CURSO RÁPIDO DE MARXISMO-LENINISMO DO PARTIDO COMUNISTA REVOLUCIONÁRIO
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................... .......................................................... ....................... ... 7 ENGELS SOBRE S OBRE A SUPERAÇÃO DA DEMOCRACIA......... 9 SOBRE AS GREVES ..................................... .................................................... ............... 13 A HISTÓRIA DA MULHER E A HISTÓRIA DA SUA OPRESSÃO ..................................................... ................................................................ ........... 29 MENTIRAS RELATIVAS À HISTÓRIA DA UNIÃO SOVIÉTICA ....................................... .......................................................... ........................ ..... 31 31 De Hitler a Hearst, de Conquest a Soljenitsin ............................... 31 A Ucrânia como um território alemão .......................................... 33 William Hearst, amigo de Hitler.................................................... 35 O mito da fome na Ucrânia .......................................................... 38 O império da mídia míd ia de massa de Hearst em 1998 1 998 ........................ 40 52 anos antes da verdade verd ade emergir ............................................... 40 Robert Conquest no coração dos mitos........................................ 44 Alexander Soljenitsin ................................................................ .... 47 Apoio ao fascismo de Franco ........................................................ 50 Os nazistas, a polícia e os fascistas fascis tas ............................................... 52 Os arquivos demonstram que a propaganda mente .................... 53 Métodos fraudulentos deram der am origem a milhões de mortos ......... 54 Gorbachov abre os arquivos ......................................................... 56 O que a pesquisa pesquis a russa mostra ..................................................... 59 Campos de trabalhos forçados no sistema penal ......................... 61 454.000 não são 9 milhões ........................................................... 63 A ameaça interna e externa ......................................................... 65 Mais prisioneiros p risioneiros nos EUA ............................................................ 67 3
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Um fator importante: a falta de remédios ................................... 68 As mentiras sobre a União Soviética ............................................ ............................................ 71 Os “kulaks” e a contra-revolução ................................................. 73 Os expurgos de 1937 .................................................................... 75 Sabotagem industrial ................................................................ .... 77 Roubo e corrupção ....................................................................... 79 Planos para um golpe ................................................................... 80 Mais inúmeras mentiras ............................................................... 82 Aprendamos com a história.......................................................... 83
O ANTI-STALINISMO, CAVALO DE TRÓIA NO MOVIMENTO COMUNISTA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX .................................... ........................................................ ........................... ....... 86 O AVILTAMENTO DO MARXISMO PELOS OPORTUNISTAS ............................. ................................................. ......................... ..... 121 Polêmica de Plékhanov com os anarquistas an arquistas ............................... 121 Polêmica de Kautsky com os oportunistas ................................. ................................ . 123 Polêmica de Kautsky com Pannekoek ........................................ 133
OS 120 ANOS DO NASCIMENTO DO DIRIGENTE COMUNISTA JORGE DIMITROV ............................... ............................... 149 Desmascarando Hitler e suas s uas mentiras ...................................... ................. ..................... 150 Discurso de encerramento do VII Congresso Mundial da Internacional Comunista, pronunciado por Dimitrov em 20 de agosto de 1935. .......................................................................... 152 Fortalecer as posições do proletariado ...................................... .................................... .. 155 Congresso da unidade da classe operária ................................... 157
CARTA AOS OPERÁRIOS DOS ESTADOS UNIDOS .... 166
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PODE UM JORNAL SER UM ORGANIZADOR COLETIVO? .................................................. ..................................................................... ............................. ......... 189 O fio fundamental para desenvolver e alargar a nossa organização ................................ ................................................................ ... 193 Encontrar e agarrar com força o elo da cadeia ........................... 194 O jornal não é apenas um propagandista p ropagandista coletivo e um agitador coletivo, mas também um organizador coletivo ........................ ... ..................... 195 Por onde começar a unificação .................................................. ................................ .................. 200 È preciso sonhar ......................................................................... 202
PODE O PARTIDO DEGENERAR? .............................. .............................. 208 A FORMAÇÃO FO RMAÇÃO DA MORAL COMUNISTA CO MUNISTA .................... .................... 218 A ESSÊNCIA DA MORAL COMUNISTA E SUAS CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS ......................................................................... 219 AS TAREFAS E O CONTEÚDO C ONTEÚDO DA FORMAÇÃO DA MORAL COMUNISTA ........................................................ ....................... 241 DIRETRIZES BÁSICAS E MÉTODOS DE EDUCAÇÃO DA MORAL COMUNISTA .......................................................... ..................... 259
A QUESTÃO Q UESTÃO DA ESTRATÉGIA E DA D A TÁTICA .............. 274
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INTRODUÇÃO O marxismo é o pensamento revolucionário da classe trabalhadora. Munido desta teoria, o proletariado tem condições de compreender seu lugar no mundo e abrir perspectivas de mudanças da sociedade. Então Lênin vem fortificar o marxismo com um pensamento baseado na luta consciente do proletariado. Da luta econômica no capitalismo para a luta política de uma nova sociedade, o socialismo. Somente um partido comunista revolucionário, marxista-leninista, pode levar as lutas proletárias à luta pelo socialismo e construir um Brasil realmente democrático, com a classe operária no poder político e econômico. Para aqueles que estão curiosos em conhecer mais da teoria revolucionária marxista-leninista, que é base do pensamento comunista internacional, dispomos de uma série de textos selecionados, formando um curso rápido, objetivo, onde podem ser obtidas informações chaves para aqueles que desejam conhecer mais sobre o capitalismo e suas consequências, incluindo o socialismo. Assim como o marxismo, este curso evolui e desenvolve. Novos textos aos poucos serão incorporados a lista. Esperamos também, e principalmente, que estes textos despertem-no à realidade vivida pelos trabalhadores no Brasil e no mundo. Também que se torne mais um militante do socialismo e entre nas fileiras do 7
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nosso partido Revolucionário.
proletário,
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Partido
Comunista
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ENGELS SOBRE A SUPERAÇÃO DA DEMOCRACIA V. I. Lênin in ‘O Estado e a Revolução’ No prefácio à edição dos seus artigos da década de 1870 sobre diversos temas, principalmente de conteúdo ‘internacional’, prefácio datado de 3 de janeiro de 1894, isto é, escrito um ano e meio antes da morte de Engels, ele escrevia que em todos os artigos se emprega a palavra ‘comunista’, e não social-democrata, porque então se chamavam a si próprios sociais-democratas os proudhonistas em frança, os lassallianos¹ na Alemanha. “... Para Marx e para mim - prossegue Engels - era, por isso, absolutamente impossível escolher, para designar o nosso ponto de vista especial, uma expressão tão elástica. Hoje as coisas mudaram, e assim a palavra ‘(social-democrata)’ pode passar ainda que continue a ser inadequada para um partido cujo programa econômico não é meramente socialista em geral, mas diretamente comunista, e cujo objetivo político final é a superação de todo o Estado, portanto também da democracia. Os nomes de partidos políticos reais ‘(sublinhado de Engels)’ porém, nunca estão completamente certos; o partido desenvolve-se, o nome permanece”. 9
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O dialético Engels, no ocaso de seus dias, permanece fiel à dialética. Marx e eu, diz, tínhamos um belo nome para o partido, cientificamente preciso, mas não existia um verdadeiro partido proletário, isto é, de massas. Agora (fim do século XIX), existe um verdadeiro partido mas a sua denominação é cientificamente inexata. Não interessa, ‘passa’, desde que o partido se desenvolva, desde que a imprecisão científica da sua denominação não lhe seja escondida e não o impeça de se desenvolver na direção justa! Talvez um espirituoso qualquer se pusesse a consolar-nos também a nós, bolcheviques, à maneira de Engels: temos um verdadeiro partido, ele desenvolve-se admiravelmente; “passa” também uma palavra tão absurda e feia como “bolchevique”, que não exprime absolutamente nada, senão a circunstância puramente casual de que no Congresso de Bruxelas-Londres de 1903 tivemos a maioria²... Talvez agora, quando as perseguições de julho-agosto contra o nosso partido pelos republicanos e a democracia pequeno-burguesa ‘revolucionária’ tornaram a palavra bolchevique tão honrosa entre todo o povo, quando elas marcaram além disso um histórico e imenso passo em frente dado pelo nosso partido no seu desenvolvimento real , talvez eu próprio hesitasse na minha proposta de abril de mudar a denominação do nosso partido. Talvez propusesse aos meus camaradas um ‘compromisso’: chamarmo-nos partido comunista, mas conservar entre parênteses a palavra bolchevique... Mas a questão da denominação do nosso partido é 10
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incomparavelmente menos importante do que a questão da atitude do proletariado revolucionário em relação ao Estado. Nos raciocínios habituais sobre o Estado comete-se constantemente o erro contra o qual Engels adverte aqui e que assinalamos de passagem na exposição anterior. A saber: esquece-se constantemente que a supressão do Estado é também a supressão da democracia, que a extinção do Estado é a extinção da democracia. À primeira vista tal afirmação parece extremamente estranha e incompreensível; talvez mesmo surja em alguns o receio de que nós esperemos o advento de uma organização social em que não se observe o princípio da subordinação da minoria à maioria, pois não será a democracia precisamente o reconhecimento de tal princípio? Não. A democracia não é idêntica à subordinação da minoria à maioria. A democracia é um Estado que reconhece a subordinação da minoria à maioria, isto é, uma organização para exercer a violência sistemática de uma classe sobre outra, de uma parte da população sobre outra. Propomo-nos como objetivo final a supressão do Estado, isto é, de toda a violência organizada e sistemática, de toda a violência sobre os homens em geral. Não esperamos o advento de uma ordem social em que o princípio da subordinação da minoria à maioria não seja observado. Mas, aspirando ao socialismo, estamos 11
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convencidos de que ele se transformará em comunismo e, em ligação com isto, desaparecerá toda a necessidade da violência sobre os homens em geral, da subordinação de um homem a outro, de uma parte da população a outra parte dela, porque os homens se habituarão a observar as condições elementares da convivência social sem violência e sem subordinação. É para sublinhar este elemento de hábito que Engels fala da nova geração “formada em novas condições sociais livres que será capaz de se desfazer de toda a tralha do Estado - de qualquer Estado, incluindo o Estado democrático republicano". Para esclarecer isto é necessário analisar a questão das bases econômicas da extinção do Estado.
