1º Capitulo: Reconsiderando a vida material e a vida econômica. (P. 12) A chamada história econômica, ainda em construção, defronta-se com alguns
preconceitos. Ela Ela não é uma história história nobre. Apesar disso toda a história do homem está nela, vista segundo uma determinada perspectiva. (P. 13) simultaneamente a história dos grandes homens, dos grandes acontecimentos, das con!unturas e das crises, e por "ltimo a história maciça #ue evolui lentamente no decurso da longa duração. (...) $esida ai a dificuldade, pois trata-se de % séculos do mundo inteiro, então como organi&ar toda essa #uantidade de fatos e interpretaç'es( )raudel escolheu tratar dos e#uil*brios e dos dese#uil*brios profundos do longo pra&o. +or um lado, camponeses nas aldeias vivendo de maneira #uase autônoma, por outro uma economia de mercado e um capitalismo em epansão. emos assim dois universos no m*nimo/ dois tipos de vida alheios um ao outro e cu!as massas eplicam-se mutuamente. (P. 14) +arti do cotidiano, da#uilo #ue nos condiciona a vida, sem #ue se#uer saibamos0 o há hábi bito to,, a ro rotin tina, a, ge gest stos os #u #uee se flo flore resc scem em,, se co comp mple leta tam m fo fora ra da no noss ssaa pl plen enaa consci1ncia. (P. 15) Acredito #ue mais da metade da vida da humanidade está mergulhada no cotidiano. 2n"meros gestos herdados, confusamente acumulados, infinitamente repetidos para chegarem até nós, a!udam-nos, aprisionam-nos, decidem por nós, ao longo de toda a nossa eist1ncia. entei dar conta de tudo isso chamando-lhe de vida material. (P. 16) A vida material para )raudel, é tudo o #ue a humanidade ao longo da história passada, foi incorporando na sua vida profunda e nas próprias entranhas dos homens, para #uem tais eperi1ncias ou intoicaç'es antigas se tornaram necessidade necessidadess do cotidiano, banalidades. E ninguém lhes dedica nenhuma atenção. .
Apresentado o fio condutor, aponto também o seu ob!etivo0 é uma eploração. 34 cap*tulo0 56 numero de 7omens8. A força biológica por ecel1ncia, #ue leva o homem, tal como todos os outros seres vivos, a reprodu&irem-se. (P. 1!) Essa matéria humana #ue esta em perpétuo movimento comanda, sem #ue os indiv*duos se apercebam, uma boa parte dos destinos destinos dos homens, homens, destinos de con!unto. 6 !ogo demográfico tende para o e#uil*brio, raramente atingindo. 9luos e refluos sucessivos revelam as tendenciais, de longa duração #ue se mantem válidas até o séc. :;222.
omo se vestem( ?uais são suas condiç'es de vida( +erguntas inconvenientes #ue eigem #uase uma viagem de descobrimento, pois nos livros de história o homem não come e nem
bebe . 6s cereais são muito importantes, !á #ue os vegetais são dominantes na alimentação antiga. 6 trigo, o arro&, o milho são resultados de opç'es muito antigas e de inumeráveis e sucessivas eperi1ncias. 6 trigo, #ue devora a terra, #ue eige #ue esta repouse em tempos regulares, permite a criação de gado. (P. 2$) 6 arro& #ue nasce de uma espécie de !ardinagem, por cultura intensiva, em #ue não são necessários animais 6 milho, mais cômodo e mais fácil de obter, proporcionava os tempos livres#ue originaram as corvéias camponesas e os monumentos amer*ndios. @ma força de trabalho desocupada foi monopoli&ada pela sociedade. +oder*amos falar também a cerca das raç'es e calorias #ue cada alimento contém. Além das drogas antigas o álcool e principalmente o tabaco #ue deu a volta ao mundo. (P. 21) 6utro ponto importante di& respeito as técnicas0 o trabalho dos homens e o lent*ssimos progressos na luta cotidiana contra o meio eterior e contra si próprio. udo é técnica, não só o esforço violento, mas também o esforço paciente e monótono dos homens, ao modelarem uma pedra, um pedaço de madeira ou ferro para criar um utens*lio ou uma arma. odas as técnicas, todos os elementos das ci1ncias se trocam e via!am através do mundo, desde sempre. 