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MANUAL UFCD_3249: Assistência a Crianças no Domicílio – Primeiros Socorros
Nome do Formador: Enfª Diana Pinto Ribeiro Data: Março de 2013
INDICE
Pág. INTRODUÇÃO 4 38
OBJETIVOS PEDAGÓGICOS 6 Objetivos Gerais 6 Objetivos Específicos 6 1. DESENVOLVIMENTO
DA
CRIANÇA
8 1.1.
Até
ao
1
ano
de
idade
8 1.2.
Do
1
aos
3
anos
de
idade
6
anos
de
idade
9 1.3.
Dos
3
aos
10 1.4.
Dos
7
aos
11/
12
anos
de
idade
10 1.5.
Dos
12
aos
18
anos
de
idade
11 2. SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA COM CRIANÇAS: EXAME DA VÍTIMA 12 3. ACIDENTES COM CRIANÇAS: PREVENÇÃO E PRIMEIROS SOCORROS 15 3.1. Lesões 16
da
pele:
Queimaduras
3.1.1.
Queimaduras
por
radiação
20 3.2. Hemorragias 20 3.2.1.
Métodos
de
Controlo
21 3.3. Traumatologia:
abordagem
à
criança
vítima
de
trauma
23
38 3.3.1.Lesões
dos
tecidos
moles
25 3.3.2.Fraturas 28 3.3.3.Lesões
por
corrente
elétrica
29 3.3.4.Acidentes
rodoviários
30 3.4. Suporte
Básico
de
Vida
Pediátrico
31 3.5. Asfixia/
Desobstrução
da
Via
Aérea
na
Criança
34 3.6. Intoxicação 35 3.7. Convulsão 36 4. A
MALA
DE
PRIMEIROS
SOCORROS
38 REFERÊNCIAS 40
BIBLIOGRÁFICAS
38
INTRODUÇÃO Este manual serve de apoio e complemento teórico à Unidade de Formação de Curta Duração (UFCD) com o código 3249 e intitulada: Assistência a Crianças no domicílio – Primeiros Socorros, ministrada no Centro Social e Paroquial de Santa Marinha do Zêzere através do Centro
Social de Santa Cruz do Douro no período de 06 de Março a 03 de Abril de 2013, com a duração de 25 horas. Esta unidade de curta duração enquadra-se num referencial de formação vigente em Portugal que prima pela qualificação e valorização profissional dos cuidadores designados como Acompanhantes de Crianças. Deste modo, é um grupo selecionado de pessoas que dão apoio ao Centro Paroquial de Santa Marinha do Zêzere que constituem o público-alvo desta formação.
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O Centro Social de Santa Cruz do Douro tem na sua constituição diversas valências ao serviço da comunidade em que se insere, sendo que a sua máxima passa por dar apoio de forma solidária a todos os que dele precisem, desde a infância à velhice. Por conseguinte, a formação de todos aqueles que direta ou indiretamente contactam com a população de intervenção, desde as crianças aos mais velhos como já foi referido, também faz parte das competências do Centro Social de Santa Cruz do Douro, pelo que estão a colaborar agora com o Centro Paroquial nesse sentido. Acompanhar o crescimento de uma criança, compreendendo-o e intervindo de acordo com as necessidades que surgem, não é tida pelos “entendidos” como uma tarefa tão simples e natural como outros a julgam. A criança passa por várias fases no seu desenvolvimento, tem comportamentos e atitudes diferentes dos quais resultam diferentes necessidades e intervenções por parte dos seus cuidadores. Neste manual direcionam-se estas necessidades para aquelas que se relacionam com a sua saúde e segurança em situações consideradas de emergência para que, de forma rápida e eficaz, quem está junto delas possa agir com conhecimento e capacidade e, consequentemente, com a serenidade que é exigida. Por
conseguinte,
o
objetivo
major
da
formação
é facilitar
a
aprendizagem de técnicas indispensáveis, para que, qualquer cidadão esteja habilitado a prestar auxílio nas situações de emergência que ocorrem com maior frequência em crianças.
De facto, estudos realizados ao longo dos últimos anos têm demonstrado
a
pertinência
dos
diferentes
profissionais
de
saúde,
detentores de conhecimentos e capacidades especializadas para salvar vidas, transmitirem estes saberes à população em geral, no que diz respeito à implementação de atos simples de socorro, que implementados no local e de imediato, salvem vidas humanas em perigo. Em algumas situações, os acidentes e as situações de doença súbita podem ser evitados pela adoção de medidas preventivas, principalmente quando se fala de crianças, mas a sua ocorrência não deixa de ser uma realidade. Assim, dada a relevância de tais factos, zelar pela formação de cada vez mais pessoas nesta área vital, o socorrismo, instruindo-as com técnicas simples e acessíveis, somente melhora e contribui para a qualidade de vida da sociedade e para o próprio exercício da cidadania, tornando o socorro o mais eficaz possível.
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OBJETIVOS PEDAGÓGICOS Objetivos Gerais:
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1) Adquirir conhecimentos sobre: desenvolvimento da criança; 2) Adquirir conhecimentos e capacidades sobre: exame da vítima em situações de emergência com crianças 3) Adquirir
conhecimentos
e
capacidades
sobre:
prevenção
e
primeiros socorros em acidentes com crianças 4) Adquirir conhecimentos sobre: mala de primeiros socorros em pediatria e seus constituintes
Objetivos Específicos: 1) – caraterizar, de modo sucinto, cada uma das etapas em que se divide o desenvolvimento da criança; 2) – enumerar as diferentes etapas em que se desenvolve o exame físico realizado à criança vítima de uma situação de emergência; - executar o exame à criança vítima de uma situação de emergência; 3) – identificar os diferentes tipos de queimaduras; - enumerar os cuidados de emergência a implementar em caso de queimadura; - enumerar as principais medidas de prevenção de queimaduras em crianças; - identificar os diferentes tipos de hemorragia;
- enumerar os cuidados de emergência a implementar em caso de hemorragia; - enumerar os principais cuidados a ter na abordagem a uma criança vítima de trauma; - identificar as diferentes lesões dos tecidos moles; - enumerar os cuidados de emergência a aplicar em lesões dos tecidos moles; - identificar os diferentes tipos de fraturas; - enumerar os cuidados de emergência a implementar em caso de fratura; - enumerar os cuidados de emergência a implementar em caso de lesão por corrente elétrica; - enumerar os cuidados de emergência a implementar em caso de acidente rodoviário; - enumerar as principais medidas de prevenção para as situações de trauma na criança; - enumerar as diferentes etapas que constituem o algoritmo de Suporte Básico de Vida na Criança; - executar as manobras de Suporte Básico de Vida na Criança; - enumerar as diferentes etapas que constituem o algoritmo de desobstrução da via aérea na criança; - executar manobras de desobstrução da via aérea na criança; - enumerar os cuidados de emergência a implementar em caso de intoxicação; - enumerar as principais medidas de prevenção de intoxicação; - identificar uma crise convulsiva; - enumerar os cuidados de emergência a implementar em caso de convulsão; 4) - enumerar os diferentes critérios a considerar na preparação de uma mala de primeiros socorros; - enumerar os principais cuidados a ter na administração de medicamentos à criança em situações de emergência.
