Apostila de História Moderna I

Patrícia Albano Maia

História Moderna

APRESENTAÇÃO É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de História Moderna, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância exige. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidisciplinares, como chats, fóruns, aulas web, material de apoio e e-mail . Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suplemento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: Universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO

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HISTÓRIA MODERNA I 1 HISTÓRIA MODERNA: PERIODIZAÇÃO E CONCEITO ........... ...................... ...................... ...................... .................. ....... 7 1.1 Resumo do Capítulo .......................................................................................................................................................9 1.2 Atividades Propostas ......................................................................................................................................................9

2 CAPIT C APITALISMO ALISMO COMERCIAL 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6

................................. ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... .................. ....... 11 A Expansão Ultramarina.............................................................................................................................................11 O Desenvolvimento Comercial ...............................................................................................................................13 O Desenvolvimento Artesanal .................................................................................................................................14 O Mercantilismo ............................................................................................................................................................14 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................16 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................16

3 RENASCIMENTO CULTURAL CULTURAL NA ÉPOCA MODERNA MODE RNA .......... ..................... ...................... ...................... .................. ....... 17 3.1 O Humanismo ................................................................................................................................................................17 3.2 Antiguidade Clássica: uma Inspiração ..................................................................................................................18 3.3 O Renascimento Cultural Europeu.........................................................................................................................20 Europeu.........................................................................................................................20 3.4 Propagação do Renascimento Cultural ...............................................................................................................22 3.5 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................24 3.6 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................24

4 REFORMAS RELIGIOSAS

................................ ..................... ....................... ....................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... .............. ... 25 4.1 A Crise da Religiosidade Europeia ..........................................................................................................................25 4.2 Os Pré-Reformadores ..................................................................................................................................................26 4.3 Reforma Luterana .........................................................................................................................................................26 4.4 Calvinismo .......................................................................................................................................................................27 4.5 Reforma Anglicana .......................................................................................................................................................27 4.6 Reforma Católica ...........................................................................................................................................................28 4.7 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................29 4.8 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................29

HISTÓRIA MODERNA II 5 FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS ABSOLUTISTAS ........................ .......................... ... 31 5.1 A Inglaterra......................................................................................................................................................................32 5.2 A França ............................................................................................................................................................................33 5.3 A Crise do Antigo Regime .........................................................................................................................................34 5.4 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................34 5.5 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................35

6 REVOLUÇÕES INGLESAS 6.1 6.2 6.3 6.4 6.5 6.6

................................. ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ....................... .............. 37 Revolução Puritana ......................................................................................................................................................38 A República de Cromwell ..........................................................................................................................................38 Restauração Monárquica ...........................................................................................................................................39 Revolução Gloriosa ......................................................................................................................................................39 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................40 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................40

7 ILUMINISMO

................................. ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... .................. ....... 41 7.1 Despotismo Esclarecido .............................................................................................................................................42 7.2 Resumo do Capítulo ....................................................................................................................................................42 7.3 Atividades Propostas ...................................................................................................................................................43

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

..................... .......... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ...................... ............... 45

RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS ............ ....................... ...................... .............. ... 47 REFERÊNCIAS

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INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), Este material é o texto básico elaborado para o curso de História Moderna e seu conteúdo está dividido em duas partes, que contemplam duas disciplinas: História Moderna I e História Moderna II, oferecidas, respectivamente, no 10º e 11º módulos do curso de licenciatura plena em História. Nele, você encontrará todo o conteúdo que será discutido ao longo das duas disciplinas. No curso de História Moderna, você familiarizar-se-á com a multiplicidade de interpretações históricas sobre esse período. Você estudará, a partir de uma historiografia multifacetada e pluridisciplinar, alguns conteúdos importantes desse período histórico. Recorreremos à historiografia clássica e às novas tendências das pesquisas de cunho histórico, privilegiando a análise reflexiva e crítica. Neste curso, você retomará alguns fatos e datas que são de conhecimento imprescindível para professores de História. Um dos objetivos deste curso é romper com as interpretações tradicionalistas de cunho puramente factível e de memorização, porém conhecer algumas datas e alguns eventos é necessário para que você se posicione no período, sem achar que o que ocorreu no século XIV é o mesmo o que ocorreu no século XVIII. Quando, principalmente, a partir da Escola dos Annales, os historiadores começaram a dizer que era mais importante entender os processos históricos do que os fatos, com isso não quiseram dizer que os historiadores não deveriam conhecer os fatos. Com essa afirmação, pretendiam que os historiadores escrevessem textos que explicassem como e por que ocorreram as modificações nas sociedades através dos tempos. Durante o curso, buscaremos chegar a um conceito de História Moderna. Faremos a relação entre os principais temas da História Moderna e procuraremos mostrar que Renascimento, Reformas religiosas e Expansão ultramarina são processos que ocorrem ao mesmo tempo e todos têm relações entre si. Iniciaremos nosso curso discutindo os conceitos de História Moderna. Depois, partiremos para o estudo do Capitalismo comercial; a seguir, veremos o Renascimento cultural da época moderna e, depois, as Reformas religiosas, encerrando aqui o conteúdo que será visto na disciplina História Moderna I. A seguir, começaremos o estudo dos conteúdos que fazem parte da disciplina História Moderna II. Veremos a Formação das monarquias nacionais absolutistas, as revoluções inglesas e o Iluminismo, terminando aqui o estudo do período moderno. Creio que, ao finalizar a leitura deste material, você terá um panorama do que foi a Época Moderna e poderá escolher qual modelo interpretativo agrada-lhe. Finalmente, desejo que você faça ótimos módulos, que estude e aprofunde seu conhecimento. Eu e toda a equipe da Unisa Digital estamos à disposição para o que se fizer necessário. Com os melhores cumprimentos, Patrícia Albano Maia

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HISTÓRIA MODERNA I

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HISTÓRIA MODERNA: PERIODIZAÇÃO E CONCEITO

Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você entrará em contato com a discussão historiográfica, através de reflexões sobre o que é e qual é o recorte cronológico que delimita a chamada História Moderna. Você já deve saber que se convencionou chamar História Moderna o período compreendido entre a Queda do Império Romano do Oriente, em 1453, e a Revolução Francesa, em 1789, porém esses marcos poderiam ser quaisquer outros que também tivessem importância significativa para a época, como, por exemplo, as reformas religiosas, a descoberta da América etc. Isso porque qualquer recorte cronológico é arbitrário, ou seja, um autor ou um grupo de autores propõe datas e fatos que, do seu ponto de vista, causaram mudanças tão grandes na sociedade que inauguraram uma nova época. No passado, houve um momento em que o início da época moderna estava ligado às grandes invenções: o papel, a pólvora, a imprensa, a bússola. Era por meio delas que se começava o estudo da História Moderna. Mais recentemente, os trabalhos dos historiadores passaram a privilegiar os processos e as transformações de natureza conjuntural e os fatos que haviam sido tão utilizados nas explicações históricas foram sendo deixados de lado. Multimídia Para aprofundar seus conhecimentos a respeito do recorte cronológico da Época Moderna, você pode ler o texto de Laura de Mello e Souza, publicado na revista Signum.

Durante certa época, o processo da expansão marítima, colonial e comercial colocou em destaque a mudança do eixo econômico da Europa, da região do Mediterrâneo, para áreas do Atlântico, o que levou ao declínio das cidades marítimas italianas, entre outras, e à ascensão econômica da região ibérica. Depois, sob a influência do marxismo, os fatores estruturais passaram a ser mais importantes para entender uma sociedade ou uma época. Nesse momento, o início da Época Moderna passou a ser a passagem do modo de produção feudal ao capitalista. Atenção Repare que, qualquer que seja o marco escolhido para dar início à Época Moderna, ele é arbitrário, ou seja, depende do ponto de vista que se quer privilegiar. Não há nenhum marco universal.

Além da dificuldade de estabelecer um marco inicial para a Idade Moderna, esta ainda apresenta o problema da caracterização do período. Segundo Falcon (1977, p. 10), “Mundo Moderno. À primeira vista talvez haja muito poucas outras noções, dentre aquelas habitualmente manejadas pelo professor de História, que contenham uma dose tão considerável de fluidez e incerteza.” Normalmente, os manuais tratam do início dos tempos modernos e da Idade Moderna como algo completamente claro. Procure se lembrar dos livros que você estudou na escola. Mas o que é definir uma época como moderna? A diferença entre o novo, o atual, e o que é velho e ultrapassado seria uma resposta possível à pergunta feita anteriormente, comprovada por meio das ideo-


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logias que se pretendem novas frente ao que já existe, como negação do status quo, origem, desse modo, de sucessivas modernidades. Por que optamos por absolutizar o moderno, fixando-o naquele momento do passado que seria a Idade Moderna? Dicionário “Moderno: adj. 1. Recente; 2. Presente, atual, dos nossos dias; 3. Que está na moda; subst.. masc. 4. Aquilo que é moderno.” (SOARES AMORA).

Pense como deve ser difícil para uma criança do Ensino Fundamental I compreender que aquele período histórico compreendido entre os anos de 1453 e 1789, tão longínquo cronologicamente dela, que vive no século XXI, é chamado Moderno. Esse aluno deve-se perguntar por que esse período, que não é recente, que não é atual, que não é de sua época, é chamado moderno. A ideia de moderno não é suficiente, por si só, para contar alguma coisa de concreto ou definitivo sobre o período tratado aqui. Modernos foram os nominalistas medievais, os humanistas do Renascimento, e aqueles que, no século XVII, travaram formidável batalha contra os antigos. Só aos poucos, nas sociedades ocidentais, foi havendo uma tomada de consciência quanto à modernidade nascente, em cujo seio já se vislumbra, indecisa, a teoria do progresso. Foi a partir daí que se originou a noção de uma História Moderna, distinta enquanto época daquelas que lhe haviam precedido. (FALCON, 1997, p. 10).

Se nos prendêssemos ao significado da palavra ‘Moderno’, teríamos que História Moderna é a história atual do tempo presente. A história contemporânea significaria o mesmo. A diferença entre os vocábulos ‘moderno’ e ‘contemporâneo’ existe mais no plano etimológico do que no semântico. Quando dizemos que César foi contemporâneo de Cícero ou que o papa Bento XVI é contemporâneo da rainha Elizabeth II da Inglaterra, nossas afirmações não geram dúvidas; todos

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entendem que César e Cícero viveram na mesma época, assim como o papa Bento XVI e a rainha Elizabeth II da Inglaterra. Agora, se dissermos que Aristóteles foi mais moderno do que Platão ou vice-versa, ou que o uso do metal introduziu uma economia mais moderna que aquela da pedra, nossas afirmações podem criar dúvidas; é preciso explicá-las. As afirmações não bastam por si só. O uso do termo ‘moderno’ é menos inocente que o uso do termo ‘contemporâneo’. O vocábulo ‘moderno’ traz junto uma afirmação de valor ou ideológica. É preciso explicar o que é a história moderna, para não deixar dúvidas sobre que período ela abarca. Como já se dissemos antes, a história moderna estuda o período compreendido entre a queda do Império Romano do Oriente e a Revolução Francesa, e recebeu o nome ‘moderna’ porque, na época em que essa delimitação cronológica foi feita, acreditava-se que a sociedade que vivia na época moderna era mais desenvolvida do que a que havia vivido no período imediatamente anterior. Há, aqui, um juízo de valor. Hoje, continuamos a usar essa periodização, mas não concordamos mais que a sociedade moderna é mais desenvolvida ou melhor que a medieval. Hoje, percebemos que são sociedades distintas, mas não acreditamos mais que uma é melhor do que a outra. Autores que seguem a interpretação marxista de História, como Adhemar Marques, Flávio Berutti e Ricardo Faria, dizem que a Época Moderna, enquanto objeto de estudo, compreende o período que se estende da crise da sociedade feudal europeia, no século XIV, às revoluções democrático-burguesas dos séculos XVII e XVIII. Lembre-se de que essa periodização pode e deve ser questionada se o leitor/pesquisador tem como referências outros parâmetros. Como já foi dito, qualquer recorte cronológico é passível de ser questionado.


