1957 A
INSTÂNCA DA LETRA NO INCONSCENTE
EscRITos Jues Lacan CAMPO FREUDIANO NO BRASIL
A instância da letra no inconsciente ou a razão desde de Freud
Crianças de cueios
Oh, cidades do mar vejo em vós vossos cidadãos, homens e mulheres, com braços e peas estreitamente atados em sólidos e só laços por pessoas que não entenderão vossa entre vós podereis desabafar, por lamentos e suspiros, vossas dores e vossos pesares pea iberdade perdida. Pois aqueles que vos agrilhoam não compreenderão vossa língua, tal como não os compreendereis. (Cadeos de Leonardo da Vinci1) Se o tema do volume 3 de L Psychanalyse2 encomendou-me esta contribuição, devo de vo tal deferência ao que nela se irá descobrir, descobrir, por introduzi-la situandoa entre o escto e a fala: ela ficará a meio caminho. O escrito distinguese, com efeito, por uma prevalência do texto, no sentido que veremos ser assumido aqui por esse fator do discurso o que permite a concisão que, a meu ver, não deve deixar ao leitor outra saída senão a entrada nele, que prefiro difícil. Este, pois, não será um escrito, como o entendo. A propiedade que confio de alimentar mnhas lições de semnário com uma contbuição sempre inédita impediume, até hoje, hoje, de foecer foecer delas delas um texto texto assim, assim, a não ser o de uma, uma qualquer, aliás, em sua sucessão, e ao qual só se justifica nos repotarmos aqui pela escala escala da tópica tópica que lhes é própa. Pois a urgência de que agora extraio como pretexto para deixar de lado esse propósito só faz encobrir a dificuldade de que, ao sustentá-lo na escala em que devo aqui apresentar meu ensino,
Atlatico 145 ra ra trad. Louise Servicen, Par Paris is,, Gallima Gallimard rd volII volI I 1. Codice Atlatico p40 2. Psychanalyse et sciences de l'homme. 496
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ele não se distancie demais da fala, cujas medidas diferentes são essenciais para o efeito de formação que procuro Eis por que adotei essa linha de um debate que me foi solicitado num dado momento pelo grupo de filosofia da Fede ração dos Estudantes de Letras, 3 por nele nele encontrar a acomodação propícia a minha exposição: exposiçã o: sua generalidade necessária mostra combinar combi nar com o caráter carát er ex extraordinár traordinário io do público públi co formado por eles, mas seu objeto único depara com a conivência da qualifi cação que eles têm em comum, a literária à qual meu título presta homenagem Como esquecer, de fato, que Freud sustentou com constância e até seu fim a exigência primordial dessa qualicação para a formação dos analistas, e que apontou na universitas littearum de de sempre o lugar ideal para sua su a instituição? 4 Assim o recurso ao movimento desse discurso restaurado ao vivo marcou, de quebra através daqueles a quem eu o destino, aqueles a quem não se dirige Ou seja: nenhum daqueles que seja para que finalidade for na psicanálise toleram que sua disciplina se valha de uma falsa fals a identidade Vício de hábito e tamanho em seu efeito mental que a própria identidade verdadeira pode parecer um álibi entre outros, do qual se espera ao menos que a reprodução renada não escape aos mais sutis. sutis . Assim é que observamos com curiosidade a reviravolta que se esboça, no que concee à simbolização e à linguagem no Inteational Joual of Psychoan Psychoanalysis, alysis, com grande reforço de dedos dedos úmidos a revirarem os fólios de Sapir e Jespersen Jespers en Esses Esse s exercícios ainda são novatos mas é sobretudo seu tom que está por fora. Uma certa seriedade faz sorrir quando quand o entra no verídico E como não haveria até mesmo um psicanalista de hoje de sentir que chegou a isso a tocar na fala, quando sua experiência recebe dela seu se u instrumento, seu se u enquadre, seu se u materal e até o ruído de fundo de suas incertezas?
A exposição teve lugar em 9 de maio maio de de 1957 no anfteao Desartes na na Sorbonne, e a discussão prosseguu diante das taças 4 Die Frage der Laienanalyse, GW XIV p.281-3.
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I. O sentido da letra
Nosso título dexa claro que, para-além dessa fala, é toda a estrutura da nguagem que a experênca pscanalítca descobre no nconscen ncon scente te Pondo desde logo o espírto espí rto prevendo em alerta, alerta, porquanto é possíve possí ve que ee tenha de reavaar a déa segundo a qual o nconscente é apenas a sede dos nstntos Mas essa letra, como se há de tomála aqu? Muto smpes mente, mente , ao pé da letra letra Desgnamos por letra este suporte matera que o dscurso concreto conc reto toma emprestado empre stado da lnguagem Essa defnção defnç ão smpes supõe que a lnguagem não se confunda com as dversas funções somátcas somátca s e psíqucas que a desservem no sujeto suje to falante Pela razão prmera de que a lnguagem, com sua estrutura, preexste à entrada de cada sujeto num momento de seu desen volvmento menta Notese que que as afasas, causadas por por lesões lesões puramente puramente anatô anatô mcas nos aparelhos cerebras que conferem a essa e ssass funções seu centro mental, reveam, no conjunto, dstrbur seus défcts segundo as duas vertentes do efeto sgncante do que aqu chamamos de letra, na criação da sgnfcação s gnfcação5 Indcação que se escarecerá peo que vrá a segur Também o sujeto, se pode parecer servo da lnguagem, o é anda mas de um dscurso em cujo movmento unversal seu luga lu garr já está est á nscrto n scrto e m seu se u nascmento, nascment o, nem ne m que que seja sej a sob a forma de seu nome própro A referênca à experênca da comundade e da substânca desse dscurso não resolve nada Pos essa es sa experênca adqure sua dmensão essencal na tradção nstaurada por esse dscurso. Essa tradção, muto antes que nela se nscreva o drama hstórco,
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Esse aspecto muto sugestivo por derrubar a perspectva da "função psco lógca que tudo obscurece nessa ne ssa matéra apa aparece rece lumnoso lumno so na análse pura pura mente ingüístca das duas grandes formas de afasia que um dos expoentes da lngüístca lngüí stca modea Roman Jakobson Jakobso n pôde efetuar. efetuar. Cf. na n a mais acessível de Fundamentas of Language Language (com Morrs Halle) Mouton and Co., suas obras Fundamentas 'S-Gravenhage os capítulos I a IV da Segunda Parte bem como a coletânea de traduções que devemos aos cudados de Ncolas Ruwet, publcada pela edtora Mnuit sob o título Essais linguistiques.
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funda as estr estruturas uturas elementares da cultura E essas mesmas estrut estrutura urass revelam uma ordenação das trocas que, embora in consciente, é inconcebível fora das permutações permutações autorizadas pela linguagem. Donde resulta que a dualidade etnográfica da natureza e da cultura cultura está em vias de ser ser substituída po porr uma concepção teári teáriaa natureza natureza,, sociedade sociedade e cultura cultura da condiçã condição o humana, humana, na qual é bem possível que o último termo termo se reduziu à linguagem, linguag em, ou seja, àquilo que distingue essencialmente a sociedade humana das sociedades naturais naturais Mas nisso não tomamos partido nem partida, deixando entre gues a suas trevas as relações originais do significante com o trabalho. trabalho. E nos contentando, para para fazer uma piada com a função geral da práxis na gênese da história, em destacar que a própria sociedade que teria restabelecido em seu direito político, com o prvilegiamento dos pr prod odutores, utores, a hiera hierarquia causal das relações de pr prod odução ução nas superest superestrutu ruturas ras ideológicas, nem po porr isso gerou gerou um esper esperan anto to cujas cujas relações com o real real socialista tenham posto fora de debate, pela raiz, qualquer qualquer possibilidade possibilid ade de formalismo formalismo literári literário o6 De nossa parte, vamos ar-nos apenas nas premissas que viram viram seu valor confirmado confirmado pelo fato de a linguagem lingu agem ter efeti vamente vamen te conquistado, na experiência, experiência, seu status de objeto cien tífico. Pois é por esse fato que a lingüística7 se apresenta numa posição-piloto posição-piloto nesse campo em too do qual uma reclassificação reclassificação das ciências assinala, como é de costume, uma revolução do conhecimento: conhecimento: e somente as necessidades da comunicação fazem com que o inscrevamos inscrevamos no frontispício frontispício deste volume sob so b o título de "ciências do homem , malgrado malgrado a confusão que aí pode encontra encontrarr meios de se acobertar acobertar..
6 Havemos de estar lembrados de que a discussão conceente à necessidade do advento de uma nova linguagem na sociedade comunista realmente teve ugar, e de que Stalin, para alívio dos que confiavam em sua losoa, decidiu-a nestes termos: a inguagem não é uma superestrutura. 7 A lingüística frisamos, ou seja, o estudo das línguas existentes em sua estrutura e nas leis que nela se revelam revelam o que deixa de fora a teoria teoria dos códigos códigos abstratos abstratos impropriamen impropriamente te eevada à categoria categoria da teoria da counica c ounicação, ção, ou a chamada teoria constituída pea física, da informação, ou qualquer seologia mais ou menos hipoteticamente generalizada
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Para marcar o surgmeno da dscplna lngüísca, dremos que ela se sustenta, como aconece com oda cênca no sendo modeo, no momento consttutvo de um algormo que a funda Esse algormo é o segunte s
s que se lê: sgnfcane sobre sgnfcado, correspondendo o "so bre à barra que separa as duas etapas O sgno assm redgdo merece ser arbuído a Ferdnand de Saussure, embora não se reduza reduza esrtamente esr tamente a essa forma em nenhum dos numerosos numerosos esquemas esquemas em que aparece na mpressão das dversas aulas dos rês cursos, dos anos de 1906-7 9089 e 90-, que a devoção de um grupo de seus dscípulos reunu sob o íulo de Curso de lingüística geral: publcação prmordal para ransmr um ensno dgno desse nome, sto é, que só s ó pode ser detdo em seu própro movmento Es por �ue é legímo lhe rendermos homenagem pela for malzação 8, em que se s e caracerz carac erza, a, na dvers dv ersdade dade das escolas, a etapa modea da lngüístca A emáca dessa cênca, por consegune, está efetvamene presa à posção prmordal do sgnfcane e do sgnfcado, como ordens dsnas e ncalmene separadas por uma um a barrera ress ene à sgnfcação Es o que toará possível um esudo exao das lgações próprias do sgnfcante e d amplude da função desas na gênese do sgnfcado. Pos essa dsnção prmordal va muo além do debae relatvo à arbraredade do sgno, al como fo elaborado desde a reflexão da Angüdade, ou aé do mpasse, expermenado desde a mesma época, que se opõe à correspondênca bunívoca enre a palavra e a cosa, nem que seja no ao da nomeação. E sso, contrarando as aparêncas que lhe são são conferdas pelo pelo papel mputado ao dedo ndcador que aponta um objeto, na aprend zagem da língua maea pelo sujeo infans, ou pelo emprego dos chamados métodos escolares concreos no esudo das línguas esrangeras
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Por essa via, as coisas não podem fazer mais que demonstrar 8 que nenhuma significação significação se sustenta a não ser pela remissão a uma outra significação o que toca, em última instância, na observação observação de que não há língua língua existente à qual se coloque coloque a questão de sua insuficiência para para abrang abranger er o campo do signifi cado, posto que atender atender a todas as necessidades é um efeito de sua existência como língua Se formos disceir na inguagem a constituição do objeto, só poderemos constatar que ea se encontra encontra apenas no nível do conceito, conceito, bem diferente diferente de quaquer nominativo, nominativo, e que a coisa evidentemente evidentemente ao se reduzir ao nome, cindese no dupo raio divergente: divergente: o da causa em que ela encontrou encontrou abrigo em em nossa língua e o do nada ao qua abandonou sua veste latina (rem). Essas considerações, por mais existentes que sejam para o filósofo, desviam-nos do ugar ugar de onde a inguagem nos interroga interroga sobre sua natureza E fracassaremos em sustentar sua questão enquanto não nos tivermos tivermos livrado livrado da ilusão de que o significante atende à função de representar o significado, ou, melhor dizendo de que o significante tem que responder por sua existência a título de uma significação qualquer Pois, mesmo ao se reduzir a esta última fórmula, a heresia é a mesma É ela que conduz o positivismo lógico à busca do sentido do sentido, do meaning of meaning, tal como se deno mina, na língua em que se agitam seus devotos, o objetivo. Donde se constata que o texto mais carregado de sentido des faz-se, nessa anáise, em bagatelas insignificantes, só resistindo a ela os algoritmos matemáticos, os quais, como seria de se esperar, esperar, são sem sentido sentido algum. 9 9 8
Cf o De magistro, de sto. Agostinho do qual comentei o capíulo De signi signicat catione ione locution locutionis" is" em meu seminá seminári rio o de d e 23 2 3 de d e junho jun ho de 1 954 9 Assim é que o sr. Richards autor justamene de uma obra sobre os processos adequados a esse objetivo no-los mosa numa oua aplicação Ele escolhe para tano uma página de Meng-tseu ou Mêncio para os jesuítas: Mencus on the mind é como se chama isso considerado o objeto dessa pate. As garantias dadas à pureza da experiência nada icam a dever ao luxo de suas abordagens. E o douto especialista no Cânone adicional em que se insere o exto encontra-se justamente no sítio de Pequim para onde foi ransportada a secadora em demonstração, sem preocupação para com os custos.
