CLÁUDIA MAY CRISTINE OHLWEILER JULIANE ZANLORENZI MARCUS VINÍCIUS ZANARDO PAULO VITOR FARAGO RODRIGO CONCI RÚBIA STELA CARDOSO DOS SANTOS
GEL DE PERÓXIDO DE CARBAMIDA: CRITÉRIOS À MANIPULAÇÃO
CURITIBA, PARANÁ 2006
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AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a Equilibra Assessoria e Qualificação pelo suporte financeiro.
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GEL DE PERÓXIDO DE CARBAMIDA: CRITÉRIOS À MANIPULAÇÃO Marcus Vinícius ZANARDO 1, Cristine OHLWEILER1, Juliane ZANLORENZI1, Rúbia Stela Cardoso dos SANTOS 1, Cláudia MAY 1, Rodrigo CONCI 1 & Paulo Vitor FARAGO2* 1
Pós-graduandos no curso de Especialização em Farmácia Magistral da Equilibra Instituto 2 Professor de formas farmacêuticas de uso em Odontologia do curso de Especialização em Farmácia Magistral da Equilibra Instituto * autor a quem dirigir o contato: Prof. M.Sc. Paulo Vitor Farago Equilibra Instituto Av. Sete de Setembro, 3230 – Sobreloja CEP 80230–010 – Curitiba – Paraná
RESUMO Diversas literaturas na Odontologia Estética preconizam a utilização do peróxido de carbamida no clareamento dental de dentes vitais. O peróxido de carbamida atua por meio da decomposição do peróxido de hidrogênio presente na sua estrutura, liberando oxigênio e promovendo a oxidação dos pigmentos localizados no esmalte e na dentina. A utilização do gel de carbômero, como forma farmacêutica, permite a liberação lenta e gradual do oxigênio da matriz polimérica e evita o contato da formulação com a gengiva. O objetivo do presente estudo é apresentar e discutir os parâmetros que influenciam no método de síntese dos cristais de peróxido de carbamida em farmácias de manipulação. Em diferentes tratamentos, variando-se o tempo de reação (24 ou 48 h), na presença ou ausência de Na 4P2O7.10H2O (pirofosfato de sódio) como agente de nucleação, foram obtidos rendimentos médios (n=3) entre 48,22 a 62,61%. Através da análise estatística desses resultados, entretanto, não foi possível considerar que essas variáveis (tempo e Na 4P2O7.10H2O) foram significativas no processo desenvolvido. Na avaliação quantitativa dos cristais de peróxido de carbamida, foram obtidas concentrações médias variando entre 96,20 e 99,47%. Esses valores elevados comprovam que a atenção aos cuidados de síntese, como a aplicação do fator de correção às matérias-primas, o emprego de aquecimento brando na dissolução da uréia, não fazer uso de materiais metálicos durante a manipulação, desenvolver a reação ao abrigo da luz e acondicionar os cristais sintetizados em frasco plástico leitoso, sob refrigeração, influenciam de forma decisiva nos valores de concentração verificados. Esforços para padronizar os procedimentos magistrais, incluindo o controle da qualidade de matérias-primas e formulações, vêem, em última instância, satisfazer o paciente. PALAVRAS-CHAVE Peróxido de carbamida; gel; farmácia de manipulação. INTRODUÇÃO Atualmente, muitos pacientes que freqüentam os consultórios odontológicos estão preocupados com a beleza do sorriso (JUSTINO, TAMES & DEMARCO, 2004;
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NIEDERMAN et al., 2000; TAMES, GRANDO & TAMES, 1998). Um padrão oral constituído por dentes alinhados e sem manchas, além de indicar saúde e higiene, é de fundamental importância na convivência social e nas relações de trabalho (GONÇALVES, MONTE ALTO & RAMOS, 2001; DELGADO & MARIOTTO, 2000). Em função disso, as técnicas de clareamento dental têm apresentado grande difusão e relevância na Odontologia Estética contemporânea (LEWINSTEIN el al., 2004; CAMPOS & PIMENTA, 2000; NIEDERMAN et al., 2000; BARATIERI, 1995; GOLDSTEIN & GARBER, 1995). O clareamento dental tem como objetivo principal restaurar ou aproximar a cor do esmalte e da dentina da original, bem como, conferir translucidez normal a essas estruturas anatômicas (DE MELO, 1998). Entre os diferentes processos passíveis de serem empregadas no clareamento de dentes vitais, destaca-se o uso de compostos com ação oxidante, como é o caso do peróxido de hidrogênio (MOKHLIS et al., 2000; MCCASLIN et al., 1999). Porém, o agente de clareamento mais utilizado na atualidade é o peróxido de carbamida, recomendado normalmente a 10% nas técnicas para uso doméstico, podendo ser aplicado até a 40% em consultórios odontológicos. O peróxido de carbamida pode ser prescrito como peróxido de uréia, peróxido de hidrogênio–uréia, peróxido de hidrogênio–carbamida ou peridrol–uréia (APPEL & REUS, 2003; GONÇALVES, MONTE ALTO & RAMOS, 2001). Em termos históricos, vem sendo utilizado desde meados de 1960, quando Bill Klusmier, um ortodontista americano, constatou que, ao receitar Gly-oxide ® (Marion Merrel Dow, EUA), um anti-séptico bucal a base de peróxido de carbamida a 10% para seus pacientes, com traumas e inflamações causadas por aparelhos ortodônticos, o efeito colateral era o clareamento dos dentes (BARATIERI, 1995; GOLDSTEIN & GARBER, 1995; HAYWOOD et al., 1990). Esse acontecimento acidental foi sendo verbalmente divulgado, até que em 1989, Haywood e Heymann publicaram o primeiro artigo na literatura (HAYWOOD & HEYMANN, 1989). A partir desse momento, trabalhos clínicos e de laboratório passaram a ser desenvolvidos, investigando o seu mecanismo de ação, as suas formas de utilização e os seus efeitos colaterais (CURTIS et al., 1996; HAYWOOD, 1994; ROSENSTIEL et al., 1996; GOLDSTEIN & KIREMIDJIAN-SCHUMACHER, 1993; HAYWOOD, 1992; ROSENSTIEL et al., 1996). O peróxido de carbamida, em contato com a saliva ou tecidos orais, sofre decomposição em peróxido de hidrogênio e uréia. O peróxido de hidrogênio, considerado o agente de clareamento, é metabolizado por enzimas, como peroxidases, catalases e hidroxiperoxidases e se degrada em água e oxigênio (BARATIERI, 1995; GOLDSTEIN & GARBER, 1995). Já a uréia, decompõe-se em dióxido de carbono e amônia, elevando o pH da cavidade oral e reduzindo a atividade bacteriana local (LEONARD JR. et al., 1994; STEPHAN, 1943). A baixa massa molar do peróxido de carbamida permite que ele transite livremente pelos espaços interprismáticos, através do esmalte e da dentina, provocando a oxidação dos pigmentos presentes nessas estruturas (GOLDSTEIN & KIREMIDJIAN-SCHUMACHER, 1993; McEVOY, 1989). Dessa forma, compostos cíclicos de carbono pigmentados são rompidos e convertidos em cadeias mais claras, resultando no efeito de clareamento dos dentes (BARATIERI, 1995; GOLDSTEIN & GARBER, 1995; GOLDSTEIN & KIREMIDJIAN-SCHUMACHER, 1993). Em geral, esse ativo pode ser apresentado na forma de gel ou solução. Freqüentemente, em farmácias magistrais, é manipulado em gel de polímero carboxivinílico com alta viscosidade. O carbômero age como um agente espessante, utilizado para estabilizar o processo de dissociação do agente de clareamento, além de
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liberar o oxigênio nascente de maneira mais lenta e aumentar a adesão da formulação à estrutura dental (APPEL & REUS, 2003; DUTRA et al., 2001; DENEHY & SWIFT JR., 1992). Os géis de peróxido de carbamida podem ser acondicionados em seringas para facilitar a administração para o paciente. Os produtos à base de peróxido de carbamida devem ser armazenados sob refrigeração, para retardar o processo de liberação do oxigênio da formulação (APPEL & REUS, 2003). Pesquisadores como McCRACKEN & HAYWOOD (1996) têm estudado o efeito do peróxido de carbamida sobre o esmalte, tendo obtido conclusões variadas, porém demonstrando que nenhuma mudança ocorre na superfície do esmalte, em termos morfológicos, fora dos padrões normais. Pesquisas atuais demonstram que as moléculas de peróxido podem penetrar na câmara pulpar de dentes tratados com peróxido de carbamida a 10%, induzindo uma