História Moderna

1.1 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudou que o recorte cronológico da época moderna é passível de ser questionado. Você também viu que qualquer recorte cronológico é arbitrário e estudou que o termo ‘moderno’ é um vocábulo que, quando empregado para definir uma época da história, é ideológico e traz com ele a ideia de que a época moderna é melhor, mais desenvolvida, do que o período anterior. Você não deve se esquecer de que essa ideia de que a época moderna é melhor do que a anterior não é mais uma ideia aceita unanimemente pelos historiadores.

1.2 Atividades Propostas Vejamos, agora, como se deu seu aprendizado. Responda às perguntas a seguir: 1. A época moderna é delimitada cronologicamente pela queda do Império Romano e pela Revolução Francesa. Todos os historiadores concordam com esse recorte? Justifique sua resposta. 2. A expressão ‘História Moderna’ é uma expressão de cunho ideológico? Explique sua resposta.


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2 CAPITALISMO COMERCIAL Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudará as transformações econômicas que ocorreram durante a época moderna. Você já deve ter aprendido que, durante a época moderna, houve o aparecimento do capitalismo comercial e que este está baseado tanto no desenvolvimento econômico dos séculos XI a XIII quanto na crise dos séculos XIV e XV. O primeiro elemento contribuiu para a formação da burguesia, o desenvolvimento da vida urbana, o aumento da produtividade agrícola e artesanal, a intensificação do comércio e o surgimento do sistema financeiro. O segundo elemento, a crise do final da Idade Média, desarticulou de tal maneira a sociedade europeia que se fez necessária a intervenção do Estado, recém-criado, para superar os problemas surgidos. Atenção Lembre-se de que o desenvolvimento do capitalismo comercial, durante a época moderna, deu-se baseado tanto no crescimento econômico que ocorreu na Europa entre os séculos XI e XIII quanto na crise econômica dos séculos XIV e XV.

Em um sentido amplo, o sistema econômico surgido da crise do final da Idade Média pode ser definido como um sistema econômico fundamentado na propriedade privada dos meios de produção (terras, máquinas, mercadorias, moeda etc.), que eram usados de modo a se reproduzirem continuamente (lucro). Os indivíduos sem capital juntam-se ao sistema colocando à venda a única coisa que possuem: sua força de trabalho, entendida como uma mercadoria e, portanto, tendo valor variável, conforme sua oferta e procura. Vendendo sua força de trabalho, o indivíduo antes desprovido de capital passa a ter capital para consumir outras mercadorias, aumentando o lucro dos capitalistas, que, para manterem seus negócios, continuam consumindo a mercadoria trabalho, perpetuando-se, assim, o sistema. Na história do capitalismo, a relativa importância dos setores econômicos muda, existindo, em cada fase, uma atividade principal, responsável por criar lucros em maior quantidade; tal situação possibilita a acumulação de capitais e, consequentemente, a expansão do sistema. Nos séculos XV a XVIII, a atividade principal foi a mercantil, daí utilizarmos o termo ‘capitalismo comercial’.

2.1 A Expansão Ultramarina A sucessão de crises no final da Idade Média causou uma modificação estrutural na sociedade europeia. A Europa precisava crescer economicamente, expandir-se, procurar novas soluções para seus problemas. Essas soluções não foram encontradas no sistema feudal, mas no sistema capitalista.

O desenvolvimento do capitalismo está ligado à expansão marítima e comercial da Europa, ocorrida entre os séculos XV e XVI. Como decorrência dessa expansão, surgiram o descobrimento de novos caminhos marítimos para as longínquas regiões comerciais do Oriente e o descobrimento e conquista colonial da América.


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A expansão ultramarina europeia foi uma forma de se recuperar da depressão econômica dos séculos XIV e XV, por meio da busca de ouro e especiarias. As técnicas de navegação, praticadas desde o século XII, foram aperfeiçoadas, tornando mais simples a expansão. Pode-se dizer que a depressão gerou a necessidade da expansão. Multimídia 

Sobre os grandes descobrimentos, você pode assistir ao filme 1492 – A conquista do paraíso, dirigido por Ridley Scott.

Elementos econômicos, sociais, políticos e culturais ajudaram a expansão marítima e comercial europeia. Entre eles, destacam-se: 

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a busca de uma nova rota para o Oriente: entre as mercadorias mais procuradas pelo comércio europeu, estavam as especiarias (pimenta, cravo, canela, noz-moscada, gengibre) e as mercadorias de luxo (porcelana, seda, marfim, perfumes). Todas as mercadorias vinham do Oriente (Ásia e África) e chegavam à Europa após percorrerem um longo e difícil caminho por terra e por mar, o que encarecia o seu preço final. No século XV, o comércio de especiarias e mercadorias de luxo do Oriente era muito lucrativo e praticamente monopolizado pelas cidades italianas de Gênova e Veneza. Os comerciantes navegavam rumo ao Oriente pelo mar Mediterrâneo até Constantinopla, onde recebiam as mercadorias, e depois retornavam para a Europa, onde revendiam as mercadorias por um preço bem alto. A burguesia comercial europeia não ligada aos venezianos e aos genoveses buscava romper com o monopólio das cidades italianas, tentando descobrir rotas alternativas para o comércio com o Oriente.

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Com a queda de Constantinopla, em 1453, os turcos fecharam o comércio de especiarias realizado pelo mar Mediterrâneo. Desse modo, passou a existir certo interesse geral da burguesia europeia, agora incluindo a participação de genoveses e venezianos, na procura de um novo caminho para se chegar aos fornecedores de produtos orientais; a necessidade de novos mercados: a necessidade de descobrir novas rotas para o Oriente significava, também, descobrir novos mercados que se interessassem pelos produtos europeus. As manufaturas e o artesanato europeus precisavam ver o seu número de consumidores crescer. Todas as necessidades de venda e compra de produtos só poderiam ser satisfeitas com o crescimento do mercado consumidor fora da Europa; a falta de metais preciosos: as minas de metais preciosos existentes na Europa não produziam mais em quantidade suficiente para a cunhagem de metais. Faltava metal, porque grande parte do que era extraído transformava-se em forma de pagamento dos produtos vindos do Oriente. Para solucionar o problema da escassez de metal precioso, os europeus precisavam descobrir novas minas fora da Europa; a formação dos Estados nacionais: os novos Estados Nacionais Absolutistas tinham interesses mercantis. A expansão comercial aumentaria os poderes do rei, manteria os privilégios da nobreza e elevaria os lucros da burguesia. Desse modo, esses Estados deram todo o apoio à expansão marítima; a propagação da fé cristã: os que estavam envolvidos na expansão marítima e comercial europeia haviam recebido da Idade Média um entusiasmo e o desejo de aventura das novelas de cavalaria, nas quais se misturavam resquí-


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cios do ideal cruzadista de propagar a fé cristã. Portanto, é impossível ignorar, nesse período, o peso da religiosidade e

a justificativa de conquistar e converter povos não cristãos do mundo.

Figura 1 – Principais rotas marítimas da época moderna.

Fonte: Wikipédia (2012).

2.2 O Desenvolvimento Comercial O comércio interno europeu, na Idade Moderna, não mostrava grandes diferenças em relação ao período medieval. Afora as dificuldades de comunicação entre as várias regiões, existia certa tendência à autossuficiência, com cada localidade produzindo todos os bens necessários ao mercado consumidor local. Mesmo assim, quantitativamente, o comércio conheceu certa prosperidade, tendo como principais centros: Antuérpia (séculos XV e XVI), Amsterdã (séculos XVI e XVII) e Londres (a partir do século XVII). As grandes modificações comerciais ocorreram no plano internacional, com os europeus abrindo e organizando um circuito mercantil, pela primeira vez, mundial.1 A Índia foi, por muito tempo, a área mais importante desse circuito, por conta de especiarias ali produzidas. No início do

século XVI, um lote de especiarias valia oito vezes a carga de mercadorias europeias levada para troca. Por conta desse grande lucro, franceses, holandeses e ingleses passaram a concorrer com os portugueses, os primeiros europeus a chegarem à Índia. Outro importante fluxo comercial envolvia três continentes: África, América e Europa, sendo conhecido como comércio triangular. Nesse caso, a África fornecia escravos negros, que eram vendidos na América, e comprava tabaco, rum, armas e tecidos dos europeus; a América fornecia metais preciosos, açúcar, algodão tabaco, rum, cereais, madeira e peles; e a Europa fornecia produtos manufaturados. Esse comércio triangular deu uma incrível dinâmica ao comércio mundial da época moderna.

Braudel, na obra El Mediterraneo e o mundo mediterraneo en la epoca de Felipe II , afirma, pela primeira vez, que a época moderna é o primeiro momento da história europeia em que ocorreu um processo de mundialização ou globalização. 1


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2.3 O Desenvolvimento Artesanal Durante a época moderna, as manufaturas europeias desenvolveram-se muito. Nesse período, a Europa ainda não conhecia o progresso técnico e o aumento de produtividade que conseguiria a partir do final do século XVIII. O desenvolvimento da indústria aconteceu quando, devido ao crescimento populacional e à formação de impérios coloniais, o setor produtivo foi pressionado para intensificar suas atividades. Consequentemente, a indústria artesanal precisou expandir-se, abandonando o sistema de corporações de ofício que utilizava desde a Idade Média e desenvolvendo um novo sistema: o sistema doméstico. O sistema de corporações de ofício encontrava-se já disseminado na Idade Moderna e, apesar de ter surgido um novo sistema, o antigo continuou a ser utilizado por ser facilmente controlado pelo Estado, que, nessa época, tentava supervisionar todas as atividades econômicas.

Cada corporação de ofício era rigidamente dirigida por um conjunto de regulamentos, que estabelecia em detalhes as matérias-primas a serem utilizadas, as técnicas produtivas, a qualidade e o preço de venda da mercadoria. Comuns em toda a Europa, as corporações sobreviveram até a industrialização do século XIX, tendo vida mais curta apenas na Inglaterra e na Holanda (MARONE; FRANCO, 1982). Os comerciantes, que queriam fugir das regulamentações corporativas, criaram o sistema doméstico, uma forma de organização em que o artesão trabalhava em sua própria casa. O comerciante fornecia ao artesão a matéria-prima e pagava-lhe por unidade produzida. Desse modo, ele era o dono da mercadoria, podendo vendê-la da maneira que mais lhe interessasse. Sendo assim, os comerciantes não atuavam só na área comercial, mas também na produtiva.

2.4 O Mercantilismo Como já vimos, a intervenção do Estado era o modelo seguido mais rápido e eficaz para superar a crise do final da Idade Média. Na esfera política, o fortalecimento do Estado levou ao Absolutismo e, no plano econômico, criou o Mercantilismo. Sendo assim, este pode ser definido como uma política econômica de intervenção do Estado Moderno, especialmente das monarquias nacionais absolutistas. Este foi utilizado como instrumento de unificação nacional, de superação das crises e de engrandecimento nacional. Sem Estado moderno, não há mercantilismo; sem mercantilismo, não há Estado Moderno. O mercantilismo foi pautado no tripé: metalismo, balança comercial favorável e protecionismo.

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Dicionário Dicionário Metalismo: concepção econômica de que a riqueza de cada país estaria na razão direta da quantidade de metais preciosos que possuísse.

