Aspectos físicos, psicológicos e sociais do envelhecimento: Envelhecer pressupõe alterações físicas, psicológicas e sociais no indivíduo. Tais alterações são naturais e gradativas. É importante salientar que essas transformações são gerais, se podem verificar em idade mais precoce ou mais avançada e em maior ou menor grau, de acordo com as características características genéticas de cada indivíduo e, principalmente, principalmente, com o modo de vida de cada um. Uma alimentação cuidada, cuidada, a prática de exercício físico, a moderada exposição ao sol, a estimulação mental, o controle do stress, o apoio psicológico, a atitude positiva perante a vida e o envelhecimento, são alguns factores que podem retardar ou minimizar os efeitos da passagem do tempo.
Aspectos físicos:
Hoje em dia, com o avanço farmacológico, a melhoria nas condições de vida e a maior preocupação com a prevenção de doenças com uma alimentação equilibrada, exercício físico (como por exemplo, caminhas e outras actividades), o envelhecimento está a acontecer numa idade mais avançada. As principais alterações físicas no envelhecimento são: Modificações externas: As bochechas enrugam-se e embolsam; Aparecem manchas escuras na pele (manchas senis); A produção de células novas diminui, a pele perde o tônus, tornando-se flácida; Podem surgir verrugas; O nariz alarga-se, Os olhos ficam mais húmidos; Há um aumento da quantidade de pêlos nas orelhas e no nariz; Os ombros ficam mais arredondados; As veias destacam-se sob a pele dos membros, enfraquecem; Encurvamento postural postural devido a modificações modificações na coluna vertebral; Diminuição de estatura pelo desgaste das vértebras.
Modificações internas: Os ossos endurecem;
Os órgãos internos atrofiam-se, reduzindo o seu funcionamento; O cérebro perde neurónios e atrofia-se, tornando-se menos eficiente; O metabolismo fica mais lento, A digestão é mais difícil; A insónia aumenta, assim como a fadiga durante o dia; A visão de perto piora devido à falta de flexibilidade do cristalino; a perda de transparência (catarata), se não operada, pode provocar cegueira; As células responsáveis pela propagação dos sons no ouvido interno e pela estimulação dos nervos degeneram; O endurecimento das artérias e o seu entupimento provocam arteriosclerose; O olfacto e o paladar diminuem.
Com o passar dos anos, o desgaste é inevitável. Sabemos que a velhice não é uma doença, mas, sim, uma fase na qual o ser humano fica mais susceptível a doenças. É uma época na qual as pessoas adoecem mais, mais rapidamente e, quando adoecem demoram mais tempo a recuperar. O segredo do bem-viver é aprender a conviver com essas limitações. Conviver é entender, aceitar e lutar para que esses problemas sejam diminuídos.
Aspectos sociais:
O envelhecimento social da população traz uma modificação no status do velho e no relacionamento dele com outras pessoas em função de:
Crise de identidade provocada pela falta de papel social, o que levará
o
velho a uma perda da sua auto-estima. Mudanças de papéis na família, no trabalho e na sociedade. Com o aumento do seu tempo de vida, ele deverá adequar-se a novos papéis. Reforma. Perdas diversas, que vão da condição económica ao poder de
decisão, à perda de parentes e amigos, da independência e da autonomia.
Diminuição dos contactos sociais, que se tornam reduzidos em função
das suas possibilidades, distâncias, vida agitada, falta de tempo, circunstâncias financeiras e a realidade da violência nas ruas. É necessário um trabalho para que sejam ajustadas as suas relações sociais, com filhos, netos, colegas e amigos, assim como, para que sejam criados novos relacionamentos, já que muitos acabaram, e a aprendizagem de um novo estilo de vida para que as perdas sejam minimizadas.
Aspectos psicológicos:
Além das alterações no corpo, o envelhecimento traz ao ser humano uma série de mudanças psicológicas, que podem resultar em: Dificuldade de se adaptar a novos papéis; Falta de motivação e dificuldade em planear o futuro; Necessidade de trabalhar as perdas orgânicas, afectivas e sociais; Dificuldade de se adaptar às mudanças rápidas; Alterações psíquicas que exigem tratamento; Depressão, hipocondria, paranóia, suicídios; Baixas auto-imagem e auto-estima.
Assim como as características físicas do envelhecimento, as de carácter psicológico também estão relacionadas com a hereditariedade, com a história e com a atitude de cada indivíduo. As pessoas mais saudáveis e optimistas têm mais condições de se adaptarem às transformações trazidas pelo envelhecimento.