leve resposta inflamatória, segundo ANDERSON et al. (1999). No uso dessa forma farmacêutica, há dois efeitos colaterais primários que são a sensibilidade dentinária transitória e a irritação gengival. Aproximadamente dois terços dos pacientes em tratamento experimentam um desses efeitos, que usualmente, duram de um a quatro dias. Todos os efeitos colaterais terminam quando o tratamento é suspenso e nenhum efeito avançado tem sido notado (APPEL & REUS, 2003). Considerando a freqüência de manipulação dos géis de peróxido de carbamida e a incompletude das informações técnicas relacionadas à obtenção desse agente de clareamento de dentes vitais, o presente estudo tem por objetivo estabelecer e discutir os parâmetros que influenciam o método de síntese dos cristais de peróxido de carbamida nas farmácias de manipulação, traçando subsídios à correta execução desse procedimento dentro da rotina magistral.
MATERIAIS E MÉTODOS Síntese dos cristais de peróxido de carbamida A síntese dos cristais de peróxido de carbamida foi desenvolvida através da reação orgânica preconizada por APPEL & REUS (2003), entre o peróxido de hidrogênio P.A. [H2O2, Biotec®, São José dos Pinhais, Brasil] e a uréia P.A. [CO(NH 2)2, Biotec®, São José dos Pinhais, Brasil], conforme indicado na Figura 01.
O
O +
C H2N
H2O2
NH2
C H2N
.
H2O2
NH2
60 g.mol–1 34 g.mol–1 Figura 01 – Esquema da síntese do peróxido de carbamida. A pureza da solução de H 2O2 foi previamente verificada, utilizando-se a análise quantitativa permanganométrica, segundo as informações preconizadas pela Farmacopéia dos Estados Unidos (USP 28, 2005) e por KOROLKOVAS (1988), com modificações. Para tanto, foi preparada uma solução de permanganato de potássio [KMnO4, Biotec®, São José dos Pinhais, Brasil] aproximadamente a 0,02 mol/L, pesando-se 3,20 g do sal e completando-se o volume, com água destilada, em balão volumétrico de 1000 mL. Após, essa solução foi devidamente padronizada, utilizando-
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se oxalato de sódio P.A. [Na 2C2O4, Biotec®, São José dos Pinhais, Brasil], como padrão primário, previamente dessecado em estufa por 2 h a 105ºC e conservado em dessecador. Uma massa de 0,1300 g de Na 2C2O4 foi pesada e, cuidadosamente, transferida para um erlenmeyer de 250 mL, juntando-se 25 mL de água destilada e 2 mL de ácido sulfúrico concentrado [H 2SO4, Biotec®, São José dos Pinhais, Brasil]. O sistema foi aquecido até 80ºC e titulado com a solução de KMnO 4, em agitação constante, até que o conteúdo do erlenmeyer se tornasse levemente róseo, persistente por mais de 30 segundos. Considerando que cada mL da solução de KMnO 4 0,02 mol/L equivale a 6,6007 mg de Na 2C2O4, calculou-se a concentração molar da solução de KMnO4 e determinou-se o fator de correção. Esse procedimento foi realizado em triplicada, sendo que os resultados, expressos em mol/L, foram considerados adequados quando não diferiram em mais de 5:1000. Uma vez preparada e padronizada a solução de KMnO 4, realizou-se o doseamento do H 2O2, transferindo-se uma alíquota de 1,00 mL da solução de H 2O2 para um balão volumétrico de 250 mL, o qual foi completado com água destilada. Uma alíquota de 10,00 mL desta solução, recentemente preparada, foi colocada em um erlenmeyer de 250 mL. Em seguida, adicionou-se 10 mL de uma solução de H 2SO4 1 mol/L, titulando-se com a solução padronizada de KMnO 4 0,02 mol/L, até que a solução adquira coloração rósea permanente. Considerando que cada mL da solução de KMnO4 0,02 mol/L padronizada equivale a 1,701 mg de H 2O2, obteve-se a concentração da solução adquirida do fornecedor. Igualmente, esse método foi executado em triplicada, sendo que os resultados, expressos em %, foram considerados adequados quando não diferiram em mais de 5:1000. A pureza da CO(NH 2)2 foi determinada a partir das informações presentes no laudo de análise fornecido pela Biotec ®, São José dos Pinhais, Brasil. Com base na pureza do H 2O2 e da CO(NH2)2, calculou-se o fator de correção (Fc) para cada matéria-prima, utilizando-se a equação: Fc =