A primeira característica do mercantilismo era o metalismo. O desejo pelo metal precioso reforçava a ideia, seguida da observação de que o país mais poderoso do início da Modernidade, a Espanha, era o que maior estoque metálico possuía, graças às suas minas de ouro e de prata na América. Os países que não tivessem suas próprias fontes de metais preciosos deveriam consegui-los de outros países, por meio do comércio, ou


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seja, deveriam vender mercadorias, que seriam pagas com o metal. O mais importante era exportar, mais do que importar, de modo que houvesse um saldo positivo na balança comercial. Resumindo, existia a concepção de uma limitação dos recursos mundiais. O mercantilismo procurava sobretudo os meios de proporcionar o maior lucro possível a cada país. Representava uma grande mudança em relação ao ideal medieval de autarquia, que pressupunha em última análise a imutabilidade da situação dos indivíduos e das classes dentro da sociedade. No interior do país o mercantilismo perseguia objetivos dinâmicos. Porém, esta concepção se conjugava com uma ideia estática da economia mundial vista em conjunto, o que criava a desarmonia fundamental que servia de fermento às intermináveis guerras comerciais. Estes elementos levavam à conclusão de que era possível mudar e continuar desenvolvendo a economia de um país, mas somente às expensas de outros países. (HECKHER, 1943, p. 471).

Dificultar as importações de mercadorias estrangeiras era um modo para conseguir um saldo favorável na balança comercial. Assim, adotava-se uma política econômica protecionista, cobrando altos impostos alfandegários sobre os produtos importados, especialmente aqueles que tivessem similares nacionais. As matérias-primas, contudo, escapavam a essa norma, pois eram transformadas em produtos manufaturados nacionais, que mais tarde seriam exportados. O protecionismo mercantilista não só buscava impedir a entrada de produtos estrangeiros, mas também dificultar a saída de mercadorias nacionais que pudessem fortalecer ou enriquecer outros países, como algumas matérias-primas, ferramentas, navios e armas. Pela mesma razão, buscava-se proibir que pessoas que tivessem conhecimentos técnicos saíssem de seu país. Basicamente, o protecionismo protegia a nascente indústria nacional e o comércio nacional. O incentivo à exportação, principalmente de manufaturados que conseguiriam preço mais

alto no mercado internacional, era outro caminho adotado para ter um saldo comercial favorável. A regulamentação das corporações de ofício tinha por objetivo esse caminho, pois controlava a qualidade e a quantidade da produção, em grande parte destinada à exportação. O grande interesse pela venda ao exterior explica a política demográfica aplicada pelos Estados absolutistas: incentiva-se o crescimento populacional (com isenção de impostos para famílias numerosas), para que houvesse uma grande oferta de mão de obra e consequente redução salarial, levando, desse modo, ao barateamento do produto manufaturado, pois os custos industriais seriam menores e os produtos nacionais poderiam competir com maior facilidade no comércio internacional. Como todos os países europeus adotavam praticamente as mesmas medidas, chegava-se a uma situação de impasse, que gerava muitas guerras, com cada país querendo impor aos demais tratados comerciais que lhe dessem vantagens. A solução para tal problema foi a busca por colônias, que se tornariam mercados consumidores exclusivos dos produtos metropolitanos e forneceriam matérias-primas e produtos que poderiam ser reexportados pela metrópole. Sendo assim, graças à exportação de suas colônias, as economias nacionais europeias conseguiram acumular capitais e atingir os objetivos da política econômica mercantilista.


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2.5 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudou as principais transformações econômicas que ocorreram na Europa durante a época moderna, viu como surgiu o Capitalismo comercial e como se organizou a expansão ultramarina, estudou a política econômica da época moderna – o Mercantilismo – e examinou as transformações que ocorreram no trabalho artesanal.

2.6 Atividades Propostas Para terminar o estudo das transformações econômicas da época moderna, vamos ver como se deu seu aprendizado. Responda às questões: 1. “O mercantilismo aspirava colocar a vida econômica a serviço do interesse de poder do Estado.” (HECKSHER, 1983). Justifique essa afirmação. 2. A expansão europeia dos séculos XV e XVI teve como ponto de partida a Península Ibérica. Por que isso ocorreu?

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RENASCIMENTO CULTURAL NA ÉPOCA MODERNA

Caro(a) aluno(a), No capítulo que se inicia, você estudará o Renascimento cultural da época moderna e entrará em contato tanto com as ideias filosóficas desse momento quanto com as manifestações artísticas. O século XVI, política e economicamente, caracterizou-se por seus aspectos revolucioná-

rios, pelo absolutismo e pelo mercantilismo. No plano cultural, surgiu uma nova visão do homem: o Humanismo. Esse movimento apresentou características como a exaltação do valor humano, como meio e como finalidade, na certeza de se reviver uma época considerada um modelo uniforme: a Antiguidade Clássica.

3.1 O Humanismo Sempre que o valor principal de uma doutrina é a pessoa humana, o sentimento, a originalidade e a superioridade do homem sobre as forças da natureza, fala-se em Humanismo. O termo, entretanto, possui uma conotação histórica localizada no tempo e no espaço: descreve um movimento estético, filosófico e religioso preparado pelas correntes do pensamento medieval, que adquiriu, neste momento, uma conotação nova. Surgido no século XV, na Itália, e difundido, no século XVI, através da Europa, o humanismo caracterizou-se por um esforço em avaliar o homem em sua essência, propondo uma arte de vida em que ele se perpetuasse (MARRONE; FRANCO JÚNIOR, 1982).

Figura 2 – O homem vitruviano, de Leonardo da Vinci, sintetiza o ideário renascentista humanista e clássico.



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O Humanismo baseou-se, inicialmente, na herança medieval, mesmo contrapondo-se ao sistema existente. Desse modo, através dos tempos, a Bíblia forneceu aos homens uma cosmologia, uma história, uma moral e uma finalidade existencial, enquanto a Idade Média construiu uma filosofia, de início submissa à teologia, mas tentando explicar os temas em que a Bíblia não mais satisfazia a curiosidade do espírito humano. Surgiu, assim, uma ciência que possibilitou ao homem entender o mundo em que vivia. A filosofia e a ciência apoiavam-se em Aristóteles, conhecido muito bem desde o século XIII, por meio de textos traduzidos e comentados pelos árabes e judeus. Por intermédio das traduções, difundiram-se a obra de Aristóteles e seus ensinamentos. Santo Tomás de Aquino, em face de um modo de pensamento tão diferente ao do cristianismo, introduziu uma solução global, promo-

vendo a unidade da verdade, por meio do acordo da fé com a razão. Contudo, no fim do século XV, apenas alguns pensadores defendiam o tomismo, pois o nominalismo de Guilherme D’Occam (1280-1349) passou a dominar os ensinamentos na universidade. Para D’Occam, as verdades da fé não eram suscetíveis de serem analisadas racionalmente, enquanto a razão, a partir das aparências sensíveis, podia elaborar uma ciência racional puramente experimental, que nada devia aos Textos Sagrados (CORVISIER, 1995). A separação entre fé e razão proposta por D’Occam trouxe várias consequências para as áreas religiosa, filosófica e científica, gerando a crise do pensamento medieval, a qual explica a hostilidade dos humanistas à Escolástica e o sucesso dos novos modos de pensar.

3.2 Antiguidade Clássica: uma Inspiração A fonte mais viva do Humanismo talvez seja a Antiguidade Clássica. Embora a Idade Média não tenha ignorado tal período, entendia-o de modo deformado e truncado. Truncado porque não conhecia a maior parte dos textos gregos, senão por meio de traduções, como, por exemplo, Homero através de Virgílio e os estoicos através de Cícero. Deformado, por essas obras atenderem apenas politicamente às instituições do Estado Romano. No século XIV, Petrarca (1304-1374) e Boccacio (1313-1375) iniciaram devagar um movimento para reconquistar a herança antiga, ao introduzirem na Europa manuscritos de obras desconhecidas. Criaram, desse modo, a primeira filologia clássica, restituindo a latinidade e integrando a civilização ocidental, por meio de traduções latinas de obras importantes como as de Homero e Heródoto. Depois, Lourenço Vlala (1407-1457) fundou a sua crítica externa aos textos e elaborou um modelo de bela linguagem, em Elegantiarum linguae latinae .

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Na segunda metade do século XV, formaram-se vários círculos de intelectuais, em Roma, apoiados por eclesiásticos; em Florença, apoiados pelos Medici; e, em Veneza, os quais introduziram vários manuscritos contendo os ensinamentos da língua, completando o processo de reconquista cultural. Esses homens que apoiaram os intelectuais e artistas receberam o nome genérico ‘mecenas’. O contato com Platão, a partir da tradução latina, em 1421, que Leonardo Bruni fez da obra Diálogos , ao lado do conhecimento da língua grega, possibilitou um estudo crescente da Antiguidade. Da mesma forma, o estudo da filosofia platônica satisfez as necessidades espirituais de um século profundamente religioso. Também importante para as ciências que se baseavam em Aristóteles foi a redescoberta de compiladores bizantinos mais fiéis de Pitágoras, Ptolomeu e Euclides (MARRONE; FRANCO JÚNIOR, 1982).


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Essa aproximação com autores gregos que, durante a Idade Média, não foram muito estudados fez surgir uma aproximação entre as culturas do passado e a cultura moderna; esse contato propiciou que a época moderna fizesse suas leituras e interpretações do passado, transformando a Antiguidade Clássica em fonte de inspiração para se pensar o mundo de modo distinto daquele que se pensava na Idade Média. Com o estudo da filosofia de Platão, a filosofia de Aristóteles também foi reavaliada. Averróes (1126-1189) propôs uma nova interpretação de Aristóteles: a separação total da filosofia e da fé. Em Pádua, Pietro Pompanazzi (1462-1525) fundamentou a doutrina filosófica naturalista. Outros pensadores de Pádua continuaram seus ensinamentos, que introduziram no universo um estrito determinismo, não cedendo lugar à intervenção divina. O averroismo paduano foi bastante importante durante todo o século, influenciando desde Rabelais até Copérnico. Todavia, a verdadeira filosofia humanista, impregnada pelo pensamento de Platão, consolidou-se com Marsiglio Ficino (1433-1499), protegido por mecenas como Cosme e Lourenço, o Magnífico. Ficino escreveu Teologia platônica , em que criou uma ontologia para o neoplatonismo.

Deus é o ser de que emanam todos os ouros seres hierarquizados segundo suas ordens de pureza. As almas austrais e anjos são puras criaturas celestiais, imortais e perfeitas, que asseguram a marcha que compõe o universo incorruptível. Em contraposição, encontra-se o universo material, composto por criaturas e ideias próximas de Deus, que necessitam de formas sensíveis para existir, mas estas formas não são mais que traduções imperfeitas e corruptíveis dos arquétipos divinos. (FICINO apud MARRONE; FRANCO JÚNIOR, 1982, p. 92).

Resumindo, no centro do universo, o homem era alma imortal, imagem de Deus, criatura privilegiada entre todas as demais, embora sendo material. Sua vocação pelo conhecimento ultrapassava o mundo das aparências sensíveis e atingia as ideias que lhe permitiam alcançar Deus.

Atenção O homem do Renascimento Cultural da época moderna não era ateu.

Figura 3 – Criação de Deus, de Michelangelo (fragmento do teto da Capela Sistina, em que Michelangelo mostrou a grandiosidade humana).



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O homem podia assemelhar-se a Deus primeiramente e, depois, identificar-se com Ele, se Deus assim quisesse, pela criação. O homem era, como Deus, um artista universal. O homem viu bem a ordem dos céus, a origem dos seus movimentos, sua progressão, sua distância e sua ação. Quem poderia portanto negar que ele possui o próprio gênio do criador e que seria capaz de moldar os céus, se tivesse os instrumentos e a matéria celeste? O homem é o Deus de todos os seres materiais que ele trata, modifica e transforma. (MOUSNIER, 1980, p. 22).

