Tonet, Ivo. Método Cientifíco. Uma abordagem ontológica. 1a edição, Instituto Lukács. São Paulo, 2013. A obra, escrita or Tonet, busca !a"er u#a re!le$ão re!le$ão sobre o #%todo cient&!ico cient&!ico #oderno, usado co#o re'ra ela acade#ia e discorrer sobre o #%todo ontol('ico, ara #el)or con)ecer a realidade social.
A metodologia científica tradicional – moderna – não começa esclarecendo es clarecendo que a problemática do conhecimento pode ser aborda- da de dois pontos de vista: gnosiológico ou ontológico. bviamente! ela não esclarece porque! para ela! não e"istem e"istem dois caminhos! caminhos! mas apenas um. #la parte simplesmente simplesmente do pressuposto pressuposto de que a abordagem apresentada $ a %nica correta. &o mesmo modo! tamb$m não e"plicita o fato de que essa abordagem tem um caráter gnosiológico. #sse caminho carece de 'ustificação. (ua apresentação $ sua própria 'ustificação. p.)* falseamento gerado pela abordagem gnosiológica tamb$m resulta do fato de que ela escamoteia o fato de que todo tratamento de qualquer fen+meno social e! por conseguinte! tamb$m da problemática do conhecimento! tem como pressuposto uma determinada ontologia! isto $! uma concepção pr$via do que se'a a realidade.p.)* ,omo se sabe! gnosiologia $ o estudo da problemática do conhecimento. esse caso! portanto! o conhecimento $ o ob'eto a ser estudado! assim como poderia ser qualquer outro ob'eto. &este modo! o próprio conhecimento gnosis! em grego/ pode ser abordado de um ponto de vista gnosiológico ou de um ponto de vista ontológico. p.)0 1or sua ve2! a ontologia $ o estudo do ser! isto $! a apreensão das determinaç3es mais gerais e essenciais daquilo que e"iste. A ontologia poder ter um caráter geral! quando se refere a todo e qualquer e"istente ou um caráter particular! quando di2 respeito a uma esfera determinada do ser! como! por e"emplo! o ser natural ou o ser social. p.)0 #nfati2a-se! neste caso! não só o caráter ativo do su'eito no processo de conhecimento! mas especialmente! o fato de que $ ele que constrói teoricamente/ o ob'eto. su'eito $ o polo regente do processo de conhecimento. 4 ele que colhe os dados! classifica! ordena! organi2a! estabelece as relaç3es entre eles e! desse modo! di2 o que o ob'eto $. p.)5 Ainda independente de ser uma ontologia de caráter metafísico ou histórico-social! histórico-social! o ponto de vista ontológico implica a subordinação do su'eito ao ob'eto! vale di2er que! no processo de conhecimento! o elemento central $ o ob'eto. Neste sentido, não cabe ao sujeito criar – teoricamente – o objeto, mas traduzir, sob a forma de conceitos, a realidade do próprio objeto. p.)6
osso pressuposto mais geral $ que as classes sociais são o su'eito fundamental – não o %nico – tanto da história quanto do conhecimento.p.)7 8eferimo-nos! obviamente! ao período da história no qual e"istem classes sociais. &urante todo o tempo em que não e"istiram! isto $! durante os milhares de anos da humanidade como comunida- de primitiva! não houve uma refle"ão e"plícita e sist sistem emat ati2 i2ad ada a sobre sobre a prob proble lemá mátitica ca do conh conheci ecime ment nto. o. 9avi 9avia a cert certam amen ente te conhecimento! mas não uma refle"ão sobre ele. p.)7 ,omo se sabe! classes sociais são grandes grupos de indivíduos! cu'a origem está no processo de produção e apropriação da rique2a. ,ada um desses grupos tem in%meros e variados interesses! que não são comuns a todos os seus memb membros ros.. Algu Alguns ns!! por$m por$m!! bási básico cos! s! são são comun comunss a todo todoss os indi indiví vídu duos os que que comp3em cada um daqueles grupos. 1or isso! em todos os modos de produção encontramos duas classes fundamentais: a daqueles que produ2em a rique2a e a daqueles que são proprietários dos meios de produção e se apropriam da maior parte da rique2a produ2ida. #ntre essas duas classes e"istem outras! que não produ2em a rique2a material! mas se apropriam de parte dela e! por isso mesmo são! do ponto de vista estrutural! menos importantes. p. ) 1or isso! tamb$m no ;mbito do conhecimento! podemos afirmar que o su'eito fundamental fundamental são as classes classes sociais. (ão elas que! pela sua nature2a nature2a fundada no processo de produção! p3em determinadas e"ig ão só a burguesia! mas tamb$m o proletariado apresenta um pro'eto histórico para toda a humanidade. ra! a implementação de um pro'eto p ro'eto histórico h istórico implica a elaboração de uma concepção de mundo que o 'ustifique e que mostre a sua superioridade em relação ? classe concorrente. @oda classe que pode e quer reali2ar o seu pro'eto histórico tem que dar origem a uma concepção de mundo adequada para alcançar esse ob'etivo. p. ) pro'eto burgu
