UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO
JULIE MARIA DA SILVA MARQUES
Resenha do livro “Escola de Jornalismo – A opinião pública” de Joseph
RECIFE 2014
Pulitzer
Joseph Pulitzer, em seu livro, teoriza sobre como seria sua ideia de Escola de Jornalismo, prevista para a Universidade de Columbia. Este apanhado de ideias surgiu de sua resposta a diversas críticas que seu projeto sofreu. Ele as responde dando uma aula sobre a profissão do Jornalismo, sua importância para a sociedade, e o insubstituível papel da Universidade para o desenvolvimento do Jornalista. Até porque, de acordo com Pulitzer, o Jornalismo é a profissão capaz de criar opiniões e definir o rumo da história de uma sociedade. Na resposta à primeira das perguntas, ele defende de forma ferina a importância de uma escola, contrariando a ideia de que o jornalista nasce pronto, é autodidata, pois seu talento e inteligência deveriam ser desenvolvidos na escola. Toda inteligência poderia ser estimulada pelo aprendizado. Até os autodidatas podem ser beneficiados, pois podem ir ainda mais além. Porém, o que se pode observar, é que ele não assume uma postura totalmente oposta. Ao utilizar o exemplo dos generais, considera que eles já nasceram com o dom, que foi aperfeiçoado por sua criação. Ignora, portanto, a possibilidade de que o indivíduo seja formado culturalmente pelo seu meio de convivência, levantando-se, então uma questão filosófica e sociológica. Em uma gradação, pode-se observar, de um lado, o nascer pronto, e do lado oposto, o ser feito, construído. Considerar que há uma vocação a que devamos seguir, ou que há cérebros designados para serem balconistas e não médico, é uma posição intermediária a esses dois extremos, não oposta ao primeiro, como o autor se pretende. Mas, durante a progressão do texto, pode-se perceber a coerência de suas ideias, apesar deste pequeno impasse. Em defesa da escola de Jornalismo, ele destaca a importância do aprendizado teórico antes do prático, que normalmente acontece de forma arriscada, que pode trazer prejuízos não só ao jornal, como à população, devido à grande importância e seriedade do fazer jornalístico. Ele atrela a importância da academia ao desenvolvimento do bom senso, através da experiência teórica, treino, instrução. O aluno aprenderia o que é ético, o que atrai público – que pode ser usado negativamente – , o verdadeiro compromisso com a opinião pública. Esse aprendizado anterior à prática efetiva bate de frente com a visão imediatista do campo jornalístico como mercado, que se baseia num treinamento acidental, e não num aprendizado teórico que seria, apenas ao final do curso, aplicado ao trabalho. Pois é através da experiência compartilhada e da instrução que a consciência tem a capacidade de ser aprimorada. O autor diz que a educação pode formar caráter e
consciência, porém, não forma personalidade. Define que a personalidade é nata, natural – o que é passível de crítica – , enquanto a consciência pode ser construída socialmente,
passando por etapas, a
partir
do aprofundamento do
conhecimento. E
consequentemente, haveria a possibilidade de desenvolver no indivíduo uma coragem moral de acordo com o aprendizado de sua consciência. Outra discussão levantada por Pulitzer é sobre a importância de os outros campos de conhecimento para o Jornalismo. Ele destaca a importância do conhecimento do jornalista sobre Direito, Literatura, História, Sociologia, Economia, Estatística, até mesmo Ciências Naturais, assim como outras áreas mais específicas. Pois são necessários para que se desenvolva no profissional o conhecimento do que é referente ao interesse público no Direito; estimular a leitura para referência do jornalista, que é um escritor; dar a ele o conhecimento devido para compreender o progresso da justiça, das civilizações, da humanidade, da opinião pública, através da História; compreender as relações de trabalho através da Sociologia; compreender a política industrial, o comércio, relações de capital e trabalho, através da Economia; interpretar dados estatísticos; dar a ele subterfúgios para falar sobre a tecnologia e o progresso científico da época, em que se vivia a modernidade da revolução industrial, tendo a Inglaterra como maior potência de produção e desenvolvimento, em detrimento do proletariado. A escola de Jornalismo teria a função de juntar todos esses campos de conhecimento, condensá-los e direcioná-los para as necessidades do jornalista, pois o acesso a todas as outras escolas seria um trabalho dispendioso e que necessitaria de bastante tempo. Elemento que o homem do século XX começava a dispor cada vez menos. A lógica de progresso e monetarização do tempo e do trabalho começaram a influenciar as mentes até de forma inconsciente, pois o próprio Pulitzer era contra o imediatismo do mercado. O curso de Jornalismo é, ainda assim, um fruto da necessidade de desenvolvimento mais direcionado, para ser mais rápido seus frutos – porém, com mais qualidade do que a proposta dos que defendiam o jornalismo autodidata. Ele também defende que seja necessário se ensinar objetivamente sobre fontes, papel de arbitragem, línguas estrangeiras, realizar observatório de jornais, atentando-os para o poder das ideias, pois o Jornalismo é um trabalho para a comunidade, que depende de sua confiança nos princípios e na moral do jornalista. Ele precisa aprender primordialmente o que fará com que seu trabalho proporcione bem-estar para seu público. Então, o autor desconsidera que haja
