CRISTIANE SENA GOMES
RESENHA
Guanambi Julho de 2012
CRISTIANE SENA GOMES
RESENHA DO TEXTO BILINGUISMO E BICULTURALISMO: UMA ANÁLISE SOBRE AS NARRATIVAS TRADICIONAIS NA EDUCAÇÃO DOS SURDOS.
Resenha solicitada para fins de avaliação parcial da disciplina de Surdez: métodos, técnicas, recursos e avaliação das práticas pedagógicas para alunos com surdez. Profª orientadora: Edeilce Buzar
Guanambi Julho de 2012
SKLIAR, Carlos. Bilinguismo e biculturalismo: Uma análise tradicionais
sobre as narrativas
na educação dos surdos. Revista Brasileira de Educação, Rio de
Janeiro, n. 8, p. 44-57, mai/ago. 1998. Autora: Cristiane Sena Gomes
No presente artigo, Carlos Skliar analisa as propostas de educação de surdos destacando as evoluções nas ultimas décadas marcadas pela mudança de paradigmas, bem como os desafios que ainda necessitam serem superados para a construição de uma proposta de educação que atenda as necessidades dos surdos enquanto grupo possuidor de linguaguem e identidade próprias. A partir de uma sequencia didaticamente organizada que facilta a compreensão do leitor a cerca do tema, Skliar aponta a evolução da concepção ideológica da educação de surdos que apresenta como maiores conquistas a difusão de modelos bilingues e o aprofundamento das concepções sociais antropológicas da surdez. De acordo o autor a educação de surdos é marcada por dois paradigmas distintos: o clínico, centrado na deficiência e em sua superação e o sociocultural, que se firma numa visão antropológica e social da surdez, reconhecendo nos surdos um grupo possuidor de valores linguisticos, históricos e sócioculturais próprios e até então negados. Esta mudança de paradigmas instaura a existência de dois movimentos na educação de surdos: o de ruptura com a proposta de educação especial e o de aproximação da educação de surdos a outras linhas educacionais pautadas numa perspectiva multicultural. O primeiro movimento ocorre pelo fato da especial
educação
não atender as especificificidades do surdos, por promover um
agrupamento equivocado entre os mesmos e os portadores das outras deficiências e reforçar os aspectos biológicos/clínicos da surdez em detrimento dos aspectos sócioculturais.
O segundo, ao contrário, eleva a educação de surdos para um
cenário de discurssões mais amplas, a partir da linguagem e da comunicação que pressupõe legitimação de grupo, identidade, cultura e construção histórica. Em sequência, o autor apresenta o oralismo como prática ainda dominante na proposta de educação de surdos fundamentada no paradigma clínico,
que pressupõe uma relação com os surdos numa perspectiva patológica/terapeutica. O oralismo como prática legalizada tinha grande aceitação social e não permitia o uso da linguagem de sinais, estigmatizando o surdo que se comunicava por sinais, ou seja: o surdo deveria ouvir e falar. Enquanto ideologia dominante, ao negar a surdez, sua limitações e adequações linguisticas necessárias a comunicação das pessoa surdas, fortalecia a idéia de padronização, de homem normal, ideal para atender as demandas sociais econômicas da época. No entanto, a prática obrigatória do oralismo, estimula o surgimento de movimentos de resistencia, que com concepção contrária, dão origem há associações de surdos, ainda que vistos de forma deturpada e ilegítima. Os problemas referentes à educação de surdos são abordados e o autor afirma serem as propostas de educação desenvolvidadas pela iniciativa pública até então as responsáveis pelo seu fracasso, o que ultrapassa a questão metodológica. Skliar aponta um duplo sistema de problemas, primeiro relação de saber/poder e adequação da linguagem
entre ouvinte e surdo, que por se tratarem de duas
percepções antagônicas, fortalecem a relação dominante/dominado. Em segundo, seria a existência de múltiplas variáveis que interferem na proposta educativa. Assim como todo e qualquer modelo educatico é pensado em seus aspectos históricos,sóciais, culturais, políticos e físicos especificos, estas variáveis devem ser consideradas também na educação de surdos. O autor sugere que surdos, ocorra o
o processo de reestruturação da educação de
abandono das narrativas tradicionais, juntamente com as
oposições binárias, já que tanto o oralismo, a comunicação total e o bilinguismo, apesar de se caracterizarem propostas diferenciadas, se pautam nos contrastes binários que fortalecem as desigualdades e a superioridade do primeiro termo em detrimento
do
segundo.
O
abandono
destes
contrastes:
ouvinte/surdo,
maioria/menoria, oralidade/gestualidade, retira a proposta de duelo, de disputa entre o que se constitue melhor ou pior, permitindo o reconhecimento da diversidade multicultural e garante à todos seu espaço e o respeito às especificidades inerentes de cada grupo. O reconhecimento das potencialidades educacionais dos surdos é outro ponto bem abordado pelo autor. Skliar ressalta que a educação de surdos pensada,
planejada e estruturada por ouvintes, se constitue um ultrage, no sentido de vir rebuscada com base linguistica, comunicativa e social na perspectiva do ouvinte e que uma proposta de educação para os surdos deve ser pensada a partir dos próprios surdos. Neste contexto, torna-se necessário ocorrer uma mudança tanto ideológica quanto física nas escolas para que estas especificidades sejam respeitadas. Isto implica reconhecer e garantir a aquisição da linguagem de sinais como primeira língua, permitir a interação e o reconhecimento de pertença de grupo entre as crianças surdos e seus pares, fortalecer o desenvolvimento cognitivo através de experiencias visuo-gestual, valorização da cultura surda, participação ativa dos surdos no debate linguistico, educativo e social, ou seja, o recohecimento da cultura surda e dos surdos enquanto produtores de conhecimento. A educação bilíngue, enquanto alternativa educativa mais próxima do paradigma sóciocultural, apresenta também suas limitações. Segundo o autor, a proposta bilíngue, ou seja , o ensino da linguagem de sinais e da linguagem escrita, ainda não
apresenta uma proposta única, definida e ganhou vários enfoques:
metodológico, linguistico, psicolinguistico e/ou
pedagógico.
Esta fragmentação
deve ser superada, já que não se trata de um método de ensino para surdos, nem de técnicas. O bilinguismo na educação de surdos representa a autonomia valorização de uma cultura diferente da cultura oral,
e
portanto possuidora de
significados próprios. O texto, embora elaborado de forma complexa e requerer conhecimentos prévios sobre o tema em questão: educação de surdos, é muito enriquecedor e elucidativo, amplia o conhecimento e abre a possibilidade de uma percepção diferenciada com relação a educação de surdos que foge da proposta simplista apresentada pela educação inclusiva e seus documentos. É com muita propriedade que autor Carlos Skliar discute a educação de surdos no paradigma sóciocultural ampliando
a compreensão do leitor para o
respeito aos direitos e a valorização das pessoas surdas, não como deficientes que necessitam de atendimento especial, mais de sujeitos pensantes, com identidade linguistica e cultural próprias e capazes de participar e/ou construir uma proposta de educação que não agrida suas especificidades enquanto grupo social. Sua leitura
se torna imprescindível para quem atua tanto na educação inclusiva como para os educadores como um todo.