própria nature2a! a superação de toda forma de e"ploração do homem pelo homem e a possibilidade de plena reali2ação humana de todos os indivíduos. 4! pois! um pro'eto de caráter essencialmente universal. p. )C 9omemDmáquinaDinteligencia artificial/ &a nature2a do trabalho se segue que ele não só produ2 os bens materiais! isto $! arealidade ob'etiva! mas tamb$m os próprios seres humanos! isto $ a realidade sub'etiva. Ao transformar a nature2a! os homens tamb$m se transformam a si mesmos. #videntemente! o mundo não $ constituído apenas pelo trabalho! mas tamb$m por muitas outras dimens3es. @odas elas! por$m! embora tenham uma especificidade própria e uma autonomia – relativa – tem sua rai2 no trabalho. p. 00 ,omo a ess caminho para o conhecimento! isto $! o m$todo! significava e"atamente esse percurso que a ra2ão! norteada pela lógica! devia percorrer para! superando os obstáculos da apar O padrão moderno: centralidade da subjetividade
este processo! a nature2a da rique2a produ2ida tamb$m vai mudando de caráter! pois o ob'etivo prioritário a que se destina 'á não $ o valor de uso! mas o valor de troca. &este modo! todo o processo de produção estará voltado para a criação de mercadorias e terá como finalidade %ltima a acumulação de capital. p.5* #sta coisificação das relaç3es sociais mascara os fen+menos sociais! ocultando o seu verdadeiro caráter. Eeremos! mais adiante! as enormes consequ. #ste processo imprime ?s relaç3es sociais um caráter de naturalidade! como se fossem relaç3es entre coisas! regidas por leis de caráter natural! e não entre pessoas humanas. #sta coisifcação das relaç3es sociais mascara os fen+menos sociais! ocultando o seu verdadeiro caráter. Eeremos! mais adiante! as enormes consequ
(e acompanharmos a tra'etória da humanidade desde os seus primórdios! veremos que a constituição do ser social tanto $ o processo de afastamento do homem da nature2a! tornando-se ele cada ve2 mais social! quanto o distanciamento – sempre relativo! obviamente! - entre o ser humano singular e a comunidade. #sse distanciamento implica tanto o movimento de comple"ifcação da comunidade como do ser humano singular. (ociedades mais comple"as e"igem indivíduos mais comple"os e vice-versa. p. 50 a esteira de Far"! pensamos que não nascemos indivíduos humanos! mas nos tornamos indivíduos humanos. =sto porque! diferentemente dos animais! o ser social $ composto de dois momentos! de igual estatuto ontológico: o momento da singularidade e o momento da universalidade! o indivíduo e o g
como resultado da atividade humana. 4 o momento em que surge a ideia de história e a consci
,omo se sabe! o conhecimento não $ um fim em si mesmo! mas uma mediação para a intervenção sobre o mundo! tanto natural quanto social. #ntão! quem estabelece! no sentido ontológico! os ob'etivos do conhecimento $ o mundo social/! especialmente a partir da sua base material. mundo da comunidade primitiva! a partir do trabalho de coleta! p3e determinadas demandas para o conhecimento. &o mesmo modo! o mundo fundado no trabalho escravo! no trabalho servil e no trabalho proletário. s indivíduos tradu2em! direta ou indiretamente! as possibilidades postas pelo mundo. ra! o ob'etivo primordial posto pela matri2 desse novo mundo! que $ essa nova forma de produ2ir a rique2a material – capitalista – $ a produção das coisas como mercadorias de forma a gerar lucros. p. 57 A produção de mercadorias implica! por sua ve2! a transformação da nature2a. o entanto! essa transformação ganha uma forma particular no capitalismo. Ao contrário do escravismo e do feudalismo! onde as classes dominantes apenas usufruíam da produção sem se ocuparem diretamente dela! no capitalismo! tamb$m a burguesia! embora não contribua para a produção da rique2a material! tem em suas mãos o controle direto do processo produtivo! portanto! $ uma classe ativa e não meramente dissipadora de rique2a. p.57 conhecimento científco vai se tornando uma condição cada ve2 mais importante para a e"pansão da base material dessa nova forma de sociabilidade. 1or isso mesmo! o conhecimento da nature2a! das suas leis imanentes! reais! impunha-se como a principal tarefa e tornava-se uma necessidade inescapável. p.5 A construção deste novo padrão de cientifcidade implicava! por$m! a crítica do paradigma greco-medieval. (egundo os modernos! aquela forma de produ2ir conhecimento não poderia! de fato! produ2ir conhecimento verdadeiro! uma ve2 que seus resultados não eram passíveis de verifcação. p.5 Lualquer conhecimento que se pretenda verdadeiro tem que passar pelo crivo da e"perimentação e da verifcação empírica! do contrário não passará de uma opinião.p.5