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SOBRE AS GREVES V. I. Lênin Escrito em fins de 1899. Publicado pela primeira vez em 1924, na revista Prolietárskaia Rievoliútsia (A Revolução Proletária), nº 8/9. Encontra-se in Obras, t. IV, pp. 286/295. Nos últimos anos, as greves operárias são extraordinariamente freqüentes na Rússia. Não existe nenhuma província industrial onde não tenha havido várias greves. Quanto às grandes cidades, as greves não cessam. Compreende-se, pois, que os operários conscientes e os socialistas se coloquem cada vez mais amiúde a questão do significado das greves, das maneiras de realizá-las e das tarefas que os socialistas se propõem a participarem nelas. Queremos tentar fazer uma exposição de algumas de nossas considerações sobre esses problemas. No primeiro artigo, pensamos falar do significado das greves no movimento operário geral; no segundo, das leis russas contra as greves, e, no terceiro, de como se desenvolveram e desenvolvem as greves na Rússia e qual deve ser a atitude dos operários conscientes diante delas. I Em primeiro lugar, é preciso ver como se explica o nascimento e a difusão das greves. Quem se lembra de todos os casos de greve conhecidos por experiência própria, por relatos de outros ou através dos jornais, verá 13
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logo que as greves surgem e se expandem onde aparecem e se expandem as grandes fábricas. Das fábricas mais importantes, onde trabalham centenas (e, às vezes, milhares) de operários, dificilmente se encontrará uma em que não tenha havido greves. Quando eram poucas as grandes fábricas na Rússia, rareavam as greves; mas visto que elas crescem com rapidez, tanto nas antigas localidades fabris como nas novas cidades e aldeias industriais, as greves tornaram-se cada vez mais freqüentes. Por que a grande produção fabril leva sempre às greves? Isso se deve a que o capitalismo leva necessariamente à luta dos operários contra os patrões, e quando a produção se transforma numa produção em grande escala essa luta se converte necessariamente em luta grevista. Esclareçamos. Denomina-se capitalismo a organização da sociedade em que a terra, as fábricas, os instrumentos de produção etc. pertencem a um pequeno número de latifundiários e capitalistas, enquanto a massa do povo não possui nenhuma ou quase nenhuma propriedade e deve, por isso, alugar sua força de trabalho. Os latifundiários e os industriais contratam os operários, obrigando-os a produzir tais ou quais artigos que eles vendem no mercado. Os patrões pagam aos operários exclusivamente o salário imprescindível para que este e sua família mal possam subsistir, e tudo que o operário produz acima dessa quantidade de produtos necessária 14
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para a sua manutenção o patrão embolsa; isso constitui seu lucro. Portanto, na economia capitalista, a massa do povo trabalha para outros, não trabalha para si, mas para os patrões, e o faz por um salário. Compreende-se que os patrões tratem sempre de reduzir o salário; quanto menos entreguem aos operários, mais lucro lhes sobra. Em compensação, os operários tratam de receber o maior salário possível, para poder sustentar a sua família com uma alimentação abundante e sadia, viver numa boa casa e não se vestir como mendigos, mas como se veste todo mundo. Portanto, entre patrões e operários há uma constante luta pelo salário: o patrão tem liberdade de contratar o operário que quiser, pelo que procura o mais barato. O operário tem liberdade de alugar-se ao patrão que quiser, e procura o mais caro, o que paga mais. Trabalhe o operário na cidade ou no campo, alugue seus braços a um latifundiário, a um fazendeiro rico, a um contratista ou a um industrial, sempre regateia com o patrão, lutando contra ele pelo salário. Mas pode o operário, por si só, sustentar essa luta? É cada vez maior o número de operários: os camponeses se arruínam e fogem das aldeias para as cidades e para as fábricas. Os latifundiários e os industriais introduzem máquinas, que deixam os operários sem trabalho. Nas cidades aumenta incessantemente o número de desempregados, e nas aldeias o de gente reduzida à miséria; a existência de um povo faminto faz baixarem ainda mais os salários. É impossível para o operário lutar sozinho contra o patrão. Se o operário exige melhor salário 15
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ou não aceita a redução de salário. O patrão responde: vá para outro lugar, são muitos os famintos que esperam à porta da fábrica e ficarão contentes em trabalhar, mesmo que por um salário baixo. Quando a ruína do povo chega a tal ponto que nas cidades e nas aldeias há sempre massas de desempregados, quando os patrões amealham enormes fortunas e os pequenos proprietários são substituídos pelos milionários, então o operário isolado transforma-se num homem absolutamente desvalido diante do capitalista. O capitalista obtém a possibilidade de esmagar por completo o operário, de condená-lo à morte num trabalho de forçados, e não só ele, como também sua mulher e seus filhos. Com efeito, vejam as indústrias, em que os operários ainda não conseguiram ficar amparados pela lei e não podem oferecer resistência aos capitalistas, e comprovarão que a jornada de trabalho é incrivelmente longa, de até 17 e 19 horas, que criaturas de cinco ou seis anos executam um trabalho extenuante e que os operários passam fome constantemente, condenados a uma morte lenta. Exemplo disso é o caso dos operários que trabalham a domicílio para os capitalistas; mas qualquer operário se lembrará de muitos outros exemplos! Nem mesmo na escravidão e sob o regime de servidão existiu uma opressão tão terrível do povo trabalhador como a que sofrem os operários quando não podem opor resistência aos capitalistas nem conquistar leis que limitem a arbitrariedade patronal. Pois bem, para não permitir que sejam reduzidos a essa tão extrema situação de penúria, os operários iniciam 16
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a mais encarniçada luta. Vendo que cada um deles por si só é absolutamente impotente e vive sob a ameaça de perecer sob o jugo do capital, os operários começam a erguer-se, juntos, contra seus patrões. Dão início às greves operárias. A princípio, é comum que os operários não tenham nem sequer uma idéia clara do que procuram conseguir, não compreendem por que atuam assim: simplesmente quebram as máquinas e destroem as fábricas. A única coisa que desejam é fazer sentir aos patrões a sua indignação; experimentam suas forças unidas para sair de uma situação insuportável, sem saber ainda por que sua situação é tão desesperada e quais devem ser suas aspirações. Em todos os países, a indignação começou com distúrbios isolados, com motins, como dizem em nosso país a polícia e os patrões. Em todos os países, esses distúrbios deram lugar, de um lado, a greves mais ou menos pacíficas e, de outro, a uma luta de muitas frentes da classe operária por sua emancipação. Que significado têm as greves na luta da classe operária? Para responder a esta pergunta devemos deternos primeiro em examinar com mais detalhes as greves. Se o salário do operário se determina – como vimos – por um convênio entre o patrão e o operário, e se cada operário por si só é de todo impotente, torna-se claro que os operários devem necessariamente defender juntos suas reivindicações, devem necessariamente declarar-se em greve para impedir que os patrões baixem os salários ou para conseguir um salário mais alto. E, efetivamente, não existe nenhum país capitalista em que não sejam 17
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deflagradas greves operárias. Em todos os países europeus e nos Estados Unidos da América, os operários se sentem, em toda parte, impotentes quando atuam individualmente, e só podem opor resistência aos patrões se estiverem unidos, quer declarando-se em greve, quer ameaçando com a greve. E quanto mais se desenvolve o capitalismo, quanto maior é a rapidez com que crescem as grandes fábricas, quanto mais se vêem deslocados os pequenos pelos grandes capitalistas, mais imperiosa é a necessidade de uma resistência conjunta dos operários, porque se agrava o desemprego, aguça-se a competição entre os capitalistas, que procuram produzir mercadorias de modo mais barato possível (para o que é preciso pagar aos operários o menos possível), e acentuam-se as oscilações da indústria e as crises*. Quando a indústria prospera, os patrões obtêm grandes lucros e não pensam em reparti-los com os operários; mas durante a crise os patrões tratam de despejar sobre os ombros dos operários os prejuízos. A necessidade das greves na sociedade capitalista está tão reconhecida por todos, nos países europeus, que lá a lei não proíbe a declaração de greves; somente na Rússia subsistiram leis selvagens contra as greves (destas leis e de sua aplicação falaremos em outra oportunidade). Mas as greves, por emanarem da própria natureza da sociedade capitalista, significam o começo da luta da classe operária contra essa estrutura da sociedade. Quando operários despojados que agem individualmente enfrentam os potentados capitalistas, isso equivale à completa escravização dos operários. Quando, porém, esses operários explorados se unem, a coisa muda. Não 18
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há riquezas que os capitalistas possam aproveitar se estes não encontram operários dispostos a trabalhar com os instrumentos e materiais dos capitalistas e produzir novas riquezas. Quando os operários enfrentam sozinhos os patrões, continuam sendo verdadeiros escravos, que trabalham eternamente para um estranho, por um pedaço de pão, como assalariados eternamente submissos e silenciosos. Mas quando os operários levantam juntos suas reivindicações e se negam a submeter-se a quem tem a bolsa de ouro, deixam então de ser escravos, convertemse em homens e começam a exigir que seu trabalho não sirva somente para enriquecer a um punhado de parasitas, mas que permita aos trabalhadores viver como pessoas. Os escravos começam a apresentar a reivindicação de se transformar em donos: trabalhar e viver não como queiram os latifundiários e capitalistas, mas como queiram os próprios trabalhadores. As greves infundem sempre tal espanto aos capitalistas porque começam a fazer vacilar seu domínio. “Todas as rodas detêm-se, se assim o quer teu braço vigoroso”, diz sobre a classe operária uma canção dos operários alemães. Com efeito, as fábricas, as propriedades dos latifundiários, as máquinas, as ferrovias etc. etc. são, por assim dizer, rodas de uma enorme engrenagem: essa engrenagem fornece diferentes produtos, transforma-os e distribui-os onde necessário. Toda essa engrenagem é movida pelo operário, que cultiva a terra, extrai o mineral, elabora as mercadorias nas fábricas, constrói casas, oficinas e ferrovias. Quando os operários se negam a trabalhar, todo esse mecanismo ameaça paralisar-se. Cada greve lembra aos capitalistas 19
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que os verdadeiros donos não são eles, e sim os operários, que proclamam seus direitos com força crescente. Cada greve lembra aos operários que sua situação não é desesperada e que não estão sós. Vejam que enorme influência exerce uma greve tanto sobre os grevistas como sobre os operários das fábricas vizinhas ou próximas, ou das fábricas do mesmo ramo industrial. Nos tempos atuais, pacíficos, o operário arrasta em silêncio sua carga, não reclama ao patrão, não reflete sobre sua situação. Durante uma greve, o operário proclama em voz alta suas reivindicações, lembra aos patrões todos os atropelos de que tem sido vítima, proclama seus direitos, não pensa apenas em si ou no seu salário, mas pensa também em todos os seus companheiros, que abandonaram o trabalho junto com ele e que defendem a causa operária sem medo das provocações. Toda greve acarreta ao operário grande número de privações, e além disso tão terríveis que só se podem comparar com as calamidades da guerra: fome na família, perda do salário, freqüentes detenções, expulsão da cidade em que residia e onde trabalhava. E apesar de todas essas calamidades, os operários desprezam os que se afastam de seus companheiros e entram em conchavos com o patrão. Apesar das calamidades da greve, os operários das fábricas próximas sentem entusiasmo sempre que vêem que seus companheiros iniciaram a luta. “Os homens que resistem a tais calamidades para quebrar a oposição de um burguês saberão também quebrar a força de toda burguesia”, dizia um grande mestre do socialismo, Engels, falando das greves dos operários ingleses. Muitas vezes, basta que uma fábrica se declare 20
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em greve para que imediatamente comece uma série de greves em muitas outras fábricas. Como é grande a influência moral das greves; como é contagiante a influência que exerce nos operários ver seus companheiros, que, embora temporariamente, se transformam de escravos em pessoas com os mesmos direitos dos ricos! Toda greve infunde vigorosamente nos operários a idéia do socialismo: a idéia da luta de toda classe operária por sua emancipação do jugo do capital. É muito freqüente que, antes de uma grande greve, os operários de uma fábrica, uma indústria ou uma cidade qualquer não conheçam sequer o socialismo, nem pensem nele, mas que depois da greve difundam-se entre eles, cada vez mais, os círculos e as associações e seja maior o número dos operários que se tornam socialistas. A greve ensina os operários a compreender onde repousa a força dos patrões e onde a dos operários; ensina a pensarem não só em seu patrão e em seus companheiros mais próximos, mas em todos os patrões, em toda a classe capitalista e em toda classe operária. Quando um patrão que acumulou milhões às custas do trabalho de várias gerações de operários não concede o mais modesto aumento de salário e inclusive tenta reduzilo ainda mais e, no caso de os operários oferecerem resistência, põe na rua milhares de famílias famintas, então os operários vêem com clareza que toda classe capitalista é inimiga de toda classe operária e que os operários só podem confiar em si mesmos e em sua união.
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Acontece muitas vezes que um patrão procura enganar, a todo transe, os operários, apresentar-se diante deles como um benfeitor, encobrir a exploração de seus operários com uma dádiva, um presentinho insignificante qualquer, com qualquer promessa enganadora. Cada greve sempre destrói de imediato esse engano, mostrando aos operários que seu “benfeitor” é um lobo em pele de cordeiro. Mas a greve abre os olhos do operário não só quanto aos capitalistas, mas também no que se refere ao governo e às leis. Do mesmo modo que os patrões se esforçam para aparecer como benfeitores dos operários, os funcionários e seus lacaios se esforçam para convencer os operários de que o czar e o governo czarista se preocupam com os patrões e os operários na mesma medida, com espírito de justiça. O operário não conhece as leis e não convive com os funcionários, em particular os altos funcionários, razão pela qual, freqüentemente, dá crédito a tudo isso. Eclode, porém, uma greve, apresentam-se na fábrica o fiscal, o inspetor fabril, a polícia e, não raro, tropas, e então os operários percebem que infringiram a lei: a lei permite aos donos de fábricas reunir-se e tratar abertamente sobre a maneira de reduzir o salário dos operários, ao passo que os operários são tachados de delinqüentes ao se colocarem todos de acordo! Despejam os operários de suas casas, a polícia fecha os armazéns em que os operários poderiam conseguir comestíveis a crédito, e pretende-se instigar os soldados contra os operários, mesmo quando estes mantêm uma atitude serena e 22
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pacífica. Dá-se inclusive aos soldados ordem de abrir fogo contra os operários, e quando matam trabalhadores indefesos, atirando-lhes pelas costas, o próprio czar manifesta a sua gratidão às tropas (assim fez com os soldados que mataram grevistas em Iaroslavl, em 1895). Torna-se claro para todo operário que o governo czarista é um inimigo jurado, que defende os capitalistas e amarra de pés e mãos os operários. O operário começa a entender que as leis são ditadas em benefício exclusivo dos ricos, que também os funcionários defendem os interesses dos ricos, que se cala a boca do povo trabalhador e não se permite que ele exprima suas necessidades e que a classe operária deve necessariamente arrancar o direito de greve, o direito de participar numa assembléia popular representativa encarregada de promulgar as leis e de velar por seu cumprimento. Por sua vez, o governo compreende muito bem que as greves abrem os olhos dos operários, razão por que tanto as teme e se esforça a todo custo para sufocá-las quanto antes possível. Um ministro do Interior alemão, que ficou famoso por suas ferozes perseguições contra os socialistas e os operários conscientes, declarou uma ocasião, não sem motivo, perante os representantes do povo: “Por trás de cada greve aflora a hidra* da revolução”. Durante cada greve cresce e desenvolve-se nos operários a consciência de que o governo é seu inimigo e de que a classe operária deve preparar-se para lutar contra ele pelos direitos do povo.