Essa filosofia, profundamente idealista, baseada na procura do divino, caracterizou o pensamento dos humanistas italianos no final do século XV e início do século XVI. As ideias humanistas espalharam-se pela intelectualidade europeia, mas não foram conhe-

cidas por todos os homens dessa época. Um camponês da região da Toscana não tinha a menor ideia do que se discutia nos centros intelectuais. A imprensa conquistou um importante papel na difusão das ideias humanistas. A fundação da oficina de Gutenberg, em 1348, e a invenção dos tipos móveis criaram as técnicas necessárias à impressão. Os manuscritos das primeiras obras dos humanistas foram largamente disseminados, pois foram impressos. Nos séculos XV e XVI, multiplicaram-se consideravelmente os centros que faziam impressão na Europa, criando uma maior circulação de obras antigas e contemporâneas, que foram os principais meios de difusão das ideias humanistas. Devem-se levar em conta, ainda, as viagens, que promoviam um grande intercâmbio cultural entre as várias regiões europeias, principalmente com professores universitários passando uma temporada em uma universidade diferente da que estava normalmente sediado.

3.3 O Renascimento Cultural Europeu De maneira geral, o movimento cultural e intelectual que marcou a transição da mentalidade medieval para a mentalidade moderna foi o Renascimento. A crise do século XIV não atingiu apenas os setores econômicos e políticos; atingiu também o plano cultural. Desse modo, o movimento renascentista mostra uma resposta a uma tentativa de compreender o homem e, consequentemente, o universo nessa época de crise do feudalismo. O Renascimento traduzia as novas concepções culturais, que tinham como referência intelectual o humanismo, que buscava definir o papel ocupado pelo homem no universo. Deve-se destacar que o termo ‘Renascimento’ traz consigo a ideia de uma ruptura com o mundo medieval. Hoje em dia, esse conceito não é mais aceito; aceitamos que esse período que se condicionou chamar Renascimento é um período de transição entre as concepções medieval e mo-

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derna do papel ocupado pelo homem no mundo. As transformações no plano cultural já vinham ocorrendo desde muito antes. Desde o início do século XII, temas como individualismo e racionalismo ocupavam as preocupações dos estudiosos da época. O empirismo, uma das características distintivas do Renascimento, já era objeto de estudo e discussão nas Universidades de Oxford e Paris, em pleno século XIII, por intelectuais como Roger Bacon, por exemplo. O Renascimento foi um movimento tão complexo que provocou intensos debates e afirmações, como veremos a seguir. O renascimento surge aos nossos olhos como um oceano de contradições, um concerto por vezes estridente de aspirações divergentes, uma difícil concomitância da vontade de poderio e de uma ciência ainda balbuciante, do desejo de beleza e de um apetite malsão pelo hor-


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rível, uma mistura de simplicidade e de complicações de pureza e de sensualidade, de caridade e de ódio. (DELUMEAU, 1984, p. 22).

Como já dissemos, o Renascimento não podia ser considerado um retorno à cultura greco-romana, por um simples motivo: nenhuma cultura renasce fora de sua época. Assim, devemos interpretar com prudências o ideal de imitação (imitatio) dos antigos, proposto como o objetivo maior e mais sublime dos humanistas por Petrarca, um de seus mais notáveis representantes. A imitação não seja a mera repetição, de resto impossível, do modo de vida e das circunstâncias históricas de gregos e romanos, mas a busca de inspiração em seus atos, suas crenças, suas realizações, de forma a sugerir um novo comportamento do homem europeu. (SEVCENKO, 1984, p. 14).

O Renascimento foi um fenômeno tipicamente urbano, que atingiu a elite economicamente dominante das cidades prósperas. Marcou não apenas uma mudança na qualidade da produção intelectual, mas também uma modificação na quantidade da produção, em sentido crescente. Apesar do esforço para apresentar os elementos comuns que marcaram o Renascimento, devemos lembrar que esse movimento histórico, ocorrido em diversas regiões da Europa Ocidental, não foi de modo algum uma manifestação cultural homogênea.

A expressão ‘Renascimento’ englobou movimentos intelectuais e artísticos muito diversos; algumas vezes, estes se assemelhavam e, outras vezes, eram diferentes e contraditórios entre si. Todavia, a característica comum a todas as manifestações foi procurar por alternativas para a sociedade da época, ainda que nem todas as soluções oferecidas indicassem para o mesmo ponto. O Renascimento começou na Península Itálica, expandindo-se depois para outras regiões europeias. Entre os principais centros urbanos em que se desenvolveu, devemos destacar Florença, no século XV, Roma e Veneza, no século XVI. Vários foram os motivos para que o Renascimento iniciasse na Península Itálica; vejamos alguns a seguir: 

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Multimídia Para conhecer um pouco mais sobre o Renascimento Italiano, principalmente sobre a pintura do teto da Capela Sistina, assista ao filme Agonia e êxtase, dirigido por Carol Reed.

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desenvolvimento comercial e urbano: as cidades italianas tiveram um grande desenvolvimento comercial, tendo sido governadas ou dirigidas por uma classe de poderosos mercadores. Esses mercadores acumularam grandes riquezas comercializando via mar Mediterrâneo. Essa camada sentiu necessidade da implantação da ordem econômica capitalista, que possibilitava a livre concorrência, o individualismo e a busca racional do lucro. Enfim, queria os novos valores que o pensamento renascentista refletia; o mecenato: a burguesia italiana estimulava os artistas e intelectuais do Renascimento por meio de patrocínio, ou seja, pagavam para que esses artistas e intelectuais pudessem viver de suas obras de arte e suas pesquisas; a fuga dos sábios bizantinos: depois da queda de Constantinopla, vários sábios bizantinos migraram para a Península Itálica, levando com eles elementos da cultura clássica preservados em Bizâncio; a sede do Império Romano: a Itália foi a sede do Império Romano, havendo aí vários monumentos que sobreviveram desde a Antiguidade, como, por exemplo, monumentos arquitetônicos, estátuas, arcos de triunfo etc.


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3.4 Propagação do Renascimento Cultural Intelectuais e artistas europeus acreditavam que a arte renascentista italiana era um paradigma a ser seguido. Influenciados pelos novos elementos estéticos, viajavam sempre para as cidades italianas em busca de conhecimento e inspiração. Nesse processo de contato cultural, a imprensa também ocupou papel de destaque, por facilitar a circulação das novas ideias. Nos Países Baixos, a entrada das ideias/ estética renascentistas foi lenta e difícil. Na pintura, a preocupação com a arte nacional, desde o princípio do século XV, permitiu que o artista dedicasse-se mais aos problemas religiosos do que a questões filosóficas ligadas ao neoplatonismo. Assim, artistas, como E. van Eyck, propuseram um tipo de pintura inserida na linha do realismo minucioso, ainda dominado pelas formas góticas. Repare, na imagem a seguir, a riqueza de detalhes; o pintor criou a cena de modo que quem a visse se sentisse participando da cena retratada. Preste atenção no espelho; ele está ali colocado para que quem veja o quadro tenha uma visão mais completa dele, ou seja, não se vê apenas o que está de frente, mas também as costas de quem foi retratado. Repare no cachorro, no chinelo, na decoração do quarto.

Vejamos, agora, outro excelente pintor: Jerônimo Bosch (1450-1516), mais um exemplo de independência com relação à estética italiana. Bosch pintou um mundo fantástico, de formas e seres que mostravam as inquietações e os fantasmas do final da época medieval. Repare, nas figuras a seguir, como o artista cria seres fantásticos. Figura 5 – Detalhe do inferno de O jardim das delícias, de Bosch.


Figura 6 – O jardim das delícias, de Bosch.

Figura 4 – Casal Arnolfini , de van Eyck.


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Deixemos, agora, um pouco de lado os artistas plásticos dos Países Baixos e dediquemo-nos ao mais importante representante do humanismo evangélico dessa região: Desidério Erasmo (1460-1536), que, influenciado, a princípio, por John Colet e por Lefèvre d’Etaples, achou, nas Cartas de São Paulo, uma concepção de vida cristã livre, que rejeitava as cerimônias e as práticas. Em 1500, publicou Adágios, em que mostrou que a sabedoria humana deveria auxiliar o homem a entender as leis divinas. Nas obras Elogio da loucura e Manual do cavalheiro cristão , mostrou qual deveria ser a conduta de um bom cristão e confirmou que a verdade só poderia ser encontrada na Bíblia. Erasmo fez uma tradução do Novo Testamento (1516), buscando aproximar-se o máximo possível do original. Não concordava com a erudição dos nominalistas e dos tomistas, que, para ele, só se preocupavam com disputas interpretativas e filosóficas.

Dicionário Dicionário Nominalismo: é a doutrina que não admite a existência do universal, nem no mundo das coisas nem no pensamento. Tomismo: é a doutrina ou filosofia escolástica de Santo Tomás de Aquino.

Erasmo influenciou Lutero, mas não concordava plenamente com as ideias do futuro reformador da religião católica. Vejamos, agora, o caso da Península Ibérica. Mesmo que Espanha e Portugal fossem ligados política e economicamente à Itália, não concordavam com todos os valores do Renascimento, reagindo contra as ideias de Erasmo e contra o paganismo presente nas pinturas e esculturas. A arquitetura renascentista espanhola encontrou seu principal exemplar no Escorial, de Juan Herrera, um edifício com uma planta quadrada, ladeada por janelas, colunas, cúpulas e torres.

Figura 7 – Vista panorâmica do complexo de San Lorenzo de El Escorial .


No campo literário, na Espanha, destacou-se Miguel de Cervantes (1547-1616), autor de D. Quixote, um livro que satiriza a luta pela sobrevivência dos ideais medievais. A cavalaria é associada a esses ideais e mostra-se irreal e decadente, enquanto Sancho Pança representa o pragmatismo e o racionalismo mordaz do capitalismo. Os

dois principais personagens, o cavaleiro e seu armador, prendem-se à consciência de Cervantes frente à transição do feudalismo para o capitalismo. No campo da pintura, El Greco (1540-1614) foi o principal artista do Renascimento espanhol.


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Figura 8 – O enterro do Conde de Orgaz , de El Greco.


Já em Portugal, o expoente máximo do Renascimento foi Luís de Camões (1524-1580), autor de várias obras literárias. Sua obra mais conhecida e mais importante é Os lusíadas, poema épico em que se narra a viagem de Vasco da Gama para as Índias. Nessa obra, o herói é uma entidade abstrata. O Renascimento inglês destacou-se mais na literatura, tendo como principais nomes Thomas Morus (1478-1530) e William Shakespeare (15641616). Morus é o autor de Utopia, obra de grande importância para o humanismo e que influenciou

Erasmo, que exprimiu os mesmos ideais. Nesse livro, o autor descreve um país imaginário, em que a ideia de tirania não existia. William Shakespeare destacou-se na elaboração de textos teatrais. Sua obra mais importante é Hamlet , peça pessimista e crítica, de grande análise psicológica, mostrando as paixões humanas na crueza da realidade. Na Alemanha, o crescimento das ideias renascentistas e a influência italiana foram cerceados pela divisão política e religiosa da região. Na pintura, destacou-se Dürer, influenciado pelo gótico e, depois de sua viagem à Itália, por artistas italianos como Bellini e Da Vinci. Sua obra demonstra profunda religiosidade. Na França do século XVI, a arte gótica ainda sobrevivia. Durante o reinado de Francisco I, a arte italiana foi apreciada e patrocinada pelo rei. Em 1534, Rabelais escreveu sua principal obra: Gargântua e Pantagruel , em que se pode encontrar uma sátira à Igreja Católica, à escolástica e aos costumes sociais. Montaigne escreveu, em 1580, Ensaios, mostrando sua filosofia cética a qualquer dogma ou verdade definitiva.

3.5 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudou como e onde surgiu o Renascimento Cultural da época moderna e viu as principais características do Renascimento de vários países europeus.

3.6 Atividades Propostas Verifique, agora, como foi o seu aprendizado. Responda às questões: 1. Descreva a nova dimensão que o Humanismo deu ao homem renascentista. 2. O Renascimento cultural, nos Países Baixos, foi marcado pelas ideias de Erasmo. Quais eram as suas principais concepções religiosas?

