EDUCACIONAL
Angústia
Roteiro de Leitura Sílvia
Graciliano Ramos
VIDA E OBRA DE GRACILIANO RAMOS
Graciliano Ramos nasceu em Quebrângulo , nas Alagoas, em fins de outubro de 1892. 1892 . Lá passou sua infância e parte da adolescência, repartindo-se, com a família, entre as cidades de Buíque, Viçosa e Palmeiras dos Índios. Primeiro dos quinze filhos, Graciliano foi sempre visto pela família como um sujeito difícil, taciturno e introspectivo. Fez os estudos secundários secundá rios em Maceió, sem, no entanto, cursar nenhuma nen huma faculdade. O pai vivia do comércio comér cio e o filho mais velho foi aventurar-se: esteve, por breve período, no Rio de Janeiro, onde, por volta de 1914, trabalhou como revisor e redator nos jornais Correio da Manhãe A Tarde . Ao saber que três de seus irmãos tinham morrido de febre bubônica, retorna ao Nordeste e passa a ser jornalista, fazendo política também. Foi prefeito de Palmeiras dos Índios entre os anos de 1928 e 1930. De 1930 a 1936 viveu em Maceió, dirigindo a Imprensa Impren sa e a Instrução do Estado de Alagoas. E é de março de 36 a janeiro de 1937 193 7 que vive os mais difíceis dias de sua vida: acusado de subversivo e comunista, passa dez meses de prisão em prisão, sem saber do que o acusam, sem sequer ser ouvido em depoimento ou processado. emór i as do Cár cere , um relato que soma a angústia de existir, o medo e a inquietação. Muda-se Desse tempo nascerá mais tarde M emór para o Rio de Janeiro. Janeiro.
Homem problematizado. A mania de higiene sempre o acompanhou, há quem diga que ao manusear dinheiro, o escritor utilizava uma tesoura para não se sujar. Diziam ser um sujeito ríspido, que respondia aos cumprimentos de “bom-dia” com um seco “por quê?”. Quando lhe pediam a opinião sobre algum livro, garantia: “Não li e não gostei.” Em 1945, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e, em 1952, viajou para a Rússia e países comunistas. As dificuldades financeiras o acompanharam a vida inteira. Sua produção literária foi lenta e mal remunerada, acumulando acumulando funções além da de escritor. Nunca se submeteu ao patrulhamento ideológico dos companheiros do Partido Comunista, que insistiam para que sua obra se voltasse para um realismo socialista. Graciliano preferia preferia denunciar a miséria brasileira por meio de personagens ásperas e uma linguagem sem rebuscamentos. Morreu no Rio de Janeiro, Janeir o, em 1953, vítima de câncer. Suas obras já foram traduzidas para o russo, francês, inglês e alemão. E, em 1964, o romance cinematográfica pelas mãos de Nélson Pereira dos Santos.
Vi das Secas ganhou versão
O ESCRITOR
Poucos escritores podem dizer que escreveram unicamente sobre o que conheciam. Graciliano foi assim, mas isso não fez dele um narrador “espontâneo”, nem de sua prosa um texto solto e fluente. O regionalismo salta aos olhos em suas obras, mas a sua universalidade também é mais visível que a de qualquer outro escritor tido como regionalista — sua ligação com o Nordeste nunca rendeu livros de fácil exportação ou que provocassem emoções fáceis, advindas do estranhamento da gente do sul. O engajamento social, outra de suas preocupações, não transformou seus livros em panfletos políticos ou obras datadas. Na verdade, a principal principal dimensão dimensão de sua obra nunca foi a terra ou mesmo a luta, mas sim o homem. O realismo realismo dos cenários e da ação é tão forte quanto o aprofundamento psicológico psicoló gico das personagens, descritas em cada ato cotidiano, cotid iano, permitindo ao leitor compreender e justificar até mesmo seus gestos arrebatados, seus atos mais passionais.
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A OBRA
s , de Quatro das principais obras de Graciliano surgem nos anos 30, década áurea do romance de cunho regional e social. Em Caeté 1933, o protagonista João Valério escreve um livro sobre a vida dos índios caetés, durante o período colonial, e acaba fazendo B ernn ar do , retrata Paulo Honório, um analogia entre os antropófagos e a sociedade em que vive. Seu segundo romance, São Ber proprietário de terras que vai perdendo seu valores humanos em favor de uma visão do mundo baseada estritamente no lucro. Casando-se apenas para ter um herdeiro, apaixona-se pela esposa no momento em que sua fazenda entra em crise. Angústia , de 1936, escrito no cárcere, apresenta Luís da Silva, outro narrador-protagonista dilacerado entre necessidades e sentimentos. E, em Secas 1938, recém-saído da cadeia, publica seu maior sucesso, Vi das Secas . Pela primeira vez um romance de Graciliano não nã o é narrado em primeira pessoa. Há uma fusão entre entre o discurso indireto e o pensamento das personagens personagens expressos expressos diretamente, diretamente, especialmente os de Fabiano, o retirante, retirante , e de Baleia, sua cadela, a personagem personag em mais humanizada do livro. A obra é a mais forte denúncia den úncia da condição subumana em que vivem os nordestinos despossuídos nos sertões da seca. emór i as do Cár cere (publicada Duas obras memoralistas, Infância (1945) (1945) e M emór (publicada postumamente, em 1954), recordam reco rdam a vida da criança e do adulto, e mostram o mesmo drama: a luta do ser humano contra a violência da sociedade e do Estado. Romances
Memórias
Literatura Infantil
Conto
Caeté s (1933) (1933) Angústia (1936) (1936) São B erna er narr do (1938) (1938) Vidas Vi das Secas Secas (1938) (1938)
Infância (1945) (1945) M emór emór i as do Cár cere (1954) (1954) Viagem (1954) (1954) L inh as Tortas Tortas (crônicas, (crônicas, 1962) Vivente das Alagoas (1962) (1962)
H istóri istóri as de de Alexandre (1944) (1944) Dois Doi s Dedos Dedos (1945) (1945) H istór istór ias I ncompletas (1946)
Insônia (1947) (1947)
RESUMO DA OBRA
Luís da Silva é um tímido e solitário funcionário fu ncionário público, que vive num nu m bairro distante e pobre, numa casa velha, cheia de ratos. Além de trabalhar o dia todo na repartição, à noite, para ganhar uns trocados, escreve textos sob encomenda para um jornal. Após trinta dias de cama, recuperando-se de uma enfermidade, causada por um abalo nervorso, vê-se de pé, retornando ao trabalho e às atividades normais, enfim, à rotina. Nesse processo, processo , pelo fio da memória, tenta recuperar o passado, a fim de reconstruir o que havia ocorrido: “L evantei-me evantei-m e hácerca de tr i nta nt a dias, di as, mas jul go que ainda ai nda n ão me res r estabeleci tabeleci completamente. compl etamente. Das visõ vi sões que me persegui persegui am naquelas naqu elas noites noit es compr idas umas sombr sombras as perman ecem, ecem, sombras que se se mistur mi stur am àr ealidade eali dade e me produzem calaf r ios. H ácriat cr iat ur as que não supor to. Os vagabun dos, por exempl o. Par ece-me ece-me que eles cresceram cresceram mu it o, e, aprox imando-se im ando-se de mim, mi m, vão gemer gemer peditóri os: vão gri gr i tar, exi gir , tomar -me qual quer coisa. (...) Vi vo agi ag i tado, ta do, cheio ch eio de ter r or es, uma um a tr t r emur emu r a nas n as mãos, qu e emagr eceram. ecera m. A s mãos já j án ão são mi nh as: são mã m ãos de velh vel h o, f r acas e i núteis. As escori escori ações das palmas palma s cicatr ci catr i zaram.” zaram .”