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1. DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA As
crianças
passam
por
diferentes
fases
ao
longo
do
seu
desenvolvimento e crescimento. O trajeto de desenvolvimento infantil inicia-se logo que a criança nasce, até que atinge a maioridade e passa a ser considerada adulta Deste modo, importa referir que este processo é caraterizado por profundas alterações físicas, sociais, cognitivas, psicológicas, espirituais… que marcam diferentes etapas ao longo da sua vida. Além disso, todas as crianças seguem o seu padrão próprio de desenvolvimento, ou seja, cada uma desenvolve-se respeitando as suas potencialidades. As crianças não possuem recursos para enfrentar o mundo com todas estas alterações a que estam sujeitas, posto isto necessitam estar rodeadas de pessoas responsáveis pela sua assistência, dispostas a compartilhar as suas alegrias e auxiliá-las nos momentos difíceis. Assim,
neste
capítulo
é
feita
uma
caraterização
sumária
do
desenvolvimento da criança, dividindo-o por faixas etárias que traduzem as
tais etapas ou marcos neste processo evolutivo e que tornam mais fácil a compreensão e intervenção a pais e outros cuidadores. 1.1. Até ao 1 ano de idade Até aos 23 dias de vida o bebé é caraterizado como recém-nascido, sendo que nesta fase apenas se manifesta através do choro, não controlando os movimentos do seu corpo e passando a maior parte do tempo a dormir. Passados estes primeiros dias o bebé entra numa outra etapa, que vai até aos 12 meses de vida ou 1 ano de idade, em que se designa como lactente. Por volta dos 6 meses de vida, as crianças começam a ter controlo estabelecido sobre a cabeça e começam a rolar o corpo inesperadamente; adquirem capacidade para usar as mãos e dedos com intencionalidade e assim levam tudo o que for possível à boca como forma de investigação. Por volta dos 8 meses já se sentam sem apoio e a partir daqui iniciam a locomoção, primeiro gatinhando e depois caminhando com ajuda, para começarem a andar sozinhas. Por conseguinte, com estas novas habilidades adquiridas pela criança é extremamente importante redobrar a atenção para manutenção da segurança: - manter vigilância acrescida durante a troca da fralda, para evitar riscos de queda; - nunca deixar a criança sobre cama ou sofá, mesmo que por pequenos períodos, sem as devidas proteções (travesseiros, acolchoados, etc.), para evitar quedas; - ter atenção para que fiquem longe da criança objetos pequenos que possam ser levados à boca por curiosidade, como por exemplo botões, brincos, tampas de tubo de cremes ou pomadas; - providenciar: • cantoneiras para mesas e quinas • substituição de tampos de vidro ou espelhos por madeira
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• protetores de tomadas elétricas • chapéu protetor contra espuma nos olhos • retirar vaos com plantas do alcance da criança. 1.2.
Do 1 aos 3 anos de idade
Nesta fase a criança é desiganda por toddler sendo que a sua grande conquista
é
o
desenvolviemnto
de
segurança
na
locomoção,
movimentando-se com todo o “à vontade”, corre, sobe e desce escadas, salta com os dois pés e dá alguns passos em bicos de pés. Além disso, desenvolve a destreza manual, lança objetos para o chão e tenta recuperá-los; usa bem o copo e a colher, levando as alimentos à boca; vira as páginas de um livro e desenha círculos num papel, mostrando preferência para usar uma das mãos. A criança torna-se impulsiva e curiosa, querendo explorar o seu meio envolvente, especialmenete a sua casa, abrindo os armários, retirando as louças, panelas, recipientes, roupas,… sentem-se atraídas pelo fogo; gostam de brincar na água e não sabem julgar o perigo. Deste modo, os pais e demais cuidadores devem ponderar por providenciar: - travas e trancas para portas, armários, gavetas, janelas, sanitas - bloqueadores para porta de frigorífico - tapetes antiderrapantes para banheiras - portões para escadas - grades ou telas para janelas e sacadas - protetores para botões do fogão - rades de proteção para camas. Outras medidas de segurança adicionais poderão ser: - não deixar baldes com água ao alcance da criança - não permitir familiaridade da criança com animais que se revelem perigosos e desconhecidos, principalmente fora de casa
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- não colocar medicamentos e produtos de limpeza em armários ao alcance da criança. 1.3.
Dos 3 aos 6 anos de idade
O desigando pré-escolar já usa adequadamente a linguagem, desenvolve a atenção e memória, interage cooperativamente com outras crianças e adultos e inicia o seu autocuidado.
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Por outro lado, as crianças nesta faixa etária têm prazer por situações de perigo: correm nas escadas, sobem em árvores, ficam em pé em baloiços ou muros altos, sentem-se atraídas por objetos perigosos (materiais cortantes e pontiagudos, fósforos e isqueiros), brincam com certa violência com os brinquedos e gostam de brincadeiras mais independentes com bicicletas, patins, skates. Aos 6 anos, de modo mais específico,
são muito ativas, agitadas,
iniciam novas tarefas, mas nem sempre terminam; possuem um tempo breve de concentração; são autoritárias e sensíveis e teimam em realizar atividades perigosas, mesmo quando orientadas a não realizá-las. Como precaução, nesta fase, poderá ser necessário: - adquirir detetores de fumo, gás e monóxido de carbono - anter fora do alcance da criança isqueiros, fósforos, tesouras, facas e outros objetos pontiagudos e/ou cortantes - comprar medicamentos com tampa de segurança e mantê-los em armários trancados - providenciar protetores, como joelheiras, capacetes, cotoveleiras, luvas e refletores para as roupas. 1.4.
Dos 7 aos 11/ 12 anos anos de idade
Esta fase compreende uma grande mudança e alteração na vida da criança, a entrada na escola, com outras metas e objetivos que lhe são exigidas. Por conseguinte, a criança é desiganda por escolar nesta etapa,
caraterizando-se porser mais quieta e tranquila que aos 6 anos, mais criativa e com gosto peculiar por situações que envolvam suspense e aventura. Por volta dos 7 anos são curiosas em relação ao funcionamento das coisas, passam muito tempo sozinhas mas também tomam parte em brincadeiras de grupo. Dos 8 aos 10 anos de idade realizam muitas tarefas com menor participação dos pais e desenvolvem a sua autonomia. Dos 10 aos 12 anos as crianças revelam-se autoritárias, teimosas, muitas querem ser líderes, valorizam a sua autoimagem, querem ser aceitos pelo seu grupo, muitas gostam de atrair a atenção para si e procuram atitudes “radicais”. Nesta fase a curiosidade por “coisas proibidas” pode levá-las a querer experimentar cigarros, bebidas alcoólicas e drogas. Como tal, nesta fase podem servir de recomendações/ precauções: - evitar fazer uso de álcool, cigarros, drogas na frente das crianças, conversando sobre o seu uso e efeitos - não estimular “dando só um golinho” de bebida - criar situações que estimulem o diálogo: orientar quanto às festas de “amigos” na escola e na rua, e sobre oferta de algo só para provar - ficar atento a qualquer mudança de comportamento na criança. 1.5.
Dos 12 aos 18 anos de idade
Esta fase a criança já não gosta de ser assim tratada, mas sim como adolescente. É nesta etapa que se dá a sua maturidade sexual, com alterações físicas notórias que caraterizam cada um dos géneros: masculino e feminino, com desenvolvimento dos carateres sexuais secundários (brotos mamários, pêlos púbicos, aumento do volume testicular). Além disso, é nesta etapa que o adolescente entra em grandes conflitos físicos e psicológicos, com a atribuição da sua independência,
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passando por algumas oscilações de humor, com tendência para a introspeção que culminam na maturidade que lhes é esperada. Quanto
a
recomendações/
precauções
para
esta
fase
do
desenvolvimento resumem-se ao proporcionar diálogo aberto, esclarecido e orientado sobre questões prementes nesta fase relacionadas com a educação e orientaçãos sexual, os comportamentos de risco, os cuidados com o próprio corpo, os conflitos entre a independência e o controlo e a gestão
do
stress
determinadas
e
metas.
ansiedade Além
causados
disso,
deve
pelo
desejo
ter-se
em
de
alcançar
atenção
os
comportamentos e atitudes do adolescente.
2. SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA COM CRIANÇAS: EXAME DA VÍTIMA Antes de iniciar qualquer tipo de procedimento deve observar-se a vítima, só depois de ponderados todos os dados da observação se podem tomar decisões capazes de resolver a situação e estabelecer prioridades. Em termos práticos, deve procurar-se identificar, em primeiro lugar, as lesões que põe em risco imediato a vida da vítima e, depois, aquelas que não carecem de tratamento imediato e, por isso, podem aguardar. Assim, o exame da vítima divide-se em duas partes distintas, mas complementares: o exame primário e o exame secundário. O exame primário, realizado nos minutos iniciais de abordagem à vítima, visa identificar e tratar as lesões que podem levar o indivíduo à morte, ou seja, que constituem perigo iminente de vida e consiste na avaliação inicial da condição cardiorespiratória e na estabilização da vítima. Esta avaliação é também chamada de abordagem "ABCDE" e envolve os seguintes passos: - avaliação rápida e estabilização da via aérea (Airway - A); - respiração (Breathing - B); - circulação (Circulation – C); - avaliação da condição neurológica (Disability - D);
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- exposição da pele à procura de lesões com manutenção da normotermia (Exposure and Enviromental control - E). Por outro lado, o exame secundário inicia-se apenas quando as situações que colocam em perigo imediato a vida da vítima já foram encontradas e solucionadas e engloba, por isso, a recolha de informação, a avaliação dos sinais vitais e a observação sistematizada ou exame físico da vítima. Por conseguinte, na abordagem da vítima e em qualquer situação de emergência, deve seguir-se um conjunto de etapas que constituem o procedimento a adotar: - garantir condições de segurança e, depois de asseguradas, prosseguir. Caso não haja condições de segurança não deve iniciar nenhum procedimento; - avaliar estado de consciência, chamar pela criança, agarrar-lhe suavemente pelas mãos e braços. A perda de consciência compromete a vida da vítima, pois facilmente pode ficar com a via aérea obstruída pela queda da própria língua, pelo acumular de secreções, vómito ou outros corpos estranhos; - se a vítima se apresenta inconsciente deve, em primeiro lugar, gritar por ajuda e, posteriormente, deve proceder à abertura da via aérea (A), utilizando a técnica correta mediante a situação: •
elevação da mandíbula (trauma) (Fig.1)
•
extensão da cabeça (doença súbita) (Fig.2)
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Fig. 1 – Elevação da Mandíbula
Fig. 2 –
Extensão da Cabeça A criança apresenta diferenças anatómicas quando comparada com um adulto, que tornam mais difícil a manutenção da via aérea permeável. Além disso, o estabelecimento de via aérea permeável com proteção simultânea da coluna cervical é muito difícil na criança vítima de politraumatismo. Nestes casos, as vias aéreas são facilmente obstruídas por corpos estranhos como sangue, muco e fragmentos de dente. - expor o tórax da vítima e verificar a boca quanto à presença de corpos estranhos, como dentes partidos, secreções, sangue, objetos de pequenas dimensões… Remova os corpos estranhos se estiverem visíveis; - verificar ventilação (B), colocando a face junto da boca e nariz da criança e com o olhar em direção ao tórax, observando se este se movimenta e se há saída de ar ou algum ruído respiratório, durante 10 segundos, ou seja: •
Ver, se existem movimentos torácicos ou outros movimentos naturais;
•
Ouvir, se o ar passa na via aérea do doente;
•
Sentir o ar que sai da vítima e bate na face do socorrista.
- depois de se ter a certeza que a vítima respira, deve observar-se como um todo procurando: •
hemorragias graves (C), procedendo ao seu controlo caso existam;
•
sinais precoces de choque, como ventilação rápida e superficial; pulso rápido, fino e irregular; alterações da coloração e humidade da pele, apresentando-se pálida, suada e numa situação mais grave com cianose (pele azulada); pressão arterial baixa (hipotensão); aparecimento de náuseas (sensação
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de vomitar) ou vómitos; sede; pupilas dilatadas(D); olhos sem brilho; e degradação gradual do estado de consciência (D) - exame secundário: recolha de informação relevante junto da criança e familiares, vizinhos ou quem assistiu ao sucedido; avaliação do pulso, respiração, pressão arterial e temperatura; e, exame físico, palpando todas as partes do corpo procurando lesões ou deformidades (E). Remover a roupa é essencial para permitir um exame completo de todos os segmentos corporais e facilitar a realização dos procedimentos. Contudo, a criança, principalmente o lactente, sofre uma perda rápida de calor por ter uma maior superfície corporal em relação ao peso, exigindo controlo da temperatura corporal, expondo para tal o corpo da criança em local adequado ou com recurso a cobertores para cobrirem as partes que não estão a ser observadas.
3. ACIDENTES COM CRIANÇAS: PREVENÇÃO E PRIMEIROS SOCORROS Os acidentes ocupam o primeiro lugar nas causas de morte e incapacidade temporária e permanente em crianças e jovens e associados aos elevados custos pessoais, familiares, sociais e económicos, constituem um grave problema de saúde pública.
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Ao longo dos últimos anos tem sido realizado um esforço para evitar a ocorrência
de
situações
propícias
aos
acidentes,
quer
através
do
desenvolvimento de equipamentos mais seguros, quer pela aprovação de leis que minimizem os riscos de acidente. No entanto, e infelizmente, estas intervenções passivas não são suficientes para evitar os acidentes. Por conseguinte, é função dos profissionais de saúde, mas também função de toda a comunidade intervir juntos dos pais, principais cuidadores das
crianças,
com
vista
à
informação
e
mudança
de
atitudes
e
obrigatoriamente
a
comportamentos para a prevenção dos acidentes. De
facto,
a
proteção
da
criança
requer
participação dos pais, pois são eles que controlam o espaço doméstico e definem as regras de segurança em casa e, por vezes, fora dela e têm papel preponderante na educação para a segurança, ensinando as crianças a conviver com diferentes riscos que as rodeiam (por exemplo: usar o fogão, atravessar na passadeira, …). Contudo, mesmo com todo o cuidado, quer prestado pelos pais como por outros cuidadores, os acidentes podem acontecer e os primeiros socorros constituem a primeira ajuda prestada a uma vítima de acidente ou doença súbita. Perante esta situação a primeira recomendação é manter a calma, auxiliar e ponderar o recurso aos meios de emergência médica. Deste
modo,
em
seguida
apresentam-se
medidas
simples
de
prevenção e intervenção rápida perante os diferentes tipos de acidentes mais comuns com crianças. Contudo, no caso da criança vítima de acidente ou doença súbita apresentar/ desenvolver pelo menos um dos seguintes sinais e sintomas é imperativo procurar ajuda médica imediatamente: - lesão grave com ou sem imobilização - alergia cutânea associada a falta de ar - dificuldade em respirar, falar ou beber - confusão mental, fraqueza geral e sonolência - falta de reação depois de tentar a interação - vómitos e diarreia em simultâneo - dor no peito
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- tosse ou vómito com sangue. 3.1. Lesões da pele: Queimaduras As queimaduras são lesões da pele resultantes do contacto ou ação de um agente externo. Constituem um dos acidentes mais frequentes em pessoas de qualquer idade, sendo um dos acidentes domésticos que pode acontecer com crianças. Este tipo de acidente têm principal relevo nos primeiros anos de vida, entre o 1 e os 4 anos de idade, quando a criança começa a andar, por vezes com algum desequilíbrio, e ainda não reconhece o perigo de uma lareira, fogão ou mesmo do próprio fogo em si. A sua gravidade define-se de acordo com: - a causa que lhe está subjacente - a sua extensão - profundidade - local atingido - idade da vítima (maior gravidade nas crianças) - traumatismos associados. Quanto às causas estas podem ser de origem térmica: pelo calor ou pelo frio; elétrica; química; ou, pela radição. A extensão relaciona-se com a dimensão da área que é atingida, sendo que quanto maior for a área atingida maior é a gravidade da queimadura. Por sua vez, a profundidade da queimadura é o principal parâmetro que a carateriza, evidenciando o grau de destruição dos tecidos. Assim, as queimaduras, quanto à profundidade, classificam-se em três graus : - 1º grau: trata-se de uma queimadura sem gravidade em que apenas foi atingida a primeira camada da pele (Fig.3). Neste caso, a pele apresentase vermelha, sensível e muito dolorosa.
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Fig. 3– Queimadura de 1º grau.
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- 2º grau: trata-se de uma queimadura em que já é atingida a primeira (epiderme) e segunda (derme) camadas da pele (Fig.4). Caracteriza-se por ser dolorosa e apresentar
flictenas
(bolhas).
Fig. 4 - Queimadura de 2º grau. - 3º grau: é uma queimadura em que existe destruição da pele e de outros tecidos subjacentes (Fig.5). Caracteriza-se por apresentar uma cor castanha ou preta (tipo carvão) e, na maioria dos casos, a pessoa não refere dor devido ao facto de existir destruição dos terminais nervosos existentes na pele e responsáveis pela transmissão da informação de dor ao cérebro.