7á um incessante movimento de difusão. (P. 22) 6s dois "ltimos cap*tulos são referentes a moeda e as cidades0 As duas mergulham simultaneamente no cotidiano. A moeda é uma invenção muito antiga se entendermos por moeda todo o meio #ue contribui para aceleração da troca/ e sem troca não há sociedade. ?uanto ás cidades, eistem desde a pré-história. +oder*amos di&er #ue as cidades e a moeda fabricaram a modernidade, mas também #ue a modernidade, a massa em movimento da dos homens, impulsionou a epansão da moeda, construiu a tirania crescentes das cidades. >idades e moedas constituem, motores e indicadores, provocam e assinalam a mudança. E são uma conse#1ncia da mudança. . (P. 23) =ão é fácil abarcar esse imenso reino do habitual, do rotineiro, 6 grande
ausente da história/. =a realidade, o habitual invade totalmente a vida dos homens e por ela se difunde. (P. 24) Be 3%CC a 3DCC, encontramos uma economia de troca ainda muito imperfeita. =ão consegue abranger toda a produção, nem todo o consumo, !á #ue uma enorme parte da produção se perde no autoconsumo da fam*lia ou da aldeia e não chega a entrar no circuito do mercado. A economia de mercado se encontra em fase de progresso e p'e em contato um numero suficiente de burgos e de cidades, para iniciar a organi&ação da produção e orientar e comandar o consumo. Esses mercados demarcam uma fronteira, o limite inferior da economia. udo o #ue se situa fora do mercado apenas tem valor de uso tudo o #ue cru&a o seu estreito limiar ad#uire valor de troca. (P. 25) 6 indiv*duo, o agente/, conforme se situe de um lado ou do outro do mercado elementar, está ou não inclu*do na troca, na#uilo a #ue chamei vida econômica, em oposição F vida material.
(P. 2#) 9i&emos a distinção entre dois registros na economia de mercado0 o registro
inferior mercados, lo!a, vendedores ambulantes/ e o registro superior feiras e bolsas/. onsideremos a evolução do ocidente ao longo destes % séculos0 :;, :;2, :;22
e :;222. 6 séc. :; vai assistir, sobretudo após 3%JC, a um relançamento geral da economia em benef*cio das cidades favorecidas pela subida dos preços industriais. +or outro lado os preços agr*colas estagnam ou baiam. =esse momento o papel de motor da economia cabe as lo!as de artesãos, situado nos mercados urbanos. Bitando as suas leis. (P. 31) =o séc. :;2 acontece a epansão para o AtlKntico, a dinKmica motri& situa-se ano n*vel das grandes feiras internacionais. 6 séc. :;2 foi a época do apogeu das feiras. (P. 32) =o séc. :;22 liberta-se dos sortilégios do mediterrKneo para desenvolver-se através do vasto oceano atlKntico. Esse século tem sido descrito como uma época de recessão ou estagnação econômica. A feira cede lugar Fs bolsas e as praças de comércio. As lo!as multiplicam-se através da Europa, criando apertadas redes de redistribuição. (P. 33) =o séc. :;222 ocorre uma generali&ada aceleração econômica, todos os instrumentos da troca encontram-se presentes. As bolsas multiplicam-se. =um conteto assim é natural #ue as feiras tendam a desaparecer. Eistindo apenas um regi'es marginais da economia européia. (P. 35) 6 #ue acabamos de descrever, limita-se a Europa. Las se os mecanismos de troca eistirem fora da Europa e eistem na >hina, Mndia, em todo o islã e no Napão/ podemos utili&á-los para uma tentativa de analise comparativa ( E ver se a distKncia entre a Europa e o resto do mundo !á era tão grande antes do séc. :2:, se nessa época a Europa !á estava, ou não mais avançada #ue o resto do mundo. +rimeira constatação0 por todos os lados encontramos mercados, até nas sociedades incipientes da Ofrica e das civili&aç'es amer*ndias. >om um pe#ueno esforço, estes mercados aparecem-nos diante dos olhos, ainda vivos ou de fácil reconstituição. (P. 36) =os pa*ses islKmicos, as cidades foram gradualmente despo!ando as aldeias dos seus mercados como na Europa/. 6s grandes mercados disp'em-se diante das portas das cidades, onde homens citadinos encontram-se com o campon1s em terreno neutro. =a Mndia não há uma aldeia #ue não tenha seu mercado, #ue serve para arrecadar dinheiro para os senhores ou o Prão-Longol do lugar. (P. 3!) A >hina apresenta uma surpreendente organi&ação em seus mercados. 2maginemos um burgo e mar#uemos um ponto numa folha em branco. Em redor desse ponto agrupam-se entre seis e de& aldeias, a uma distKncia #ue permite ao campon1s ir e voltar no mesmo dia. (P. 4$)
