Introdução:
“A tecnologia é tão antiga quanto a humanidade, sendo a aplicação de meios
para alcançar sucesso nas mais simples actividades." Iremos pois, ao longo do nosso trabalho, reflectir e questionar todo o poder e riscos levantados pela tecnociência , bem como reflectir acerca do necessário diálogo entre a ciência e a ética, de forma a podermos fornecer respostas face a toda a problemática patente no progresso tecnológico da nossa sociedade.
Na realidade, e desde o início da sua existência que o Homem vem sempre recorrendo à ajuda da tecnologia, que evolui juntamente com este. Hoje, em pleno século XXI, estamos perante uma sociedade inteiramente dependente não só da tecnologia como do próprio progresso científico, a chamada sociedade tecnocientífica, uma sociedade onde da televisão à rádio, passando pelos jornais, revistas e publicidade que nos chega pelo correio, a ciência é um tema muito presente nos nossos dias.
Numa época de grandes descobertas e progressos científicos e tecnológicos, como o caso da genética, da vacina contra a hepatite e dos progressos na cura da SIDA e do cancro, passando pela obtenção da energia eléctrica por meio de geradores movidos a energia eólica ou solar, uma bifurcação ocorreu, fazendo com que hoje, ao invés de tempos mais remotos se comecem a levantar questões ético-morais face à ciência. É no entanto importante, conhecer, além da sua utilidade, a sua essência pois, na sociedade actual, as questões que confrontam o cientificamente possível e o eticamente admissível serão cada vez mais frequentes .
Abordando a face negra da questão apercebemoapercebemo-nos nos que a tecnociência tem vindo a levantar questões problemáticas face ao seu desenvolvimento incontrolado e gigantesco poder sobre o homem e sobre a Natureza. Apesar dos inúmeros esforços feitos “ a solução dos problemas criados pelo desenvolvimento tecnológico não será nem de natureza científica nem de cariz técnico “ ,
somente na filosofia.
a solução para este problema assenta
Iremos pois, ao longo do nosso trabalho, reflectir e questionar todo o poder e riscos levantados pela tecnociência , bem como reflectir acerca do necessário diálogo entre a ciência e a ética, de forma a podermos fornecer respostas face a toda a problemática patente no progresso tecnológico da nossa sociedade. A CI NCIA VISTA PELA FILOSOFIA
A ciência, ou conhecimento científico em termos filosóficos é algo que se cria no ser humano, acompanhando a nossa racionalidade. O senso comum que todos temos, e no qual confiamos pode por vezes dar-nos uma ilusão de realidade enganosa que devido à utilidade e confiança que nele depositamos nos faz concluir que as coisas são o que não são, ou seja, o que nos é dado numa experiência pode parecer-nos (através do senso comum) tão lógico que de um primeiro instinto correspondemos o conhecimento que adquirimos à realidade. A ciência terá de fazer face ao “preconceituoso”
senso
comum
(
no
sentido de este ser tão útil e prático, que nos leva a acreditar que o que nos é dado através de uma singular experiência corresponde a uma realidade universal) combatendo contra a sua evidência e espontaneidade e é construída racionalmente pelo ser humano. A ciência buscara então a verdade e certeza de algum problema pela nossa mente colocando, usando como “armas” a
objectividade ( característica que nos faz aceitar as coisas como elas são, e não como gostaríamos que fossem), a racionalidade (que nos faz captar e responder aos “como” “quando” “onde”
“porquê” “o quê”) e a universalidade ( a
exigência de um universalmente válido).
conhecimento
Devido ao facto de o homem ser um ser inacabado desperta-se nele o desejo de saber, de captar maior quantidade de informação possível para uma maior proximidade da sabedoria ( que nunca chega a ser absoluta). Utiliza para tal várias maneiras de adquirir conhecimentos e uma comprovação dos mesmos através de demonstrações ou experiências devidamente estruturadas e elaboradas com o seu carácter científico. E foi usando todo esse conhecimento que o homem chegou à brilhante evolução científico-tecnológica a que agora assistimos!