Fig. 5 – Queimadura de 3º grau. Tendo em conta o local que atingem, as queimaduras consideradas mais graves são aquelas que atingem a face, as vias aéreas, os órgãos genitais e locais que tenham outras lesões como feridas ou fraturas, por exemplo. Em
qualquer
situação,
adultos
ou
crianças,
os
cuidados
de
emergência a ter com as queimaduras prendem-se com dois factos : prevenir a infeção e controlar a dor, pelo que a atuação está condicionada a diversos fatores, devendo proceder-se da seguinte forma: - extinguir-se o agente que provocou a queimadura e afastar todo o perigo; - tentar acalmar a vítima, a criança pode começar a chorar ou a correr; - ter em atenção a via aérea; - limpar a zona queimada, retirando a roupa existente, menos a que se encontrar agarrada, essa deve ficar; - lavar a zona queimada com soro fisiológico ou água, de preferência, água corrente (arrefecer a queimadura pelo menos durante 5 minutos debaixo de água fria corrente); - tapar a zona com um penso humedecido e esterilizado; - nas zonas articulares (mãos, pés) proteger as zonas de contacto, envolvendo com ligaduras ou compressas esterilizadas; - no caso de se tratar de uma queimadura 1º grau pouco extensa basta vigiar e estar atento à presença de febre, dor ou sinais de inflamação (pele encarnada e quente, dolorosa ao toque). Se houver bolhas lava-se com soro fisiológico ou água corrente e sabão de pH neutro e protege-se com uma compressa;
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- toda a queimadura que for maior que metade da palma da mão da vítima, que esteja negra ou castanha, que esteja localizada na face, mãos, pés ou orifício natural do corpo procure/ solicite cuidados especializados o mais rápido possível (ligue 112). Ter em especial atenção : - utilizar sempre material esterilizado - nunca utilizar gorduras
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- não arrancar as roupas agarradas - se a queimadura é nos membros, mergulhá-los em água - em queimaduras químicas lavar abundantemente e retirar as roupas, nunca tapar e contactar CIAV (Centro de Informação AntiVenenos) - se a queimadura for interna, isto é, se a criança engolir, nunca dar nada de comer ou beber e contactar imediatamente o CIAV -
se
houver
entrada
de
produtos
químicos
nos
olhos
lavar
abundantemente com água corrente ou soro fisiológico durante pelo menos 15 minutos e procurar observação por especialistas, ligar 112 se necessário - no caso das queimaduras provocadas por choques elétricos, após desligar a corrente no quadro deve prestar-se apoio à vítima e atuar da mesma maneira e ligar 112 se necessário. Alguns conselhos úteis a respeito da prevenção das queimaduras nas crianças: - evitar que as crianças corram ou brinquem na cozinha perto das fontes de calor; - na cozinha colocar as pegas voltadas para dentro do fogão; - não colocar tachos/ panelas quentes no chão; - não deixar produtos tóxicos ao alcance das crianças; - cuidado com fornos, churrasqueiras e lareiras quando quentes; - verificar a temperatura da água do banho (mesmo em chuveiro) antes de introduzir a criança;
- não fumar perto da criança, mantendo cigarros, fósforos, isqueiros, longe do alcance e da vista da criança; - isolar a junção de extensões de fios com fita isoladora, cobrir as tomadas elétricas; - não passar roupa a ferro com a criança próxima e guardar o ferro elétrico fora do seu alcance; - ensinar à criança o significado de “quente”; - evitar toalhas de mesa com pontas longas, pois permitem que a criança as puxe mais facilmente, com risco de derrubar sobre si alimentos quentes que estejam sobre a mesa; - não beber, comer ou carregar coisas quentes perto da criança ou enquanto a segura; - testar alimentos aquecidos, para verificar se as porções não estão quentes demais.
3.1.1. Queimaduras por radiação Por outro lado, no caso da exposição solar da criança, e embora seja indispensável para a produção de vitamina D, quando em excesso, acarreta riscos para a saúde, como as queimaduras solares, envelhecimento da pele, cancro da pele e problemas oculares. A pele das crianças é mais fina e sensível, pelo que mesmo um curto período de exposição solar ao meio-dia pode resultar em queimaduras graves. As crianças de maior risco são as de raça branca, com olhos azuis, verdes ou cinzentos, cabelo loiro, castanho claro ou ruivo. Assim, alguns dos cuidados a ter são: - evitar a exposição solar entre as 11 e as 17 horas
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- preferir a sombra, especialmente em crianças com menos de 1 ano de idade - até aos 6 meses, não leve os bebés para a praia e, até ao 1 ano, evite a sua exposição direta ao Sol - usar chapéu com abas e t-shirt seca e escura (preta, azul ou vermelho escuro) - usar óculos de sol - usar protetor solar em todas as atividades ao ar livre - beber muita água para evitar a desidratação - não esquecer que mesmo em dias enevoados há perigo de queimaduras solares, pois até 80% da radiação ultravioleta (UV) passa através das nuvens. O protetor solar mais adequado para as crianças deverá ter protecção UVA e UVB e combinar uma proteção física e química, com um fator de proteção superior a 20. O protetor deverá ser aplicado 30 minutos antes da exposição solar e reaplicado regularmente. As crianças com sinais ou manchas deverão aplicar um fator de proteção mais elevado. 3.2. Hemorragias O transporte do oxigénio é feito pelo sistema circulatório que é composto pelo sangue, coração, artérias, veias e capilares. Deste modo, quando existe saída de sangue para fora desse sistema de uma forma não controlada, diz-se que se trata de uma hemorragia. As hemorragias classificam-se de acordo com o vaso sanguíneo que foi lesado, pelo que existem os seguintes tipos: - arteriais - venosas - capilares. As hemorragias arteriais caraterizam-se pelo rompimento de uma artéria e representam a saída de sangue vermelho vivo, em “golfadas”, ou
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seja, num jato descontínuo em força, que corresponde à contração do coração. As hemorragias venosas acontecem quando uma veia sangra e estas caraterizam-se pela saída de sangue vermelho escuro, num jato contínuo. Quanto às hemorragias capilares, acontecem quando os vasos atingidos são os capilares e o sangue sai em “toalha”. Normalmente não representam perigo, são de fácil controlo e podem parar espontaneamente. Por outro lado, as hemorragias podem também classificar-se quanto à sua localização em: externas e internas. As
hemorragias
externas
são
de
fácil
localização,
estando
relacionadas com feridas e podendo ter qualquer um dos três tipos de origem, dependendo do vaso sanguíneo afetado. As hemorragias internas são de difícil reconhecimento e podem, ainda, caraterizar-se de duas formas: - hemorragias internas visíveis, quando o sangue sai por um dos orifícios naturais do corpo (nariz, ouvidos, boca, …) - hemorragias internas não visíveis, são de difícil reconhecimento, sendo a suspeita efetuada com base nos sinais e sintomas que a vítima apresenta (por exemplo: pele pálida, fria, suada, pulso rápido e fino). 3.2.1.Métodos de Controlo Nas hemorragias externas a saída de sangue pode ser controlada aplicando as seguintes técnicas: - compressão manual direta - compressão manual indireta ou à distância - garrote. A compressão manual direta implica fazer pressão diretamente sobre o local da lesão, utilizando para tal compressas limpas. No caso do volume de compressas começar a ser excessivo no controlo da hemorragia, devem remover-se as de cima e evitar remover as que contactam diretamente com a ferida para impedir que volte a sangrar.