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O fato é que o algoritmo �. se dele só pudéssemos retirar a noção do paralelismo de seus seus termos superior e inferior, cada qual considerado apenas em sua globalidade, permaneceria como o signo enigmático de um mistério total. Evidentemente, Evidentemente, não é o caso Para apreender sua função, começarei por produzir a ilustração incorreta com a qual classicamente se introduz seu uso Eila:
onde se vê que preferência ela revela pela direção previamente previamente apontada como errônea. Substituí-a, para meus ouvintes, por uma outra, que só podia ser tida como mais correta por exagerar na dimensão incongruen te à qual o psicanalista ainda não renunciou por completo, no sentimento justicado de que seu conformismo só tem valor a partir dela Eis essa outra: HOMENS
MULHERES
[L Porém não menos transportados seremos nós e por um custo menor a ver operar-se a transformação de um bronze que produz um som de sino ao menor roçar do pensamento numa espécie de pano de chão para impar o quadro negro do mais consteador psicologismo inglês Não sem muito depressa identicá-o infelizmente com a própria meninge do autor, único resíduo a subsistir de seu objeto e dele mesmo uma vez consumado o esgotamento do sentido de um e do bom senso do ouo.
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on de se vê qu onde que, e, sem se m estender estender muito o alcance do significante implicado na experiência, ou seja, apenas duplicando a espécie nominal, pela simples justaposição de dois termos cujo sentido complementar complementar parece pare ce ter que ser consolidado con solidado por ela, produz-se produz-se a surpresa surpresa de uma inesperada precipitação precipitação do sentido, na imagem de duas portas gêmeas que simbolizam, com o reservado reservado ofere cido ao homem ocidental para satisfazer satisfazer suas necessidades na turais fora de casa, o imperativo que ele parece compartilha compartilharr com a grande grande maioria maioria das comunidades comunidades primitivas, primitivas, e que submete sua vida pública às leis da segregação urinária Isso não é apenas para desconcertar com um golpe baixo o debate nominalista, mas para mostrar como o significante de fato entra entra no significado, ou seja, de uma forma form a que, embora embora não seja imaterial imaterial,, coloca a questão de seu lugar na realidade. Pois, ao ter que se aproximar das plaquinhas esmaltadas que lhe servem de suporte, o olhar pestanejante de um míope talvez tivesse razão em questionar se é realmente ali que convém ver ver o significante, cujo significado, nesse caso, receberia receberia da dupla e solene procissão procissão da nave superior as derrade derradeiras iras honras. Mas nenhum exemplo construído poderia igualar igualar o relevo que se encontra na vivência da verdade Portanto, não há razão para que eu eu fique descontente por ter ter forjado forjado este, já que ele despertou despertou na pessoa mais digna de minha confiança confiança a seguinte seguinte lembrança lembrança de sua infância, infância, a qual, assim afortunadamente afortunadamente posta a meu alcance, encaixase perfeitamente aqui. Um trem chega à estação Numa cabine, um menino e uma menina, irmão e irmã, irmã, estão sentados um u m em frente frente ao outro, do lado em que a vidraça vidraça dando para para o exterior descortina descortina a visão das construções construções da plataforma ao longo da qual o trem parou: parou: "Olha "Olha ! , diz o irmã irmão, o, chegam chegamos os a Mulhere Mulheres s ; "Imbecil! "Imbecil ! , res ponde a irmã, não está vendo que nós estamos em Homens? Homens? Além, com efeito, de os trilhos dessa história materializarem a barra do algoritmo saussuriano de uma forma que é a conta certa certa para para sugerir sugerir que sua resistência resistência pode ser ser outra que não dialética, seria seria preciso essa é exatamente a imagem que convém convé m não ter olhos olho s na cara para para se atrapalhar atrapalhar quanto quan to ao respectivo lugar do significante e do significado, e para não observa observarr de qual centro irradiante irradiante o primei primeiro ro vem reetir sua luz nas trevas das significações inacabadas.
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Pos ele trará a Dssensão, apenas animal e fadada ao esque cimento das bumas naturas, para a poênca desmedda, impla cável para com as faas e mpenente para com os deuses, da guerra deológca A parti partirr desse desse momento, Homens Homens e Mu lheres lheres serão serão para para essas essas cranças duas pár páras as para as quas quas a alma alma de cada cada uma pux puxar aráá sua brasa brasa dvergene, e a respeito das quais lhes será tanto mais impossível fazer um paco quano, sendo elas em verdade a mesma, nenhum deles podera ceder da primaz primazaa de uma sem atenar atenar contra contra a glória glória da outra. Paremos por aqu Isso parece a hstóra da França Mais humana de se evocar, como sera de se esperar, que a da Inglaerra, fadada a ser vrada de cabeça para baixo da Pona Grossa para a Ponta Fna do ovo do Deão Swf Resta conceber que qu e degrau e que coredor o do sgnficante, sgnficante, aqu vsvel nos pluras com que centralza seus atendmentos paraalém da vidraça da janela, em que transpor para levar suas conexões às ubulações pelas quas, como o ar quene e o ar frio, a indgnação e o desprezo vêm soprar no para-aquém Uma cosa é cea: é que esse acesso, pelo menos, não deve compotar compotar nenhuma signficação, signficação, se o algoritmo algoritmo �. com sua barra, barra, lhe convém convém Pos o algortm algortmo, o, na medda em que ele mesmo é apenas pura função do sgnifcante, sgnifcante, só pode revelar revelar uma estuura de signficane nessa ransferência Ora, a esrutura do signficante esá, como se dz comumente da linguagem, em ele ser arculado Isso quer dzer que suas unidades, de onde quer que se para para desenhar suas nvasões recíprocas e seus englobamenos crescenes, esão submeidas à dupla condção de se reduzrem a elementos diferencias úlimos e de os comporem segundo as leis de uma ordem ordem fechada Esses elementos, descobea decisiva da lngüísca, são os fonemas, fonemas, onde não se deve buscar nenhuma consânca fonética consânca fonética na varablidade varablidade modulaória em que se aplica esse ermo, e sim o sstema sincrônico sincrônico dos pareamenos pareamenos diferencias diferencias necessários necessários ao discemento dos vocábulos numa dada lngua Por onde se vê que um elemen ele meno o essencial na própra fala esava es ava predesnado predesnado a uir nos caraceres móves que, qual Ddos ou Garamonds 10
0 0 Unidades tipométricas do sstema tipográco francês e europeu em geral.
(N.E.)
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a se imprimiem em caixa baixa, pesentificam validamente aquilo a que chamamos leta, ou seja, a estrutua essencialmente localizada do significante. Com a segunda propiedade do significante, de se compo segundo as leis de uma odem fechada, afima-se a necessidade do substato substato topológico topológico do qual a expessão expessão "cadeia significan te , que costumo utiliza, foece uma apoximação anéis cujo cola se fecha no anel de um outo cola feito de anéis. São essas essas as condições estut estutua uais is que deteminam deteminam como gamát gamática ica a odem das invasões constitutivas constitutivas do significante, significante, até a unidade imediat imediatamente amente supe supeio io na fase, e como léxico a odem dos dos englobamen englobamentos tos constitutiv constitutivos os do significante, significante, até a locução vebal É fácil, dento dos limites em que se detêm essas duas iniciativas de apeensão do uso de uma língua, pecebe que somente as corelações do significante com o significante fo necem o padão padão de qualque busca de significação, como é assinalado pela noção de emprego de um taxema ou de um semantema, que emete a contextos do gau imediatamente supeio às unidades implicadas. Mas não é poque as iniciativas da gamática e do léxico se esgotam num ceto ceto limit l imitee que se deve pensa pensa que a significação eina irrestritamente paa-além. Isso seia um eo. Pois o significante, po sua natueza, sempe se antecipa ao sentido, desdobando como que adiante dele sua dimensão. É o que se vê, no nível da fase, quando ela é inteompida inteompida antes do temo significativo: Eu nunca... nunca... A vedade é que. que.,, Talvez, também . . Nem po isso ela deixa de faze sentido, e um u m sentido ainda mais opessivo na medida em que se basta ao se faze espea espea U Mas não é difeente o fenômeno que, pelo simples ecuo de um mas que a faz apaece apaece,, bela como a Sulamita Sul amita e tão virtuosa quanto a donzela, adoa e pepa pepaaa a nega para as núpcias e a miseável paa paa o leilão 12 1 A aucinação verbal ao se revesir dessa forma, às vezes nos abre uma pora
de comunicação até aqui fa fatante por ser despercebida com a estrutura estrutura eudiana da psicose (Seminário do ano de 1955-56 2 2 Cf o Cântico dos cânticos de Salomão (N.E.)
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Donde se pode dizer que é na cadeia do significante que o sentido insiste, mas que nenhum dos elementos elementos da cadeia consiste na significação de que ele é capaz nesse mesmo momento Impõe-se, portanto, a noção de um deslizamento incessante do significado sob o significante que . de Saussure ilustra com uma imagem que se assemelha às duas sinuosidades das Águas superiores e inferiores nas miniaturas dos manuscritos do Gênesis Duplo luxo onde parece tênue o marco dos finos riscos de chuva que ali a li desenham os pontilhados verticais que se supõe limitarem segmentos de correspondência Contra isso vai toda a experiência que me fez falar, num dado momento de meu seminário sobre as psicoses, dos "pontos de basta basta exigidos exigidos por esse esquema, esquema, para explicar explicar a dominância da letra na transformação dramática que o diálogo pode operar no sujeito 1 3 Mas se, com efeito, é necessária a linearidade que F. de Saussure considera constitutiva da cadeia do discurso, em con formidade com sua emissão por uma só voz e na horizontal em que ela se inscreve inscreve em nossa escrita, escrita, ela não é suficient suficiente e Só se impõe à cadeia cade ia do discurso na direção dire ção em que é orientada no tempo, sendo até tomada como fator fato r significante em todas toda s as línguas em que "[Pedro surra Paulo] Paulo ] reverte rever te seu tempo ao inverter seus termos Mas basta escutar a poesia, o que sem dúvida aconteceu com de Saussure, 14 para que nela se faça ouvir uma polifonia polifonia e 1 3 Nós o
fizemos, fizemos, em 6 de junho de 1956 19 56,, com o exemplo da prim primeir eira a cena de Athalie ao que reconhecemos não ter sido estranha uma alusão feita de passagem no New Statesman and Nation, por um crítico high brow [intelectua lóide] à " alta putaria das heroínas de de Racine assim nos incitando a renunciar à referência aos dramas selvagens de Shakespeare, que se toou compulsiva nos meios analíticos em que desempenha o papel de veiz do filistinismo. [A expressão aqui traduz traduzida ida por " veiz , avonnette à ilain (sabonete de plebeu), é o termo depreciativo com que se designavam, na Idade Média, os títulos comprados pelos plebeus para terem terem acesso à nobreza, nobreza, que não lhes " lavavam as origens. (N.E.)] 14 . A publicação, feita por Jean Starobinski no Mercure de France de fevereiro de 1964, das notas deixadas por Ferdinand de Saussure sobre os anagramas e seu uso hipogramático, desde os versos versos satuinos até os o s textos de Cícero, dá-nos a certeza que nos faltava nessa ocasião (1966).