100 x
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onde: Fc = fator de correção x = concentração da matéria-prima Após essa etapa, em gral de porcelana, triturou-se 60,42 g de CO(NH 2)2, massa corrigida em função da pureza e do Fc, transferindo o triturado para um béquer de 500 mL. Um volume de 106 mL de H 2O2, determinado a partir da concentração da solução, estabelecida anteriormente, e da aplicação do Fc, foi empregado para lavar as paredes do gral e levado ao mesmo béquer. Promoveu-se um aquecimento sem exceder a temperatura de 35 oC, em banhomaria, para evitar a liberação do oxigênio presente na solução e garantir a total dissolução da uréia. Em seguida, o béquer foi tampado com filme de PVC e mantido em repouso por 24 ou 48 h, na temperatura ambiente, protegido da luz. Após esse período, promoveu-se a filtração por papel filtro, obtendo os cristais de peróxido de carbamida. O produto foi acondicionado em frasco plástico leitoso e mantido sob refrigeração (4–8ºC). Durante todo o procedimento, tomou-se o cuidado de não utilizar nenhum material metálico, especialmente, espátulas de alumínio. As reações foram
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desenvolvidas em triplicata, para cada tempo, 24 e 48 h, totalizando 06 (seis) sínteses, compondo o tratamento denominado de T 1. Ensaios análogos, integrando o tratamento T 2, foram efetuados na presença de 0,94 g (1% em massa) de pirofostato de sódio [Na 4P2O7.10H2O, Synth®, Diadema, Brasil], como agente de nucleação ou semeadura, também em triplicata, para os tempos de 24 e 48 h. Nessas sínteses, o Na 4P2O7.10H2O, foi triturado em gral de porcelana e transferido para o béquer de reação, lavando-se as paredes do gral com parte da solução de H2O2. As demais etapas foram, rigorosamente, as mesmas descritas ao tratamento T 1. Por fim, todos os produtos de reação foram, individualmente, pesados em balança analítica, permitindo o cálculo do rendimento, considerando a massa teórica referente a 100% de rendimento para cada ensaio, ou seja, 94,00 g para T 1 e 94,94 g para T2. Para cada triplicata, calculou-se o rendimento médio e o desvio padrão. Ainda, os dados foram submetidos à análise de variância fator único (ANOVA), sendo que a variabilidade devido aos tratamentos foi avaliada no nível de significância de 5% (p < 0,05).
Doseamento dos cristais de peróxido de carbamida Realizou-se o doseamento dos cristais de peróxido de carbamida por análise quantitativa iodométrica (Figura 02), para os produtos identificados como tratamento T1 – tempo de 24 h e tratamento T 2 – tempo de 48 h, tomando-se como base os parâmetros indicados na Farmacopéia dos Estados Unidos (USP 28, 2005). Resumidamente, uma massa de 0,1000 g dos cristais de peróxido de carbamida foi pesada e transferida para um erlenmeyer de 250 mL. Após, os cristais foram dissolvidos em 25 mL de água destilada. Adicionou-se 5 mL de ácido acético P.A. [C 2H4O2, Biotec®, São José dos Pinhais, Brasil], 2 g de iodeto de potássio [KI, Biotec ®, São José dos Pinhais, Brasil] e 1 gota de solução aquosa de molibdato de amônia P.A. [NH4Mo7O24.7H2O, Biotec®, São José dos Pinhais, Brasil] a 3%. Homogeneizou-se a solução e deixou-se reagir, ao abrigo da luz, durante 20 minutos. Titulou-se o iodo liberado com solução aquosa de tiossulfato de sódio 0,1 N, padronizada pelo fornecedor Biotec® [Na2S2O3 0,1 N, São José dos Pinhais, Brasil]. Próximo ao ponto de viragem, adicionou-se 3 mL da solução indicadora de amido [1 g de amido solúvel P.A. (Biotec ®, São José dos Pinhais, Brasil) dissolvido em água fervente q.s.p. 100 mL, por 5 min], observando-se a mudança da coloração de azul escuro para incolor. O C H2N
.