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Embora sendo bastante eficaz, esta técnica não deve ser utilizada nas situações em que a ferida tem um objeto empalado ou está associada a uma fratura. No caso da compressão manual indireta ou à distância aplica-se quando não é possível implementar o método anterior e consiste em fazer compressão num ponto entre o coração e a lesão que sangra, ou seja, comprimindo a artéria na raíz do membro (quando assim é possível). O garrote devido às lesões que provoca, só deve ser colocado quando todas as outras técnicas de controlo de hemorragias falharam ou quando se está perante a destruição total de um membro, devendo ser implementado por alguém com conhecimentos e capacidades específicas. O material de que é feito o garrote deve ser tecido não elástico e largo. Quando se recorre ao garrote, deve registar-se a hora da sua aplicação e o seu transporte deve ser feito num saco preto com gelo e longe da vista da vítima e seus familiares. Em associação com as técnicas acima e com vista a aumentar a eficácia e rapidez do podem ser aplicadas medidas adicionais, tais como: - aplicação de frio - elevação do membro. A aplicação de frio vai fazer com que os vasos sanguíneos se contraiam reduzindo a hemorragia. A sua aplicação deve fazer-se da seguinte forma: - quando se utilizar gelo, envolvê-lo num pano limpo ou em compressas e só depois colocá-lo sobre a lesão; - fazer aplicações por períodos de tempo não superiores a 10 minutos. Na elevação do membro é utilizada a força da gravidade para reduzir a pressão que o sangue faz na zona da lesão. Na sua aplicação deve verificar-se se não existem outras lesões associadas que possam ser agravadas. No caso de uma hemorragia nasal deve inclinar-se a cabeça da criança ligeiramente para a frente e pedir-lhe, se conseguir, para comprimir
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o nariz com o dedo indicador e polegar na parte anterior durante cerca de 10 minutos, avaliando posteriormente a situação. Se não for possível estancar a hemorragia deste modo, pode recorrer-se à compressão direta com compressas e se mesmo assim sem sucesso, ligar 112. No caso das hemorragias internas os cuidados devem englobar: - não deixar a vítima efetuar qualquer movimento; - se o sangue sai pelos ouvidos, colocar somente uma compressa para embeber sem fazer pressão; - aplicar frio sobre a zona da lesão; - manter a vítima quente; - ligar 112 e informar; - manter vigilância da vítima. Para evitar situações que possam levar à ocorrência de hemorragias acidentais na criança, com feridas (cortes na pele) podem seguir-se algumas destas precauções: - retirar ou forrar móveis baixos com cantos pontiagudos; - manter facas, tesouras, canivetes e outros objetos afiados fora do alcance da criança; - orientar o uso adequado de copos e pratos. Não permitir que a criança circule com eles nas mãos; - substituir o vidro em mesas e prateleiras; - cuidado com madeiras com pregos, usar sapatos com sola de borracha quando próximas destes materiais; - atenção especial em praias/ parques sujos, com a presença de garrafas, latas, ... 3.3. Traumatologia: abordagem à criança vítima de trauma Um trauma ocorre quando o corpo é forçado a receber subitamente uma energia de movimento, elétrica ou por calor, sendo o mais frequente
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aquele em que o corpo absorve uma determinada energia cinética, ou seja, a energia mecânica inerente aos corpos em movimento (uma pancada, uma queda). O corpo pode receber uma certa quantidade de energia sem danos. Contudo, os tecidos moles (como no caso da pele) podem romper ou deformar
perante pequenos
traumatismos, sendo
que tecidos
mais
consistentes, como o osso, resistem a forças de maior intensidade. No caso das crianças, em específicos, os traumas associam-se mais frequentemente às quedas quando correm, saltam, brincam a subir e descer escadas, experimentando as suas novas habilidades físicas; aos acidentes desportivos, ao andar de patins, skate ou bicicleta; e, aos acidentes rodoviários. Destes acontecimentos resultam, frequentemente, lesões da pele e fraturas que podem ser de caráter ligeiro até situações com relativa gravidade, sendo que a criança pode apresentar apenas um tipo de lesão ou várias, designado-se, neste caso, por politraumatismo. Inicialmente, a prioridade no manejo da criança vítima de trauma é assegurar uma via aérea permeável (A). Em virtude do risco de lesão da coluna cervical, especialmente em crianças submetidas a movimentos de aceleração – desaceleração (como em acidentes com veículos e quedas de altura), a via aérea da criança vítima de trauma deve ser aberta pela manobra de elevação da mandíbula com estabilização manual simultânea da coluna cervical. A cabeça e o pescoço devem ser seguros firmemente em posição neutra para prevenir movimentação do pescoço, devendo-se evitar tração do pescoço. Frequentemente, o occipital proeminente da criança causa leve flexão do pescoço quando colocada em superfície plana. Para facilitar a manutenção da posição neutra, pranchas pediátricas com orifício para a cabeça podem ser utilizadas. Caso não haja disponibilidade deste tipo de prancha, um lençol dobrado pode ser colocado sob o dorso da criança a fim de elevá-lo ligeiramente, permitindo que a cabeça assuma posição neutra.
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Após abertura efetiva da via aérea com estabilização simultânea da coluna cervical, deve-se colocar colar cervical semirrígido, ajustado de modo a impedir flexão ou hiperextensão do pescoço. Caso a permeabilidade da via aérea esteja comprometida pela presença de corpos estranhos (sangue, muco, fragmentos de dentes) ou regurgitação de conteúdo gástrico, pode ter de se utilizar um equipamento para aspiração. As lesões de coluna cervical são menos frequentes em crianças do que em adultos vítimas de trauma. Entretanto, por possuírem ligamentos mais frágeis e musculatura menos desenvolvida em comparação aos adultos, as crianças podem apresentar lesão medular na ausência de fraturas. Portanto, deve-se imobilizar a coluna cervical de todas as crianças politraumatizadas ainda no local, mantendo-a imobilizada durante o transporte. Na abordagem de uma vítima de trauma é importante fazer um exame físico rigoroso para detetar qualquer alterações, como feridas, fraturas ou deformações que possam pôr em risco a vida da pessoa e que carecem de tratamento. Contudo, tratando-se de uma situação grave a abordagem da via aérea é o componente mais crítico da avaliação inicial de uma criança traumatizada. A função respiratória (B) deve ser avaliada, procurando-se estar alerta aos sinais de lesões intratorácicas, mesmo na ausência de sinais externos de
trauma
torácico,
pois,
como
possui
parede
torácica
bastante
complacente, a criança pode ter lesões intratorácicas graves na ausência de fratura de costela ou sinais externos de lesão. O suporte circulatório (C) da vítima de trauma inclui a avaliação rápida da perfusão sistémica dos tecidos e controle da hemorragia. O tipo mais comum de choque no politraumatizado é o hipovolêmico, cuja apresentação clínica se caracteriza por taquicardia, taquipneia, diminuição da pressão de pulso com pulsos finos, tempo de enchimento capilar prolongado, extremidades frias e alteração do estado mental. Neste último caso, deve ligar-se de imediato o 112, não dar nada a beber ou comer à
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criança, elevar-lhe os membros inferiores a cerca de 30º/ 45º e mantê-la aquecida com roupas, cobertor ou botija de água quente. Garantidas as condições de saúde relacionadas com o ABCD, segue-se o exame secundário (DE) da vítima à semelhança de outra situação qualquer, sendo que para as vítimas de trauma o exame físico é mais rigoroso e minucioso para que se despistem todas as possibilidades de lesão
(fraturas,
feridas,
hemorragias
que
não
tenham
sido
ainda
observadas), tendo o cuidado de proteger a coluna vertebral, mantendo-a completamente imobilizada durante a manipulação e o transporte da criança. 3.3.1.Lesões dos tecidos moles Das situações de trauma podem assim resultar lesões dos tecidos moles na criança, que assim que possível, devem ser tratados de acordo com as indicações que se seguem. Assim, as lesões dos tecidos moles são lesões da pele e dos tecidos adjacentes, sendo estas divididas essencialmente em dois grupos: - lesões fechadas - lesões abertas. As lesões fechadas são lesões internas em que a pele se mantém intacta e, normalmente, estão associadas a uma hemorragia interna. Este tipo de lesões podem ser de dois tipos: hematomas ou equimoses. Os hematomas surgem quando há rompimentos de vasos sanguíneos de calibre considerável, provocando, assim, o acumular de sangue nos tecidos que origina um inchaço doloroso de cor escura. As equimoses, por sua vez, são lesões normalmente conhecidas como nódoas negras, que ocorrem em resultado do rompimentos de capilares, levando a um acumular de sangue em pequenas quantidades nos tecidos. Nas lesões do tipo fechadas os cuidados de emergência a ter são os seguintes:
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- acalmar a vítima, dentro do posssível, falar com ela explicando o que vai ser feito; - suspeitar de outras lesões associadas, obseravando a vítima; - fazer aplicação de frio sobre o local; - imobilizar a região afetada; - procurar saber antecedentes pessoais; - ligar 112 e informar. 38 No que diz respeito às lesões abertas, estas surgem quando a integridade da pele foi atingida, sendo facilmente identificada pela existência de feridas (cortes). A existência de feridas na pele pode originar infeções e a perda de sangue pela hemorragia que normalmente lhe está associada. Dependendo do mecanismo que as originou, existem vários tipos de lesões abertas, entre os quais: - escoriação - laceração - avulção - amputação - ferida penetrante ou perfurante. A escoriação é uma lesão superficial da pele com uma pequena hemorragia, originada pelo rompimento de vasos capilares, e dolorosa. Não apresenta gravidade e é normalmente causada por abrasão. A laceração é uma lesão da pele originada normalmente por objectos afiados, podendo apresentar uma forma regular ou irregular. No entanto, também pode ser profunda e atingir vasos sanguíneos de grande calibre. A avulção surge quando existe perda completa ou incompleta de tecidos. Normalmente, envolvem os tecidos moles, podendo, no entanto, ser profundas e atingir vasos sanguíneos de grande calibre.