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para que todo discurso revele alinhar-se nas diversas pautas de uma partitura. Não há cadeia significante, significante, com co m efeito, que não sustente, como que apenso na pontuação de cada uma de suas unidades, tudo o que se articula de contextos atestados na vertical, por assim dizer, desse ponto Assim é que, retomando nossa palavra arbre, não mais em seu isolamento nominal, mas ao término de uma dessas pontua ções, veremos que não é apenas pelo fato de a palavra barre ser seu anagrama que ela transpõe a barra do algoritmo saussuriano. É que, decomposta no duplo espectro de suas vogais e suas consoantes, consoan tes, ela evoca, juntamente juntament e com o carvalho e o plátano, as significações de que é carregada em nossa flora, as de força e majestade. Drenando todos os contextos simbólicos em que é tomada no hebraico da Bília, ela ergue sobre um outeiro sem fronde a sombra da crz. Depois, reduz-se ao Y maiúsculo do signo da dicotomia que, sem a imagem que historiza o armorial, nada deveria à árvore, por mais genealógica que ela se diga. Ó, árvore circulatória, árvore vital do cerebelo, árvore de Satuo ou de Diana, cristais precipitados numa árvore condutora do raio, será talvez tua figura que traça nosso destino no casco chamuscado da tartaruga, ou teu clarão que faz surgir de uma inominável inominável noite a lenta mutação mutaçã o do ser no hen panta da lin guagem
Não! diz a Árvore diz ela: Não! no cintilar Em sua ramagem soberba, versos que consideramos tão legítimos de ouvir nos harmônicos da árvore quanto seu reverso:
Que a tempestade trata universalmente Como faz a uma erva. 5 É que essa estrofe modea ordenase de acordo com a mesma lei do paralelismo do significante cujo concerto rege o gesto eslavo primitivo e a mais refinada poesia chinesa
"Non! dit l 'Arbre, il dit: dit: Non! dans l étincellement I De sa tête superbe superb e I Que la tempête traite universellement I Comme elle fait une herbe. herbe. (E) ( E) 15.
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Como se vê na modalidade comum do ente em que são escolhidas a árvore e a erva, para que aí advenham os sinais, signos signos de contradi contradição ção do dizer dizer "Não "Não ! e do do "tratar "tratar como , e para que, através do contraste categórico do particularismo do soberba com o universalmente de sua redução, complete-se, na condensação da cabeça com a tempestade, o indisceível cintilar cintilar do instante eteo. Mas todo esse significante, dirão, só pode operar por estar presente no sujeito. É justamente a isso que respondo ao supor que ele passou ao patamar do significado. Pois o importante não é que o sujeito o reconheça mais ou menos. menos. (Estivesse (Estivessem m HOMENS HOMENS e MULH MULHER ERES ES escritos escritos numa língua desconhecida desconhecida do menino e da menina, sua briga só faria ser ainda mais exclusivamente uma briga de palavras, mas nem por isso menos apta a se carregar de significação) significação ) O que essa estrutura da cadeia significante revela é a possi bilidade que eu tenho, justamente na medida em que sua língua me é comum com outros sujeitos, isto é, em que essa língua existe, de me servir dela para expressar algo completamente dferente do que ela diz. Função mais digna de ser enfatizada na fala que a de disfarçar o pensamento (quase sempre indefi nível) do sujeito: a saber, a de indicar o lugar desse sujeito na busca busca da verdade. Basta-me, com efeito, plantar minha árvore na locução "trepar na árvore , ou projetar sobre ela a luz maliciosa que um contexto de descrição confere à palavra "arvorar , para não me deixar aprisionar num comunicado qualquer dos fatos, por mais oficial que ele seja, e para, caso eu saiba a verdade, exprimi-la apesar de todas as censuras nas entrelinhas, pelo simples significante que podem constituir minhas acrobacias através dos galhos da árvore, provocantes a ponto de chegarem ao burlesco ou sensíveis apenas ao olhar experiente, conforme eu queira ser entendido pela multidão ou por alguns A função propriamente significante que assim se desenha na linguagem tem um nome nome Esse nome, nome, nós o aprendemos em nossa gramática gramática infantil, infantil, na última última página, onde a sombra de Quintiliano, relegada a um fantasma de capítulo para enunciar algumas considerações finais sobre o estilo, parecia precipitar sua voz sob a ameaça de colchetes
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É entre as figuras de estilo, ou trpos, de onde nos vem o verbo truver, 6 que se encontra esse nome, com efeito Esse nome é metonímia.
Da qual reteremos apenas o exemplo que dela foi dado: trinta velas. Pois a inquietação que ele provocava em nós - pelo fato de a palavra "barco nele ocultada parecer multiplicar sua presença, por ter podido, no próprio repisamento desse de sse exemplo, assumir assumir seu sentido sentido figura figurado do - menos menos velava essas essas ilustres ilustres velas velas do que a definição que lhes competia ilustrar Com efeito, a parte tomada pelo todo, dizíamos a nós mesmos, se a coisa é para ser tomada no real, não nos deixa uma grande idéia do que convém entender sobre a importância da frota que, no entanto, essas trinta velas supostamente aquilatam um navio ter apenas uma vela é, na verdade, o caso menos comum. Onde se vê que a ligação do navio com a vela não está em outro lugar senão no significante, significa nte, e que é no de palavra em palavr dessa conexão que se apóia a metonímia. 7
que tem igualmente igualmente as as acepções de "encon " encontr trar ar , " achar achar e 16 Trouver verbo que
" trova rovar r . (NE 7 Aqui rendemos homenagem ao que devemos, nessa formuação, ao sr. Roman akobson, ou seja, a seus rabalhos, onde um psicanalista encontra a todo instante com que esuturar esuturar sua experiê experiência ncia,, e que toam supérflu supérfluas as as " comunicações comunicaçõ es pessoais pessoai s , sobre as quais podemos testemunhar tanto quanto qualquer qualquer um. Reconhecemos, com efeito, nessa forma oblíqua de delidade, o estilo daquele par imortal, Rosencrantz e Guildense, cujo desacoplamento é impossível, nem que sea pela imperfeição de seu destino, pois ele perdura pelo mesmo processo que a faca de Jeannot, e pela razão mesma que fez Goethe enaltecer Shakespeare por haver apresentado o personagem no duo formado por eles: em si, eles são a Gesellscha inteira, numa palavra, a Sociedade (Wilhelm Meisters Lehrjahre Éd Trunz, Christian Wegner Verlag, Verlag, Hambur Hamburgo, go, V, p.299(a)), p.299(a )), quer dizer, a IPA IP A Agradeça-se, Agradeça-se, nesse context cont exto, o, ao autor das das " Observações sobre o papel pap el da fala fala na técnica psicanalítica psicanalítica ([" Some Remark Remarkss on he Role of Speech in Psycho Psycho analytic echnique], IP, nov.-dez. 1956, XXXVI, 6, p467), por ter tomado o cuidado de frisar frisar que elas se " basearam basearam num rabalho rabalho de 19 1 9 5. 5 . Assim As sim se explica, com efeito, que nada tenha sido assimiado dos trabahos pubicados desde então, os quais o autor não ignora, já que me cita como seu editor (sic. Sei o que quer dizer editor) (a) Conviria destilar odo o trecho de Goethe: Dieses leise Aureten dieses Schmiegen und Biegen dies Jasagen Streicheln und Schmeicheln diese Behendigkeit dies Schwnzein diese Allheit und Leerheit diese rechtliche Schurkerei diese Unfhigkeit wie nn sie durch dur ch einen Menschen Mensch en ausgedruckt ausgedruc kt werden? Es
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Designaremos com isso a primeira vertente do campo efetivo que o significante constitui, para que nele tenha ugar o sentido. Falemos da outra. É a metáfo E vamos iustrála pronta mente: o dicionário Quiet pareceu-me adequado para foecer uma amostragem amostragem que não fosse suspeita de ser selecionada, e não precisei procurar o recheio18 muito aém aé m do conhecido c onhecido verso de Victor Hugo: Seu feixe não era avaro nem odiento... ,
sob cuja feição apresentei a metáfora quando chegou o momento em meu seminário sobre as psicoses. psicoses. Digamos que a poesia modea e a escola surrealista fizeram nos dar um grande passo nisso, ao demonstrar que quaquer conjunção de dois significantes seria equivaente para constituir uma metáfora, caso não se exigisse a condição da máxima disparidade disparidade entre as imagens significadas significadas para a produção produção da centeha poética, ou, em outras outras paavras, para que tenha tenha lugar lugar a criação metafórica. Certo, essa postura radica fundamenta-se numa experiência dita da escrita automática, que não teria sido tentada sem o ava que seus pioneiros tiravam da descoberta freudiana Mas ela continua continua marcada pea confusão, confusão, porque sua doutrina doutrina é fasa A centeha criadora da metáfora não brota da presentificação de duas imagens, isto é, de dois significantes iguamente atua izados Ela brota entre dois significantes dos quais um substituiu substituiu o outro, assuindo seu ugar na cadeia significante, enquanto o significante ocuto permanece presente em sua conexão (meto níica) com o resto da cadeia. Uma palavr por outra, eis a fórmua da metáfora, e, caso seja você poeta, produzirá, para fazer com ea um jogo, um jato contínuo ou um tecido resplandecente resplandecente de metáforas. Não obtendo
sollten ihrer wenigstens ein Dutzend sein wenn man sie haben knnte; denn sie bloss in Gesellscha etwas sie sind die Gesellscha Gesellscha.. . 8 Com échantillon ... selectionné Lacan alude (metaforicamente) a morceau choisi (trecho seleto), mas também ao fragmento ou bocado que serve para se apreciar apreciar a qualidade qualidade de uma mercad mercadoria oria como a " prova de um alimento, por fare, e, que também signica exempo, exemp o, donde o " recheio usado na trad traduçã ução o de far " farsa arsa , indicando indi cando a maneira maneira como Lacan Lacan percebe este verso de Victor Hugo (N.E.)