(P. 45) 6 séc. :; ao :;222 é caracteri&ado por um enorme setor de autoconsumo, #ue
se mantém totalmente alheio F economia de troca. oda a Europa está amarrada a isso até o séc.:;222. )raudel aborda a#uilo #ue ele chama de economia da mercado e capitalismo . ?ue para ele são coisas distintas. Ambos são minoritários, até o séc. :;222. E as massas de homens permanecem submersas no dom*nio da vida material. (P. 46) Essa economia de mercado ainda esta em desenvolvimento, mas !á cobre vastas superf*cies. Ná o Antigo $egime #ue )raudel chama de capitalismo é sofisticado, mas pouco desenvolvido, e com tend1ncias para se generali&ar. Esse capitalismo chama-se geralmente de ercantil . 6 papel nacional, internacional e mundial, do capitalismo !á é evidente. . (P. 4!) A economia de mercado tem sua própria nature&a o papel de ligação entre a
produção e o consumo. Antes do séc. :2:, ela é um simples estrato #ue situa-se entre a vida cotidiana sustentando os processos do capitalismo #ue, em metade dos casos, a manobram desde cima. (P. 4") Entre o séc.:; e o séc. :;222, a região abrangida por essa vida velo&, #ue é a economia de mercado, aumenta incessantemente. (P. 4#) Em suma, há uma certa economia de mercado, #ue liga entre si os diferentes mercados do mundo, uma mercadoria #ue arrasta consigo apenas raras mercadorias e metais preciosos, #ue !á nesta época dão a volta ao mundo. (P. 5$) As trocas tem, em si um papel decisivo, restaurador de e#uil*brios, #ue nivelam, por efeito da concorr1ncia, todos os desn*veis, a!ustam a oferta e a procura, e #ue o mercado é um deus oculto e benevolente, 5a mão-invis*vel8, de Adam
direito de cidade. 9e& isso pois tinha necessidade de encontrar um termo diferente de economia de mercado para designar atividades bem diversas. (P. 52) )raudel tem conhecimento de #ue a designação é amb*gua e carregada de anacronismo. ;e!amos, antes de mais nada, #ue entre os séc.:; e :;222, há determinados processos #ue eigem uma designação especial. apitalismo é um termo #ue data do inicio do séc. ::, sua verdadeira irrupção dar-se com o aparecimento, em 3QCI, do conhecido livro de Rerner ontudo entre o passado e o presente nunca há ruptura total. As eperi1ncias do passado prolongam-se incessantemente na vida presente. >om isso muitos historiadores começaram a perceber #ue a $evolução 2ndustrial se anuncia muito antes do séc. :;222. .
(P. 54) Befinir o termo capital e capitalista 0
6 capital, realidade papável, uma massa de meios facilmente identificáveis e sempre em atividade. 6 capitalista, o homem #ue preside ou tenta presidir aos destinos da inserção do capital, no incessante processo de produção a #ual todas as sociedades estão condenadas. 6 capitalismo é a forma de condu&ir, para fins geralmente pouco altru*stas, esse constante !ogo de inserç'es. A palavra chave é o capital. =os estudos dos economistas, esta palavra ad#uiriu o sentido de *em de capital . =ão designa só as acumulaç'es de dinheiro, mas também os resultados utili&áveis e utili&ados no trabalho previamente reali&ado0 @ma casa é um capital, o trigo arma&enado é um capital. Las um bem de capital só merece essa designação #uando participa no processo ininterrupto da produção0 6 tesouro não utili&ado, a floresta não eplorada, etc, não são capitais neste sentido. (P. 55) =o séc. :;, #ual#uer modesta aldeia do ocidente possui os seus caminhos, os seus campos limpos de pedras, as suas terras cultivadas, as suas florestas tratadas, os seus pomares, os seus moinhos, as suas reservas de cereais... As economias do Antigo $egime dão-nos umas relação de 3 para T, ou para %, entre o produto bruto de um ano de trabalho e o con!unto dos