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Assim, as greves ensinam os operários a uniremse; as greves fazem que os operários vejam que somente unidos podem agüentar a luta contra os capitalistas; as greves ensinam os operários a pensar na luta de toda a classe operária contra toda a classe patronal e contra o governo autocrático e policial. Exatamente por isso, os socialistas chamam as greves de “escola de guerra”, escola em que os operários aprendem a desfechar a guerra contra seus inimigos, pela emancipação de todo o povo e de todos os trabalhadores do jugo dos funcionários do governo e do jugo do capital. Mas a “escola de guerra” ainda não é a própria guerra. Quando as greves alcançam grande difusão, alguns operários (e alguns socialistas) começam a pensar que a classe operária pode limitar-se às greves e às caixas de greve ou sociedades de resistência, que apenas com as greves a classe operária pode conseguir uma grande melhora em sua situação e até sua própria emancipação. Vendo a força que representa a união dos operários e até mesmo suas pequenas greves, pensam alguns que basta aos operários deflagrar a greve geral em todo o país para poder conseguir dos capitalistas e do governo tudo que queiram. Esta opinião também foi expressada pelos operários de outros países quando o movimento operário estava em sua etapa inicial e os operários ainda tinham muito pouca experiência. Esta opinião, porém, é errada. As greves são um dos meios de luta da classe operária por sua emancipação, mas não o único. E, se os operários não prestarem atenção a outros meios de luta, atrasarão o desenvolvimento e os 24
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êxitos da classe operária. Com efeito, para que as greves tenham êxito, são necessárias as caixas de resistência, a fim de manter os operários enquanto dure o conflito. Os operários (comumente os de cada indústria, cada ofício ou cada oficina) organizam essas caixas em todos os países, mas na Rússia isso é extremamente difícil, porque a polícia as persegue, apodera-se do dinheiro e prende os operários. Naturalmente, os operários sabem defender-se da polícia; naturalmente, a organização dessas caixas é útil e não queremos dissuadir os operários de se ocuparem disso. Mas não se deve confiar em que, estando proibidas por lei, as caixas operárias possam contar com muitos membros; e sendo escasso o número de cotistas, essas caixas não terão grande utilidade. Além disso, até nos países em que existem livremente as associações operárias, e onde são muito fortes as caixas, até neles a classe operária de modo algum pode limitar-se às greves em sua luta. Basta que sobrevenham dificuldades na indústria (uma crise, como a que agora se aproxima da Rússia, por exemplo) para que os patrões premeditadamente provoquem greves, porque às vezes lhes convém suspender temporariamente o trabalho e lhes é útil que as caixas operárias esgotem seus fundos. Daí não poderem os operários limitar-se, de modo algum, às greves e às sociedades de resistência. Em segundo lugar, as greves só são vitoriosas quando os operários já possuem bastante consciência, quando sabem escolher o momento para desencadeá-las, quando sabem apresentar reivindicações, quando mantêm 25
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contato com os socialistas para receber volantes e folhetos. Mas operários assim ainda há muito poucos na Rússia, e é necessário fazer todos os esforços para aumentar seu número, tornar conhecida nas massas operárias a causa operária, fazê-las conhecer o socialismo e a luta operária. Esta é a missão que devem cumprir os socialistas e os operários conscientes, formando, para isso, o partido operário socialista. Em terceiro lugar, as greves mostram aos operários, como vimos, que o governo é seu inimigo e que é preciso lutar contra ele. Com efeito, as greves ensinaram gradualmente à classe operária, em todos os países, a lutar contra os governos pelos direitos dos operários e pelos direitos de todo o povo. Como já dissemos, essa luta só pode ser levada a cabo pelo partido operário socialista, pela difusão, entre os operários, das justas idéias sobre o governo e sobre a causa operária. Em outra ocasião, nos referiremos em particular a como se realizam na Rússia as greves e a como devem utilizá-las os operários conscientes. Por enquanto devemos assinalar que as greves são, como já afirmamos linhas atrás, uma “escola de guerra”, mas não a própria guerra; as greves são apenas um dos meios de luta, uma das formas do movimento operário. Das greves isoladas os operários podem e devem passar, e passam realmente, em todos os países, à luta de toda a classe operária pela emancipação de todos os trabalhadores. Quando todos os operários conscientes se tornam socialistas, isto é, quando tendem para esta emancipação, quando se unem em todo o país para propagar entre os 26
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operários o socialismo e ensinar-lhes todos os meios de luta contra seus inimigos, quando formam o partido operário socialista, que luta para libertar todo o povo da opressão do governo e para emancipar todos os trabalhadores do jugo do capital, só então a classe operária se incorpora plenamente ao grande movimento dos operários de todos os países, que agrupa todos os operários, e hasteia a bandeira vermelha em que estão inscritas estas palavras P r o le t ár i o s d e t od o s o s p aí s e s , uni-vos!
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Notas: (1) Sobre as crises na indústria e sobre a sua significação para os operários falaremos algum dia mais minuciosamente. Agora observemos apenas que, nos últimos anos, os assuntos industriais na Rússia têm ido ás mil maravilhas, a indústria prosperou, mas agora (em fins de 1899) já que se observam claros sintomas de que esta “prosperidade” terminará na crise: nas dificuldades para a venda de mercadorias, na falência de fabricantes, na ruína de pequenos proprietários e em terríveis calamidades para os operários (desemprego, diminuição do salário etc). (2) Hidra: serpente cujas sete cabeças renasciam ao serem cortadas, destruída por Hércules.
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A HISTÓRIA DA MULHER E A HISTÓRIA DA SUA OPRESSÃO Augusto Bebel in ‘A Mulher e o Socialismo’ A mulher e o trabalhador têm o seguinte em comum: são ambos oprimidos. Essa opressão sofreu modificações na sua forma, segundo o tempo e o país, mas subsistiu. Através da história, os oprimidos tiveram muitas vezes consciência da opressão e essa consciência trouxe-lhes modificações e melhorias. Mas não puderam determinar a verdadeira natureza dessa opressão. Tanto na mulher como no trabalhador, esse reconhecimento data apenas dos nossos dias. Seria preciso primeiramente reconhecer a verdadeira natureza da sociedade e das leis que serviram de base ao seu desenvolvimento, antes de desencadear, com alguma oportunidade de sucesso, um movimento para pôr fim às situações reconhecidas como injustas. A importância e o desdobramento dum movimento semelhante dependem da consciência dos setores prejudicados e da liberdade de movimentos que eles possuem. Sob essa dupla relação, a mulher é inferior ao trabalhador, tanto pelos meios de educação como pela liberdade que lhe é dada. Por outro lado, as condições que perduram durante uma longa série de gerações terminam por transformar-se em hábitos: a hereditariedade e a educação fazem-nas aparecer como “naturais” às duas partes interessadas. É assim que a mulher aceita ainda 29
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hoje sua situação inferior como uma coisa evidente para ela mesma. Torna-se muito difícil demonstrar-lhe que sua situação é indigna dela e que deve procurar tornar-se, na sociedade, um membro possuidor dos mesmos direitos que o homem e sua igual sob todos os aspectos. Se existem muitos pontos de semelhança entre a situação da mulher e aquela do operário, há, entretanto, uma diferença essencial: a mulher é o primeiro ser humano que teve que sofrer a escravidão. Ela foi escrava, antes que o escravo o fosse. Toda dependência social encontra sua origem na dependência econômica do oprimido em face do opressor. Havia tempos sem fim que a mulher se encontrava nessa situação; a história do desenvolvimento da sociedade humana nos ensina.
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MENTIRAS RELATIVAS À HISTÓRIA DA UNIÃO SOVIÉTICA Mário Sousa, membro do Partido Comunista dos Revolucionários Marxistas-Leninistas da Suécia KPML-r
De Hitler a Hearst, de Conquest a Soljenitsin A mentirosa história dos milhões de pessoas que, supostamente, foram encarceradas e morreram nos campos de trabalhos forçados da União Soviética e como resultado da fome durante os tempos de Stálin.
Neste mundo em que vivemos, quem não ouve as terríveis histórias de possíveis mortes e assassinatos nos campos de trabalhos forçados do “gulag” da União Soviética? Quem não ouve histórias dos milhões que morreram de fome e dos milhões de oposicionistas executados na União Soviética na época de Stálin? No mundo capitalista, essas histórias são repetidas inúmeras vezes nos livros, jornais, no rádio e na televisão, e nos filmes, e os números míticos dos milhões de vítimas do socialismo aumentaram, aos saltos, nos últimos 50 anos. Mas, na realidade, de onde vêm essas histórias e essas cifras? Quem está por trás de tudo isso?
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Uma outra pergunta: o que há de verdade nessas histórias? E que informações se encontram nos arquivos da União Soviética, anteriormente secretos, mas abertos à pesquisa histórica por Gorbachov em 1989? Os autores dos mitos sempre disseram que todas as suas histórias dos milhões que morreram na União Soviética de Stálin seriam confirmadas no dia em que os arquivos fossem abertos. E foi isso que aconteceu? Elas foram confirmadas de fato? O seguinte artigo nos mostra de onde se originaram essas histórias de milhões de mortes pela fome e nos campos de trabalhos forçados e quem está por trás delas. O presente autor, após ter estudado os relatórios da pesquisa feita nos arquivos da União Soviética, pode dar informações, na forma de dados concretos, sobre o número real de prisioneiros, os anos que passaram na prisão e o número verdadeiro daqueles que morreram e daqueles que foram condenados à morte na União Soviética de Stálin. A verdade é bem diferente do mito. Existe um elo histórico direto ligando Hitler a Hearst, a Conquest, a Soljenitsin. Em 1933, ocorreu uma mudança política na Alemanha que iria deixar sua marca na história do mundo por décadas a fora. Em 30 de janeiro de 1933, Hitler tornou-se primeiro-ministro e uma nova forma de governo, envolvendo violência e desrespeito para com a lei, começou a tomar forma. A fim de consolidar o seu controle sobre o poder, os nazistas convocaram novas eleições para 5 de março, empregando todos os meios de propaganda ao seu alcance para garantir sua vitória. Uma semana antes das eleições, em 32
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27 de fevereiro, os nazistas incendiaram o parlamento e acusaram os comunistas de serem os responsáveis. Nas eleições que se seguiram, os nazistas obtiveram 17,3 milhões de votos e 288 deputados, cerca de 48% do eleitorado (em novembro, eles haviam recebido 11,7 milhões de votos e 196 deputados). Banido o Partido Comunista, os nazistas começaram a perseguir os socialdemocratas e o movimento sindicalista, e os primeiros campos de concentração começaram a se encher com todos os homens e mulheres esquerdistas. Entrementes, o poder de Hitler no parlamento continuou a crescer, com a ajuda da ala de direita. Em 24 de março, Hitler conseguiu que o parlamento aprovasse uma lei que lhe concedia poder absoluto para governar o país por quatro anos sem consultar o parlamento. A partir de então, começou a perseguição aberta aos judeus, os primeiros dos quais começaram a ser enviados para os campos de concentração, onde os comunistas e social-democratas já se encontravam detidos. Hitler continuou a pressionar no sentido de obter o poder absoluto, denunciando os acordos internacionais de 1918, que haviam imposto restrições ao armamento e militarização da Alemanha. O rearmamento da Alemanha foi realizado a uma grande velocidade. Esta era a situação na arena política internacional quando começaram a ser montados os mitos relativos àqueles que morreram na União Soviética.
A Ucrânia como um território alemão 33
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Ao lado de Hitler, na liderança alemã encontrava-se Goebbels, o Ministro da Propaganda, o homem responsável pela tarefa de inculcar o sonho nazista no povo alemão. Este era um sonho de um povo racialmente puro vivendo em uma Grande Alemanha, um país com um amplo “Lebensraum” (espaço vital) para viver. Uma parte desse “Lebensraum” , uma área a leste da Alemanha que era, na realidade, bem maior do que a própria Alemanha, ainda tinha que ser conquistada e incorporada à nação alemã. Em 1925, em seu livro Mein Kampf (Minha Luta), Hitler já havia indicado a Ucrânia como uma parte essencial do referido espaço vital alemão. A Ucrânia e outras regiões da Europa Oriental precisavam pertencer à nação alemã para serem utilizadas de uma maneira “apropriada”. Segundo a propaganda nazista, a espada nazista liberaria tais regiões a fim de proporcionar espaço para a raça alemã. Com a tecnologia e empresas alemãs, a Ucrânia seria transformada em uma área que produziria cereais para a Alemanha. Mas, primeiramente, os alemães tinham que livrar a Ucrânia de sua população de “seres inferiores” que, de acordo com a propaganda nazista, seriam postos a trabalhar como uma força de trabalho escravo em lares, fábricas e campos alemães – onde quer que fossem requeridos pela economia alemã. A conquista da Ucrânia e de outras áreas da União Soviética impunha a necessidade de guerra contra a União Soviética, e essa guerra tinha que ser preparada com grande antecedência. Para tal finalidade, o ministério da propaganda nazista, dirigido por Goebbels, deu início a uma campanha denunciando um suposto 34
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genocídio cometido pelos bolcheviques na Ucrânia, um terrível período de fome deliberadamente provocado por Stálin a fim de forçar os camponeses a aceitarem a política socialista. O propósito da campanha nazista era preparar a opinião pública mundial para a “liberação” da Ucrânia pelas tropas alemãs. Apesar dos enormes esforços e a despeito de alguns dos textos de propaganda alemã terem sido publicados na imprensa inglesa, a campanha nazista em torno do suposto “genocídio” na Ucrânia não teve grande sucesso mundial. Estava claro que Hitler e Goebbels precisavam de ajuda para espalhar seus rumores difamatórios a respeito da União Soviética. Essa ajuda eles encontraram nos EUA.