Independência, semidependência, dependência e autonomia: Dependência, semidependência e independência são termos que só podem ser empregados quando relativizados e pluralizados. Uma pessoa pode, por exemplo, ser financeiramente e independente, mas fisicamente dependente. Outro conceito importante, que também está relacionado com o de independência, é o de autonomia. Pode dizer-se que uma pessoa tem autonomia quando consegue fazer as suas próprias escolhas, tomar decisões. Ela pode não ter independência em alguns aspectos, mas manter a sua autonomia.
A questão da relatividade da dependência e da autonomia é muito relevante no que diz respeito aos idosos. Existem alguns mitos nesse sentido, como o de que na velhice os filhos passam a ser pais dos próprios pais. Isso não é totalmente verdade, o que ocorre é uma inversão de papéis, devido à perda da autonomia. Dificuldade de tornar-se dependente:
Estamos desde jovens a ser incentivados a ser independentes e nunca se falou da relatividade e da pluralidade embutidas dentro da dependência, ou seja, nunca se é totalmente independente. Se nos conscientizarmos de que na velhice teremos mais dependência neste ou naquele sentido, quando chegarmos a esse momento vamos sentir-nos dentro da realidade, da normalidade. É muito grande o fardo que o próprio idoso se obriga a carregar, exigindo a mesma independência que tinha nas outras fases da vida. De um modo geral, o idoso evita pedir qualquer tipo de ajuda porque:
Não tem o direito de pedir (cada um na sua); Não quer incomodar; Tem medo que o pedido seja negado, gerando frustração; Acha que está a tirar o tempo de alguém; O trabalho dos filhos e dos netos é mais importante do que ele; Teme ser rotulado de chato e cair do seu pedestal; Medo de ser malvisto, pois a velhice já é vista como algo mau, chato, triste, e de deixar como herança uma imagem má; Medo de sobrecarregar filhos, amigos, vizinhos, etc.; Medo de se sentir um peso (culpa).
Velhice
Juventude:
versus
Vivemos numa sociedade em que a expectativa é ser adulto. Quando uma criança ou um adolescente projecta o futuro vê-se sempre como um adulto jovem, formado, com uma profissão, a trabalhar e a ganhar dinheiro. Não se imagina um velho feliz e até prefere não pensar na velhice. Para muitas pessoas, quando se fala em velho a imagem que vem à mente é a de alguém triste, chato e sem futuro. O próprio idoso autodiscrimina-se, vê-se como alguém que já fez a sua parte, já teve o seu papel no mundo, que não tem mais nenhuma função, e por isso já não precisa de viver mais.
É preciso acabar com essa mentalidade. Ser idoso não é o contrário de ser jovem. Envelhecer é simplesmente passar para uma nova etapa da vida, que deve ser vivida da maneira mais positiva, saudável e feliz possível.
Produzir felicidade: Mesmo quando não precisa de trabalhar mais para se manter, o idoso deve-se envolver em actividades remuneradas ou não, ocupações dos tempos livres, trabalhos voluntários em favor de outras pessoas, deixando de lado a ideia de que é alguém inútil. O que importa é a postura diante da vida, a forma de ser e de procurar a própria identidade. Ninguém sabe quando vai morrer. Na verdade, viver é ter projectos e desejar algo, é procurar realizações. Ao descurar de tudo isto, o próprio idoso está a fazer uma opção auto-destrutiva. O idoso deve ser capaz de reconhecer o valor de toda a sua existência, preocupar-se não só com o que fez, mas também com o caminho que ainda tem para percorrer.
Flexibilidade e adaptação: É preciso ver o envelhecimento como um processo que ocorre de forma gradual. Se nos soubermos adaptar às mudanças físicas, psíquicas e sociais que vão ocorrendo connosco ao longo da vida, o envelhecimento, aos poucos, vai-se tornando uma realidade. Talvez seja necessário mudar comportamentos, adquirir novos hábitos. É preciso ter coragem para enfrentar a terceira idade, para superar as perdas, continuar a amar e a ter prazeres na vida. Flexibilidade e equilíbrio são duas condições fundamentais para um envelhecimento sem traumas ou stress. A estimulação é uma das práticas mais importantes para manter o idoso com vida e com saúde.
A importância da convivência: A convivência faz com que nós sintamos que pertencemos a algo, a alguém, ter importância ao desenvolver este ou aquele papel. Há uma troca permanente de afecto, de carinho, de ideias, de sentimentos, de conhecimentos, etc. Além desse aspecto da convivência, existe outro meio importante, que é a estimulação do pensar, do fazer, do dar, do trocar e, principalmente, do aprender. Outro aspecto importante é o da actualização, da discussão, da busca de maiores conteúdos.