#ste conhecimento! por$m! ao contrário do caráter contemplativo e $ticoDpolítico ou religioso do conhecimento greco-medieval tinha! agora! um caráter eminentemente ativo e prático. #stava voltado para a transformação da nature2a com o intuito de dominá-la e de colocá-la a serviço dos interesses humanos. 1or isso mesmo! ele não poderia estar direcionado ? bus ca da ess
Razão e sentidos: 1artindo-se dessas verdades! adquiridas por via puramente racional! $ possível! com rigoroso cuidado! tamb$m produ2ir um conhecimento que tenha por base os dados empíricos. importante! por$m! $ que esses dados empíricos sempre este'am sob o controle da ra2ão de modo a evitar os enganos que eles possam produ2ir. racionalismo! contudo! tamb$m concorda que sem os dados empíricos não $ possível produ2ir conhecimento verdadeiro. p. 5 1osição oposta ocupa a tradição empirista C. (egundo esta! todo conhecimento procede dos sentidos. #stes! em si mesmos! nunca levam ao engano. #les simplesmente recolhem elementos da realidade. #les podem indu2ir ao engano quando seu trabalho $ difcultado por preconceitos e por ideias e costumes tradicionais. u! então! quando a ra2ão se afasta dos dados empíricos e pretende tirar conclus3es que não estão baseadas neles. Aí! sim! acontece o enga conhecimento! para ser verdadeiro! tem que partir dos dados empíricos e nunca ir para al$m deles. p.5C #stá claro! para todos eles! embora em graus diferentes! que o m$todo especulativo tradicional não podia ser o caminho para a produção de conhecimento verdadeiro. =sto porque ele supunha que seria possível produ2ir esse conhecimento por via puramente racional! isto $! prescindindo de qualquer base empírica. p. 5C MKá vimos que as transformaç3es acontecidas com a emerg
possível produ2ir conhecimento verdadeiro. 1or isso mesmo! concorda tamb$m com a ideia de que o m$todo especulativo tradicional não $ o caminho adequado para produ2ir conhecimento científico. p. 6* O...P e categorias do entendimento – quantidade! qualidade! relação! totalidade! causa! etc. @odas essas características não prov
Resumamos, para precisar, os elementos fundamentais desse novo paradigma de cientificidade moderno. A ciência moderna nasce sob o impulso de uma nova forma de sociabilidade, cuja matriz fundamental o capital. !ão as e"igências da acumula#ão do capital, nas suas mais variadas formas, $ue imprimirão o impulso fundamental para a elabora#ão desse novo padrão de con%ecimento cient&fco. p.'' 1or isso mesmo! o ob'etivo central desse novo padrão de conhecimento 'á não será mais $tico-políticoDreligioso! como nos casos grego e medieval! mas pragmáticoDutilitário. ,omo dei"am muito claro tanto Jacon como &escartes! o conhecimento deve ser um instrumento para dominar a nature2a e colocá-la a serviço da humanidade.p.66
(or$ue absolutamente claro $ue $uem produz con%ecimento o indiv&duo singular. )le pode at trabal%ar coletivamente, porm a responsabilidade *ltima da produ#ão do con%ecimento recai sobre o indiv&duo singular. +sso não poderia ser diferente, uma vez $ue, o indiv&duo singular visto como o componente *ltimo e irredut&vel dessa forma de sociabilidade. ,omo se sabe! o indivíduo singular! nessa concepção! precede ontologicamente a sociedade! isto $! o que o defne essencialmente como ser humano – a igualdade! a racionalidade! a liberdade e o auto-centramento egoísmo/ – $ ontologicamente anterior ao seu relacionamento com outros indivíduos. &isso resulta que a sociedade $ o resultado das relaç3es que esses indivíduos – ontologicamente anteriores a ela – estabelecem entre si. =sso fa2 com que a relação entre indivíduo singular/ e sociedade universal/ se reali2e sem que as mediaç3es particulares diversos grupos sociais/ tenham um peso signifcativo. #m particular! essa forma de conceber a relação entreindivíduo e sociedade cancela uma das mediaç3es reais mais importantes e decisivas: as classes sociais. indivíduo pode at$ pertencer a alguma classe social! mas isso não interfere de forma substancial na produção do conhecimento. A racionalidade $ uma qualidade inata! ou se'a! uma qualidade da qual todos são portadores por nascimento. esse sentido! a ra2ão $ uma faculdade trans-histórica. @odos os homens são portadores dela. Apenas fa2em uso diferente em momentos históricos diferentes. 1or isso mesmo! quem produ2 o conhecimento $ o indivíduo singular! sendo as suas qualidades sub'etivas as responsáveis %ltimas por aquilo que $ efetivado. p. 67 a perspectiva ontológica! 'á vimos! há uma articulação entre su'eito coletivo as classes sociais/ e su'eito singular indivíduos/! sendo o primeiro o elemento fundamental. p. 67 1or isso mesmo! somos nós que construímos! teoricamente! o ob'eto. 1assando
