra que é a cereza antecipada pelo sujeito no tempo para compreender que, pela pressa que precipita o momento de concluir determina no outro a decisão que faz do próprio movimento do sujeito erro ou verdade. Vê-se Vê- se por ess e ssee exemplo como c omo a formalizaçã formalização o matemática que inspirou a lógica ló gica de Bool B oole, e, ou a teoria dos dos conjunt conjuntos, os, pode pode trazer trazer à ciência da ação humana a estrutura do tempo intersubjetivo da qual a conjectura psicanalítica necessita para se garantir em seu rigor Se, por outro lado, a história da técnica historadora mostra que seu progresso se define no ideal de uma identificação da subjetividade do historiador com a subjetividade constitutiva da
de Huyghens Huyghe ns An experimen experimen 4 Cf, quanto à hipótese galileana e ao relógio de
in measurement" measurement" , de Alexandre Alexandre Koyré, Proceedings Proceedings of of the American Philosophical Socie, vo1., abril de 1953 Nossos dos últimos parágrafos foram reescritos (1966).
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histoicização prmária em que se humanza o acontecmento, é claro que a psicanáse encontra aí seu acance exato ou seja, no conhecmento, como reazador desse idea, e na eficáca, como nela encontrando encontrando sua razão. O exemplo exemp lo da hstória também também disspa, qua uma mragem, o recurso à reação vivida que obceca nossa técnca e nossa teora, pos a hstorcidade fundamental do acontecmento que guardamos basta para conceber a possi bdade de uma reprodução subjetiva do passado no presente. E mas, esse exempo nos faz apreender como a regressão pscanaítica implica aquea dimensão progressiva da história do sujeto que Freud nos sublnha faltar ao conceto unguiano da regressão neurótca, e compreendemos como a própra expeiên cia renova essa pogressão, garantndo seu desfalque Por fm, a referênca à ngüística nos introduzirá no método que, ao distnguir as estruturações sncrôncas das estuturações dacrôncas na linguagem, pode permitr-nos compreender me hor o valor dferente que nossa lnguagem assume na interpre tação das resistêncas e da transferência, ou então dferencar os efeitos típicos do recaque e a estrutura do mito ndividual na neurose obsessiva. Sabemos da lista de discipnas que Freud apontava como devendo consttuir as cências anexas de uma Facudade deal de pscanáse. Nea encontramos, ao lado da psiquatra e da sexoogia, a hstória da cvzação, a mitologia, a pscologia das religiões, a hstóra e a crítca crítca literá literárias rias . O conunto dessas matéras, que determna o cursus de um ensno técnico, inscrevese normamente no trânguo epistemo lógico que já descrevemos, e que foeceria seu método a um ensino superior de sua teoria e sua técnica. A ele acrescentaíamos de bom grado, por nosso tuo: a retóica, a daétca, no sentido técnico que esse termo assume nos Tópicos de Astótees, a gramátca e, auge supremo da estética da linguagem, a poétca, que incluria a técnca, deixada na obscurdade, do chste E se essas ubrcas paa aguns evocassem ressonâncas meo obsoletas, não nos repugnara endossá-las como um retoo a nossas orgens. Pois a pscanálse, em seu desenvolvimento ncial, gado à descoberta e ao estudo dos símbolos, ira particpar da estutura do que se chamava chamava,, na Idade Idade Méda, Méda, ates berais berais"" . Privada Privada
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como estas de uma verdadeira formalização, ela se organizaria, à semelhança deas, num corpo de problemas privilegiados, cada qua promovido por uma relação fortuita do homem com sua própria medida, e extraindo dessa particuaridade um encanto e uma humanidade que podem compensar, a nosso ver, o aspecto um tanto recreativo da apresentação deles Não desdenemos desse aspecto nas primeiras elaborações da psicanáise; ee não exprime nada menos, com efeito, do que a recriação do sentido humano nos áridos tempos do cientificismo. Desdenemo-os ainda ain da menos na medida medida em que que a psicanáise psicanáis e não elevou o nve, ao enveredar peos fasos caminhos de uma teorização contrária à sua estrutura dialética. Ela só dará fundamentos fundamentos científicos à sua teoria e à sua su a técnica ao formalizar adequadamente as dimensões essenciais de sua experiência, que são, juntamente com a teoria istórica do símbolo, a lógica intersubjetiva e a temporaidade do sujeito. AS RESSONÂNCIAS DA NTERPRETAÇÃO E O TEMPO DO SUJETO NA TÉCNCA PSCANALÍTICA Entre o homem e o amor Existe a mulher Entre o homem e a mulher Exise um mundo Ene o homem e o mundo Existe um muro43 (Antoine Tudal, in Paris en l'an 2000) Nam Sibyllam quidem Cumis ego ipse oculis meis vidi in ampulla pendere et cum illi pueri dicerent: Sibylla ti teleis respondebat illa apothanein thélo. (Sayricon XLVIII)
Reconduzir a experiência psicanatica à faa e à linguagem, como a seus fundamentos, interessa sua técnica Se ela não se insere no inefáve, descobre-se o desizamento que se operou, sempre em sentido único, afastando a interpretação de seu Entre l'homme et l'amour, I l y a la femme I Entre Entre l homme et la femme I l y a un monde I Entre lhomme et le monde, I Il y a un mur. (N.E) 43.
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princpio. Portanto, temos base para desconar que esse desvio da prática motiva as novas metas a que se abre a teoria. Examinando mais de perto, os problemas da interpretação simbóica simbó ica começaram começaram por intimidar nosso pequeno mundo, antes de se toar embaraçosos Os sucessos obtidos por Freud surpreendem agora pea semcerimônia da doutrinação de que parecem proceder, e a exposição que dea se observa nos casos de Dora, do Homem dos Ratos e do Homem dos Lobos não deixa de nos escandalizar. É verdade que nossos doutos não hesitam em pôr em dúvida que essa fosse uma boa técnica Esse desapreço efetivamente decorre, no movimento psicana ltico, de uma confusão das lnguas da qua, numa conhecida declaração declaração de época recente, a personalidade mais representativa de sua atual hierarquia não fazia mistério conosco É bastante notável que essa es sa confusão aumente aumente com a pretensão pretensão com que todos se crêem autorizados a descobrir em nossa experiência as condições de uma objetivação consumada e com o fervor que parece acoher esses ensaios teóricos, na medida mesma em que eles se revelam mais desreais É certo certo que os o s princ princpios da d a anáise das resistências, resistê ncias, por po r mais mais bem fundados que sejam, deram ensejo, na prática, a um des conhecimento cada vez maior do sueito, por não serem com preendidos em sua relação com a intersubetividade da faa. Com efeito, acompanhando o processo das primeiras sete sessões que nos são integramente narradas no caso do Homem dos Ratos, parece pouco provável que Freud não tenha reconhe cido as resistências instauradas nelas, isto é, ai mesmo onde nossos técnicos modeos nos dão a lição de que Freud deixou passar a ocasião, uma vez que é seu próprio texto que lhes permite permite apontá-las apontá-las manifestando manifestando mais uma vez o esgotamento esgotamento do assunto que nos deslumbra nos textos freudianos, sem que nenhuma interpretação haja ainda esgotado seus recursos Queremos dizer que ee não apenas se deixou levar a incentivar incent ivar seu sujeito a superar suas primeiras hesitações, como também compreendeu perfeitamente o alcance sedutor desse ogo no imaginário Para nos convencermos convencermos disso, dis so, basta nos report reportarm armos os à descrição que ee nos foece da expressão de seu paciente durante o penoso relato do supício representado que serve de tema para sua obsessão, o do rato introduzido à força no ânus do supiciad supiciado: o: Seu rosto" rosto" , diznos ee, reetia reetia o horro horrorr de
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um gozo ignoado." ignoado. " O efeio atual da epeição desse elao não escapa a Feud, e nem, po conseguinte, a identificação do psicanalisa com o capitão capitão cuel" que fez esse elao en ena a vigoosamente na memóia do sujeio, nem tampouco, poanto, a impoância impoância dos d os esclaecimentos e sclaecimentos teóricos cu c uj o penho o sujeio sujeio eque paa possegui em seu discuso Longe, no enanto, de inepea a esisência ali, Feud nos supeende acedendo à soliciação dele, e a tal pono que paece enta no jogo do sujeito Mas o caráe caráe extem extemame amente nte apo apoxima ximaivo ivo a pon ponto to de nos pae paece ce vulga vulga das explicações explicações com com que que ele o satisfaz satisfaz é-nos é-nos suficientemene instutivo: ali, não se taa tano de douina, nem ampouco de douinação, mas de um dom simbólico da fala, penhe de um paco seceto, no conexto da paticipação imaginária que o inclui e cuja impoância se evelará, mais ade, na equivalência simbólica que o sujeio institui em seu pensameno ente os atos e os oins com que emunea o analisa. Vemos pois que Feud, longe de desconhece a esisência, sevese dela como uma disposição popícia ao acionamento das essonâncias da fala, e se confoma, na medida do possível, com a definição inicial que foeceu da esisência, servindo-se dela paa implica o sujeito em sua mensagem. Do mesmo modo, muda buscamente de assuno assun o ão logo pecebe que, qu e, ao se taada taada com indulgência, indulgênci a, a esisê es isência ncia gia no senido senido de mane mane o diálogo no nível de uma convesa em que, a parti de então, o sujeio perpetuaia sua sedução e sua esquiva. Mas, apendemos que a análise consise em joga com os múliplos alcances da divisão que a fala consiui nos egistos da linguagem: daí decoe a sobedeterminação, que só tem sentido nessa odem E captamos, ao mesmo empo, a mola do sucesso de Feud Paa que a mensagem do analisa esponda à inerrogação po funda do sujeio, é peciso, de fato, que o sujeito a escute como a esposta que lhe é paicula, e o pivilégio, que inham os pacientes de Feud de ecebe as boas novas da pópria boca daquele que ea seu aauto satisfazia neles essa exigência. Noese de passagem que, aqui, o sujeio tivea uma pévia delas ao eneabi a Psicopatologia da vida cotidiana, oba então no fesco de sua publicação