Faz constantes alusões à sua infância — relata várias histórias desse tempo por todo o decorrer do romance. Volta Volta a ser criança na fazenda do avô Trajano, grande latifundiário decadente, decrépito e beberrão. Lembra-se da avó, do pai Camilo — preguiçoso, que só vivia lendo, deitado na rede: “Vol to a ser ser crian cr ian ça, revejo a fi gur a de meu avô, avô, Trajan Tr ajan o Pereir a de Aqu i no Caval cante cant e e Sil va, que alcancei velh íssi ssi mo, os negócios negócios na fazenda fazenda andavam mal. E meu pai, red r eduzido uzido a Camil o Per Per eir a da Sil Sil va, fi cava dias dias inteir in teir os manzanzando manzanzando numa nu ma rede armada nos es esteios do do copiar, cortan do palha de milh o para cigar ros, lendo o Carl os M agno, sonhan sonhan do com a vitóri a do Partido Part ido que Padre I nácio chefiava.” chefi ava.”
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Seu avô, o velho Trajano, teve poder e escravos. O pai, Camilo Pereira da Silva, pegou os negócios da fazenda quando iam mal. Aos catorze anos perdeu o pai. A lembrança conduz o narrador a imagens da morte do pai. Ele estava na escola, tinha catorze anos e, ao estava estir esti r ado num n um mar ques qu esã ão, coberto cober to por um l ençol br anco an co que qu e lhe lh e escondi escondi a o cor po todo tod o atéa cabeça. voltar para casa, “ ele estava Só fi cavam expostos os pé s, que qu e iam ia m al é m de uma u ma das d as pontas pon tas do mar ques qu esã ão, pequeno pequ eno par pa r a o defu d efu nto nt o enor me.” “ D esejava esejava em vão sent sent i r a mor te de meu pai . Tudo T udo aqui l o era desagr desagr adável. [ ...] Que Qu e ir i a f azer azer àtoa, mi údo que qu e ni ngu é m me via?”
Depois da morte do pai, vai para a cidade, onde passou fome até se estabelecer com emprego. Sempre foi muito só, vivia isolado. “E u i a jogar pião, sozinho, sozinho, ou empinar papagaio papagaio sempre sempre brin br in quei só.” só.”
Passa horas no café, conversando com Moisés, judeu com idéias comunistas, mas não presta atenção: pensa nas suas dívidas e prestações. Vive Vive agitado, antigas imagens imagens o perseguem, não consegue trabalhar, trabalhar, em em tudo vê Julião Tavares Tavares e Marina. Esse é seu mpossível tr t r abalh ar. Dão-me um u m of ício, um r elatóri o par a datil dat il ograf ogr afar, ar, na r eparti ção. A tédez linh li nh a vou bem. estado atual: “ I mpossí Daíem Daíem diant di antee a cara car a balof a de Ju li ão Tavares aparece apar ece em cima do or i gin al, al , e os meus meus dedos dedos encon encon tr am no teclado t eclado uma r esi esi stênci nc i a mol e de car ne gor da. E l ávem o err o. Tento vencer ven cer a obsessã obsessão, capr i cho ch o em não usar a bor r acha. ach a. Con cluo cl uo o tr abalho, mas a resma resma de papel papel f ica mui to re r eduzida.” .. .
“ N ão consigo con sigo escreve escr ever. r. D i nh eir o e propr prop r i edades, edades, que qu e me dão sempr sempr e dese desejj os viol entos ento s de mor tan dades e outr ou tr as destr destrui ui ções, es, as duas colun col un as mal impr im pres essas sas,, caixi cai xi lh o, D r. Gouveia, G ouveia, M oisé s, homem da l uz, negociant n egociant es, es, pol íti cos, dir etor e secretá secretár i o, tu do se move na mi m i nh a cabeça, gor da e mole que qu e é , repar r eparan ando-se do-se bem, a cara bal b alof ofaa de Jul Ju l i ão Tavares Tavar es mui mu i to aument au mentada. ada. Ess E ssas as sombras se se arr ar r astam com lenti lent i dão viscosa, viscosa, mistur mistu r ando-se ando- se,, for mando man do um novelo conf uso.” .. .
“ E ste mês fi f i z um sacri sacr i f ício: ci o: dei un s dinh di nh eir os ao M oisé oi sé s das pr estaç estações. es. D r. Gouveia Gou veia háde ter paci ênci nc i a, espera mai s un s dias. di as. D eix ar ei de d e andar and ar pela pel a ru r u a do So par pa r a nã n ão encon enc ontr tr á-l o. O qu q u e não posso éesconder escond er-m -mee de Moi M oisé sé s.”
Há cerca de um ano, quando os negócios iam tranqüilos e equilibrados, avista pela primeira vez uma nova vizinha: Marina. Moça nova e bonita. Observa-a até travar uma amizade que evolui para namoro. Encontravam-se no quintal da casa. “Tornei-me amigo de M arin ar in a. Com certeza começamos por olh ares ar es,, movi mentos de cabeça, sorr sor r isos, como sempre acont ece.” ece.”
Marina gostava de luxo, admirava D. Mercedes, uma espanhola madura da vizinhança, amigada em segredo com um oficial que lhe visita, em casa, alta noite. Luís a repreendia, mas ela insistia em dizer que D. Mercedes era o máximo. Luís conclui: “(...) Aqui me preocupan pr eocupando do com aqu ela bu r r a! U nh as pintadas, pin tadas, beiços pintados, pin tados, bibl bi blii oteca das moças, pregui pregu i ça, admi r ação por dona M ercede ercedess — Total = Rua da L ama.”
D. Adélia, mãe de Marina, pede que Luís arranje um emprego para a filha. Ela queixa-se de tudo: dos preços da hora da morte, do don a A dé l i a, ordenado do marido que era irrisório. Dá a entender a Luís que confia con fia nele, que o vê como homem respeitável: “ — M as dona r espondi espondi afli af li to, a senh senh ora or a está estáenganada. Eu sou um u m i nf eliz, eli z, não tenh o onde on de cair mor to. U ma r ecomendaç ecomendação mi nh a nã n ão ser ser ve. M as vou tentar, tentar, ouvi u?” escola e saiu saiu como entr entr ou.” , gasta com Seu Ramalho, pai de Marina, queixa-se da filha, diz que ela nunca quis estudar; “entr ou na escola casar ar com ela f az negócio negócio r ui m.” sapatos e roupas e acrescentou: “O homem que cas
Como Marina não permitia maiores intimidades e Luís da Silva gostava muito dela; ficaram noivos. Queria casar logo, deu-lhe todas economias para o enxoval. “— Mari M ari na, a gente gente deve deve acabar acabar com isto, minh a fi lh a. Vamos Vamos para dentr o. — Vou Vou n ada! Torcia o cor po, defendi defendiaa a vir gindade gin dade com unh as e dentes dentes.. — Está E stádir di r eito. eit o. E nt ão, émelho mel horr apr essar essar o casó ca sórr i o. — Com que roupa? Di sse sse M ari na.
