Resumo. Capítulo 4. As teorias de Quattrocento na tradição de Alberti
Com o seu tratado de arquitectura, Alberti criou um fundamento teórico de tipologia arquitectónica que tem como referência a Antiguidade romana. Mais tarde, Antonio Alverlino, dito Filarete, escreveu um tratado de arquitectura como uma novela em forma de diálogo, onde descreve todos os passos o processo de planificação e construção da cidade fictícia de Sforzinda. Estando dividido em 25 livros, a novela começa como uma conversa cortesã em que o arquitecto informa o seu auditório sobre os princípios da arquitectura. Em continuação o assunto tratado passa para a fundação e construção da cidade de Sforzinda. Filarete propôs-se a tratar primeiro as origens das medidas e da habitação, a continuação da planificação de uma cidade e finalmente os vários tipos de edificação antiga e moderna. Filarete formula uma analogia entre as necessidades humanas de habitar e de comer. Associa ainda a abordagem vitruviana sobre as origens da habitação com a tradição cristã e afirma ainda que as construções mais antigas têm como base as medidas e proporções do homem. De maneira axiomática parte de cinco c inco medidas humanas que se diferenciam pela sua qualidade, que para ele, estas cinco qualidades são a base das cinco ordens arquitectónicas. As abordagens antropométricas de Filarete estabelecem não só uma relação com o homem no que refere às medidas, mas também na identidade e no comportamento. A arquitectura vive, fica doente e morre. É questionável interpretar o tratado de Filarete como uma defesa da Antiguidade grega cristianizada em oposição a Alberti e a sua concepção romana da arquitectura, uma vez que também Filarete se refere quase exclusivamente a modelos romanos. Francesco de Giorgio continua e desenvolve as ideias de Alberti e de Filarete oferecendo uma síntese sobre estas. A estruturação do tratado realizado por Francesco não é sistemática e começa com as construções das fortalezas. Fazendo alusão a Vitrúvio argumenta que toda a arte arte e cálculo obtém-se através das belas proporções do corpo humano. Francesco escreve sobre a cidade descrevendo a figura vitruviana, figura esta na qual o corpo humano coincide com um círculo e um quadrado. Na introdução do capítulo sobre a construção de templos, o escrito confirma a importância fundamental da teoria antropométrica das proporções, aliás, este afirma que todas as medidas e proporções da arquitectura provêem do corpo humano. Outra versão mais elaborada do tratado está organizada em sete livros. E escreveu que a arquitectura moderna está cheia de erros e falsas proporções.
Sofrendo influência da filosofia platónica e aristotélica, Francesco toma como ponto de partida a sua teoria da arquitectura a máxima segundo a qual o homem é um animal social. Para a construção de habitações monta uma tipologia a partir da de Filarete, onde distingue cinco tipos fundamentais que distingue diferentes variedades: casas para c amponeses, artesãos, eruditos, comerciantes e nobres. A distribuição interna das habitações seguia o princípio funcional. Para este artista forma circular seria a forma perfeita para planta de um templo, levando o princípio das proporções antropométricas a um extremo, acreditando que em cada detalhe do templo pode sentir-se, ler-se e medir-se o corpo humano. No final do epilogo declara que “sem o desenho não pode expressar e fazer pública a sua ideia”.
Limitado foi o papel de Leonardo da Vinci na teoria da arquitectura, destacando as interessantes abordagens de orientação prática e a relação dos pontos de vista de Vitruvio, Alberti, Filarete e Francesco di Giorgio. Nos seus documentos vemos um interesse mais prático do que teórico. Nos seus documentos, Leonardo apresenta um conceito urbanístico radical, que se rege por princípios de descentralização, habitação e higiene, apresenta então uma cidade de forma quadrada na sua planta, atravessada por canais e próximo de um rio. As ruas seriam organizadas seguindo duas tipologias distintas, de forma a harmonizar a necessidade de haver umas vias para transportar mercadorias, abastecimentos para satisfazer as necessidades, e umas outras vias para a circulação de coches e de outros veículos. Interessante é também o aspecto da luz e da praça que privilegia na mancha urbana, bem como o carácter funcional e prático das instalações sanitárias. Para Leonardo, a população da cidade está “cheia de infinitos males”.
Francesco Colonna escreve uma novela, onde a arquitectura antropomorfa é uma constante. Este livro está cheio de imagens sobre a teoria de arquitectura do Quattrocento, e adquire um carácter de doutrina mística. A Antiguidade, entendida como algo perfeito, relaciona-se com o culto iniciado de Vénus e encontra a sua expressão numa arquitectura onírica que está assente num contexto de carácter romântico-utópico entre a erudição da Antiguidade e as aspirações megalomaníacas. Nas obras teóricas de Bramante parece haver conteúdo de uma teoria das proporções da arquitectura. Na sua nudez, o arquitecto apoia-se na geometria, na perspectiva e na Antiguidade, escreveu. A pesquisa e o trabalho realizado por Bramante destaca pela sua clareza conceptual os seus critérios de análise. Facto de que a estática ocupa o primeiro lugar é evidente para as dificuldades construtivas. Mas, na sequência de Alberti, menciona no segundo lugar a conformidade estilística com o edifício gótico.
Luca Paciolli, foi um matemático e também um teórico de arte e compilou um tratado sobre a divina proporção. A primeira parte deste documento analisa a divina proporção, a secção áurea. Nesta altura, no Renascimento, as relações de proporção assumiam um papel subordinado e se dava preferência a relações aritméticas de números inteiros. No final do Quattrocento existia a necessidade de clarificar os conceitos arquitectónicos. Com a necessidade de compilar uma obra com os términos arquitectónicos com os respectivos comentários, mas não segue uma ordem alfabética o que resultou de uma dificuldade em utilizar, apesar do êxito que este primeiro dicionário de arquitectura obteve. Já na primeira década do séc. XVI, Paolo Cortesi opina sobre a construção de palácios. Este humanista descreve, recomendando exemplos antigos, a localização e a estruturação seguindo critérios funcionais. O primeiro comentário sobre a ordem toscana, tecido no tratado realizado por um autor anónimo, pode detectar-se a grande orientação prática deste tratado. Partindo de um valor absoluto para a coluna e por subdivisões resultam dele as medidas de cada componente arquitectónica.