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Isso não quer dizer que esse ivro seja muito mais conhecido agora, nem mesmo pelos psicanalistas, mas a vugarização das noções freudianas na consciência comum, seu ingresso no que chamamos de muro da linguagem, atenuaria o efeito de nossa faa, se lhe conferíssemos conferíssemos o esti es tilo lo das colocações colo cações feitas feitas por Freud Freud ao Homem dos Ratos Mas não se trata aqui de imitá-lo. Para resgatar o efeito da fala de Freud, não é a seus termos que recorremos, mas aos princípios que a regem. Esses princípios não são outra coisa senão a diaética da consciência de si, tal como se reaiza, de Sócrates a Hegel, a partir da suposição irônica de que tudo o que é racional é rea, para se precipitar no juízo científico de que tudo o que é real é raciona. Mas a descoberta freudiana consistiu em demonstrar que esse processo verificador só atinge autenticamente o sujeito ao descentrálo da da consciência consci ência de si, s i, em cuj cuj o eixo ea era mantida mantida pela reconstução hegeliana da fenomenoogia do espírito: ou seja seja,, ela toa ainda mais mais caduca qualquer qualquer busca de conscie con scien n tização" que, paraalém paraalém de de seu fenômeno fenômeno psicológi psico lógico, co, não se inscreva na conjuntura do momento particuar, o único a dar corpo ao universal, e sem o qual ee se dissipa na generalidade. Essas observações definem os imites em que é impossível a nossa técnica desconhecer os momentos estuturantes da feno menoogia hegeliana: em primeiro ugar, a dialética do Mestre/ Senhor e do Escravo, ou a da bea alma e da lei do coração, e, de modo geral, tudo o que nos permite compreender como a constituição do objeto se subordina à realização do sujeito Mas se restava algo de profético na exigência, pela qual se avaia o taento de Hege, da identidade intrínseca entre o particular e o universal, foi justamente a psicanálise que lhe trouxe seu paradigma, ao desvelar a estutura em que essa identidade se reaiza como desarticuadora do sujeito, e sem apelar para o amanhã. Digamos apenas que aí está o que, para nós, objeta a quaquer referência à totaidade no indivíduo, já que o sujeito introduz nele a divisão, bem como no coetivo que é seu equivaente. A psicanálise é, popriamente, o que remete um e outro à sua condição de miragem Ao que parece, isso já não poderia ser esquecido, não fosse precisamente o ensino da psicanáise que é passíve de esqueci
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ment ment coisa da qual qual se verica, por um retorno mais egítimo egítimo do que se supõe, que a confirmação nos vem dos próprios psicanalistas, psicana listas, pelo fato fato de suas novas tendências" represen representarem tarem esse esquecimento Pois se Hegel, por outro ado, vem muito a propósito dar um sentido que não seja de estupor à nossa camada neutralidade, não é que não tenhamos nada a extrair da elasticidade da maiêutica de Sócrates, ou do fascinante processo da técnica em que Platão a ea nos apresenta apresenta nem que sej sej a para para provar em Sócrates e seu desejo o enigma intacto do psicanaista, e para situar em relação à escopia patônica nossa reação com a verdade: nesse caso, de um modo que respeite a distância existente entre a reminiscência que Patão é levado a supor em todo advento da idéia e o esgotamento do ser que se consuma na repetição de Kierkegaard.4 Mas á também uma diferença istórica, que não é inútil aquiatar, desde o interocutor de Sócrates até o nosso. Quando Sócrates se apóia numa razão artesanal, que ele também pode extrair do discurso do escravo, é para fazer com que mestres e senhores autênticos tenham acesso à necessidade de uma ordem que faça justiça de seu poder e faça das palavras essenciais da póis uma verdade. Nós, porém, idamos com escravos que se tomam por mestres e senores e que encontram numa linguagem de missão universal o esteio de sua servidão, com os griões de sua ambigüidade Tanto que poderíamos dizer, com umor, que nossa meta é restabeecer nees a liberdade soberana que demonstra Humpty Dumpty ao embrar a Alice que, afinal, ele é o mestre e senor do significante, se não o é do significado em que seu ser adquiriu forma. Sempre encontramos, pois, nossa dupla referência à faa e à inguagem. Para liberar a faa do sujeito, nós o introduzimos na linguagem de seu desejo, isto é, na linguagem primeira em que, paraalém do que ee nos diz de si, ee já nos faa à sua revelia, e prontamente o introduzimos nos smboos do sintoma. É reamente de uma inguagem que se trata, com efeito, no simboismo exposto na análise Essa linguagem, correspondendo ao anseio údico que podemos encontrar num aforismo de LicIndi cações es supridas por nós de lá l á para cá ( 1 66). 66) . Quatr Quatro o parágr parágrafo afoss reescritos. 4 Indicaçõ
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tenberg tem o caráter universa de uma íngua que se fizesse ouvir em todas as outras ínguas mas que, ao mesmo tempo por ser a linguagem que capta o desejo no ponto exato em que ee se humaniza fazendo-se reconhecer é absoutamente pecuiar ao sujeito Linguagem primeir, dizemos também, com o que não que remos dizer lngua pimitiva, uma vez que Freud que podemos comparar a Campolion peo mérito de lhe ter feito a descoberta total decifroua por inteiro nos sonos de nossos contemporâ neos Do mesmo modo seu campo essencial é definido com ceta autoidade por um dos preparadores mais cedo associados a esse trabaho e um dos raros a ter trazido ago de novo: refirome a Eest Jones o último sobrevivente daquees a quem foram dados os sete anéis do mestre e que atesta por sua presença nos cargos de honra de uma associação inteacional, que eles não estão reservados unicamente aos portadores de reíquias. Num artigo fundamenta sobre o simbolismo 45 o dr. Jones, ali pela página 15, observa que, embora existam mihaes de símbolos, no sentido como a anáise os entende todos se rela cionam com o próprio corpo com as relações de paentesco com o nascimento a vida e a mote. Essa verdade aqui reconecida de fato permite-nos com preender que embora embora o smboo, psicanaliticamente ps icanaliticamente falando, falando, se s ej a recalcado no inconsciente ee não traz em si nenhum ndice de regressão ou de imaturidade. Basta, pois, para que surta efeitos no sujeito, que ee se faça ouvir pois esses efeitos se dão sem o conecimento dee, como o admitimos em nossa experiência cotidiana ao expica muitas reações tanto dos sujeitos normais quanto dos neuróticos por sua resposta ao sentido simbólico de um ato, uma relação ou um objeto. Não há dúvida, portanto, de que o anaista pode jogar com o poder poder do símbolo, símbolo, evocandoo deliberadamente deliberadamente nas ressonâncias resson âncias semânticas de suas coocações Essa seria a via de um retoo ao uso dos efeitos simbóicos numa técnica renovada da intepretação
téorie ie du symbolism symbolisme e , 45 " Sur la téor
British British Joumal Jouma l of of Psycholo Psychology, gy, IX Reproduzido em Papers on Psycho-Analysis. Cf. aqui mesmo p70ss
2.
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Poderíamos Poderíamos obter obt er uma refer referência ência dis d isso so no que a tradição tradição hindu ensina sobre o dhvani,46 por distinguir a propriedade que tem a fala de fazer ouvir o que ela não diz Assim é que ea a iustra com uma historieta cua ingenuidade, que parece ser a regra nesses exempos, mostra um humor suficiente para nos induzir a penetrar na verdade que ela contém. Uma jovem, dizem-nos, espera seu amado à beira de um riacho, riach o, quando vê um brâmane dirigir seu passos para lá. lá . Vai até ele e excama, com o tom da da mais amáve acolhida: " Que dia! O cão que neste rio o assustava com seus latidos não estará mais por aqui, pois acaba de ser devorado por um eão que freqüenta as redondezas . A ausência do leão, portanto, pode ter tantos efeitos quanto o sato que, estando presente, ee efetua uma só vez, segundo o provérbio apreciado por Freud O caráter primeiro dos símbolos aproxima-os, com efeito, dos números dos quais todos os outros se compõem, e portanto, se eles são subj subj acentes a todos os semantemas da íngua, poderemos, poderemos, por uma discreta pesquisa de suas interferências, ao ongo de uma metáf metáfora ora cu cu o desocamento des ocamento simbóic simb óico o neutraize neutraize os sentidos segundos dos termos que ela associa, restituir à faa seu peno valor de evocação. Essa técnica exigiria, tanto para ser ensinada quanto para ser aprendida, aprendida, uma pronda assimiação assimi ação dos recursos recurs os de uma língua, língua, e especiamente dos que se reaizaram concretamente em seus textos poéticos Sabemos que foi esse o caso de Freud quanto às etras alemãs, incuindo-se nelas o teatro de Shakespeare, em virtude de uma tradução ímpar. Toda a sua obra é testemunho disso, ao mesmo tempo que do recurso que ele encontra inces santemente ali, não menos em sua técnica do que em sua descoberta. E sem pre pre uízo do apoio apoio de um conhecimento conhecimento clássico clás sico dos Antigos, de uma iniciação modea no folcore e de uma participação interessada nas conquistas do humanismo contem porâneo no campo etnográfico. "
46. Trata-se do ensinamento de Abhinavagupta, no século X. Cf a obra do dr
Kanti Kanti Chandra Chandra Pandey " Indian aesthet aesthetics ics , Chowkamba Sanskrit Series, Studies volII Benares 190
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Poder-se-ia pedir ao técnico da anáise que não considerasse vãs todas as tentativas de acompanhálo nesse caminho. Mas há h á uma corren correnteza teza a subir. Podemos Pode mos avaliá aval iáaa pela atenção atenção condescendente que se dá, como que a uma novidade, ao wording: a morf morfoog oogia ia inglesa ingle sa foece foece aqui um esteio este io suficientemente suti a uma noção ainda difíci de definir para que dela façamos caso O que ela abarca, no entanto, é pouco encorajador, quando um autor47 se deslumbra por haver obtido um sucesso bem diferente na interpretação de uma única e mesma resistência, através através do empre emprego go sem sem premed premeditação itação consciente" consciente " , sublinhasublinh anos ee, da expressão need for love [necessidade de amor] em ugar ug ar de demandfor demandfor love lo ve [demanda de amor], que ee propusera antes, antes, sem enxerga enxergarr mais longe (é ele quem o esclarece) Se essa e ssa historinha pretende confirmar a referência da interpretação à ego psychology que aparece no título do artigo, parece tratarse, antes, da ego psychology do anaista, na medida em que ea se conforma com um uso tão módico do inglês que ee pode evar sua prática aos limites do babucio. 48 Pois need e demand têm para o sujeito um sentido diametra mente oposto, e afirmar que seu emprego possa ser confundido por um instante sequer equivale a desconhecer radicamente a intimação da faa. É que, em sua função simboizadora, ela não faz nada menos do que transformar o sujeito a quem se dirige, através da igação que estabelece com aquee que a emite, ou seja: introduzir um efeito de significante. Por isso é que nos convém votar mais uma vez à estrutura da comunicação na inguagem, e desfazer definitivamente o mal-entendido da linguagem-signo, fonte, nesse campo, das confusões do discurso e das imperfeições da fala Se a comunicação da linguagem, com efeito, é concebida como um sinal sina l peo qual o emissor informa informa o receptor de aguma coisa, por meio de um certo código, não há nenhuma razão para não concedermos igua crédito, e mais ainda a quaquer outro signo, quando o aguma coisa" de que se trata é o indivíduo: Kris " Ego psychology psych ology and inter interpret pretation ation , Psychoanalytic Quarterly, 47 Ems Kris
XX n°1 jan XX janei eiro ro de de 195 19 5 1 , p 1 529 cf o trec trecho ho cit citado ado na p27-8 p27-8 48 Parágrafo reescrito ( 1966).