William Hearst, amigo de Hitler William Randolph Hearst é o nome de um multimilionário que procurou ajudar os nazistas em sua guerra psicológica contra a União Soviética. Hearst era um famoso proprietário de jornal norte-americano, conhecido como o “pai” da assim-chamada “imprensa marrom”, isto é, a imprensa sensacionalista. William Hearst começou sua carreira como editor de jornal em 1885, quando seu pai, George Hearst, um industrial de mineração milionário, senador e proprietário de jornal, colocou-o na direção do San Francisco Daily Examiner . Isto também foi o início do império jornalístico de Hearst, império que teve uma enorme influência sobre as vidas e o pensamento dos norte-americanos. Após a 35
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morte de seu pai, William Hearst vendeu todas as ações da indústria de mineração que herdara e começou a investir capital no mundo do jornalismo. Sua primeira compra foi a do New York Morning Journal , um jornal tradicional que Hearst transformou, completamente, em um jornal sensacionalista. Ele comprava suas reportagens por qualquer preço e, quando não havia nenhuma atrocidade ou crime para relatar, ordenava a seus repórteres e fotógrafos que “fabricassem” matérias. Na realidade, isto é o que caracteriza a “imprensa marrom”: mentiras e atrocidades “fabricadas” divulgadas como verdade. Essas mentiras de Hearst o tornaram milionário e uma personalidade muito importante no mundo jornalístico. Em 1935, era um dos homens mais ricos do mundo, com uma fortuna estimada em US$ 200 milhões. Após a compra do Morning Journal , Hearst continuou a comprar e estabelecer jornais diários e semanais em todos os EUA. Na década de 1940, William Hearst possuía 25 jornais diários, 24 semanários, 12 estações de rádio, 2 serviços de notícias internacionais, uma empresa que fornecia notícias para filmes, a companhia cinematográfica “Cosmopolitan”, e muitas outras empresas. Em 1948, ele comprou uma das primeiras estações de TV, a BWAL, em Baltimore. Os jornais de Hearst vendiam 13 milhões de exemplares por dia e tinham cerca de 40 milhões de leitores. Quase um terço da população adulta dos EUA lia os jornais de Hearst todos os dias. Além disso, muitos milhões de pessoas, em todo o mundo, recebiam informações da imprensa de Hearst através de seus serviços de notícias, 36
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filmes e uma série de jornais que eram traduzidos e publicados em grandes tiragens, em todo o mundo. As cifras mencionadas acima demonstram como o império de Hearst foi capaz de exercer influência sobre a política norte-americana e, de fato, sobre a política mundial, durante muitos anos – sobre questões que incluíam a oposição à entrada dos EUA na Segunda Guerra Mundial, ao lado da União Soviética, e o apoio à caça às bruxas anticomunista macarthista da década de 1950. A visão de William Hearst era ultraconservadora, nacionalista e anticomunista. Sua política era a política da extrema direita. Em 1934, ele viajou à Alemanha, onde foi recebido por Hitler como convidado e amigo. Após essa viagem, os jornais de Hearst tornaram-se ainda mais reacionários, sempre apresentando artigos contra o socialismo, contra a União Soviética e, especialmente, contra Stálin. Hearst também tentou usar seus jornais para fins de propaganda nazista aberta, publicando uma série de artigos escritos por Goering, o braço direito de Hitler. Mas os protestos de muitos leitores o forçaram a parar de publicar tais artigos e a retirá-los de circulação. Após sua visita a Hitler, seus jornais sensacionalistas se encheram de “revelações” sobre os terríveis acontecimentos na União Soviética – assassinatos, genocídio, escravidão, luxo para os governantes e fome para o povo, que constituíam as grandes notícias quase todos os dias. O material era fornecido a Hearst pela Gestapo, a polícia política da Alemanha nazista. Nas primeiras páginas dos jornais 37
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apareciam, freqüentemente, caricaturas e fotos falsificadas da União Soviética, com Stálin apresentado como um assassino segurando na mão um punhal. Não devemos nos esquecer de que tais artigos eram lidos, todos os dias, por 40 milhões de pessoas nos EUA e milhões de outras em todo o mundo!
O mito da fome na Ucrânia Uma das primeiras campanhas da imprensa de Hearst contra a União Soviética girou em torno da questão dos milhões que, com base em alegações, teriam morrido como resultado da fome na Ucrânia. Essa campanha começou em 18 de fevereiro de 1935 com uma manchete de primeira página no Chicago American: “Seis milhões de pessoas morrem de fome na União Soviética”. Usando material fornecido pela Alemanha nazista, William Hearst, o barão da imprensa e simpatizante do nazismo, começou a publicar reportagens fabricadas sobre um genocídio que teria sido deliberadamente perpetrado pelos bolcheviques e causado a morte, por fome, de vários milhões de pessoas na Ucrânia. A verdade era totalmente diferente. Na realidade, o que ocorreu na União Soviética no início da década de 1930 foi uma grande luta de classes na qual pobres camponeses sem terra haviam se levantado contra os ricos proprietários de terra, os “kulaks”, e iniciado uma luta pela coletivização, uma luta para formar os colcoses (fazendas coletivas).
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Essa grande luta de classes, envolvendo, direta ou indiretamente, uns 120 milhões de camponeses, deu origem à instabilidade na produção agrícola e à falta de alimentos em algumas regiões. De fato, a falta de alimentos enfraquecia as pessoas, o que, por sua vez, levava a um aumento no número daqueles que se tornavam vítimas de doenças epidêmicas. Naquela época, infelizmente, tais doenças eram comuns em todo o mundo. Entre 1918 e 1920, uma epidemia de gripe espanhola causou a morte de 20 milhões de pessoas nos EUA e Europa, mas ninguém acusou os governos desses países de terem matado seus próprios cidadãos. O fato é que não havia nada que esses governos pudessem fazer diante de epidemias desse tipo. Só com o desenvolvimento da penicilina, em fins da década de 30, é que se tornou possível conter, eficazmente, tais epidemias. Os artigos da imprensa de Hearst afirmando que milhões morriam de fome na Ucrânia – uma fome supostamente provocada, deliberadamente, pelos comunistas – continham gráficos e detalhes sombrios. A imprensa de Hearst se valia de todos os meios possíveis para fazer com que suas mentiras se parecessem com a verdade e conseguia que a opinião pública nos países capitalistas se voltasse violentamente contra a União Soviética. Essa foi a origem do primeiro gigantesco mito fabricado, que alegava que milhões estavam morrendo na União Soviética. Na onda de protestos contra a fome supostamente provocada pelos comunistas que a imprensa ocidental desencadeou, ninguém teve interesse em ouvir as negativas da União 39
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Soviética e no desmascaramento completo das mentiras da imprensa de Hearst, uma situação que prevaleceu de 1934 a 1987! Por mais de 50 anos, várias gerações de pessoas em todo o mundo foram educadas à base de uma “dieta” dessas calúnias para que tivessem uma visão negativa do socialismo na União Soviética.
O império da mídia de massa de Hearst em 1998 William Hearst morreu em 1951 em sua casa em Beverly Hills, Califórnia. Deixou atrás de si um império de mídia de massa que, até hoje, continua a espalhar sua mensagem reacionária em todo o mundo. A Hearst Corporation é uma das maiores empresas do planeta, englobando mais de 100 companhias e empregando 15.000 pessoas. Atualmente, o império de Hearst compreende jornais, revistas, livros, rádio, TV, TV a cabo, agências de notícias e multimídia.
52 anos antes da verdade emergir A campanha de desinformação nazista a respeito da Ucrânia não morreu com a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. As mentiras nazistas foram assumidas pela CIA e pelo M-15 e sempre tiveram um lugar proeminente garantido na guerra de propaganda contra a União Soviética. A perseguição anticomunista macarthista após a Segunda Guerra Mundial também se alimentou com os contos dos 40
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milhões que morreram de fome na Ucrânia. Em 1953, um livro sobre o assunto foi publicado nos EUA. Intitulado “Black Deeds of the Kremlin” (Os Atos Negros do Kremlin), sua publicação foi financiada pelos refugiados ucranianos nos EUA, pessoas que haviam colaborado com os nazistas na Segunda Guerra Mundial e a quem o governo norte-americano deu asilo político, apresentando-os ao mundo como “democratas”. Quando Ronald Reagan foi eleito presidente dos EUA e começou sua cruzada anticomunista da década de 1980, a propaganda sobre os milhões que morreram na Ucrânia foi renovada. Em 1984, um professor da Harvard publicou o livro “Human Life in Russia” (A Vida Humana na Rússia), que repetia todas as falsas informações produzidas pela imprensa de Hearst em 1934. Em 1984, então, deparamos o renascimento das mentiras e falsificações nazistas produzidas na década de 1930, mas, dessa vez, sob o manto “respeitável” de uma universidade norte-americana. Mas a campanha anticomunista não parou aí. Em 1986, apareceu um outro livro sobre o assunto, intitulado "Harvest of Sorrow” (A Colheita de Sofrimento), escrito por um exmembro do serviço secreto britânico, Robert Conquest, na época professor da Universidade Stamford, na Califórnia. Por seu “trabalho” no livro, Conquest recebeu US$80 mil da Organização Nacional da Ucrânia. Essa mesma organização também pagou por um filme feito em 1986 denominado “Harvest of Despair” (A Colheita do Desespero), no qual, entre outras coisas, foi utilizado material do livro de Conquest. A essa altura, o número de pessoas que, segundo informações 41
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disseminadas nos EUA, haviam morrido de fome na Ucrânia, havia saltado para 15 milhões! Entretanto, as afirmações de que milhões haviam morrido de fome na Ucrânia segundo a imprensa de Hearst na América do Norte, “papagueada” em livros e filmes, constituíam informações absolutamente falsas. O jornalista canadense Douglas Tottle desmascarou, meticulosamente, as falsificações em seu livro “Fraud, Famine and Fascism – the Ukrainian Genocide Myth from Hitler to Harvard” (Fraude, Fome e Fascismo – o Mito do Genocídio Ucraniano de Hitler a Harvard), publicado em Toronto em 1987. Entre outras coisas, Tottle provou que o material fotográfico empregado, fotografias horripilantes de crianças morrendo de fome, havia sido tirado de publicações de 1922, em uma ocasião na qual milhões de pessoas de fato morreram de fome e devido a condições de guerra, uma vez que oito exércitos estrangeiros haviam invadido a União Soviética durante a Guerra Civil de 1918-1921. Douglas Tottle apresenta os fatos concernentes às alegações relativas à fome de 1934 e desmascara as diversas mentiras publicadas na imprensa de Hearst. Um jornalista que, durante um longo tempo, enviou relatórios e fotografias de supostas áreas de fome era Thomas Walter, um homem que jamais havia posto o pé na Ucrânia e, mesmo em Moscou, permanecera apenas cinco dias. Esse fato foi revelado pelo jornalista Louis Fisher, correspondente em Moscou do The Nation, um jornal norte-americano. Fisher também revelou que o jornalista M. Parrott, o verdadeiro correspondente da 42
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imprensa de Hearst em Moscou, havia enviado a Hearst relatórios, nunca publicados, sobre a excelente safra conseguida pela União Soviética em 1933 e sobre o progresso alcançado pela Ucrânia. Tottle prova também que o jornalista que escreveu os relatórios sobre a alegada fome ucraniana, “Thomas Walker”, era, na realidade, Robert Green, um condenado que havia escapado de uma prisão do Estado do Colorado! Esse Walker, ou Green, foi preso ao retornar aos EUA e, quando compareceu ao tribunal, admitiu que jamais havia estado na Ucrânia. Todas as mentiras sobre os milhões que morreram de fome na Ucrânia na década de 1930, uma fome supostamente engendrada por Stálin, só foram desmascaradas em 1987! O nazista Hearst, o agente de polícia Conquest e outros haviam tapeado milhões de pessoas com suas mentiras e relatórios fabricados. Mesmo hoje, as histórias do nazista Hearst ainda estão sendo repetidas em livros recémpublicados, escritos por autores financiados por grupos de direita. A imprensa de Hearst, que ocupa uma posição monopolista em muitos estados da América do Norte e tem agências de notícias em todo o mundo, constituiu o grande megafone da Gestapo (Geheime Staatspolizei, Polícia Secreta do Estado na Alemanha Nazista). Em um mundo dominado pelo capital monopolista, foi possível para a imprensa de Hearst transformar as mentiras da Gestapo em “verdades” que foram transmitidas através de dezenas de jornais, estações de rádio e, mais tarde, canais de TV, em todo o mundo. Quando a Gestapo desapareceu, essa guerra suja de propaganda contra o 43
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socialismo na União Soviética continuou, mas com a CIA como seu novo patrono. As campanhas anticomunistas da imprensa norte-americana não sofreram a mais leve redução. Elas foram realizadas, primeiramente, sob as ordens da Gestapo e, depois, sob as ordens da CIA.