A moradia do idoso: Se a casa tem muita importância para a maioria das pessoas, para o idoso assume um papel ainda mais relevante, pois é dentro dela que ele vai passar a maior parte do seu tempo. Muitas vezes, a casa onde o idoso passou quase a vida inteira torna-se grande demais para ele, sendo, portanto, necessário transferi-lo para uma casa menor. Mas é importante notar que essa mudança pode acarretar uma sensação de perda, portanto, se o idoso não quiser, deve-se procurar respeitar a sua vontade, tentando adaptar o local de forma a proporcionar-lhe maior conforto e segurança. Se for decidida a mudança de casa, é importante que o novo lar mantenha os móveis, e objectos pelos quais o idoso tenha especial carinho, a fim de que ele se possa sentir seguro e não num lugar desconhecido, ao qual não pertence. A casa deve ser simples e funcional, tanto do ponto de vista estético como prático, pensando no bem-estar do idoso e na facilidade para quem vai atendê-lo. Ao planear uma casa para uma pessoa da terceira idade, devem ser considerados alguns aspectos:
Cuidar da orientação solar do prédio para evitar mofo e o uso de ar condicionado, muitas vezes prejudicial ao sistema respiratório; Procurar usar pisos antiderrapantes; Evitar tapetes soltos; Providenciar iluminação adequada; Observar a colocação dos interruptores de luz (um na entrada do quarto e outro junto à cama para controlar a mesma lâmpada); Prever iluminação de emergência para casos de falta de luz;
Colocar as tomadas em lugar mais alto do que o usado habitualmente, para facilitar a ligação dos aparelhos; Instalar campainhas em todas as divisões – hoje existem campainhas a pilha, que podem ser levadas, pela pessoa, por toda a casa; Evitar desníveis no piso, assim como forrações de cores diferentes de uma divisão para outra e pisos com estampas, que dificultam a visão; Pintar as paredes com cores claras; Colocar portas de 80cm de largura nas casas-de-banho, abrindo sempre para fora, para quando houver necessidade do uso de cadeira de rodas; Evitar degraus na box, que deve ter agarradores, banqueta, basculante e espaço para uma pessoa auxiliar; Aumentar a altura da sanita cerca de 15cm ou utilizar assentos especiais e agarradores ao lado; Elevar a altura dos balcões da cozinha e utilizar tampos mais largos, que permitam trabalhar sentado e acomodar as pernas ou a cadeira de rodas sob o balcão; Preferir fogão eléctrico para prevenir fugas de gás; Utilizar poucos móveis para facilitar a circulação; Preferir móveis altos, para servirem de auxílio na locomoção, e sem cantos pontiagudos; Aumentar a altura dos sofás e poltronas, que devem, ainda, ter um assento firme e forrados com tecido resistente; Usar, na mesa de jantar, cadeiras com braços para serem usados como alavanca; Criar um ambiente de lazer para actividades como pintura, bordado, jogos de cartas e outras, o que auxilia a estimulação e cria a sensação de mudança de ambiente; Colocar, em frente à televisão, poltronas reclináveis para pequenas sestas; Evitar o uso de degraus, mas se for inevitável, procurar que tenham no máximo 16cm de altura e 30cm de profundidade; Instalar corrimões em todas as escadas e, se necessário, em circulações; Preferir maçanetas de alavanca às de bolas; Sempre que possível, usar aparelhos com controlo remoto e temporizador quando tiverem algum perigo maior; Dar preferência a camas mais altas, com suporte lateral para auxiliar ao levantar; Evitar colocar a televisão no quarto, pois dormir com ela ligada prejudica a qualidade do sono. Se for inevitável, colocar o aparelho num local alto e usar a
inclinação da cama para regular o ângulo de visualização, utilizando um temporizador para desligar o aparelho na hora programada.