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há até toda razão para darmos preferência a quaquer modo de expressão que se aproxime do signo natura. Foi assim que se introduziu entre nós o descrédito quanto à técnica da faa e que somos vistos à procura de um gesto, um esgar, uma atitude, uma mmica, um movimento, um frêmito, que hei de dizer?, uma suspensão do movimento habitua, pois somos refinados refinados e nada mais deterá em seus rastros nossa no ssa matilha de perdigueiros Mostraremos Mostraremos a insuficiência da idéia da linguagemsigno pela própria manifestação que mehor a iustra no reino animal, e a qua, se não houvesse recentemente sido objeto de uma descoberta autêntica, parece que teria sido preciso inventar para esse fim. Todos admitem admitem agora que a abeha, ao votar à colméia depois de sua coeta de póen, transmite a suas companheiras por dois tipos de danças a indicação da existência de um butim próximo ou distante. A segunda é a mais notáve, pois o plano em que ela descreve a curva em 8 que fez com que lhe dessem o nome de wagging dance, bem como a freqüência dos trajetos que a abeha executa num dado tempo, apontam exatamente, por um ado, a direção, determ determinad inadaa em função unção da incinação solar so lar (pela qual as abelhas podem se ocaizar permanentemente, graças a sua sensibiidade à uz polarizada), e por outro, a distância de até vários quiômetros em que se encontra o butim. E as outras abehas abehas respondem respondem a essa es sa mensagem mensa gem dirigindose dirigind ose imediatament imediatamentee para o ugar assim apontado. Uma dezena de anos de paciente observação bastou a Karl von Frisch para decodificar essa modalidade de mensagem, pois se trata realmente de um código ou sistema de sinaização, do qual somente o caráter genérico nos impede de quaificálo de convenciona. Mas, será isso uma linguagem? Podemos dizer dizer que que se distingue desta precisamente pela correlação fixa entre seus signos e a realidade que eles expressam. É que, numa linguagem, os signos adquirem valor por sua reação uns com os outros, tanto na divisão éxica dos semantemas quanto no uso posicional ou flexiona dos morfemas, que contrastam com a fixidez da codificação aqui exposta. E a diversidade das ínguas humanas adquire à luz disso seu pleno valor
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Outrossim, se a mensagem da modalidade aqui descrita de termina a ação do socius, jamais é retransmitida por ele E isso quer dizer que continua presa a sua função de retransmissora da ação, da qual nenhum sujeito a isola como símbolo da comunicação em si 49 A forma pela qual se exprime a linguagem define, por si só, a subjetividade. Ela diz Tu irás por aqui e, quando vires tal e tal, seguirás por ali." Em outras palavras, refere-se ao discurso do outro Como tal, ela se envolve na mais alta função da fala, na medida em que implica seu autor ao investir seu destinatário de uma nova realidade realidade por exemplo, exemplo, quando quando por um Tu és minha mulher" mulher" um sujeito sujeito marca-s marca-see como sendo o homem home m do conjungo.
Essa é, com efeito, a forma essencial de onde deriva toda fala humana, em vez de chegar a ela Daí o paradoxo paradoxo com que um de de nossos noss os ouvintes ouvin tes mais incisi i ncisivos vos julgou poder opor-nos um comentário, quando começamos a dar a conhecer nossas opiniões sobre a análise como dialética, que ele formulou da seguinte maneira: a linguagem humana consti tuiria, então, uma comunicação em que o emissor recebe do receptor sua própria mensagem sob forma invertida, fórmula esta que nos bastou apenas retomar da boca do opositor para nela reconhecer a marca de nosso próprio pensamento, ou seja, que a fala sempre sempre inclui subjeti subjetivamen vamente te sua s ua resposta, que o Tu não me procura procurarias rias se não me houvesses houv esses encontrado" encontrado" só faz homo logar essa verdade, e que é essa a razão por que, na recusa paranóica do reconhecimento, é sob a forma de uma verbalização negativa que o sentimento inconfessável vem a surgir na in terpretação" persecutória Do mesmo modo, quando vocês se aplaudem por haver encontrado alguém que fala a mesma linguagem que a sua, vocês não querem dizer que se encontram com ele no discurso de todos, mas que lhe estão unidos por uma fala particular.
49 Isso é paa uso de quem ainda possa entendê-lo depois de e ido busca no
Liré Liré a justificação justificação de uma teoa que faz da fala fala uma " ação ao lado pela p ela tradução que ele efetivamente foece do gego pabolê (mas po que não " ação ação paa paa. . . ?), ?) , sem te obsevado al ao mesmo tempo que se essa palava designa o que que dize é em azão do uso semonáo que a palava verbo eseva desde o sécuo X ao Logos encado.
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Vemos, pois, a aninomia aninomia imanene às relações da fala com a inguagem À medida que a inguagem se oa mais funcional, funcional, ea se toa imprópria para a faa e, ao se nos oar demasiadamene paricular, perde sua função de linguagem Sabemos do uso que é feito, nas tradições primitivas, dos nomes secretos em que o sujeio idenifica sua pessoa ou seus deuses, a ta ponto que reveá-los é se perder ou raíos, e as confidências de nossos sueitos, senão nossas próprias embran ças, ensinam-nos ensinam- nos que não é raro a criança enconrar enconrar esponanea esponanea mente a virtude desse uso. Finalment Finalmente, e, é pea inersub inersubj etivida etividade de do nós" que ela assume que se mede numa inguagem seu valor de fala Por uma aninomia inversa, observase que, quanto mais o ofício da linguagem se neuraliza, aproximando-se da informa ção, mais he são impuadas redundâncias. Essa noção de re dundâncias pariu de pesquisas tão mais precisas quanto mais eram interessad interessadas, as, havendo recebido recebido seu impulso de um probema de economia referente às comunicações a longa distância e, em especia, à possibiidade de fazer diversas conversas viaarem por um único fio telenico; aí podemos constaar que uma pare importante do meio fonético é supérfua para que se realize a comunicação efeivamente buscada Isso nos é atamente instruivo, 50 pois o que é redundância para a informação é precisamente aquio que, na fala, faz as vezes de ressonância.
ca da linguagem sua s ua forma forma de ansmissão e estando estando a legitimidade legitimidade dessas 50 A cada
pesquisas fundamentada em seu sucesso não é proibido fazer delas um uso moraliante. Consideremos por exemplo a frase que axamos como epígrafe em nosso prefácio Seu estilo por ser tolhido por redundâncias, talvez lhes pareça insípido Mas, basta que vocês o aliviem delas para que sua ousadia se ofereça ao entusiasmo que merece Ouçam: " Paaupe ousclaspa nannanble anaphi ologi psyoscline psyoscline ixis ixispad pad anlana - égnia kune n' n ' rbiol ' ô bljouter têtumaine ennouconç. . Eis enm destacada a pureza de sua mensagem O sentido levanta a cabeça a conssão do ser desenha-se ali e nosso espírio vencedor lega ao futuro sua marca imortal. [0 echo entre aspas é uma representação fonética (francesa e da pronúncia francesa é claro) ainda que não escrita em sinais fonéticos do recho citado no prefácio: "En PARticulier il ne FAUdra Pas OUblier QUE LA S ÉPAration PAration EN EMBRYoLogie, ANAtomie PHYsiOLOGIE PSYchologie SOCiologie CLINIQue n eXISte PAS DANS LA NAure ET QU'il N Y A QUUNE discipline discipline la NEURo NEURoBIOL BIOLogie ogie à laquelle lOBservation nous obLge d'aJOUTER l'épiTH ME d'HUMAINE EN ce que NOUS CON.
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Pois, Poi s, nesta n esta a função função da inguagem não é informar informar,, mas evocar. ev ocar. O que busco na fala é a resposta do outro. O que me constitui como sujeito é minha pergunta Para me fazer reconhecer pelo outro, só profiro aquio que foi com vistas ao que será. Para encontrá-o chamoo por um nome que ele deve assumir ou recusar para me responder Eu me identifico na linguagem, mas somente ao me perder nela como objeto. O que se realiza em minha história não é o passado simpes daquilo que foi, uma vez que ele já não é, nem tampouco o perfeito composto do que tem sido naquilo que sou, mas o futuro anterior do que terei sido para aquilo em que me estou transformando. Se agora eu me colocar diante do outro para interrogáo, nenhum apareho cibeético, por mais rico que vocês possam imagináo, poderá fazer reação do que é resposta. Sua definição como segundo termo do circuito estímulo-resposta é apenas uma metáfora que se sustenta pela subjetividade imputada ao animal, para em seguida eidi-a no esquema físico em que ela a reduz. Foi a isso que chamamos pôr o coeho na cartoa para depois fazêlo sair desta Mas, uma reação não é uma resposta. Quando aperto um botão eétrico e a luz se faz, só há resposta para meu desejo. Se, para obter o mesmo resultado, eu tiver que experimentar todo um sistema de conectres cuja posição não conheço, só haverá probema para minha expectativa e ele não existirá mais quando eu tiver obtido do sistema um conhecimento conhecimento suficiente para manejáo com segurança Mas, quando chamo aquee com quem fao peo nome, seja este qua for, que lhe dou, intimo a função subjetiva que ele retomará para me responder mesmo que seja para repudiá-a A partir daí, daí , surge surge a função função decisiv dec isivaa de minha minh a própria própria resposta, e que não é apenas, como se diz, a de ser aceita pelo sujeito como aprovação ou rejeição de seu discurso, mas reamente a de reconhecêo ou aboilo como sujeito É essa a responsabilidade do anaista, toda vez que ee intervém pea faa. Cee. Cee . Lacan também também separa a s "pala "pa lavras vras formadas respetando as sonoridades da pronúnca e não as normas léxcas, ortográcas etc como se observa pelas maúsculas maúsculas que assnalam de onde onde ele retirou sua frase ouvda (N.E (N .E.) .)
