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COM
SADE
ESCRITOS Jacques Lacan AP FREUDIAN N BRASL
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Este exto deveria servir de prefáco para A flsfa na alva. Fo publicado na revisa Critique (nQ191, abrl de 1963), sob a forma de uma resenha da edção das obras de Sade a que era destinado. Ed. du Cercle du Lvre Préceux, 1963, 15 vos.
Que a obra de Sade antecipa Freud nem que seja no tocante ao catáogo das perversões é uma estupidez que se rediz nos textos e cuja responsabiidade como sempre cabe aos especialistas Ao contrário sustentamos que a acova sadiana igualase aos lugares dos quais as escolas da antiga fiosofia retiraram seu nome: Academia Liceu Stoá Aqui como lá prepara-se a ciência retificando a posição da ética Nisso sim operase um apana ment que tem que caminhar cem anos nas profundezas do gosto para que a via de Freud seja viáve. Contem mais sessenta para que digamos o porquê de tudo isso. Se Freud pôde enunciar seu princípio do prazer sem sequer ter tido que se preocupar em marcar o que o distingue de sua função na ética tradiciona e sem correr maior risco de que ee fosse ouvido num eco ao preconceito inconteste de dois milênios como embrando a atração que preordena a criatura a seu bem com a psicoogia que se inscreve em diversos mitos d benevo ência só podemos render homenagem à ascensão insinuante ao ongo do sécuo XIX, do tema da "feicidade no mal Aqui Sade é o passo inaugura de uma subversão da qua por mais picante que isso pareça considerada a frieza desse homem Kant é o ponto decisivo e jamais identificado ao que saibamos como ta A filosoa na alcova surge oito anos depois da Crítca da razão razão p rátca. Se depois de ter visto que é compatíve com esta 776
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demonstrarmos que ela a completa, diremos que ela foece a verdade da Críica. Do mesmo modo, os postulados com que esta última se conclui o álibi da imortalidade imortalidade em que ela recalca o progresso, progresso, a santidade e até o amor, tudo o que possa vir de satisfatório da lei, e a garantia que lhe é necessária, de uma vontade, para o qual o objeto a que a lei se refere seja inteligível, perdendo até mesmo o apoio raso da função de utilidade em que Kant os confinava confinava restituem restituem à obra seu diamante diamante de subversão. subversão. Com o que se explica a incrível exaltação que dele recebe todo leitor não prevenido pelo fervor acadêmico. Efeito que, mesmo tendo sido percebido, em nada será prejudicado. Que fiquemos bem no mal, ou, se preferirmos, que o eteo feminino não eleve às alturas, poderíamos dizer que essa virada foi feita com base numa observação filológica: nominalmente, que o que fora aceito até então, que ficamos bem no bem, repousa numa homonímia que a língua alemã não admite: Man fhlt sich wohl im Guten É dessa maneira que Kant nos introduz em sua Razão prática O princípio do prazer é a lei do bem que é o wohl, digamos, o bem-estar. Na prática, ele submeteria o sujeito ao mesmo encadeamento fenomênico que determina seus objetos. A objeção que Kant faz a isso é, segundo seu estilo rigoroso, intrínseca Nenhum fenômeno pode prevalecer-se de uma relação constante com o prazer. Não se pode enunciar nenhuma lei de tal bem, portanto, que defina como vontade o sujeito que a introduz em sua prática. Assim, a investigação do bem seria um impasse, se ele não renascesse das Gute o bem que é objeto da lei moral. Ele nos é apontado pela experiência que temos de ouvir dentro de nós ordens cujo imperativo se apresenta como categórico, ou seja, incondicional. Note-se que esse bem só é suposto como o Bem por se propor, como acabamos de dizer, a despeito de qualquer objeto que lhe imponha sua condição, por se opor a seja qual for dos bens incertos que esses objetos possam trazer, numa equivalência de princípio, para se impor como superior por seu valor universal. Assim, seu peso só aparece por excluir, pulsão ou sentimento,
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tudo aquilo de que o sujeito pode padecer em seu interesse por um objeto, o que por isso isso Kant designa como patológico" . Logo, seria por uma indução baseada nesse efeito que nele encontraríamos o Bem Supremo dos Antigos, se Kant, como é seu costume, não tivesse ainda esclarecido que esse Bem não age como contrapeso, mas, por assim dizer, como antipeso, isto é, pela subtração de peso que ele produz no efeito de amor-próprio (Selbstsucht) que o sujeito sente como satisfação (arrogantia) de seus prazeres, porquanto um olhar para esse Bem toa esses prazeres menos respeitáveis. 1 Textual, assim como sugestivo. Retenhamos o paradoxo de que é no momento em que o sujeito já não tem diante de si objeto algum que ele encontra uma lei, a qual não tem outro fenômeno senão alguma coisa já significante, que é obtida de uma voz na consciência e que, ao se articular nela como máxima, propõe ali a ordem de uma razão puramente prática, ou vontade. Para que essa máxima sirva de lei, é necessário e suficiente que, na experiência de tal razão, ela possa ser aceita como universal por direito de lógica. O que lembremos sobre esse direito, não quer dizer que ela se imponha a todos, mas que valha para todos os casos, ou, melhor dizendo, que não valha em nenhum caso, se não valer em todos. Mas, devendo essa experiência ser de razão, pura ainda que prática, ela só pode ter êxito em relação a máximas de um tipo que permita uma apreensão analítica em sua dedução. Esse tipo é ilustrado pela fidelidade que se impõe na devolução de um depósito, 2 repousando a prática do depósito nos dois ouvidos que, para constituírem o depositário, têm que se fechar a qualquer condição que se oponha a essa fidelidade. Em outras palavras, não há depósito sem depositário à altura de sua incum bência. Poder-se-á sentir a necessidade de um fundamento mais sin tético mesmo nesse caso evidente. Ilustremos sua falta, por
Remeteremos à tradução muito aceitável de B que remonta a 1848, aqui em suas p.247 e seguintes e à edição Vorlnder (da Meiner) quanto ao texto alemão p 86 2. Cf o escólio do teorema III do primeiro capítulo de 1 'Analytique de la Raison pure prtique, Bi p.l63; Vorlnder p.3.