O PAPEL DA TECNOLOGIA
Nos dias de hoje a tecnologia ocupa uma posição central frente aos processos de globalização, afectando a vida de todos e de cada um em particular.
N a realidade a tecnologia é já tão antiga quanto a própria humanidade e tal como esta vem ao longo dos anos sendo alvo de uma longa e gigantesca evolução. Francis Bacon e Tomaso Campanella nas suas reflexões sobre a sociedade perfeita colocaram a tecnologia como “fonte
suprema
de
conhecimento
aperfeiçoamento do ser humano.”
da
realidade
e
solução
e
Na história da filosofia encontramos distintas morais acerca da tecnologia. Uma dessas formas de pensamento descende do Renascimento e segundo ela a mudança tecnológica é um elemento desestabilizador da sociedade que deve por isso ser delimitado cuidadosamente. A segunda, por sua vez, sendo característica das éticas modernas, alega que a mudança tecnológica é potencialmente benéfica pois melhora a qualidade de vida e autonomia humanas.
Ao falarmos de tecnologia podemos no entanto subdividi-la nas mais diversas áreas, a informática, a engenharia, as ciências médicas e biológicas… Contudo cada uma destas tecnologias traz consigo um
conjunto de problemas, sendo que alguns temas como responsabilidade, risco, autonomia e equidade , são comuns à maioria delas
Cremos que hoje a tecnologia está presente em cada pequeno pedaço da vida de cada um de nós, tornando-nos inteiramente dependentes dela, não mais somos autónomos…tornando-se a tecnologia algo de extremamente poderoso sobre as nossas vidas. Mas esta tem no entanto contribuído para o desenvolvimento da nossa civilização bem como para o seu bem estar e qualidade de vida…o que
seria de nós sem uma simples televisão, sem um telemóvel , sem um computador…? Acordamos todos os dias de manhã … graças à tecnologia,
tomamos
belos
banhos
de
água
quente…graças
à
tecnologia, deslocamo-nos diariamente para a escola e …usamos a tecnologia, estudamos …usando a tecnologia…não nos imaginamos
definitivamente a viver sem ela hoje em dia.
Vemo-nos pois obrigadas a concordar com Francis Bacon, grande apologista do desenvolvimento tecnológico e segundo o qual “ a
invenção da escrita, a descoberta da pólvora e do compasso trouxeram maior benefício à human idade do que todas as políticas e religiões”
O QUE É AFINAL A TECNOCIÊNCIA?
É relevante lembrar a importância que a distinção entre ciência e tecnologia desempenhou no universo intelectual do período imediatamente posterior à segunda Guerra Mundial. Chocada com o impacto das bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki, a comunidade científica deparou-se com a necessidade de distinguir ciência e tecnologia.
Ainda actualmente, são muitas as vezes em que a ciência é tida e confundida com a tecnologia. Na realidade, e apesar da sua estreita relação, estas são completamente distintas.
A ciência consiste num conjunto de verdades, logicamente encadeadas entre si, de modo a fornecerem um sistema coerente. Subjectivamente, é um conhecimento certo das coisas por suas causas ou por seus princípios. Proporciona ao Homem um conhecimento objectivo da realidade. Tal conhecimento pode e deve ser aplicado para tornar mais eficiente a produção da vida material, e tal aplicação constitui a tecnologia. Esta, por sua vez, irá contrastar com a técnica que se refere a outros recursos não informados pelo conhecimento científico, de que o homem se vale para resolver problemas práticos
Por um lado, a ciência constitui a fonte da tecnologia e fornece-lhe as formas e o saber que irão permitir criar tecnologias (por exemplo: microscópicos, tubos de ensaio, termómetros, etc). Por outro lado, o progresso da ciência está dependente dessas tecnologias que, por exemplo, permitiram a criação do termómetro que nos possibilitou saber a ebulição e solidificação da água a 100º e 0º, respectivamente. Mas, e apesar das suas diferenças, a ciência e a tecnologia estão intimamente interligadas fazendo com que, embora seja possível fazer a sua distinção, na prática é impossível separá-las pois o desenvolvimento e o progresso de ambas assenta na sua cooperação mútua. Assim, deverão ser tratadas como uma unidade, daí o conceito…tecnociência.
