SAHLINS, Marshall. 1976 “La pensée bourgeoise: A sociedade ocidental enquanto cultura”. In: SAHLINS, Marshall. Cultura e Razão Prática Rio de Janeiro: Zahar, 2003. .
p. 166-203 Com “La pensée bourg rge eoise: A soc ociied eda ade oc ociidental enquant nto o cultura ra”” (1976) Marshall Sahlins, renomado antropólogo da Universidade de Chicago, engaja um diálogo com Marx, Saussure e Lévi-Strauss. Como o autor descreve, trata-se de um “exe “e xemp mplo lo de in iníc ício io”” de pr prod oduç ução ão de um uma a ex expl pliica caçã ção o cu cult ltur ural al pa para ra a pr prod oduç ução ão de ob obje jettos e de mod odos os de vi vida da id iden enttif ific icad ada a na so soci cied edad ade e oc ocid iden enta tal. l. É um uma a br brev eve e an anál ális ise e es esttru rutu tura rall da so soci cied edad ade e es esta tadu duni nide dens nse e de su sua a ép époc oca, a, co com m ex exem empl plos os ma mais is tr trab abal alha hado doss qu quan anto to ao cons nsu umo de ca carrne e à ves esttimenta. Ape pessar de não usar a expr pre essã são o anál áliise es esttru ruttural em nenhum momento, Sahlins está constantemente acionando noções como a de estr es trut utur uras as me ment ntai ais, s, si sign gno o e o es estr trut utur ural alis ismo mo de Sa Saus ussu sure re,, al além ém da re refe ferê rênc ncia ia no tí títtul ulo o ao La pensée sauvage (1962), importante livro do também estruturalista Claude Lévi-Strauss. Por seu cará rátter de ce cerrto modo introdut utó óri rio o, co com m o objetivo de pro rop por uma form rma a de pensar a questão deixada por Marx, o texto é curto e se divide em apenas três part rtes es.. Na primeira delas, o leitor é levado ao enc nco ontro do gra ran nde teóri rico co alemão para disc di scut utir ir os lim imiite tess do ma matter eria iallis ismo mo hi hist stór óric ico, o, se seus us ví víci cios os e po poss ssiibi bililida dade des. s. Em se segu guid ida, a, para pa ra co com meç eçar ar a de demo mons nstr trar ar su sua a pr prop opos ostta, Sa Sahl hlin inss fa fala la so sobr bre e os há hábi bito toss al aliime ment ntar ares es de seu se u pa país ís,, co com m fo foco co na di dime mens nsão ão cu cultltur ural al do co cons nsum umo o de ca carn rne, e, es esta tabe bele lece cend ndo o re rela laçõ ções es diret eta as com o tra rab balho de Lévi vi-S -Sttra rau uss. A última seçã ção o do livro desenv nvo olve ainda mais a ideia, agora com uma análise breve sobre as vestimentas, linhas e cores. O mat ate eri rial aliismo hist stó óri rico co é impo porrtante para que a soci cie eda dad de burg rgu uesa entenda seu funcionamento, mas enquanto cria dela mesma, ainda reproduz alguns vícios próprios desse sistema. Coloca esta sociedade ocidental e o marxismo para serem observados pelas lentes da antropologia. Sahlins almeja demonstrar que é um equívoco tratar a produção como processo pragmático e natural de satisfação de
necessidades, que seria o senso comum da economia ocidental. Os objetos são produzidos de maneiras específicas, para grupos específicos e isto se relaciona com toda a ordem social de maneira específica. A noção de utilidade, necessidade, central do ponto de vista do pragmatismo da dinâmica da oferta e procura, é baseada na significação de certas qualidades. Aponta o simbolismo e arbitrariedade tanto no valor de uso quanto no valor-mercadoria. Nesse sentido, a produção é uma intenção cultural e não o contrário. “Nenhum objeto, nenhuma coisa é ou tem movimento na sociedade humana, exceto pela significação que os homens lhe atribuem.” (pp 170). Apresenta então os exemplos com os quais vai trabalhar, começando pela questão do consumo de carne, onde quer sugerir a presença de uma razão cultural nos hábitos alimentares, que por sua vez também influenciam toda a dinâmica da produção dos EUA e seu relacionamento com outros países. A forma com que a dita sociedade ocidental se relaciona com bois, porcos, cavalos e cachorros é peculiar, e se organiza a partir de critérios de comestibilidade: bois e porcos são mais comestíveis que cavalos ou cachorros. Esta lógica está relacionada também com a percepção destes animais como mais próximos dos humanos, mais agentivos, ou mais passivos e distantes quanto mais perto dos humanos, mais se trata de uma metáfora ao canibalismo. Estes dois elementos culturais juntos que organizam a demanda de carnes. As pessoas mais ricas têm acesso a carnes mais caras de bois, diferente de pessoas mais pobres, geralmente negras no contexto racializado dos EUA. Sahlins aposta que isso possa ser entendido a partir da análise do totemismo feita por Lévi-Strauss, propondo então um totemismo burguês. O que se mantém do totemismo é a capacidade de articular diferenças da série cultural (no caso, classe e raça) com a série natural (carnes), com o adicional de que a manufatura permite a produção enorme de diferenças a serem articuladas. A dominação da natureza faz com que esta proposta não vá contra a racionalidade do mercado. A produção é, portanto, a objetificação da cultura. O consumo é colocado como uma forma de diálogo. Na sequência, introduz o debate sobre o vestuário.