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nosso tuo, ainda que ao preço de uma irreverência, através de uma máxima retocada do pai Ubu: "Viva a Polônia, pois, se não houvesse a Poônia, não haveria poloneses. Não vá ninguém aqui duvidar, por aguma lentidão ou até emotividade, de nosso apego a uma liberdade sem a qual os povos se enlutam Mas sua motivação, aqui analítica, apesar de irrefutáve, presta-se a que o indefectível seja temperado pela observação de que os pooneses fizeramse distinguir desde sempre por uma notáve resistência aos ecipses da Poônia, e mesmo à deploração que se seguia Deparamonos com o que leva Kant a ter boas razões para exprimir o pesar de que, à experiência da lei moral, nenhuma intuição ofereça um objeto fenomênico Havemos de convir que, ao longo de toda a Crítica, esse objeto se furta. Mas é adivinhado pelo rastro deixado pela implacáve seqüência trazida por Kant para demonstrar sua esquiva, e da qual o livro extrai esse erotismo, sem dúvida inocente, mas perceptível, cua sóida fundamentação iremos mostrar pela natureza do referido objeto. Eis por que rogamos que se detenham neste exato ponto de nossas linhas, para retomálas posteriormente, todos aquees de nossos leitores que estiverem, no tocante à Crítica, numa relação ainda virgem, por não a haverem ido. Que verifiquem se ea tem mesmo o efeito que afirmamos, e ao menos hes prometemos o prazer que é transmitido por essa façanha Os outros nos acompanharão agora na Filosofa na alcova, ou pelo menos em sua leitura Panfleto, revelase ea, porém dramático, onde uma iuminação cênica permite ao diáogo e aos gestos prosseguirem até os imites do imaginável essa iluminação apagase por um momento para dar lugar, panfleto dentro do panfeto, a um libeo intitulado Franceses, mais um esforço, se quereis ser repubicanos O que aí se enuncia é comumente entendido, se não apreciado, como uma mistificação Não é preciso ser aertado pela reco nhecida importância do sonho dentro do sonho, por apontar uma reação mais próxima do real, para ver no desprezo, no caso, pela atualidade histórica, uma indicação do mesmo tipo Ea é patente, e melhor faremos em examinála duas vezes
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Digamos que a ecácia do ibelo é dada na max1ma que propõe ao gozo sua regra, insóita ao se dar o direito, à maneira de Kant, de se afirmar como regra universa Enunciemos a máxima: "Tenho o direito de gozar de teu corpo, pode dizerme quaquer um, e exercerei esse direito, sem que nenhum limite me detenha no capricho das extorsões que me dê gosto de nele saciar Essa é a regra à qua se pretende submeter a vontade de todos, por menos que uma sociedade a impemente através de sua coerção coerção Humor negro, na mehor das hipóteses, para qualquer ser sensato, ao toar a parir da máxima para o consentimento que nea se supõe. Mas, afora o fato de que, se há uma coisa a que nos habituou a dedução da Crítica, foi a distinguir o raciona do tipo de sensatez que não passa de um recurso confuso ao patoógico, sabemos agora que o humor é o trânsfuga na comicidade da própria funç função ão do "Supereu o que, que, para anim animar ar com uma metamorfose essa instância psicanaítica e arrancá-a do retoo de obscurantismo em que a empregam nossos contemporâneos, pode iguamente apurar o sabor da prova kantiana da regra universa com a pitada de sa que he fata Assim, não somos nós incitados a levar mais a sério aquio que se nos apresenta como não o sendo em absouto? Não perguntaremos, é claro, se é necessário nem suficiente que uma sociedade sancione um direito ao gozo, permitindo a todos vaeremse dee, para que a partir daí sua máxima pretexte o imperativo da ei moral Nenhuma legalidade positiva pode decidir se essa máxima é capaz de assumir a categoria de regra universal, uma vez que, do mesmo modo, essa categoria pode eventuamente opôa a todas Essa não é uma questão que se decida simpesmente ao imaginá-la, e a extensão a todos do direito que a máxima invoca não é aqui o que está em pauta Não se demonstraria nisso, na mehor das hipóteses, senão uma possibiidade do gera, que não é o universa, o qua toma as coisas como estas se fundamentam, e não como se dispõem E não se pode omitir esta oportunidade de denunciar a exor bitância do pape conferido ao momento da reciprocidade nas estruturas, sobretudo subjetivas, que a repeem intrinsecamente
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A reciprocidade, reação reversíve, por se estabeecer numa inha simpes que une dois sujeitos que, por sua posição "recí proca , tomam essa reação como equivaente, dificimente con segue coocarse como o tempo ógico de uma travessia do sujeito em sua reação com o significante, e muito menos como etapa de agum desenvovimento, aceitáve ou não como psíquico (onde a criança sempre tem as costas argas para he apicarem a intenção pedagógica) Seja como for, já é um ponto a ser conferido a nossa máxima que ea possa servir de paradigma de um enunciado que excui como ta a reciprocidade (a reciprocidade, e não a incumbência de revide) Quaquer juízo sobre a ordem infame que entronizaria nossa máxima, portanto, é indiferente nessa matéria, que consiste em he reconhecer ou em he recusar o caráter de uma regra aceitáve como universa na mora, a mora reconhecida desde Kant como uma prática incondiciona da razão. É preciso, evidentemente, reconhecer-he esse caráter, pea simpes razão de que seu mero anúncio (seu querigma) tem a virtude de instaurar, ao mesmo tempo, quer a rejeição radica do patoógico, de quaquer consideração por um bem, uma paixão ou mesmo uma compaixão, ou seja, a rejeição pea qua Kant iberta o campo da ei mora, quer a forma dessa ei, que é também sua única substância, na medida em que a vontade só se obriga a ea ao rejeitar de sua prática toda razão que não seja de sua própria máxima Certamente, esses dois imperativos, entre os quais pode ser esticada até o estihaçamento da vida a experiência mora, são-nos impostos, no paradoxo sadiano, como ao Outro, e não como a nós mesmos Mas aí só há distância à primeira vista, pois, de maneira atente, o imperativo mora não faz menos que isso, já que é a partir do Outro que sua ordem nos soicita. Aqui percebemos revear-se nuamente aquio em que nos introduziria a paródia, acima citada, do universa evidente do dever do depositário, ou seja, que a bipoaridade pea qua se instaura a Lei moral não é nada aém da fenda do sujeito operada por quaquer intervenção do significante: nomeadamente, do sujeito da enunciação para o sujeito do enunciado
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A Lei moa não tem outo pincípio Mas é peciso que isso fique patente, a menos que nos pestemos à mistificação que a piada do "Viva a Poônia! faz senti Nesse aspecto, a máxima sadiana é, po se ponuncia pela boca do Outo, mais honesta do que o ecuso à voz inteio, já que desmascaa a fenda, comumente escamoteada, do sujeito. O sujeito da enunciação distinguese dela tão claamente quanto do "Viva a Poônia, onde apenas se isola o que sua manifestação sempe evoca de fun. Basta que nos eportemos, paa confima essa pespectiva, à doutrina em que o pópio Sade fundamenta o império de seu princípio Tata-se da dos dieitos do homem É pelo fato de que nenhum homem pode se de outo homem popriedade, nem de agum modo seu apanágio, que não se pode disso faze um petexto paa suspende o dieito de todos de usufruíem dee, cada qua a seu gosto 3 O que ele sofeá de coeção não é tanto po vioência, mas po pincípio, e a dificuldade paa quem faz dela uma máxima está menos em fazê-lo consenti nisso do que em ponunciáa em seu luga Potanto, é ealmente o Outo como live, é a ibedade do Outo que o discuso do dieito ao gozo instaua como sujeito de sua enunciação, e não de uma maneia que difia do tu és que se evoca do fundo motífeo de quaque impeativo 4 Mas esse discuso é não menos determinante paa o sujeito do enunciado, ao povocá-lo a cada endeeçamento de seu conteúdo equívoco, já que o gozo, ao se confessa impudente mente em suas pópias paavas, fazse pólo de uma dupa em que o outo está no fosso que ee já perfua no uga do Outo, paa ai egue a cruz da experiência sadiana Adiemos falar de sua moa, paa lemba que a do, que pojeta aqui sua pomessa de ignomínia, só faz coroboar a menção expessa que dela faz Kant ente as conotações da experiência moa Vese-á meho o que ea vae paa a experiência sadiana abodando-a pelo que haveria de desconcertante no artifício dos estóicos a seu espeito: o despezo.
