Resenha: BOUDEVILLE, Jacques-R. Os espaços econômicos. São Paulo: Difusão Europeia do livro, 1973. Pp. 5-93.
Jacques Boudeville foi um economista francês discípulo de François Perroux e é lembrado como alguém que promoveu uma aproximação entre geógrafos e economistas. Boudeville, logo na introdução salienta algo que já sabemos bem, mas vale a pena lembrar: “o homem não se limita a viver no espaço: ele também o transforma.” (p. 7). E é a partir dessa transformação que se justifica a afirmação de
que as cidades e as concentrações urbanas estão maiores que no passado e, citando seu mentor, afirma que “o crescimento não se manifesta em toda a parte ao mesmo tempo (...) surge em certos pontos, ou pólos de crescimento, com intensidades variáveis e efeitos terminais igualmente variáveis para o conjunto da economia (François Perroux apud Boudeville. p. 8). Esses apontamentos são interessantes para entender o que o autor propõe no primeiro capítulo acerca do espaço econômico: o estabelecimento de uma proposta de análise da região que – segundo Perroux – poderia ser feita a partir de uma noção de “região homogeneizada”, “região polarizada” e “região piloto”. A partir
dessa divisão serão propostos métodos e instrumentos que melhor servirão para analisar cada um dos tipos de regiões estabelecidas. A região homogênea, mais clássica e conhecida entre os estudiosos desse seguimento, “corresponde a um espaço contínuo, cada uma das de cujas
partes constituintes (...) apresenta características tão semelhantes quantos possível às da outra” (p. 13); a região polarizada “não é uniforme” e “define-se (...) como um
espaço heterogêneo cujas diversas partes são complementares que mantém entre si e, particularmente entre o pólo dominante, um intercâmbio maios do que o estabelecido com a região vizinha.” (p.14); já a região-piloto é “um espaço contíguo
cujas diversas partes se encontram na dependência de uma mesma matriz de decisão, como as filiais dependem da matriz” (p. 17). Boudeville sintetiza essa ideia das regiões propostas quando as compara: “região homogênea, de inspiração
agrícola; região polarizada, de inspiração industrial e comercial; e região-piloto, de inspiração prospectiva.” (p. 18).
No método de observação regional, o autor destaca a importância da estatística descritiva bem como dos elementos que a constituem, além da importância de conhecer as possibilidades de realização de objetivos políticos nela – a região. É chamada a atenção também para a importância e a complexidade de delimitação das fronteiras nas regiões, sendo, para isso, de grande valia combinar os “fluxos econômicos” (as telecomunicações, o camp o da imprensa local, a
circulação de mercadoria etc.). No segundo capítulo, Boudeville usa o exemplo da Europa para ilustrá-la como uma “região intenacional”, destacando tanto sua estrutura econômica quanto
sua condição de decisão política e seus recursos naturais. Para isso, o autor permeia pelas seus apontamentos iniciais dando denotações as suas concepções de região. Nesse ponto é possível verificar um caráter muito eurocêntrico, onde, por vezes, a Europa parece ocupar uma posição hierárquica superior às demais regiões do mundo em geral. Boudeville, no terceiro capítulo, ressalta a importância a cooperação entre as regiões nacionais bem como seus agrupamentos de acordo com problemas e interdependências comuns a fim de haver o deslocamento das trocas mercantis e das atividades correntes para garantir o progresso econômico. Em síntese, “a região
no Estado não deveria ser considerada como uma entidade independente, e sim como uma parte de um todo, ligada às outras unidades regionais e subordinada à concepção nacional do bem estar público” (p. 55) sendo a região definida “pela ausência de uma unidade política independente e a existência de laços econômicos e sociológicos” (idem).
No último capítulo lido, o autor vai discutir sobre a questão dos novos aglomeramentos urbanos a partir de um contraponto com as cidades capitais ou metrópoles. Uma questão muito relevante é se o desenvolvimento dessas novas cidades deve se adaptar àquelas necessidades já dadas pelas antigas. Para se pensar isso – aponta o autor – é p reciso “levar em conta os diversos coeficientes de polarização de atividade”. (p. 92). Cabe a nós pensar que, nos dias atuais, é uma
tarefa difícil pensar o desenvolvimento de uma cidade, sem que essa seja inspirada em moldes de necessidade e consumo já existentes. Na leitura do texto, foi possível observar que a geografia é um tema sempre tangenciado nas abordagens, aparecendo quando se fala em divisão (territorial) do trabalho, aproveitamento de recursos e políticas de centralização e descentralização. Essa aproximação é importante para entender e discutir as regiões e certamente é o que faz o autor ser conhecido como conciliador entre as ciências econômicas e geográficas.