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— Que Qu e é que qu e fal f alta ta? ? — Tudo. Tu do. Sou Sou uma noi va pelada, pelada, meu fi lh o. Impacientei-me: — Ora, Ora , or a, or a! E nt r e nós não háceri môni môni a. Ar A r r anj an j a-se. Eu tenh o umas um as econ economi omi as, pouco, pouco , mas tenh o. També m vocênã vocênão precisa de mui ta coisa. Umas f r onhas, umas camisas...” camisas...” ...
“N o outr o dia r etir ei quinh qui nhentos entos mil- r é is do banco e f ui àcasa casa vizin ha.”
Em um festa no Instituto Histórico, Luís da Silva conhece a figura de Julião Tavares: sujeito sujeito gordo, vermelho, patriota, falador e fez-me uma vi sita. E m segui segui da fami f amilili ari ar i zou-se. zou-se. Er a Luí L uís para aqui , L uís para ali al i , elogios elogi os na tábua da escrevedor... “ dias depois fez-me venta, vent a, só com o f i m de recebe r eceberr outr ou tr os. Não tenho ten ho j eito eit o par a iss i sso. o. Dua D uas, s, tr ês hor as de chateação, qu quee me dei dei xavam xa vam ener vado, besta, besta, r oendo as un has.” qu ase n ada: cal ças de Alguns dias depois, Marina chamou Luís para ver o que comprara com o dinheiro dado por ele: “ N ão era quase seda, seda, camisas cami sas de seda seda e outr out r as nin har i as.”
A contragosto, aprova as compras dela e aceita as críticas que ela faz às suas golas puídas e aos sapatos cambados. “ Of ereci a Seu I vo os meus sapatos cambados e ref ormei or mei os pé s. O dinh di nh eir o sumi a-se, essas essas alter al teraç ações chupav ch upavamam-me me as reser reser vas acumu ladas com paciê paci ênci a. Eu vivi a preocupado, pr eocupado, faze f azendo ndo cál cul os na rua. r ua. E ain da não havi a comprado compr ado uma l embran ça para par a Marina.”
Para agradá-la, Luís liquida a conta no banco ban co e compra-lhe um relógio-pulseira relógio-pulsei ra e um anel. Sobraram-lhe míseros vinte mil-réis. Mas maluca confessa que ia cheio de satisfação “ ” pensando em contentá-la, sem se importar se no mês seguinte precisasse pedir cinqüenta mil-réis mil-r éis ao Dr. Moisés. Julião Tavares Tavares que, tendo o que Luís não tinha, principalmente dinheiro e posição social, conquistou, facilmente, a leviana Marina que, sem dificuldade, deixou-se seduzir, ignorando Luís. “A o chegar àr ua do M acena rece r ecebi bi um choqu e tremendo. F oi a decepç decepção maior mai or que já j áexperi mentei. À janela j anela da minh mi nh a casa, caído para par a for f ora, a, vermelho, vermel ho, papu do, Ju l ião Tavares pregava os olhos em M arin ar in a, que, da casa vizin ha, se der der r etia par a ele, tão embebi embebida da que não percebeu percebeu a mi nh a chegada. Empur Em pur r ei a por ta br utalm ut almente, ente, o coração estal estal ando de rai r aiva, va, e fi quei em pé diante dian te de Juliã Jul ião Tavares, Tavares, senti senti ndo um u m enorme enor me dese desejo jo de aper aper tar-l tar -lhe he as goelas. goelas. O homem h omem per per tur bou-se, bou-se, sorr iu amarelo, esgueir esgueir ou- se par a o sofá sof á, onde on de se abat eu.” eu. ” ...
“U m mês depoi depoi s é r amos ini i ni migos. mi gos. (...) M arin ar in a estava realmente r ealmente com a cabeça vi r ada par a Jul J ul ião Tavares Tavar es.. (...) ( ...) O sem-vergonh a metera-se na casa, casa, ficava f icava l áhor as, ínti nt i mo da famí f amíl ia, un ha com car ne. Empur Em pur r ava a port a, entr ava como se aqui l o foss f ossee dele.” dele.” ...
“J ul ião Tavares passava passava como um pavão. E o pessoal pessoal se cal calava, ava, arr ar r egalava os olh os para M arin ar in a, qu quee não lil i gava impor i mpor tânci tânci a a ni n i ngué ng ué m, i a f ofa, of a, com o vestido vesti do col ado às nádegas, as unhas un has vermelh ver melh as, os beiços vermel hos, ho s, as sobr sobr ancelh an celh as arr ar r ancadas an cadas a pin ça. (...) Sim senhor. senhor . Que Qu e bicho de sorte! M ari ar i na f azia água n a boca dos homens.” ...
“Se eu eu nã n ão ti vesse vesse catar atas no entendi mento, teri t eri a percebido l ogo que ela ela estava com a cabe cabeç ça vir ada. Vir Vi r ada para par a um suj eito que podia podi a pagar-l pagar -l he cami sas de seda, seda, mei mei as de seda.” seda.” “Por que foi que aquela aquela cri atur a não proce pr ocede deuu com f r aqueza? aqueza? Devia ter- me chamado e dito: ‘ L uís, vamos vamos acabar acabar com i sto. Pensei Pensei qu e gostava gostava de você, enganei- me, estou estou embeiçada por outr out r o. F i ca zangado comigo?’ Eu teri a res r espondi pondi do: ‘ N ão fico f ico não, M ari ar i na. Vocêde se casar contr cont r a vontade? Ser Ser i a um desastre. desastre. Adeus. Sej Sej a feliz.’ fel iz.’ E r a o que eu eu ter ia di to. Sent Sentii r i a despe despeitit o, mas nenh uma desgr desgraç aça teri a acontecido. L embrar -me-i a de M arin ar in a com vaidade, atécom orgu lh o.”
Luís, humilhado e ludibriado, mergulhou no abismo da derrota, adquirindo impulsos mórbidos de morte. Um dia, Ivo, o mendigo que, às vezes, procurava Luís para uma cachacinha e um prato de comida, deixou um rolinho de corda sobre sua mesa, o que lhe despertou um horror incontrolável.