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Cf. Tu
a edição de Sade apresentada, volIII p501-2 es (u és) equivoca com tuer (matar) (N.E.)
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Imaginemos uma réplca de Epícteto na experiência sadana "Vê, tu a quebraste, diz ee, apontando para sua pea. Acaso reduzir o gozo à mséra desse efeito em que tropeça sua busca não é transformáo em horror? O que mostra que o gozo é aqulo peo qua se modifica a experênca sadiana Pos ee só projeta monopolzar uma vontade ao já havêla atravessado para se nstalar no mais ntimo do sujeito que ele provoca mas além, ao atingr seu pudor. Pois o pudor é ambiceptivo das conjunturas do ser entre dos, o despudor de um constitui por s só a voação do pudor do outro. Canal que justifca, se necessáro fosse, o que logo de nco produzimos da asserção, no ugar do Outro, do sujeto Interroguemos esse gozo, precáro por estar preso, no Outro, a um eco que ee só suscta ao abolo pouco a pouco, por he juntar o ntolerável. Não nos parece, parece, afna, afna, que ele só se exalta por s mesmo, à manera de uma outra e horrve lberdade? Da mesma forma veremos descobrrse o terceiro termo que, no dizer de Kant, fatara na experiênca moral Tratase do objeto, o qual, a fim de garanto para a vontade no cumprimento da Le, ee é obrgado a remeter ao impensáve da Cosa-em-s. Esse objeto, acaso não o vemos decaído de sua nacessbidade, na experiênca sadana, e revelado como o Ser-a, Dasein, do agente do tormento? Não sem manter a opacdade do transcendente. Pois esse objeto é estranhamente separado do sujeto. Observese que o arauto da máxima não precisa aqui ser mas do que um ponto de emssão. Pode ser uma voz no rádio, lembrando o alardeado dreito ao supemento de esforço no qua, ante apeo de Sade, os franceses teriam consentido, transformada a máxma, para sua República regenerada, em Lei orgânica. Certos fenômenos da voz, nomeadamente os da pscose, têm mesmo essa faceta do objeto E a psicanálse não estava longe, em sua aurora, de referlos à voz da consciênca. Vemos o que motva Kant a considerar que esse objeto se furta a quaquer determinação da estética transcendenta, embora não deixe de aparecer em alguma saiênca do véu fenomênico, não sendo sem era nem beira, nem sem tempo na ntução, nem sem modo que se stue no rreal, nem sem efeto na realdade: não é só que a fenomenoogia de Kant falhe aqu, mas é que a
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voz, mesmo louca, impõe a idéia do sujeito, e não convém que o obeto da ei sugira uma maignidade do Deus real Seguramente, o cristianismo educou os homens a serem pouco atentos ao aspecto do gozo de Deus, e é nisso que Kant impõe seu voluntarismo da Leipea-Lei, que remete, por assim dizer, à ataraxia da experiência estóica Podemos pensar que Kant está sob a pressão daquilo que ouve muito de perto, não de Sade, mas de um certo mstico de sua região, no suspiro que sufoca o que ele visumbra paraalém, por ter visto que seu Deus é desprovido de rosto Grimmigkeit? Sade diz: Sersupremoem maldade Mas, xô! Schwrmereien, negros enxames, nós vos enxotamos para votar à função da presença na fantasia sadiana Essa fantasia tem uma estrtura que reencontraremos mais adiante e na qual o objeto é apenas um dos termos onde pode extinguirse a busca que ea representa Quando o gozo se petrifica aí, ee se toa o fetiche negro em que se reconhece a forma efetivamente oferecida em um certo tempo e ugar, ainda nos dias atuais, para que nea se adore seu deus É isso que advém do executor na experiência sádica, quando sua presença se resume, em última instância, a não ser mais do que seu instrumento Mas o xarse seu gozo nela não o livra da humidade de um ato em que ee não pode entrar senão como ser cal e, até a medua, servo do prazer Dupicação que não reete nem reciproca (por que não mu tuaria ela?) a que se operou no Outro pelas duas ateridades do sujeito. O desejo, que é o fautor dessa fenda do sujeito, sem dúvida se conformaria em se dizer vontade de gozo Mas essa denomi nação não o toaria mais digno da vontade que ee invoca no Outro, provocandoa até o extremo de sua separação de seu pathos, pois, para fazêo, ee já começa derrotado, fadado à impotência É que ee começa submetido ao prazer, cua ei é fazêo girar em sua meta cada vez mais repentinamente Homeostase sempre encontrada depressa demais peo vivente, no imiar mais baixo da tensão em que ele vegeta É sempre precoce a queda da asa pea qua he é dado poder assinar a reprodução de sua forma
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Asa que, no entanto, deve aqui ser eevada à função de figurar o aço do sexo com a morte Deixemo-a repousar sob seu véu eleusino Daquea vontade riva estimulante, portanto, o prazer já não é aqui senão um cúmpice precário No momento mesmo do gozo, estaria simplesmente fora do jogo, se a fantasia não interviesse para sustentá-o pela própria discórdia em que ele sucumbe. ara dizêlo de outra maneira, a fantasia toa o prazer apropriado ao desejo E repitamos que desejo não é sujeito, por não ser indicável em parte aguma num significante da demanda, seja ela qua for, por não ser articuláve nee, ainda que nee se articue A captura do prazer na fantasia é aqui fácil de apreender A experiência fisiológica demonstra que a dor é de ciclo mais longo, sob todos os aspectos, do que o prazer, já que uma estimulação a provoca no ponto em que o prazer acaba Por mais proongada que a suponhamos, no entanto, como o prazer ea tem seu fim: é o esvaecimento do sujeito Esse é o dado vita do qua a fantasia vai se servir para fixar, no sensível da experiência sadiana, o desejo que aparece em seu agente. A fantasia é definida pela forma mais gera que recebe de uma álgebra construída por nós para esse fim, ou seja, a fórmula (�Oa), onde a punção o se lê "desejo de, a ser lido da mesma forma no sentido inverso, introduzindo uma identidade que se fundamenta numa nãoreciprocidade absoluta. (Relação coexten siva às formações do sujeito) Seja como for, essa forma revease particuarmente fáci de ser avivada no presente caso Articula nele, de fato, o prazer a que veio substituirse um instrumento (o objeto a da fórmua) na espécie de divisão contínua do sujeito que é ordenada pea experiência O que só se consegue se seu agente aparente se cristaiza na rigidez do objeto, no intuito de que sua divisão de sujeito he seja totalmente remetida peo Outro Uma estrutura quadripartite, desde o inconsciente, é sempre exigível na construção de uma ordenação subjetiva O que é satisfeito por nossos esquemas didáticos
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Modulemos a fantasia sadiana com um novo esquema dentre esses: s
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A linha inferior satisfaz a ordem da fantasia, na medida em que esta sustenta a utopia do desejo. A inha sinuosa inscreve a cadeia que permite um cálculo do sujeito É orientada, e sua orientação constitui ali uma ordem em que o aparecimento do objeto a no lugar da causa se escarece peo caráter universal de sua reação com a categoria da causa idade, o qua, ao forçar o limiar da dedução transcendental de Kant, instauraria no eixo do impuro uma nova Crítica da Razão Resta o V, que, estando por cima nesse lugar, parece impor a vontade que domina a história toda, mas cuja forma também evoca a reunião do que ee divide, mantendo-o unido por um vel, isto é, permitindo escoher o que fará o $ (S barrado) da razão prática com o S, sujeito bruto do prazer (sujeito "patoó gico) É realmente com a vontade de Kant, portanto, que se encontra no lugar dessa vontade, que só se pode dizer de gozo expicando que se trata do sujeito reconstituído da alienação, ao preço de ser apenas o instrumento do gozo. Assim, Kant, por ser ques tionado "com Sade, ou seja, com Sade fazendo as vezes, tanto para nosso pensamento quanto em seu sadismo, de instrumento, confessa o que está incuído no sentido do "Que quer ee? ee? que doravante não fata a ninguém Sirvamonos agora desse grafo, em sua forma sucinta, para nos acharmos na oresta da fantasia, que Sade, em sua obra, desenvolve num plano de sistema Veremos que há uma estática da fantasia pea qua o ponto de afânise, suposto em S deve ser, na imaginação, infinitamente adiado Daí a sobrevivência pouco crível de que Sade dota as vítimas das sevícias e tribuações que hes inflige em sua fábula.