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4 REFORMAS RELIGIOSAS Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudará as transformações que ocorreram no âmbito da religião durante a época moderna. Veremos as Reformas: Luterana, Calvinista, Anglicana e Católica. No final do século XIX e início do século XX, afirmou-se que os fatores responsáveis pelas reformas religiosas haviam sido os abusos financeiros da Igreja e a incapacidade religiosa do clero. Associaram-se essas justificativas à reforma luterana, direcionada em favor de príncipes luteranos, que queriam apropriar-se, principalmente,

das terras da Igreja. Há outra visão que reduz o movimento religioso a uma consequência do capitalismo, sem considerar que, desde o século XIII, as formas pré-capitalistas existiam na Itália e nos Países Baixos, onde ocorriam movimentos reformistas. Não há dúvida de que esses fatores colaboraram com as Reformas religiosas. Contudo, elas foram movimentos religiosos cujas causas principais só podem ser entendidas a partir de razões religiosas.

4.1 A Crise da Religiosidade Europeia A reforma religiosa não foi gerada na cristandade, religiosamente enfraquecida, mas num mundo cujas necessidades espirituais cresciam ao lado de uma total incapacidade da Igreja. Para compreendermos os movimentos reformistas, é preciso, inicialmente, entender o clima de inquietação religiosa no final da Idade Média. Todos se sentiam culpados; o medo dos castigos eternos traduzia-se nas imagens terríveis dos pintores e poetas. A Guerra das Duas Rosas e a crescente ameaça turca acentuaram nos indivíduos a culpa e a responsabilidade por desgraças. Uma angústia generalizada marcou uma época de profunda fé e todas as camadas sociais foram dominadas por esses sentimentos. No final do século XV, espalhou-se a crença de que ninguém entraria no paraíso após o Cisma do Ocidente. Esse clima angustiante foi ainda reforçado por teólogos e pregadores populares, que, preocupados com os

graves pecados, enxergavam os últimos anos da Idade Média como o preâmbulo do Apocalipse. Nessa atmosfera de angústia e medo coletivos, é fácil compreender o sucesso dos escapulários, das indulgências e das relíquias, que se transformaram em expressões de segurança encontradas pelo cristão diante da morte e da perdição eterna. A elite cultural e intelectual encontrava-se também desesperada; Occan modificou a religião em uma série de dogmas proclamados autoritariamente, fazendo com que o povo recebesse com passividade ritos impostos. Segundo Marrone e Franco Júnior (1982), o tomismo buscou traduzir em linguagem lógica o mistério divino, levando os teólogos do final do século XV a submeterem a fé a conceitos de silogismos. Essa postura tornou a salvação inteligível apenas a uma elite intelectualizada. A maior par-


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te da população viu-se desamparada, sem conseguir entender como deveria proceder para conseguir ser um bom fiel.

Dicionário Dicionário Silogismo: propor, em termos racionais, a relação do fiel a Deus.

4.2 Os Pré-Reformadores

A Igreja Católica já vinha tendo movimentos que propunham reformas, antes mesmo do movimento liderado por Lutero. Esse momento pré-reformista teve seu início no século XII, com Pedro Valdo, um comerciante da cidade de Lyon. Ele encomendou a tradução da Bíblia em linguagem popular e pôs-se a pregá-la à população mais pobre, que não tinha acesso a sacerdotes. Abandonou a vida anterior ao exercício da pregação e dividiu seus bens com os pobres. Rejeitava o uso das imagens, que, para ele, era idolatria. Outro movimento a favor de uma religião sem corrupções ocorreu no século XIV e foi leva-

do adiante por John Wycliffe, que fez vários questionamentos à Igreja Católica Apostólica Romana. Desejava a volta a uma Igreja primitiva, com igre jas sem ostentações. Para ele, a pobreza que pregava para a Igreja Católica era incompatível com os desejos pontifícios. Outro pré-reformador foi Jan Hus, um tcheco que começou seu movimento religioso fundamentando suas ideias em Wycliffe. Todos foram perseguidos e mortos.

4.3 Reforma Luterana

Lutero não se preocupava com uma reforma na Igreja, mas com a salvação da alma. A partir das Cartas de São Paulo, desenvolveu suas reflexões, todas voltadas à justificação da fé como único ponto de partida para extrapolar os ensinamentos que recebeu. Segundo ele, “Deus não nos julga pelos pecados e pelas obras, mas pela nossa fé”. Lutero encontrou a paz em uma noção renovada de penitência, concebida a partir da justificação pela fé do cristão, independente dos seus méritos. A concessão de indulgências, como prática de devoção, era entendida pelos cristãos como absolvição. A justificação pela fé defendida por Lutero não permitia atribuir às obras de caridade algum valor, contrapondo-se à teoria da salvação pelo mérito, defendida por parte da Igreja Católica.

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Indignado com a pregação do dominicano Teztel, que vendia indulgências, Lutero revoltou-se e, em 1517, publicou suas 95 teses, denunciando as falsas seguranças dadas aos fiéis. Segundo o teólogo, só Deus podia perdoar, e não o papa, e a única fonte de salvação da Igreja residia no Evangelho. Iniciou-se, assim, em torno dessa nova posição, um conflito na Alemanha, entre os dominicanos e os agostinianos. O papado de Leão X interferiu, repudiando o posicionamento de Lutero, que rejeitou a infalibilidade do pontificado e a funcionalidade dos sacramentos distantes da fé. A disputa prolongou-se até 1519, culminando com um alerta romano a Lutero em relação às consequências das suas afirmações. Mesmo assim, o teólogo agostiniano rejeitou a primazia romana e a autenticidade dos concílios, propondo


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como valor único a Escritura, negando a tradição dogmática e não aceitando a existência do purgatório (MARRONE; FRANCO JÚNIOR, 1982). Ainda que a força de Lutero viesse de sua própria convicção, ele recebeu apoio de muitos na Alemanha: dos humanistas, como Hutten e Melanchton, dos estudantes de Wittemberg e de Erfurt e de muitos nobres. A revolta, que, no início, era individual, transmutou-se em um cisma. Na Alemanha, existiam condições à propagação da ideia de Lutero.

Concomitantemente aos problemas religiosos, existiu uma série de fatores sociais e econômicos que facilitou a propagação das ideias luteranas na Alemanha. Entre esses fatores, podemos destacar o fato de grande parte das terras alemãs pertencer à Igreja Católica, existindo um grande interesse da nobreza de se apoderar dessas terras. Com sede de poder e de riqueza, a nobreza e a burguesia mostravam-se descontentes com a Igreja e o Imperador. Os camponeses e os artesãos urbanos também julgavam a Igreja pela situação de miséria em que viviam.

Atenção Lutero, a princípio, não queria romper com a Igre ja Católica.

4.4 Calvinismo

O luteranismo instalou-se na Alemanha do Norte e na Escandinávia, onde se transformou em instituição de Estado, perdendo todo o seu dinamismo. As disputas entre príncipes católicos e protestantes eram mais questões políticas do que religiosas. Nesse quadro, as ideias de Calvino apareceram em um momento favorável. Em 1536, João Calvino (1509-1564) publicou sua obra mais importante, Instituição da religião cristã , em que declara que o ser humano estava predestinado, de modo absoluto, a merecer o Paraíso ou o Inferno. Nada que os homens

fizessem em vida poderia alterar-lhes o destino, já traçado anteriormente. A fé presente em algumas pessoas poderia ser entendida como um sinal de que elas faziam parte do grupo dos eleitos por Deus à salvação. Essas pessoas sentiam, dentro dos seus corações, uma irresistível vontade de combater o mal presente no mundo. A prosperidade econômica de algumas pessoas também poderia ser entendida pelos seguidores de Calvino como um sinal de salvação.

4.5 Reforma Anglicana Henrique VIII (1509-1547), rei da Inglaterra, havia sido, durante certo tempo, aliado do papa, tendo recebido, inclusive, o título de defensor da fé, porém uma série de fatores políticos, econômicos e sociais fez com que ele rompesse com a Igreja Católica e fundasse uma Igreja nacional na Inglaterra: a Igreja Anglicana.

A Igreja Católica tinha uma grande influência política na Inglaterra, pois era proprietária de vastas extensões de terras e comercializava os objetos sagrados, sem ter que disputar mercado com ninguém. Para fortalecer o poder na monarquia inglesa, seria necessário diminuir a influência do papado dentro dos domínios ingleses.


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Como já havia ocorrido com outros países europeus, a nobreza inglesa possuía interesse econômico em apreender as terras da Igreja. Para que isso acontecesse, essa camada notou que deveria aliar-se ao rei, com o propósito de enfraquecer os poderes da Igreja Católica na Inglaterra. Além dessas questões político-econômicas, houve ainda um desentendimento entre o rei e o papa. Henrique VIII era casado com a princesa espanhola Catarina de Aragão; desse casamento, nasceu uma filha. Contudo, o rei não queria mais manter o casamento. O rei solicitou ao papa a anulação de seu casamento, porém o papa não deu. Isso gerou mais atrito entre a monarquia inglesa e o papado. Henrique VIII solicitou ao alto clero e ao Parlamento que reconhecessem o seu pedido de separação da rainha. Em 1534, o Parlamento inglês votou um Ato de Supremacia, no qual o rei foi reconhecido como chefe supremo da Igreja Anglicana.

dos pela justiça real. Houve pouca resistência, nela incluída a de Thomas Morus, que foi decapitado. Suprimiu-se o clero regular e seus bens, devolvidos à coroa, foram vendidos. (CORVISIER, 1980, p. 75).

A Igreja Anglicana promoveu uma união original entre os ritos católicos e os dogmas de caráter protestante. Essa solução foi criada pela monarquia inglesa para conseguir a convivência social dos diversos grupos religiosos rivais no país. Desse modo, de acordo com as necessidades, a Igreja Anglicana oscilava entre a forma católica e o conteúdo protestante, conforme queria agradar a um ou outro grupo. Multimídia Para conhecer um pouco mais sobre a Reforma Luterana, assista ao filme Lutero , dirigido por Eric Till.

Os ingleses, por juramento, deveriam submeter-se a essa supremacia, caso contrário seriam excomungados e persegui-

4.6 Reforma Católica A Igreja Católica vagarosamente se conscientizou da amplitude contestatória que a cercava. No começo, acreditou que a posição de Lutero, como a de Wycliffe e Huss, tinha uma extensão limitada e que a repressão do Estado ou uma tentativa de conciliação eliminaria as rupturas, mas, a partir de 1530, fez-se necessário que a Igreja Católica tomasse medidas contra os avanços protestantes. Em 1532, o papa Paulo I introduziu a Inquisição Romana, confiando aos dominicanos a obrigação de implantá-la nos Estados italianos. Depois da Itália, a inquisição foi criada em outros países. Essa instituição foi eficiente na Itália, Espanha e Portugal, onde perseguiu todos aqueles que, por meio do humanismo ou de teologias luteranas e calvinistas, contrariavam a ortodoxia católica ou cometiam heresias.

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A Igreja Católica já vinha, desde o século XIII, passando por pequenas reformas, porém, a partir de 1530, foi obrigada a se posicionar frente às críticas que estava recebendo. Assim, chamou, em 1545, um Concílio para discutir como deveria agir frente às críticas que recebia. O Concílio reuniu-se na cidade de Trento, entre os anos de 1545 e 1563, não em tempo contínuo. Ao final do Concílio, apresentou-se uma série de decisões destinadas a garantir a unidade da fé católica e a disciplina eclesiástica. No ano de 1540, foi aprovada a criação de uma nova ordem religiosa: a dos Jesuítas. Estes receberam o monopólio da educação e da catequese e funcionaram como um braço do poder papal nas regiões recém-descobertas. O objetivo dessa ordem era expandir os domínios católicos.


História Moderna

4.7 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudou os principais movimentos que fizeram surgir novas religiões na época moderna. Repare que, na visão que foi passada a você, a Reforma Católica não foi um movimento para contra-atacar a Reforma Protestante, mas um movimento que se iniciou antes da Reforma Luterana e que, após esta, teve que assumir postura mais rígida frente à corrupção religiosa que estava se alastrando pela instituição.