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com isso, aém do efeito de ebriedad ebriedadee do diálogo diálogo que Jean Tardieu compôs com esse títuo, senão a demonstração que aí se opera da superuidade radica de qualquer significação para uma representação perfeitamente convincente convin cente da comédia bur guesa. No verso de Hugo, é patente que não jorra a mínima luz da decaração de que um feixe feixe não é avaro avaro nem odiento, pea simpes razão de que não se trata de ee ter mais mérito ou demérito por esses atributos atributos,, posto que ambos, juntamente juntamente com ee, são propriedades de Booz, que os exerce ao dispor do feixe sem he participar seus sentimentos Se o feixe remete a Booz, como efetivamente faz, no entanto, é por substituío substituío na cadeia significante, no exato ugar que o esperava, por terse eevado em um grau mediante a remoção do entulho da avareza e do ódio Mas, a partir daí, é de Booz que o feixe faz esse lugar vazio, rechaçado que ele fica desde então para as trevas do exterior em que o abrigam a avareza e o ódio, no vazio da negação dees. Contudo, uma vez que seu feixe assim lhe usurpou o ugar, Booz não pode retomáo, e o tênue fio do pequeno seu que o prende a ee constitui um obstácuo a mais, ligando esse retoo a um título de propriedade que o reteria no seio da avareza e do ódio Sua afirmada generosidade vê-se reduzida a menos do que nada pela munificência do feixe, que, por ser extraído da naturez natureza, a, desconhe desconhece ce nossa nossa reserva reserva e nossos nossos rechaçs rechaçs e, até em sua acumuação, continua pródigo em relação à nossa medida. Mas se, nessa profusão, o doador desaparece junto com o dom, é para ressurgir naquio que cerca a gura em que ee se aniquilou. aniquilou. Pois há a irradiaçã irradiação o da fecundidade que anuncia a surpresa celebrada pelo poema, ou seja, a promessa que o ancião receberá, num contexto sagrado, de seu advento à pater nidade. Portanto, é entre o significante do nome próprio de um homem e aquele que o aboe metaforicamente que se produz a centeha poética, ainda mais eficaz aqui, para realizar a significação da pateidade, por reproduzir o evento evento mítico mítico em que Freud Freud re construiu a trajetória, no inconsciente inconsciente de todo homem, homem, do mistério mistério pateo Não é outra a estrutura da metáfora modea. Daí o dardeja mento:
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Escrit Escritos os Écri Écrits ts - ]acques ]acque s Lacan Laca n O amor é um seixo rindo ao sol
recria o amor numa dmensão que pude dzer que me parece sustentáve, contrariando seu deslzamento sempre mnente para a miragem de um atruísmo narcísico. Vemos que a metáfora se cooca no ponto exato em que o sentido se produz no não-senso, sto é, na passagem sobre a qua Freud descobru que, transposta às avessas, dá lugar à palavra que é, em francês, "a palavra 19 por exceência, a palavra que não tem outro patrocínio senão o signficante da espirtuosda 20 e onde se de, 20 s e vslumbra que é seu próprio destno que o homem desaa através da derrsão do sgnifcante. Mas, voltando atrás um pouco, que encontra o homem na metonímia, se isso tiver que ser mais do que o poder de contoar os obstáculos da censura socal? Porventura essa forma que dá à verdade seu campo em sua opressão não manifesta uma certa servidão nerente à sua apresentação? Havemos de ler com proveto o ivro em que Léo Strauss, da terra terra cássica no oferecmento de aslo aos que escoheram a lberdade, medita sobre as relações entre a arte de escrever e a 21 Ai abordando de perto o tipo de conaturaidade persegução. 21 que vncula essa arte a ta condição, ele deixa entrever o ago que aqu impõe sua forma no efeito efeito da verdade verdade sobre o desejo. desejo. Mas, acaso já não sentimos há algum tempo que, por ter seguido os camnhos da letra para chegar à verdade freudiana, ardemos em seu fogo, que consome por toda parte? É fato que a etra mata, dizem, enquanto o espírito vvca 22 Não discordamos dsso, já tendo tido que saudar aqui, em algum 19 L mot (ou le bon mot), que designa em francês o dito espirituoso, o chiste
(NE) 20 É exatamente esse o equivalente do termo alemão Witz com que Freud marcou a visada de sua terceira obra fundamental sobre o inconsciente. A difculdade muito maior de enconar esse equivalente em inglês é insutiva: o w sobrecarregado pela discussão que vai de Davenant e Hobbes até Pope e Addison cede suas virtudes essenciais ao humour, que é oua coisa Resta o pun, esreito demais, no entanto [Wit se aduziria por graça, nura perspicácia; humour e pun, respectivamente por humor e ocadilho (N.E.)] 2 Leo Sauss Persecution and the A of Writing, Glencoe III Free Press [A " terra erra (asilar (asilar)) clássica são, é claro, claro, os Estados Estados Unidos. (NE)] (N E)] 22 Da Segunda epístola de Paulo aos Coríntios, 3, 6. (NE)
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ponto, ponto , uma nobre nobre vítma do erro de procurar procu rar na letra, mas também també m indagamos como, sem a letra, o espírito vvera. No entanto, as pretensões do espírito espír ito continuariam irredutíveis, se a letra não houvesse comprovado produzir todos os seus efeitos de verdade no homem, sem que o espírito tenha que se intrometer minima mente nisso. Essa revelação, foi a Freud que ela se fez, e ele deu a sua descoberta o nome de inconscente.
Il. A letra no inconsciente
A obra completa de Freud nos apresenta uma página de refe rências filológicas a cada três páginas, uma página de inferências lógicas a cada duas págnas e, por toda parte, uma apreensão dalétca da experiênca, vndo a analítca lnguageira reforçar ainda mais suas proporções à medida que o inconsciente va sendo mais diretamente mplcado. Assim é que, na Ciência dos sonhos, trata-se apenas, em todas to das as páginas, daqulo a que chamamos a letra do dscurso, em sua textura, seus empregos e sua imanência na matéria em causa. Pois esse texto abre com sua obra a va réga para o nconsciente. E disso somos alertados por Freud, cuja confidênca surpresa, ao lançar esse livro para nós nos prmeiros das deste século, 23 só faz confirmar o que ele proclamou até o fm: que nesse arriscartudo de sua mensagem está a totalidade de sua desco berta. A prmera cláusula, artculada logo no capítulo prelimnar, posto que a exposção não pode suportar sua demora, é que o sonho é um rébus E Freud trata de estpular que é precso entendêlo, como afrme a prncípo, ao pé da letra. O que se prende pren de à nstância, no sonho, sonh o, dessa dess a mesma estrutur estr uturaa literante (em outras palavras, fonemática) em que se articula e se analisa o sgnficante no dscurso. Como as fguras não naturais nat urais do barco sobre o telhado ou do homem de cabeça de vírgula, expressa
23
Cf. a correspondência, nomeadamente as cartas de números 107 e 119, dene as escolhidas por seus editores [As cartas são as de 19 de março e 7 de novembro de 1899. (N.E.)]
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mente evocadas por Freud, as imagens do sonho só devem ser retidas retidas por seu valor de signican signicante, te, isto é, pelo que permitem permitem soletrar do "provérbio "prové rbio poposto pelo rébus do sonho. Essa estrutur estruturaa de linguagem linguagem que possibilita a opeação opeação da leitua está no princípi princípio o da signcância do sonho, da Traumdeutung. Freud exemplifica de todas as maneiras que esse valo de significante da imagem nada tem a ver com sua significação, e recorre aos hieróglifos do Egito, onde seria ridículo deduzir da freqüênci freqüênciaa do abutre, abutre, que é um aleph, ou do pintinho pintinho,, que é um vau para assinala uma foma do vebo ser e também os plurais, que o texto concene minimamente a esses espécimens oito lógicos. Freud encontra meios de se oientar, nessa escrita, por certos certos empregos empregos do significante que q ue se apagaam apagaam na nossa, como o emprego do determinativo, determinativo, acescentando o expoente de uma figua categórica à figuração literal de um temo vebal, mas para melhor nos emete ao fato de que estamos numa escrita em que até o pretenso "ideogama é uma leta. Mas não é necessária a confusão atual a espeito desse temo paa que, no espírito espírito do psicanalista psicanalista sem nenhuma fomação lingüística, pevaleça o preconceito preconceito de um simbolismo simbolismo que que deiva da analogia natual, ou então da imagem redutora do instinto. Tanto assim que, fora da escola fancesa, que evita isso, é na linha linha do "ve na borra borra de café não é ler hieróglifos que me é preciso econvoca econvoca a seus pincípios uma técnica cujas vias, foa da visada do inconsciente, nada pode ustifica. ustifica. Convém dize que só se aceita isso com dificuldade, e que o vício mental denunciado acima goza de tamanho pestígio, que podemos podemos espera espera que o psicanalis psicanalista ta de hoje admita admita que decodi decodi fica, em vez de se decidi decidi a faze com Freud as paradas paradas neces sáias (dê a volta na estátua de Champollion, diz o guia) para compreender que ele decifa: o que se distingue de decodifica decodifica pelo fato de que um ciptogama só tem todas as suas dimensões quando é o de uma língua pedida. Fazer essas paadas, no entanto, é apenas continuar na Taumdeutung. A Entstellung, traduzida por transposição, onde Feud mostra a precondição geral da função do sonho, é o que designamos anteiomente, com Saussure, como o deslizamento do signifi cado sob o significante, significante, sempre em ação (inconsciente, note-se) no discuso.
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Mas as duas vertentes da incidência do significante no signi ficado encontramse nea. A Verdichtung, condensação, é a estrutura de superposição dos significantes em que ganha campo a metáfora, e cujo nome, por condensar em si mesmo a Dichtung, indica a conaturaidade desse mecanismo com a poesia, a ponto de envolver a função propriamente tradiciona desta. A Verschiebung ou desocamento é, mais próxima do termo aemão, o transporte da significação que a metonímia demonstra e que, desde seu aparecimento em Freud, é apresentado como o meio mais adequado do inconsciente para despistar a censura O que distingue esses dois mecanismos, que desempenham no trabaho do sonho, Trumarbeit, um papel privilegiado, de sua sua função função homóloga no discur discurso? so? Nada, a não ser ser uma condição imposta impos ta ao materia significante, chamada cham ada Rücksicht auf Darstellbarkeit, que convém traduzir por "consideração para com os meios da encenação (sendo por demais aproximativa, aqui, a tradução por "pape da figurabilidade). Mas essa con dição constitui constitui uma imitação que se exerce no interior do sistema da escrita, onge de dissovê-o numa semioogia figurativa em que ele se aie aos fenômenos fenômenos da expressão expressão natura. natura. É provável que com isso pudéssemos pudéssemos escarecer os problemas de aguns modos de pictografia que não estamos autorizados, peo simples s imples fato de fato de ees terem sido abandonados como imperfeitos na escrita, a considerar como estádios evoutivos Digamos que o sonho se parece parece com o jogo jog o de saão sa ão em e m que se deve, dev e, estando esta ndo na berlinda, levar os espectadores a adivinharem um enunciado conhecido, ou uma variação dele, unicamente por meio de uma encenação muda. O fato de o sonho dispor da fala não modifica nada, visto que, para o inconsciente, ea é apenas um eemento de encenação como os demais. É justamente quando o jogo j ogo e também o sonho esbarrarem na falta de material taxêmico para representar as articuações lógicas da causalidade, da contradição, da hipótese etc., que eles darão provas de ser, um e outro, uma questão de escrita, e não de pantomima pantomima.. Os processo processoss sutis que o sonho revea empregar empregar para, mesmo assim, representar essas articua ções ógicas, de maneira muito menos artificia artificia do que aquea pela qua o jogo de saão costuma contoáas, são objeto, em Freud, de um estudo especia, onde mais uma vez se confirma que o trabaho do sonho segue as eis do significante.