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Nesa, o momento da more delas só parece motivado pela necessidade de subsiuí-las numa combinatória, a única que exige sua multiplicidade Única (Justine) ou múltipla, a víima em a monoonia da relação do sueito com o significane, na qual, a confiarmos em nosso grafo, ela consiste Por ser objeto a da fanasia, situandose no real, a ropa dos atormentadores (vide Juliete) pode er mais variedade A exigência, na aparência das víimas, de uma beleza sempre classificada de incomparável (e, além disso, inalterável, cf supra) é uma outra hisória, da qual não nos podemos livrar com alguns postulados banais, forados às pressas, sobre a aração sexual. Neles veremos, antes, a caricatura daquilo que demonstramos, na tragédia, sobre a função da beleza: barreira exrema que proíe o acesso a um horror fundamenal Pensemos na Antígona de Sófocles e no momento em que nela eclode o Eros aníkhate mákan. 5 Esa digressão não seria admissível aqui, se não inroduzisse o que se pode chamar de discordância das duas mores, inro duzida pela existência da condenação O enreduasmores do paraaquém é essencial para nos mostrar que não é oura coisa senão aquele em que se susenta o paraalém Vemolo com clareza no paradoxo consituído em Sade por sua postura perane o infeo A idéia de infeo, cem vezes refuada por ele e amaldiçoada como meio de sueição da tirania religiosa, volta curiosamente a motivar os gesos de um de seus heróis, ainda que dos mais apaixonados pela subversão liberina em sua forma racional, a saber, o hediondo SaintFond 6 As práicas com que ele impõe a suas víimas o suplício derradeiro baseiamse na crença de que ele pode convertêlo para elas, no paraalém, no ormeno eeo Conduta da qual, por seu relativo encobrimeno no ocane a seus cúmplices, e crença da qual, por seu embaraço em se usificar por ela, o personagem sublinha a auenticidade Aliás, ouvimolo, a algumas páginas dali, entar oálas plausíveis em seu discurso, aravés do mito de uma aração que que ende a reunir as "parículas do mal
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Anígna v.781. 6 Cf. Histoire de Julette, ed. ean-Jacques Pauvert, vol.II p.l96 e seguintes.
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Essa incoerência em Sade, negligenciada pelos sadistas, tam bém eles um pouco hagiógrafos, se esclareceria ao destacarmos em sua pluma o termo, formalmente expresso, segunda morte A segurança que ele espera desta contra a horrível rotina da natureza (aquela que, ouvindoo em outro texto, o crime tem a função de romper) exigiria que ela cegasse a um extremo em que se reduplica o desvanecimento do sujeito: do qual ele faz um símbolo, no anseio de que os elementos decompostos de nosso corpo, para não voltarem a se reunir, sejam, eles mesmos, aniquilados Que Freud, no entanto, reconheça o dinamismo desse anseio 7 em alguns casos de sua prática, e que le reduza a função muito claramente, talvez com clareza demais, a uma analogia com o princípio do prazer, relacionando-a com uma "pulsão (demanda) "de morte, eis aquilo a que se recusaria o consentimento, especialmente o de alguém que nem sequer pôde aprender, na técnica que deve a Freud, bem como em suas lições, que a linguagem tem outro efeito que não o utilitário, ou o de exibição, quando muito reud lhe é de serventia nos congressos. Sem dúvida, aos olhos de tais fantoches, os milhões de homens para quem a dor de existir é a evidência original, no que tange às práticas de salvação que eles baseiam em sua fé no Buda, são subdesenvolvidos, ou melor, assim como para Buloz, diretor da Revue des Deux Mondes, que o disse sem rodeios a Renan, ao rejeitar seu artigo sobre o budismo 8 isso segundo segundo Buouf Buouf,, ou seja, em algum ponto dos anos cinqüenta (do século passado) , para eles "não é possível que aja aja pessoas pessoas tão burras burras assim. assim. Pois então não ouviram eles, se crêem ter um ouvido melhor do que os outros psiquiatras, essa dor em estado puro modelar a canção de alguns doentes, denominados de melancólicos? Nem colheram um daqueles sonhos com que o sonhador fica transtoado, por ter, na condição sentida de um renascimento inesgotável, estado no âmago da dor de existir?