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Do mesmo modo, o probema dos efeitos terapêuticos da interpretação inexata, evantado pelo sr. Edward Gove� 1 num artigo artigo notável, levou-o a conclusões em que a questão da exatidão passa para o segundo pano. Ou seja, trata-se de que não apenas toda intervenção faada é recebida pelo sujeito em função de sua estrutura, mas de que assume nesta uma função estruturante em razão de sua forma, e a importância das psicoterapias não analíticas ou das mais comuns prescrições" médicas consiste, precisamente, precisa mente, em e m eas serem s erem intervenções que podemos quaificar quaificar de sistemas obsessivos de sugestão, de sugestões istéricas de ordem fóbica ou de apoios persecutórios, cada qual adquirindo seu caráter da sanção que dá ao desconhecimento, peo sujeito, de sua própria realidade. A fala, com efeito, é um dom de linguagem, e a linguagem não é imaterial É um corpo sutil, mas é corpo. As paavras são tiradas de todas as imagens corporais que cativam o sujeito; podem engravidar a histérica, identificar-se com o objeto do Penis-neid, representar a torrente de urina da ambição uretral, ou o excremento retido do gozo avarento. Mais ainda, as próprias paavras podem sofrer lesões simbó icas, reaizar os atos imaginários dos quais o paciente paciente é o sujeit sujeito o Estamos lembrados da Wespe (vesa), castrada de seu W inicial para se transformar no SP das iniciais do Homem dos Lobos, no momento em que ele reaiza a punição simbólica de que foi objeto por parte de Gruca, a vespa 52 Lembramo-nos também do S que constitui o resíduo resíduo d a fórmu fórmuaa ermética em que se condensaram condensaram as invocações invocaçõe s conjur conjurató atória riass do Homem dos Ratos, depois de Freud haver extraído de seu código o anagrama do nome de sua amada, e que, conjugado ao amém terminal terminal de seu dard dardejamento, ejamento, inunda eteamente o nome da dama com o jato simbóico de seu desejo impotente. Do mesmo modo, um artigo de Robert Fiess, 5 3 inspirado nas observações inaugurais de Abraham, demonstranos que o dis curso em seu conjunto pode toar-se objeto de uma erotização 5 1 Edwad Glove
The therapeutic therapeutic eff effect ect of inexact inex act interpretation interpretation:: A contricontri bution to the the theory of suggestion" , lnt J Psa XII p.4. sentido figur figurad ado o designa uma pessoa pess oa inescrupuosa. inescrupuosa. 52 Guêpe, vespa" que em sentido (N.E.) Robet Fliess Flies s Silence Silen ce and an d verbalization. verbalization. A suppement to the theor theory y of the the 53 Robet 'analytic rule" lnt lnt J J Psa. , XXX, p . l .
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que segue os deslocamentos da erotogenia na imagem corporal, momentaneamente determinados pela reação analítica O discurso assume então uma função fálicouretral, erótico ana ou sádicoora. Aliás, é notável que o autor a apreenda sobretudo nos silêncios que marcam a inibição da satisfação que com ea experimenta o sujeito Assim, a fala pode toarse objeto imaginário ou rea no sujeito e, como tal, degradar sob mais de um aspecto a função da inguagem. inguagem. Coocá-la-ems, Coocá- la-ems, então, então, no parêntese da resistência que ela manifesta. Mas, não será para excluí-a da relação analítica, pois esta perderia com isso sua própria razão de ser A anáise só pode ter por meta o advento de uma faa verdadeira e a reaização, pelo sujeito, de sua história em sua relação com um futuro A manutenção dessa diaética opõe-se a qualquer orientação objetivante da análise, e colocar essa necessidade em relevo é capital para disceir a aberração das novas tendências manifes tadas na análise. É por um retoo a Freud que aqui iustraremos mais uma vez nossa formuação, e também pea observação do Homem dos Ratos, já que começamos a nos servir dea. Freud chega até a tomar certas iberdades com a exatidão dos fatos, quando se trata de atingir a verdade do sujeito Num dado momento, ele percebe o papel determinante desempenhado pela proposta de casamento, levada ao sujeito por sua mãe, na origem da fase atua de sua neurose Aliás, tivera um ampejo disso, como mostramos em nosso seminário, em razão de sua expe riência pessoa. Não obstante, ee não hesita em interpretar ao sujeito o efeito dea, como uma proibição instaurada por seu pai morto contra sua igação com a dama de seus pensamentos Isso não é apenas materiamente inexato. Também o é psico ogicamente, pois a ação castradora do pai, que Freud afirma aqui com uma insistência que poderíamos crer sistemática, só desempenhou nesse caso um papel papel secundário Mas, Ma s, a apercepç apercepção ão da reação dialética é tão correta que a interpretação de Freud, introduzida nesse momento, desencadeia a supressão decisiva dos símbolos mortíferos que ligam narcisicamente o sujeito, ao mesmo tempo, ao pai morto e à dama ideaizada, apoiando-se as imagens de ambos numa equivalência característica do ob sessivo, uma na agressividade fantasística que a perpetua, outra no culto mortificante que a transforma em ídolo
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Do mesmo modo, é reconhecendo a subjetivação forçada da dívida54 obsessiva a cuja pressão seu paciente se expõe até o delrio, delrio, no roteiro roteiro tão perfei perfeito to ao ao exprimir exprimir seus termos termos imaginá imagináio ioss que o sujeito sujeito tenta at atéé mesmo mesmo realizálo do pagamento vão, que Freud chega a seu objetivo: qual seja, fazê-o descobir, na história histór ia da indelicadeza do pai, do casamento deste com sua mãe, da moça pobre, pobre, mas bonita" , de seus amores feridos, da memória ingrata ao amigo saudável, com a conste ação fatídica que presidiu seu própio nascimento, a hiância impreenchível da dívida simbólica, da qua sua neurose constitui o protesto. Não há aqui nenhum vestígio de um recurso ao espectro ignóbi ignóbi de não sei que medo" original, original, nem tampouco tampouco a um masoquismo, mesmo que fácil de mobilizar, e menos ainda à contraimposição obsessiva que alguns propagam sob o nome de análise das defesas As próprias resistências, como mostrei ahures, são utiizadas peo maior tempo possível no sentido do progresso do discurso E, quando é preciso pôrlhes um termo, é cedendo a eas que o conseguimos Pois é assim que o Homem dos Ratos vem a introduzir em sua subjetividade sua verdadeira mediação, sob a foma trans ferencial da filha imagináia que ele dá a Freud para receber deste a aiança, e que, num sonhochave, desvealhe sua verda deira face: a da mote, que o olha com seus olhos de betume. Do mesmo modo, se é com esse pacto simbólico que se desfazem no sujeito os atifícios de sua sevidão, não lhe terá falt altado ado a reaidade reaidade para para consumar essas núpcias, e a nota, nota, à guisa gui sa de epitáfio, que Freud dedica em 1923 a esse rap rapaz az que que no isco da guerra encontro encontrou u o fim fim de tantos moços de vaor em quem que m se podiam depositar tantas esperanças" esperanças" , ao concluir o caso com o igor do destino, eevao à beleza da tragédia. Para saber como responder ao sujeito na anáise, o método consiste em reconhecer primeiro o ugar em que está seu ego, esse ego que o próprio Freud definiu como um ego formado por um núceo verbal; em outras paavras, em saber através de quem e a quem o sujeito formua sua pergunta. Enquanto não o soubermos, correremos o risco do contrasenso quanto ao desejo
54 Aqui equivalente, para nós ao termo
Zwangsbefrchtung, que convém decompor, sem nada perder dos recursos semânticos da língua alemã.