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O restante da elaboração é designado por Freud como secun dária, que adquire seu valor a partir daquilo de que se trata: fantasias ou sonhos diuos, Tagtraum, para empregar o termo de que Freud prefere servirse para situáos em sua função de reaizaçã reai zação o do desejo (Wunschellung). Seu traço distintivo, dado que essas fantasias podem permanecer inconscientes, é de fato sua significação. Pois bem, destas, destas, Freud nos diz que seu ugar ugar no sonho sonho é, ou serem serem retomadas retomadas a títuo de eementos significantes para o enunciado do pensamento inconsciente (Traumgedanke), ou servirem para a elaboração secundária aqui em questão, isto é, para uma função, diz ele, que não há por que distnguir do pensamento vígi (von unserem wachen Denken nicht zu unterscheiden). É impossível dar uma idéia mehor dos efeitos dessa função do que compará-la a pacas de argamassa que, apicadas lá e cá com um mode, tendessem a reintroduzir na aparência de um quadro figurativo os grosseiros clichês do rébus ou do doss hierógifos. Peço descupas Peço descupas por parecer estar eu mesmo soletrando o texto de Freud; não o faço apenas para mostrar o que se ganha ao simpesmente não recortá-lo, mas para poder situar em balizas primárias, fundamentais e nunca revogadas, o que aconteceu na psicanálise. Desde a origem, desconheceu-se o papel constitutivo do significante no status que Freud fixou de imediato para o in consciente, e segundo as mais mais precisas modaidades formais. E isso por duas razões, das quais a menos percebida, natu ralmente, é que essa formalização não bastava, por si só, para que se reconhecesse a instância instância do signicante, signicante, já que, quando publicação da Trumdeutung, antecipavase em muito às da publicação formalizações da ingüística, ingüística, para as quais sem dúvida podería mos demonstrar que, por seu simples peso de verdade, ea abriu caminho. A segunda razão, pensando bem, é apenas o avesso da pri meira, pois, se os psicanalistas caram exclusivamente fascina dos com as a s significações destacadas no inconsciente, foi por eas retirarem seu atrativo mais secreto da dialética que lhes parecia parecia imanente Em meu seminário, mostrei que é na necessidade de corrigir os efeitos dessa parcialidade, em etea aceeração, que se compreendem as aparentes aparentes guinadas, guinadas, ou, melhor dizendo, dizendo, as
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buscas viradas do eme que Freud, através de sua preocupação pimordia de garantir a sobrevivência de sua descoberta com as primeiras refomulações que ea impunha aos conhecimentos, julgou ter que dar em sua doutina ao ongo do percurso. É que, na situação em que ee se encontrava, repito, de não dispor de nada que, correspondendo a seu objeto, estivesse no mesmo nível de maturidade maturidade científica, científica, peo menos ee não deixou de manter esse objeto à altura de sua dignidade dignidade ontológica. O resto foi obra dos deuses e correu de tal maneira que, hoje em dia, a análise busca suas baizas nessas formas imaginárias imaginária s que acabo de mostra como desenhadas desenhada s à parte sobre o texto que mutiam e que é a eas que se ajusta a mira do analista, misturando-as, na interpretação interpreta ção do sonho, com a ibetação visionára do aviáio hierogífico e, de um modo mais gera, buscando o controle do esgotamento da análise numa espécie de scanning24 das formas form as em que elas aparecem, apar ecem, com a idéia de que elas são o testemunho do esgotamento das regressõe regre ssõess e da remodeagem da "relação "rela ção de objeto em que o sujeito deve supostamente se tipificar.Z 5 A técnica que reivindica essas posições pode ser férti em efeitos efei tos diversos, muito muit o difíceis de criticar por trás da égide égid e terapêutica Mas uma crítica crít ica intea inte a pode provir prov ir da agrante discordância entre o modo operatório por meio do qua essa técnica se autoriza qual seja, a regra anaítica, cujos instu mentos da qua, a patir da "associação ivre , se justificam todos na concepção de inconsciente de seu inventor e o completo desconhecimento desconhecimento que nea nea impera sobre essa concepção do inconsciente Coisa de que seus adeptos adept os mais ferrenhos crêem ivrase com uma pirueta: a regra analítica deve ser obsevada tão mais religiosamente quanto mais é apenas fruto de um feliz acaso Em outras palavras, Freud nunca soube muito bem o que estava esta va fazendo
24. Sabemos que é por esse processo que uma pesquisa se assegura de seu
resultado através da exploração mecânica de toda a extensão do campo de seu objeto. 25. A tipologia, por se eferir apenas ao desenvolvimento do organismo desco nhece a esutura em que o sujeito está preso espectivamente na fantasia, na pulsão e na sublimaçãosublimação- estrutu estrutua a cuja teoria eu elaboo elaboo ( 1 966) 966)..
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O retoo ao texto de Freud mostra, ao contrário, a coerência absoluta de sua técnica com sua descoberta, ao mesmo tempo que permite colocar seus procedimentos procedimentos no devido lugar. Eis por que toda retificação da psicanálise impõe que se volte à verdade dessa descoberta, impossvel de obscurecer em seu momento original Pois, na análise do sonho, Freud não pretende darnos outra coisa senão as leis do inconsciente inconsci ente em sua extensão mais geral Uma das razões pelas quais o sonho foi mais propcio a isso está em que, justamente, como nos diz Freud, ele não é menos revelador dessas leis no sujeito normal do que no neurótico Mas, em ambos os casos, a eficiência do inconsciente não se detém no despertar. despert ar. A experiência experiência psicanaltica não é outra coisa senão estabelecer que o inconsciente inconsc iente não deixa fora de seu campo nenhuma de nossas ações. Sua presença na ordem psicológica, ou, em outras palavras, nas funções de relação do indivduo, merece um esclarecimento, contudo: ela de modo algum é coextensiva a essa ordem, pois sabemos que, se a motivação inconsciente se manifesta tanto em efeitos psquicos conscientes quanto em efeitos psquicos inconscientes, inversamente, é um lembrete elementar assinalar que que um grande núme número ro de efeitos psquicos que o termo inconsciente designa legitimamente, a título de excluir o caráter da consciência, nem por isso deixa de ter alguma alguma relação, por sua natureza natureza,, com o inconscien inconsciente te no sentido freudiano. É somente por um abuso terminológico, por tanto, que se confunde o psquico com o inconsciente nesse sentido, e que assim se qualifica de psquico um efeito do inconsciente no somático, por exemplo. Tratase, pois, de definir a tópica desse inconsciente Digo que é justamente ela que se define pelo algoritmo s s
O que ele nos permt desenvolver sobre a incidência do significante no significado ajusta-se a sua transformação em: (S) { Foi da co-presença, no significado, não só dos elementos da cadeia cadeia significante horizontal, mas de suas contigüidades vertiverti-
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cas, que mostramos mostramo s os efetos, efetos , dstrbu dstrbudos, dos, de acordo com duas estruturas estruturas fundamentas, na metoníma e na metáfora. Podemos smbozáas por: f (S.. S' ) S
�
S (-) (-) s
ou seja, a estrutura metonímca, ndcando que é a conexão do sgnfcante com o sgnfcante que permte a esão medante a qual o sgnfcante nstaa a fata do ser na relação de objeto, servndose do vaor de envo da sgnfcação para nvest-a com o desejo vsando essa falta que ele sustenta. O sna , colocado entre ( ), manfesta aqu a manutenção da barra , que marca no prmero agortmo a rredutbdade em que se consttu, nas reações do sgnfcante com o sgnfcado, a resstênca da sgnfcação26 Es agora f
(
s � s
(+) s
a estrutura metafórca, que ndca que é na substtução do sgnfcante pelo sgnfcante que se produz um efeto de sgn fcação que é de poesa ou cração, ou, em outras paavras, do advento da sgnfcação em questão?7 O snal + , coocado entre ( ), manfest manfestaa aqu a trans transpos posção ção da barra , bem como o vaor vaor consttutvo dessa transposção para a emergênca da sgnfca ção. Essa transposção exprime a condção da passagem do sgn fcante fcante para o sgnfcado, cujo momento assnale, mas acma, confundndoo provsoramente com o lugar do sujeto. É na função do sujeto, assm ntroduzda, que devemos deter-nos agora, pos ela está no ponto cruca de nosso probema Penso, logo existo (cogito ergo sum) não é somente a fórmua em que se consttu, com o apogeu hstórco de uma refexão sobre as condções da cênca, a lgação da sua afrmação exstenca do sujeto com sua transparênca transcendenta transcendenta
26 O sinal designa a congruência. 7 Como o S' designa no contexto o termo podutor do efeto signicante (ou �
signicânca), signicânc a), vê-se que esse e sse te temo mo é atente na metoníma e patente na metáfora metáfora
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Tavez eu seja apenas objeto e mecanismo (e portanto nada aém de fenômeno) mas certamente, na medida em que o penso eu sou de modo absoluto Sem dúvida os filósofos introdu ziram aí imporantes correções nominalmente a de que naquilo que pensa (cogitans), nunca faço senão constituirme como objeto (cogitatum). O fato é que através dessa extrema depuração do sujeito transcendenta minha igação existencial com seu projeto parece irrefutável pelo menos sob a forma de sua atuaidade e que " cogito ergo ergo sum sum ubi cogito cogito ibi sum
supera a objeção É claro que isso me limita a só estar aí em meu ser na medida em que penso que sou (estou) em meu pensamento; pensamento; em que medida eu realmente o penso isso só diz respeito a mim e se eu o digo não interessa interessa a ninguém. 28 Eludi-o no entanto a pretexto de suas aparências aparências [semblants] filosócas é simplesmente dar mostras de inibição. Pois a noção de sujeito é indispensáve ao manejo de uma ciência como a estratégia no sentido modeo cujos cálculos excluem qualquer "subjetivismo "subjetivismo . Equivale também a proibirse o acesso ao que se pode chamar de universo de Freud tal como se fala do universo de Copéico Copéico Com efeito foi justamente à chamada revolução copeiciana que o próprio Freud comparou sua descobera ressaltando que aí estava mais uma vez em pauta o lugar que o homem confere a si mesmo no centro de um universo O lugar que ocupo como sujeito do significante em relação ao que ocupo como sujeito do significado será ele concêntrico ou excêntrico? Eis a questão Não se trata de saber se fao de mim de conformidade com aquilo que sou mas se quando falo de mim sou idêntico àquele de quem falo. E não há aqui nenhum inconveniente em fazer intervir o termo pensamento Pois Freud designa por esse termo
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situação é totalmente diversa se por exemplo, formulando uma pergunta como Por que que lósofos?" , faço-me faço-me mais ingênuo do que é natural, natural, já que formulo não apenas a pergunta que os flósofos se fazem desde sempre, mas aquela pela qual talvez se ineressem mais. A