bens de capital. #ue designamos, na 9rança por patrimônio/. >ada cidade teria, pois, atrás de si, o e#uivalente a tr1s ou #uatro anos de trabalho acumulado, em reservas, #ue lhe serviria para fa&er progredir a sua produção. >omo poderemos distinguir corretamente capitalismo e economia de mercado( (P. 56) poss*vel aceitar duas formas de economia de mercado A e )/. =a categoria A, encontram-se as trocas cotidianas do mercado, as correntes de tráfico locais ou de pe#uenas distancias0 o trigo e a madeira, encaminhados para a cidade mais próima, e até os ramos de comércio de mais longo raio de ação, previs*veis, rotineiros e aberto tanto para os pe#uenos como para os grandes comerciantes. 6 mercado de um burgo proporciona-nos um bom eemplo dessas trocas sem surpresas, 5transparentes8, com pressupostos e conse#1ncias antecipadamente conhecidas por todos e de cu!o os lucros, sempre modestos, se pode fa&er um calculo aproimado. (P. 5!) Be igual modo o comércio regular, #ue dá vida aos grandes comboios do trigo )áltico é um comércio transparente. Las basta interromper a fome no LediterrKneo, como aconteceu por volta de 3JQC, para podermos ver mercadorias internacionais, representando grandes clientes, desviar da sua rota habitual barcos inteiros, cu!a carga é posta em Uivorno ou em P1nova com o preço triplicado. =este caso a economia A cedeu o passo a economia ). (P. 5") Esse segundo tipo de economia predomina e traça perante os nossos olhos uma 5esfera de circulação8 obviamente diferenciada. Lercados itinerantes, recolhedores, coletores de mercadorias vão procurar os produtores as suas casas. >ompram diretamente dos camponeses a lã, o cKnhamo, gado vivo, as peles, cevada, trigo, etc, ou compramVlhes esses produtos antecipadamente, a lã antes da tos#uia, o trigo #uando ainda esta na seara. Bepois, encaminham os produtos comprados, por meio de carros, de animais de carga ou por barco, para as grandes cidades e para o cais de eportação. (P. 5#) Este tipo de trocas vem substituir as condiç'es normais do mercado coletivo por transaç'es individuais, cu!os termos variam arbitrariamente, de acordo com a situação respectiva dos interessados.
evidente #ue se trata de trocas desiguais, em #ue a concorr1ncia #ue é uma lei essencial da chamada economia de mercado/ tem um redu&ido lugar, e em #ue o comerciante desfruta de uma dupla vantagem0 34 rompeu as relaç'es entre o produtor e o destinatário "ltimo da mercadoria assim, só ele conhece as condiç'es do mercado nas duas etremidades, e o lucro provável/. I4 Bisp'e de dinheiro sonante, deste modo, longas cadeias de comércio ligam a produção ao consumo. ?uanto mais essas cadeias se estendem, mais escapam Fs regras e a fiscali&ação habitual e mais claramente desponta o processo capitalista. (P. 6$) 6 +ern,andel é um dom*nio da livre iniciativa, opera em distKncias #ue o mantém ao abrigo dos sistemas normais de controle ou lhe permite contorná-los. >om tão vasta &ona de operação é lhe poss*vel escolher, tudo o #ue permitir maimi&ar os seus lucros. Besses grandes lucros prov1m acumulaç'es consideráveis de capital, sobretudo por#ue o comércio a longa distKncia se concentra num pe#ueno n"mero de mãos. (P. 61) =ão basta #uerer para se introdu&ir nele. 6 comércio local, pelo contrário, fragmenta-se em m"ltiplas partes interessadas. (P. 62) Besde tempos antigos, desde sempre, os capitalistas tem ultrapassado os limites nacionais. (P. 63) Praças F massa dos seus capitais #ue os capitalistas conseguem preservar os seus privilégios e reservar para si os grandes negócios internacionais de cada época. =um tempo de transportes muito lentos, o grande comércio imp'e grandes pra&os F rotação dos capitais0 <ão necessários muitos meses, por ve&es anos, para #ue as somas investidas regressem avolumadas por seus lucros. (P. 64) 6 mundo da mercadoria ou da troca encontram-se rigorosamente hierar#ui&ados, desde os of*cios mais humildes, aos caias, lo!istas, corretores, usuários e os negociantes. A primeira vista surge um fato surpreendente0 A especiali&ação, a divisão do trabalho, #ue se acentua com grande rapide&, paralela aos progressos da economia de mercado, afeta toda a sociedade mercantil, ecetuando a sua c"pula, os negociantes capitalistas. 