Robert Conquest no coração dos mitos Esse homem, que é citado tão amplamente na imprensa burguesa, esse verdadeiro oráculo da burguesia, merece alguma atenção específica quanto a este ponto. Robert Conquest é um dos dois autores que mais escreveram sobre os milhões que morreram na União Soviética. Ele é, na verdade, o criador de todos os mitos e mentiras relativos à União Soviética que têm sido espalhados desde a Segunda Guerra Mundial. Conquest escreve sobre os milhões que morreram de fome na Ucrânia, nos campos de trabalhos forçados do “gulag” e durante os Julgamentos de 1936-38, utilizando, como suas fontes de informação, ucranianos exilados nos EUA e pertencentes a partidos de direita, pessoas que colaboraram com os nazistas na Segunda Guerra Mundial. Muitos dos heróis de Conquest eram conhecidos como tendo sido criminosos de guerra que dirigiram e participaram do genocídio da população judaica da Ucrânia em 1942. Uma dessas pessoas era Mykola Lebed, condenado como criminoso de guerra após a Segunda Guerra Mundial. Lebed havia sido chefe de segurança em Lvov durante a ocupação nazista e 44
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presidiu as terríveis perseguições dos judeus que ocorreram em 1942. Em 1942 a CIA levou-o para os Estados Unidos, onde ele trabalhou como uma fonte de desinformação. O estilo dos livros de Conquest é de um anticomunismo violento e fanático. Em seu livro de 1969, Conquest nos conta que os que morreram de fome na União Soviética entre 1932-1933 alcançaram um total entre 5 e 6 milhões de pessoas, metade delas na Ucrânia. Mas, em 1983, durante a cruzada anticomunista do presidente Reagan, Conquest estendeu o período da fome até 1937 e aumentou o número de vítimas para 14 milhões! Tais afirmações foram altamente compensadoras: em 1986, ele foi contratado por Reagan para escrever material para sua campanha presidencial visando à preparação do povo norte-americano para uma invasão soviética. O texto em questão foi denominado “O que fazer quando os russos vierem – um ‘manual para sobrevivência”! Estranhas palavras vindas de um professor de história! O fato é que não há, em absoluto, nada de estranho em tais palavras, vindas de um homem que passou toda sua vida vivendo de mentiras e fabricações a respeito da União Soviética e de Stálin – primeiro, como agente do serviço secreto britânico e, em seguida, como escritor e professor na Universidade Stamford, na Califórnia. O passado de Conquest foi revelado no Guardian de 27 de janeiro de 1978, em um artigo que o identificou como um ex-agente no departamento de desinformação do Serviço Secreto Britânico, isto é, o Departamento de 45
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Pesquisa de de Informações (IRD). O IRD foi uma seção criada em 1947 (originalmente denominada “Escritório de Informações sobre Comunistas”), cuja principal tarefa era combater a influência comunista em todo o mundo mediante a fabricação de artigos entre políticos, jornali jorn alista stass e outros out ros que estive est ivessem ssem em posição posi ção de influenciar na opinião pública. As atividades do IRD tinham um alcance muito amplo, tanto na Grã-Bretanha como no exterior. Quando o IRD teve que ser formalmente fechado em 1977, em conseqüência da denúncia do seu envolvimento com a extrema direita, foi descoberto que, só na Grã-Bretanha, mais de 100 dos jornalistas mais conhecidos tinham um contato no IRD que lhes fornecia, regularmente, materiais para os artigos. Esta era a rotina em diversos jornais britânicos importantes, tais como o Financial Times, The Times, The Economist, Daily Mail, Daily Mirror, The Express, The Guardian e outros. Os fatos denunciados pelo Guardian, Guardian, portanto, nos dá uma medida de como os serviços secretos eram capazes de manipular as notícias que alcançavam o público em geral. Robert Conquest trabalhou para o IRD desde quando ele foi criado até 1956. O “trabalho” de Conquest era contribuir para a chamada “história negra” das reportagens fabricadas sobre a União Soviética, publicadas como fatos e distribuídas entre os jornalistas e outras pessoas capazes de influenciar a opinião pública. Após ter deixado o IRD formalmente, Conquest continuou a escrever os livros sugeridos pelo IRD, com o apoio apoio do serviço secreto. Seu livro “O Grande Terror”, um texto básico da direita sobre o assunto da luta pelo 46
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poder que ocorreu na União Soviética em 1937, era, na realidade, uma recompilação do texto que ele havia escrito quando trabalhava para para os os serviços secretos. O livro foi concluído e publicado com a ajuda do IRD. Um terço da publicação foi comprado pela imprensa de Praeger, normalmente associada à publicação de literatura originária das fontes da CIA. A intenção era que o livro de Conquest fosse apresentado aos “tolos úteis”, tais como professores universitários e pessoas que trabalhavam na imprensa, rádio e TV, a fim de assegurar que as mentiras de Conquest e da extrema direita continuassem a ser difundidas amplamente entre grandes setores da população. Até os dias de hoje, Conquest permanece para os historiadores da direita como uma das importantes fontes de material sobre a União Soviética.
Alexander Soljenitsin Uma outra pessoa que está sempre associada aos livros e artigos sobre os supostos milhões que perderam suas vidas ou a liberdade na União Soviética é o autor russo Alexander Soljenitsin. Soljenitsin tornou-se famoso em todo o mundo capitalista no final da década de 1960 com o seu livro The Gulag Archipelago. Archipelago . Ele próprio havia sido condenado, em 1946, a oito anos em em um campo de trabalhos forçados por atividade contrarevolucionária na forma de distribuição de propaganda anti-soviética. Segundo ele, a luta contra a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial poderia ter sido evitada se o governo soviético tivesse chegado a uma 47
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solução de compromisso com Hitler. Também acusava o governo soviético de Stálin de ser até mesmo pior do que Hitler, do ponto de vista, segundo ele, dos efeitos terríveis da guerra sobre o povo da União Soviética. Soljenitsin não escondia suas simpatias pelo nazismo. Foi condenado como traidor. Em 1962, começou a publicar livros na União Soviética com o consentimento e ajuda de Nikita Kruchov. O primeiro livro que ele publicou foi A foi A Day in the Life of Ivan Denisovich (Um Dia na Vida de Ivan Denisovitch), cujo tema diz respeito à vida de um prisioneiro. Kruchov utilizou os textos de Soljenitsin para combater o legado socialista de Stálin. Em 1970, Soljenitsin recebeu o Prêmio Nobel para literatura com o seu livro The Gulag Archipelago. Archipelago . Seus livros começaram, então, a ser publicados em grande escala nos países capitalistas, e ele tornou-se um dos mais valiosos instrumentos do imperialismo no combate ao socialismo da União Soviética. Seus textos sobre os campos de trabalhos forçados foram acrescentados à propaganda sobre os milhões que, supostamente, teriam morrido na União Soviética e foram apresentados pela mídia de massa capitalista como se fossem verdadeiros. Em 1974, Soljenitsin renunciou à cidadania soviética e emigrou para a Suíça e, em seguida, para os EUA. Na ocasião, foi considerado pela imprensa capitalista como o maior combatente pela liberdade e democracia. Suas simpatias pelo nazismo foram enterradas para que não interferissem em sua guerra de propaganda contra o socialismo. 48
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Nos EUA, Soljenitsin era freqüentemente convidado a falar em reuniões importantes. Foi, por exemplo, o principal orador no congresso sindical da AFL-CIO em 1975 e, em 15 de julho de 1975, foi convidado a dar uma palestra no senado norte-americano sobre a situação mundial! Suas palestras constituíam, na realidade, uma agitação violenta e provocativa e a defesa e propaganda das posições mais reacionárias. Entre outras coisas, ele clamava para que o Vietnã fosse novamente atacado após sua vitória sobre os EUA. E mais ainda: depois de 40 anos de fascismo em Portugal, quando oficiais da ala esquerda do exército tomaram o poder na revolução popular de 1974, Soljenitsin começou a fazer propaganda em favor da intervenção militar dos Estados Unidos em Portugal, que, segundo ele, entraria para o Pacto de Varsóvia se os norteamericanos não interviessem! Em suas palestras, sempre lamentava a libertação das colônias africanas de Portugal. Está claro, porém, que o principal objetivo dos seus discursos sempre foi a guerra suja contra o socialismo – desde a alegada execução de vários milhões de pessoas na União Soviética até as dezenas de milhares de norteamericanos aprisionados e escravizados, segundo ele, no Vietnã do Norte! Essa sua idéia de que o Vietnã do Norte usava norte-americanos como mão-de-obra deu origem aos filmes de Rambo sobre a Guerra do Vietnã. Os jornalistas norte-americanos que ousavam escrever em favor da paz entre os EUA e a União Soviética eram acusados por ele, em seus discursos, de serem traidores em potencial. Ele também fazia propaganda em favor 49
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do aumento da capacidade militar dos EUA contra a União Soviética, que, segundo dizia, era “cinco a sete vezes mais poderosa em tanques e aviões e duas, três ou mesmo cinco vezes mais poderosa em armas atômicas do que os Estados Unidos”. Suas palestras sobre a União Soviética representavam a voz da extrema direita. Todavia, ele próprio se posicionava ainda mais à direita em seu apoio público ao fascismo.
Apoio ao fascismo de Franco Após a morte de Franco, em 1975, o regime fascista espanhol começou a perder o controle da situação política e, no início iní cio de 1976, os acontecimentos na Espanha ganharam a atenção pública mundial. Houve greves e manifestações exigindo democracia e liberdade e, então, o herdeiro de Franco, o Rei Juan Carlos, foi compelido a introduzir, de maneira muito cautelosa, alguma liberalização a fim de acalmar a agitação social. Naquele momento extremamente importante na história política da Espanha, Alexander Soljenitsin aparece em Madri e dá uma entrevista ao programa Directísimo na Directísimo na noite de sábado, 20 de março, no horário de audiência máxima (ver os jornais espanhóis AB espanhóis ABC C e Ya de 21 de março de 1976). Soljenitsin, que havia recebido as perguntas antecipadamente, aproveitou a ocasião para fazer todos os tipos de declarações reacionárias. Sua intenção não era apoiar as medidas da assim-chamada liberalização do rei. Pelo contrário, 50
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fez advertências contra a reforma democrática. Em sua entrevista na televisão, declarou que 110 milhões de russos haviam morrido como vítimas do socialismo e fez comparações entre “a escravidão à qual o povo soviético estava submetido e a liberdade existente na Espanha”. Também acusou os “círculos progressistas” de “utópicos”, por considerarem a Espanha uma ditadura. Para ele, “progressistas” eram quaisquer pessoas da oposição democrática – fossem elas liberais, socialdemocratas ou comunistas. “No último verão”, dizia, “a opinião pública mundial se preocupou com o destino dos terroristas espanhóis [isto é, antifascistas espanhóis sentenciados à morte pelo regime de Franco]. A opinião pública progressista sempre exige reforma política democrática e, ao mesmo tempo, apóia os atos de terrorismo”. “Aqueles que buscam uma rápida reforma democrática não percebem o que acontecerá amanhã ou depois? Na Espanha poderá haver democracia amanhã, mas, depois de amanhã, poderão eles evitar cair da democracia no totalitarismo?” Quando os jornalistas perguntaram, cuidadosamente, se tais declarações não poderiam ser vistas como apoio a regimes em países onde não havia nenhuma liberdade, Soljenitsin respondeu: “Conheço apenas um lugar onde não há nenhuma liberdade, e esse lugar é a Rússia.” Suas declarações na televisão espanhola constituíam um apoio direto ao fascismo espanhol, uma ideologia que ele defende até hoje. Essa é uma das razões porque Soljenitsin começou a desaparecer do cenário público em seus 18 anos de exílio nos EUA e uma das razões por 51
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que ele começou a receber menos apoio total dos governos capitalistas. Para os capitalistas, foi um presente dos céus poder usar um homem como ele em sua guerra suja contra o socialismo, mas tudo tem seus limites. Na nova Rússia capitalista, o que determina o apoio do Ocidente a grupos políticos é, pura e simplesmente, a capacidade de se realizarem negócios altamente lucrativos com a conivência de tais grupos. O fascismo como regime político alternativo para a Rússia não é considerado bom para os negócios. Por essa razão, os planos políticos de Soljenitsin para a Rússia estão mortos no que diz respeito ao apoio ocidental. O que ele deseja como futuro político para a Rússia é o retorno ao regime autoritário dos czares, de mãos dadas com a Igreja Ortodoxa Russa tradicional! Até os imperialistas mais arrogantes não estão interessados em apoiar uma estupidez política dessa magnitude. Para se encontrar alguém que apóie Soljenitsin no Ocidente é preciso procurar entre os idiotas da extrema direita.
Os nazistas, a polícia e os fascistas Assim, esses são os propagandistas mais valiosos dos mitos burgueses concernentes aos milhões que supostamente morreram e foram aprisionados na União Soviética: o nazista William Hearst, o agente secreto Robert Conquest e o fascista Alexander Soljenitsin. Conquest desempenhou o papel principal, uma vez que suas informações foram utilizadas pelos meios de comunicação de massa capitalistas em todo o mundo e 52
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foram até mesmo a base para a criação de faculdades em certas universidades. A obra de Conquest constitui, sem dúvida, um trabalho de desinformação política de primeira classe. Na década de 1970, ele recebeu uma grande ajuda de Soljenitsin e de indivíduos secundários, tais como Andrei Sakarov e Roy Medvedev. Além desses, surgiram em todo o mundo pessoas que se dedicaram a especular a respeito do número de mortos e encarcerados e que sempre foram regiamente pagas pela imprensa burguesa. A verdade, porém, finalmente veio à tona e revelou a verdadeira face desses falsificadores da história. As ordens de Gorbachov para a abertura dos arquivos secretos do partido à investigação histórica tiveram conseqüências que ninguém poderia ter previsto.
Os arquivos demonstram que a propaganda mente A especulação sobre os milhões que morreram na União Soviética faz parte da guerra suja de propaganda contra a União Soviética e, por esta razão, as negativas e explicações dadas por ela jamais foram levadas a sério e nunca encontraram espaço na imprensa capitalista. Ao contrário, foram desprezadas, enquanto aos “especialistas” comprados pelo capital se deu tanto espaço quanto necessário para espalhar suas ficções. E que ficções! O que os milhões de mortos e prisioneiros reivindicados por Conquest e outros “críticos” tinham em comum era o fato de serem o resultado de aproximações 53
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estatísticas falsas e de métodos de avaliação sem nenhuma base científica.