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os elementos que estão em jogo no inconsciente, isto é, nos mecanismos significantes significantes que acabo de reconhecer reconhecer nele Nem por isso deixa de ser verdade que o cogito filosóco filosóco está no cee dessa des sa miragem miragem que toa o homem modeo tão segur se guro o de ser ele mesmo em suas incertezas incertezas a seu próprio respeito, até através da desconfiança que há muito aprendeu a praticar quanto quanto às armadi armadilhas lhas do amorp amorpróp róprio rio De igual modo, se, voltando-me contra a nostalgia a que ela serve, a arma da metonímia, eu me recuso a buscar qualquer sentido para-além da tautologia, e se, em nome de "guerra é guerra guerra e de "um vintém vintém é um vintém vintém , decidome a ser tão tão somente aquilo que sou, so u, como desvincular-me, desvincular-me, aqui, da evidência de que sou nesse ato mesmo? Tanto quanto, ao me deslocar para o pólo oposto, metafórico, da busca significante, significante, e ao me devotar devotar a toar-me toar-me o que sou, sou , a vir a sê-lo, não posso duvidar de que, mesmo ao me perder nisso, é a que estou. Pois bem, é exatamente nesses pontos em que a evidência é subvertida pelo empírico empírico que jaz o fulcro da conversão freudiana Esse jogo significante da metonímia e da metáfora, incluindo sua ponta ativa que fixa meu desejo numa recusa do significante ou numa falta do ser e ata minha sorte à questã q uestão o de d e meu destino, esse jogo é jogado, até que a partida seja sej a suspensa, em seu inexorável requinte, ali onde não estou, porque ali não me posso situar Isto é, poucas foram as palavras com que, por um momento, desconcertei desconcertei meus ouvintes: penso onde não sou, logo sou onde não penso Palavras Palavras que, para para qualquer ouvido atento, deixam claro com que ambigüidade ambigüidade de jogodo-anel jogod o-anel escapa de nossas nossa s garras o anel do sentido no o verbal. O que qu e cumpre cumpre dizer é: eu não sou lá onde sou joguete de meu pensamento; penso naquilo qu quee sou lá onde não penso pensar. Esse mistério de duas faces liga-se ao fato de que a verdade só é evocada na dimensão de álibi pela qual todo "realismo na criação criação retira da metonímia sua su a virtude, e ao fato de que o sentido só foece seu acesso nos dois ramos da metáfora, quando se tem a chave única de ambos: o S e o s do algoritmo algoritmo saussuriano saus suriano não estão no mesmo plano, e o homem se enganaria ao se crer crer situado no eixo comum a ambos, que não está em parte alguma
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Isso, pelo menos até Freud haver feito sua descoberta Pois, se o que Freud descobru não é exatamente isso, não é nada. Os conteúdos do inconsciente não nos foecem, em sua enganosa ambigüdade decepcionante, nenhuma ne nhuma realdade mas consstente no sujeito do que o mediato; é da verdade que eles extraem sua vrtude, vrtude, e dentro da dimensão dimensão do ser: Ke unseres Wesen, termos termos que são de Freud. Freud. O mecansmo de duplo gatlho da metáfora é o mesmo em que se determna determna o sintoma no sentdo analítico analítico Entre Entre o sgn ficante enigmátco enigmátco do trauma sexual e o termo que ele vem substtuir numa cadea sgnifcante atual passa a centelha que fxa num sintoma metáfora metáfora em que a cae cae ou a função são tomadas tomadas como elemento elemento signfic signficante ante a sgnficação, nacessvel ao sujeto consciente onde ele pode se resolver. E os engmas que o desejo propõe a toda "flosofia "flosofia natural , seu frenesi que mita o absmo do nfnto, o conluo ntimo em que ele envolve com o gozo goz o o prazer de saber e o de domnar, não decorrem de nenhum outro desregramento do nstnto senão sua captação nos trilhos eteamente estenddos estenddos para o desejo de out coisa da metoníma Da Da sua sua fixação "perversa nas retcêncas da cadeia cadei a sgnifcante sgnifcante 29 em que a lembrança enco brdora se mobliza, onde a magem fascnante fascnante do fetche se erge em estátua Não há outro meo de conceber a indestrutibilidade do desejo inconscente inconscente como não há necessdade que, ao ver probda sua saciação, estiole, em último caso consumndo o próprio organismo. É numa memóra, comparável ao que é chamado por esse nome em nossas modeas máqunas de pensar (baseadas numa realização eletrônica da composição sgnifcante), que jaz essa cadea que insiste em se reproduzir na transferência, e que é a de um desejo morto morto É a verdade do que esse desejo foi em sua hstóra que o sujeito grta através de seu sntoma, como dsse Cristo que teram feto as pedras, se os flhos de Israel não lhes houvessem emprestado sua voz
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Point de suspension de la chafne sign.ante, que equivale às reticências reticências ( ) em uma frase. (N.E)
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É também po isso que somente a psicanálise pemite dife encia, na memóa, a função da ememoação. Enaizada no significante, ela esolve, pela ascendência da históia no homem, as apoas platônicas da eminiscência Basta le os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade evestidos paa as massas de tantas tantas glosas pseudobiológicas, paa constata que Feud faz todo acesso ao objeto deva de uma dialética dialét ica do etoo. etoo . Havendo assim patido do nostos hldelinian hlde liniano, o, foi à epetição kiekegaadiana que chegou Feud, menos de vinte anos depois, ou seja, seu pensamento, po se have submetido n a ogem apenas às conseqüências humildes mas inflexíveis da talking cure, nunca pôde livase das vivas sevidões que, a pati do pincípio égio do Lgos, levaam-no a epensa as motais antinomias empedoclianas E como concebe de de outa maneia, senão sen ão nessa outa cena" de que ele fala como sendo o luga do sonho, seu ecuso de homem cientista a um Deus ex machina menos meno s derrisóio, po se have evelado ao espectado que a máquina ege o pópio egente? Figua obscena e feoz do pai prmevo, a se edimi, inesgotável, n a etea cegueia de Édipo, como concebe, a não se po ele te tido que cuva a cabeça sob a foça de um testemunho que ultapassava seus peconceitos, que um sábio do século XIX tenha-se apegado, mais do que a tudo em sua oba, a esse Totem e tabu diante do qual os etnólogos de hoje se inclinam como ante o cescimento de um autêntico mito? Igualmente, Igualment e, é nas na s mesmas necessidades que o mito, atendendo a impeosa polifeação de ciações simbólicas paticulaes, que se encontam os motivos, das compulsões do neuótico inclusive em seus detalhes, bem como as chamadas chamadas teoas sexuais infantis. Assim Assim é que paa paa situa situa vocês vocês no ponto exato exato em que que atualmente se desenola em meu semináio meu comentáro de Feud o Pequen Pequenoo Hans, Hans, abandonado aos aos cinco cinco anos pelas pelas caências caênc ias de seu cículo cíc ulo simbólico simbóli co diante do enigma de seu sexo se xo e sua existência subitamente subitamen te atualizado atualiz ado paa ele, desenvolve, sob a dieção de Feud e de seu pai, discípulo deste, em too do cistal significante de sua fobia, sob uma foma mítica, todas as pemutações possívei possíveiss de um númeo númeo limitado limitado de significantes. Opeação em que se demonsta que, mesmo no nível indivi dual, a solução do impossível é tazida ao homem pelo esgota
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mento de todas as formas possveis de impossibilidades impossibilidades encon tradas no equacionamento significante da solução solução Demonstração cativante, para iluminar o labirinto de uma observação da qual só se fez uso até hoje para dela extrair materiais de demolição E também para levar a compreender que na coextensividade do desenvolvimento desenvolvimento do sintoma e de sua resolução curativa revela-se revela-se a natureza da neurose: fóbica, histérica ou obsessiva, a neurose é uma questão que o ser coloca para o sujeito "lá de onde ele estava antes que o sujeito viesse ao mundo (essa subordinada subordinada é a rópria frase de que se serve Freud ao explicar o complexo de Edipo ao Pequeno Hans) Hans ) Tratase aqui daquele ser que que só aparece no lampejo de um instante instante no vazio vazio do verbo ser, e eu disse que ele fomula sua questão ao sujeito Que significa isso? Ele não a coloca diante do sujeito, pois o sujeito não pode vir para o lugar onde ele a coloca, mas colocaa no lugar do sujeito, ou seja, nesse lugar, ele coloca a questão com o sujeito, tal como se enuncia um problema com uma caneta e como o homem de Aristóteles pensava com sua alma. Foi assim 3 0 que Freud fez o eu entrar em sua doutrina, defnindo-o pelas resistências que lhe são próprias. Que elas são de natureza imaginária, no sentido dos engodos coaptativos, que a etologia nos demonstra nas condutas animais da exibição e da luta, é o que me tenho empenhado em fazer apreende apreender, r, no tocante àquilo a que esses engodos se reduzem no homem, ou seja, à relação narcsica introduzida por Freud e tal como a elaborei no estádio do espelho Ainda que Freud, ao situar nesse eu a síntese das funções perceptivas em que se integram as seleções sensó rio-motoras, rio-motoras, pareça ser pródigo na delegação que lhe é tradicio nalmente feita de responder pela realidade, essa realidade só s ó faz ser ainda mais incluída na suspensão do eu. Pois esse eu, inicialmente distinguido pelas inércias imaginá rias que concentra contra a mensagem do inconsciente, só fun ciona revestindo revestindo o deslocamento deslocamento que é o sujeito de uma resis tência essencial essencial ao discurso como tal
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Os dois parágrafos que se seguem foram reescritos (dez 1968), em prol de um simples oar mais leve seu discurso.
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É por essa razão que o esgotamento dos mecanismos de d e defesa, por mais mais que um Fenichel Fenichel no-lo toe s en s ve em s eus problemas de técnica, por ser se r um cínico (ao passo pas so que toda a sua su a redução teórica das neuroses neurose s ou das psicoses psico ses a anomalias genéticas do desenvolvimento libidinal é o próprio lugarcomum) lugar comum),, manifes ta-se, ta-se , sem que ele disso diss o dê conta nem tampouco se dê conta, como um avesso aves so do qua os mecanismos do inconsciente inconscie nte s eriam o direito A perfrase, perfrase, o hipérbato, hipérba to, a eipse, a suspensão, suspen são, a antecipação, a retratação, a denegação, a digressão e a ironia são as figuras de estilo (as fgure sententiarum de Quintiiano) Quintiiano) , e a catacrese, a itotes, a antonomásia antonomá sia e a hipotipose hipot ipose s ã o os tops tops cujos cujos termos termos se impõem impõem à pena como como os mais adequados para rotuar esses esse s mecanis mecanismos mos Será possíve poss ívell ver niss ni sso o apenas um simpes modo de dizer, quando são exatamente essas as figuras que estão estã o em ato n a retórica do discurso efetivamente proferido pelo anaisado? Ao se obstinarem em qualicar por uma permanência emo ciona a natureza da resistência, para toála estranha ao dis curso, os psicanalistas de hoje apenas mostram sucumbir sucum bir ao impacto de uma das verdades fundamentais que Freud resgatou através da psicanálise. É que a uma nova verdade não nã o podemos contentar-nos contentar-nos em dar lugar, porque é de assumir no noss sso o lugar nela que se trata. Ela exige que nos mexamos. Não se pode atingi-la por uma simples habituação Habituamo-nos com o real A verdade, nós a recalcamos Ora, é especialmente necessáio ao erudito, ao mago e mesmo ao médico 3 que ele seja sej a o único a saber. A idéia de que, no fundo das amas mais simples e, ainda por cima, doentes, doente s, haja aguma coisa prestes a eclodir, vá lá que seja, mas, alguém com jeito de saber tanto quanto eles sobre o que se deve pensar a esse respeito res peito. . acudi em nosso socorro, ó categorias do pensa mento primitivo, pré-lógico, arcaico, ou até do pensamento pens amento mágico, tão cômodo de imputar aos outros ! Pois não convém que esses pebeus nos deixem sem se m lego, lego , a nos proporem enigmas que se revelam maliciosos demais
31 Lacan usa o termo mge, proveniente do ancês antigo megier cuja origem é o medicare do latm. Do século XIII em diante, essa orma resultou em meges e no francês atual mégis que designa o banho em que se mergulham os couos paa curti-los. (NE.)