A TICA E A SUA INFLU NCIA NA CI NCIA
As teorias éticas nascem e desenvolvem-se em diferentes sociedades como resposta aos problemas resultantes das relações entre os homens. A ética tem pois vindo a ser influenciada pela vivência religiosa, contudo, só há relativamente pouco tempo se tornou laica e agnóstica sofrendo influências do marxismo, pelo positivismo e por uma apressada interpretação da nietzshiana. Devido a estas influências o termo ética tornou-se progressivamente mais difícil de definir, caindo num relativismo de que o século XX, com todas as suas contradições, é um bom exemplo.
Esta surge com o objectivo de orientar coerentemente o comportamento dos seres humanos e de constituir um número de valores que sirvam como guia em todas as situações. Assim sendo, a ética é geralmente, definida como uma ciência que julga os valores morais, a fim de distinguir o bom do mau.
Actualmente, esta está muito relacionada com o desenvolvimento das ciências da vida, pois crescentes têm sido as descobertas de muitas curas para doenças, preservação da vida sobre condições artificiais, a clonagem, a eutanásia e até robótica. Sobre todos estes temas, deve existir pois, uma reflexão ética no intuito do poder fazer e dever fazer. Muitos no entanto se opõem e defendem que não é correcto estabelecer uma relação entre a ética e a ciência, pois como a ética se localiza no campo da acção humana, exerce muita pressão mas decisões de algumas entidades
A ética está interligada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros relações justas e aceitáveis. Actualmente a atitude dos profissionais em relação às questões éticas poderá ser a chave para o seu sucesso ou fracasso
Nos nossos dias um dos campos que se encontra mais carente no que diz respeito à ética é o das novas tecnologias, pois não existem leis de conduta e regras o que provoca uma aproximação do limite da ética no trabalho e no exercício profissional. No entanto desde que surgiu a ciência – com a experimentação, esta mantém uma relação difícil com a ética. Uma solução aparentemente fácil seria separar a ética da ciência, esta ultima lida com a verdade (ou algo próximo a ela) e a ética com a vida prática. Assim sendo a ciência seria a ética, a ética não teria nada a ver com a ciência sendo só utilizada nas suas aplicações, em especial com a tecnologia. No entanto não é isto que verificamos no dia-a-dia.
Com todos os avanços científicos e o consequente surgimento de inúmeras questões éticas, o ser humano passou a ter uma ética que lida mais com questões mais profundas deixando à parte as questões superficiais, ou seja, saímos de um conjunto de regras prontas e passamos a questionar o seu sentido.
Com todos estes progresso verifica-se hoje necessidade de fazer com que a ética acompanhe cada vez mais e mais a ciência daí a necessidade da criação da bioética.
A SOCIEDADE TECNOCIENTÍFICA
“A sociedade humana contemporânea, enquanto sociedade industrializada, deriva em larga medida de formas e ideias genuinamente técnicas e científicas”,
podemos pois afirmar que vivemos todos numa sociedade em que a tecnologia e a ciência se interligam de tal forma que se tornam mesmo indissociáveis; toda a sociedade em geral, e até os próprios cientistas estabelecem como única razão de ser da ciência a geração de aplicações tecnológicas, dizemos por isso e logicamente que “toda a ciência é, na verdade tecnociência” .
Eis-nos então perante a sociedade tecnocientífica , uma sociedade, inteiramente aberta à ciência, uma sociedade absolutamente técnica, capitalista, recorrente a diversos tipos de novos engenhos, que, de uma forma ou de outra vão a pouco e pouco contribuindo para que surjam grandes e importantes alterações no quotidiano de toda uma população mundial.