Já a amputação, refere-se à separação total de um membro. Este tipo de lesão é grave estando associada a hemorragias e fraturas. A actuação deve ser rápida e eficaz. As feridas penetrantes ou perfurantes são lesões
que estão
associadas a outras, como hemorragias internas e lesões de órgãos internos. De modo geral, no caso das lesões abertas deve atuar-se do seguinte modo: - acalmar a vítima, dentro do possível, falar com ela explicando o que vai ser feito; - suspeitar de outras lesões associadas; - não mover a vítima mais do que o necessário; - controlar as hemorragias; - efetuar um penso esterilizado; - estar atento aos sinais de choque; - ligar 112 e informar; - manter a vigilância da vítima. Na realização da limpeza da ferida para colocação do penso esterilizado deve dar-se preferência à utilização de soro fisiológico ou, na falta deste, água corrente em abundância e sabão de pH neutro. A promoção da limpeza da ferida é da inteira responsabilidade do socorrista, sendo obrigatório que todo o material que entra em contacto com a ferida seja esterilizado. Além disso, os movimentos de limpeza de uma ferida deverão ser dirigidos do centro para a periferia (para os bordos) impedindo o arrastamento de detritos dos tecidos circundantes contaminados para a ferida. Ou seja, a limpeza da ferida deverá ser feita da zona mais limpa para a mais conspurcada ou “suja”. Em termos de prevenção deste tipo de acidentes recomenda-se, por exemplo: - ensinar a criança a subir e a descer escadas, quando estiver pronta;
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- travar berços, mantendo as grades levantadas quando a criança estiver dentro; - usar protetores para camas grandes ou impedir que a criança fique ali sozinha, sem vigilância; - usar portões nas escadas; - manter o piso sempre seco e não encerar - usar material de proteção para andar de bicicleta, patins, skates, tais como: capacete, luvas, cotoveleiras, joelheiras, … 3.3.2. Fraturas As fraturas podem classificar-se em dois tipos : - abertas ou expostas, nos casos em que existe esposição dos topos ósseos, podendo facilmente infetar. - fechadas, situação em que a pele se encontra intacta, não se visualizando os topos ósseos. Os sinais e sintomas são diversos, mas são estes os que podem levar a suspeitar da existência de uma fratura e sempre que exista um deles deve proceder-se como se existisse, de facto, uma fratura: - dor localizada na zona do foco de fratura, normalmente é intensa e alivia após a imobilização; - perda da mobilidade, podendo, em alguns casos, existir alteração da sensibilidade; - deformação, sendo que, em alguns tipos de fraturas pode não estar presente; - edema (inchaço), aumentando de volume conforme o tempo vai passando; - exposição dos topos ósseos, no caso da fratura exposta, que não deixa dúvidas em relação à sua existência; - alteração da coloração do membro, no caso de existir compromisso da circulação sanguínea, devendo ser realizada a palpação do pulso na extremidade.
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Em relação aos cuidados de emergência a ter no manuseamento das fraturas, estes passam por: - não efetuar qualquer pressão sobre o foco de fratura; - imobilizar a fratura, mantendo o alinhamento do membro, não forçando no caso da fratura ser ao nível do ombro, cotovelo, mão, joelho e pés; - no caso de fraturas abertas, lavar a zona com soro fisiológico antes de imobilizar; - não efetuar movimentos desnecessários - não aplicar compressas de água quente, pois o calor provocará uma vasodilatação, aumentando o inchaço e o possível sangramento interno. No ato de imobilização da fratura ter em atenção: - expôr o membro, retirando roupa e calçado; - se existirem feridas, limpá-las e desinfetá-las antes de imobilizar; - se a fratura for num osso longo, alinhar o membro; - utilizar preferencialmente talas de madeira, devendo estas estar obrigatoriamente almofadadas; - no caso da fratura ocorrer numa articulação, não forçar o alinhamento, imobilizando-o, se necessário, na posição em que este se encontra; - em caso de suspeita de fratura, imobilizar sempre; - atenção: muitas vezes não se trata de uma fratura e sim de uma luxação ou de uma entorse. Só um especialista pode fazer um diagnóstico correto e indicar o tratamento adequado. Em termos de prevenção os cuidados a ter para evitar as fraturas passam por ser os mesmos que se referem às hemorragias e lesões dos tecidos moles. 3.3.3.Lesões por corrente elétrica
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Uma lesão provocada pela corrente elétrica é o dano que se verifica quando uma corrente elétrica atravessa o corpo e queima o tecido ou interfere com o funcionamento de um órgão interno. A corrente eléctrica que atravessa o corpo gera calor, podendo queimar gravemente os tecidos e destruí-los. Uma descarga elétrica pode provocar um curto-circuito nos sistemas elétricos do organismo, causando uma interrupção no funcionamento do coração (paragem cardíaca). O primeiro impulso de qualquer um quando vê alguém sofrer um choque é tentar puxá-lo. Em situação alguma se deve fazer isto sem usar meios isoladores da corrente elétrica. Outro erro comum é utilizar panos molhados ou húmidos para socorrer a vítima, a água é boa condutora da eletricidade pelo que só se aumentam os danos deste modo. As medidas de atuação passam por: - desligue a corrente elétrica da casa no botão geral do quadro elétrico e depois afaste a vítima do fio ou do aparelho elétrico - uma vez que a vítima possa ser tocada sem perigo deve avaliar-se se respira e se possui pulso - mover a vítima o necessário e com precauções - procurar ferimentos, como queimaduras e tratá-las, se possível - num choque leve, não haverá muitos problemas, ma no caso de choque grave, procure ligar o 112 de imediato e, se necessário, inicie manobras de reanimação cardiorespiratória. 3.3.4.Acidentes rodoviários Os
traumatismos,
ferimentos
e
lesões
resultantes
de
acidentes
rodoviários são a maior causa de morte e incapacidade temporária e definitiva nas crianças e jovens em quase todos os países do mundo desenvolvido, sendo que, infelizmente, Portugal não é exceção.
