UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUEOLOGIA (MESTRADO) DISCIPLINA: TEORIA ARQUEOLÓGICA ALUNO: LEANDRO ELIAS CANAAN MAGESTE RELATÓRIO DE AULA I Ao nos debruçarmos debruçarmos sobre a história história do pensamento pensamento arqueológico arqueológico constatamos constatamos que ao longo do tempo, não foram poucas as concepções apresentadas de Arqueologia e do que seria o seu objeto de estudo. Tendo em vista este cenário, os textos propostos par paraa disc discus ussã são o prob proble lema matiz tizam am em term termos os teór teóric ico-m o-met etod odol ológ ógico icoss a natu nature reza za da disciplina. A bem da verdade trata-se de discussão fundamental, ainda mais se levarmos em conta que compreender a especificidade da Arqueologia e do registro arqueológico é um passo importante em direção a uma reflexão crítica a respeito de nossa práxis. Inicialmente, devemos evidenciar alguma das considerações estabelecidas por Binford, no primeiro capítulo de seu livro, “Em busca do passado”. No seu texto, Binford se detém em apresentar o que acredita serem as especificidades da disciplina arqu arqueo eoló lógi gica ca.. De acor acordo do com com Binf Binfor ord, d, a Arqu Arqueo eolo logi giaa é a ciên ciênci ciaa do regi regist stro ro arqueo arqueológ lógico ico.. Na concep concepção ção do autor, autor, esse esse regist registro ro é algo algo estáti estático, co, criado criado por um comportamento dinâmico e faz parte de nosso mundo contemporâneo. Para que seu significado possa ser apreendido, é necessário entender como as coisas materiais se formaram, se alteraram e adquiriram as características observadas pelos arqueólogos. Nes Nesse se proc proces esso so de deco decodi difi ficaç cação ão,, os arqu arqueó eólo logo goss pode podem m se vale valerr de algu alguma mass ferramentas teóricas, tais como a Etnoarqueologia, a Arqueologia Experimental e a utilização de fontes histórica. Binford defende ainda a aproximação entre as Ciências Naturais e a Arqueologia, por conta das particularidades do documento sobre o qual esta última se debruça. Especificamente sobre a natureza do registro arqueológico, nos deparamos com informações mais detalhadas em texto de Michael Schiffer. Em seu trabalho, Schiffer procu procurou rou explic explicitar itar alguma algumass das princi principai paiss unidad unidades es concei conceitua tuais is aborda abordadas das pelos pelos arqueó arqueólog logos. os.
Inicial Inicialmen mente, te, o autor autor aprese apresenta nta a distin distinção ção entre regist registro ro histór histórico ico e
registro arqueológico. O primeiro é formado por objetos que por algum motivo foram retidos no âmbito de sociedades vivas e fornecem evidências de comportamento. Já o segundo é composto por objetos culturalmente depositados, que mesmo não fazendo mais parte de sociedades vivas podem oferecer evidências sobre modo de vida do passado.
Schiffer salienta que a evidência material pode apresentar-se em dois tipos de contextos. Objetos participam de um contexto sistêmico quando estão incorporados a um sistema comportamental. Por outro lado, integram o contexto arqueológico quando interagem somente com ambiente natural. Schiffer destaca que o maior interesse dos arqueólogos é recuperar o contexto sistêmico dos objetos descobertos no registro arqueológico. Isto só é possível através de processo de inferência, que deve levar em conta os processos que formaram o arqueológico, sejam eles de ordem cultural ou natural. Compreender de que forma estes processos atuam é essencial na pesquisa arqueológica, na medida em que as evidências materiais do passado cultural não chegam até nós como uma imagem congelada do passado. Por sua vez, em seu trabalho, Ian Hodder aborda três idéias chaves, que a seu ver foram ignorados pela Nova Arqueologia: a de que cultura material é constituída significativamente; a necessidade de que o indivíduo faça parte das teorias de cultura material e mudança social e a importância de se estreitar laços mais sólidos entre Arqueologia e História. Hodder acredita que ao mesmo tempo em que a cultura material é criada pelo comportamento humano ela acaba por atuar sobre ele. Talvez por esse motivo, o pesquisador defenda a necessidade de o indivíduo ser incorporado na interpretação arqueológica. Afinal de contas, a cultura material não existe por si só. Ela é sempre produzida por alguém para algo, criando dessa forma a sociedade por meio das ações dos indivíduos. Sobre esse assunto, não podemos nos esquecer, conforme salienta Hodder, que a ação no mundo depende em parte de conceitos e como esses conceitos são apreendidos a partir de experiências no mundo ou no âmbito de tradições culturais. Verificar se existem continuidades no interior dessas tradições e como elas são transformadas é, portanto um dos objetivos da Arqueologia. Nesse sentido, o enfoque histórico é o mais adequado para fornecer a percepção adequada acerca dos significados das formas culturais, por meio da análise do contexto pré-existente. Devemos nesse ponto destacar que as discussões estabelecidas em sala de aula a respeito desses textos forneceram subsídios imprescindíveis à compreensão das principais idéias defendidas pelos autores abordados. Desse modo, foi levado em conta o contexto intelectual no qual cada pesquisador desenvolveu seu trabalho. Foi debatido o fato de Binford estruturar sua argumentação com o intuito de dotar a disciplina arqueológica de métodos adequados. Constatamos que o objetivo do autor foi de atribuir uma identidade para a Arqueologia, legitimando assim ofício do arqueólogo enquanto
trabalho científico. Conforme foi salientado em sala de aula, Binford chegou a ser acusado por apresentar discurso excessivamente teórico. Contudo, em seu texto, o pesquisador defende o equilibro entre a prática e teoria no trabalho arqueológico. Ao fim, detivemo-nos também em discutir as idéias chaves presentes no texto de Ian Hodder, principalmente o fato de o autor considerar a dimensão simbólica da cultura material. Percebemos que tal premissa inviabiliza a possibilidade de se estabelecer leis universais que relacionavam registro arqueológico e atividade humana, conforme acreditam os arqueólogos processualistas. De fato, para Hodder, a Teoria de Alcance Médio elaborada por Binford teria as suas falhas, já que em boa medida as regularidades que essa ferramenta teórica buscava identificar depende muito do contexto histórico no qual as sociedades encontram-se imersas. Ainda sobre o trabalho de Hodder foi chamada a atenção para a utilização da etnoarqueologia enquanto ferramenta teórica e também para a ênfase dada pelo autor ao contexto, pensado como a chave para interpretação de evidência arqueológica.
Bibliografia: BINFORD, L. R. A tradução do registro arqueológico. Europa/América, 1991. pp.28-36
Em busca do passado . Lisboa,
SCHIFFER, M. B. The nature of archaeological evidence. Formation Process of the Archaeological Record , University of New Mexico Press: Albuquerque, 1987.pp. 311. HODDER, I. El problema. Interpretación en Arqueología: corrientes actuales (1° Ed. 1991) trad. espanhola. 2° edição revista, Crítica, Barcelona, 1994, pp. 15-32