7 Dinamismo subjetivo: a morte física dá ao anseio
d
segunda morte seu
objeto. 8 Cf. o prefácio de Renan a seus Nouvelles études d'histoire religieuse, de 1884
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Ou então, para pôr em seu devido lugar aqueles tormentos do infeo que nunca puderam ser imaginados paraalém daquilo cua manutenção tradicional os homens garantem neste mundo, porventura havemos de suplicar-lhes que pensem em nossa vida cotidiana como devendo ser etea? Nada se deve esperar, nem mesmo desespero, de uma besteira, em suma sociológica, e que só registramos para que, do lado de fora, não se espere nada demais, no que concee a Sade, dos crculos em que se tem uma experiência mais garantida das formas do sadismo Notadamente quanto ao que se difunde de equvoco no tocante à relação de reversão que uniria o sadismo a uma idéia sobre o masoquismo, que de fora não se imagina a misturada que essa idéia supora Mais vale encontrar nisso o valor de uma historinha, famosa, famosa, sobre a exploração exploração do homem pelo homem definição definição do capitalismo, como se sabe Mas, e o socialismo? É o contrário Humor involuntário, eis o tom com que vigora uma certa difusão da psicanálise. Ele fascina porque, ainda por cima, passa despercebido Mas há doutrinários que se esforçam por uma roupagem mais bem cuidada É o caso do aplicado existencialista, ou, mais sobriamente, do ready-made personalista Isso resulta em que o sádico "nega a existência do Outro É justamente, havemos de admitir, o que acaba de aparecer em nossa análise Seguindoa, não será, antes, que o sadismo rechaça para o Outro a dor de existir, mas sem ver que, através disso, ele mesmo se transmuda num "objeto eteo, se o sr. Whitehead tiver a bondade de nos ceder novamente esse termo? Mas, por que não nos seria ele um bem comum? Não é esse reden redençã ção, o, alma alma imor imora all o stat status us do do cris cristão tão?? Nem Nem tão tão depressa, para também não ir longe demais Constatemos, antes, que Sade não é tapeado por sua fantasia, na medida em que o rigor de seu pensamento passa para a lógica de sua vida Pois proponhamos aqui um dever a nossos leitores A delegação que Sade faz a todos, em sua República, do direito ao gozo, não se traduz em nosso grafo por nenhuma reversão de simetria num eixo ou centro qualquer, mas apenas por uma rotação de um quarto de círculo, ou seja:
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EUEMA 2:
V, a vontade de gozo já não permite contestar sua natureza por passar para a coerção moral implacavelmente exercida pela Presidenta de Montreuil sobre o sujeito cuja divisão como se vê não exige ser reunida num só corpo. (Note-se que somente o Primeiro Cônsul ratifica essa divisão por seu efeito de alienação administrativamente confirmado.) Essa divisão aqui reúne como S o sujeito bruto que enca o heroísmo próprio do patológico sob a forma da fidelidade a Sade que atestarão aqueles que a princípio foram complacentes com seus excessos 9 como sua sua mulher sua sua cunhada cunhada seu lacaio lacaio por que não? outros devotamento devotamentoss apagados apagados de sua história. história. Para Sade o $ (S barrado) vemos enfim que como sujeito é em seu desaparecimento que ele assina havendo as coisas chegado a seu termo. Sade desaparece sem que incrivelmente menos ainda do que de Shakespeare nada nos reste de sua imagem depois de haver ordenado em seu testamento que um matagal apagasse até mesmo o vestígio na pedra de um nome que selasse seu destino. Mé phynai, 0 não ter nascido: sua maldição menos santa que a de Édipo não o leva para junto dos Deuses mas se eteiza: (a) na obra da qual de uma penada Jules Janin nos mostra a utuação insubmersível fazendo-a saudar livros que a masca ram ao se acreditar nele em qualquer biblioteca digna como são João Crisóstomo ou os Pensamentos.
9 Que não se entenda que estejamos aqui dando crédito
lenda de que ee teria intervindo pessoalmente na detenção de Sade Cf Gilbert Lély Vie du Marquis de Sade volII, p577-80 e a nota I da p.580 10. Coro de É dipo em Colono, v 125 à
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Que obra maçante essa de Sade a ouvilos sim entendendo-se às mi maravilhas senhor uiz e senhor acadêmico mas sempre suficiente para fazer um aravés do outro um e ouro um denro do outro com que se perturbem. 11 que uma fantasia com efeito é basante perurbadora pois não se sabe onde siuá-la 2 por ela estar ai inteira em sua natureza de fantasia que só tem realidade de discurso e que nada espera de seus poderes mas que lhes pede iso sim que se ponham em dia com seus desejos. Que o leior se aproxime agora com reverência, das figuras exemplares que na alcova sadiana se agenciam e se desfazem num rio de feira. A posura se rompe." Pausa cerimonial escansão sagrada. Saúdem ali os objetos da lei dos quais não saberão nada na impossibiidade de saber como se siuarem nos desejos de que eles são causa. É bom ser caridoso Mas, com quem? Essa é a questão.
Um cero sr. Verdoux a resovia todos os dias, pondo mulheres no foo aé ee mesmo ser condenado à cadeira eérica. Achava que os seus deseavam viver com conforo. Mais esclarecido o Buda se dava a devorar aquees que não conhecem o caminho. Apesar desses exempos eminenes que bem poderiam basearse apenas num mal-enendido (não é cero que a igreza gose de comer Buda) a abnegação do sr. Verdoux provinha de um erro que justifica a severidade á que um grãozinho de Crítica que não cusa caro têlo-ia eviado. Ninguém duvida que a prática da Razão eria sido mais econômica assim como mais legal mesmo que seus familiares tivessem tido que passar um pouco de fome.
1.
Cf. Maurice Garçon, L'Afaire Sade, J.-J. Pauvert, 15. Ele cita J. Janin da Revue de Paris de 834, em seu arrazoado das p.84-0. Segunda referência, p.62: J. Cocteau como testemunha escreve que Sade é maçante não sem haver reconhecido nele o ilósoo e o moralista 12 No português perdemos o jogo que Lacan faz entre déranger e nger, respectivamente "perturbar e situar. (N.E.)
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"Mas, o que são, dirão vocês, "todas essas metáforas, e por quê? ? As moléculas, monstruosas ao se reunirem aqui para um gozo espinteriano, despertamnos para a existência de outros mais comuns de encontrar na vida, cujos equívocos acabamos de evocar Subitamente mais respeitáveis do que estas, por se afigurarem mais puros em suas vaências Desejos os únicos úni cos a igá-las aqui, aq ui, e exaltados por toarem patente que o desejo é o desejo do Outro. Se nos eram até este ponto, sabem que o desejo, mais exatamente, apóiase numa fantasia da qua peo menos um pé está no Outro, e justamente o pé que importa, mesmo e sobretudo se vier a claudicar O objeto, como mostramos na experiência freudiana, o objeto do desejo, ali onde se propõe desnudo, é apenas a escória de uma fantasia em que o sujeito não se refaz de sua síncope É um caso de necrofilia. Ee vacla complementarmente ao sujeito, no caso geral É nisso que é tão inapreensíve quanto, segundo Kant, o objeto da Lei Mas desponta aqui a suspeita que essa aproximação impõe Não representa a ei moral o desejo, na situação em que já não é o sujeito e, sim, o objeto que fata? Não parece o sujeito, o único que está ai como presença, sob a forma da voz do ado de dentro, quase sempre sem pé nem cabeça no que diz, não parece ele significarse suficientemente pea barra com que o abastarda o significante 5 soto da fantasia ($oa) da qual deriva, nos dois sentidos desse termo? Se esse símboo cede o lugar ao imperativo interior com que se deslumbra Kant, ele nos abre os olhos para o acaso que, da Lei ao desejo, faz mais do que hes mascarar o objeto, tanto para uma quanto para o outro Tratase do acaso em que entra em jogo o equívoco da palavra iberdade: da qual, ao se apoderar, o moralista sempre nos parece ainda mais impudente do que imprudente Mas, escutemos o próprio Kant ilustrálo mais uma vez: 13 "Suponham, diz ele, "aguém que alegue não poder resistir a
3
Bi p.73 Trata-se do escólio do problema 11 (Aufgabe) do teorema III do primeiro capítulo da Analytique, ed. Vorlnder, p25
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sua paixão quando o objeto amado e a oportundade se apresen tam; será que se lhe houvessem ergudo um cadafaso em frente à casa em que ele encontra essa oportunidade para nele o acorrentar tão ogo houvesse saciado seu desejo anda lhe sera impossíve resistr a este? Não é dfíci adivinhar o que ee respondera. Mas se seu príncipe he ordenasse sob pena de morte 1 prestar faso testemunho contra um homem de bem a quem ele qusesse arruinar por meio de um pretexto capcioso considerara ele possíve em tal caso vencer seu amor à vda por maior que pudesse ser? Se o faria ou não eis o que ee tavez não ousasse decdr mas, que sso he é possível es no que convirá sem hestar. Ee julga portanto que pode fazer ago por ter a consciênca do dever e assm reconhece em s mesmo a iberdade que sem a le moral serheia para sempre desco nhecida." A primeira resposta aqui supostamente de um sujeito sobre quem de saída nos advertem que nele muta coisa acontece em palavras faznos pensar que não nos foecem sua etra quando é justamente sso que mporta. É que para redigila preferem remeternos a um personagem cujo pudor sempre correríamos o rsco de ofender pois ele jamais faria essas coisas. Tratase noutras paavras do burguês ideal dante de quem num outro texto sem dúvida para contradzer Fontenele o dstntíssimo centenário Kant decara tirar o chapéu. 15 Assm dspensaremos o menino mavado do testemunho sob juramento. Mas é possível que um defensor da paxão e que fosse cego o bastante para lhe assocar o ponto de honra crasse um problema para Kant por forçá-lo a constatar que nenhuma ocasião precipita aguns com mais certeza para seu objetivo do que vê-lo oferecerse ao desafo ou mesmo ao utraje do cada falso. Pos o cadafaso não é a Le nem pode ser por ela veculado aqu Não há furgão senão da poíca a qua pode muto bem ser o Estado como se costuma dizer peos lados de Hegel. Mas a Le é outra coisa como se sabe desde Antígona.
