Mearsheimer – The Tragedy of Great Power Politics
CAPÍTULO DOIS: ANARQUIA E DISPUTA POR PODER (Marcelo) 1) Competição por poder - Grandes potências estão sempre buscando ter mais poder - hegemonia: objetivo final - o sistema tem várias potências com intenções revisionistas - este capítulo explica essa competição por poder - Competição por poder deriva de cinco proposições: i) O sistema internacional é anárquico ii) potências possuem alguma capacidade militar ofensiva, possuem capacidade de destruição iii) os Estados nunca têm certeza sobre as intenções dos outros Estados iv) sobrevivência é o objetivo principal v) os Estados são atores racionais - Os estados, na origem, não tem motivos para serem ofensivos, mas esses cinco elementos combinados incentivam os Estados à buscarem mais poder. poder. - Três padrões de comportamento são derivados: - medo: o jogo j ogo político internacional é muito perigoso e ninguém responde quando se liga 911, todos tem armas e podem usá-las - auto-ajuda: faz sentido ser egoísta num sistema de auto-ajuda, alianças são casamentos temporários - maximização de poder : ser o mais poderoso é a melhor maneira de garantir sua sobrevivência, o mais poderoso do jogo é o menos suscetível de ser atacado - Logo, os Estados estão a todo t odo momento tentando virar a balança de poder em seu favor. - A busca por poder só pára com a hegemonia porque: porque: i) não se sabe quanto de poder é necessário para que se esteja seguro, e os próprios cálculos de poder são passíveis de erro ii) o poder muda com o tempo e as previsões são difíceis - Os Estados estão preocupados com ganhos de poder relativos de poder, não absolutos - Estados fazem cálculos: só porque estão em busca de poder não quer dizer di zer que se atirariam em uma jogada em que os riscos parecem maiores que os benefícios - Às vezes os Estados erram os seus cálculos, porque a informação não é perfeita - várias implicações: pode-se exagerar seu próprio poder, exagerar o poder dos outros, divulgar que seu poder é menor que realmente é... - a própria guerra é muito complicada de se calcular, estratégia é muito complexa
- hegemonia é um país que é tão poderoso que domina todos os outros do sistema - há hegemonia global e hegemonia regional - argumento: com exceção de uma superioridade nuclear clara, é virtualmente impossível para um Estado alcançar a hegemonia --> dificuldade de se projetar poder nos outros territórios, ultrapassando os oceanos --> poder parador da água --> nunca houve uma hegemonia global, e provavelmente nunca haverá --> só há uma hegemonia regional, os EUA no hemisfério ocidental --> uma hegemonia regional briga para que não se formem outras no mundo --> tenta colocar outras potências balanceando poder na outras regiões, para que duas potências se preocupem mais consigo mesmas que com uma outra hegemonia regional distante 2) Medo - medo: muito perigoso, pois explosivo, mas inevitável no sistema anárquico - um aumento de poder gera medo entre seus rivais - o conceito de poder pode ser dividido: - poder potencial: tamanho da população e riqueza - poder real: poder militar, sendo o Exército mais importante que a Marinha ou a Aeronáutica, mesmo na era nuclear - poder gera medo de três maneiras diferentes: i) entre duas potências que possuem poder nuclear: medo menor do que se não possuíssem ii) poder parador da água: separados por água, geram menos medo iii) distribuição de poder também afeta: a "multipolaridade nãobalanceada", com uma hegemonia potencial, é a que gera mais medo - hegemonia potencial: o país com mais poder de todos (o exército mais formidável e o maior poder latente entre todos da sua região) e com uma diferença importante para o segundo - bipolaridade é a distribuição de poder que produz menos medo - multipolaridade balanceada produz uma quantidade de medo intermediária - como os Estados nunca sabem as intenções de seus rivais, eles têm medo calculando suas capacidades, fazendo uma suposição de "no pior dos casos" - poder latente também conta: se tem medo de estados populosos e com rápida expansão econômica, mesmo que ainda não tenham convertido isso em poder militar 3) hierarquia de objetivos: 1) sobrevivência, lógica da balança de poder (objetivos de segurança) 2) objetivos que não são de segurança, mas que podem ajudar a segurança: maior prosperidade econômica, unificação nacional 3) objetivos que não são de segurança e dificilmente ajudam a segurança: promover uma ideologia (Guerra Fria), promover direitos humanos --> importante: nunca os objetivos que não são de segurança podem atrapalhar a lógica da balança de poder
--> estados dificilmente e propõem a gastar sangue e dinheiro para proteger outros povos de abusos, mesmo o genocídio --> ideologias podem ser esquecidas em favor da lógica da balança de poder: aliança liberais + URSS na II GM, EUA promovendo ditaduras na Guerra Fria 4) Criando uma ordem mundial - potências não trabalham de mãos dadas para criar uma ordem mundial estável e bonitinha: cada um procura interesses individuais e isso pode atrapalhar o conjunto, sim --> todo os sistemas são resultado da concorrência de poder entre as potências, não de uma organização combinada para a paz ♥
--> às vezes serão estáveis, às vezes não - grandes potências não podem se comprometer em construir um mundo pacífico por dois motivos: i) estados são pouco propensos a concordarem entre si sobre uma fórmula para a paz. ex. Tratado de Versalhes ii) é um risco ignorar a balança de poder: a tentativa de paz pode falhar e quem a promoveu ter prejuízos em poder 5) Cooperação - cooperação é às vezes difícil de conseguir e sempre difícil de manter - dois fatores inibem a cooperação: i) considerações sobre ganhos relativos --> os Estados devem considerar como os benefícios da cooperação vão ser distribuídos --> grande preocupação com ganhos relativos , pela lógica da balança de poder: se o outro ganhar mais do que eu, estou perdendo poder ii) preocupação com trapaça - cooperação comum: se unir contra um inimigo comum - " No amount of cooperation can eliminate the dominating logic of security competition. Genuine peace, or a world in which states do not compete for power, is not likely as long as the state system remains anarchic."