6 processo de divisão de função manifestou-se assim, primeiramente e apenas na base. <ão os of*cios, os lo!istas e mesmo os vendedores ambulantes #ue se especiali&aram, não o alto da pirKmide, por #ue até o séc. :2:, o comerciante de grande envergadura nunca se limita, a uma "nica atividade. (P. 65) negociante, mas nunca num só ramo0 se perder na cochonilha, ganha nas especiarias se for mal sucedido em uma transação comercial, ganhará !ogando com os cKmbios ou emprestando dinheiro a um campon1s para estabelecer uma renda. 6 comerciante não se especiali&a, por#ue nenhum ramo de comércio ao seu alcance é suficientemente importante para absorver inteiramente a sua atividade. (P. 66) ontudo, o epistolário comercial e as memórias das cKmaras de comércio mostram-nos, repetidamente, #ue há capitais #ue procuram, em vão, oportunidades de investimento. Las é significativo #ue o capitalismo não se interesse pelo sistema de produção e se contente com controlar, através do sistema de trabalho domiciliário, do puttin out, a produção artesanal, para melhor se apoderar da sua comerciali&ação. As manufaturas representarão até o séc.:2:, apenas uma pe#uena parte da produção.
(P. 6!) 6 capitalismo financeiro só triunfará no séc. :2:, depois de um per*odo #ue vai
de 3DTC a 3DWC, época em #ue a banca lançará mão a tudo, F industria e F mercadoria, e em #ue a economia em geral terá finalmente ad#uirido vigor para sustentar essa construção. 6u se!a0 dois tipos de troca, uma troca terra-a-terra, concorrencial, pela transpar1ncia, outra superior, sofisticada, dominante. =ão são os mesmos mecanismos, nem os mesmos agentes, #ue regem estes dois tipos de atividade.
6 capitalismo, privilégio de um pe#ueno n"mero, é impensável sem uma cumplicidade ativa da sociedade. uma realidade de ordem social e até pol*tica, ou mesmo uma realidade civili&acional. lhe necessário, #ue de certa forma, a sociedade inteira aceite, mais ou menos conscientemente, os seus valores. Las nem sempre isso acontece. As sociedades densas decomp'em-se em con!untos de vários tipos0 6 econômico, o pol*tico, o cultural e o social de um ponto de vista hierár#uico. 6 econômico só pode ser compreendido em ligação com os outros con!untos. (P. !$) 6 Estado moderno não fe& o capitalismo, mas é seu herdeiro, ora o favorece, ora o desfavorece ora o deia epandir-se, ora lhe trava *mpetos. 6 capitalismo só triunfa #uando se identifica com o Estado. Assim, o Estado é favorável ou é hostil ao mundo do dinheiro, conforme o seu próprio e#uil*brio e sua capacidade de resist1ncia. 6 mesmo acontece em relação F cultura e F religião. Em princ*pio, a religião, a força tradicional, di& não as novidades do mercado, do dinheiro, da especulação, da usura. Las há sempre possibilidade de conciliação com a 2gre!a. (P. !1) >hegou-se a sustentar #ue tais escr"pulos só foram vencidos pela $eforma, sendo essa a ra&ão profunda da escensão capitalista dos pa*ses do =orte da Europa. +ara La Reber, o capitalismo teria sido uma criação do protestantismo, ou melhor, do puritanismo. E no entanto para )raudel essa idéia é falsa. 6s pa*ses do norte limitaram-se a tomar o lugar dos velhos centros capitalistas do LediterrKneo. =ão inventaram nada, nem na técnica, nem na condução dos negócios. Amsterdã copia ;ene&a, Uondres copiara Amsterdã, =ova YorX copia Uondres. 6 #ue está em !ogo é a deslocação do centro de gravidade da economia mundial. (P. !2) Este deslocamento, é o triunfo de um pa*s novo sobre um envelhecido. Enfim, para )raudel o erro de Reber decorre essencialmente do eagero do papel desempenhado pelo capitalismo como art*fice do mundo moderno. 6 futuro do capitalismo decidiu-se verdadeiramente no campo das hierar#uias sociais.