H2O2
NH2
H24Mo7N6O24.4H2O +
KI
CH3COOH
I2 EXC. + AMIDO [I2 EXC.-AMIDO] + Na2S2O3
O
2I
-
+ H2N
C
.
2 O
-
+ I2 EXC.
NH2
[I2 EXC.-AMIDO] NaI + Na2S4O6 + AMIDO
Figura 02 – Esquema da análise quantitativa iodométrica dos cristais de peróxido de carbamida.
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Considerando que cada mL da solução de Na 2S2O3 0,1 N equivale a 4,704 mg de peróxido de carbamida, calculou-se a concentração percentual presente nos cristais sintetizados. Assim, para cada situação avaliada, calculou-se a concentração média e o desvio padrão. Ainda assim, essas mesmas amostras foram encaminhadas ao L.C.Q.Pq [Laboratório de Controle de Qualidade e Pesquisa Ltda., Curitiba, Brasil], como forma de controle externo da qualidade aos procedimentos efetuados. Novamente, aplicou-se a análise estatística, visando estabelecer o coeficiente de correlação entre os grupos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Ao estabelecer que o oxigênio presente na estrutura química do peróxido de carbamida é o responsável pelo clareamento dos dentes vitais, uma série de cuidados magistrais foram observados durante a etapa de síntese dos cristais, visando minimizar a perda do agente de clareamento. Dentre as estratégias adotadas no presente trabalho, destacam-se: aplicação do fator de correção ao teor da solução de H 2O2 utilizada, aquecimento brando (abaixo de 35ºC) para a dissolução da uréia, não utilização de materiais metálicos durante a manipulação, proteção da luz durante o tempo de síntese, acondicionamento dos cristais sintetizados em frasco plástico leitoso e conservação sob refrigeração. A Tabela 1 sumariza os rendimentos obtidos nas 12 (doze) sínteses realizadas, que compõem os tratamentos T 1 e T2, conforme a ausência e a presença de Na4P2O7.10H2O, respectivamente. Igualmente, permite a avaliação dos rendimentos verificados para os tempos de síntese de 24 e 48 h. Tabela 1 – Rendimento percentual obtido nas sínteses dos cristais de peróxido de carbamida, considerando a influência do Na 4P2O7.10H2O e do tempo de reação. tratamento
tempo de reação (h) 24
T1 (sem Na4P2O7.10H2O) 48 24 T2 (com Na4P2O7.10H2O) 48
rendimento (%) 32,84 54,17 57,65 38,48 62,91 58,92 53,91 45,32 49,18 65,96 53,62 68,26
média desvio padrão (%) 48,22 ± 13,43 53,44 ± 13,10 49,47 ± 4,30 62,61 ± 7,87
Quanto se analisa os resultados de forma absoluta, é possível verificar que o melhor rendimento médio (62,61 ± 7,87%) foi obtido no tratamento T 2, com a presença de Na4P2O7.10H2O, no tempo de reação de 48 h. Entretanto, aplicando-se a análise de variância (ANOVA), constata-se que o valor da variância dentro dos grupos (MQG = 127,1593) é maior que o valor da variância das médias (MQR = 108,1712), indicando que não existe uma diferença significativa entre os grupos avaliados. Além disso, o valor do f calculado (1,1755) é menor do que o f tabelado (4,0662), com p = 0,3780, comprovando que não há significativa diferença, ao nível de significância de 5%, entre os rendimentos obtidos para os grupos analisados. Assim, com base nos resultados experimentais, não é possível afirmar que a presença do Na 4P2O7.10H2O no sistema e a ampliação do tempo de reação de 24 para 48 h contribuem de forma significativa no rendimento das sínteses dos cristais de peróxido de carbamida. Entretanto, é possível observar que as reações utilizando o