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que deve ser reconecdo al e quanto ao objeo a que se drige esse desejo. A sérca seduz esse objeo numa ntrga requntada, e seu ego está no tercero por cujo nermédo o sujeto goza com o objeo objeo em que sua quesão se enca O obsessvo arrasa para a jaua de seu narcssmo os objetos em que sua quesão se propaga no álb multplcado de magens mortas e, domando-es as acrobacas, drige sua ambígua omenagem ao camaroe em que ee mesmo se nstala, o do mesre/senhor que não se pode ver. Tahit sua quemque voluptas; 55 um se dentfca com o espe ácuo, e o outro dá a ver. Quanto ao primero sujeo, para quem o termo acting out assume seu sendo ltera, vocês êm que fazê-lo reconecer onde se stua sua ação, uma vez que ee atua fora de s mesmo Quano ao ouro, vocês êm que se fazer reconecer no espec ador, nvsível do paco, a quem o une a medação da more. É sempre, portanto, na relação do eu do sujeo com o [eu] de seu dscurso que vocês precsam compreender o sendo do dscurso, para desaenar o sujeto Mas, vocês não consegurão cegar a sso, caso se averem à déa de que o eu do sujeto é dênco à presença que les faa. Esse Ess e erro erro é estmuado pea termnooga termnooga da ópca, demasado enadora para o pensamento obj obj etvante, permtndo-lhe deszar des zar do eu, defndo como o ssema percepção-conscênca, so é, como o sstema das objetvações do sujeto, para o eu concebdo como correato de uma readade absouta, e assm enconrar a, num snguar retoo do recalcado do pensamento pscoogsta, a função do do rea" em que um um Perre Perre Janet paua suas concepções Ta deslzameno só se operou por não se reconecer que, na obra de Freud, a ópca do ego do id do superego esá es á subordnada à meapscooga, cujos termos ee promoveu na mesma época e sem a qua ea perde seu sentdo Assm, aguns se engajaram numa oropeda pscoógca que não pára de dar frutos Mcael Ban anasou de manera absolutamene penerant penerantee os efeos ntricados da eora e da écnca na gênese de uma nova concepção da anáse, e não encontrou nada meor para ndcar seu resutado do que a paavra de ordem que rerou de Rckman, do advento de uma two-body psychology
arrastado po seu prazer prazer (Virgíio, (Virgíi o, Éclogas). (N.E.) 55 . " Cada um é arrastado
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Seria impossíve dizer mehor, com efeio. A anáise trans formase na reação de dois corpos enre os quais se estabeece uma comunicação fanasísica, onde o analisa ensina o sujeio a se apreender como objeo; a subjetividade só é admiida no parênese da ilusão, e a fala é excluída de uma investigação da vivência que se toa a meta suprema, mas o resuado diaei camene necessário disso aparece no fao de que, sendo a sub jeividade do psicanalisa ivre de quaquer freio, ivra o sujeio a todas as inimações de sua fala. A ópica inra-subjeti inra-subjetiva, va, uma u ma vez enificada, enificada, de fao fao se reaiza re aiza na divisão do rabaho enre os sujeios presentes. E o uso deurpado da fórmua freudiana de que udo o que é id deve oar-se ego aparece de uma forma desmisificada; o sujeio, transformado num isso, tem de se submeer a um ego em que o anaista não terá dificudade de reconhecer seu aiado, pois, na verdade, é de seu próprio ego que se traa É esse mesmo o processo que se exprime em muias formu lações teóricas do spliting do ego na análise Metade do ego do sujeio passa para o ouro ado do muro que separa o analisando do anaisa, depois meade da meade, e assim sucessivamene, numa procissão assinóica que, no enanto, não conseguirá anular, por mais longe lo nge que a eve a opinião a que houver chegado o sujeio por si mesmo, toda margem a parir da qua ee possa revisar a aberração da anáise. Mas como o sujeio de uma anáise centrada no princípio de que odas as suas formuações são sisemas de defesa poderia proeger-se da desorientação tota em que esse princípio deixa a dialéica do anaista? A inerpreação de Freud, cujo procedimento diaéico aparece muito bem na observação de Dora, não apresenta esses perigos, pois, quando os preconceios do anaista (isto ( isto é, sua conr conratr atrans ans ferência, ermo cujo emprego correo, para nos satisfazer, não poderia esenderse aém das razões diaéticas do erro) o desvir tuam em sua inervenção, ele ogo paga o preço disso aravés de uma transferência negaiva. Pois esa se manifesa com força ano maior quanto mais uma dada anáise enha compromeido o sujeio com um reconhecimento auêntico, e habituamente se segue a rupura. Foi justamente o que aconeceu no caso de Dora, em razão da insisência de Freud em querer fazêla reconhecer o objeto ocuto de seu desejo na pessoa do Sr. K, na qua os preconceios
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constitutivos de sua contratransferência levaramno a ver a promessa de sua felicidade. Sem dúvida, a própria Dora era fingida nessa reação, mas nem por isso deixou de se ressentir vivamente de que Freud também o fosse. Quando ela toa a vê-lo, porém, após o prazo de quinze meses em que se inscreveu o número fatdico de seu tempo tempo para para compr compreend eender" er" , sentimola enveredar enveredar pelo caminho caminho de um fingimento de haver fingido, e a convergência desse fingimento ingimento em segund s egundo o grau com a intenção agressiva agressi va que Freud he imputa, decerto não sem exatidão, mas sem reconhecer sua verdadeira mola, apresenta-nos o esboço da cumpicidade inter subjetiva subjetiva que uma anáise das resistências" , confiante confiante em seus direitos, poderia ter perpetuado entre ees. Não há dúvida de que, com os meios que hoje nos são oferecidos por nosso progresso técnico, o erro humano poderia ter-se prorrogado para-aém dos imites em que se toa diabóico. Nada disso é de nossa avra, pois o próprio Freud reconheceu a posteriori a fonte prejudicial de seu fracasso no desconheci mento em que ee mesmo se achava, na época, a respeito da posição homossexua do objeto visado pelo desejo da histérica Sem dúvida, todo o processo que evou a essa tendência atua da psicanáise psicanái se remonta remonta antes de mais mais nada, à consciência consciênci a pesada do psicanalista peo milagre operado por sua faa Ee interpreta o símboo e eis que o sintoma, que o inscreve como letras de sofrimento na ce do sujeito, se apaga. Essa taumaturgia é chocante para nossos costumes. Pois, afina, somos doutos, e a magia não é uma prática defensáve defensáve.. Livramo-nos dela imputando imputando ao paciente um pensamento mágico. Dentro em breve, estaremos pregando a nossos doentes o Evangelho segundo Lévy-Bruhl Até lá eisnos retransformados em pensadores, e eis também restabeecidas as justas distâncias que é preciso saber guardar dos doentes, e das quais sem dúvida tnhamos abandonado meio apressadamente a tradição, tão nobremente expressa nestas linhas de Pierre Janet sobre as pequenas capacidades da histérica, comparadas a nossos pn pncar caros os:: Ea nada compreende compreende da ciên cia" , confia-nos confia-nos Janet, fa faando ando da pobrezinha pobrezinha e não imagina que possamos interessar-nos por isso . . . Se pensarmos pensarmos na falta falta de controe que caracteriza seu pensamento, em vez de nos escandalizarmos escandalizarmos com suas mentiras, mentir as, que aliás são muito ingênuas ficaremos surpresos, antes, de que ainda haja tantas que são sinceras" etc.
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Essas inhas, por representarem o sentimento a que votaram muitos muitos dos anaistas de hoe hoe que condescendem em falar falar " sua inguagem com o doente, podem servir-nos para compreende compreenderr o que se passou nesse meio tempo. Pois, se Freud tivesse sido capaz de assiná-las como poderia ter ouvido, da maneira como ouviu, a verdade incluída nas historietas de suas primeiras doentes, ou decifrado um delírio obscuro como o de Schreber, a ponto de ampliá-o proporcionamente ao homem eteamente acorrentado a seus símbolos? Será nossa razão tão frágil a ponto de não se reconhecer em pé de igualdade na meditação do discurso erudito e na troca primeira do objeto simbóico, e de não encontrar neles a medida idêntica de seu ardi original? Acaso será preciso embrar o parâmetro do "pensamento aos praticantes de uma experiência que mais aproxima sua ocupação de um erotismo intestino que de um equivaente da ação? Será preciso que este que lhes faa ateste que não tem, quanto a ele, necessidade de recorrer ao pensamento para compreender que, se hes está faando da faa neste momento, é na medida em que temos em comum uma técnica da fala que os toa aptos a ouvi-o quando ele hes faa disso, e que o predispõe a se dirigir, através de vocês àqueles que nada ouvem? Sem dúvida, temos que dar ouvidos ao não-dito que az nos furos do discurso, disc urso, mas isso iss o não é para ser ouvido ouvid o como pancada pancadass desferidas atrás do muro Pois para não mais nos ocuparm ocuparmos os,, como se gabam gabam alguns, alguns , senão desses ruídos devese convir que que não estamos situado situadoss nas condições mais propícias para lhes decifrar o sentido: como, sem a audácia de compreendêo, traduzir aquio que em si não é inguagem? Assim evados a apear para o sueito, uma vez que, no fim das contas, é para seu ativo que temos de transferir esse compreender, colocamo-lo conosco na aposta, que é rea mente que o compreendamos, e esperamos que uma recompensa nos toe a ambos ganhadores. Mediante o quê, prosseguindo nesse ritmo de vaivém, ele mesmo aprenderá muito simpesmente a marcar o compasso, forma de sugestão que é tão boa quanto qualquer outra, o que quer dizer que, como em qualquer outra,
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não se s e sabe quem faz a marcação. marcação. O método método é reconhecido como bastante seguro quando se trata de ir ao furo. 56 A meio caminho caminho dess de ssee extremo, extremo, coloca-se coloca-s e a pergunta: continua a psicanálise a ser uma reação diaética em que o não-agir do analista guia o discurso do sujeito para a reaização de sua verdade ou será que se reduz a uma reação fantasística em que dois abismos se roçam" sem se tocar, tocar, até o esgotamento da gama gama das das regressões imaginá imaginárias rias at atéé uma espécie de bundling57 levado a seus limites supremos em matéria de prova psicológica? De fato, a ilusão que nos impee a buscar a realidade do sujeito paraalém do muro da inguagem é a mesma pela qual o sujeito crê que sua verdade já está dada em nós, que a conhecemos de antemão, e é iguamente por isso que ee fica boquiaberto ante nossa intervenção objetivante. Sem dúvida ele não tem, por sua vez, que responder por esse erro subjetivo, que, decarado ou não em seu discurso, é imanente ao fato de ele haver entrado em análise e concuído seu pacto de princípios. E seria ainda menos possíve negligenciar a sub jetividade desse momento na medida em que encontramos nele a razão do que podemos chamar de efeitos constituintes da transferência, por eles se distinguirem por um índice de realidade dos efeitos constituídos que os sucedem 58 Freud, embremos, embremos, tocando tocando nos sentimentos reacionados com a transferência, insistia na necessidade de distinguir nees um fato fatorr de realidade realidade e e segundo segun do concuía, concu ía, seria abusar da dociidade do sujeito querer persuadio, na totaidade dos casos, de que
56 Dois parágrafos reescrtos (1966). 57. Designase por esse termo o costume de origem celta e ainda em uso em
certas seitas bílicas da América, que permite aos noivos e até ao hóspede passageiro que namore a moça da casa, dormirem juntos na mesma cama sob a condição de se manterem vestidos. A palavra extrai seu sentido do fato de a moça ser comumente empacotada em lençóis. (Quincey fala do assunto. Cf. também o livro de Aurand o Jovem sobre essa prática na seita dos amsh.) Assim, o mito de Tristão e !solda, ou o complexo que ele representa doravante apadrinharia o psicanalista em sua busca da alma prometida a esponsais mistifcantes aavés do esgotamento de suas fantasias instintuais. poranto, o que qu e designamos posterior posteriormente mente como o supore 58 Aí vemos denido, poranto, da transferência: nomeadamente o sujeitosuposto-saber (1966)
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esses senimenos são uma simples repeição ransferencial da neurose. Porano, como esses senimenos reais se manifesam como primeiros e o encano próprio de nossas pessoas é um faor aleaório, pode parecer que há algum misério nisso. Mas esse misério se esclarece ao ser considerado na fenomenologia do sueio, na medida em que o sujeio se consiui na busca da verdade. Basa recorrer aos dados radicionais que os budisas nos foecerão, se é que eles não são os únicos, para reconhecer nessa forma da ransferência o erro próprio da exisência, e sob rês caegorias que eles assim enumeram: o amor, o ódio e a ignorância Portano, é como conraefeio do movi meno analíico que enenderemos sua equivalência no que se chama cham a uma ran ransf sferê erência ncia origina originalmen lmene e posiiva cada qual enconrando meios de se esclarecer pelos ouros dois quano a esse aspeco exisencial, se não exceuarmos o erceiro, geralmene omiido por sua proximidade do sujeio Evocamos aqui a inveciva pela qual alguém nos omou por esemunhas da inconinência de que dava mosras um certo rabalho (á demasiadamene ciado por nós) em sua obeivação insensaa do funcionamen funcionameno o dos insinos na análise, alguém cu cu a dívida para conosco reconheceremos pelo uso exao que ali fez do ermo real. Era Era nesas palavras, com com efeio, efeio, que que ele " liberava liberava , como dizem, " seu cora coração ção : " Já é mais mais do que que hora hora de de acaba acabarr com essa vigarice que ende a levar a crer que sucede no raameno raameno se se a o que for de real Deixemos Deix emos de lado o que resulou daí, pois, infelizmene, se a análise não curou o vício oral do cão de que falam as Escriuras, seu esado é pior do que anes: é o vômio dos ouros que ele engole Pois essa irada não esava mal orienada, efeivamene bus cando a disinção, nunca anes produzida na análise, enre os regisros elemenares cuo fundameno desde enão esabelece mos neses ermos: simbólico, imaginário e real. A realidade na experiência analíica, com efeio, fica freqüen emene velada sob formas negaivas, mas não é demasiado rabalhoso siuála. Ela se enconra, por exemplo, no que habiualmene reprova mos como inervenções aivas; mas seria um erro definir seu limie por isso Pois esá claro, por ouro lado, que a absinência do analisa, sua recusa a responder, é um elemeno da realidade na análise.