oda a sociedade evolu*da consente várias hierar#uias, várias escadas, digamos, #ue permitem a sa*da do rés-do-chão, onde vegeta uma massa de povo básica. E o -rundvol de Reber
(P. !!) ;e!amos como eemplo a >hina e o 2slã0 (P. !") 6 Estado chin1s, apesar das cumplicidades locais, #ue se estabelece entre
comerciantes e mandarins corruptos, foi sempre hostil a epansão do capitalismo. >ada ve& #ue este se manifesta é metido na ordem por um Estado de certo modo totalitário. =os vastos pa*ses do 2slã, sobretudo antes do séc. :;222, a propriedade da terra é provisória, pois pertence ao pr*ncipe. As terras são distribu*das pelo Estado e ficam dispon*veis cada ve& #ue seu beneficiário morre. 6 senhorio e todos os bens regressam a posse do
sua evolução e os seus meios, a uma história geral do mundo. Este mundo afirma-se sob o signo da desigualdade. +a*ses abastados por um lado e pa*ses subdesenvolvidos por outro. (P. "4) 6s pa*ses abastados e os pa*ses pobres não tem sido imutavelmente os mesmos. 6 mundo é uma espécie de sociedade, tão hierar#ui&ada como #ual#uer outra sociedade. . (P. "5) ;amos utili&ar duas epress'es0 economia mundial e economia0mundo .
+or economia mundial entende-se a economia do mundo globalmente considerado. +or economia-mundo termo for!ado por )raudel/, entendo a economia de uma porção do nosso planeta, desde #ue forme um todo econômico. 6 mediterrKneo no séc. :;2 era por si só uma economia-mundo. 5@m mundo em si e para si8. @ma economia mundo pode definir-se por0 34 ocupa determinado especo geográfico tem, portanto limites, #ue a eplicam, e #ue variam, embora bastante devagar. Be tempos a tempos, com longos intervalos, há mesmo inevitáveis rupturas. (P. "6) I4 uma economia-mundo submete-se a um pólo, a um centro, representado por uma cidade dominante, outrora uma cidade-estado, ho!e uma grande capital econômica. +odem coeistir, e até de forma prolongada, dois centros em uma mesma economiamundo. Las uma sempre acaba triunfando. T4 odas as economiasVmundo se dividem em &onas sucessivas. 7á o coração, isto é a &ona #ue se estende em torno do centro. Bepois as &onas intermediarias F volta do eio central e finalmente, surgem-nos as margens vast*ssimas #ue, na divisão do trabalho #ue caracteri&a uma economia-mundo, mas do #ue participantes são subordinados e
dependentes. =estas &onas periféricas, a vida doa homens fa& lembra o purgatório ou o inferno. (P. "!) +ara 2mmanuel Rallerstein não eiste outra economia-mundo, senão as da Europa, estabelecidas somente a partir do séc. :;2. +ara 9ernand )raudel, o mundo tinha se dividido, muito antes de ser totalmente conhecido pelos Europeus, desde a 2dade Lédia até a Antiguidade. Em várias economias-mundo coeistentes. (P. "") Estas economias, #ue coeistem, não tendo entre si senão trocas etremamente limitadas, partilham o espaço habitado do planeta, de um e de outro lado, de regi'es lim*trofes bastante vastas, #ue o comércio tem geralmente pouca vantagem em atravessar, salvo raras eceç'es. (P. "#) Essas economias, #ue tão lentamente mudam de forma, revelam uma história profunda do mundo. >omo é #ue sucessivas economias-mundo, elaboradas na Europa a partir da epansão européia, eplicam, ou não, os !ogos do capitalismo e a sua própria epansão. Essas economias-mundo t*picas foram matri&es do capitalismo europeu e posteriormente do capitalismo mundial. . (P. #$) odas as ve&es #ue ocorre um descentramento, dá se inversamente um
recentramento, como se uma economia-mundo não pudesse viver sem um centro de gravidade, sem um pólo. (P. #1) >rises econômicas fortes, abatem o centro antigo, !á antes ameaçado, e confirma a emerg1ncia do novo centro. >entramento, descentramento e recentramento parecem estar ligados, em regra, a crises prolongadas da economia geral. (P. #4) 6 esplendor, a ri#ue&a, a felicidade de viver, concentram-se no centro da economia-mundo, no seu coração. Ai se evidenciam os preços e os salários elevados, a banca, as mercadorias, as ind"strias lucrativas, as agriculturas capitalistas. (P. #5) Este n*vel de eist1ncia desce um traço, na escala, #uando chegamos aos pa*ses intermediários, vi&inhos do centro. =estes, há poucos, camponeses livres, poucos homens livres, trocas imperfeitas, organi&aç'es bancárias e financeiras incompletas, muitas ve&es mantidas do eterior, ind"strias relativamente tradicionais. ?uando nos debruçamos sobre as regi'es marginais F situação fica inda pior. (P. #6) +or eemplo0 A economia-mundo européia, em 3WJC, é a !ustaposição, a coeist1ncia de sociedades, #ue vão de uma sociedade !