por cima do debate travado entre os vários tipos de empirismo e os seus críticos! poderíamos di2er que o percurso geral $ este: elaboração de hipóteses um livre desenvolvimento do espírito/! colheita de dados empíricos! organi2ação! classifcação! análise e elaboração de uma teoria e"plicativa como coroamento de todo este processo. ,omo consequ
)m terceiro lugar, e agora considerando o processo propriamente dito do con%ecimento, ou seja, a sua efetiva#ão concreta, temos a regência do sujeito sobre o objeto nesse processo a construção do ob'eto pelo su'eitoB o predomínio do formalismoB a defnição de verdade não como adequação! correspond &a nature2a do su'eito – indivíduo singular e suas consequ (e os dados empíricos são o componente %ltimo e irredutível da realidade não há como fugir da necessidade de classifcá-los! ordená-los! relacioná-los e e"trair deles as regularidades que e"pressarão as leis que os regem. ra! somente o su'eito pode fa2er essas operaç3es. (omente ele pode estabelecer uma ordem no caos
dos dados empíricos. &esse modo! a ordem que será e"pressa pela teoria fnalmente elaborada não será – porque nãopode ser – a ordem efetivamente e"istente no mundo real! mas o ordenamento construído pelo su'eito a partir do trabalho sobre os dados empíricos. p. 6> &o mesmo modo! os crit$rios de verdade deverão ser – e serão – o rigor metodológico o cuidado na e"ecução dos passos e"igidos pelo m$todo! a vigil;ncia quanto ? intervenção de elementos estranhos ao conhecimento/ e a intersub'etividade. rigor metodológico e"pressa o formalismo que caracteri2a o m$todo científco moderno! pois $ unicamente a forma e não o conte%do que garante – na medida em que pode garantir – o sucesso do conhecimento. 1or sua ve2! a intersub'etividade! ou se'a! o debate entre os cientistas $ a maneira de tentar escapar do relativismo! consequ Origem, naturea e fun!ão social das ci"ncias sociais
o entanto! a preocupação com o conhecimento científco da realidade social vem de mais longe! impulsionado! como foi! por todas aquelas transformaç3es do mundo que se reali2avam ainda no interior do modo de produção feudal e que tinham por base o processo de produção e de acumulação do capital. 1oderíamos! assim! di2er que há dois grandes períodos na confguração do conhecimento moderno a respeito da realidade social. Qm primeiro! que vai do s$culo RE= ao s$culo R=R e um segundo! do s$culo R=R aos nossos dias. p. 6 4 um momento de ascensão da burguesia e! para ela! $ fundamental afrmar a possibilidade de conhecer não só a realidade natural! mas tamb$m a realidade social! uma ve2 que seu interesse está voltado para a transformação das duas. @amb$m $ do interesse da burguesia ascendente! por$m! afrmar a historicidade da realidade social! pois a ordem social da qual $ portadora conIita radicalmente com a sociabilidade feudal. A organi2ação da sociedade em novos moldes implica a defesa da ideia de que a realidade social pode ser transformada pelos homens! adequando-a ao que se acreditava ser a verdadeira nature2a humana recentemente descoberta. p. 6 ,onsiderando! pois! que a luta de classes se travava entre a burguesia e a nobre2a feudal! ? primeira interessava de modo especial a busca da verdade – que caracteri2a o verdadeiro conhecimento. Eale! por$m! observar que não se trata da busca de uma verdade abstrata! mas histórica e socialmente posta. @endo em vista que a burguesia! por sua própria nature2a! $ uma classe cu'os interesses são essencialmente particulares! a verdade a cu'a busca ela impulsiona tamb$m será marcada! de alguma forma! por esse caráter de particularidade. p. 6C