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Este tipo de acidentes pode ser causador de graves lesões na criança provocadas pelo choque entre o veículo com o frágil corpo da criança, tendo em consideração a sua idade e estatura bem como a violência do impacto. Normalmente, os acidentes rodoviários são situações geradoras de grande stress para os sinistrados e para os que, eventualmente, possam estar a assistir e tenham de vir a ser chamados a intervir. Contudo, esta situação requer grande serenidade na atuação, baseada em conhecimentos e capacidades específicas treinadas, sendo que, muitas vezes, o melhor pode ser não interferir quando não se sabe. Assim, as medidas de intervenção perante um acidente rodoviário com crianças passam por: - não mexer na vítima, se não houver risco de incêndio ou explosão - ligar 112 imediatamente; - caso tenha que socorrer, usar um extintor de incêndio, se possível; - manter a vítima em posição deitada, evitando que se movimente, em especial a cabeça e pescoço, estabilizando-lhe a cervical; - evitar movimentos bruscos com a vítima; - observar o corpo da vítima procurando lesões, deformações; - manter vigilância do seu estado de consciência; - iniciar manobras de reanimação cardiorespiratória, se necessário. Sem dúvida que a melhor maneira de intervenção perante estes casos de acidente, passa pela prevenção, com: - usar os assentos especiais para o carro e cintos de segurança; - menores de 12 anos devem viajar no banco traseiro; - não permitir que corram atrás de carros estacionados ou outros veículos; - segurar a mão da criança ao atravessar a rua; - não permitir que a criança brinque no carro sozinha; - o motorista não deve beber ou usar drogas antes de conduzir; - não transportar crianças em motociclos;
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- orientar as crianças quanto às regras de trânsito (atravessar rua, semáforos, …); - manter veículos em condições de uso, com freios, pneus, sinalização adequados. 3.4. Suporte Básico de Vida Pediátrico (SBV) A execução das manobras de SBV têm uma taxa de sucesso de 49% na paragem cardiorespiratória presenciada, o que contribui de uma forma significativa para a redução do número de mortes por esta causa. O seu sucesso
é
condicionado
precocemente
se
iniciar
pelo a
factor
tempo,
reanimação
ou
seja,
quanto
cardiorespiratória
mais
maior
a
probabilidade de sucesso. O algoritmo do SBV refere-se a um conjunto padronizado de ações que permitem reconhecer situações em que há perigo de vida iminente; pedir ajuda o mais rápido possível; e, iniciar de imediato as manobras que permitem manter a circulação e, consequentemente, a oxigenação do coração e cérebro até chegar ajuda diferenciada. Assim, a paragem cardiorespiratória carateriza-se pela ausência de respiração espontânea e a ausência de sinais de circulação, pelo que a abordagem de uma vítima aparentemente inconsciente nesta condição, deve cumprir determinados passos como se segue: 1) Verificar condições de segurança: - observar o local - ter em atenção ruídos que indiquem perigo - se não considerar o local seguro, retirar a vítima para outro onde possa executar as manobras de reanimação 2) Colocar a vítima em decúbito dorsal (com a barriga para cima), sobre uma superfície plana e dura, preferencialmente no chão 3) Aproximar-se da vítima, colocando um dos joelhos ao nível da região do tórax e o outro joelho ao nível da cabeça da vítima
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4) Chamar pela criança em voz alta, mas sem berrar, tocando-lhe nas mãos ou nos braços. - se a criança responder: seguir o exame ou colocar em posição lateral de segurança, se necessário ou deixar a criança adotar a posição em que se sente mais confortável - se a criança não responder: gritar por ajuda sem nunca abandonar a criança 5) Permeabilizar a via aérea: expor o tórax, observar atentamente a cavidade oral sem perder demasiado tempo nesnte momento e fazer a extensão da cabeça ou a elevação da mandíbula (conforme situação) 6) Avaliar respiração: ver, ouvir e sentir durante 10 segundos - se apresenta sinais de respiração: continue o exame, coloque em posição lateral de segurança, se necessário ou deixar a criança adotar a posição em que se sente mais confortável, ligue agora 112 e reavalie periodicamente a criança, sem nunca a abandonar - se não respira ou apresenta uma respiração ineficaz: efetue de imediato 5 insuflações e, no final, reavalie a respiração - se entretanto apresentar sinais de respiração: continue o exame, coloque em posição lateral de segurança, se necessário ou deixar a criança adotar a posição em que se sente mais confortável, ligue agora 112 e reavalie periodicamente a criança, sem nunca a abandonar - se mesmo assim não apresenta sinais de respiração: iniciar manobras de suporte básico de vida pediátrico, numa relação de 15 compressões torácicas para 2 insuflações. 10) Em crianças com idade inferior a 8 anos, o pedido de ajuda diferenciado deve ser feito sem abandonar a vítima. Deste modo, se se está sozinho
deve
efetuar-se
manobras
de
reanimação
cardiorespiratória
durante um minuto e entretanto, se não se obteve ajuda, deslocar consigo a criança, se necessário, e efetuar o pedido. Se se está com alguém deve pedir-se que liguem o 112 enquanto se efetuam as manobras de reanimação na criança.
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As compressões torácicas na criança devem ser efetuadas de acordo com: - colocar a mão no centro do tórax (outra no frontal/testa) - manter os braços esticados - efetuar uma pressão que permita baixar o tórax cerca de 1/3 da sua altura. Por seu lado, nas insuflações deve utilizar-se o insuflado manual colocando o bucal adaptado ao contrário da forma como se aplica no adulto, executar as insuflações num período de tempo correspondente a 1 segundo e com intervalos de 2 segundos para dar lugar á expiração passiva da vítima. Além disso, a sequência deve ser repetida tendo em consideração que: - se existem dois socorristas no local, um segue as manobras de Suporte Básico de Vida e o outro pede ajuda diferenciada, ligando o 112 - se o socorrista está sozinho deve completar um minuto de Suporte Básico de Vida e só depois ligar o 112. As manobras de reanimação devem ser mantidas numa relação de 15 compressões torácicas/2 insuflações até que: - a criança recupere - um médico mande parar - seja substituído - seja necessário deslocar a criança - se sinta exausto e incapaz de prosseguir
3.5. Asfixia/ Desobstrução da Via Aérea na Criança Grande parte dos casos de obstrução da via aérea em crianças ocorre por esgasgamento com corpos estranhos, como por exemplo, tampas de canetas, berlindes, peças de brinquedos, entre outros objetos de pequenas
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dimensões. Deste modo, a obstrução da via aérea mais frequente é a que ocorre por alojamento de um corpo estranho na via aérea. Por conseguinte, a vítima que se encontra consciente, vai adotar um comportamento que pode ir desde o tossir vigorosamente, quando a obstrução é parcial, até à não emissão de qualquer som, indicando que a obstrução é total. No caso da obstrução parcial, em que a criança tosse, chora e fala (se já o fizer), o socorrista não deve interferir e deve encorajar a tossir, verificando se a criança consegue compreender e responder ao seu pedido. Se a tosse se revela ineficaz deve proceder como no caso da obstrução total. No caso de a vítima não chorar, não falar, nem emitir qualquer som, mas se apresentar consciente, o socorrista deve aplicar os seguintes procedimentos: - em crianças com menos de 1 ano de idade: efetuar, de imediato, cinco pancadas com a base da mão entre as omoplatas da criança e no caso de não resultar, efetuar cinco compressões torácicas apenas com 2 dedos
sobre
o
centro
do
esterno
da
criança. Nesta
manobra
de
desobstrução da via aérea da criança é importante proteger-lhe a cabeça, visto que uma das suas dificuldades naturais nesta idade é não possuir controlo cefálico estabelecido. - em crianças com mais de 1 ano de idade: efetuar 5 pancadas com a base da mão entre as omoplatas da criança e no caso de não resultar, efetuar cinco compressões abdominais. As compressões abdominais devem ser vigorosas e para que a extremidade inferior do esterno não seja comprimida, executando-se colocando uma mão fechada em punho na linha média do abdómen, um pouco acima da cicatriz umbilical, e a outra mão a cobrir a primeira, exercendo então pressão (com força suficiente), dirigida de baixo para cima e da frente para trás.