A violência contra o idoso: Há duas formas de violência praticadas contra o idoso. Uma delas é a violência manifesta, explícita, e a outra é aquela exercida de forma oculta. A seguir, são citadas algumas das principais formas de violência empregadas contra o idoso. Maus tratos físicos e falta de carinho:
Os maus tratos, em relação aos idosos, praticados pela família devem-se, sobretudo, mais pela falta de preparo do que por má vontade. Existem casos de famílias pobres que maltratam os idosos física ou moralmente devido às condições precárias em que vivem. Muitos idosos dementes, por exemplo, ficam presos em casa, por vezes amarrados, porque os filhos e netos precisam de sair para trabalhar e não podem deixá-los soltos, sozinhos. Valores culturais depreciativos:
é o resultado de ideias pré-concebidas acerca do idoso, que tendem a padronizá-lo. Culto à juventude – “velho” não é contrário de jovem. Em termos biopsicossociais, essa crença está completamente errada. A velhice é uma fase da vida e não se opõe à juventude. O idoso deve ser valorizado e respeitado, não só por ser um ser humano e ter inúmeras vivências e experiências, mas também deve ter um papel importante na sociedade em que vive. O idoso tem que dar lugar aos jovens – existe um preconceito contra os idosos no mercado de trabalho como se eles já não fossem capazes de exercer as mesmas funções que desempenhavam quando jovens. As únicas características que diferenciam o idoso do jovem em relação ao trabalho são a menor rapidez para executar algumas tarefas e a menor resistência física. No entanto, o idoso tem condições para desempenhar inúmeras funções com muita competência e, inclusive, com vantagens. Justamente por ser mais vivido e mais experiente, o idoso pode executar tarefas para as quais muitos jovens não têm paciência, tranquilidade e maturidade. Massificação –
Resumindo, dar trabalho ao idoso é, não só uma atitude de grande alcance social, que contribui para a valorização do mesmo e previne a depressão provocada pela sensação de menos valia. Não escutar o idoso – o idoso é, antes de tudo, uma pessoa, e que deveria, pelo menos, ser escutado no que respeita a decisões sobre a sua própria vida e saúde. A falta de comunicação é um dos factores que complicam bastante a relação do idoso com a família. O próprio idoso não expressa com clareza os seus desejos e opiniões, por achar que não tem mais direito a eles, enquanto a família se vai habituando a essa ideia e deixa de consultá-lo. Idoso não tem vida sexual – os idosos que têm uma vida sexual activa, muitas vezes, têm vergonha de o admitir. A família e a sociedade costumam desencorajá-los a isso. O carinho, outras formas de contacto físico, afectividade de um modo geral, podem e devem ser cultivados em qualquer idade.
Abusos na condição de aposentado
É um absurdo a forma como são tratados os aposentados, pessoas que dedicaram muitos anos da sua vida ao trabalho, à produção, à geração de riqueza para o país e de bem-estar para a sociedade. Além de terem reduzido o salário a que fizeram jus ao longo da sua carreira profissional, passam pela incrível humilhação de madrugar nas filas dos bancos para levantar um valor que, na maioria das vezes, não cobre os gastos nem com a alimentação, nem com os medicamentos.
Dificuldades na assistência à saúde:
Se a preservação da saúde e o atendimento às doenças já é uma dificuldade de um modo geral, a situação do idoso é ainda pior. Além de os idosos terem que enfrentar as intermináveis filas para conseguirem uma consulta médica e não terem medicamentos gratuitos suficientes, os hospitais não mantêm uma reserva de camas para pacientes idosos. É preciso investir mais na prevenção, em programas de educação para a saúde, em trabalhos comunitários que visem garantir o bem-estar e o equilíbrio de cidadãos de todas as idades.
Violência na família:
Existem várias formas de violência praticadas contra o idoso pela sua família. Entre elas, pode-se destacar a falta de comunicação, o abandono, a superprotecção, a infantilização do idoso e a negação de um espaço físico onde ele se possa sentir seguro. Um outro tipo de violência comum por parte de muitas famílias é a interdição do idoso, alegando a sua incapacidade para administrar os seus bens.
Falta de adequação arquitectónica da moradia:
Sujeitar o idoso a viver mal acomodado, em ambientes que oferecem pouca segurança, é uma forma de violência que põe em risco a saúde e a integridade física deste.
Falta de estimulação:
Muitas famílias e instituições não entendem a importância de estimular o idoso, deixando-o parado, sem se dedicar a nenhuma actividade que o ocupe e ajude a manter as suas capacidades activas. O resultado é a negação ao idoso de oportunidades de ser útil a si mesmo e aos outros, de se divertir, aproveitar a vida, enfim, de viver.
Cuidados com os idosos: É importante prestarmos atenção a alguns cuidados, tais como:
Respeitar as individualidades, evitando as generalizações; Não infantilizá-los; Não tratá-los como doentes; Não tratá-los como incapazes; Oferecer-lhes cuidados específicos para a sua faixa etária; Preservar a independência e a autonomia; Ajudá-lo a desenvolver aptidões; Ter paciência, pois o seu tempo é outro, são mais lentos; Trabalhar as suas perdas e os seus ganhos; Promover muita estimulação biopsicossocial.