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Na4P2O7.10H2O apresentaram valores de desvio padrão inferiores aos encontrados nas reações conduzidas na ausência do agente de nucleação (Tabela 1), refletindo maior uniformidade entre os rendimentos obtidos. A Tabela 2 ilustra os resultados obtidos no doseamento realizado para as sínteses do tratamento T1 no tempo de 24 h e para as sínteses do tratamento T 2 no tempo de 48 h. Optou-se por promover a quantificação apenas desses dois grupos, pois constituem, respectivamente, aqueles cujas sínteses apresentaram menor e maior valor absoluto de rendimento médio, 48,22 e 62,61%. Além disso, a Tabela 2 apresenta os doseamentos realizados pelo L.C.Q.Pq – Laboratório de Controle de Qualidade e Pesquisa Ltda., como controle externo da qualidade. Tabela 02 – Determinação quantitativa dos cristais de peróxido de carbamina por técnica titulométrica, considerando o tratamento T 1 (tempo de 24 h) e o tratamento T 2 (tempo de 48 h) efetuado pelos autores e pelo L.C.Q.Pq.
tratamento
responsável
próprios autores T1 (tempo de 24 h) L.C.Q.Pq. próprios autores T2 (tempo de 48 h) L.C.Q.Pq.
doseamento (%) média
95,88 97,95 94,78 99,47 99,55 97,77 98,09 97,98 95,95 99,50 99,38 99,53
desvio padrão
96,20 ± 1,610 98,93 ± 1,005 97,34 ± 1,205 99,47 ± 0,079
No presente trabalho, foram obtidos excelentes resultados nos ensaios de doseamento dos cristais de peróxido de carbamida pertencentes aos grupos T 1 (24 h) e T2 (48 h), com concentração média variando entre 96,20 e 99,47% (Tabela 2), valores considerados dentro dos limites farmacopéicos de 96,00 a 102,00% (USP 28, 2005). Esses valores encontrados por análise quantitativa iodométrica vêm respaldar a importância do farmacêutico atentar aos cuidados técnicos mencionados anteriormente. Inclusive, cabe salientar que, mesmo a uréia apresentando 99,3% de pureza segundo o laudo do fornecedor, aplicou-se o fator de correção (1,007), para estabelecer todas as condições ideais à obtenção dos maiores rendimentos possíveis e das maiores concentrações de peróxido de carbamida nos cristais formados. Avaliando-se os dados através do coeficiente de correlação (r) na determinação quantitativa dos cristais de peróxido de carbamina, observou-se que para o T 1 (tempo de 24 h), o valor é igual a 0,79081, denotando uma precisão adequada entre as análises independentes (próprios autores e L.C.Q.Pq.). Para o T 2 (tempo de 48 h), verificou-se um r de 0,61947, mostrando que também se pode estabelecer uma correlação estatística entre as análises realizadas pelos diferentes responsáveis. Ressalta-se a necessidade do farmacêutico desenvolver estudos com relação à estabilidade dos cristais de peróxido de carbamida sintetizados ao longo do tempo. Estudos desenvolvidos pelos autores [resultados não apresentados no presente artigo], mostraram que os cristais de peróxido de carbamida permaneceram estáveis, com concentrações praticamente constantes, por um período de 03 (três) meses, desde que conservados sob refrigeração (4–8ºC) e protegidos da luz, concordando com as recomendações estabelecidas por APPEL & REUS (2003).
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Ainda, quando da incorporação dessa matéria-prima no gel de Carbopol ® 2,5%, uma precaução adicional deve ser tomada: evitar triturar vigorosamente os cristais contra as paredes do gral de porcelana. Porque, esse fato pode gerar atrito e, conseqüentemente, liberar calor, favorecendo a perda de oxigênio da formulação. Recomendações de conservação e uso adequado devem ser, igualmente, repassadas ao paciente no momento da dispensação. Em última instância, a padronização dos procedimentos técnicos em farmácias magistrais, aliada ao controle de qualidade das formulações, visa garantir a qualidade e a segurança do medicamento manipulado e, por conseqüência, a satisfação integral do paciente.