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“ — Não quero. qu ero. Ti r e isso depressa. depressa. Evi tava dizer dizer o nome da coisa que ali estava estava em cima da mes mesa, a, ju nto ao pr ato de se seu I vo. Parecia-me que, se se pronunci pronu nci asse asse o nome, uma u ma par te das min has pr eocupações se r evelar evelar i a. Enqu E nqu anto ant o esti esti vera dobr ada, nã n ão ti nh a semelh semelhanç ança com o objeto obj eto que me per per segui segui a. Er a um r olo pequeno, pequeno, i nof ensivo. ensivo. L ogo que se se des desenroscara, der der a-me um choque viol ento, fi zera-me recuar tr emendo. emendo. A ntes de r efletir, efleti r, ti ve a impr essã essã o de que aquil o que ia amarar ou mor der.” der.” bat i a-me a-m e desper desper adamente.” adamen te.” A corda tomou corpo, confundiu sentimentos e, por fim, colocou-a no bolso: “ O cor ação bati
Luís espreitava Marina e Julião e começava a ter devaneios e alucinações. Apesar de tudo, ele ainda nutria esperança que Marina vo l tasse... tasse... Por Po r que qu e não? Se voltasse vol tasse esqu esquecida ecida i nteir nt eir ament e de Ju l i ão Tavares Tavar es,, ser ser íamos feli f eli zes.” zes.” fosse sua: “ Se M ar i na vol “C ertamente j áconsegui conseguirr a seu seu in tento e estava estava em busca de nova conqui sta.” Ele notou que Julião tinha deixado de visitar Marina. “Certamente Por acaso, descobriu quem era a nova vítima: uma pobre moça sardenta e engraçada que trabalhava numa loja de miudezas. “Uma nova M arin ar in a, decer decer to. L ogo, estar estar ia ela, t ambé m com a barr bar r i ga crescendo.” crescendo.”
Abandonada, Marina não saía de casa, andava abatida e constrangida. Cada vez mais desorientado por seu fantasma, Luís passou a seguir Julião. Descobriu, também, que ele visitava a moça (a sardenta) e voltava de madrugada, a gola erguida para ninguém reconhecê-lo: “ Agor a Jul ião Tavar Tavares es mar chava no escur escur o, depois depois de ter abr açado a mocinh moci nhaa sar sardenta. denta. I a dei dei tar -se, -se, arr umar tal vez un s versos in decent decentes es a respeit respeit o de segr segredos edos de alcova. al cova. Àqu ela h ora or a nã n ão tin t in ha com qu em desabaf desabafar. ar. O café caf éestava estava f echado, na n a pr aça deserta deserta as luze lu zess cochi l avam. (...) J ul ião Tavares ju l gava-se superi or aos outr os homens porqu e ti nh a de deff lor ado vár ias meninas meni nas pobres pobr es.. Pelos modos, modos, imagin im agin ava-se dono delas.”
Luís indignava-se, e crescia nele o desejo de vingança. Um certo dia, encontrou Julião no café e, de sua mesa, imaginou-se estrangulando-o estrangulando-o com a corda, que trazia no bolso, dada pelo mendigo Ivo. Outro dia, sentindo-se frágil e cheio de culpa, viu-se atrás de Marina, que entrava na casa de uma mulher que fazia abortos. Esperou-a, bebendo cachaça, num bar de frente. Quando ela saiu, com os olhos fundos e pálida como um cadáver, seguiu-a. Ao alcançá-la, desgostoso, agrediu-a moralmente e cobrou-lhe atitudes. “F azia azia tu do aquil aquil o por piedade piedade ”, tinha muita pena de Marina. Depois de algumas investigações, Luís descobriu o arrabalde onde Julião tinha uma nova aventura. Uma noite, protegido pela densa neblina, esperou-o à saída da casa. À medida que o seguia, atormentado pelas recordações, via Julião que ora sumia e ora surgia, flutuando no nevoeiro espesso. Julião parou para acender um cigarro e Luís, apalpando a corda no bolso, sentia o sofrimento e humilhações vividos, cobrando-lhe compensação. Num gesto rápido, saltou, enlaçou o pescoço do rival que, desprevenidamente, desprevenidamente, acendia o cigarro. Com toda sua força esticou a corda, estrangulando Julião, que, após debater-se, ali ficou, insignificante, “coberto de f olhas olh as secas secas,, amortalh amort alhado ado na neblina.” nebli na.” “ Retir ei a corda cor da do bolso e em al gun s saltos sil enciosas, estava estava ao péde Juli Ju li ão Tavares Tavar es.. Tu do i sso sso éabsur do, éi ncr nc r ível, mas r eali zou-se zou- se natu r alment al mente. e. A cor da enl açou o pescoço do homem, ho mem, e as mi nh as mãos aperr tadas afastaram- se. ape se. H ouve uma lut l utaa rá r ápida, u m gorgolejar gor golejar,, un unss braços a deb debaterater-se se.. Ex atamente o que eu eu havia h avia i magin ado. O corpo cor po de Jul ião Tavares ora tombava par a fr f r ente e ameaçava arr ar r astar-me, astar- me, ora se incl i nava par a tr ás e queri quer i a cair em cima de mim. mi m. A obsessã obsessão ia i a desaparecer. Ti T i ve um deslu mbr ament o. O h omenzinh omenzi nh o da r eparti epar ti ção e do jor jo r nal na l era eu. eu . Esta E sta convi con vicç cção afastou qualquer qual quer r eceio eceio de per per igo. Uma Um a alegria alegri a enor enor me encheu-me. encheu-me. ... Ju l i ão Tavares estr estrebuchava. ebuchava. Tanta Tan ta empáf ia, ia , tanta tan ta lor l orota ota — e estava estava ali al i , amunh amu nhecado, ecado, venci venci do pelo pró pr ópri pr i o peso, peso, es esmor mor ecendo, ecendo, escor escorrr egando para o chão cober cober to de folhas fol has secas secas,, amortal amor tal hado na n a nebli na.”
Uma imensa felicidade apoderou-se de Luís, que se sentia forte; não era mais aquela pessoa sem importância; todos os sofrimentos e humilhações tornaram-se fumaça; era outro. No entanto, entanto, essa essa euforia euforia durou durou pouco, logo sua mente mente começou começou a trabalhar, trabalhar, angustiando-o; angustiando-o; um imenso imenso pavor pavor e desespero tomaram conta de seu corpo: temia ser descoberto. Totalmente Totalmente transtornado, conseguiu chegar em casa, onde acabou uma garrafa de cachaça e dormiu. Na manhã seguinte, sentindose doente, não foi trabalhar. trabalhar. Procurou em sua roupa marcas que o pudessem comprometer, comprometer, mandou a camisa para a lavadeira, picou toda a gravata e deitou-se, entregando-se, desvairada e descontroladamente aos fragmentos de lembranças, extremamente doente, transtornado, sufocado pela angústia.