@udo que era sólido e estável se dissolve no ar! tudo o que era sagrado $ profanado e os homens são enfm obrigados a encarar! sem ilus3es! a sua posição social e as suas relaç3es recíprocas. Fanifesto do 1artido ,omunista )CC! p. / p. 7* 1or outro lado! tamb$m gerou a ideia de que a sociedade $ semelhante a um organismo biológico! no qual cada parte tem a sua função imutável. &o bom desempenho da função de cada parte dependeria o bom funcionamento de todo o organismo. &aí a ideia! tamb$m! de que os problemas sociais são disfunç3es! doenças! defeitos que devem ser sanados para que o con'unto possa funcionar de forma equilibrada. &urSheim/ p. 7) 1or sua ve2! a 8evolução Trancesa! ao culminar na derrocada da velha ordem feudal! signifcava a transformação da burguesia em classe dominante não apenas do ponto de vista econ+mico! mas tamb$m político e ideológico! algo de fundamental import;ncia para o pleno Iorescimento da nova ordem social. p. 7) lema Gordem e progressoH resume perfeitamente esse modo de ver. #sse lema! por$m! dei"ava bem claro que se tratava não apenas de progresso num sentido gen$rico! mas de progresso dentro da nova ordem que resultara da revolução burguesa. positivismo/. p. 7) ,ontudo! esse mesmo ato de compra e venda de força de trabalho! ao ocultar a e"ploração que está embutida nele! termina por imprimir ?s relaç3es sociais um caráter de naturalidade. p. 70
)sse con%ecimento implicaria, de modo especial, a presen#a de duas categorias – totalidade e essência – $ue foram postas de lado na constru#ão da cientifcidade moderna. -oi o camin%o tomado pela constru#ão da cientifcidade moderna, por uma e"igência social, isto do mundo moderno, como vimos antes, $ue levou ao abandono dessas categorias. p. / Eale acentuar! portanto! que não se trata! de modo algum! de estabelecer uma contraposição entre a perspectiva da burguesia e a do proletariado como se a primeira fosse o universo da falsidade e a segunda! o da verdade. @rata-se! antes! do grau de verdade possível! segundo os interesses de cada classe. p. 75 #sse nível não pode interessar ? burguesia porque permite desvendar os mecanismos essenciais da produção e reprodução da forma atual da sociabilidade! marcada pela e"ploração do homem pelo homem! pela desigualdade social! com todas as suas consequ
nesse momento da realidade social! pois só assim pode instrumentali2ar-se para uma intervenção que transforme radicalmente a forma atual da sociabilidade. p. 76 ra! são! de modo especial! as categorias da totalidade e da ess
A mercadoria $ misteriosa simplesmente por encobrir as características sociais do próprio trabalho dos homens! apresentando-as como características materiais e propriedades sociais inerentes aos produtos do trabalhoB por ocultar! portanto! a relação social entre os trabalhos individuais dos produtores e o trabalho total! ao reIeti-la como relação social e"istente! ? margem deles! entre os produtos do seu
próprio trabalho. *+ar$, 1-, . /1 . / &e outro lado! porque estando a luta da burguesia centrada no combate ? nobre2a feudal e não ao proletariado ainda praticamente ine"istente/! o processo de produção típico do capitalismo podia ser e"posto teoricamente sem causar grandes problemas. ,ertamente! pelos próprios pres supostos da teoria burguesa! essa compreensão da realidade social não poderia alcançar a sua ess
na despreocupação com uma fundamentação rigorosaB na utili2ação de conceitos – como! por e"emplo! modernidade! ra2ão! crítica! cidadania! democracia! pluralismo! socialismo e outros – de forma pouco criteriosa! como se fossem dotados de sentido óbvio.p. )
2e outro lado, mesmo $uando %3 seriedade e rigor, mesmo $uando %3 empen%o na defesa da razão e da atividade %umana, a rejei#ão da perspectiva %istórico4ontológica, $ue compreende tanto a realidade objetiva como o con%ecimento como resultados da pr3"is %umana, resulta ou na intensifca#ão do rigor formal ou na ênfase na vontade, sem abalar, de modo algum, o pressuposto fundamental da centralidade do sujeito. &este modo! o discurso rigoroso! apoiado apenas em si mesmo! passa a ter a e"clusiva responsabilidade de resolver os problemas teóricos e ?s diversas inst;ncias da sub'etividade! especialmente ? política! $ atribuída a tarefa de reger a ação prática. &isto resulta! em resumo! uma sempre maior afrmação da incapacidade do homem de compreender a realidade como totalidade e! por consequ
estabelecidos. o entanto! esses crit$rios não brotam simplesmente da interioridade pura do su'eito! pois ele mesmo 'á está confgurado a partir de uma determinada realidade social ob'etiva. que signifca di2er que! embora o su'eito possa ignorar! esses crit$rios não são de modo nenhum neutros. #les 'á são portadores de determinados valores particulares.p. 5 O padrão mar%iano Origem &istórico'social, naturea e fun!ão social
,omo nos outros dois casos! tamb$m a abordagem mar"iana do m$todo está inserida numa concepção de mundo mais ampla. 4 por isso que! tamb$m aqui! devemos proceder segundo aquele princípio de que a razão do mundo $ a ra2ão do mundo. Juscaremos! assim! a g