4.8 Atividades Propostas Vamos, agora, ver como se deu seu processo de aprendizagem. Responda às questões: 1. Caracterize resumidamente as realizações da Reforma Católica e da Reforma Protestante. 2. A modernidade também foi marcada pela Reforma Religiosa. Aponte resumidamente as principais causas do movimento reformista protestante.


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HISTÓRIA MODERNA II

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FORMAÇÃO DAS MONARQUIAS NACIONAIS ABSOLUTISTAS

Caro(a) aluno(a), No capítulo que agora se inicia, você estudará como se deu o processo de formação das monarquias nacionais absolutistas. Os casos Francês e Inglês serão tratados com mais detalhes. Diante do mundo do final da Idade Média, dividido pelo feudalismo e afetado pela fome e pela guerra, o homem, totalmente inseguro e desacreditado dos velhos valores, procurava uma nova realidade. Desse modo, surgiu, sob o aspecto econômico, o Capitalismo; o cultural, o Renascimento; o religioso, o Protestantismo; e o político, o Estado Moderno, no qual o indivíduo esperava encontrar a ordem, a paz, a segurança, enfim, as condições de sobrevivência que constantemente lhe faltaram nos séculos XIV e XV. Completou-se, assim, o processo de centralização política iniciado por monarcas medievais, passando o rei a ter jurisdição sobre todo o país. A tributação estatal substituiu a senhorial; a força armada nacional suplantou as hostes feudais; os vassalos tornaram-se súditos; todos os homens, cidadãos. O rei passou a englobar todos os poderes da nação: era o administrador, o chefe do exército e o representante de Deus; o legislador, o juiz e o executor. Seu poder estendeu-se a todos os campos da vida nacional: dirigia a vida econômica, controlava a sociedade, fixava as metas políticas, determinava o relacionamento com o exterior e definia os valores culturais. Ele era, portanto, o soldado que protegia seu povo, o administrador que cuidava de suas riquezas, o pai que educava seus filhos, o porta-voz de Deus que trabalhava na Terra para Sua maior glória. Segundo a famosa expressão de Luís XIV, o monarca era o próprio Estado.

O monarca tinha a pretensão de centralizar politicamente a nação desde a Idade Média Central, mas apenas na Idade Moderna surgiram as condições que lhe possibilitaram concretizar seu ideal. De fato, para centralizar, o rei precisava superar dois obstáculos: um interno (a nobreza feudal) e outro externo (a Igreja). Ora, na Idade Moderna, a concentração de poderes tornou-se possível graças à contraposição entre os poderes universalistas e supranacionais (o Sacro Império Romano Germânico e o Papado) e os poderes particularistas e regionalistas (as cidades medievais autônomas e os feudos). A luta interna entre esses componentes, as longas disputas entre o imperador e o papa pela hegemonia europeia e os conflitos entre a burguesia urbana e a nobreza feudal enfraqueceram-nos, favorecendo o despontar de um poder nacional. Portanto, naquele contexto, os fatores determinantes do Absolutismo foram o Renascimento, a Reforma Protestante e as lutas sociais entre a burguesia e a nobreza. O Renascimento contribuiu para a formação do Estado Moderno Absolutista, ao eliminar o monopólio cultural-religioso, roubando parte do prestígio da Igreja, e ao revalorizar o direito romano, que defendia a concentração da autoridade pública. A Reforma Protestante também abalou as pretensões políticas da Igreja, enfraquecendo-a, o que facilitou a organização de Estados nacionais e permitiu que muitos reis exercessem os poderes anteriormente de competência eclesiástica. É significativo que, em certos países, como Inglaterra e Suécia, os próprios monarcas tenham liderado o movimento reformista contra a Igreja.


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O fator mais importante do Absolutismo, porém, foi a oposição de interesses entre a burguesia e a nobreza. Para os burgueses, a descentralização política feudal e a consequente multiplicidade de impostos representavam uma barreira à expansão dos negócios. Para os nobres, é claro, a fraqueza da monarquia significava maior prestígio e poder. Assim, numa primeira fase, deu-se a aliança rei-burguesia contra a nobreza (centralização). Contudo, prevendo futuras dificuldades com a burguesia, o monarca não destruiu totalmente o poder da nobreza; tornando-se o fiel da balança entre uma força ainda frágil, porém ascendente, e uma forte, mas decadente, o rei ganhou todos os poderes (Absolutismo). Contudo, exista uma contradição que seria, no futuro, fonte de graves problemas:

rei. Thomas Hobbes (1588-1679) acreditava ser o homem originalmente mau, vivendo em constante luta contra seus semelhantes. Como “o homem é o lobo do homem”, tornou-se indispensável a presença do Estado, verdadeiro monstro (Leviatã) delimitador da liberdade de todos, um mal necessário. Esse monstro surge de um contrato social assinado entre indivíduos que resolveram escolher para si um chefe que pudesse por fim à guerra de todos contra todos. Sendo assim, por uma questão de segurança, os homens criaram o Estado e entregaram sua direção ao rei.

Precisando de recursos crescentes para, no plano externo, se impor frente aos outros Estados que nasciam, e, no plano interno, para se separar da sociedade civil, o Estado apoiava o comércio para tributá-lo e assim se manter. No entanto, desta forma, promovia-se o fortalecimento da burguesia, desequilibrando o sistema. Em suma, o Estado Moderno Absolutista, para manter o equilíbrio social sobre o qual se fundava, precisava sustentar a nobreza decadente, necessitando para tanto de recursos, daí o mercantilismo; desta maneira, porém provocava a ruptura do equilíbrio e comprometia sua própria existência. O mercantilismo foi, assim, a força e a fraqueza do Estado Moderno. (FRANCO JÚNIOR; CHACON, 1980, p. 162).

Outro ideólogo do Absolutismo foi Jean Bodim (1530-1596), segundo quem o Estado nasceu como prolongamento da família, sendo, portanto, portador da soberania. Como esta é una e indivisível, deveria ser exercida por apenas uma pessoa, espécie de pai da família, o rei. Mesmo que o monarca excedesse no poder, o povo não poderia se rebelar, já que a mais dura tirania é melhor que a anarquia. Na realidade, o rei deveria obedecer à lei divina, pois sua autoridade originava-se da ordem divina. Jacques Bossuet (1627-1704), outro ideólogo do absolutismo, por sua vez, justificava o poder absolutista afirmando que, na unidade, reside a vida; fora da unidade, a morte é certa. Para ele, o rei seria o representante de Deus na Terra; portanto, todo o Estado está nele, o desejo do povo encerrado no seu; como em Deus, está presente toda a perfeição e toda a virtude. Desse modo, todo o poder dos indivíduos está presente no rei.

Como todo sistema, também as Monarquias Nacionais Absolutistas tiveram ideólogos, filósofos e políticos preocupados em justificar e legitimar a concentração de poderes nas mãos do

Atenção O absolutismo da época moderna não é sinônimo de ditadura.

5.1 A Inglaterra A Guerra das Duas Rosas (1455-1485), envolvendo famílias postulantes ao trono inglês, eliminou milhares de nobres e, dessa forma, for-

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taleceu o poder real. Em função disso, a família Tudor, que conquistou o poder no final da guerra, tornou-se a primeira dinastia absolutista inglesa.


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Henrique VII (1509-1547) dedicou-se a consolidar o poder real, assinando, em 1534, o Ato de Supremacia, que o transformava em chefe da Igreja da Inglaterra. Assim, ele uniu aos seus poderes civis o poder religioso. Fora isso, ao dissolver os mosteiros e confiscar seus bens, o rei fez crescer sua riqueza. Os reinados de seus sucessores, Eduardo VI e Maria I, não foram significativos, mesmo com os ideais do absolutismo tendo sido mantidos. Na Inglaterra, esse sistema político teve seu ápice no reinado de Elizabeth I (1558-1603), outra filha de Henrique VII. Muito hábil nas relações com o Parlamento e muito firme em sua posição frente às pressões da Igreja Católica, a rainha obteve grande popularidade. Elizabeth morreu sem deixar herdeiros, o que levou a uma mudança dinástica; o trono passou para as mãos de seu primo, Jaime I (16031625), da família Stuart, de origem escocesa, motivo de descontentamento para os ingleses. Além do problema com a origem da família real, os monarcas dessa dinastia mostraram-se inábeis no trato com a sociedade inglesa.

O descontentamento com a política fiscal e religiosa de Carlos I (1525-1649) levou à revolta aberta do Parlamento, liderada por Oliver Cromwell. Vitoriosa a revolta, Cromwell mandou decapitar o rei e governou o país de modo ditatorial até sua morte (1658). Isso só foi possível graças ao apoio que recebeu da burguesia mercantil, agradecida pelos Atos de Navegação (1651), leis que beneficiaram a economia inglesa: os produtos estrangeiros só poderiam entrar na Inglaterra por meio de navios ingleses ou de navios dos países de origem dos produtos, eliminando-se os intermediários. Pouco tempo depois da morte de Cromwell, a dinastia Stuart regressou ao poder, com Carlos II. De novo, a intolerância e o radicalismo dos reis geraram nova oposição. No reinado de Jaime II, eclodiu a Revolução Gloriosa (1688-1689), pondo fim ao absolutismo inglês. A filha de Jaime II e seu marido, Guilherme D’Orange, tornaram-se reis depois de aceitarem a Declaração de Direitos, que limitava os poderes reais, deixando para o Parlamento o efetivo governo do país.

5.2 A França O poder real francês vinha se fortalecendo desde o final da Guerra dos Cem Anos (13371453), principalmente em razão das lutas religiosas entre católicos e protestantes, na segunda metade do século XVI. Desse modo, quando Henrique IV subiu ao trono, não havia mais resistência ao poder absoluto do rei. Esse rei buscou pacificar definitivamente o país, assinando, em 1598, o Édito de Nantes, que dava liberdade de culto aos protestantes, integrando-os à vida nacional. Com a morte de Henrique IV, assumiu o governo da França uma regência, pois o herdeiro, Luiz XIII, ainda era menor. Quando este assumiu o trono, nomeou o cardeal Richelieu como seu ministro. Este foi o verdadeiro comandante da França nesse período. Suas principais atuações foram: limitar o poder político dos protestantes, subju-

gar a nobreza e transformar a França em uma potência europeia. Desse modo, estava preparando o terreno para o surgimento do absolutismo francês, com Luiz XIV (1643-1715). Valendo-se da mesma política do cardeal Richelieu, o rei levou-a até as últimas consequências. Segundo Marrone e Franco Júnior (1982), para impedir que os protestantes fossem um Estado dentro do Estado, Luiz XIV revogou o Édito de Nantes, em 1685, provocando a saída do país de milhares de cidadãos economicamente ativos (comerciantes, artesãos, banqueiros). Para impedir a atuação política da nobreza, o rei levou-a para perto de si. Para dar hegemonia à França, o monarca envolveu o país em várias guerras desastrosas.


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Portanto, Luiz XV (1715-1774) herdou um país em difícil situação econômica. Essa situação foi particularmente agravada pela Guerra dos Sete Anos (1756-1763), que colocou, de um lado, Inglaterra e Prússia e, de outro, França e Áustria disputando a hegemonia europeia e os territórios coloniais. A derrota francesa desprestigiou ainda mais a dinastia Bourbon, derrubada no reinado

de Luiz XVI, no início da Revolução Francesa, em 1789, que pôs fiz ao absolutismo na França. Multimídia Para conhecer mais sobre o absolutismo francês, assista ao filme O absolutismo – A ascensão de Luiz XIV , dirigido por Roberto Rossellini.

5.3 A Crise do Antigo Regime Para Franco Júnior (1976), antigo regime é um termo tradicional, que originalmente designava a estrutura social e política da França, que viria a desaparecer com a Revolução Francesa. Dicionário Antigo regime: é a expressão que se usa hoje em dia para designar um Estado que, durante a época moderna, tinha Monarquia Absolutista, política econômica mercantilista e organização social estamental.