á capitalista como a holandesa, até sociedades onde a imprensa a servidão e a escravatura, no funda da escala. Esta simultaneidade, este sincronismo, levanta-nos, de novo e ao mesmo tempo, todos os problemas0 o capitalismo vive deste escalonamento regular0 As &onas eteriores alimentam as &onas médias e sobretudo, as &onas centrais. E o #ue é o centro, senão a ponte dominante, a superestrutura capitalista de toda a construção( >omo há uma reciprocidade de perspectiva, se o centro depende dos abastecimentos da periferia, esta depende das necessidades do centro, #ue lhe dita a sua lei. (P. #!) Ba*, o peso da afirmação de 2mmanuel Rallerstein0 o capitalismo é uma criação da desigualdade no mundo, para se desenvolver, precisa da coniv1ncia da economia internacional. filho da organi&ação autoritária de um espaço sem d"vida desmedido. =ão teria surgido tão vice!antementeGIH num espaço econômico restrito. alve& nem se#uer tivesse surgido sem o recurso ao trabalho servil dos outros. Esta tese apresenta uma interpretação bem diversa do habitual modelo em se#1ncia0 escravidão, servidão, capitalismo.
+'e em desta#ue uma simultaneidade, um sincronismo demasiado singular para não ter um vasto alcance. Las não eplica, nem pode eplicar tudo. +elos menos em relação a um determinado ponto, #ue penso ser essencial para as origens do capitalismo moderno, isto é, tudo o #ue passa para além das fronteiras da economia-mundo européia. . (P. #") =ote-se #ue, até por volta de 3ZJC, esses centros dominadores foram sempre
cidades. >idades-estado. (P. ##) +odemos di&er #ue Amsterdã, #ue em meados dos séc.:;222 domina o mundo da economia, foi a ultima 5polis8 da história. om a ascensão de Uondres, vira-se mais uma pagina da história econômica da Europa e do mundo, pois a afirmação da preponderKncia econômica da 2nglaterra, preponderKncia #ue abrange a liderança pol*tica, marca o fim de uma era multissecular, a das economias dirigidas por cidades e a das economias-mundo. +ela primeira ve&, a economia mundial européia, atropelando as outras economias, vai pretender dominar a economia mundial e identificar-se com ela. %. (P. 1$") A revolução industrial inglesa, foi para a continuação da preponderKncia da
ilha, como um banho de re!uvenescimento, um contrato renovado com o poder. +retendo assinalar em #ue medida a industriali&ação inglesa segue os es#uemas e os modelos #ue tracei e em #ue medida ela se integra na história geral do capitalismo, tão rica !á em golpes de teatro.
>onvém tornar claro #ue o termo revolução é a#ui utili&ado em sentido inverso. $evolução é um movimento de uma roda, de um astro #ue gira, um movimento rápido0 desde o movimento em #ue se inicia, sabemos #ue vai terminar, bastante depressa. 6ra, a $evolução 2ndustrial foi um movimento lento por ecel1ncia e dif*cil de detectar, no inicio. 6 próprio Adam
I4 apóia-se ainda e sempre, em monopólios de direito ou de fato, apensar de todas as viol1ncias #ue por essa ra&ão se tem desencadeado contra si. A organi&ação continua a conseguir contornar o mercado. E não é !usto considerar esse fato como algo absolutamente novo. T4 apesar do #ue geralmente se di&, o capitalismo não abarca toda a economia, toda a sociedade em atividade. =ão consegue encerrar nem uma, nem outra, num sistema, o seu, #ue seria perfeito. (P. 116) udo isso confirma a opinião de )raudel0 6 capitalismo decorre das atividades orgKnicas de c"pula, ou #ue tendem para a c"pula. E este capitalismo de grande fôlego paira sobre uma dupla camada sub!acente, constitu*da pela vida material e pela economia corrente de mercado e representa uma faia de lucro elevado.