A tecnologia vem no entanto causando grandes discussões sobre as suas vantagens e desvantagens, e é certo que o desenvolvimento tecnológico -científico tem sido muito importante para o crescimento da nossa sociedade. É devido a esse conhecimento obtido que o Homem pode hoje orgulhar-se de conseguir dominar e até acabar com muitas doenças, dominar a mecânica, a electrónica, a informática, o mais completo dos meios de informação, a Internet! E num futuro não muito distante até a análise de uma gota de sangue permitirá até, antever a propensão de uma pessoa desenvolver determinada doença. Entre tantas e outras coisas, é realmente louvável! De se frisar que “o avanço da tecnologia é importante, porém é necessário que tenhamos consciência do que estamos criando e para que isto está sendo feito”, ainda mais quando se tem a noção de que a tecnociência é co-responsável pelos problemas que afligem a humanidade no presente momento histórico de hegemonia neoliberal… Por isso se diz que todo este desenvolvimento científico é imensamente ambíguo, pois pode ser usado tanto para o bem como para o mal, tanto na promoção da felicidade como no agravamento das desgraças…
O desenvolvimento da tecnociência deu por exemplo vida a inúmeros veículos motorizados , proliferou as grandes industrias, criou armas nucleares e biológicas de enorme
potencial
destrutivo…Consequências?
Mobilidade,
desenvolvimento,
mercantilização…e…degradação do meio ambiente, esgotamento dos recursos naturais, desigualdades sociais, violência, conflitos, pois todos buscam e correm desalmadamente na ânsia do poder, do domínio sobre tudo e todos do possuir mais e mais e mais… E começámos realmente a tomar conta desta faceta mais obscura da nossa sociedade durante a Segunda Guerra Mundial aquando do gigantesco impacto que foi a explosão das bombas atómicas de Hiroshima e Nagasaki, aí sim, a comunidade científica empreendeu um exame de consciência cujo resultado corresponde a um desdobramento da distinção abstracta entre ciência e tecnologia. Foi também preciso que o planeta se apavorasse com a destruição da biosfera para que riscos técnicos começassem a ser avaliados e criticados por organizações nãogovernamentais, como a Greenpeace e a Amnistia Internacional, entre outras, que lutam arduamente contra a desmesura que tomou conta dos donos do poder.
(“Maravilhados porque desceram das árvores, perderam o rabo, copulam de frente e , mais do que tudo, porque falam, os homo-sapiens perderam-se no horizonte crepuscular de uma existência prosaica demais. Demasiadamente humanos, precisam reencontrar-se com a Natureza, diluírem-se nela, para que seja possível exercitar a parcimónia diante de ape tites vorazes e incontrolados”)
Abordando um outro pólo da questão, será que vale a pena tirar muitos homens que dedicam as suas vidas pelo seu trabalho e o fazem da melhor maneira possível para colocar no lugar deles uma máquina que fará tudo de forma fria e mecânica? Aumentaremos com certeza o aumento da velocidade de produção, mas quantas famílias cairão na miséria ?…
Existe ainda um aspecto negativo bem visível na nossa sociedade, o chamado custo de oportunidade, por exemplo, a decisão de adquirir um telemóvel por parte de uma família pode parecer racional se considerada isoladamente, mas não se a família estiver em dificuldades financeiras e tiver de deixar de comprar alimentos para adquirir o telemóvel, uma situação semelhante à tecnociência podemos raciocinar acerca do quão sensato não seria aplicar os recursos destinados às pesquisas de alta tecnologia, que na maioria dos casos são acessíveis apenas às camadas mais ricas, na eliminação das causas dos problemas de saúde da imensa maioria pobre da população do mundo. A criatividade e a dinamicidade do homem têm sido ameaçadas pelo uso de máquinas e as nossas atitudes tomadas de forma mecânica. Já não mais agimos da maneira que achamos melhor mas sim da forma que nos impõem como sendo a melhor. É pois necessário que passem a ser impostos alguns limites éticos e políticos que possam controlar o poder da tecnociência. A civilização técnica carrega consigo uma responsabilidade metafísica, pelo menos “desde que o homem se tornou perigoso,
não apenas para ele mesmo, mas pa ra toda a biosfera” E a restauração da simbiose
homem/natureza é o primeiro passo a ser dado diante da arquitectura do mal perpetrada por intelectos teórico-práticos.