Métodos fraudulentos deram origem a milhões de mortos Conquest, Soljenitsin, Medvedev e outros utilizaram estatísticas publicadas pela União Soviética como, por exemplo, os censos nacionais de população, aos quais eles acrescentaram um suposto aumento de população sem levar em conta a situação no país. Dessa forma, chegaram às suas falsas conclusões sobre o número de pessoas que deveria haver no país ao fim de certo período. As pessoas que faltavam foram consideradas como mortas ou encarceradas por causa do socialismo. O método é simples, mas também totalmente fraudulento. Este tipo de “revelação” de eventos políticos tão importantes jamais teria sido aceito se a “revelação” em questão se referisse ao mundo ocidental. Em tal caso, certamente, professores e historiadores teriam protestado contra tais manipulações. Mas, como o objeto dessas manipulações era a União Soviética, elas eram aceitáveis. Uma das razões, com certeza, seria o fato de que os professores e historiadores colocavam o seu nível profissional bem aquém de sua integridade profissional. Em números, quais eram as conclusões finais dos “críticos”? Segundo Robert Conquest (numa estimativa que ele fez em 1961), 6 milhões de pessoas morreram de fome na União Soviética no início da década de 1930. 54
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Este número, Conquest aumentou para 14 milhões em 1986. Quanto ao que ele diz sobre os campos de trabalhos forçados do “gulag”, 5 milhões de prisioneiros neles encontravam-se detidos em 1937, antes do início dos expurgos do partido, do exército e do aparelho do estado. Segundo ele, depois de iniciados os expurgos, durante 1937-38, teria havido mais 7 milhões de prisioneiros, perfazendo o total de 12 milhões de prisioneiros nos campos de trabalhos forçados, em 1939! E esses 12 milhões de Conquest teriam sido apenas prisioneiros políticos! Nos campos de trabalhos forçados, também havia criminosos comuns, que, segundo Conquest, atingiam um número bem maior que o dos prisioneiros políticos. Isto significa, de acordo com Conquest, que teria havido de 25 a 30 milhões de prisioneiros nos campos de trabalhos forçados da União Soviética. Novamente, segundo Conquest, um milhão de prisioneiros políticos foram executados entre 1937 e 1939 e outros 2 milhões morreram de fome. O cálculo final resultante dos expurgos de 1937-1939, ainda segundo ele, era então de 9 milhões, dos quais 3 milhões teriam morrido na prisão. Tais cifras foram imediatamente por ele submetidas a um “ajuste estatístico”, de modo a permitir-lhe chegar à conclusão de que os bolcheviques haviam matado não menos que 12 milhões de prisioneiros políticos entre 1930 e 1953. Somando essas cifras aos números de pessoas que supostamente teriam morrido de fome na década de 1930, chegou à conclusão de que os bolcheviques mataram 26 milhões de pessoas. Em uma de suas 55
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últimas manipulações estatísticas, afirmou que, em 1950, havia 12 milhões de prisioneiros políticos na União Soviética. Alexander Soljenitsin empregou mais ou menos os mesmos métodos estatísticos de Conquest. Mas, ao utilizar tais métodos pseudo-científicos com base em diferentes premissas, chegou a conclusões até mais extremas. Soljenitsin aceitava as estimativas de Conquest das 6 milhões de mortes causadas pela fome de 1932-1933. Entretanto, no que se referia aos expurgos de 1936-39, acreditava que, pelo menos, um milhão de pessoas morreram a cada ano. Resumindo sua avaliação, Soljenitsin afirma que, desde a coletivização da agricultura até a morte de Stalin, em 1953, os comunistas mataram 66 milhões de pessoas na União Soviética. Além disso, sustenta que o governo soviético foi responsável pela morte de 44 milhões de russos que, ele diz, foram mortos na Segunda Guerra Mundial. Sua conclusão é que “110 milhões de russos morreram, vítimas do socialismo”. No que se refere aos prisioneiros, diz que o número de pessoas nos campos de trabalhos forçados era, em 1953, de 25 milhões.
Gorbachov abre os arquivos A coleção das cifras fantasiosas apresentadas acima, produto de forjicação extremamente bem pago, apareceu na imprensa burguesa na década de 1960, sempre apresentada como se se tratasse de fatos
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verdadeiros, apurados mediante a aplicação de métodos científicos. Por trás dessas manipulações estavam os serviços secretos ocidentais, principalmente a CIA e o M-15. O impacto dos meios de comunicação de massa sobre a opinião pública é tão grande que, até hoje, as referidas cifras são consideradas verdadeiras por grandes parcelas da população dos países ocidentais. Esta situação vergonhosa agravou-se. Na própria União Soviética, onde Soljenitsin e outros “críticos” bem conhecidos –tais como Andrei Sakharov e Roy Medvedev– não conseguiram encontrar ninguém para apoiar suas inúmeras forjicações, uma mudança significativa ocorreu em 1990. Na nova “imprensa livre” aberta sob Mikhail Gorbachov, tudo o que fosse contrário ao socialismo foi saudado como positivo, com resultados desastrosos. Uma inflação especulativa sem precedentes começou a ocorrer nos números daqueles que supostamente morreram ou foram aprisionados sob o socialismo, agora tudo misturado em um só grupo de dezenas de milhões de “vítimas” dos comunistas. A histeria da nova imprensa livre de Gorbachov trouxe à tona as mentiras de Conquest e Soljenitsin. Ao mesmo tempo, Gorbachov abriu os arquivos do Comitê Central do Partido Comunista à pesquisa histórica, uma exigência da imprensa livre. A abertura dos arquivos é, realmente, a questão central nessa história emaranhada, por duas razões: em parte porque nos arquivos é possível encontrar os fatos que podem lançar luz sobre a verdade; contudo, ainda mais importante é 57
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o fato de todos aqueles que especularam freneticamente sobre o número de mortos e prisioneiros na União Soviética afirmarem, por anos a fio, que, no dia em que os arquivos fossem abertos, os números citados por eles seriam confirmados. Cada um desses especuladores afirmava que isso ocorreria: Conquest, Sakharov, Medvedev e todo o resto. Entretanto, quando os arquivos foram abertos e os relatórios das pesquisas baseados nos documentos reais começaram a ser publicados, algo muito estranho aconteceu. Repentinamente, tanto a imprensa livre de Gorbachov como os especuladores perderam, completamente, o interesse nos arquivos. O resultado das pesquisas realizadas nos arquivos do Comitê Central pelos historiadores russos Zemskov, Dougin e Xlevnjuk, que começaram a aparecer nas revistas científicas em 1990, passou inteiramente despercebido. Os relatórios contendo o resultado dessa pesquisa histórica foram completamente contrários à corrente inflacionária relativa ao número dos que, segundo a “imprensa livre”, morreram ou foram encarcerados. Portanto, seu conteúdo permaneceu sem divulgação. Os relatórios foram publicados em revistas científicas de pequena circulação, praticamente desconhecidas do público em geral. Os relatórios dos resultados da pesquisa científica dificilmente poderiam competir com a histeria da imprensa, de modo que as mentiras de Conquest e Soljenitsin continuaram a ter o apoio de muitos setores da população da ex-União Soviética. Também no Ocidente, os relatórios dos pesquisadores russos sobre o sistema penal sob o 58
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governo de Stálin foram totalmente desconsiderados nas primeiras páginas dos jornais e nos noticiários da TV. Por quê?
O que a pesquisa russa mostra A pesquisa sobre o sistema penal soviético é apresentada em um relatório de quase 9.000 páginas. Os autores desse relatório são muitos, mas os mais conhecidos deles são os historiadores russos V. N. Zemskov, A.N. Dougin e O. V. Xlevjnik. Seu trabalho começou a ser publicado em 1990 e em 1993 já estava quase concluído e publicado em quase toda sua totalidade. Os relatórios chegaram ao conhecimento do Ocidente como resultado da colaboração entre pesquisadores de diferentes países ocidentais. Os dois trabalhos com os quais este autor está familiarizado são um que apareceu na revista francesa L’Histoire em setembro de 1993, escrito por Nicholas Werth, pesquisador-chefe do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS), e o trabalho publicado na revista norte-americana American Historical Review por J. Arch. Getty, professor de história na Universidade da Califórnia, Riverside, em colaboração com G.T. Rettersporn, pesquisador do CNRS, e com o pesquisador russo V. N. Zemskov, do Instituto de História Russa (faz parte da Academia Russa de Ciências). Atualmente, livros sobre o assunto apareceram, escritos pelos pesquisadores mencionados acima e por outros da mesma equipe de pesquisa.
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Antes de prosseguir, desejo deixar claro, para que não venha ocorrer nenhuma confusão no futuro, que nenhum dos cientistas envolvidos nessa pesquisa tem uma visão socialista do mundo. Ao contrário, sua visão é burguesa e anti-socialista. Na realidade, muitos deles são bastante reacionários. Isto é dito para que o leitor não venha imaginar que o que é apresentado a seguir é produto de alguma “conspiração comunista”. O que se deu foi que os pesquisadores mencionados acima desmascararam integralmente as mentiras de Conquest, Soljenitsin, Medvedev e outros, o que fizeram puramente pelo fato de que colocam sua integridade profissional em primeiro lugar e não se deixam comprar para fins de propaganda. Os resultados da pesquisa russa respondem a um número muito grande de questões sobre o sistema penal soviético. Para nós, a era de Stálin é questão de maior interesse, e nela encontramos razões para debate. Apresentaremos algumas questões muito específicas e buscaremos nossas respostas nas revistas L’Histoire e American Historical Review . Esta será a melhor maneira de trazer para o debate alguns dos aspectos mais importantes do sistema penal soviético. As questões são as seguintes: 1. De que consistia o sistema penal soviético? 2. Quantos prisioneiros havia lá – tanto políticos como não-políticos? 3. Quantas pessoas morreram nos campos de trabalhos forçados? 60
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4. Quantas pessoas foram condenadas à morte nos anos anteriores a 1953, especialmente nos expurgos de 1937/38? 5. Quão longas eram, em média, as sentenças? Depois de responder a essas cinco questões, discutiremos as punições impostas aos dois grupos mais freqüentemente mencionados em conexão com prisioneiros e mortes na União Soviética, ou seja, os “kulaks” condenados em 1930 e os contrarevolucionários condenados em 1936-38.
Campos de trabalhos forçados no sistema penal Comecemos com a questão da natureza do sistema penal soviético. Depois de 1930, o sistema penal soviético compreendia prisões, campos de trabalhos forçados, as colônias de trabalho forçado do “gulag”, zonas abertas e obrigação de pagar multas. Quem quer que fosse detido sob custódia era, geralmente, enviado a uma prisão normal, enquanto investigações eram realizadas para estabelecer se o detido era inocente (e, assim, devesse ser libertado) ou se deveria ir a julgamento. Uma pessoa acusada em tribunal poderia ser considerada inocente (e ser solta) ou culpada. Se considerada culpada, poderia ser condenada a pagar uma multa, a cumprir um período de prisão ou, o que era menos comum, à morte. A multa poderia ser uma dada percentagem de seu salário, por um dado período 61
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de tempo. Aqueles condenados à prisão poderiam ser colocados em diferentes tipos de cadeia, dependendo do tipo de crime cometido. Aos campos de trabalhos forçados do “gulag” eram enviados aqueles que cometessem crimes graves (homicídio, roubo, estupro, crimes econômicos etc.), bem como um grande número daqueles condenados por atividades contra-revolucionárias. Outros criminosos condenados a mais de 3 anos de prisão também poderiam ser enviados a campos de trabalhos forçados. Depois de passar algum tempo em um campo de trabalhos forçados, um prisioneiro poderia ser transferido para uma colônia de trabalhos forçados ou para uma zona aberta especial. Os campos de trabalhos forçados eram áreas muito grandes onde os prisioneiros viviam e trabalhavam sob supervisão rigorosa. Que eles trabalhassem e não constituíssem uma carga sobre a sociedade era, obviamente, necessário. Nenhuma pessoa saudável passaria sem trabalhar. O número de campos de trabalhos forçados existentes em 1940 era de 53. Havia 425 colônias de trabalhos forçados de “gulag”. Essas colônias eram unidades muito menores que os campos de trabalhos forçados, com um regime mais livre e supervisão menor. A essas colônias eram enviados prisioneiros com sentenças menores – pessoas que haviam cometido transgressões criminosas ou políticas menos graves. Elas trabalhavam em liberdade, em fábricas ou no campo, e faziam parte da sociedade civil. Na maioria dos casos, o total de salários obtidos 62
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de seu trabalho nessas colônias pertenciam ao prisioneiro, que, nesse sentido, era tratado da mesma forma que qualquer outro trabalhador. As zonas abertas especiais eram, em geral, áreas agrícolas para aqueles que haviam sido exilados, tais como os “kulaks” que haviam sido expropriados durante a coletivização. Outras pessoas condenadas por transgressões criminosas ou políticas menores também poderiam cumprir suas penas nessas áreas.
454.000 não são 9 milhões A segunda questão dizia respeito a quantos prisioneiros políticos e quantos criminosos comuns havia. Esta questão se refere àqueles presos em campos de trabalhos forçados, colônias tipo “gulag” e nas prisões (embora deva ser lembrado que nas colônias de trabalho forçado havia, na maioria dos casos, apenas perda parcial da liberdade). A tabela apresentada em anexo seguir apresenta os dados que apareceram na revista American Historical Review , dados que abrangem o período de 20 anos, com início em 1934, quando o sistema penal estava unificado sob uma administração central, até 1953, o ano em que Stálin morreu. Para começar, podemos comparar seus dados com aqueles apresentados por Robert Conquest. Conquest afirma que, em 1939, havia 9 milhões de prisioneiros políticos nos campos de trabalhos forçados e que outros 3 milhões morreram no período 1937-1939. O leitor não 63
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deve se esquecer de que Conquest está falando aqui apenas de prisioneiros políticos! Além desses, ele diz, também havia criminosos comuns que, afirma, eram em número bem maior do que os prisioneiros políticos. Em 1950 havia, segundo ele, 12 milhões de prisioneiros políticos! Armados com os fatos verdadeiros, podemos, ver prontamente, como Conquest é um trapaceiro. Nenhuma de suas cifras corresponde, mesmo que remotamente, à verdade. Em 1939, havia um total, em todos os campos, colônias e prisões, de quase 2 milhões de prisioneiros. Desses prisioneiros, 454.000 haviam cometido crimes políticos, e não 9 milhões, como afirma Conquest. Aqueles que morreram em campos de trabalhos forçados entre 1937 e 1939 foram 160.000, e não 3 milhões, segundo ele. Em 1950 havia 578.000 prisioneiros políticos nos campos de trabalhos forçados, e não 12 milhões. O leitor não deve se esquecer de que, até os dias de hoje, Robert Conquest permanece como uma das principais fontes para a propaganda da direita contra o comunismo. Entre os pseudo-intelectuais da direita, Conquest é considerado um deus. Quanto aos números citados por Alexander Soljenitsin – 60 milhões morreram em campos de trabalhos forçados – não há necessidade de comentários. O absurdo de tal alegação é evidente. Só uma mente doentia poderia promover tais juízos falsos. Deixemos agora esses falsificadores e passemos, nós mesmos, a analisar concretamente a estatística relativa ao “gulag”. A primeira pergunta a ser feita é como devemos encarar a quantidade não adulterada de pessoas 64
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apanhadas no sistema penal. Qual é o significado da cifra de 2,5 milhões? Toda pessoa que é metida na prisão constitui prova viva de que a sociedade ainda se encontra insuficientemente desenvolvida para dar a todo cidadão tudo o de que ele precisa para uma vida plena. Desse ponto de vista, os 2,5 milhões representam, de fato, uma crítica da sociedade.