(omente com a entrada do proletariado em cena o conhecimento da realidade social encontra seu cumprimento: com o ponto de vista de classe do proletariado emerge uma perspectiva a partir da qual a totalidade da sociedade tornase visível. que surgiu com o materialismo histórico foi! ao mesmo tempo! a teoria Gdas condiç3es da libertação do proletariadoH e a teoria da realidade do processo total do desenvolvimento histórico! precisamente porque! para o proletariado! isto $ uma necessidade vital! uma questão de vida ou de morte – a questão de alcançar a visão mais perfeitamente clara da sua situação de classe. WuSács! )CC0. p. )0. p. > &este modo! a elaboração de uma ontologia do ser social não $ uma invenção de Far"B não $ um construto meramente teórico. ,ertamente $ uma construção teórica! mas! muito antes disso! $ uma tradução ideativa! demandada pela classe trabalhadora! de uma realidade efetivamente e"istente. p. A classe trabalhadora! pela sua nature2a! oriunda do processo de produção! $ que p3e essas demandas. Far" $ a principal figura individual que encabeça a efetivação teórica dessa necessidade. 1or isso mesmo nos parece 'usta a afrmação de que Far" lança os fundamentos de uma concepção radicalmente nova de mundo e! consequentemente! tamb$m de fa2er ci* (aturea do método Ontologia e método: $uest)es introdutórias
@otalmente ao contrário dos pensadores modernos! seu pensamento não se instaura como uma gnosiologia! mas como uma ontologia. =sto porque ele compreende que as quest3es relativas ao conhecimento só podem ser resolvidas após a elaboração de uma teoria geral do ser social! vale di2er! de uma ontologia do ser social. #ssa ontologia do ser social! cu'os lineamentos fundamentais podem ser encontrados nas obras de 'uventude – especialmente nos Fanuscritos econ+mico-flosófcos! em 1ara a questão 'udaica! em A sagrada família e em A ideologia alemã! – está suposta em toda a obra posterior de Far"! que terá um cunho mais acentuadamente científco. 1or isso mesmo! para ele! não há um
m$todo que possa ser apreendido previamente ao ato do conhecimento veremos mais adiante a ra2ão disso/. p. >) @ende-se! assim! a enveredar por um caminho – gnosiológico – que $ o e"ato oposto daquele proposto por Far"! ou se'a! a entender o m$todo apenas como m$todo. =gnora-se que! para Far"! a pergunta relativa ao modo como se conhece a realidade vem precedida por uma outra referente ? questãoB o que $ a realidade e que a resposta a essa segunda questão está suposta! mas não posta em ,apital! porque foi respondida em obras anteriores. p. >0 ,omo 'á pudemos perceber! na perspectiva moderna! de caráter gnosiológico! a resolução das quest3es relativas ao conhecimento $ feita atrav$s do auto-e"ame da ra2ão. A ra2ão se e"amina a si mesma e decide! inteiramente isolada do con'unto da sociabilidade! o que ela pode ou não pode fa2er e como deve proceder para efetivar o conhecimento científco. #la própria estabelece os seus limites! as suas possibilidades e os seus necessários procedimentos. p. >0 ão meramente como um conceito gnosiológico! mas como uma categoria ontológica! um produto da própria realidade madura da sociabilidade! produ2ida pelo capitalismo maduro. A prá"is! como veremos mais adiante! $ e"atamente o conceito que tradu2 a forma como se articulam sub'etividade e ob'etividade! sob a reg5 &e um lado! porque os mesmos pressupostos que haviam fundado a centralidade da sub'etividade! que tinha como ei"o o indivíduo singular – especialmente a divisão social do trabalho manual versus intelectual/ e a compra-e-venda de força de trabalho – continuaram a parametrar o campo no interior do qual se davam os debates. &e outro lado! porque as novas condiç3es do capitalismo! que ampliavam e aprofundavam a reifcação da realidade social! tendiam a contribuir para aprofundar a continuidade dessa dissociação entre sub'etividade e ob'etividade. p.>5
8ar" parte da gênese do ser social, do ato $ue funda a sociabilidade. na an3lise desse ato $ue ele descobrir3 a origem, a natureza e a fun#ão social essenciais do con%ecimento cient&fico, como veremos adiante. p. >6 1orque o conhecimento $ apenas uma das dimens3es do ser social. ra! se o conhecimento $ apenas uma das dimens3es da totalidade que $ o ser social! então! sua origem! sua nature2a e sua função social só poderão ser apreendidas na medida em que se conhecerem as determinaç3es mais gerais e essenciais deste ser e na medida em que se identifcar o lugar que o conhecimento ocupa na produção e reprodução do ser social como totalidade! ou se'a! na prá"is social. p.>6