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“— “M “ M in ha Santa M argar ida...” O dono da bodega, bodega, tr iste, fi ncava os cotove cotovelos los no bal cão engordur ado. As cri anças faziam voltas em em r edor da bar ca de terr a e varas. varas. A r apari ga pint ada de verm vermeelh o espalh espalhava ava um cheir o esqui esqui sito. O engraxat e esc escutava utava hi stór stór ias de capoei capoei r as. O homem acabocl ado cruzava cr uzava os braços, mostr mostr ando bíceps enormes enor mes.. O mendigo m endigo esti esti r ava a pern a entr apada e ensangüentada. ensangüentada. A s moscas moscas dormi am, e o mendi go, com a mul m ul ta esqueci esquecida, da, bebia cach aça e ri a. Passos Passos na calç cal çada. Quem i a entr ar? ar ? Quem Qu em tinh ti nh a negócio negócio comi com i go àquela hor a? Nece N ecess ssá ár i o Vitóri Vi tóri a fechar f echar as portas e despe despedi dirr o hóspede hóspede in cômodo cômodo que não se arr edava da sala. M as Vitó Vit ór i a cont ava moedas, moedas, na n a par ede ede,, r esmu esmungava ngava a entr ada e a saída dos navi os. A pl aca azul de D . Al berti na escondi escondi a-se a um canto, cant o, suja de piche. Todo aquel aquel e pessoal pessoal estendi estendia-se a-se perf eitament e. O homem cabeludo qu que e só cui dava da sua sua vi da, a mul her que tr azia uma gar r afa af a pendur ada ao dedo dedo por um cor dão, Rosenda, Rosenda, cabo José J osé da LLuz, uz, Amar Am aro o Vaqueir o, as f igu r as de de um reisado, r eisado, um vagabun do que dormia dorm ia debaix o das ár vores vor es,, tudo tu do estava estava na par ede ede,, faze f azendo ndo um u m zumbido de carapanãs, um bur bu r bur i nh o que ia cres cr escendo cendo e se se transfor tr ansfor mava em gran de clamor José Bah ia acenava-me acenava- me de lon ge, sorr i ndo, nd o, mostr m ostran ando do as gengi gen givas vas bangu ban guelas elas e agi tan do os cabelos ca belos br ancos. an cos. — José J osé B ahi ah i a, meu m eu i r mão, també t ambé m estás aí? “ José Jo sé Bahia, Bah ia, tr ôpego, pego, rompia r ompia a marcha. march a. Um, U m, dois, um, um , dois... A mul tidã ti dão que f er vil hava na n a parede acompanhava acompanhava José Bahia Bah ia e vinh a deitar deit ar -se na mi nh a cama. Qui Qu i té r i a, Sinh Si nh áTerta, Tert a, o cego dos bil bi l hetes, o contí con tínu o da r eparti epar ti ção, os cangaceir can gaceir os e os vagabund vagabu ndos, os, vin ham deitar -se na minh mi nh a cama. Ci r i lo de Engr En grá ácia, esti esti cado, amar r ado, mar chando chan do nas pont as dos pé s mortos mort os que não tocavam o chão, vin ha deitar -se na mi nha nh a cama. F ernando I ngui tai, com o braç br aço carr egado de voltas voltas de contas, contas, vin ha deitar - se na mi m i nh a cama. As A s ri scas de piche cr uzavam-se, uzavam-se, f ormavam or mavam gr ades. ades. — “José “J oséB ahi a, meu i r mão, háquan to tempo! ” As cri cr i anças corr i am em tor no da barca. bar ca. “ JoséBah i a, meu i r mão, estamos estamos tão velhos!” velh os!” Acomodavam-se Acom odavam-se todos. 16.384. Um colchão de pain pain a. M il hares de de figur in has insignif icantes. icantes. Eu era uma f igur in ha i nsignif icante e mexia-me mexia-me com cuidado pa para ra não mol estar estar as outr out r as. 16.384. Íamos descan descansar. sar. U m col chão de paina pai na.” .” SÍNTESE DO ENREDO
Luís da Silva, funcionário burocrático da Fazenda, em Maceió, escreve artigos, por encomenda, nas horas vagas, para um jornal. Arrasta, na cidade grande, uma vida mesquinha, devida não apenas a seu ordenado de quinhentos mil-réis, como também toda sorte de misérias que teve de suportar para atingir essa precária situação. Chagado da zona rural, medigou na Capital, dormiu em bancos de jardim, morou em pensões que eram verdadeiros chiqueiros, “ gastou-se gastou -se em em cur cu r vatu r as na caça ao pi stolã stol ão omem feio, de ”, para aos trinta e cinco anos poder considerar-se apenas um “h omem ”, ocupaç ocu pações marcadas mar cadas pelo pel o r egul amento, amen to, um val or mi údo, uma um a espé cie ci e de níquel qu el social socia l ”, ”, que conseguiu tão-somente alugar uma casa de arrabalde e ter por empregada doméstica “uma negra surda, reumática e cheia de manias.” Tipo solitário e arredio, Luís acostumou-se a receber ordens — na família, na escola, no exército, no trabalho. Fora dessa ordens, o silêncio e a indiferença o cercam, vive em isolamento tal, que se agrada dos passageiros do bonde que lhe pisam os pés, porque são obrigados a voltar-se para ele, atenciosos, para pedir desculpas. O cotidiano de Luís da Silva é simples e mesquinho, dividido entre o trabalho na repartição pública, as tardes no quintal, lendo romances medíocres, e a visita dos amigos Moisés, Pimentel e Seu Ivo. Esporadicamente passeia pela cidade, vai ao Café, ou ao Instituto Histórico, onde se aborrece com leitura de sonetos, recitais de música e muita retórica vazia. Em uma das tardes em que está lendo, entediado, um dos habituais romances, avista, no quintal vizinho, uma jovem, Marina, que o atrai profundamente. Faz amizade com a jovem e, em poucos dias, estão namorando. Luís apaixona-se por Marina e a pede em casamento. Como Marina é uma mulher fútil, cheia de vaidade e ambiciosa, aceita o pedido de casamento, mas suas aspirações estão longe da vida modesta que Luís da Silva pode oferecer-lhe. Decidido a casar, Luís entrega à namorada suas parcas economias para a compra de um enxoval que ele jamais verá: o dinheiro é quase todo gasto em meias de seda e pó-de-arroz. Em uma das visitas ao Instituto Histórico, Luís da Silva conhece Julião Tavares. Tavares. Desde o início, Luís alimentara uma indisfarçável antipatia por Julião Tavares, sujeito gordo, risonho, patriota e hipócrita, filho de prósperos negociantes de secos e molhados, bacharel em direito, reacionário e católico; figura asquerosa de “dono do mundo”. Porém, mesmo contra a vontade de Luís da Silva, o homem passa a freqüentar constantemente sua casa. É nessas visitas que Julião Tavares conhece Marina e passa a assediá-la. Marina se deixa seduzir sem dificuldade e Luís da Silva, tomado pelo ciúme e pelo sentimento de derrota, deixa-se arrastar para um abismo interior sem volta. Vários acontecimentos, como a gravidez de Marina (que esperava um filho de Julião Tavares), o aborto a que ela se submete, vão aumentado o ódio que Luís sente por ele. Para complicar a situação, Seu Ivo lhe dá uma corda de presente. Essa corda lhe inspira vários devaneios associados à idéia de morte e assassinato. Matar Julião Tavares torna-se, então, a obsessão de Luís da Silva. Em uma noite de delírios, Luís persegue o rival e o estrangula, com a corda presenteada pelo Seu Ivo, na ilusão de auto-afirmação, para, em seguida ao choque de retorno de seus impulsos, desequilibrar-se completamente. completamente. Depois de uma longa doença, provocada pelo abalo nervoso que o assassinato lhe provocara, Luís da Silva conta sua própria história.