importância em se ensinar tarefas setoriais burocráticas que existem em um jornal, como administração, negócios, contabilidade, anúncios publicitários, elementos que asseguram a circulação. Pois o jornalismo não é uma empresa, não é um fazer comercial, ele depende dos ideais do profissional para servir apenas ao público, e não ao ego de grandes empresários, muito menos de personalidades que desejam conquistar influência política a partir do sensacionalismo. É um papel de grande responsabilidade, pois é capaz de provocar e moldar opiniões. E a responsabilidade é assumida no momento em que se aprende a consciência. A faculdade seria capaz de proporcionar um espírito de trabalho em conjunto pelo bem público. Esta é uma das maiores importâncias da distinção na categoria, entre os que estudaram na universidade e os que aprenderam na prática da redação. Daria ao profissional de jornalismo o conhecimento e consciência necessários para que ele faça um trabalho decente. E, se criado um sentimento e classe, a coletividade seria capaz de exercer uma coercitividade sobre o editor que se desvia do seu papel de servir ao público e passa a servir a interesses de empresários. Ele teria consciência de estar enganando a si mesmo, e se vendendo a interesses oportunistas. O sentimento de classe faria com que esse profissional fosse excluído do círculo. Pulitzer diz que a coerção do grupo sobre o indivíduo que foge da responsabilidade social do jornalista será suficiente para impedir, desencorajar esse tipo de atitude, o que parece ser ingênuo, principalmente se vermos hoje o destino do Jornalismo, mesmo depois da disseminação de escolas de Jornalismo em universidades do mundo todo. As corporações midiáticas dominam o fazer jornalístico, que é guiado predominantemente por interesses, tanto econômicos quanto políticos. Podemos presumir uma certa inocência do autor, ou pode-se até arriscar dizer uma demagogia – que ele mesmo denuncia – , diante do rumo que a história da comunicação tomou até o século XXI. De qualquer forma, ele traz a ideia de que é extremamente importante a existência das universidades para dar essa consciência da responsabilidade que está nas mãos do jornalista, pois é essencial na garantia da existência de uma opinião pública. Ele dedica uma parte separada do livro para falar sobre o poder da opinião pública. Só é possível a existência de um governo popular, com democracia garantida, se houver espaço para expressão da opinião pública. Portanto, o nível de expressão da opinião pública é proporcional à liberdade de um povo. E é a partir da comunicação que a esfera pública – teorizada por Habermas – se configura. Dos debates nas ágoras clássicas até os cafés da França e Inglaterra, ela foi
essencial para o exercício da democracia. E mais especificamente a mídia impressa, que teve o grande marco da prensa de Gutemberg, possui grande importância nesse processo, pois possibilitou uma expressiva ampliação do alcance das ideias. A mídia impressa foi por muito tempo a mais importante arma de disseminação de ideias, o poder que ela proporciona pôde ser utilizado de formas positivas e negativas ao longo da história. É importante que se atente, portanto, para o perigo de sua utilização, fruto da responsabilidade que está nas mãos da mídia, como aparelho ideológico, capaz de formar uma opinião pública, e influenciar até o rei. Por outro lado, a mídia pode também servir para contrariar a opinião pública, em caso de ela estar seguindo um caminho oposto, alertando-a de um perigo ainda não enxergado por ela, ou, por outro lado, oposto ao interesses econômicos e políticos do dono do jornal. É por causa desse perigo e responsabilidade que é importantíssimo o papel da universidade na formação de profissionais do Jornalismo. O fazer técnico, sem teoria, pode não proporcionar o arcabouço intelectual necessário para a formação de um bom jornalista. Esta é uma discussão ainda atual, na segunda década do século XXI, quando se discute sobre a obrigatoriedade ou não de um diploma para se trabalhar numa redação jornalística. Há, em casos próximos, como na própria universidade em que estudamos, alunos que renegam a importância da experiência acadêmica para a formação de um bom jornalista, delegando, então, ao trabalho prático dos estágios em redações, o papel de ensinar o fazer jornalístico propriamente dito. É mais que necessário, hoje, que se voltem as atenções para as escolas de jornalismo das universidades, para que esse espírito teorizado por Joseph Pulitzer seja efetivamente vivido.