&a resposta a esta questão – o que $ o ser social – dependerão as respostas ?s quest3es relativas ao conhecimento: a possibilidade do conhecimento! o que $ o ob'eto a realidade e"terna/! quem $ o su'eito! como se dá a relação entre su'eito e ob'eto! o que $ a verdade! quais os crit$rios de verdade! como deve proceder o su'eito para conhecer o ob'eto! qual a relação entre ci6
Nas ;eses ad -euerbac% essa rela#ão entre ontologia e gnosiologia aparece de maneira cristalina. A primeira ;ese tem um car3ter ontológico, ou seja, refere4se < natureza essencial do ser social. !omente em seguida, na segunda ;ese, $ue %3 uma referência < problem3tica do con%ecimento. p.=' A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade ob'etiva não $ uma questão teórica! mas prática. 4 na prá"is que o homem deve demonstrar a verdade! isto $! a realidade e o poder! o caráter terreno do seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não-realidade do pensamento isolado da prá"is – $ uma questão puramente escolástica. == @ese ad Teuerbach! Far" di2 )C! p. )0/ p. >7 Qma evid
>ma ontologia do ser social 1flosofa7 , pois, condi#ão prvia para a resolu#ão das $uest?es relativas ao con%ecimento. Alm disso, essa ontologia tambm condi#ão imprescind&vel para, em intera#ão com a ciência, produzir um con%ecimento ade$uado da realidade social. Na perspectiva ontológica mar"iana, flosofa e ciência não são dois momentos separados ou apenas superfcialmente relacionados. !ão dois momentos intrinsecamente articulados, $ue, sem perder a sua especifcidade, constituem uma unidade indissol*vel no processo de produ#ão do con%ecimento cient&fco. p. =9 Ontologia mar%iana e ontologia greco'medieval
(e afirmamos que a perspectiva mar"iana resgata a centralidade da ob'etividade!
mas! ao mesmo tempo! instaura um patamar qualitativamente diferente! parece ra2oável admitir que a diferença fundamental deverá ser buscada na categoria da ob'etividade ser!realidade ob'etiva/. ra! a caracteri2ação! em seus traços gen$ricos e esenciais! da realidade ob'etiva ob'etividade/ $ feita pela elaboração de uma ontologia do ser social. p.>> Para +ar$, este rinc&io % a rá$is, a 6atividade )u#ana sens&vel7, a 6atividade real, sens&vel7. 8s&rito e #at%ria, consci9ncia e realidade ob:etiva, sub:etividade e ob:etividade são dois #o#entos ;ue constitue# u#a unidade indissol
Não a consciência dos %omens $ue determina o seu ser o seu ser social $ue, inversamente, determina a sua consciência. Mar%, p. 28-29 .p.=@ u se'a! quando Far" di2 que estes pressupostos são empiricamente verifcáveis! está enfati2ando o caráter de realidade deles em contraposição ?s especulaç3es produ2idas apenas pelo automovimento da imaginação ou da ra2ão. p.>C 1oderia parecer óbvio o que Far" está afrmando! ou se'a! que sem a nature2a o homem não pode sobreviver. o entanto! o que ele está efetivamente querendo di2er $ que a relação com a nature2a não $! para o homem! um mal necessário! mas um momento constitutivo essencial do seu processo de entifcação. Fais precisamente! o elemento natural nem $ algo e"terior ao homem nem uma parte inferior quando relacionado a uma parte supostamente superior! o espírito! a consci
A primeira coisa $ue uB3cs enfatiza $ue estes dois momentos – teleologia e causalidade – embora sejam entre si %eterogêneos, constituem, no processo de trabal%o, uma unidade indissol*vel. C $ue caracteriza a teleologia, como j3 vimos em 8ar", o estabelecimento consciente de fns a serem atingidos. -ins $ue não podem ser abstra&dos diretamente da realidade objetiva, portanto tem $ue ser Dcriados0 pelo sujeito, pois estão articulados com o atendimento das suas necessidades. +sto evidencia o car3ter essencial de liberdade da atividade %umana. Eontudo, estes fns tambm não são uma cria#ão inteiramente autFnoma da subjetividade. (or um lado, por$ue a própria subjetividade j3 um produto social, de modo $ue ela articula em si a individualidade e a generidade. (or outro lado, por$ue a objetividade se não determina o fm, p?e o campo de possibilidades a partir das $uais a subjetividade faz as suas escol%as. 2este modo, o ato de por fns, embora seja um ato livre, pois não uma imposi#ão inevit3vel, , tambm, sempre um ato concretamente delimitado. A unidade indissol*vel entre liberdade e determina#ão concreta a forma ontológica origin3ria desta rela#ão e não a rela#ão de oposi#ão ou de justaposi#ão encontrada fre$uentemente em muitas posi#?es flosófcas. p. G' 9á outra questão enfati2ada por WuSács a respeito da teleologia e da causalidade. @rata-se do estatuto ontológico destas duas ca tegorias. (egundo ele! na esteira de Far"! ambas t! p.6-7/ p. 7 1ara WuSács! trata-se de apreender o ser como ele $! na sua efetividade! para al$m de qualquer decisão sub'etiva em favor do materialismo ou do idealismo. p. 7 1rocedendo! portanto! deste modo! WuSács constata que consci