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Em vítimas conscientes, esta manobra é executada com o doente de pé, ficando o socorrista que a executa por trás, sendo que algumas situações para se ficar ao nível da criança, pode ser necessário o socorrista colocar com um joelho em terra ao posicionar-se atrás da criança. Em crianças inconscientes a obstrução da via aérea deve tratar-se iniciando de imediato manobras de SBV, tendo em especial atenção a vigilância da via aérea, observando a cavidade oral entre cada insuflação. Além disso, Eem caso de vómito, manter a cabeça da criança lateralizada, isto é, virada para um dos lados, evitando que a criança engula o vómito e este vá para o pulmão (aspiração do vómito). Em termos de prevenção alguns dos cuidados a implementar podem ser: - retirar os móbiles e pequenas peças de brinquedos que possam ser engolidos. - não manter fios ou cordões perto do berço. - não permitir que a criança brinque com sacos ou plásticos, balões e talcos. - evitar alimentos que possam asfixiar (salsichas, amendoim, pipoca, balas duras, gomas, chicletes, frutas e vegetais duros) - cortar os alimentos em pedaços pequenos e alimentar com cuidado - retirar do alcance: botões, moedas, alfinetes, pregos, parafusos,… - virar a criança de lado quando estiver a vomitar - evitar roupas com cordões no pescoço. 3.6. Intoxicação Na Europa, 2% das mortes por acidente, em crianças até aos 14 anos, dão-se por intoxicações. As crianças são muito ágeis e fazem muito mais do que imaginamos; chegar até uma bancada da cozinha ou abrir um armário, são pequenos passos. Bastam alguns segundos para a criança abrir uma gaveta, retirar uma tampa, cheirar e provar. Por mais vigilantes que
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sejamos, a criança pode escapar por segundos à atenção de qualquer adulto. Em Portugal, ainda que os casos de morte sejam cada vez mais raros, continuam a verificar-se situações de elevada morbilidade com reflexos para toda uma vida. Em relação ao modo de atuação de emergência o que pode ser feito passa por: - contatar de imediato o Centro de Informações AntiVenenos através do 808 250 143 e seguir as indicações dadas, permite uma intervenção rápida e adequada, relativamente aos procedimentos correctos a ter, em função do produto tóxico - não fazer a criança vomitar, se não souber do que se trata (materiais corrosivos queimam quando vomitados) - manter a criança deitada, limitando os movimentos - procurar ajuda médica especializada, se necessário, levando a embalagem do produto químico, remédio ou planta. De qualquer forma, a melhor intervenção será a prevenção com medidas como: - lavar as frutas e verduras, antes de oferecer às crianças. - comprar medicamentos com tampa de segurança. - manter medicamentos em armários trancados. - não transferir substâncias tóxicas para garrafas, vidros ou potes. - colocar os detergentes e produtos de limpeza fora do alcance das crianças. - produtos químicos e substâncias perigosas devem ser guardados em armários trancados e separados de bebidas e alimentos. Ao comprá-los, dar preferência por marcas com lacre de segurança. - retirar crianças de ambientes com tintas, colas, vernizes, … - orientar as crianças contra o uso de drogas. 3.7.
Convulsão
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A convulsão corresponde a uma alteração neurológica com várias causas, sendo as mais frequentes a epilepsia e a febre, nas crianças. As crises convulsivas provocam movimentos musculares involuntários e exuberantes e são, normalmente, de curta duração, desenvolvendo-se em cerca de 1 a 2 minutos. No processo de desenvolvimento da convulsão podem observar-se três fases distintas:
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1) Antes da convulsão: vítima fica, normalmente, parada, ausente, com um ranger de dentes, alguns referem sentir um cheiro ou ver luzes coloridas 2) Normalmente, cai subitamente, cerrando os dentes com força e mexendo-se descontroladamente 3) A crise termina e a vítima apresenta-se inconsciente, recuperando lentamente a consciência, normalmente está confuso e agitado e não sabe o que aconteceu. As principais características do problema são cabeça rígida, olhos revirados
e
movimentos
descontrolados
do
corpo
da
criança.
Por
conseguinte, deve observar-se a respiração e virar a cabeça da criança para o lado, caso haja líquidos na boca. Se ela usar aparelho ortodóntico móvel, retire-o rapidamente. A causa da convulsão pode ser uma febre muito alta. Assim, deve tentar diminuir-se a temperatura corporal da criança, fazendo uso de toalhas humedecidas em água fria na testa, axilas e virilhas. Assim, numa fase de pré-crise: - deitar a vítima - afastar objetos em redor da vítima Durante a crise convulsiva: - manter a calma - não segurar a vítima nem tentar prender os seus movimentos - não colocar nada na boca da vítima
- proteger a cabeça da vítima e afastar objetos - esperar que passe Fase pós-crise: - colocar a vítima em PLS, se necessário - avaliar sinais vitais - ligar 112 e informar 38
4. A MALA DE PRIMEIROS SOCORROS A Mala de Primeiros Socorros é algo da máxima importância quando se trabalha com crianças podendo ser necessária uma intervenção rápida de emergência, baseada em gestos simples de assistência. A caixa de primeiros socorros deve estar sempre completa e acessível, pelo que deve ser revista regularmente, com vista à substituição do material inutilizável e para reposição de outro que foi sendo gasto. É importante que a caixa de primeiros socorros seja portátil, para facilitar o apoio. Deve ser um cuidado a ter em linha de conta o bom estado de conservação e a data de validade dos elementos constantes na mala, caso contrário
podem
vir
a
ocorrer
alguns
riscos
na
sua
aplicação
(completamente desnecessários). Numa primeira fase deve conter apenas aquilo que é necessário e essencial para uma primeira intervenção, deve ser guardada em local
visível, fresco, seco, arejado e com pouca luz. Guardá-la num sítio fechado, húmido e sem luz facilita o aparecimento de bolores. A mala que é pensada para ser transportada deve conter apenas o necessário, por questões de logística e pelo próprio peso; a que se guarda na sede de uma instituição poderá ser mais completa. Se existirem medicamentos, devemos sempre guardar o folheto explicativo e a respetiva referência à validade do medicamento. A administração de remédios, sejam quais for, nunca é isenta de riscos e se necessário ou possível deve procurar-se um conselho prévio. Deste modo, seguem-se os seguintes passos na elaboração do kit de primeiros socorros :
1) Ter sempre instrumentos como: - tesoura; - pinça; - termómetro; - luvas descartáveis. 2) Não esquecer dos itens para curativos: - gazes ou compressas limpas e esterilizadas; - ligaduras e adesivo ; - pensos rápidos com diferentes tamanhos; - soro fisiológico, em unidoses - betadine 3) Adicione alguns medicamentos como: - analgésico ou antinflamatório oral, para alívio da dor e da febre (exemplo: ben-u-ron e brufen); - pomada para nódoas negras (exemplo: thrombocid, hirudoid) - pomada cicatrizante (exemplo: halibut, biafine)
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- creme antihistamínico para picadas de insetos e alergias (exemplo: fenistil) - antidiarréico (exemplo: imodium) e antiemético (exemplo: motilium) Na utilização de qualquer medicamento deve, obrigatoriamente, verificar-se o prazo de validade e ler o folheto informativo antes da administração: indicações, dose a administrar e efeitos secundários, ficando atento à sua ocorrência. 38 4) Pode ter também: -
bolsa de água quente;
-
bolsa com gelo;
-
repelente de insetos;
-
cotonetes
-
talas
-
garrote
-
números de contacto de emergência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - ABRAMOVICI, Sulim; WAKSMAN, Renata – Abordagem à Criança Vítima de Trauma. Documento Científico do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente: Sociedade Brasileira de Pediatria; - AUTORIDADE NACIONAL DE PROTEÇÃO CIVIL; CORPO NACIONAL DE ESCUTAS - A Mala de Primeiros Socorros: 2010;
- GUIA PARA PRIMEIROS SOCORROS – Nexcare 3M; - MINISTÉRIO DA SAÚDE - Acidentes na Criança e no Jovem. Serviço de Pediatria: Hospital do Espírito Santo, E.P.E, Évora; - PANZERI CARLOTTI, Ana Paula de Carvalho – Ressuscitação no Trauma. Simpósio: Emergências Pediátricas: 2012; -
PARENTALIDADE:
Apontamentos
Teóricos.
Escola
Superior
de
Enfermagem: 2010; - WELL’S SAÚDE – O que precisa na sua Mala de Primeiros Socorros; - SOUSA, Paula Cristina – Parentalidade: Conhecimento dos pais sobre desenvolvimento infantil. Escola Superior de Enfermagem do Porto: 2010.
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