TECNOCIÊNCIA: RISCOS E IMPACTOS NA SOCIEDADE
A condição humana traz-nos uma série de questões importantes, se por um lado somos seres racionais com uma sensação de invencíveis, por outro somos dotados de uma fragilidade que nos coloca num conjunto de incertezas. É-nos possível criar
menos gostamos, mas não conseguimos controlar essa de cultural e tecnológicanova realida. maquinarias e “brinquedos” capazes de realizar funções que
Por conseguinte a tecnologia apresenta-nos uma ambivalência pois se por um lado liberta o homem de determinadas funções, de outro lado vem subjugando a sociedade à lógica quantitativa destas mesmas máquinas.
Podemos imaginar o futuro, quando ocorrerão mudanças drásticas no Homem e na natureza, que serão possíveis com a ajuda da tecnociência, e o seu universo de manipulações, desde a manipulação genética à manipulação da actividade simbólica. Vivemos numa era de concubinato entre o Homem e elementos cibernéticos, associando e permitindo-lhes viver com vantagens.
A tecnociência leva o Homem a confrontar-se com questões que são únicas nos nossos tempos. Esta nova ordem traz ao Homem uma expansão da capacidade técnica inimaginável e cujas consequências irão provocar um enorme tremor na própria existência do ser humano. Ou seja, a definição de homem, tal como foi concebida é, hoje em dia, colocada em dúvida. A capacidade moral e ética é atingida, sendo-nos cada vez mais difícil decidir o que é correcto do que está errado. Os nossos valores e juízos éticos são abalados atingindo a nossa capacidade de raciocinar.
“As inovações tecnocientíficas têm trazido em seu sei o mudanças profundas no
Newton Aquiles von Zuben - Ou seja, o Homem é atingido na sua capacidade de raciocinar, pois os valores éticos, que antes eram a principal base da compreensão, hoje são desadequados e desnecessários. As evoluções na tecnociência têm sido encaradas como actos violentos, inumanos e antinaturais. Se por um lado qualquer manipulação simbólica é aceite e considerada legítima e moralmente válida, por outro alguma intervenção maior, por exemplo ao nível da genética, é considerado impensável e diabólica. ethos das sociedades
nelas envolvidas.” -
Com todas estas evoluções existe já um quase ditado popular: “ o problema não é
especializar, mas o especialista generalizar ” ou seja, com todas estas mudanças e
exigências todos nós temos de ter um pouco de conhecimento em todas as áreas. Assim, tomaremos como exemplo do uso da tecnociência a clonagem, a robótica e a eutanásia.
A Clonagem
Existem dois tipos de clonagem: a clonagem reprodutiva e a clonagem terapêutica. A clonagem terapêutica é baseado na produção de embriões humanos com o propósito de pesquisar o corpo humano. O objectivo deste processo não é criar clones humanos mas investir no estudo do corpo humano e descobrir a cura para inúmeras doenças. Os cientistas têm esperanças de que um dia seja possível clonar órgãos humanos e usá-los em transplantes. Para isto deverá ser retirado o DNA da pessoa que necessita do transplante e colocá-lo num óvulo. Uma outra possível aplicação da clonagem terapêutica é modificar geneticamente porcos com o objectivo de utilizar órgãos que sejam possíveis para transplantes humanos. A clonagem reprodutiva é por sua vez a tecnologia usada para gerar um animal que tem o mesmo DNA que outro animal já existente. Um exemplo deste tipo de clonagem é a ovelha Dolly que foi criada usando a tecnologia de transferência nuclear.
A clonagem reprodutiva é extremamente cara e altamente ineficiente – mais de 90% das tentativas de clonagem falharam, serão necessárias mais de cem transferências nucleares para produzir um clone viável. Juntamente com as baixas taxas de sucesso do processo em si, os animais clonados tem uma grande deficiência imunitária e estão mais sujeitos a infecções, ao surgimento e tumores e outros problemas graves. Estudos japoneses provaram que os ratos clonados tinham pouca saúde e morriam antecipadamente. Aproximadamente um terço dos clonados que nasceram vivos morreram jovens e com anomalias graves, o que fez com que estes não vivessem o suficiente para permitir que fossem retiradas informações necessárias para o processo.