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PERSONAGENS Luís da Silva: narrador e protagonista. É o anti-herói que, em primeira pessoa, relata um ano de sua vida. Um homem com os
público, ico, (...) A lé m de tudo, sei sei nervos em frangalhos, trinta e cinco, feio, funcionário público: “ Tr in ta e cin co anos, f un cion ár i o públ que sou sou f eio.” “ U m suj eito eit o feio: f eio: olhos ol hos baços, o nar i z gross gro sso, o, um u m sorr sor r i so besta besta e a atr apal haç ha ção, o encol hi mento ment o que qu e é mesmo uma um a desgr desgr aça. (..) H abit uei- me a escreve escrever, r, como j ádiss di sse. e. Nunca Nu nca estudei, sou um ign orant or ante, e, e j ul go que os meus meus escr escrii tos não pr estam. estam. ( ...) Tr abalho num n um j orn al. À n oite dou um salto por lá, escrevo escrevo umas li nhas nh as.. (...)”
Luís é produto da sociedade rural em decadência, pertencendo a dois mundos com os quais não consegue se identificar. identificar. O passado de desagregação da família ruralista a que pertence e o presente urbano em que se insere, não lhe trazem qualquer segurança ou compensação. Caracteriza-se como a própria imagem dessa dissolução na ausência significativa dos sobrenomes ancestrais importantes: apenas Luís da Silva, enquanto o avô fora Trajano Pereira de Aquino Cavalcante e Silva. A constante evocação de um passado decadente envolve a personagem em moticações psico-sociais, que se reúnem num complexo gerador e determinantes de suas opções como ser (indivíduo). A liberdade inexiste, tudo se acha previamente decidido e Luís da Silva, sem vontade, passivo e submisso, deixa-se envolver por todas as situações, arrastando-se por caminhos sem saída. Encurralado, sobrevive, alimentado por p or uma neurose que tem caminho certo: ce rto: o crime. Quando imagina Julião Tavares numa fornalha “derr etendo as banhas” , não está sonhando: é um desejo que ainda quer ver realizado. Isolado como pessoa, obcecado pelo ciúme, talvez pudesse respirar como ser social, como um intelectual que possui manuscritos guardados, periodicamente revistos, severamente julgados. Mas não, a prisão é a mesma, se não pior. Não existe possibilidade de identificação do seu trabalho com o mundo que o esmaga. Na ânsia de libertar-se das baneiras asfixiantes, é dominado dominado pela idéia fixa de vingança: vingança: após o rompimento torna-se monomaníaco — só destruindo o seu rival, e Julião Tavares personifica personifica tudo aquilo que ele não é, tudo aquilo que o conduziu a uma vida inútil inútil e sem sentido —, é possível recuperar o equilíbrio perdido, afirmar-se afirmar-se como homem autêntico, superar a sua condição de coisa inerte e desprezível. O assassínio lhe parece a única maneira de sentir uma liberdade sempre desejada e jamais alcançada, a única forma real, possível de realização humana: “ Nas r edações, es, na n a reparti r eparti ção, no bon de, eeuu era er a um tr ouxa, oux a, um i nf eliz, eli z, amarr ado. M as ali, ali , na estr estr ada deserta, deserta, (Jul (J ul ião Tavares) voltar volt ar-me -me as costas costas como a um cach orr or r o sem sem dentes! N ão. Don de vinh a aquela gr andeza? Por que aquela seguranç segur ança? Eu era um homem. A li eu era u m hhomem omem ... A obsess obsessã ão ia i a desapar desaparece ecer. r. Tive T ive um u m desl desl umbr amento. O hhomenzin omenzinho ho da reparti r eparti ção e do jor nal não era eu ... Ti nh am-me enganado. Em tr in ta e cinco ci nco anos havi am-me convenci do de que só me podia podi a mexer pela vontade vont ade dos outr out r os. Os mergu lh os que meu pai dava no poço da Pedr Pedra, a, a palmatória palmatór ia do mestr mestr e An tôni tôni o Justin Ju stino, o, os berr os do sargento, a gross gr osseri eri a do chefe chef e da reparti repar ti ção, a impert i mpertin in ênci a maci a do dir di r etor, tu do vir vi r ou f umaça.” “ O pr opr i etár i o da casa, o di r etor da r eparti epar ti ção, o ch efe da r edação são homens h omens que qu e me domina domi nam m sem mostr ar o foci f ocinn ho, mani f estamestam-se se pel pel o ar ame, nu m pedaço de papel.”
Mata o rival: o inimigo tangível, símbolo de tudo o que ele odeia. Ou seja, Julião Tavares Tavares funciona como uma projeção das suas frustrações, dos seus recalques e dos seus desejos reprimidos. Imediatamente Imediatamente após o assassinato, assassinato, Luís da Silva diz “veio-me a cert certez ezaa de que me havia t orn ado velh velh o e impotente. — I núti nútil,l, tudo inútil.” Julião Tavares : rico bacharel, metido a patriota discursador. Gordo, carão redondo e vermelho, representa o chato, o intragável
conquistador barato: seduzia as moças pobres, abandonando-as a seguir. seguir. Luís conhece-o, uma noite, no Instituto Histórico, passa out r os.” Logo a odiá-lo pelo seu jeito acanalhado: “ Tu do nele era posti ço, era dos outr Logo depois de engravidar e abandonar Marina, já está de amante nova, mocinha pobre dos arrabaldes. É assassinado por Luís da Silva.
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Marina : “ Cabelos de mil ho, u nh as pintadas, É uma jovem mulher, vulgar, ambiciosa pin tadas, beiços ver ver melh os e o pernã pern ão aparece apar ecendo ndo ...” . ..” É
e extremamente interesseira. Vizinha e namorada do protagonista. Depois de gastar as economias do noivo em um enxoval irrealizado, deixou-se seduzir por Julião Tavares sem qualquer resistência. Grávida, é abandonada pelo “amigo” de Luís da Silva.