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O exto dz: de uma more sem demora
Cf p.253 da tradução de Bi, p.90 da ed. da Vorlnder.
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Kant, aliás, não contradz isso com seu apólogo: o cadafalso só entra al para que ele lhe acorrente, junto com o sujeito, seu amor à vida Ora, é nisso que o desejo pode, na máxima Et non propter vitam vivendi vivendi perder p erderee causas, causas, passar, num ser moral, e justamente por ele ser moral, passar à categoria de mperativo categórco, por menos que ele esteja encostado na parede O que é justamente para onde ele é empurrado aqui. O desejo, sso a que se chama desejo, basta para fazer com que a vda não tenha sentdo quando se produz um covarde E, quando a le está realmente nisso, o desejo não se sustenta, mas pelo fato de que a lei e o desejo recalcado são uma única e mesma cosa, o que é justamente o que Freud descobriu Mar camos o ponto no tempo regulamentar, professor Atribuamos nosso sucesso ao conjunto da peãozada, dona do jogo, como se sabe Pois não fzemos ntervr nem nosso Cavalo aquele em função função de quem, quem, no entanto, tnhamos os trunfos trunfos na mão, já que ele seria Sade, que cremos aqui muto qualfcado , nem nosso nosso Bispo, nem nossa Torre os dreitos do homem, homem, a liberdade de pensamento, teu corpo te pertence , nem nossa Rainha, fgura aproprada para desgnar as proezas do amor cortês Isso teria sdo movmentar gente demais, para um resultado menos seguro Pos, se afrmo que Sade, por algumas estripulias, arriscouse com conhecimento de causa (vde o que faz com suas "escapa das, lctas ou não) a ser aprsionado durante um terço de sua vida estripulias meio meio assíduas assíduas,, sem dúvida, dúvida, porém ainda mais mais demonstrativas se comparadas à recompensa , atraio contra mm Pnel e sua pinelada que vem chegando Loucura moral, opina ela E afinal, grande coisa! Eisme reconvocado à reverênca por Pnel, a quem devemos um dos mais nobres passos da humandade humandade Treze anos anos de Charent Charenton on para Sade foram foram mesmo mesmo um passo assm assm Mas aquele aquele não era seu seu lugar lugar Isso é o que interessa Foi esse passo mesmo que o levou para lá Pois, quanto a seu lugar, e tudo o que é pensante concorda quanto a isso, ele ficava longe dal Mas vejam os que pensam bem acham que seu lugar era do lado de fora, e os bem-pensantes, desde Royer-Collard, que reivindicou sso na época, viam-no no
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desterro e até no patíuo É ustamente nisso que Pinel é um momento do pensamento Querendo ou não, ee afiançou o abate a que, à direita e à esquerda, o pensamento submeteu as liberdades que a Revolução acabara de promulgar em seu nome. Isso porque, considerando os direitos do homem sob a ótica da fiosofia, vemos aparecer o que, aliás, todo o mundo agora sabe de sua verdade Eles se resumem na liberdade de desear em vão. Grande vantagem! vantagem! mas oportunidade oportunidade de reconhece reconhecerr aí nossa liberdade espontânea de há pouco, e de confirmar que ea é mesmo a liberdade de morrer. Como também de atrair para nós o cenho franzido daqueles que a consideram pouco nutritiva Numerosos, em nossa época. Renovação do conflito entre as necessidades e os deseos, onde, como que por acaso, é a Lei que esvazia a concha Quanto à contestação a fazer ao apóogo kantiano, o amor cortês não oferece uma via menos tentadora, mas ela exige ser erdita Ser erdito por postura é atrair para si os erditos, e os erditos, nesse campo, são a entrada dos clowns. Já Kant, aqui, por pouco nos faria perder nossa seriedade, por não ter o menor senso do cômico (como prova o que diz dele no devido lugar) Mas alguém a quem ee fata, a este, de um modo completa mente absoluto, como já se observou, é Sade Esse imite tavez lhe fosse fatal, e não se fez um prefácio para não piorar as coisas Assim, passemos ao segundo tempo do apólogo de Kant Ele não é mais conclusivo para seus propósitos Pois, supondo-se que seu hilota tenha o menor senso de oportunidade, ele lhe perguntará se porventura seria seu dever prestar um testemunho verdadeiro, caso fosse esse o meio de o tirano poder satisfazer sua cobiça Deve ele dizer que o inocente é udeu, por exemplo, se ele realmente o for, diante de um tribunal, á vimos coisas assim, que nisso nisso encontre encontre motivo motivo de censura? censura? ou então, que que ele é ateu, quando, ustamente, tavez ee próprio seja um homem mais entendido no peso da acusação do que um consistório que queira apenas apenas um um dossi dossiê? ê? e quanto quanto ao desvi desvio o "da inha, inha, deve deve ele ele aegar inocência, num momento e num lugar em que a regra do ogo é a autocrítica? e o que mais? Afinal, se um inocente nunca é totalmente imaculado, irá ee dizer o que sabe?