Por outro lado o conceito do termo Homem tem vindo a sofrer diversas modificações, a sua importância tem sido reduzida chegando mesmo a ser tratado como coisa . E desta forma, o ser humano reduzido a coisa ou a um simples número, os fins justificam os meios. Mas ao tratar deste polémico assunto um cientista tem de ter em
consideração os pontos de vista das outras ciências, tal como a sociologia, a psicologia, a antropologia, a filosofia e tantas outras ciências. Ao cair nas mãos erradas estas experiências, por muitos consideradas dádivas, por outros insanidades, poderão ser usadas de uma maneira errada e anti-ética prejudicando toda a Humanidade.
É necessário observar e agradecer os avanços da ciência, mas não podemos deixar-nos enganar por estes. É pois também necessário ter em conta que existe um ser pessoal e um ser social, e como tal não podemos esquecer que vivemos em sociedade e para tanto deve-se questionar perante a mesma. Será que temos o direito de construir algo que vá contra as regras da sociedade? Para resolver estes problemas existem as leis e os códigos de ética
Como já referimos as ciências biológicas têm sua ética, chamada de bioética, que são os valores da sociedade científica que, de certa forma, julga a moral dentro da ciência. Diversas pesquisas de opinião foram realizadas para determinar a opinião geral das pessoas sobre este assunto polémico. Grande parte dessas pesquisas foram unânimes ao considerar que a tentativa de clonagem de um ser humano é uma irresponsabilidade e não deve ser experimentada, uma vez que os estudos feitos com animais mostraram que a técnica não é segura. A maioria dos animais clonados morreram prematuramente de infecções e outras complicações. Os mesmos problemas são esperados na clonagem humana.
Defendem que um clone nunca será uma cópia totalmente fiel do individuo clonado, porque as determinações/características de uma pessoa não são só devido ao seu património genético, mas também às
experiências adquiridas ao longo da sua vida. Para a maioria dos cientistas os riscos superam os possíveis benefícios, sendo a eugenia um risco possível causado pelo mau uso desta técnica. A eugenia é a possibilidade dos pais poderem escolher os genes dos seus filhos determinando, por exemplo, a cor dos olhos e do cabelo. Os cientistas não sabem como a clonagem humana pode causar impacto no desenvolvimento mental da sociedade, por outro lado enquanto factores tais como o intelecto e a personalidade não são importantes num rato ou numa vaca, são cruciais para o desenvolvimento de seres humanos saudáveis.
Com tantos factores desconhecidos ensombrando a clonagem reprodutiva, a tentativa de clonagem humana é considerada perigosa e eticamente irresponsável.
Será que temos o direito de contrariar a natureza e desempenharmos o papel de Deus, resolvendo criar vidas por nossas próprias mãos? A Robótica
Antes de começarmos na abordagem sobre a robótica, também conhecida como inteligência artificial é necessário localizá-la historicamente e as disciplinas com as quais esta tem maior relação.
No século XIX, os matemáticos começaram a tentar desenvolver sistemas lógicos com o objectivo de conseguir dar o salto que tornaria possível a formalização da lógica Aristotélica. Assim, alguns anos mais tarde nasceu a lógica simbólica a partir da transformação da lógica num cálculo de deficit operatividade. Em 1943 McCulloch e Pitts projectaram um modelo de neurónios artificiais, fazendo surgir a primeira vertente da robótica e da inteligência artificial que tinha como objectivo a simulação do cérebro humano do ponto de vista físico.
A robótica é a área da tecnociência que estuda e constrói robôs, ou seja máquinas automáticas que são controladas por computadores e destinadas a substituir humanos em funções perigosas, pesadas ou rotineiras, capazes de interagirem com o meio e, eventualmente, de aprender novos comportamentos.
Segundo alguns cientistas do MIT (Laboratório de Inteligência Artificial) daqui a sensivelmente 20 a 30 anos, com os avanços da tecnologia, seremos capazes de fabricar robôs com a mesma capacidade de computação do cérebro humano. Já foram construídas máquinas que ultrapassaram o cérebro humano, vejamos então o caso de um computador IBM que disputou algumas partidas de xadrez com o então campeão do mundo vencendo-o em duas partidas, empatando três e perdendo uma para o Homem.