Sr. Ramalho : pai de Marina, homem decente e sistemático, torna-se amigo de Luís e avisa-o de que a filha não é “gr ande coisa” . Dona Adélia : mãe de Marina, queixa-se freqüentemente de tudo e, segundo a visão do narrador, é a responsável pela “perdição
da filha”. Ao contrário do marido, justifica todas as ações da filha. Estimula-a a um casamento de conveniência e joga-a de encontro a Julião, quando descobre que ele é rico. Vitória : empregada de Luís da Silva. Velha, maníaca, maníaca, lê todos os dias as notícias de saídas e chegadas de navios. Tagarela Tagarela com o
papagaio, mudo, a quem pretende pretende ensinar palavras. Furta moedas encontradas pela pela casa e, junto com seu salário, enterra no fundo do quintal, na horta, ao lado dos pés de alface. “ A voz é áspera sper a e desdentada desdent ada.. E, E , acomp ac ompan anhh ando an do a cadê c adên cia, ci a, tr t r emem as pelan pel ancas cas do pescoç p escoço de per u , tr t r emem os pêl os do bu ço e as duas ver ver r ugas escur escuras. as. Éterr i velmente feia.” f eia.” Sr. Ivo : pobre coitado que viaja por todo lado, “entr a nas casas casas sem sem se se anunciar anun ciar ” e e está sempre faminto. É dele que o narrador
recebe, como presente, a corda com a qual enforcará Julião. Moisés: judeu amigo do protagonista. Credor de Luís, envergonha-se de cobrar o amigo. É socialista e pessimista inveterado. FOCO NARRATIVO E DISCURSO
A obra, relatada em 1 a pessoa (narrador-personagem), não apresenta divisão estrutural em capítulos: é escrita como um fluxo confessional, um relato de arrependimento, uma confissão de um homem desesperado. Uma autobiografia de um narrador emocionalmente perturbado, assustado com as proporções de seus próprios atos, um delírio que, na estrutura narrativa, apresenta-se como desordenação e fragmentação de idéias, tempo que se estrelaça sem indicação de passado e presente. Por Por isso o monólogo interior (em sua forma radical da stream of consciousness) substitui, freqüentemente, como técnica narrativa, a narração tradicional: “ E sse passatempo passat empo i di ota ot a dá-me -m e um u m espé cie ci e de anestesia: an estesia: esqueço as h u mi l h ações e as dívidas, vi das, dei d eixx o de pensar p ensar.” .” “Qu ando a r eali eali dade me entr entr a pelos olhos, o meu pequeno pequeno mu ndo desaba.” desaba.” “A cadeira cadeir a perto da cama, o l ivr o fechado sobre sobr e a palh a. — A calça está estár asgada. ‘Cosa ‘C osa o rasgã r asgão com uma cor da.’ Al berti na de tal, parteir par teiraa dipl omada. Escuri dão. Um estr estr emecimento, mecimento, u ma queda. I a cair da cama, o chão se abri ri a, eu r olar ia pelos pelos sé cul cu l os dos do s sé cul cu l os f or a di sto. sto . O espír i to de Deu D euss boi ava av a sobr sob r e as águas.” gu as.” sness * stream of consciou sness : fluxo de consciência TEMPO NARRATIVO NARRATIVO
Sob o ponto de vista do tempo físico (cronológico), os fatos que motivam a narração de Luís da Silva têm a duração de menos de um ano. “F oi l áque vi M arin ar in a pela pela pr imeir im eir a vez, vez, em janeir o do ano passado. passado. E l ános tornamos tor namos amigos.”
Nesse intervalo de tempo, Luís conhce Marina, apaixona-se; apaixona-se; perde a namorada, que se deixa envolver pelos galanteios de Julião Tavares, e finalmente comete o crime. ent r e essas essas plant pl antas as que, que, no começo do ano passado, passado, avistei M arin ar in a pela prim pr imeir eir a vez, vez, ssuada, uada, os cabelos cabelos O narrador conta “ F oi entr pegando f ogo ”, é a partir desse fato que ele começa a contar a sua história, pelo menos no que se refere aos acontecimentos cruciais ”, da narrativa. Sob esse ângulo de análise, é possível constatar que Luís da Silva inicia o relato de sua história trinta dias após o
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restabelecimento de seu estado febril causado pelo crime: “ L evantei-me evantei- me hácerca de tr in ta di as, mas ju l go que ainda ai nda n ão me r estabeleci estabeleci completamente,” completament e,” diz diz o narrador na primeira frase da obra. Mais que o enredo, o que interessa em Angústia é a vida interior e a análise psicológica do narrador narra dor Luís da Silva. Assim, predomina no romance o tempo psicológico. O tumulto psicológico da personagem acaba confundindo presente e passado. As lembranças do narrador invadem o presente, fundindo, por meio das mais variadas associações, o presente e o passado. A presença de um tríplice tempo — o da narração do presente, o da recordação da infância e do passado e dos devaneios subjetivos (o tempo subjetivo interior) — introduz um universo fragmentado e estilhaçado. Embora os acontecimentos da narrativa decorram no intervalo de um ano, o narrador no remete a fatos ocorridos na sua infância e juventude. Desse modo, o tempo se estilhaça , as idéias surgem fragmentadas, soltas, que se presentificam com observações pessimistas: “ Volto a ser ser cr i ança, revejo a fi gur a de meu avô, avô, Traj Tr ajano ano Pereir Perei r a de Aqu in o Cavalcan te e Sil va, que alcancei velh íssim ssimo, o, os negócios negócios na fazenda fazenda andavam mal. E meu pai, red r eduzido uzido a Camil o Per Per eira da Sil va, fi cava dias dias inteir in teir os manzanzando manzanzando numa nu ma rede armada nos este esteios ios do copiar, copiar, cort ando palha de mil ho para ci garr os, os, lendo o Carl os M agno, sonhan sonhan do com a vitóri a do Partido Part ido que Padre I nácio chefiava.” chefi ava.” .. .
“H áquinze qui nze anos, er er a tudo di f er ente: ente: divi dia o qu arto art o que morava com D Dagobe agoberr to, que er er a estudant estudant e e repórt repórt er, havia u m calor in f ernal e um cheir o de gás invadia invadi a o ar.” .. .
“ O car r o passa passa pelos fun f un dos do Tesour Tesour o. É ali al i qu e trabal tr abal ha. ha . Ocupaç Ocu pação estú estúpi pida da e qui qu i nh entos ento s mil -r é i s de or denado.” denado. ”
Não obstante as constantes evocações do passado, o tempo faz um movimento circular: a narrativa começa trinta dias após o restabelecimento de Luís da Silva e termina nos momentos mais intensos de febre e delírio, ocorridos em conseqüência do crime. Ou seja, a noção de tempo não obedece ao padrão lógico de continuidade temporal. A NARRATIVA E A LINGUAGEM DO NARRA DOR Angústia é uma narração desesperada da tentativa de colocar em ordem os fatos e a vida: a decepção amorosa, o ciúme, o desejo
contido e humilhado, a mulher escolhida pertencendo a outro. O ódio pela perda gera o crime; o assassinato que transtorna o narrador-personagem e o põe doente, após matar o adversário. Angústia é narrado em primeira pessoa, por um homem atormentado e preso a uma vida medíocre, a uma rotina de onde emerge para
o drama passional. Tem a obsessão de criar uma obra, um romance e termina pelo relato da própria vida, da experiência amarga em que se mete e de onde olha o mundo. Não são somente os acontecimentos acontecimentos atuais que ele revolve: é o conjunto terrível de suas lembranças de homem que se confundem: a infância desolada, o isolamento, o sentimento de inferioridade, as necessidades físicas, as urgências emocionais. ngústia, uma teor teor ia do roman ce de Gracil Gr acil iano ian o Ramos” Ramos” (Estado Em seu artigo “A ngústia, (Estado de São Paulo, 10/09/2000), o professor Ivan Teixeira , da USP, escreveu: “ A ngú ng ústia sti a possui estr estr ut ur a de autobi aut obi ogr af i a, podendo poden do ser entendi ent endi do como espé espé cie ci e de diá di ár i o ínt i mo, com c om notá n otável pr ogr essã essão no n o andamen an damento to do d o assunto: assun to: ori or i gina gi na-se -se na al a l uci uc i naç na ção decor r ente do ci c i úme e da idé i dé i a do cr i me, passa pela r econsti tu i ção de seus seus moti vos, até chegar, sempre em meio àmemór memór i a af etiva, ao cr ime im e propr i amente dito. di to. E ssa ssa or dem decorr e da racion r acion alizaç al ização da leitu r a, que sele seleciona, ciona, corta, ata, in tercala e r eata, eata, porque por que vêtudo de fora, f ora, depois que tudo f oi vi vido e r elatado pela personagem personagem em dese desespe sperr o. M as el el a pró pr ópria, pr ia, que sent sentii u i ntensame nt ensament ntee os acontecimentos acont ecimentos que nar n arrr a, não consegue organ i zá-l os de maneir manei r a coerente. Para Par a el el a, tudo éconf uso e caóti caóti co, porqu e, ao fal ar, ainda ai nda se encontr encont r a emoci emocionada onada com o que fal a. Cada pormenor assume assume i mportâ mpor tânci nci a desmedida, desmedida, até at é mesmo mesmo os olhos ol hos do gato que a espia do mu r o, hhor oras as depois depois do cr ime. im e. O lil i vro vr o éorgani or gani zado de modo a suger sugerii r i mpr essã essão de desarr desarr anj o e absur absur do, pois poi s procur procu r a repres r epresentar entar as categor categorias ias subterr subter r âneas de um in diví di víduo ator mentado pelo i solamento e pel pel a mani a de auto-an aut o-aná áli se.” se.”