Na verdade, tal designação pode ser aplicada, apesar de diferenças regionais, a todos os países da Europa cuja estrutura baseava-se no Absolutismo, na sociedade estamental e no capitalismo comercial. Na medida em que esses elementos eram interdependentes, a crise de um afetava os outros, cujos problemas repercutiam no primeiro, num processo de círculo vicioso que debilitava o todo, o Antigo Regime. Portanto, a crise deste foi a crise de seus elementos compo-

nentes. Sem a preocupação de localizar o ponto inicial dessa ruptura, lembremos apenas que a crise na sociedade estamental refletiu-se no capitalismo comercial e, desse modo, afetou também o Absolutismo, fazendo surgir uma nova ideologia contrária a ele: o Iluminismo, ocorrendo, assim, sua derrocada. Resumindo, o Antigo Regime nasceu para lutar contra as crises e a desagregação do mundo feudal, visando a atender às necessidades de uma época, mas de tal modo desindividualizou o homem, abafou sua criatividade e reduziu sua liberdade que logo deixou de satisfazer os desejos humanos. Como já foi dito, a hierarquia, a disciplina, a ordem garantida pela autoridade, os dogmas que regulam a vida com firmeza: eis o que os homens do século XVII amavam. Su jeições, autoridade, dogmas: eis o que detestavam os homens do século XVIII. (HAZARD, 2007, p. 7).

5.4 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudou como se deu o processo de centralização do poder nas mãos do rei e viu que esse processo ocorreu em toda a Europa Ocidental, mas não em todos os países ao mesmo tempo. Também conheceu os processos de formação das monarquias nacionais absolutistas inglesa e francesa.

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5.5 Atividades Propostas Agora, vamos ver como se deu seu processo de aprendizagem. Responda às questões: 1. Explique duas das condições que contribuíram para a centralização política e a adoção do absolutismo na época moderna. 2. Explique o significado da Teoria do Direito Divino, que justificava o absolutismo dos monarcas da época moderna.


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6 REVOLUÇÕES INGLESAS Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudará um momento de grande instabilidade política, social e econômica na Inglaterra. A esse momento, damos o nome Revoluções Inglesas. Veremos como elas puseram fim ao Absolutismo, iniciando, assim, uma nova forma de governo na Inglaterra: a Monarquia Constitucional. Durante o século XVII, a Inglaterra foi sacudida por grandes tremores políticos, econômicos e sociais. Tratava-se das Revoluções Inglesas, um período de mais ou menos 50 anos de lutas, que representaram o embate das velhas estruturas feudais com as novas forças do capitalismo em crescimento. Ao final, essas revoluções puseram fim ao absolutismo na Inglaterra e abriram caminho para o desenvolvimento industrial inglês. As disputas político-sociais do século XVII foram o modo através do qual a Inglaterra pôs fim definitivamente ao que restava do sistema feudal, desenvolvendo o capitalismo como meio transformador da estrutura agrária e das relações trabalhistas no campo e promovendo o aperfeiçoamento da técnica de produção. No plano político, pode-se dizer que a Inglaterra fez a substituição do Estado Absolutista pelo Estado liberal capitalista, em que existiam 3 poderes distintos: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. A Revolução Inglesa foi a primeira revolução burguesa da Europa ocidental. Antecipou em 150 anos a Revolução Francesa. Representou a destruição do Estado absolutista e a criação de condições para o avanço do capitalismo industrial na Inglaterra. Desse ponto de vista, a Revolução Inglesa e a Revolução Industrial represen-

tam duas faces de uma mesma moeda. (ARRUDA, 1988, p. 89).

A situação econômica da Inglaterra no século XVII era bastante heterogênea, modificando-se de região para região. No oeste e norte do país, ainda era dominante a estrutura agrária de tipo feudal, embora já estivessem passando por um processo de modificação, com o rompimento das relações servis e a instituição da mão de obra assalariada. No leste e sul, havia grandes mudanças do ponto de vista agrário, existindo fazendas de tipo capitalista, assim como uma indústria artesanal e manufatureira voltada para o mercado interno. Nas grandes cidades, havia sociedades de comerciantes e uma indústria artesanal. Em cada região do país, predominava uma camada social. Nas regiões oeste e norte, havia a predominância de nobres, interessados em manter seus direitos feudais. Já nas regiões sul e leste, encontrava-se uma maior concentração de homens vinculados à aristocracia, que explorava suas terras segundo os preceitos capitalistas. Essa camada social recebeu o nome gentry e foi ela que levou adiante o processo revolucionário inglês do século XVII. Ainda nas regiões sul e leste, havia uma camada de pequenos posseiros/proprietários, os yoman, que formavam a massa do processo revolucionário.

Dicionário Dicionário Gentry : proprietários de terra que a exploraram se-

gundo preceitos capitalistas. Yoman: pequenos proprietários de terra que, para sobreviver, além de trabalharem em suas terras, trabalhavam também em terras de terceiros.


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Nas grandes cidades, havia a burguesia, os mestres das corporações de ofício e os trabalhadores assalariados. No século XVII, a dinastia que governava a Inglaterra era a Tudor, que exercia o absolutismo de fato, sem a oposição da burguesia, pois praticava uma série de ações administrativas que correspondiam aos desejos da burguesia. Entre essas ações, podem-se destacar: a centralização do poder como garantia da ordem social, a unificação de pesos, medidas, moedas e tarifas alfandegárias e a autorização para praticar a pirataria. No século XVII, a dinastia Stuart pretendeu transformar o absolutismo de fato em absolutismo de direito, isto é, plenamente reconhecido no plano jurídico. A monarquia procurava, desse modo, sua legitimidade, porque estava em choque com o Parlamento inglês.

Em 1628, o Parlamento determinou, através da Petição de Direitos, que o rei não poderia mais criar impostos, convocar o exército ou prender pessoas sem sua autorização. Carlos I, no ano seguinte, reagiu dissolvendo o Parlamento e perseguindo líderes políticos oposicionistas. Em 1640, Carlos I foi obrigado a reconvocar o Parlamento, para obter recursos financeiros para combater uma revolta na Escócia contra seu governo. Depois de reunido, o Parlamento tomou uma série de decisões que desagradaram o rei. Os constantes conflitos entre o Parlamento e o rei desencadearam as Revoluções Inglesas, que podem ser divididas em 4 fases: guerra civil ou revolução puritana (1642-1648), república de Cromwell (1649-1658), restauração monárquica (1660-1688) e revolução gloriosa (1688-1689).

6.1 Revolução Puritana Carlos I revoltou-se contra as medidas adotadas pelo Parlamento e mandou que sua guarda invadisse o Parlamento e prendesse seus principais líderes. Estes, por sua vez, criaram forças armadas para lutar contra as tropas reais. Iniciou-se uma sangrenta luta, uma guerra civil, que foi chamada Revolução Puritana. As tropas do Parlamento foram lideradas por Oliver Cromwell, que organizou um exército, cujos postos de comando foram definidos pelo critério do merecimento militar e não pela origem da família, como ocorria no exército da nobreza.

Multimídia Para saber mais sobre a Revolução Puritana, assista ao filme Cromwell , dirigido por Ken Hughes.

Estavam apoiando a monarquia: a burguesia financeira, os mestres de corporações de ofício e o alto clero anglicano. Apoiavam o Parlamento: a burguesia mercantil, a gentry , os mestres manufatureiros e os camponeses.

6.2 A República de Cromwell Finda a Revolução Puritana, o exército parlamentar havia vencido as tropas reais e o rei Carlos I foi preso e condenado à morte, tendo sido decapitado em 30 de janeiro de 1649. Instalou-se

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no país o regime republicano, sob o comandado de Oliver Cromwell, que ficou no poder de 1649 até 1658.


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Os principais acontecimentos desse período foram: os atos de navegação, a guerra contra os holandeses e a ditadura de Cromwell. Em 1653, Cromwell assumiu o título de Lorde Protetor da Comunidade Britânica. Seu cargo tornou-se vitalício e hereditário. Logo em segui-

da, dissolveu o Parlamento e passou a governar de maneira ditatorial. Em 1658, Cromwell morreu. Para dar continuidade ao governo republicano, assumiu o poder seu filho, Ricardo.

6.3 Restauração Monárquica O filho de Cromwell, Ricardo, ficou no poder apenas 8 meses. Uma nova agitação tomou conta do país e o Parlamento, eleito em 1660, decidiu restaurar a monarquia dos Stuart, convidando Carlos II para assumir o trono inglês, mas o rei deveria acatar as decisões do Parlamento. Esse período da restauração monárquica dos Stuart durou os reinados de Carlos II (1660-

1685) e de seu irmão Jaime II (1685-1688). Durante o governo de Jaime II, um forte descontentamento da grande burguesia e da nobreza com o rei fez novamente ocorrer um rompimento entre a sociedade e o rei.

6.4 Revolução Gloriosa Jaime II tomou uma série de medidas que contrariaram o Parlamento. Temendo a volta do absolutismo, o Parlamento fez um acordo com o príncipe holandês Guilherme d’Orange, que era casado com a filha de Jaime II. Pelo acordo, ofereceu-se a Guilherme o trono inglês, mas com a condição de que ele respeitasse os poderes do Parlamento. Iniciava-se, assim, a Revolução Gloriosa (1688-1689), que foi a luta entre as tropas de Guilherme d’Orange e as forças de Jaime II. Jaime II foi derrotado e Guilherme e sua esposa assumiram o poder na Inglaterra, mas, antes, assinaram uma Declaração de direitos, que previa: 



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aprovação de tributos pelo Parlamento; liberdade de imprensa; exército permanente; garantias para o livre exército da Justiça Pública.

Atenção Guilherme d’Orange era casado com a filha de Jaime II. Repare que o trono foi entregue a um monarca que, de certo modo, pertencia à família real.

No plano político, a Revolução Gloriosa pôs fim ao absolutismo inglês; o rei passou a ter seus poderes limitados pelo Parlamento e a monarquia passou a ser regida por um corpo de leis feito pelo Parlamento. No plano socioeconômico, a Revolução Gloriosa firmou um compromisso entre a burguesia urbana e a nobreza proprietária de terras cultivadas nos moldes capitalistas. Essas duas camadas juntas promoveram o desenvolvimento econômico do país, transformando-o na maior potência comercial da época.


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6.5 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudou o movimento revolucionário que pôs fim ao absolutismo inglês e iniciou uma nova forma de governo: a Monarquia Constitucional, que atendia melhor aos desejos da burguesia.

6.6 Atividades Propostas Agora, vamos ver como foi seu processo de aprendizagem. Responda às questões: 1. Depois da derrota de Carlos I, Cromwell declarou-se Lorde Protetor da Inglaterra e assinou o Ato de Navegação. O que significou para a economia inglesa a assinatura desse Ato? 2. Qual a importância histórica da Revolução Gloriosa?

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7 ILUMINISMO Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudará o movimento cultural conhecido como Iluminismo e verá como esse movimento ajudou a derrubar o Antigo Regime. Na França, no século XVIII, em virtude da complexa realidade (contradições entre o absolutismo político e o desenvolvimento do capitalismo), surgiram ideias novas. O governo monárquico, enfraquecido, pediu o apoio da burguesia, o que foi determinante para a sua queda, pois recusou as condições que essa camada impôs-lhe. O mesmo não ocorria na Inglaterra, onde, no século XVIII, já se havia alcançado o necessário para a evolução liberal, com a elaboração de uma estrutura de governo em que as oportunidades eram muito maiores que as de qualquer outro país da Europa. O pensamento liberal inglês, desenvolvido por John Locke, venceu setenta anos antes da Revolução Francesa. A ideologia da burguesia francesa, no fim do século XVII e início do XVIII, baseava-se na filosofia das luzes, composta por pensamentos expressos na Enciclopédia francesa, que formava a suma filosófica do século XVIII. Vários colaboradores compuseram essa enciclopédia, entre os quais, Voltaire, Diderot, Montesquieu e D’Alambert, todos homens que provinham de diferentes camadas da burguesia, mas que se uniram pela mesma ideologia. Por esse motivo, diz-se que a França, no século XVIII, foi o centro gerador do pensamento liberal. O Iluminismo adotou como ideologia o racionalismo; assim, a razão adquiriu valor transcendente (podia tudo, atingia tudo e julgava tudo), sendo o único meio válido para o conhecimento humano.