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Mais exatamente, é nessa negatividade, na medida em que ea é pura, isto é, desvincuada de quaquer motivo particuar, que reside a junção entre o simbóico e o rea. O que se compreende peo fato de esse não-agir fundamentarse em nosso saber afir mado do princpio de que tudo o que é rea é raciona, e peo motivo da decorrente de que é ao sujeito que cabe descobrir sua dimensão De resto, essa abstinência não é indefinidamente sustentada; depois que a questão do suje sujeit ito o assume assu me a forma forma de faa verdadeira, nós a sancionamos com nossa resposta, embora também tenha mos mostrado que uma faa verdadeira já contém sua resposta, e que apenas reproduzimos com nosso ai seu refrão Que quer dizer isso, senão que nada fazemos a não ser dar à faa do sujeito sua pontuação diaética? Vê-se, portanto, o outro momento em que o simbóico e o rea se conjugam, e já o havamos apontado teoricamente: na função do tempo, o que merece que nos detenhamos por um momento nos efeitos técnicos do tempo O tempo desempenha seu pape na técnica em diversas inci dências Ee se apresenta iniciamente na duração da anáise tota, e impica o sentido a ser dado ao término da anáise, que é a questão prévia à dos signos de seu fim. Tocaremos no probema da fixação de seu término. Mas está caro desde já que essa duração só pode ser antecipada para o sujeito como indefinida Isso, por duas duas razões, que só podemos distinguir na perspectiva diaética: uma uma que que provém provém dos imites de nosso campo campo e con confir firma ma nossa coocação sobre a definição de seus confins: não podemos prever prever no sujeito sujeito qual qua l será ser á seu tempo pa compreener, na medida em que ee incui um fator psicoógico que nos escapa como ta; outra que que é propriam propriamente ente do sujeit sujeito, o, e pea qua a fixação fixação de um término equivae a uma projeção espaciaizante, onde ee se encontra desde ogo aienado de si mesmo já que o prazo de sua verdade pode ser previsto, advenha o que advier na inter subjetividade intervaar, é que a verdade já está dada, ou seja, restabeecemos no sujeito sua miragem origina, na medida em que ee deposita em nós sua verdade e em que, ao sancionar isso com nossa autoridade, instaamos sua anáise numa aberra ção, que será impossíve de corrigir em seus resutados
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Foi jusamene isso que aconeceu no célebre caso do Homem dos Lobos, cuj cuj a importância exempar foi tão bem compreendida compreendida por Freud que ee toou a se apoiar nea em seu artigo sobre a anáise finia ou infinia. 5 9 A fixação antecipada de um prazo, primeira forma de inter venção aiva, inaugurada (roh pudor!60) pelo próprio Freud, seja qual for a certeza divinatória (no sentido próprio do temo 6 1 ) de que possa da mostras o analista ao seguir seu exempo, sempre deixa o sujeito na alienação de sua verdade Aliás, enconramos a confirmação disso em dois fatos do caso de Freud: Primeiro, Primeiro, o Homem dos Lobos malgrado malgrado todo todo o feixe feixe de provas que demonsram a historicidade da cena primária, mal grado a convicção que ele manifesa a respeito dela, imper urbáve ante as dubiações metódicas cuj cuj a prova Freud he h e impõe j amais amais consegue, entre entreanto anto,, inegra inegrar-he r-he a reme rememora moração ção em sua história Segundo, o Homem dos Lobos demonsra uteiomente sua aienação da maneira mais caegórica, sob uma forma paranóide É verdade que aí se imiscui um outro fa faor or pelo qual a reaidade intefere na anáise, a saber, o dom pecuniário de cujo vaor simbólico nos resevamos traa em outro lugar, mas cuja im potância já se indica no que evocamos do vínculo da fala com o dom consitutivo da roca roc a primáia. primáia. Ora, aqui, o dom pecuniário pecuniário é inverido por uma iniciativa de Freud em que podemos reco nhecer, ano quano em sua insisência em votar ao caso, a subjetivação, não resovida nee, dos probemas que o caso deixa
59 Pois é essa a tradução correta dos dois termos que foram taduzidos com a
infalibidade infalibidade no conta-senso que já assinalam as sinalamos os por " análise tenável tenável e análise interm interminá inável vel pudor! r! (NE) 60. " Ó pudo A ulo Gálio, Noites áticas, 11, 4: Num processo processo quando quando se s e trat trataa de quem 6 1 Cf Aulo será encarregado da acusação e quando duas ou várias pessoas solicitam inscreverse para esse mister, o julgamento julgamento pelo qual o tribunal tribunal nomeia o acusador chamase chamase adivinhaçã adivinhação o ( . . ) Essa palavra provém de que sendo o acusador e o acusado duas coisas correlatas e que não podem subsistir uma sem a outra e apresentando apresentando o tipo de julgamento julgamen to de que se trata trata aqui um acusado a cusado sem acusador, acusador, há que recoer à adivinhação para descobrir o que a causa não indica o que ela continua a deixar desconhecido ou seja, o acusador.
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em suspenso. E nnguém duvda de que esse tena sido um fator desencadeador da pscose, aliás sem saber dizer muto bem por quê. Não será compreensível, no entanto, que admtr que um sujeito seja mantdo à custa do prtaneu da psicanálse (era de uma coleta do grupo que ele recebia sua pensão), a título do servço por ele prestado à cênca como caso, é também instituílo decisivamente na alienação de sua verdade? O material do suplemento de análse em que o doente fo confiado a Ruth Mack Brunswck ilustra a responsabldade do tratamento anterior, demonstrando nossas afrmações sobre os respectvos lugares da fala e da linguagem na medação psica nalítica. Mas anda, é na perspectva deles que podemos apreender como Rut Mack Brunswck, em suma, não se balizou nada mal em sua posção pos ção delcada com respeto respeto à transfer transferênca. ênca. (Havemos de estar lembrados do própro própro muro de de nossa n ossa metáfora, na medida em que ele fgura num dos sonhos, com os lobos do sonocave mostr mostran ando-se do-se ávidos ávidos de contoá-lo contoá-lo. . . ) Nosso seminário sabe tudo isso, e os outros poderão aí se exercer nele. 62 Queremos com efeto, tocar num outro aspecto, partcular mente palptante na atualdade, da função do tempo na técnica. Queremos falar da duração da sessão. Aqui, trata-se anda de um elemento que pertence manifesta mente à realidade, já que representa nosso tempo de trabalho, e, por esse ângulo, enquadrase numa regulamentação profssio nal que pode ser consderada vigente Suas ncidências subjetivas, porém, não são menos mportan tes. Antes de mais nada, para o analista O caráter tabu com que ele tem sdo apresentado em debates recentes é prova suficiente de que a subjetvdade do grupo está muto pouco liberada a seu respeto, e o caráter escrupuloso, para não dzer obsessvo, que assume para alguns, senão para a maora, a observação de um padrão cujas variações histórcas e geográficas não parecem inquietar ninguém, alás, é realmente o snal da existência de um problema que se está tão menos disposto a abordar quanto mais se sente que ele levaria muito longe no questionamento da função do analsta
62.
Dois parágafos reescitos ( 966).
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Para o sujeito em análise, por outro ado, não se pode desco nhecer sua imporância. O inconsciene, profere-se num om ão mais enendido quano menos se é capaz de jusificar o que se quer dizer, o inconsciene demanda empo para se revelar. Estamos de pleno acordo. Mas, perguntamos: qual é sua medida? Será a do universo da precisão, para empregar a expressão do sr. Alexandre Koyré? Sem dúvida, vivemos nesse universo, mas seu adveno para o homem é de data recente, já que remona exatamene ao reógio de Huyghens, ou seja, ao ano de 1659, e o maesar do homem modeo não indica precisamente que ta precisão seja para ele um faor de liberação. Esse empo da queda dos graves, será ele sagrado como correspondente ao empo dos astros tal como insaurado no eeo por Deus, que, como nos disse d isse Lichtenberg, Lichtenbe rg, reordena reordena nossos quadranes quadranes solares? solare s? Quem sabe tenhamos idéia mehor disso ao comparar o empo da criação de um objeo objeo simbólico com o momento de desatenção em que o deixamos cair? Como quer que seja, se o rabalho de nossa função durane esse es se tempo continua probemáico, cremos cremos er posto posto em evidência suficientemene a função do rabalho no que o paciente nele reaiza Mas Ma s a reaidade reai dade desse tempo, tem po, sej a ea qual for, for, assume a parti partirr daí um valor local, o de um recebimeno do produto desse trabalho. Desempenhamos um papel de regisro, ao assumir a função, fundamental em oda troca simbóica, de recoher aquilo a que do kamo, o homem em sua autenticidade, evoca a fala que dura. Tesemunha que responde pela sinceridade do sujeito, depo siário do processoverba de seu discurso, referência de sua exaidão, garante garante de sua integridade, guardião de seu tesameno, tabelião de seus codicios, o anaista paricipa do escriba. Mas continua mesre e senhor da verdade verdade da qua esse discurso discu rso é o progresso. É ee, antes de mais nada, que ponua, como dissemos, sua dialéica. E nisso, ele é apreendido como juiz do mérito desse discurso. O que comporta duas conseqüências. A suspensão da sessão não pode deixar de ser experimenada pelo sujeio como uma ponuação em seu progresso Sabemos como dea calcula o vencimento para articuála a seus próprios prazos ou mesmo a suas escapatórias, como a anecipa, sope sando-a à maneira de uma arma, espreitando-a como um abrigo.