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Podese erigir em dever a máxima de contrariar o desejo do tirano, se o trano for aquele que se arroga o poder de subjugar o desejo do Outro. Assm, nas duas extensões (e na mediação precára) de que Kant se faz a alavanca, para mostrar que a Le põe em equilíro não somente o prazer, mas também a dor, a felcidade, ou iguamente a pressão da mséra e até o amor à vida, todo o patoógico, constata-se que o desejo pode não apenas ter o mesmo sucesso, mas acançáo anda com mais razão. Mas, se a vantagem que dexamos a Críica evar, pea alacrdade de sua argumentação, deveu aguma cosa a nosso desejo de saber onde ea quera chegar, não pode a ambigüidade desse sucesso inverter seu movmento no sentido de uma revsão das concessões detectadas? É o caso, por exemplo, do desfavor com que, um tanto apressadamente, foram atingdos todos os objetos propostos como bens, por serem incapazes de harmonzar as vontades: smpesmente por ntroduzrem nelas a competção Como Milão, que Carlos V e Francisco I souberam o que lhes custou, por ambos verem nea o mesmo bem. Isso equivae reamente a desconhecer o que acontece com o objeto do desejo. O qual só podemos ntroduzr, aqu, reembrando o que ensnamos sobre o desejo, a ser formuado como desejo do Outro, por ser, orignamente, desejo de seu desejo. O que toa con cebvel a harmona dos desejos, mas não sem perigo. Pea simpes razão de que, ao se ordenarem numa cadeia que se assemeha à procssão dos cegos de Bruegel, cada um, sem dúvda, tem a mão na mão daquele que o precede, mas ninguém sabe para onde todos estão ndo. Ora, ao arrepiar camnho, todos têm reamente a experiência de uma regra universal, mas por não estarem mas informados a respeto dea. Acaso a solução conforme à Razão prátca seria ees ficarem grando em círculos? Mesmo fatando, o ohar decerto é aí o objeto que apresenta a cada desejo sua regra unversal, materalzando sua causa ao lgá-a à divsão "entre centro e ausênca do sujeto. Atenhamonos, por consegunte, a dzer que uma prátca como a pscanáse, que reconhece no desejo a verdade do sujeito, não
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pode desconhecer o que virá depois, sem demonstrar aquio que recalca O desprazer é aí reconhecido por expeencia como dando pretexto ao recalque do desejo, ao se produzir no caminho de sua satisfação satisfação mas também também como dand dando o a forma forma assumida por essa mesma satisfação no retoo do recalcado. Similarmente, o prazer redobra sua aversão ao reconhecer a ei, por dar suporte ao desejo de satisfazê-la que é a defesa Se a feicidade é a satisfação ininterrupta do sujeito com sua vida, como a define muito classicamente a Crítica, 6 é caro que ela se recusa a quem não renuncia à via do desejo Essa renúncia pode ser pretendida, mas ao preço da verdade do homem, o que fica bastante claro na reprovação a que se expuseram, diante do idea comum, os epicuristas e até os estóicos Sua ataraxia destitui sua sabedoria Não se lhes leva minimamente em conta que eles rebaixem o desejo, pois não apenas não se considera a Lei tão eevada assim, como também é por isso, quer o saibamos, quer não, que ela é sentida como derrubada Sade, o ci-devant,1 7 retoma SaintJust onde convém Que a feicidade tenhase toado um fator da política é uma proposição imprópria Ela sempre o foi, e evará o cetro e o incensório, que he caem muito bem. É a liberdade de desejar que constitui um fator novo, novo, não por inspirar inspirar uma uma revoução revoução é sempre por um desejo que se uta e se morre , mas pelo fato de essa revolução querer que sua luta seja em pro da iberdade do desejo Daí resulta ela querer também que a ei seja livre, tão livre que he convém ser viúva, a Viúva 18 por excelência, aquea que nos joga a cabeça no cesto, por menos que se intrometa no assunto. Houvesse a cabeça de Saintust continuado povoada peas fantasias de Organt, tavez ee tivesse feito de Thermidor seu triunfo
6. Teorema 11 do captulo primeiro da Analytique, na ed. da Vorlnder, p25
traduzido de modo totalmente impróprio por Bi p.l59. 7. Termo empregado na época da Revolução Francesa a propósito das pessoas ligadas ao Antigo Regime por seus títulos ou sua posição (N.E.) 8. "A Viúva designava na França da Revolução, a guilhotina (N.E)
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O direito ao gozo, se fosse reconhecido, relegaria a uma era desde então caduca a dominação do princípio do prazer. Ao enunciálo, Sade faz com que se insinue para todos, por uma fresta imperceptíve, o antigo eixo da ética: que não é outro senão o egoísmo da felicidade. À qua não se pode dizer que quaquer referência esteja extinta em Kant, pela própria famiiaridade com que ela lhe faz com panhia e, mais ainda, pelos rebentos que dea captamos nas exigências com que ele argumenta igualmente a favor de uma recompensa no para-além e de um progresso cá embaixo. Vislumbrese uma outra felicidade, cujo nome dissemos no princípio, e o status do desejo se altera, impondo seu reexame Mas é aqui que ago deve ser julgado Até onde nos eva Sade na experiência desse gozo, ou simpesmente de sua verdade? Pois essas pirâmides humanas, fabulosas para demonstrar o gozo em sua natureza de cascata, essas grandes fontes do desejo, edificadas para que o gozo matize os jardins d'Este com uma voúpia barroca, quanto mais ato elas o fizessem jorrar do céu, mais de perto nos atrairia a questão do que flui nele Desde os imprevisíveis quanta com que se faz cintilar o átomo amor-ódio até a vizinhança da Coisa, de onde o homem emerge com um grito, o que se experimenta, ultrapassdos certos limites, nada tem a ver com aquilo pelo qua o desejo se apóia na fantasia, que justamente se constitui a partir desses limites Esses limites, sabemos que em sua vida Sade os transpôs. E essa épura de sua fantasia em sua obra, sem dúvida ele não nola teria dado de outro modo. Tavez causemos espanto ao questionar o que, dessa expe riência rea, a obra também traduziria A nos atermos à alcova, para um bosquejo bem incisivo dos sentimentos de uma jovem para com sua mãe, o fato é que a maldade, tão justamente situada por Sade em sua transcendência, não nos ensina aqui muito de novo sobre suas modulações amorosas Uma obra que se pretende má não pode permitirse ser má obra, e convém dizer que A losofia se presta a esta afinetada por toda uma faceta de boa obra Há um pouco de pregação demais dentro dela.
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Sem dúvida, é um tatado de educação paa moças, 19 e como ta está sueito às leis de um gêneo Apesar do poveito que tia de expo às claas o "sádico-ana que enfumaçava esse tema, em sua insistência obsedante nos dois sécuos anteioes, ele continua a se um tatado educativo O semão ali é maçante paa a vítima, e enfatuado po pate do pofesso A infomação históica, ou, meho dizendo, eudita, é desin teessante no livo e dá saudade de um La Mothe le Vaye 20 A fisiologia compõe-se aí com eceitas de amade-leite No tocante à educação sexua, é como se êssemos um opúsculo médico de nossa época sobe o assunto, o que á é dize tudo Uma peseveança maio no escândao audaria a econhece, na impotência com que comumente se exibe a intenção educativa, justamente aquea conta a qua a fantasia se esfoça ai: da nasce um obstáculo a quaque apeciação válida dos efeitos da educação, já que não se pode confessar da intenção o que produziu os esultados Esse taço poderia te sido impagável, pelos efeitos ouváveis da impotência sádica Que tenha escapado a Sade dá o que pensa Sua caência se confirma po outa não menos notáve o livo nunca nos apesenta o sucesso de uma sedução, com o qual, no entanto, se cooaia a fantasia aquea em que a vítima, nem que fosse em seu deadeio espasmo, viesse a consenti na intenção de seu tortuado, e até passasse paa o lado dele, pelo ardo desse consentimento Com o que se demonsta, po outa visão, que o deseo é o avesso da ei. Na fantasia sadiana, vemos como ees se sustentam. Paa Sade, sempe se está do mesmo lado, o bom ou o mau; nenhuma afonta mudará nada Potanto, é o tiunfo da virtude esse paadoxo só faz eenconta o sacasmo pópio do ivo edificante, po demais ameado po Justine paa que ela não o defenda. A não se peo nariz que se agita, encontado no fina do Diálogo de um padre e um moribundo, póstumo (admitam que
9. Sade o indica expressamente em seu título competo.
20 François
de La Mothe Le Vayer (1588-1672), escritor e lósofo cético e libertno que se toou preceptor de Luís XIV. N.E.)