O sistema de vestuario é visto pelo autor como mapa do universo cultural, fato social total. Isto se dá pelo fato de que as características físicas dos objetos são investidas de significado em vários níveis. Propõe uma sintaxe geral para o vestuário. O foco continua em desenhar explicações culturais para a produção. Pelo tipo de texto, Sahlins anuncia que fará apenas uma análise do código, sem se preocupar com como as pessoas efetivamente se vestem, ainda que considere que a pesquisa é relevante e acredite que após seu trabalho ela poderá ser desenvolvida com mais tranquilidade. Na realidade, o que está sendo produzido com os vestuários são marcas de geração, tempo, espaço, classe, gênero e sexualidade. O autor insiste que não se trata então se subjugar os produtores aos consumidores: na verdade a produção dessas diferenças nas vestimentas é produzida e produto ao mesmo tempo que reforça as distinções na ordem social. Neste momento o autor aponta que o capitalismo não seria absolutamente racional a todo o momento. O autor se aprofunda no sistema de vestuário e então propõe pensar em “vestemas”, brincando com os mitemas levistraussianos ou os fonemas da linguística: isso significa buscar a unidade básica. No texto, Shalins chama esta unidade de UCE unidades componentes elementares - e identifica três: textura, linha e cor. São apresentados contrastes binários usando tipos de texturas possíveis e o autor nos encaminha para o entendimento de que eles servem para informar e marcar toda uma sorte de categorias sociais, gerando um movimento quase que imediato aonde olhamos e reconhecemos algumas características daquela pessoas desconhecida, evento tão comum nas grandes cidades ocidentais. Mas a UCE seria ligada de que maneira à significação cultural? Novamente nos encontramos em uma pergunta que busca estabelecer uma ordem cronológica para os eventos. O autor indica que para efeitos de produção o que importa é a retroalimentação dos símbolos pelas diferenças e das diferenças pelos símbolos e não quem começou. Estudando as linhas e cores, Sahlins trabalha com a ideia de que confirmar estruturas comuns entre nossas formas de percepção destes itens e seus significados sociais. Este movimento poderia ser visto como limitação do sistema simbólico
ocidental, perspectiva negada pelo autor, que acredita que talvez nós estamos apenas confirmando o uso destas estruturas que já estavam presentes. A mistura do momento da percepção com o momento da interpretação é sempre referenciado ao Pensamento Selvagem. Com todo esse caminho, Sahlins nos demonstra como o capitalismo tem essa dimensão cultural, que está fora e longe de uma racionalidade objetiva e distante do utilitarismo. Encerrando o texto, Sahlins diz “ [ a lógica] simbólica, define e classifica as alternativas pela “escolha”, entre as quais a racionalidade, esquecida de sua própria base cultural, gosta de considerar como constitutiva” (pp203). Outro aspecto que percorre o texto e é característico dos escritos de Sahlins é a intersecção com a história. Para demonstrar seu ponto, por exemplo, o autor recorre à crise de 1973, que incentivou o consumo de carne de cavalo, escancarando essa postura dos estadunidenses com estes animais, além da apropriação do jeans, usado por operários, por jovens de classe média alta. Como Sahlins coloca tantas vezes, trata-se de uma proposta, uma ideia a ser desenvolvida por outras pessoa. O interesse e valor do texto não se restringe, entretanto, apenas para aquelas e aqueles que desejam continuar trabalhando com a antropologia diretamente relacionada com a produção, estudando como funciona exatamente os pormenores do sistema de vestimenta. Trata-se de um experimento antropológico sobre a sociedade ocidental, que ajuda a pensar toda uma série de consequências para as mais diversas áreas dos estudos nas cidades ocidentais. Não poderia deixar de mencionar também o valor do texto no contexto do debate identitário nas ciências humanas e até mesmo na população em geral, que vem se engajando com esse tipo de luta através das redes sociais. Além de desvelar uma parte mais oculta do capitalismo, o texto apresenta uma série de análises que hoje chamamos de interseccionais, cruzando marcadores de gênero, geração, raça e sexualidade nas diferenças sociais e consequentemente nas roupas. O texto assim consegue atingir uma gama vasta e variada de leitores.