em se opor ao idealismo. #la $ tão ser como a realidade ob'etiva. p.7 (ub'etividade e ob'etividade são dois momentos – em termos ontológicos – de igual estatuto. que não os coloca em p$ de igualdade quando se trata da questão do que $ fundado e do que $ fundante. este momento a consci
marcada pela alienação! da qual falaremos mais adiante. p. > A análise deste ato ontológico-primário! que $ o trabalho! revela outros elementos da maior import;ncia para a compreensão da nature2a do ser social. #m primeiro lugar o caráter radicalmente histórico do ser social. #ssa radical historicidade do ser social! como concebida por Far"! tem que ser bem precisada para evitar quaisquer mal-entendidos. ,om efeito! se o homem for integralmente histórico e se integralmente histórico signifcar inteiramente mutável! heterog
Ao capturar a natureza essencial do processo social, ele constatou $ue este , ao mesmo tempo, uno e m*ltiplo, permanente e mut3vel, embora radicalmente %istórico. Eonstatou, tambm, $ue estes aspectos não só não são conIitantes entre si, senão $ue se e"igem mutuamente, compondo uma unidade indissol*vel. fundamento desta grande descoberta mar"iana está na sua constatação – a partir da análise do ato do trabalho – de que o homem tem uma ess
(egundo ele! no plano do ser! ess
=sso nos mostra! tamb$m! que o ser social $ uma unidade composta de dois polos: o polo individual e o polo gen$rico. enhum dos dois tem preced
realidade social. #ssas demandas terão que ser tradu2idas teoricamente! de modo a sustentarem a 'uste2a de determinada prática social. ser das classes sociais $! pois! o solo que p3e determinadas demandas. A efetivação do ser das classes e"ige! por sua ve2! a reali2ação dessas demandas e a tradução teórica delas $ um momento imprescindível para que se'am tornadas realidade. p. C0 Ao elaborarem as suas teorias! os indivíduos singulares estarão contribuindo! de maneira ativa! para a reali2ação das demandas postas pelas classes sociais. C0 O..P Far" não redu2 o homem ao trabalho! nem afrma que o trabalho $ o elemento que determina inteiramente a vida humana. Luem fa2 estas afrmaç3es incorre no equívoco de que falamos acima! ou se'a! o de entender trabalho como trabalho abstrato! cu'a base $ o valor de troca! ignorando que o fo condutor do pensamento mar"iano $ o processo de autoconstrução do homem tomado sempre em nível ontológico. ,ontudo! Far" nem sequer afrma que o trabalho! em sentido ontológico! resume a totalidade das atividades humanas ou permite que dele se'am dedu2idas todas elas. 1ara ele! o trabalho! em sentido ontológico! isto $! como uma atividade produtora de valores-de-uso! $ o ato fundante do ser social e nesse sentido permanecerá como a Glei eterna do devir humanoH. Fas! apenas ato fundante e não um ato que esgota o ser social. p. C5 1or sua ve2! a estrutura fundamental destas atividades $ a mesma da estrutura do trabalho. o entanto! nem a ele se redu2em nem são dele diretamente dedutíveis. @odas elas t
idealismo! no interior do qual o pensamento de Far" foi recebido! a Ginfraestrutura econ+micaH foi entendida – para garantir o caráter materialista – como uma esfera cu'o movimento era regido por leis iguais ?s leis da nature2a. #nquanto a consci
cada um desses con'untos se determinam reciprocamente e que sua nature2a $ resultado de uma permanente processualidade. #"pressa tamb$m o fato de que há uma relação dial$tica entre o todo e as partes! sendo! por$m! o todo o momento determinante. #! por fm! e"pressa o fato de que esse con'unto $ permeado por contradiç3es e por mediaç3es! que resultam no dinamismo próprio de todos os fen+menos sociais e na específca concretude de cada um deles. p. C 1or isso! nos referimos ? ob'etividade natural como um momento da entifcação do ser social. esse sentido! pois! espírito e mat$ria! sem perder a sua especifcidade! perfa2em uma unidade que dá origem ao ser social. #ssa constatação $ da maior import;ncia! pois permite resolver a importantíssima questão da origem da consci A análise do trabalho tamb$m revela como se articulam essas duas categorias. ser social tem origem na síntese entre sub'etividade e ob'etividade. 1or interm$dio da atividade prática o que antes se achava na consci