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esse é um tema pouco propício a outras graças que não a graça divina), na obra fazse às vezes sentir a falta de um chiste e, diríamos em termos mais ampos, do wit do qua Pope, fazia quase um século, havia enunciado a exigência. Evidentemente, isso é esquecido pea invasão pedante que pesa sobre as letras francesas desde a W W // .2 Mas, se vocês precisam de um estômago resistente para acompanhar Sade quando ele prega a calúnia, primeiro artigo da moral a ser instituída em sua repúbica, preferiríamos que ele pusesse nisso a malícia de um Renan Felicitemo-nos", escreve este, por Jesus não ter deparado com nenhuma ei que punisse o ultraje a uma classe de cidadãos Os fariseus teriam sido invioláveis" 22 E continua: Suas zombarias requintadas, suas provocações mágicas sempre acertavam na mosca O manto de Nesso do ridículo que o udeu, filho dos fariseus, arrasta em farrapos há dezoito séculos, foi Jesus quem o teceu por um artifício divino. Obraprima da alta chacota, suas tiradas inscre veramse qual fio de fogo na ce do hipócrita e do falso devoto Tiradas incomparáveis, tiradas dignas de um Filho de Deus! Só um Deus sabe matar assim Sócrates e Molire apenas roçam a pele. Este eva até a medua o fogo e a ira" 2 Pois esses comentários ganham valor pela seqüência que conhecemos, ou seja, pea vocação do Apóstoo dentre as fieiras dos fariseus e pela vitória das virtudes farisaicas, universal O que, havemos de convir, presta-se a uma argumentação mais pertinente do que a descupa bastante medíocre com que se contenta Sade em sua apologia da caúnia a de que o homem de bem sempre triunfará sobre ea Essa mediocridade não impede a sombria beleza que se irradia desse monumento de desafios Ea nos atesta a experiência que procuramos por trás da fabulação da fantasia Experiência trágica, por proetar aqui sua condição num clarão vindo de paraalém de qualquer temor e piedade
21 Segunda Guerra Mundial aqui em 22 Cf Vie de Jésus, 17• ed., p339 23 Op. cit. p.346.
sua abreviatura em inglês. (N.E.)
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Assombro e trevas eis ao contrário do chste 24 a conjunção que nessas cenas nos fascna por seu brlho de carvão Esse trágico é do tpo cuja precisão, será efetuada em data posteror do século em mais de um livro romance erótco ou drama religioso. Nós o chamaríamos o trágco senil que nem mesmo nós sabíamos, a não ser nas piadas de estudante estar a uma pedrada de dstânca do trágco nobre. Que se faça referência para nos entender, à trilogia claudeliana do Pai humilhado humilhado . (Para nos entenderem que sabam também que demonstramos nessa obra os traços da mais autêntica tragédia É Melpômene que é gagá, com Clo sem que se veja qual delas enterrará a outra) Eis-nos enfim ntimados a interrogar o Sade, meu semelhante cuja invocação devemos à extrema perspicácia de Pierre Klos sowski25 Sem dúvida, a discrição desse autor faz com que coloque sua fórmula sob a proteção de uma referência a são Labro Não nos sentmos com maior inclinação a lhe dar a mesma guarda. Que a fantasa sadana consga stuarse melhor nos suportes da étca cristã do que em outros lugares, es o que nossas balizas de estrutura tornam fácl de apreender Mas que Sade por sua vez se recusa a ser meu semelhante eis o que deve ser lembrado não para lhe pagar na mesma moeda, mas para reconhecer o sentido dessa recusa Cremos que Sade não é tão vizinho de sua própria maldade que nela possa encontrar seu próximo Traço que compartlha com mutos em especal com Freud Pos esse é realmente o único motvo do recuo de alguns seres, talvez advertdos dante do mandamento cristão Em Sade Sade vemos vemos a prova prova disso disso crucial crucial,, a nosso nosso ver em sua recusa da pena de morte cuja históra bastara para provar, se não sua lógica, que ela é um dos correlatos da Caridade
24 Freud fe do "Assombro e luz de Heymans seu pono de partda [Cf
O
chiste e sua relação com o inconsciente ESB, vol.VIII.] 25 Esse é o título do livro [Sade mon prochain] publicado pela Seul em 1947 Dgamos que de nossa época, é a únca contribuição à questão questão sadiana que não nos parece maculada pelos cacoetes do espírito bem-pensante. (Essa frase, por demais elogosa para os ouos, fo inicialmente posta post a em nosso nos so exto dirigindose a um fuuo acadêmco ele mesmo especialista em malícias.)
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Sade, portanto, deteve-se nisso, no ponto em que se ata o deseo à lei Se alguma coisa nee deixouse prender à lei, para nela encontrar a oportunidade, da qual fala são Paulo, de ser desme didamente pecador, quem lhe atiraria a pedra? Só que ee não foi mais onge Não é apenas que nee, como em todo o mundo, a ce sea fraca; é que o espírito é impetuoso demais para não ser tapeado A apoogia do crime impeeo apenas ao reconhecimento indireto da Lei O Ser supremo é restaurado no Malefício Escutem-no exaltarhes sua técnica de pôr imediatamente em prática tudo o que lhe vem à cabeça, pensando igualmente, ao substituir o arrependimento pela reiteração, acabar com a lei do ado de dentro Ele não encontra nada melhor para nos encorajar a segui-lo do que a promessa de que a natureza, magicamente, como muher que é, nos fará cada vez mais concessões Seria um erro nos fiarmos nesse típico sonho de poder. Ee nos indica suficientemente, em todo caso, que não há como conceber que Sade, como P Klossowski sugere, embora assinale não crer nisso, tenha atingido aquee tipo de apatia que seria "de haver reingressado no seio da natureza, em estado de vigília, em nosso mundo 26 habitado pela linguagem Do que falta aqui em Sade, proibimonos de dizer uma paavra Que o sintam na gradação da Filosofia, pelo fato de ser a agulha curva, tão cara aos heróis de Buue, que é finalmente chamada a resolver na moça um Penisneid meio visível nea Sea como for, evidencia-se que não se ganhou nada ao substituir Diotima por Domancé, pessoa a quem a via comum parece assustar mais do que convém, e que, como viu Sade, encerra o assunto com um No/i tangere matrem. V. ée e costu rada 27 , a mãe continua proibida Está confirmado nosso veredito sobre a submissão de Sade à Lei
26 27
Cf a nota da p.94 op. cit Verolée: sinônimo de "silítica, numa referência à última parte de A filosoa na alcova quando Mme de Mistival mãe de Eugénie é "inoculada com o "veneno da sífilis sífilis e, em seguida, tem seus seus órgãos órgãos genitais costuados costuados - o que é associado por Lacan ao filme El, de Buuel, em que o personagem também costura sua esposa (N.E)
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De um verdadeiro raado sobre o desejo, porano, pouco há aqu, ou mesmo nada. O que se anuncia nesse revés extraído de um acaso não passa, quando muo, de um om de azão. R.G., setembro de 1962