CONCLUSÃO A variação no tempo reacional à obtenção dos cristais de peróxido de carbamida (24 ou 48 h) e o possível emprego do Na 4P2O7.10H2O (pirofosfato de sódio), não foram variáveis consideradas como significativas ao rendimento do processo. A observância de diversos parâmetros técnicos à síntese do peróxido de carbamida permite que sejam sintetizados cristais com elevada pureza. REFERÊNCIAS ANDERSON, D.; CHIEGO, D.; GLICKMAN, G. & McCAULEY, L. A clinical assessment of the effects of 10% carbamide peroxide gel on human pulp tissue. Journal of Endodontics, v.25, n.4, p.247-250, 1999. APPEL, G. & REUS, M. Formulações aplicadas à Odontologia . São Paulo: RCN Editora, 2003. BARATIERI, L.N. Clareamento dental. São Paulo: Editora Santos/Quintessence Books, 1995. CAMPOS, I. & PIMENTA, L.A.F. Substituição de restaurações após o clareamento dental caseiro. Revista ABO Nacional : v.8, n.2, p.273-277, 2000. CURTIS, J.W.; DICKINSON, G.L.; DOWNEY, M.C.; RUSSELL, C.M.; HAYWOOD, V.B.; MYERS, M.L. & JOHNSON, M.H. Assessing the effects of 10 percent carbamide peroxide on oral soft tissues. Journal of the American Dental Association , v.127, n.8, p.1218-1223, 1996. DE MELO, L.S. Clareamento dental de dentes vitais, em consultório, utilizando peróxido de hidrogênio a 35% e peróxido de carbamida a 35% . 46 p. Monografia (Especialização em Dentística Restauradora), Escola de Aperfeiçoamento Profissional da Associação Brasileira de Odontologia de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 1998. DELGADO, R.J.M. & MARIOTTO, L.A. Branqueamento caseiro sem alívio do modelo: uma técnica mais simples, rápida, econômica e eficiente. Revista Ciências Odontológicas, v.3, n.3, p.41-46, 2000. DENEHY, G.E. & SWIFT JR., E.J. Single-tooth home bleaching. Quintessence International, v.23, n.9, p.595-598, 1992.
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APÊNDICES APÊNDICE 1: Resultados obtidos por ANOVA: fator único aos rendimentos percentuais obtidos nas sínteses dos cristais de peróxido de carbamida, considerando a influência do Na4P2O7.10H2O e do tempo de reação Anova: fator único RESUMO Grupo Coluna 1 Coluna 2 Coluna 3 Coluna 4
Contagem 3 3 3 3
ANOVA Fonte da variação Entre grupos Dentro dos grupos
865,3699
Total
1246,848
SQ 381,4778
Soma Média Variância 144,66 48,22 180,4359 160,31 53,43667 171,7564 148,41 49,47 18,5101 187,84 62,61333 61,98253
gl
MQ F valor-P F crítico 3 127,1593 1,175537 0,377971 4,06618 8 108,1712 11
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SUMÁRIO ELEMENTOS PRÉ-TEXTUAIS............................................................................. 01 CAPA.............................................................................................................. 01 AGRADECIMENTOS.................................................................................. 02 ELEMENTOS TEXTUAIS...................................................................................... 03 RESUMO....................................................................................................... 03 PALAVRAS-CHAVE................................................................................... 03 INTRODUÇÃO............................................................................................. 03 MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................... 05 Síntese dos cristais de peróxido de carbamida........................................ 05 Doseamento dos cristais de peróxido de carbamida................................ 07 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 08 CONCLUSÃO............................................................................................... 10 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS............................................................................. 10 REFERÊNCIAS............................................................................................ 10 APÊNDICES.................................................................................................. 13 Apêndice 1....................................................................................................... 13 SUMÁRIO...................................................................................................... 14
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