Tudo é confuso e caótico. É o fluxo de lembranças desordenado que chama a atenção do leitor: o pensamento navega solto, ao sabor das recordações que se hierarquizam de acordo com o valor que se dá a elas. “ L evantei-me evantei- me hácerca de tr i nta nt a dias, di as, mas jul go que ainda ai nda n ão me res r estabeleci tabeleci completamente. compl etamente. Das visõ vi sões que me per per segui segui am naqu elas noites noit es compr idas umas sombr sombr as perman ecem, ecem, sombras que se se mistur mi stur am àr ealidade eali dade e me produze produ zem m calaf r i os.
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H ácri cr i atur atu r as que não suporto. supor to. Os vagabun dos, por exemplo. Parece Par ece-me -me que eles cres cr esceram ceram mu i to, e, aprox i mando-se mando- se de mim, vão gemer gemer peditóri os: vão grit gr it ar, exi gir , tomar -me qual quer coisa. (...) Vi vo agi ag i tado, ta do, ch c h eio de ter r or es, uma um a tr emur emu r a nas n as mãos, que qu e emagr eceram. ecer am. A s mãos já j án ão são mi n h as: são mãos de velh o, f r acas e inú in úteis. A s escor escorii ações das palmas pal mas cicat r i zaram.”
O romance é pura memória, uma espécie de diário onde se registram, de forma desordenada, alucinada e aleatória os fatos que magoaram o narrador. narrador. Some-se a isso a culpa que sente pelo ato cometido e, por fim, acrescente-se a mágoa que, pouco a pouco, transforma-se em rancor contra a mulher que um dia amou (ou apenas desejou) e quis para si. “N a f orma or ma de An gústia, gústia, o egoísmo do personagem pr i nci pal se afi af i r ma pela concentr ação do r omance em sua pr ópria pr ia pessoa. pessoa. L uís da Silva Sil va é todo o r omance Angú A ngústia. stia. Contando Cont ando a sua históri h istóri a, L uís da Silva Sil va absorve-a em si m mes esmo. mo. O r omance toma, tom a, por isso, a f orma or ma e as di mensões do seu espí espír it o. Tor na-se na- se um di ár i o qu quee a personagem escreve posteri posteri ormente. or mente. A sua memóri a se desdobr desdobr a em ziguez zigu ezagu aguee e a nar na r r ação roman r oman esca esca acompan acom panha ha f i elmente elm ente esse esse zi zi guez gu ezagu aguee da memór memór i a de Luí L uís da Silva. Sil va. O seu mé todo éo da con f i ssã ssão psicana psica nall íti ca: uma um a pal avr a que qu e exp expll i ca a outr ou tr a, um u m pensamento pensamen to qu e esclar esclar ece o outr ou tr o. E t ambé am bé m o da d a associ assoc i ação de idé i dé i as: u ma i dé i a qu e atr at r ai outr ou tr a idé i dé i a, u ma l embr emb r anç an ça qu e suger sug eree out ou t r a lemb l embrr anç an ça. L u ís da Sil va nã n ão vi ve senã senão da sua su a memóri a e da imagi i magi naç na ção. M as a sua i magi naç na ção, no n o r omance, oman ce, consti con stitu tuii um r esul esul tado da memóri memór i a. L uís da Silva Sil va conta cont a o que qu e imagi nou anteior ant eior mente; a sua imagi i maginaç nação já j áse tor nou um f ato do passado, um patr pat r i môni môni o da memória.” (Álvaro ort os de Sobrecas Sobrecasaca aca (Álvaro Lins, Os M ortos , Ed. Civilizaçao Brasileira, 1963)
No romance, o que mais chama a atenção é a impotência do protagonista em sair dos seus delírios. delírios. Significativo Significativo é o fato de que a seqüência das últimas páginas do romance está nas primeiras: isso caracteriza uma circularidade, um universo fechado do qual o gesto tresloncado de Luís da Silva não conseguiu conseg uiu libertá-lo. Portanto, a idéia central da obra reside nessa ness a impotência do protagonista em superar a insignificância da vida e a solidão: a inutilidade de todos os esforços. “L evantei-me evantei-m e hácerca de tr i nta nt a dias, di as, mas jul go que ainda ai nda n ão me res r estabeleci tabeleci completamente. compl etamente. Das visõ vi sões que me persegui persegui am naquelas naqu elas noites noit es compr idas umas sombr sombras as perman ecem, ecem, sombras que se se mistur mi stur am àr ealidade eali dade e me produzem calaf r ios. H ácri cr i atur atu r as que não suporto. supor to. Os vagabun dos, por exemplo. Parece Par ece-me -me que eles cres cr esceram ceram mu i to, e, aprox i mando-se mando- se de mim, vão gemer gemer peditóri os: vão grit gr it ar, exi gir , tomar -me qual quer coisa. (...) Vi vo agi ag i tado, ta do, ch c h eio de ter r or es, uma um a tr emur emu r a nas n as mãos, que qu e emagr eceram. ecer am. A s mãos já j án ão são mi n h as: são mãos de velh o, f r acas e inú in úteis. A s escor escorii ações das palmas pal mas cicat r i zaram.”
BIBLIOGRAFIA
— Ramos, Graciliano - Angústia , Livraria Martins Editora, São Paulo, 1964, 9 a ed. Ramos — Puccinelli, Lamberto - Gracili ano Ramos , Edições Quíron/Mec, 1975 Ramos — Brayner, Sônia - Gracil iano Ramos , Coleção Fortuna Crítica 2, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1977 or mação da L i teratur terat ur a Br asileir asil eir a — Cândifo, Antônio - F ormaç , 2 vols, Editora Itatiaia/Edusp, Itatiaia/Edusp, Belo Horizonte, 1975 Presença da L iteratu r a Br asil asil eira , Difel, 1976 — Cândido, Antônio e Castello, Aderaldo - Presenç ativas — Todovov, Tzvetan - As Estruturas Narr ativas , Editora Perspectiva, São Paulo, 1970
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