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Esse é um fato bem constatado na prática dos textos das escrturas simbólicas, quer se trate da Bília ou dos textos canônicos cineses: neles, a ausência de pontuação é uma fonte de ambigüidade, a pontuação colocada fixa o sentido, sua mu dança danç a o transf transforma orma ou o transtoa e, errada, errada, equivale equiv ale a alterálo. A indiferença com que o corte do timing interrompe os momentos de pressa no sujeito pode ser fatal para a conclusão rumo à qual se precipitava seu discurso, ou mesmo cristalizar nela um mal-entendido, senão servir de pretexto para um ardil distorsivo Os debutantes parecem mais atingidos pelos efeitos dessa incidência, o que dos outros faz pensar que suportam sua rotina. Decerto, a neutralidade que manifestamos ao aplicar estrita mente essa regra mantém a via de nosso nãoagir. Mas, esse nãoagir tem limites, ou então não averia interven ção: ção : e por que toála impossível nesse ponto, assim privilegiado? privile giado? O perigo de que esse ponto assuma um valor obsessivo no analista está, simplesmente, em que ele se presta à conivência do sujeito: não apenas acessível ao obsessivo, mas nele assu mindo um vigor especial, justamente por seu sentimento do trabalo. Sabemos do toque de trabalo forçado que, nesse sujeito, envolve até seu lazer. Esse sentido é sustentado por sua relação subjetiva com o mestre/senhor, na medida em que é a morte deste que ele espera O obsessivo manifesta, manifesta, com efeito, efeito, uma das atitudes que Hegel não desenvolveu em sua dialética do senor e do escravo O escravo esquivou-se ante o rsco da morte, onde a oportunidade de dominação lhe foi oferecida numa luta de puro prestígio. Mas, como sabe ser mortal, ele também sabe que o mestre/senor pode morrer. Por conseguinte, pode concordar em trabalhar para o mestre/senhor e em renunciar ao gozo nesse meio tempo: e, na incerteza do momento em que chegará a morte do mestre/ senor, ele aguarda. Tal é a razão intersubjetiva tanto da dúvida quanto da pro crastinação que são traços de caráter no obsessivo. Entretanto, todo o seu trabalho se efetua sob a égide dessa intenção e se toa, por essa égde, duplamente alienante. É que não somente a obra do sujeito le é furtada por um outro, o que é a relação constitutiva de todo trabal trabalo, o, como o reconhecimento, reconhecimento , pelo sujeito, de sua própria essência em sua obra, onde esse trabalho encontra sua razão, escapa-lhe igualmente, pois ele
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própro não está al" 63 , está no momento antecpado da morte do mestre/senhor, a partr da qual vverá, mas à espera da qual se dentfca com ele como morto, medante o que ele mesmo já está morto Não obstante, ele se esforça por enganar o mestre/senhor através da demonstração das boas ntenções manfestadas em seu trabalho É sso que os bons flhos do catecsmo analítco exprmem em sua lnguagem rude, ao dzerem que o ego do sujeto procura seduzr seu super-ego. Essa formulação ntra-subetva desmstfca-se de medato ao se compreendê-la na relação analítca, onde o working through do sujeto é efetvamente utlzado para a sedução do analsta. Tampouco é por acaso que, tão logo o progresso dalétco se aproxma do questonamento das ntenções do ego em nossos suetos, a fantasa da morte do analsta, mutas vezes sentda sob a forma de um temor, ou mesmo de uma angústa, nunca dexa de se produzr. E o sujeto trata de partr novamente numa elaboração anda mas demonstr demonstratva atva de sua boa vontad vontade e . Como duvdar, por consegunte, consegun te, do efeto de de um certo desdém assnalado ass nalado pelo mestre/senhor quanto ao produto produto desse de sse trabalho trabalho?? A resstênca resstênc a do su s uj eto pode verse absolutamente absolutamente desconcertada desconcertada por sso. A partr desse momento, seu álb até então nconscente começa a se desvelar para ele, e o vemos procurar apaxonada mente a razão de tantos esforços. Nãoo drí Nã dríam amos os tanto, tanto, se não estvéssemos convencdos de que, ao expermentar num momento de nossa experiênca, chegado à sua conclusão, conclus ão, aqulo que fo fo chamado chamado de nossas sessõ s essões es curtas, pudemos fazer vr à luz num dado sujeto masculno fantasas de gravdez anal, com o sonho de sua resolução por cesarana, num prazo em que, de outro modo, anda estaríamos escutando suas especulações sobre a arte de Dostoevsk. Alás, não estamos aqu para defender esse método, mas para mostrar que ele tem um sentdo dalétco precso em sua aplca ção técnca 63
express ão que também também tem tem o sentido senti do "não " não compreend compreende e , " n 'y est pas : expressão " não entende (nada) (nada) (NE) (N E) Pedra Pedra sem valor ou pedra pedra anguar noss no sso o for forte te é não ter cedido cedido quanto a esse es se ponto (1966).
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E não somos o único a er eito a observação de que ee se aproxima, em útima insância, da écnica designada peo nome de zen, e que é apicada como meio de revelação do sujeio na ascese radicional de certas escoas do Extremo Oriente Sem chegar aos exremos a que é evada essa técnica, uma vez que ees seriam conrários a algumas das limiações que a nossa se impõe, uma aplicação discrea de seu princípio na análise parecenos muio mais admissível do que certas modaidades dias anáise das resistências, na medida em que ela não comporta em si nenhum perigo de alienação do sujeito Pois ela só rompe o discurso para parir a ala. Eis-nos, pois, acuados contra o muro, conra o muro da linguagem. Estamos em nosso lugar, isto é, do mesmo lado que o paciente, e é nesse muro, que é o mesmo para ele e para nós, que entaremos responder ao eco de sua ala. Para-além desse muro, não há nada que não seja, para nós, trevas exteriores. Quererá isso dizer que somos inteiramente senhores da siuação? Ceramene não e, quanto a isso, Freud nos egou seu esameno sobre a reação terapêuica negativa. A chave desse mistério, dizem, esá na instância de um masoquismo primário, ou seja, numa maniestação em estado puro daquele insinto de morte cujo enigma Freud nos propôs no apogeu de sua experiência Não podemos podemos ia iarnos rn os niss ni sso, o, assim como não poderemos poderemos adiar aqui seu exame. Pois observaremos que se conjugam, numa mesma recusa desse arremae da dourina, aqueles que conduzem a anáise em too de uma concepção do ego cuj o erro erro denunciamos, e aaque quees es que, como Reich, Reic h, vão tão onge no n o princípio princípio de busca busc ar para-além da aa a ineáve expressão orgânica, que a im de, como ee, livráa de sua armadura, poderiam simboizar, na superposição das duas formas vermicuares cujo espantoso esquema podemos ver em seu ivro sobre a análise do caráter a indução orgásica que, ambém como Reich, ees esperam da anáise. Conjunção que sem dúvida nos permiirá augúrios avoráveis quanto ao rigor das ormações do esprito, quando ivermos mosrado a prounda reação que une a noção de insinto de morte aos probemas da fala. A noção noção de insino insino de mort morte, e, por menos meno s que a consideremos, propõese como irônica, devendo seu senido ser buscado na
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conjunção de dois ermos conrários: o instino, com efeio, em sua acepção mais abrangene, é a lei que regula em sua sucessão um ciclo c iclo comporamen comporamental tal para a realização de uma u ma função função vial, e a more aparece desde logo como a destruição da vida No entanto, a definição que Bichat, no desponar da biologia, foeceu da vida, como conjuno das forças que resistem à morte, bem como a mais moderna concepção que encontramos em um Cannon na noção de homeostase, como função de um sistema manenedor de seu próprio equilírio, esão aí para nos lembrar que vida e morte se compõem numa relação polar, no próprio seio de fenômenos relacionados com a vida Por conseguine, a congruência dos ermos contrastanes do insino de more com os fenômenos de repetição com que a explicação de Freud os relaciona, efetivamente, sob a qualifica ção de auomatismo, não deveria causar dificuldades, caso se traasse de uma noção biológica Todos sentem muio bem que não é nada disso, e aí está o que faz muios de nós ropeçar em seu problema. O fato de muios se deterem ane a aparente incompaibilidade desses ermos ermos pode pod e aé reter nossa nos sa aenção, por manifestar manifestar uma uma inocência dialéica que sem dúvida desconceraria o problema classicamente formulado à semânica no enunciado determinaivo uma aldeola no Ganges, com a qual a estéica hindu ilustra a segunda forma das ressonâncias da linguagem. 65 Convém de fato abordar essa noção por suas ressonâncias no que chamaremos a poética da obra freudiana, primeira via de acesso para penetrar em seu sentido e dimensão essencial para compreender sua repercussão dialética, desde as origens da obra aé o apogeu que ela marca nesa. Convém lembrar, por exemplo, que Freud nos aesa haver descobero sua vocação médica no apelo ouvido numa leiura pública do famoso Hino à natureza de Goehe, ou seja, nesse exo, enconrado por um amigo, em que o poeta, no declínio de sua vida, concordou em reconhecer um filho puaivo das mais jovens efusões de sua pena No extremo oposto da vida de Freud, encontramos no arigo sobre sobre a análise finita e infinia infinia a refer referência ência expressa de sua s ua nova
65.
É a forma chamada Laksanalaksana.