Todos estes avanços acabam por tornarem-se assustadores pois se reflectirmos mais um pouco sobre o assunto quem sabe se daqui a algum tempo algum cientista não utilizará as suas capacidades da pior forma. Poderão ser construídos robôs com vontade própria e poderão fugir ás vontades dos seus criadores da forma como a ficção apresenta. Se por um lado este assunto parece-nos algo ridículo devemos, então, ter em conta que há cerca de cem anos atrás era impensável existirem computadores, telemóveis, satélites e maquinas que levassem o Homem à Lua ou ao fundo do mar. Isto eram só fantasias dos que eram considerados lunáticos
Quem nos poderá garantir que daqui a cem anos os robôs não terão tomado o comando da terra transformando-a num caos? Neste momento estes cenários só fazem parte dos filmes de ficção científica, mas são riscos que teremos de correr. Por um lado máquinas que fazem as tarefas mais perigosas, melhorando substancialmente a nossa qualidade de vida, por outro um cálculo mal feito ou uma simples avaria que poderá por em causa uma vida humana.
É também preocupante o facto de no século XXI as tecnologias, tais como a robótica e a nanotecnologia, são tão poderosas que podem fazer com que surja uma nova classe de acidentes. Se no século passado as guerras químicas eram um medo constante, a construção de armas nucleares exigia tempo e matérias-primas raras, tal como está exemplificado na imagem. No nosso século este tipo de tecnologia está acessível a qualquer tipo de grupo e não necessita de matérias-primas raras, o conhecimento habilita o seu uso. Estamos a iniciar uma maldade extremista, quem sabe um novo tipo de terrorismo com maiores consequências. Devido ao poder destas novas tecnologias, não deveríamos estar a pensar qual a melhor maneira de estarmos a coexistir com elas?
A ética reflecte sobre a moral, ou seja, vai mais longe, procura justificá-la. É uma reflexão sobre os nossos actos, costumes e carácter no sentido de confirmar se eles são ou não os melhores, os mais justos, os mais desejáveis. Assim o apelo à reflexão ética vem-nos antes de mais da experiência quotidiana, do mundo e da vida. No entanto, há actos que nos interpelam e exigem da nossa parte uma tomada de posição pessoal, uma decisão racional nem sempre pacífica e isenta de dúvidas. Assim é este assunto para
alguns é politicamente correcto para outros algo que está a tornar-se cada vez mais incontrolável e perigoso.
A Eutanásia
A eutanásia é um sistema de procura dar morte sem sofrimento a um doente incurável. Existem diversos tipos de eutanásia baseados quanto ao tipo de acção e ao tipo de consentimento do paciente. Quanto ao tipo de acção :
1. Eutanásia activa por fins misericordiosos;
é o acto de provocar a morte a um paciente
2. Eutanásia passiva ou indirecta a morte do paciente ocorre quando este está num quadro terminal e tem como fim acabar com o sofrimento causado pela doença; 3. Eutanásia de duplo efeito a morte é acelerada como uma consequência indirecta das acções médicas que são executadas com o objectivo de aliviar o sofrimento de um doente terminal Quanto ao consentimento do paciente:
1. Eutanásia voluntária uma vontade do paciente; 2. Eutanásia involuntária vontade do paciente;
quando a morte é provocada atendendo a
quando a morte é provocada contra a
3. Eutanásia não-voluntária quando a morte é provocada sem que o paciente tivesse demonstrado a sua opinião em relação a ela.
A eutanásia está indirectamente relacionada com a tecnociência no ponto de vista em que com os novos avanços da tecnologia existe uma melhoria significativa das condições de vida da maioria dos humanos. Todas estas novas criações proporcionadas
pela tecnologia dão-nos outra perspectiva de vida, o nosso lazer aumenta e consequentemente o prazer de viver também.
Fig.15 Poster do filme actualmente em exibição “Mar Adentro” o qual aborda a polémica
eutanásia
Contudo, quando ocorre um acidente que debilita o ser humano esse prazer desaparece pois já não é possível usufruir da vida a que estava habituado, caindo em monotonia sem ser possível utilizar as novas tecnologias, as quais permitiam uma maior globalização e uma fonte de lazer.