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Para interpretar o nconscente como Freud seria preciso como ele ser uma encclopéda das artes e das musas além de letor assíduo assíd uo das Fliegende Bltter3• E essa tarefa não nos sera mas facilitada facilitada por nos colocarmos colocarmos à mercê de uma trama de alusões e ctações trocadilhos e equvocos Teremos nós de nos ocupar de quinquilharias remedadas? No entanto é preciso se decidir. O inconscente não é o primordal nem o instintivo e de elementar conhece apenas os elementos elementos do signifcante. Os livros que podemos dzer canônicos em matéria de ncons cente - a Trumdeutung, a Psicopatologia da vida cotidiana e O chiste Wit em suas relações com o inconsciente - não passam passam de um tecido tecido de exemplo exemploss cujo desenvolvmento se nscreve nas fórmul fórmulas as de conexão conexão e substitução substitução (só que decu plcadas plcadas por sua complexdade particular particular e sendo seu contexto contexto às vezes dado por Freud fora do texto) que são as que foecemos do signficante em sua função de trnsferência. Pois na Traumdeutung, é no sentido de uma função dessa ordem que se ntroduz o termo Übertragung ou transferênca que mas tarde daria nome à mola operante operante do laço intersubjetivo entre o analisando analisando e o analsta Tais dagramas são consttutvos não somente na neurose no tocante a cada um de seus sintomas como são os úncos que permitem abarcar abarc ar a temática de seu curso e sua resolução. Como demonstram admravelmente as grandes observações de análses foecidas por Freud E, para nos limitarmos a um dado mas reduzido porém mas manejável para nos oferecer o últmo lacre com que selar nossa exposição citare o artgo de d e 1927 sobre o fetichismo bem como o caso que Freud relata nele de um pacente 33 para quem a satsfação sexual exga um certo brlho no nariz (Glanz auf der Nase), e cuja análise mostrou mostrou que que ele ele devia isso ao fato fato de seus prmeros prmeros anos anglófonos haverem haverem deslocado deslocado para um olhar para o narz (a glance at the nose, e não a shine on the nose,
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Pasquim editado editado de 184 18 4 a 194 19 4 por Braun e Schneider (Munique) ilustrad ilustrado o com caicaturas de enomados humoristas da época sobre as relações sociais da burguesia alemã (NE) ["Fetich chis ismo mo , ESB, XXI]. 33 Fetischismus GW, XIV, p.3 1 1 ["Feti
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na língua "esquecida da infância do sujeito) a ardente ardente curio sidade que o prendia ao falo da mãe, ou seja, àquela eminente faltaaser faltaaser da qual Freud revelou o significante privilegiado. privilegiado. Foi esse abismo aberto ao pensamento de que um pensamento se fizesse ouvir no abismo que provocou, desde o início, a resistência à análise. E não, como se costuma dizer, a promoção da sexualidade no homem. Esta é o objeto que mais predomina na literatura através dos séculos. E a evolução da psicanálise conseguiu, por por um cômico passe de mágica, fazer dela uma instância moral, berço e lugar de expectativa da oblatividade e da amância. A montaria platônica da alma, agora agora bendita e iluminada, vai direto para o paraíso O escândalo intolerável, na época em que a sexualidade freudiana ainda não era santa, foi ela ser ser tão "intelectual. "intelectual . Foi nisso que ela se mostrou a digna comparsa de todos os ter terroristas roristas cujos complôs iriam iriam arr arrin ina a a sociedade. No momento em que os psicanalistas se dedicam a remodelar uma psicanálise bempensante, da qual o poema sociológico do eu autônomo é o coroamento, coroamento, quero quero dizer dizer aos que me ouvem em quê eles hão de reconhecer os maus psicanalistas: é no termo de que eles se servem servem para para deprecia qualquer qualquer pesquisa técnica e teórica que siga a experiência feudiana em sua linha autêntica. Trata-se da palavra intelectualização, execrável para todos os que, vivendo eles mesmos no temor temor de se exporem à prova prova de beber beber o vinho da verdade, verdade, cospem cospem no pão dos homens, homens, sem que sua baba, aliás, jamais possa exercer ali senão a função de um fermento. 1. A
letra o ser e o outro 34
O que assim pensa em meu lugar será, pois, um outro eu? Acaso a descoberta de Freud representa a confirmação, no nível da experiê experiência ncia psicológica, do maniqueísmo? 35
34. Perde-se na adução a pecuiaidade das sonoridades francesas:
la lettre,
l ' être être et l autre. autre. (NE)
35. Um de meus coegas chegou a essa idéia ao se pergunta se o I () da doutrina doutrina ulteri ulterio o não seria o eu mau" . (Já se vê com c om quem tive de tabalhar tabalhar,, 1966)
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Nenhuma confusão é possível, com efeito: a investigação de Freud não nos introduziu a casos mais ou menos curiosos de uma segunda personalidade. Mesmo na época heróica heró ica que aca bamos de citar, citar , na qual, como os bichos bich os do tempo dos contos de fadas, a sexualidade sexualidade falava, o clima de sortilégio sortilégio que tal orientação teria gerado nunca se delineou. 36 A finalidade proposta ao homem pela descoberta de Freud foi definida por ele, no apogeu de seu pensamento, em termos comoventes: Wo Es war, sol/ Ih werden L o fut ça, il me faut advenir Lá onde isso foi, ali devo advir. Essa finalidade é de reintegração e acordo, ou, diria eu, de reconciliação (Vershnung). Mas, quando se desconece a excentricidade radical de si em si mesmo com que o homem é confrontado, ou, dito de outra maneira, maneira, a verdade verdade descobert descobertaa por Freud, Freud, falhase falhase quanto à ordem ordem e aos caminhos caminhos da mediação psicanalítica e se faz dela a operação operação de compromisso a que ela efetivamente chegou, chegou, ou seja, aquilo que é mais repudiado repudiado pelo espírito de Freud e pela letra de sua obra pois, visto que a noção de compromisso é incessantemente evocada por ele como estando na base de todas as misérias que sua análise socorre, podemos dizer que o recurso ao compro misso, seja ele explícito ou implícito, desnorteia toda a ação psicanalítica e a mergulha nas trevas Mas tampouco basta entrar em atrito com as tartufices mora lizantes de nossa época e encher a boca com a "personalidade total , apenas para dizer alguma coisa articulada sobre a possi bilidade de mediação. A heteronomia radical, cuja hiância no homem foi mostrada pela descoberta de Freud, já não pode ser encoberta, sem que se considere uma desonestidade intrínseca tudo o que nisso é empenhado. Qual é, pois, esse outro a quem sou mais apegado do que a mim, já j á que, no seio mais consentido de minha identidade comigo comigo mesmo, é ele que me agita?
36 Note-se, no entanto, o tom com que se podia falar, nessa época, das traquinagens do inconscente: Der Zufall und die Koboldstreiche des Unbewussten [O acaso e as diabruras do inconsciente] é um título de Siberer que seria absolutamente anacrônico no atual ambiente dos gerenciadores da alma.
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Sua presença só pode ser compreendida num grau secundário da alteridade, alteridade, que já o situa, a ele mesmo, numa posição de mediação em relação relaç ão a meu próp próprio rio desdobramento de mim comigo mesmo como também com o semelhante. Se eu disse que o inconsciente é o discurso do Outro com maiúscula, foi para apontar o paraalém em que se ata o reco nhecimento do desejo ao desejo de reconhecimento. Em outras palavras, esse outro é o Outro invocado até mesmo porr minha mentira po mentira como garante da verdade em que ela subsiste Nisso se observa que é com o aparecimento da linguagem que emerge a dimensão da verdade. Antes desse ponto, na relação psicológica, perfeitamente iso lável na observação observação de um comportamento comportamento animal, devemos admitir a existência de sujeitos, não por alguma miragem pro jetiva, cujo fantasma o psicólogo está sempre golpeando com seu papo furado, mas em razão da presença manifesta da inter subjetividade Na espreita em que se esconde, na constrção da armadilha, na simulação de atraso com que um fujão desgarrado da tropa tropa despista despista o rapinador rapinador,, emerge emerge algo mais do que na ereção fascinante fascinante da parada parada ou do combate. combate. Ali não há, contudo, contudo, nada que transcenda a função do do engodo a serviço de uma necessidade, nem que afirme afirme uma presença presença no para-alémdovéu para-alémdovéu em que a Natureza inteira pode ser questionada quanto a seu desígnio Para que a própria questão venha à luz (e sabemos que Freud chegou a ela no Para-além do princípio do prazer), é preciso que haja linguagem Pois, se posso fazer meu adversário cair no engodo com um movimento contrário a meu plano de batalha, esse movimento só exerce seu efeito enganador justamente na medida em que eu o produza produza na realidade, e para para meu adversário. adversário. Mas, nas proposições através das quais inicio com ele uma negociação de paz, é num lugar lugar terceiro, que não é nem minha fala nem meu interlocut interlocutor, or, que o que ela lhe propõe se situa. Esse lugar não é outro senão o da convenção signicante, tal como se desrevela no cômico desta queixa dolorosa do judeu a seu amigo: "Por que me dizes que vais a Cracóvia para que eu ache que vais a Lemberg, quando na verdade estás indo a Cracóvia? claro que, minha movimentaç movimentação ão de tropas de há pouco pode É claro ser compreendida nesse registro convencional da estratégia de
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um ogo, onde é em função de uma regra que engano meu adversário, mas, mas, nesse caso, caso, meu sucesso sucesso é avaiado na conotação da raição, iso é, na relação com o Outro garante da Boa Fé. Aqui, os probemas são de uma ordem cua heteronomia é simpesmene desconhecida quando é reduzida a qualquer "sen imeno do outro , não impora como ee seja denominado. Pois, havendo a "existência do outro conseguido, no passado, aingir os ouvidos do Midas psicanalista através da divisória que o separa do conciliábulo fenomenóogo, sabemos que esta noícia passou a correr por entre os juncos: 37 "Midas, o rei Midas, é o outro outro de seu paciente. Foi ee mesmo mesmo quem disse. diss e. Mas, afinal, que porta ele arrombou com isso? O outro, que outro? O jovem André Gide, ao desafiar sua senhoria, a quem a mãe o confiara, a ratá-o como um ser responsável, abrindo osen sivamente ane os ohos dea, com uma chave que só é falsa por ser a mesma que abre todos os cadeados iguais, o cadeado que ea própria própria uga ser o digno significane de suas intenções educaivas, a que outro visa ele? Àquea que irá intervir e a quem o menino dirá, rindo De que lhe adianta um cadeado ridículo para me fazer obedecer? Mas, pelo simpes ter ficado quiea e esperado a noite, para, para, depois da recepção seca que convém, passar um u m sermão no garoo, não é apenas de uma outra que ea he mostra o roso indignado, mas de um outro André Gide, que desde enão á não em muita certeza, mesmo ao voltar ao assunto no presente, daquio que quis fazer: que está mudado até mesmo em sua verdade pea dúvida levanada conra sua boa fé. Tavez esse império da confusão, que é simpesmene aquee em que se encena toda a opera-bufa humana, mereça que nos detenhamos nee, para compreender por quais caminhos procede a análise, não apenas para resabeecer uma ordem nea, mas para insaurar insaurar as condições condições da possibiidade possibiidade de restabelecê-la. Ke unseres Wesen, o âmago de nosso n osso ser: não é tanto a isto que Freud nos ordena visar, como fizeram muitos ouros antes 37 Conforme a versão do mito em que, após um dio infeliz de Midas, Apolo
faz nascerem-he na cabeça oelhas de asno notíca que depos revelada em segredo à terra, é sussurrada ao vento e assm divulgada peos juncos. (N.E.)
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dele através d o vão adágio d o "Conhecete a t i mesmo m esmo ; são as vias que a ele conduzem conduzem que ele nos dá para revsar. Ou melhor, o sto que ele nos propõe atingir não é o que possa ser objeto de um conhecmento, con hecmento, mas isto - acaso ele não o diz? - que consttui meu ser, e sobre o qual ele nos ensina que eu testemunho tanto ou mas em meus caprchos, minhas aberrações, mnhas fobias e meus fetiches quanto em meu personagem personagem vagamente vagamente polciado. Loucura, já não sois o objeto do elogo ambíguo em que o sábo nstalou a cavea inexpugnável de seu medo. Se ali, afnal, ele não está muto mal nstalando, é porque o agente supremo que escava desde sempre suas galeras e seu dédalo é a própra razão, é o mesmo Lgos a que ele serve Do mesmo modo, como rão vocês conceber que um erudito tão pouco dotado para os "engajamentos que o solcitavam em sua época ou em qualquer outra, como fo Erasmo, tenha tdo lugar tão eminente na revolução de uma Reforma em que o homem estava tão nteressado em cada homem quanto em todos É que ao tocar, por pouco que seja, na relação do homem com o signficante, no caso, na conversão dos procedimentos da exegese, exegese, alterase a lterase o curso de sua históra, modifcando as amarras de seu ser. freudsmo, por mas incompreendido incompreendido que É por sso que o freudsmo, tenha sdo e por mais confusas que sejam suas conseqüências, afigurase, ante qualquer olhar capaz de entrever as mudanças que vivemos em nossa própra vda, como consttuindo uma revolução revolução napreensível, napreensível, mas radcal. Acumular os depoimentos é desnecessáro: 38 tudo o que nteressa não apenas às ciências humanas, mas ao destno do homem, à política, à metafísca, à lteratura, às artes, à publcidade, à propaganda e, através delas, à economa, foi afetado por ela.
38 Destaco o mais recente deles no que surge, muito simplesmente sob a pena
de François Mauriac para se desculpar no Figaro Litéraire de 25 de maio, por sua recusa recusa a nos nos " contar contar sua vida vida . Se S e ninguém mais pode engaj engajar-s ar-se e nisso nis so com o mesmo ânimo é porque, diznos ele, há meio século Freud, não importa o que pensemos dele , passou por aí. aí. E, E , depois de se curvar por um instante à idéia difund difundida ida de que que isso is so é para nos sueitar sueitar à história de de nosso noss o corpo corpo ele vota rapidamente ao que sua sensibilidade de escritor não pôde deixar escapar: a confssão mais profunda da alma de todos os que nos são íntimos é o que nosso discurso divulgaria ao querer se rematar.