6) Conclusão --> "In sum, my argument is that the structure of the international system, not the particular characteristics of individual great powers, causes them to think and act offensively and to seek hegemony." --> "I assume that the principal motive behind great-power behavior is survival. In anarchy, however, the desire to survive encourages states to behave
aggressively."
CAPÍTULO TRÊS: RIQUEZA E PODER 1) Medindo poder - poder é baseado nas capacidades materiais de um Estado - a balança de poder é praticamente sinônimo de balança de poder militar , já que a força é a ultima ratio no realismo político - dois tipos de poder: - poder latente : ingredientes socio-econômicos que podem construir poder militar (riqueza e população) - poder militar : tamanho e força do exército, mais importante que marinha e aeronáutica mesmo entre potências nucleares - outra possibilidade de medida de poder: medir os resultados de conflitos - entretanto, a balança de poder não prevê necessariamente o sucesso militar - fatores não-materiais podem dar vantagens reais a um ou outro combatente: estratégia, inteligência, determinação, meteorologia e doença - logo, acreditando que podem vencer, estados menos poderosos podem sim entrar em guerra com mais poderosos (desrespeitar a balança de poder) - três razões para não se medir poder com resultados: i) impossível de medir poder antes do conflito ii) se chegaria a conclusões implausíveis: que o Vietnã era mais poderoso que os EUA, ou que a Rússia era mais poderosa que a França de Napoleão iii) em RIs, poder é o meio para se chegar a fins, medidos por resultados; logo, se poder são os resultados, meios são fins, o argumento fica circular 2) População e riqueza - ainda que tanto população quanto riqueza sejam importantes, Mearsheimer usa apenas riqueza para medir o poder latente, já que a medida de riqueza já possui um elemento demográfico: para se ter grande riqueza é necessária grande população
- duas categorias para medir riqueza: - riqueza mobilizável : recursos econômicos disponíveis para se construir forças militares - nível de desenvolvimento tecnológico - PIB não mostra diferenças tecnológicas, logo é bom para comparar apenas países de mesmo nível de desenvolvimento econômico --> PIB mede, ao mesmo tempo, a produtividade do trabalho E o tamanho da população, logo dois países podem ter mesmo PIB e produtividade do trabalho diferentes - importância da indústria: - mais excedente para gastar em defesa - capacidade de produzir grande quantidade de armamentos - um outro indicador é necessário: - para de 1816 a 1960, Mearshimer usa um indicador composto de produção de aço e consumo de energia . - de 1960 para cá ele usa o PIB, porque: i) nessa época o papel do aço começa a declinar ii) é a partir dessa época que o PIB começa a ser um bom indicador 3) O ESPAÇO VAZIO ENTRE PODER LATENTE E PODER MILITAR - a hierarquia de poder nem sempre reflete a hierarquia econômica por três motivos: i) a conversão de riqueza em força militar é variável, pois poder ter retornos decrescentes
--> um país pode calcular que caso inicie uma corrida armamentista sairá perdedor, logo não a iniciará ex.: Inglaterra no século XIX converte muito pouco da sua riqueza (muito superior aos outros países europeus) em poder militar --> poder parador da água, por exemplo, não incentivava os EUA a fazer uma corrida armamentista com as nações europeias --> os gastos são limitados pelo orçamento, que depende da conjuntura política --> ter aliados pode economizar gastos militares --> países dominados não convertem, mesmo que tenham grande capacidade econômica ex: Japão pós-1945 ii) as conversões têm níveis diferentes de eficiência
ex: URSS produziu muito mais armas do que a Alemanha na II GM, apesar de ter uma economia menor e de gastar menos proporcionalmente ao tamanho da sua economia, porque soube organizar melhor sua produção para a economia total de guerra, para a
produção de armamento iii) diferentes potências adquirem diferentes tipos de forças militares ex: Inglaterra investia muito mais na marinha que seus rivais do fim do século XIX --> poder parador da água (não necessitava de grande exército para se defender e não conseguiria projetar poder no continente com um grande exército) e tinha colônias para administrar --> logo, o poder terrestre da Inglaterra era, então, muito inferior das outras potências, apesar de ser muito mais rica que todas as outras