A maioria dos filósofos iluministas caracterizava-se por ser deísta, ou seja, acreditava em Deus como uma força infinita. Esse ser eterno, onipotente, era igualmente todo inteligência, causa de todos os fenômenos do universo, porque este se configurava como um mecanismo admiravelmente montado e ordenado. Dicionário Dicionário Deístas: acreditavam que Deus estava presente na natureza e, como o homem faz parte da natureza, Deus estaria presente no coração do próprio homem, que pode descobri-Lo por meio da razão.

Como Deus regulava o mundo através de leis eternas e imutáveis, não necessitando de ritos e de sacramentos, as regras eram inúteis; bastava estudar a natureza para conhecer as leis divinas e aceitá-las. Por isso, os iluministas condenavam o cristianismo, contrário à natureza. Entretanto, alguns filósofos eram materialistas e ateus, como Helvetius, autor de Tratado do espírito, e o barão de Holbach, autor de Sistema da natureza . Para eles, todos os fenômenos explicavam-se pela matéria, julgada eterna. Dela, resultavam o movimento, suas leis e a ordem universal; do movimento, nascia tudo, até o pensamento. Deus era uma hipótese inútil. Os filósofos afirmavam que a sociedade ideal deveria ser organizada visando à felicidade do homem. Esta só podia nascer do respeito aos direitos humanos, os quais resultavam das leis naturais. Para conquistar essa felicidade, os homens assinaram entre si, logo no começo do mundo, um contrato em que uniram forças contra os flagelos naturais e contra seus inimigos. Os homens


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escolhiam seus governos, para que estes lhes assegurassem a felicidade, a liberdade e todas as vantagens que, em sociedade, gozariam na Terra. Portanto, firmava-se um contrato entre governantes e governados, os quais, por sua vez, poderiam mudar de chefe, caso este violasse ou desrespeitasse seus direitos, entre os quais, incluía-se a insurreição. Segundo os filósofos, cumpria ao governo garantir os direitos dos homens, ocupando a liberdade lugar essencial também nas atividades

econômicas, comerciais e industriais. Portanto, deveriam ser supridas todas as formas que a destruíssem, como a escravatura e a servidão. Ao governo cabia tolerar a liberdade de religião e manter a de expressão. Finalmente, o governo deveria garantir a igualdade dos homens perante a lei, eliminando os privilégios eclesiásticos e os da nobreza. Assim, seriam julgados pelos mesmos tribunais e punidos igualmente pelas mesmas faltas.

7.1 Despotismo Esclarecido

Foi uma modificação ideológica da monarquia absolutista, sem negá-la, mas aprimorando-a aos desejos da camada dominante. As propostas feitas pelos filósofos iluministas concretizaram-se em vários países. Na metade do século XVIII, muitos monarcas europeus realizaram a modernização de seus Estados, promovendo reformas baseadas nos ideais iluministas. Em princípio, esses governantes, chamados déspotas esclarecidos, tinham por objetivo empreender a organização nacional de seus Estados, proporcionando felicidade a todos os seus súditos, por meio das ideias dos filósofos iluministas.

Desse modo, D. José I de Portugal, Frederico II da Prússia, Catarina II da Rússia, Carlos III da Espanha e José II da Áustria valeram-se das pregações iluministas, eliminaram ou, pelo menos, diminuíram privilégios e aplicaram o princípio da igualdade perante os impostos e as leis. Com essas atitudes, conseguiram adiar a revolução burguesa em seus países. A França não promoveu essas modificações por parte dos seus reis e, talvez por conta disso, viu eclodir, em 1789, a Revolução Francesa, que tinha como palavras de ordem os ideais iluministas.

7.2 Resumo do Capítulo Caro(a) aluno(a), Neste capítulo, você estudou as principais ideias difundidas pelos filósofos iluministas e viu que o Despotismo Esclarecido foi um estratégia utilizada por monarcas absolutistas para se manterem no poder.

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7.3 Atividades Propostas Vejamos, agora, como se deu seu processo de aprendizagem. Responda às questões: 1. No século XVIII, o que propunham os filósofos iluministas em relação à estrutura política e social dominante na Europa Ocidental? 2. Certos monarcas europeus, no século XVIII, influenciados pelos filósofos iluministas, introduziram transformações em seus governos. A partir dessa afirmação, o que foi o despotismo esclarecido?


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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro(a) aluno(a), Neste material, você leu a respeito dos temas que são considerados imprescindíveis para o conhecimento de época moderna; viu que o recorte cronológico normalmente aceito como delimitador dessa época é arbitrário; estudou que a expressão ‘época moderna’ é portadora da ideologia positivista, que acreditava que esta era melhor e mais desenvolvida do que a Idade Média; e estudou a respeito das transformações econômicas, sociais e políticas que ocorreram durante essa época. Espero ter colaborado com seu crescimento e lembro que mais informações você poderá obter lendo as obras indicadas nas referências.


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RESPOSTAS COMENTADAS DAS ATIVIDADES PROPOSTAS

Caro(a) aluno(a), Em cada um dos 7 capítulos desta apostila, propus que você respondesse a duas questões. Apresento, agora, um paradigma de resposta para cada questão, com a finalidade de proporcionar meios para corrigir sua resposta. CAPÍTULO 1 1. Aqui, esperava-se que você dissesse que não. Você poderia justificar sua resposta dando o exemplo dos historiadores marxistas, que consideram que a época moderna iniciou-se com a crise do século XIV e terminou com a vitória do capitalismo, no século XVII, com as revoluções inglesas. 2. Aqui, esperava-se que você dissesse sim e que justificasse sua resposta dizendo que o termo ‘moderno’ traz embutida a ideia de que algo que é moderno é melhor do que aquilo que é velho. Portanto, a época moderna seria melhor do que a Idade Média, ideia esta equivocada. Hoje, nós sabemos que todas as épocas históricas foram boas, que uma foi diferente da outra e que, portanto, não podem ser comparadas em termos de melhor ou pior. CAPÍTULO 2 1. Aqui, você poderia ter escrito que, na época moderna, época de consolidação dos Estados Nacionais Absolutistas, as frequentes lutas entre os jovens países tornavam necessária uma situação econômica sólida e à disposição do Estado. Ao mesmo tempo, o rei pretendia um poder total, que lhe conferisse condições de solucionar os problemas internos e de obter vitórias externas. Também nesse caso, eram necessários amplos recursos econômicos. Assim, tornava-se necessária uma política econômica que atendesse plenamente aos interesses do Estado; portanto, uma política intervencionista, o mercantilismo. 2. Aqui, você deveria escrever que, no primeiro momento da expansão ultramarina europeia, Portugal e Espanha foram beneficiados pelas suas posições geográficas, pela precoce centralização do poder nas mãos dos reis, pelo espírito cruzadista e pela busca de metais preciosos e alimentos.


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CAPÍTULO 3 1. Aqui, você poderia ter escrito que os humanistas renascentistas assemelhavam o homem a Deus. Desse modo, por meio das realizações humanas (pintura, escultura, arquitetura, ciências etc.), Deus manifestava-se, tornando os seres humanos seus próprios mensageiros. Dessa forma, o homem era um artista universal, como Deus. 2. Esperava-se como resposta a essa questão que você tivesse colocado que, muito próximo às Cartas de São Paulo, Erasmo obtinha delas uma concepção de vida cristã completamente livre, recusando as cerimônias e as práticas, por considerá-las vazias. CAPÍTULO 4 1. Aqui, você poderia ter colocado que, na medida em que as ideias reformistas triunfavam, principalmente as calvinistas e luteranas, a sede do papado preocupava-se em reafirmar todos os dogmas católicos. Ainda, poderia dizer que a Igreja Católica sofreu uma ação moralizadora. 2. Aqui, esperava-se que você tivesse colocado que várias foram as causas: a reforma foi, sem dúvida, um movimento religioso, porém vinculado às transformações oriundas da transição do feudalismo para o capitalismo; a política papal intervencionista, procurando manter a Europa numa “República Cristã”, deixou de ter forças; e o Estado Moderno, apoiado pela burguesia ou, até mesmo, pela aristocracia, repudiou essa concepção medieval. As diferenças teológicas no corpo da Igreja, principalmente entre agostinianos e tomistas, facilitavam o separatismo. Por fim, você poderia ainda ter escrito que a incapacidade religiosa da Igreja Romana frente aos catastróficos acontecimentos do século XIV facilitou o surgimento das críticas e das dúvidas que acabaram justificando o sucesso dos movimentos reformistas. CAPÍTULO 5 1. Como resposta a essa questão, você poderia ter dito que uma das condições foi as lutas sociais que opunham burguesia e nobreza. Dessa forma, tornou-se necessário o aparecimento de um monarca poderoso, que restabelecesse a paz interna. Exatamente por ser o elemento moderador, o ponto de equilíbrio social, o rei ganhou poderes absolutistas. Outra condição possibilitadora do absolutismo monárquico foi o despontar do capitalismo, que, através do mercantilismo, fornecia ao rei os indispensáveis recursos econômicos para a sua concentração de poderes. 2. Como resposta a essa questão, esperava-se que você tivesse escrito que a crise do final da Idade Média havia gerado a necessidade de sua superação, que só possível com um Estado forte, cujos poderes concentravam-se nas mãos do monarca. A justificativa para o fortalecimento monárquico era considerar o rei o representante de Deus, ou seja, seu direito de governar tinha pretensamente origem divina. Assim, ao defender essa posição, Bossuet, por exemplo, ia de encontro à mentalidade da época e ao desejo, naquele momento, de oferecer segurança a todas as camadas sociais.

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História Moderna

CAPÍTULO 6 1. Para essa questão, esperava-se que você tivesse escrito que Cromwell, por meio desse documento, estabeleceu que todo comércio entre Inglaterra e suas colônias só poderia realizar-se através de navios ingleses e, entre a Inglaterra e outros países, por meio de navios ingleses ou do parceiro comercial. Eliminavam-se, assim, os intermediários e, de acordo com a mentalidade mercantilista, protegeu-se a economia inglesa e apoiou-se a burguesia, que, por sua vez, deu apoio ao Lorde Protetor e ao Estado. 2. Por meio dessa revolução, o absolutismo inglês foi derrubado, implantando-se, pela primeira vez na Europa, um regime mais amplo, com Parlamento governado. Contudo, a monarquia continuou existindo, limitada por uma constituição, servindo de modelo para vários outros países. CAPÍTULO 7 1. Para essa questão, esperava-se que você tivesse escrito que o Iluminismo foi uma ideologia burguesa do século XVIII; em outras palavras, o pensamento burguês na fase revolucionária dessa classe. Em linhas gerais, os principais pensadores iluministas, baseados em uma visão racionalista, combateram a forma absolutista de Estado e suas legitimações religiosas, estruturas vigentes no Antigo Regime, propondo o liberalismo, ou seja, a limitação do poder do Estado, e conceituando o indivíduo, juridicamente definido como cidadão, como fundamento último da vida social. 2. Para essa questão, esperava-se que você tivesse dito que o despotismo esclarecido consistiu numa modificação ideológica do absolutismo, sem, contudo, negá-lo. Poderia ainda dizer que esse tipo de governo visou a aperfeiçoar o sistema de governo, ainda que beneficiando, principalmente, a burguesia. Os déspotas esclarecidos, isto é, reis orientados pelos filósofos iluministas, procuravam organizar seus Estados a fim de trazer a felicidade a todos, evitando, assim, a revolução burguesa.


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Apostila de História Moderna I

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