UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO – Resenha Crítica da introdução, capítulos I e II.
Aluna: Maria Luiza Veras de Souza Souza Curso: Direito Noturno Professor: Douglas Araújo
Natal - RN
Introdução Weber inaugura seu livro, “Ética protestante e o espírito do capitalismo”, fazendo questionamentos acerca da forma como se estrutura o ocidente e o desenvolvimento de seus fenômenos culturais. Segundo o sociólogo, o mundo ocidental é marcado por uma lógica racional distinta de outras ao redor do mundo, e esta atua nas mais diferentes áreas do comportamento e saber do humano. O autor discorre acerca da existência de importantes elementos culturais explorados em parte no oriente, como a Medicina, Química, Matemática, Astronomia, etc., mas atenta para o fato de que foi na cultura ocidental que estes elementos foram ressignificados e passaram a configurar um sustentáculo para a formatação da sociedade do ocidente. Essa mesma característica é observável no capitalismo. Weber evidencia que o impulso para o ganho do lucro não tem origem no capitalismo, visto que sempre se fez presente em todos os tempos e países da Terra. Este modelo econômico seria, então, a racionalização da ganância natural do ser humano. Em um contexto que a lógica capitalista se encontra em domínio, a procura irracional por lucro é definitiva, e a negação a tal resulta na eventual ruína de uma empresa individual. Em seguida, o autor define como ação econômica capitalista aquela que, a partir de oportunidades de troca, tem a expectativa de gerar lucros. O cálculo do capital é sempre, por intermédio de serviços pessoais e métodos modernos de contabilidade, feito em dinheiro, mesmo que o produto gerado não o seja. Dessa forma, é perceptível que o desenvolvimento do capitalismo ocidental girou em torno da organização do trabalho livre. Acresce-se a isso a importância da contabilidade racional e a separação dos negócios das propriedades particulares da família, como por exemplo, a casa. Esses atributos se fundamentam na exatidão exigida por cálculos modernos, o que se configura como uma estruturação racional do trabalho livre, que, por sua vez, está relacionado ao aparecimento da burguesia como grupo social. O desenvolvimento do conhecimento científico no ocidente moderno, por sua vez, foi, principalmente, incentivado pela economia, visto que técnicas científicas e racionais, como as das ciências exatas, estavam de acordo com os interesses
burgueses. Dessa forma, Weber faz uma relação entre as duas partes do título de seu livro: o “espírito” da economia moderna com o
ethos
das doutrinas
protestantes, que serão analisadas nas seguintes páginas de seu texto.
Capítulo I – Filiação religiosa e estratificação social Weber inaugura o primeiro capítulo de sua obra propondo uma análise de dados estatísticos acerca das ocupações profissionais em países de composição religiosa mista, dos quais é possível extrair que os maiores líderes e proprietários de capital no mundo dos negócios, bem como a mais elevada mão de obra, são em sua maioria, protestantes. Tal fato está de acordo com o elevado desenvolvimento cultural em determinadas regiões protestantes. A fim de explicar esta realidade, o autor faz uma análise histórica. A começar pelo Antigo Império, é perceptível que certos territórios com maior desenvolvimento econômico, assim como privilégio natural, foram aderidos por fiéis do protestantismo. Seguindo pela indagação histórica, Weber questiona: porque os lugares de maior desenvolvimento econômico foram também propícios a uma revolução dentro da Igreja? A reforma não eliminou o controle da igreja sobre a vida cotidiana, apenas mudou a forma de dominação, que é agora mais opressiva e severamente imposta. Enquanto os católicos se submetem a essa nova forma de opressão, os protestantes toleram apenas a maneira anterior de dominação. Assim, a relevante participação protestante nas posições de grandes proprietários e gerentes pode ser entendida como o resultado da maior riqueza material que estes herdam. O autor também acrescenta que ambos protestantes, seja da classe dirigente ou da dirigida, estão mais voltados ao racionalismo econômico, característica ausente entre os praticantes do catolicismo. O católico, então, é mais quieto e tem menor impulso aquisitivo, dando preferência ao conforto de uma vida segura, mesmo isso signifique menor rendimento, enquanto o protestante tem certa alegria materialista e não se apega a religião. É necessário destacar que não há relação entre o antigo espírito do trabalho e o que hoje denominamos de progresso protestante.
Weber determina, então, que sua próxima tarefa será a de estudar e isolar com exatidão os diferentes fatores que provocaram uma alteração no comportamento econômico de uma determinada época.
Capítulo II – O espírito do capitalismo Weber abre este ensaio com uma indagação acerca do título deste segundo capítulo. O que se pode entender por “espírito do capitalismo”? Este não é uma definição conceitual, mas sim uma descrição passível de mudança, baseada em “conjuntos genéticos de relações concretas” . O autor faz uso de um texto de Benjamim Franklin para determinar o ethos capitalista. Inicialmente se faz a análise de algumas colocações, como: "tempo é dinheiro", "o credito é dinheiro", "o bom pagador é dono da bolsa alheia”, das quais é possível extrair a importância do trabalho, da honra de um homem de negócios, e da forma de se aplicar dinheiro. Nestas frases temos expressado de forma característica o espírito do capitalismo. Dessa forma, o homem é dominado pelo dinheiro, e sua aquisição se configura como objetivo último de sua vida. Assim, a aquisição do capital econômico não tem mais a finalidade de suprir as necessidades materiais do indivíduo e se estabelece como um princípio guia do capitalismo. Essa inversão também está ligada com ideias religiosas, como põe Benjamin Franklin ao citar a passagem da Bíblia: “Vês um homem diligente em seus afazeres? Ele estará acima dos reis”. (Provérbios 22; 29). Assim, o ganho do dinheiro resulta da virtude e eficiência de um homem. Weber continua suas reflexões desta vez analisando a forma como o capitalismo atual educa e seleciona os sujeitos que julga necessário a partir de um processo de sobrevivência do mais apto. Esse sistema econômico força o indivíduo que nele se insere a um conjunto de regras inalteráveis, eliminando de tal cenário aquele homem que apresentar resistência à lei de conduta capitalista. Esse novo capitalismo tem raízes na Inglaterra, onde se estabeleceu o cálculo do lucro e, portanto, a utilização racional do capital. Nos tempos pré-
capitalistas essa aplicabilidade dos recursos em empresas estáveis e a conformação racional capitalista do trabalho eram ausentes. Por fim, Weber discorre sobre o moderno empreendedor, afirmando que este precisa ser devoto ao seu negócio, perspicaz, sóbrio e confiável. Sua conduta econômica não deve ter envolvimento com a religião, visto que atualmente estas duas não se relacionam mais, uma vez que esta evita ostentação, gozo do poder e reconhecimento social, afastando o homem de seu trabalho, enquanto o sistema capitalista tem por necessário devoção ao dinheiro.