A ameaça interna e externa O número de pessoas atingidas pelo sistema penal deve ser explicado corretamente. A União Soviética era um país que apenas recentemente havia derrubado o feudalismo, e sua herança social em termos de direitos humanos constituía um peso para a sociedade. Em um sistema antiquado como o czarismo, os trabalhadores estavam condenados a viver em profunda miséria e a vida humana tinha pouco valor. O roubo e o crime violento eram punidos com violência sem restrições. As revoltas contra a monarquia geralmente terminavam em massacres, sentenças de morte e sentenças de prisão extremamente longas. Essas relações sociais e os hábitos espirituais a elas associados levam um longo tempo para mudar, fato que influenciou no desenvolvimento da sociedade na União Soviética e nas atitudes para com os criminosos. Um outro fator a ser levado em conta é que a União Soviética, país que, na década de 1930, tinha entre 160 e 170 milhões de habitantes, estava seriamente ameaçada pelas potências estrangeiras. Como resultado das 65
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grandes mudanças políticas que ocorreram na Europa na década de 1930, havia uma grande ameaça de guerra por parte da Alemanha nazista, uma ameaça à sobrevivência do povo eslavo, além do que o bloco ocidental também nutria ambições intervencionistas. Esta situação foi resumida por Stálin em 1931 com as seguintes palavras: “Estamos de 50 a 100 anos atrás dos países adiantados. Temos que cobrir essa lacuna em 10 anos. Ou fazemos isto ou seremos aniquilados”. Dez anos mais tarde, em 22 de junho de 1941, a União Soviética foi invadida pela Alemanha nazista e seus aliados. A sociedade soviética foi forçada a fazer grandes esforços na década de 19301940, quando grande parte de seus recursos foi dedicada às suas preparações de defesa para a guerra que se avizinhava contra os nazistas. Por isso o povo trabalhava duro e produzia pouco em termos de benefícios pessoais. A introdução da jornada de sete horas foi retirada em 1937 e, em 1939, praticamente todo domingo passou a ser dia de trabalho. Em um período difícil como esse, com uma grande guerra ameaçando o desenvolvimento da sociedade por duas décadas (1930 e 1940), guerra que custaria à União Soviética 25 milhões de vidas, com a metade do país queimada até ficar em brasa, o crime realmente tendeu a aumentar, uma vez que o povo tentava ajudar-se a si mesmo no sentido de obter aquilo que a vida não poderia de outro modo oferecer-lhe. Durante aqueles tempos muito difíceis, a União Soviética tinha o número máximo de 2,5 milhões de pessoas em seu sistema de prisão, isto é, 2,4% da população adulta. Como podemos avaliar esta cifra? Significa muito ou pouco? Comparemos. 66
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Mais prisioneiros nos EUA Nos Estados Unidos da América, por exemplo, uma nação com 252 milhões de habitantes (em 1996), o país mais rico do mundo, que consome 60% dos recursos do planeta, quantas pessoas estão na prisão? Qual a situação nos EUA, um país que não está ameaçado por nenhuma guerra e onde não estão ocorrendo quaisquer mudanças sociais profundas que afetem a estabilidade econômica? Uma notícia apareceu nos jornais de agosto de 1997, em que a agência de notícias FLT-AP informava que nos EUA jamais houve tantas pessoas nas prisões como em 1996 – um total de 5,5 milhões. Isso representava um aumento de 200.000 pessoas desde 1995 e significava que o número de criminosos nos EUA equivalia a 2,8% da população adulta. Esses dados encontram-se disponíveis a todos aqueles que fazem parte do Departamento de Justiça norte-americano. O número de condenados nos EUA, atualmente, é 3 milhões mais elevado do que o número máximo que já houve na União Soviética! Na União Soviética havia um máximo de 2,4% da população adulta na prisão por seus crimes – e nos EUA a cifra é de 2,8% e está em ascensão! De acordo com um comunicado à imprensa divulgado pelo Departamento de Justiça dos EUA em 18 de janeiro de 1998, o número de condenados nos EUA em 1997 aumentou em 96.000. No que diz respeito aos campos de trabalhos forçados soviéticos, é verdade que o regime era duro e difícil para os prisioneiros, mas qual é a situação atual nas prisões 67
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dos EUA, que estão cheias de violência, drogas, prostituição, escravidão sexual (nelas são registrados 290.000 estupros por ano). Ninguém se sente seguro nas prisões norte-americanas! E isso hoje, e numa sociedade tão rica como jamais o foi antes!
Um fator importante: a falta de remédios Passemos agora a responder à terceira questão. Quantos morreram nos campos de trabalhos forçados? O número variou de ano para ano, de 5,2% em 1934 a 0,3% em 1953. As mortes nesses campos eram causadas pela falta de recursos na sociedade como um todo e, em particular, de remédios necessários para combater as epidemias. Esse problema não estava confinado aos campos de trabalhos forçados, mas se encontrava presente em toda a sociedade, bem como na grande maioria dos países do mundo. Assim que os antibióticos foram descobertos, ganhando uso geral depois da Segunda Guerra Mundial, a situação mudou radicalmente. Na realidade, os piores anos foram os anos de guerra, quando os bárbaros nazistas impuseram condições de vida muito severas a todos os cidadãos soviéticos. Durante aqueles quatro anos, mais de meio milhão de pessoas morreram nos campos de trabalhos forçados – metade do número total que morreu em todo o período de 20 anos em questão. Não nos esqueçamos de que naquele mesmo período, os anos de guerra, 25 milhões de pessoas morreram entre aqueles que estavam livres. Em 1950, 68
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quando as condições na União Soviética haviam melhorado e os antibióticos haviam sido introduzidos, o número de pessoas que morreram na prisão caiu para 0,3%. Entretanto, os documentos que agora estão emergindo dos arquivos soviéticos contam uma história diferente. É necessário mencionar aqui, para começar, que os números daqueles condenados à morte tiveram que ser juntados aos poucos, de diferentes arquivos, e que os pesquisadores, a fim de chegar a uma cifra aproximada, tiveram que coletar dados desses diversos arquivos de uma forma que dá origem ao risco de contagem dupla e, assim, ao risco de produzir estimativas mais elevadas do que a realidade. Segundo Dimitri Volkogonov, designado por Boris Yeltsin como responsável pelos velhos arquivos soviéticos, houve 30.514 pessoas condenadas à morte pelos tribunais militares entre 1o de outubro de 1936 e 30 de setembro de 1938. Uma outra informação vem da KGB: de acordo com informações fornecidas à imprensa em fevereiro de 1990, houve 786.098 condenados à morte por crimes contra a revolução durante os 23 anos entre 1930 a 1953. Daqueles condenados, segundo a KGB, 681.692 receberam suas penas entre 1937 e 1938. Não é possível verificar as cifras da KGB, mas essa última informação está aberta à dúvida. Seria muito estranho que um número tão grande de pessoas tivesse sido condenado em apenas dois anos. É possível que a KGB pró-capitalismo dos tempos atuais nos desse informações corretas da KGB pró-socialismo? Seja como for, falta verificar se as estatísticas que servem de base às informações da KGB compreendem, entre aqueles 69
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supostamente condenados à morte durante os 23 anos em questão, os criminosos comuns, bem como os contrarevolucionários, e não apenas os contra-revolucionários como a KGB pró-capitalismo alegou em um comunicado à imprensa de fevereiro de 1990. Os arquivos também tendem à conclusão de que o número de criminosos comuns e o número de contra-revolucionários condenados à morte eram aproximadamente os mesmos. A conclusão que podemos tirar disso é que o número dos condenados à morte em 1937-38 era de quase 100.000, e não vários milhões, conforme sustentado pela propaganda ocidental. Também é necessário ter em mente que nem todos os condenados à morte na União Soviética foram realmente executados. Muitas sentenças de morte eram comutadas para sentenças de encarceramento em campos de trabalhos forçados. Também é importante distinguir entre criminosos comuns e contra-revolucionários. Muitos dos condenados à morte haviam cometido crimes violentos, tais como assassinato ou estupro. Sessenta anos atrás, esse tipo de crime era castigado com a morte em um grande número de países. Questão 5: Que duração tinham, em média, as penas? A duração das penas de prisão tem sido objeto dos boatos mais vis na propaganda ocidental. A insinuação mais comum é que ser um condenado na União Soviética significava passar anos sem fim na prisão – quem quer que entrasse jamais saía. Isso é totalmente falso. A grande maioria dos que iam para a prisão na 70
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época de Stálin eram, na realidade, condenados a um período de cinco anos, no máximo. As estatísticas reproduzidas na American Historical Review mostram os fatos reais. Os criminosos comuns na Federação Russa em 1936 receberam as seguintes sentenças: até 5 anos, 82,4%; entre 5 e 10 anos, 17,6%. Dez anos era a sentença de prisão máxima possível antes de 1937. Os prisioneiros políticos condenados nos tribunais civis da União Soviética em 1936 receberam as seguintes sentenças: até 5 anos, 44,2%; entre 5 e 10 anos, 50,7%. Quanto àqueles condenados aos campos de trabalhos forçados do “gulag”, onde as sentenças mais longas eram cumpridas, a estatística de 1940 mostra que aqueles que cumpriram até 5 anos de prisão representavam 56,8% e aqueles cumpriram entre 5 e 10 anos, 42,2%. Somente 1% foi condenado a mais de 10 anos. Para 1939, temos as estatísticas produzidas pelos tribunais soviéticos. A distribuição das sentenças de prisão é a seguinte: até 5 anos, 95,9%; de 5 a 10 anos, 4%; acima de 10 anos, 0,1%. Como se pode ver, a suposta eternidade das sentenças de prisão na União Soviética constitui um outro mito espalhado no ocidente para combater o socialismo.
As mentiras sobre a União Soviética Uma breve discussão a respeito dos relatórios da pesquisa 71
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A pesquisa conduzida pelos historiadores russos mostra uma realidade totalmente diferente daquela ensinada nas escolas e universidades do mundo capitalista nos últimos 50 anos. Durante esse meio século de guerra fria, várias gerações aprenderam apenas mentiras sobre a União Soviética, mentiras que deixaram uma profunda impressão em muita gente. Este fato também é evidenciado nos relatórios feitos a partir das pesquisas francesas e norte-americanas. Nesses relatórios são reproduzidos dados, cifras e tabelas que enumeram as pessoas que foram condenadas e aquelas que morreram, cifras que são objeto de intensa discussão. No entanto a coisa mais importante a se observar é que os crimes cometidos pelo que foram condenados jamais são alvo de qualquer interesse. A propaganda política capitalista sempre apresentou os prisioneiros soviéticos como vítimas inocentes e os pesquisadores aceitaram essa suposição sem questioná-la. Quando os pesquisadores passam de suas colunas de estatística para seus comentários sobre os eventos, sua ideologia burguesa aflora – algumas vezes com resultados macabros. Os condenados sob o sistema penal soviético são tratados como vítimas inocentes, mas o fato fundamental é que a maioria deles era constituída de ladrões, assassinos, estupradores etc. Criminosos desse tipo jamais seriam considerados vítimas inocentes pela imprensa se seus crimes fossem cometidos na Europa ou nos Estados Unidos. Mas como foram praticados na União Soviética, a avaliação é diferente. Chamar de inocente um assassino ou uma pessoa que estuprou mais de uma vez é jogar um jogo muito sujo. É preciso mostrar, pelo menos, algum senso comum ao se comentar 72
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sobre a justiça soviética, pelo menos em relação aos criminosos condenados por crimes violentos e à propriedade de se condenarem pessoas que cometeram crime desse tipo.
Os “kulaks” e a contra-revolução No caso dos contra-revolucionários, também é necessário considerar os crimes dos quais eles foram acusados. Eis dois exemplos para mostrar a importância dessa questão: o primeiro exemplo diz respeito aos “kulaks” condenados no início da década de 1930 e o segundo se refere aos contra-revolucionários condenados entre 1936 e 1938. Segundo os relatórios da pesquisa, no que diz respeito aos “kulaks”, os camponeses ricos, havia 381.000 famílias, isto é, 1,8 milhão de pessoas enviadas ao exílio. Um pequeno número dessas pessoas foi condenado a cumprir sentenças em campos ou colônias de trabalhos forçados. Mas o que deu origem a essas punições? Os camponeses russos ricos, os “kulaks”, haviam submetido os camponeses pobres, por centenas de anos, a uma opressão e exploração sem limites. Dos 120 milhões de camponeses em 1927, os 10 milhões de “kulaks” viviam em meio ao luxo enquanto os restantes 110 milhões viviam na miséria. Antes da revolução, esses últimos tinham vivido na mais abjeta pobreza. Os “kulaks” obtinham sua opulência pagando mal pelo trabalho dos 73
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camponeses pobres e, quando estes começaram a se agrupar em fazendas coletivas, sua principal fonte de riqueza desapareceu. Mas os “kulaks” não desistiram, e tentaram restaurar a exploração através da fome. Grupos de “kulaks” armados atacavam as fazendas coletivas, matavam os camponeses pobres e trabalhadores do partido, ateavam fogo aos campos e matavam os animais de trabalho. Provocando a fome entre os pobres, os “kulaks” procuravam garantir a perpetuação da pobreza e suas próprias posições de poder. Os eventos que se seguiram não foram aqueles esperados por aqueles assassinos: agora, os camponeses pobres tinham o apoio da revolução e provaram ser mais fortes do que os “kulaks”, que foram derrotados, aprisionados e enviados ao exílio ou condenados a cumprir pena em campos de trabalhos forçados. Dos 10 milhões de “kulaks”, 1,8 milhão foi exilado ou condenado. Pode ter havido injustiças perpetradas no curso dessa luta de classes colossal no campo soviético, uma luta envolvendo 120 milhões de habitantes. Mas podemos culpar os pobres e oprimidos, em sua luta por uma vida que merecesse ser vivida, em sua luta para garantir que seus filhos não morressem de fome ou crescessem analfabetos, por não serem suficientemente “civilizados” ou por não mostrarem clemência em seus tribunais? Poderia alguém acusar pessoas que, por centenas de anos, não tiveram nenhum acesso aos progressos feitos pela civilização, por não serem civilizados? E, digam-nos, quando é que o explorador "kulak" foi civilizado ou clemente em suas relações com os 74
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camponeses pobres durante anos e anos de exploração sem fim?