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Mas, será isso oura coisa senão os efeios desarmônicos de uma verdade imensa, na qual Freud raçou uma via pura? Há que dizer que essa via não é seguida, seguida, em oda técnica técnica que se vaha apenas da caegorização psicoógica de seu objeto, como é o caso da psicanálise de hoje, fora de um reoo à descobera freudiana Do mesmo modo, a vulgaridade dos conceios a que sua práica recorre, os ainhavos ainha vos de pseudofreudismo que nea já não passam de oameno, e ainda o que realmente convém chamar de descrédio em que ea prospera, aesam em conjuno sua renegação fundamenal. Freud, com sua descobera, fez penerar no ineror do círculo da ciência a fronteira enre o objeto e o ser que parecia marcar seu imie Que isso seja sinoma e o prelúdio de um novo questionameno da siuação do homem no ene, a como o supuseram aé hoje odos os postulados do conhecimeno, não se conenem, rogo hes, em caalogar caalogar o fato de eu dizêo como um caso de heideggerianismo mesmo que prefixad prefixadoo por um "neo , o que não acrescena nada ao esio esio boanolixo boano lixo pelo qual se cosuma prescindir de quaquer refexão através do recurso ao brechó de seus destroços menais Quando falo de Heidegger, ou mehor, quando o raduzo, esforço-me por deixar à faa que ele profere sua signicância signicância soberana Se falo da era e do ser, se disingo o ouro e o Outro, é porque Freud os indica a mim como os termos em que se referena referenam m os efeios efeios de resisênci resisênciaa e ransferência com que enho ido que me haver, de maneira desigua, nos vine anos em que venho exercendo esta prática impossíve, odos se compraze comp razem m em repetir repe tir com ele da psicanáise E é ambém porque preciso ajudar ouros a não se perderem nea É para impedir que que sem cuivo o campo cuja herança eles deêm e, nesse inuio, para fazêlos ouvir que, se o sintoma é uma metáfora, dizêlo não é uma meáfora, nem ampouco dizer que o desejo do homem é uma meonímia Porque o sinoma é uma meáfora, quer se queira ou não dizêo a si mesmo, e o desejo é uma meonmia, mesmo que o homem zombe disso E é ambém para que eu convide vocês a se indignarem com com o fao de, após tantos séculos de hipocrisia religiosa e fanfarronice fanfarronice
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fiosófica, fiosófica, ainda não se haver articulado articulado validamene validamene nada do que liga a metáfora à questão do ser e a metonímia à sua faa - nem que fosse preciso que, que, peo objeo dessa indignação como pro moor e como víima, víima, ainda ainda houvesse houvesse aguma coisa para responder responder ou ou seja, seja, o homem homem do humanismo humanismo e o crédio, crédio, irremediavelmene irremediavelmene proesado, proesado, que ele sacou sacou sobre suas inenções. inenções. T.t.y.mu.p.t. 39 14-26 de maio de 1957 Note-se aqui que está ligada a este artigo a ntervenção que zemos em 23 de abri de 1960 na Sociedade de Filosoa, a propósito da comunicação ali produzida peo sr Pereman sobre sua teora da metáfora como função retórica precisamente na Teoria da argumentação. Essa intervenção pode ser encontrada como apêndice (Apêndice I[) deste volume.
39 niciais de tu T'y es mis un peu tard. (E.)
pêndice A
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METÁFORA DO SUJEITO
Este texto é a reescrita, feita em junho de 96, de uma intervenção proferida em 23 de junho de 960 em resposta ao idéia de rcionalidade rcionalidade e da regra sr. Perelman, que argüia a idéia de justiça perante a Sociedade de Filosofa. Ele atesta uma certa antecipação, a propósito da metáfora, do que posteriormente formulamos sobre uma lógica do in consciente Devemos ao sr. François Regnault nolo haver relembrado a tempo de o acrescentarmos à segunda edição deste volume. Os procedimentos da argumentação interessam ao sr. Perelman pelo desprezo em que os mantém a tradição da ciência. Assim foi ele levado, perante uma Sociedade de Filosofia, a pleitear a equivocação. Mais valeria que fosse para-além da defesa, para que nos juntássemos a ele E é nesse sentido que incide a observação da qual o advirto: a de que foi a partir das manifestações do inconsciente, das quais me ocupo como analista, que vim a desenvolver uma teoria dos efeitos do significante na qual reencontro a retórica. O que é atestado pelo fato de que meus alunos, ao lerem suas obras, ali reconhecem o próprio banho em que os imerjo. Assim serei levado a interrogálo menos sobre o que ele examinou aqui, talvez com demasiada prdência, do que sobre um dado ponto em que seus trabalhos nos transportam para o ponto mais ardente do pensamento Por exemplo, a metáfora, da qual se sabe que é onde articulo uma das duas vertentes fundamentais do jogo do inconsciente
1. Cf Cf nota nota da p53 p 533 3 903
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Escrit Escritos os Éc Écri rits ts - ]acques ]acque s Lacan
Não deixo de concordar com a maneira como o sr. Perelman a trata, nela detectando uma operação em quatro termos, ou com o modo como ele se justifica ao separá-la decisivamente da imagem. Não creio que ele esteja bem fundamentado, no entanto, para crer que a tenha restituído à função da anaogia. Se admitirmos nessa função que as reações e se sustentam em seu efeito próprio pea heterogeneidade mesma em que se repartem como tema e como phore,3 esse formalismo já não será válido para a metáfora, e sua mehor prova é que isso fica embaralhado nas próprias ilustrações que o sr. Pereman foece De fato existem, se assim quisermos, quatro termos na metáfora, mas sua heterogeneida heterogeneidade de passa por uma linha divisória três cont contra ra um e se distingue distingu e por ser a que que vai do significante significante ao ao significado. Para esclarecer uma fórmula que dea foeci num artigo intitulado " A instância instância da letra letra no inconsciente inconsciente ,4 vou escrevêla assim
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A metáfora é, radicalmente, o efeito da substituição de um signicante por outro numa cadeia, sem que nada natura o predestine a essa função de phore, a não ser o tratarse de dois signicantes, como tais redutíveis a uma oposição fonemática. Para demonstrálo num dos próprios exemplos do sr. Perelman, o que ele escolheu judiciosamente do terceiro diálogo de Berkeley, 5 um oceano de fa falsa ciência se escreverá escreverá da da seguinte maneir maneiraa pois mais vae restaura restaurarr o que a tradução tradução j á tende a adormecer adormecer (para (par a render render homenagem, junto com o sr. Perelman, a uma metáfora beissimamente encontrada pelos retóricos): an ocean eaing
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fase x
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an ocean
2. C as áginas que nos ermitiremos qualicar de admiráveis no Traité de l 'argumentatio 'argumentation n volII, PUF p497-534 Eemento Eemento do gego pherein, ansor, carregar, que enta na comosição de metáf metáfor ora a (NE) (NE) 4. Cf A instância instância " , p496533 p496533 deste deste volume. 5 Traité de l argumentation argumentation p537
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A metáfora do sujeito
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Leaming ensino, na verdade não é ciênca, o que conma que esse termo tem tão pouco a ver com o oceano quanto a mosca com a sopa. A catedral submersa do que se ensnou até aqu, no tocante a essa matéria, decerto também não ressoará em vão em nossos ouvdos por se reduzir à alteância de sno surdo e sonoro pela qual a frase nos penetra learning, lear-ning , porém não das profundezas de uma camada íquida, e sim da faáca de seus próprios argumentos Dos quais o oceano é um, e mais nada. Quero dizer, literatura, que é preciso resttuir à sua época, pea qual ele sustenta o sentdo de que o cosmo, em seus conns, pode toarse um ugar de engano. Sgni cado, potanto, dirmeão vocês, de onde parte a metáfora Sem dúvda, só que, no acance de seu efeito, ela transpõe o que al é somente recorência, para se apoiar no nãosenso do que é apenas um termo entre outros do mesmo leaming. O que se poduz, ao contário, no lugar do ponto de interogação da segunda parte de nossa fórmula, é uma nova espécie na signifcação, a de uma falsidade que a contestação não capta, insondável, onda e pofundeza de um apeiros apeiros do magináo onde soçobra qualquer nau que queira apoar-se em sua fonte Ao ser " despetada despetada em seu fr frescor, es cor, essa es sa metáfora, metáfora, como qualquer qualquer outra, revelase o que ela é entre os surrealstas. A metáfora radical se dá no acesso de rava, relatado por Freud, do menno ainda nerme em grosseria que fo seu Homem dos Ratos antes de se consumar como neurótco obsessivo, o qua, ao ser contrarado pelo pa, interpeao: "Du Lape, du Handtuch du Teller usw (" Seu Seu'' lâmpad lâmpada, a, seu' seu ' toalha toalha,, seu' se u' prat prato o .. .. , e assim ass im por po r diant diante e ). Com o que o pa hesta em autentcar o cme ou o talento.
Com o que nós mesmos entendemos que não se perca a dmensão de njúra onde se orgna a metáfora. Injúra mas grave do que se imagna, quando ea é reduzda à nvectva da guea. Pos é dea que provém a injustça, cometda gratutamente conta quaquer sueto, de um atrbuto com que um outo sujeito quaquer é evado a atingilo. O gato faz faz auau, o cacho cachoo o faz faz mauma maumau u . Es como a criança criança soleta os poderes do dscurso e naugura o pensamento Haverá quem se supreenda por eu sentr necessidade de evar as coisas tão longe no que concee à metáfora Mas o sr. Pereman há de convir comigo que, ao invocar, para satisfazer sua teoa aalógica, os pares do nadador e do eudito, da tera fme e da verdade, e ao admtir que assm se pode mutpicá-os indendamente o que ele
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formua manifesta manifesta de um modo patente patente que todos ees ee s estão " por for fora a , e se resume ao que eu digo: que o fato aceito de uma signicação não tem nada a ver com essa questão Naturamente, apontar a desorganização constitutiva de quaquer enunciação não é tudo, e o exempo que o sr Perelman ressuscita de Aristóteles,6 o do anoitecer da vida significando a vehice, nos é bastante indicativo, por mostrar não somente o recaque do que há de mais desagradáve no termo metaforizado, mas também para dee fazer surgir um sentido de paz que ee de modo agum impica no rea Pois, se questionarmos a paz do anoitecer perceberemos que ea não tem outro destaque senão a redução do voume dos vocaises, quer se trate da cantoria dos ceifeiros ou do chirear dos pássaros. Após o que será preciso embrarmos que, por mais bababá que seja essenciamente a linguagem, é dea que provêm, no entanto, o ter e o ser No que tange à metáfora por nós mesmos escohida no artigo citado há pouco/ qual qual seja seja,, " Seu feixe feixe não era avaro nem odiento odiento , de Booz adormecido, não é um ramerrão inútil dizer que ea evoca o víncuo que, no rico, une a posição do ter à recusa inscrita em seu ser. Pois nisso está o impasse do amor E sua própria negação nada mais faria aqui, sabemos, do que instaurá-o, se a metáfora que introduz a substi tuição do sujeito por "seu feixe não fizesse surgir o único objeto cujo ter exige a fata-a-ser o fao, em too do qual gira todo o poema, até o seu desenace O que equivae a dizer que a reaidade mais séria, e até, para o homem, a única que é séria, se considerarmos seu pape de suporte da metonímia de seu desejo, só pode ser abarcada na metáfora Onde estou querendo chegar, se não a convencê-os de que o que o inconsciente traz a nosso exame é a ei pea qual a enunciação jamais se reduzirá ao enunciado de qualquer discurso? Não digamos que é aí que escoho meus termos, não importa o que eu tenha a dizer. Embora não seja inúti, neste ponto, lembrar que o discurso da ciência, na medida em que reivindica a objetividade, a neutralidade, a monotonia ou até o gênero sulpiciano, 8 é tão desonesto e mal-intencionado quanto qualquer outra retórica
6.
Trité de l'argumentation, p535. p509-10 7 . C "A instânia , p509-10 8. Da ordem de San-Sulpice dedicada ao ensino; o adjetivo ambém dá em fran francês cês a idéia idéia de objeo objeo " de mau mau goso goso . (NE (N E.) .)
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A metáfora do sujeito
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O que é preciso dizer é que o [eu] dessa escolha nasce em outro lugar que não aquele em que o discurso se enuncia: precisamente naquele que o escuta. Não equivale isso a foecer o status dos efeitos da retórca, mostrando que eles se estendem a qualquer significação? Objetem-nos que eles estancam no discurso matemático, e estaremos tão mais de acordo na medida em que o apreciamos no mais alto grau a esse discurso por ele não significar nada O único enunciado absoluto foi dito por quem de direito ou seja, que nenhum lance de dados no signifcante jamais abolirá nele o acaso pela simples razão razão acrescentamos de que nenhum acaso acaso existe senão em uma determinação de linguagem, e isso, sob qualquer aspecto que o conjuguemos, de automatismo ou casualidade