“Morte os meios utilizados não são assim tão com dignidade”, t em
sido um slogan muito usado pelos defensores da eutanásia, mas nem sempre é isso que acontece. Contudo dignos. Um dos principais riscos da eutanásia é esta prática cair em banalidade, por exemplo uma organização pró-eutanásia distribuiu informações de como deveríamos sufocar alguém, o que nos parece um acto extremamente inumano. Em geral, os activistas e defensores da eutanásia defendem que é a eutanásia proporciona uma morte rápida e indolor, mas raras as vezes em que isso acontece, existem inúmeros casos em que é utilizado, por exemplo, a utilização do monóxido de carbono e assim os pacientes são gaseados até à morte. É comum dizer-se que a eutanásia só é praticada em doentes “terminais”, mas o conceito “terminal” é muito subjectivo visto que existem
médicos que definem “terminal” como qualquer doença que encurte a vida nem que seja por um só dia, por outro lado há quem considere condição “terminal” como aquela em
que a morte ocorrerá dentro de pouco tempo.
Um exemplo de mau uso (e risco da eutanásia) decorreu nos E.U.A. em que um afamado médico praticante da eutanásia matava os seus doentes e deixava os corpos em carros abandonados nos parques de estacionamento, não será esta acção monstruosa e contra a ética?
A actuação médica é regida por dois grandes princípios éticos: a preservação da vida e o alívio da dor, os quais se complementam na generalidade das situações, no
entanto, em algumas excepções podem torna-se antagónicos devendo prevalecer um sobre o outro. Mas qual?
Por um lado se escolher-mos a preservação da vida, poder-se-á com esta atitude negar o facto de que a vida humana é finita. Existem determinadas etapas de doenças em que a morte é o final certo, em que o doente padece de um grande sofrimento. É aí que os princípios éticos devem ser pautados na preservação da vida, segundo estes quando o paciente está numa etapa em que a morte é algo inevitável deve ser antecedido o alívio do sofrimento. A utilização dos princípios éticos – beneficência e da não maleficência, autonomia e justiça – deverá ser hierarquizada tal que seja obtida uma sequência de prioridades.
Irá sempre haver aquele momento em que as tentativas de cura deixam de demonstrar compaixão ou de fazer qualquer sentido sob o ponto de vista médico, aí deverá ser respeitada a opinião e decisão do paciente e fazer com que o tempo de vida restante seja o melhor possível.
Conclusão
Terminado o nosso trabalho de investigação e em jeito de apanhado geral verificou-se realmente que a ciência é hoje em dia detentora de um tremendo poder, poder esse que lhe permite conhecer, controlar e intervir quer na própria Natureza, quer no Homem e em toda a sua Sociedade.
É pois através da técnica/tecnologia à qual a ciência está intimamente interligada (daí o termo tecnociência) que a ciência irá ser aplicada em domínios como a informação, os transportes, a manipulação genética a robótica, etc.
Mas, e além do enorme progresso e vasto leque de benefícios que a ciência tem trazido à nossa sociedade é também importante salientar que a ciência também
comporta um grande número de riscos nos quais muitas vezes surgem graves implicações éticas.
Para além do facto de algumas culturas continuarem ainda hoje à margem da ciência , para além da ciência ser limitada em alguns países por razões de ordem ideológica/religiosa, todo o restante planeta azul é dependente dela. É no entanto urgente que se tomem medidas e que os políticos do mundo em conjunto com os cientistas possam realmente reunir-se e tomar consciência de que é necessário estabelecer limites éticos a toda esta evolução desmedida, assim evitando mais riscos que possam vir a surgir. Referência: http://tecnociencia.webs.com/introduo.htm;
Livro de Pierre Levi Cibercultura: http://books.google.com.br/books?hl=ptBR&lr=&id=7L29Np0d2YcC&oi=fnd&pg=PA11&dq=tecnoci%C3%AAncia+e+cibercultura&ots=g hSwxDRDjk&sig=_Xga1WPKD2ErmQE0BeUkEIEhN0g#v=onepage&q=tecnoci%C3%AAncia%20e %20cibercultura&f=false;