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concepção ao conflito dos dois princípios a que Empédocles de Agrigento, no século V antes de Cristo, ou seja, na indistinção pré-socrática da natureza e do espírito, submeteu as alteâncias da vida universal. Esses dois fatos são-nos uma indicação suficiente de que se trata, ali, de um mito da díade, cuja promoção em Platão é Para- além do princ pri ncíípio pi o do prazer praz er mito que evocada, aliás, em Para-além só pode ser compreendido na subjetividade do omem modeo ao se o elevar à negatividade do juízo em que ele se inscreve. Ou seja, assim como o automatismo de repetição, que é igualmente desconecido quando se quer dividir seus termos, não visa outra coisa senão a temporalidade istorcizante da experiência da transferência, o instinto de morte exprime essen cialmente o limite da função histórica do sujeito. Esse limite é a morte, não como término eventual da vida do indivíduo, nem como certeza empírica do sujeito, mas, segundo a fórmula que dele foece Heidegger, como possibilidade absolutamente pró pria, incondicional, insuperável, certeira e, como tal, indetermi nada do suj suj eito" , quer dizer, do suj suj eito definido por sua isto ist o rcidade. Com efeito, esse limite está presente a cada instante no que essa história tem de acabado Ele representa o passado sob sua forma real, isto é, não o passado físico, cuja existência é abolida, nem o passado épico, tal como se aperfeiçoou na obra da memória, nem o passado istórico em que o homem encontra o garante de seu futuro, mas o passado que se manifesta revertido na repetição.66 É esse o morto do qual a subjetividade faz seu parceiro na tría tríade de que sua su a mediação institui no n o conlito universal entre entre Philia, o amor, e Neikos a discórdia. Não á mais necessidade, portanto, de recorrer à noção ultrapassada de masoquismo primário para compreender a razão dos jogos repetitivos em que a subjetividade fomenta, conjun tamente, tamente, o domínio domínio de sua su a derrelição derrelição e o nascimento nasciment o do símbolo. símbol o. t ês palavras, nas quais se inscreve nossa n ossa última últ ima for formulação mulação da repetição repetição 66 Essas tês ( 1 966 966) ) vieram substituir um recurso recurso impró impróprio prio ao eteo retoo" retoo" que era tudo o que podíamos fazer ouvir então.
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Foam esses jogos de ocultação que Feud, numa intuição genial, poduziu, a nosso ver, paa que nees reconhecêssemos que o momento em que o desejo se humaniza é também aquee em que a ciança nasce para a linguagem Podemos agoa discei que o sujeito não domina aí apenas sua pivação, assumindo-a, mas que eleva seu desejo a uma potência secundária Pois sua ação destrói o objeto que ela faz apaece e desapaece na provocação antecipatóia de sua au sência e sua presença Ela negativiza assim o campo de forças do desejo, para se toa, em si mesma, seu própio objeto E esse objeto, ganhando corpo imediatamente no pa simbóico de dois dardejamentos elementaes, anuncia no sujeito a integração diacônica da dicotomia dos fonemas, da qual a linguagem existente ofeece a estutura sincônica a sua assimilação; do mesmo modo, a criança começa a se compromete comprometerr com o sistema do discurso conceto do ambiente, repoduzindo mais ou menos aproximativamente, em seu Fort! e em seu Da!, os vocábuos que dee recebe Fort! Da! É realmente já em sua solidão que o desejo do filho do homem toase o desejo de um outro, de um alter ego que o domina e cujo objeto do desejo é, doravante, seu própio sofimento Se a criança se diige agoa a um paceiro imagináio ou real, vêloá obedece igualmente à negatividade de seu discurso e, tendo seu apeo como efeito fazê-o esquiva-se, ela pocuraá numa intimação banidoa a povocação povocação do etoo que a econduz a seu desejo. Assim, o smbolo se manifesta iniciamente como assassinato da coisa, e essa mote constitui no sujeito a eteização de seu desejo. O pimeio smbolo em que econhecemos a humanidade em seus vestgios é a seputura, e a intermediação da morte se reconhece em quaquer relação em que o homem enta na vida de sua históia. Única vida que pedua e que é vedadeia, uma vez que se tansmite sem se pede na tadição pepetuada de sujeito paa sujeito. Como não ve de que altuas ea transcende a vida hedada peo anima, e na n a qua o indivíduo evanesce evanesce na espécie, já que nenhum memoria distingue seu efêmero apaecimento
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daquele que a reproduzirá na invariabiidade do tipo? Postas de lado, com efeito, as mutações hipotéticas do phylum a serem integradas por uma subjetividade que o homem ainda aborda apenas de fora, nada, a não ser as experiências em que o homem a associa, distingue um rato de um rato, um cavalo de um cavao nada senão senão a passagem inconsistente da da vida para a morte morte , ao passo que Empédocles, precipitandose no Etna, deixa para sempre presente na memória dos homens esse ato simbólico de seu ser-para-a-morte. A liberdade do homem inscreve-se inteira no triângulo cons titutivo da renúncia que ee impõe ao desejo do outro, pea ameaça da morte para o gozo dos futos de sua servidão sacrifício consentido de sua vida pelas razões que dão à vida humana humana sua dimens dimensão ão e pela renún renúncia cia suicida suicida do do vencido, vencido, que frustra da vitória o mestre/senhor que ele deixa entregue à sua desumana solidão. Dessas imagens da morte, a terceira é o supremo desvio pelo qual a paticularidade imediata do desejo, reconquistando sua forma inefável, encontra na denegação um derradeiro triunfo. E é preciso reconhecermos seu sentido, pois com ea nos confron tamos. Ea não é, com efeito, uma perversão do instinto, mas aquela afirmação desesperada da vida que é a forma mais pura em que reconhecemos o instinto de morte. O sujeito diz "Não! a esse brincar-de-passar-anel da inter subjetividade, sub jetividade, onde o desejo desejo só se faz reconhecer por um instante para se perder num querer que é querer do outro Pacientemente, ele subtrai sua vida precária das agregações docilizantes do Eros do símboo, para afirmá-la enfim numa maldição sem paavras. Por isso, iss o, quando qu ando queremos querem os atingir no sujeito sujeito o que havia hav ia antes dos jogos jog os seriais seriais da fala, fala, e aquio que é primordial primordial no nascimento nasci mento dos símbolos, vamos encontrá-lo na morte, morte, de onde onde sua existência exist ência retira tudo o que tem de sentido. É como desejo de morte, de fato, que ee se afirma para os outros; se ee se identifica com o outro, é cristaizandoo na metamorfose de sua imagem essen cia, e nenhum ser jamais é por ee evocado senão entre as sombras da mote. Dizer que esse sentido morta revela na faa um centro exteo exteo à linguagem é mais do que uma metáfora, e evidencia uma estrutura. Essa estrtura é diferente da espacialização da circun
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ferência ou da esfera onde nos comprazemos em esquematizar os limites do vivente e de seu meio: ela corresponde, antes, ao grup grupo o relaciona! que a lógica lógi ca simbólica si mbólica designa topologicamen topologicamente te como um anel. Ao querer foecer dele uma representação intuitiva parece que, mais do que à superficialidade de uma zona, é à forma tridimensional de um toro que conviria recorrer, na medida em que qu e sua s ua exterioridade exterioridade periférica periférica e sua s ua exterioridad exterioridadee central constituem apenas uma única região. 67 Esse esquema satisfaz a circularidade sem fim do processo dialético que se produz quando o sujeito se apercebe de sua solidão quer na ambigüidade vital do desejo imediato quer na plena assunção de seu ser-para-a-morte. Mas nele se pode apreender ao mesmo tempo que a dialética não é individual, e que a questão do término da análise é a do momento em que a satisfação do sujeito encontra meios de se realizar na satisfação de cada um, isto é, de todos aqueles com quem ela se associa numa obra humana Dentre todas as que se propõem neste século, a obra do psicanalista talvez seja a mais elevada porque funciona como mediadora entre o homem da preocupação e o sujeito do saber absoluto Isso também se dá porque ela exige uma longa ascese subjetiva, e que jamais será interrompida não sendo o fim da própria análise didática sepa rável do engajamento do sujeito em sua prática Que antes renuncie a isso, portanto quem não conseguir alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época. Pois como poderia fazer de seu ser o eixo da tantas vidas quem nada soubesse da dialética que o compromete com essas vidas num movimento simbólico. Que ele conheça bem a espiral a que o arrasta sua época na obra contínua de Babel, e que conheça sua função de intérprete na discórdia das línguas Quanto às trevas do mundus ao redor do qual se enrosca a imensa torre que ele deixe à visão mística a tarefa de ver elevarse ali, sobre um bosque eteo a serpente putrefaciente da vida. Permitam-nos rir, se imputarem a estas colocações que elas desviam o sentido da obra de Freud das bases biológicas que
67 Premissas da topologia que vimos exercitando há cinco anos (1966).
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ee lhes teria augurado e enveredam pelas referências culturais por que ela é perpassada Não queremos pregar-lhes aqui nem a doutrina do fator b pea qual designaríamos umas, nem a do fator c, onde reconheceríamos as outras. Quisemos apenas re lembrar-lhes o a b c desconhecido da estrutura da linguagem, e fazê-os soletrarem de novo o bê-á-bá, esquecido, da faa. Pois, que receita haveria de guiá-los numa técnica que se compõe de uma e extrai seus efeitos da outra, se vocês não reconhecessem de uma e de outra o campo e a função. A experiência experiência psicanaítica p sicanaítica descobriu desco briu no homem o imperativo do verbo e a lei que o formou à sua imagem Ela manea a função poética da inguagem ingua gem para dar ao ao dese des e o dee sua mediação simbóica. Que ela os faça compreender, enfim, que é no dom da faa68 que reside toda a reaidade de seus efeitos; pois foi através desse dom que toda realidade chegou ao homem, e é por seu ato contínuo que ele a mantém. Se o espaço definido por esse dom da faa tem que bastar para a ação de vocês e para seu saber, ele bastará também para seu devotamento. Pois oferece um campo privilegiado Quando os devas, os homens e os assuras, lêse no primeiro Brahmana da quinta ição do Bhrd-aranyaka Upanishad, ter minaram seu noviciado com Prajapati, fizeramlhe esta súplica: Faanos" Da" , disse Praj Praj apati, o deus do trovão. trovão. Haveisme ouvido?" E os devas respon responder deram: am: Tu nos disseste: dissest e: Damyata, domaivos" querend querendo o o texto texto sagrado sagrado dizer que as potências superiores submetem-se à lei da faa. Da" diss di ssee P Pra raapati, apati, o deus do trovão. trovão. Haveis-me ouvido?" E os homens resp respond ondera eram: m: Tu nos disseste Datta, dai" querendo o texto sagrado dizer que os homens se reconhecem peo dom da fala. Da", disse Praj Praj apati, apati, o deus do trovão trovão Haveis-me Havei s-me ouvido?" E os assuras responderam: Tu nos disseste: Dayadhvam, per-
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Entenda-se bem que não se trata trata aqui dos " dons que são sempre reputados reputados como faltando aos novatos, mas de um tom que com efeto lhes falta mas do que lhes convra.
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doai" doai" - queren querendo do o texto texto sagrad sagrado o dizer dizer que que as potência potênciass inferiores ressoam à invocação da fala. 69 Eis a, retoma o texto o que a voz divina faz ouvir no trovão Submissão, dom perdão. Da da da. Pois Praj Praj apati apati a todos responde: Vós me ouvistes. "
69 Ponge ecreve isso como
réson
(1966).