Os expurgos de 1937 Nosso segundo exemplo, relativo aos contrarevolucionários condenados nos julgamentos de 1936-38 que se seguiram aos expurgos do partido, do exército e do aparelho do estado, tem suas raízes na história do movimento revolucionário na Rússia. Milhões de pessoas participaram da luta vitoriosa contra o czar e a burguesia russa, e muitos entraram para o Partido Comunista Russo. Entre esses havia, infelizmente, alguns que entraram para o partido por razões que não eram a luta pelo proletariado e pelo socialismo. Mas a luta de classes era tal que, com freqüência, não havia tempo nem oportunidade para testar os novos militantes do partido. Até mesmo militantes de outros partidos que se diziam socialistas e haviam lutado contra o partido bolchevique foram admitidos no Partido Comunista. A alguns desses novos ativistas foram entregues cargos importantes no Partido Bolchevique, no estado e nas forças armadas, dependendo de sua capacidade individual para conduzir a luta de classes. Foram tempos muito difíceis para o jovem estado soviético, e a grande falta de quadros – ou mesmo de pessoas que pudessem ler – forçou o partido a fazer poucas exigências quanto à qualidade dos novos ativistas e quadros. Por causa desses problemas surgiu, com o tempo, uma contradição que fendeu o partido em dois campos – de um lado, aqueles que pressionavam para que a luta avançasse no sentido de construir uma sociedade 75
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socialista e, do outro, aqueles que pensavam que as condições ainda não estavam maduras para a construção do socialismo e que promoviam a social-democracia. A origem dessas idéias está em Trotski, que havia entrado para o partido em julho de 1917. Trotski conseguiu, com o tempo, assegurar o apoio de alguns dos bolcheviques mais conhecidos. Essa oposição unificada contra o plano bolchevique original proporcionou uma das opções políticas que foi objeto de uma votação em 27 de dezembro de 1927. Antes de essa votação ser realizada, um grande debate se desenrolou por muitos anos e seu resultado em ninguém deixou alguma dúvida: dos 725.000 votos apurados, a oposição obteve 6.000, isto é, a oposição unificada era apoiada por menos de 1% dos ativistas do partido. Como conseqüência da referida votação e quando a oposição começou a trabalhar por uma política contrária àquela do partido, o Comitê Central do Partido Comunista decidiu expulsar do partido os principais líderes da oposição unificada. A figura central da oposição, Trotski, foi expulso da União Soviética. Mas a história dessa oposição não terminou ali. Mais tarde, Zinoviev, Kamenev e Zvdokine, bem como vários trotskistas importantes, tais como Pyatakov, Radek, Preobrazhinsky e Smirnov fizeram sua autocrítica. Todos eles foram novamente aceitos no partido como ativistas e assumiram, mais uma vez, seus cargos no partido e no estado. No decorrer do tempo, tornou-se claro que a autocrítica feita pela oposição não tinha sido genuína, uma vez que os líderes oposicionistas se uniam do lado da contra-revolução toda vez que a luta de classes se acentuava na União Soviética. 76
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A maioria dos oposicionistas foi expulsa e readmitida outras vezes antes que a situação se aclarasse completamente em 1937-38.
Sabotagem industrial O assassinato, em dezembro de 1934, de Kirov, presidente do partido de Leningrado e uma das pessoas mais importantes do Comitê Central, deu origem à investigação que levaria à descoberta de uma organização secreta engajada na preparação de uma conspiração para assumir a liderança do partido e do governo do país por meios violentos. Os conspiradores, que haviam perdido a luta política em 1927, esperavam agora ganhá-la por meio da violência organizada contra o estado. Suas armas principais eram a sabotagem industrial, o terrorismo e a corrupção. Trotski, a principal inspiração da oposição, dirigia suas atividades do exterior. A sabotagem industrial causou prejuízos terríveis ao estado soviético. Por exemplo, máquinas importantes foram danificadas sem possibilidade de reparo e houve uma enorme queda de produção nas minas e fábricas. Quem, em 1934, descreveu o problema foi o engenheiro norte-americano John Littlepage, um dos especialistas estrangeiros contratados para trabalhar na União Soviética. Littlepage passou 10 anos trabalhando na indústria de mineração soviética – de 1927 a 1937, principalmente em minas de ouro. Em seu livro In Search of Soviet Gold (Em Busca do Ouro Soviético), ele escreve:
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“Nunca tive nenhum interesse nas sutilezas das manobras políticas na Rússia, na medida em que podia evitá-las; mas tinha que estudar o que estava acontecendo na indústria soviética a fim de fazer o meu trabalho. E estou firmemente convencido de que Stálin e seus colaboradores levaram um longo tempo para descobrir que os comunistas revolucionários descontentes eram seus piores inimigos”. Littlepage também escreveu que sua experiência pessoal confirmou a declaração oficial de que a grande conspiração dirigida do exterior estava empregando uma intensa sabotagem industrial como parte de seus planos para forçar o governo a cair. Em 1931, ele já tinha se sentido obrigado a registrar isso, enquanto trabalhava nas minas de cobre e bronze nos Urais e no Cazaquistão. As minas eram parte de um grande complexo de cobre e bronze sob a direção geral de Pyatakov, o vicecomissário do povo para a indústria pesada. As minas estavam em um estado catastrófico em termos de produção e bem-estar de seus trabalhadores. Littlepage chegou à conclusão de que estava em curso uma sabotagem organizada, que vinha da administração superior do complexo de cobre e bronze. O livro de Littlepage também nos diz de onde a oposição trotskista recebia o dinheiro necessário para pagar por essa atividade contra-revolucionária. Muitos membros da oposição secreta utilizaram seus cargos para aprovar a compra de máquinas de certas fábricas no exterior. Os produtos aprovados eram de qualidade muito inferior à qualidade dos produtos pelos quais o governo 78
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soviético havia realmente pago. Os produtores estrangeiros davam à organização de Trotski o excedente de tais transações e, como resultado disso, ele e seus coconspiradores na União Soviética continuavam a fazer encomendas junto a esses fabricantes.
Roubo e corrupção Este procedimento foi observado por Littlepage em Berlim, na primavera de 1931, ao comprar elevadores industriais para minas. A delegação soviética era chefiada por Pyatakov, com Littlepage como o especialista encarregado de verificar a qualidade dos elevadores e da aprovação da compra. Littlepage descobriu uma fraude envolvendo elevadores de baixa qualidade, inúteis para as finalidades soviéticas, mas, quando informou Pyatakov e os outros membros da delegação soviética sobre esse fato, eles reagiram com frieza, como se quisessem desconsiderá-lo, e insistiram para que ele aprovasse a compra dos elevadores. Littlepage não queria fazer isso. Na ocasião, pensou que o que estava acontecendo envolvia corrupção pessoal e que os membros da delegação haviam sido subornados pelos fabricantes dos elevadores. Mas, depois que Pyatakov, no julgamento de 1937, confessou suas ligações com a oposição trotskista, Littlepage chegou à conclusão de que o que ele havia testemunhado em Berlim era muito mais do que corrupção em nível pessoal. O dinheiro envolvido era destinado a pagar pelas atividades da oposição secreta na União Soviética, atividades que compreendiam sabotagem, terrorismo, suborno e propaganda. 79
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Zinoviev, Kamenev, Pyatakov, Radek, Tomsky, Bukharin e outros, muito amados pela imprensa burguesa, usavam os postos recebidos do povo soviético e do partido para roubar dinheiro do estado a fim de permitir que os inimigos do socialismo o utilizassem para fins de sabotagem e em sua luta contra a sociedade socialista na União Soviética.
Planos para um golpe Roubo, sabotagem e corrupção são crimes graves em si mesmos, mas as atividades da oposição foram mais além. Uma conspiração contra-revolucionária estava sendo preparada visando à tomada do poder de estado por meio de um golpe no qual toda a liderança soviética seria eliminada, começando com o assassinato dos membros mais importantes do Comitê Central do Partido Comunista. As ações militares do golpe seriam realizadas por um grupo de generais chefiados pelo marechal Tukachevski. Segundo Isaac Deutscher (ele próprio trotskista), que escreveu vários livros contra Stálin e a União Soviética, o golpe devia ser iniciado por uma operação militar contra o Kremlin e as tropas mais importantes nas grandes cidades, tais como Moscou e Leningrado. A conspiração era, de acordo com Deutscher, liderada por Tukachevski, juntamente com Gamarnik, chefe do Comissariado Político do Exército, o general Yakir, o comandante de Leningrado, general Uborevich, o comandante da Academia Militar de Moscou, e o general Primakov, comandante da Cavalaria. 80
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O marechal Tukachevski tinha sido oficial no antigo exército czarista e, depois da revolução, passou para o Exército Vermelho. Em 1930, quase 10% dos oficiais (perto de 4.500) eram ex-oficiais czaristas. Muitos deles jamais abandonaram sua ideologia burguesa e estavam só esperando uma oportunidade para lutar por ela. Essa oportunidade surgiu quando a oposição começou a preparar o seu golpe. Os bolcheviques eram fortes, mas os conspiradores civis e militares não mediam esforços para reunir amigos poderosos a seu favor. De acordo com a confissão de Bukharin, em seu julgamento público em 1938, um acordo foi feito entre a oposição trotskista e a Alemanha nazista, segundo o qual grandes territórios, inclusive a Ucrânia, seriam cedidos aos nazistas em seguida ao golpe contrarevolucionário na União Soviética. Esse era o preço exigido pela Alemanha por sua promessa de apoio aos contra-revolucionários. Bukharin tinha sido informado sobre esse acordo por Radek, que havia recebido uma ordem de Trotski nesse sentido. Todos esses conspiradores, que haviam sido escolhidos para altos cargos para liderar, administrar e defender a sociedade socialista, estavam, na realidade, trabalhando para destruir o socialismo. Acima de tudo, é necessário lembrar que tudo isso estava acontecendo na década de 1930, quando o perigo nazista crescia sempre e os exércitos nazistas estavam incendiando a Europa e se preparando para invadir a União Soviética. Os conspiradores foram condenados à morte como traidores, após um julgamento público. Aqueles julgados 81
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culpados de sabotagem, terrorismo, corrupção, tentativa de assassinato e que haviam desejado ceder parte do país aos nazistas não podiam esperar outra coisa. Chamá-los de vítimas inocentes constitui um erro completo.
Mais inúmeras mentiras É interessante ver como a propaganda ocidental, através de Robert Conquest, tem mentido a respeito dos expurgos do Exército Vermelho. Conquest diz, em seu livro The Great Terror (O Grande Terror), que em 1937 havia 70.000 oficiais e comissários políticos no Exército Vermelho e que 50% deles (isto é, 15.000 oficiais e 20.000 comissários) foram presos pela polícia política e foram ou executados ou condenados à prisão perpétua nos campos de trabalhos forçados. Nessa alegação de Conquest, como em todo o seu livro, não há uma palavra de verdade. O historiador Roger Reese, em seu livro The Red Army and the Great Purges (O Exército Vermelho e os Grandes Expurgos) expõe os fatos que mostram o real significado dos expurgos de 1937-38. O número de pessoas na liderança do Exército Vermelho e força aérea, isto é, oficiais e comissários políticos, era de 144.300 em 1937, tendo aumentado para 282.300 até 1939. Durante os expurgos de 1937-38, 34.300 oficiais e comissários políticos foram expulsos por razões políticas. Entretanto, até maio de 1940, 11.596 já haviam sido reabilitados e reconduzidos a seus postos. Isto significa que, durante aqueles expurgos, 22.705 oficiais e comissários políticos foram demitidos (cerca de 13.000 oficiais do exército, 4.700 oficiais da força aérea e 5.000 comissários 82
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políticos), o que representa 7,7% de todos os oficiais e comissários – e não 50%, como alega Conquest. Desses 7,7%, alguns foram condenados como traidores, mas, em sua grande maioria, pelo que se depreende do material histórico disponível, simplesmente retornaram à vida civil. Uma última questão. Os julgamentos de 1937-38 foram justos com os acusados? Examinemos, por exemplo, o julgamento de Bukharin, o mais alto funcionário do partido, que trabalhava para a oposição secreta. De acordo com o embaixador norte-americano em Moscou na época, um advogado de renome chamado Joseph Davies, que assistiu a todo o julgamento, Bukharin teve permissão para falar livremente durante todo o julgamento e expor seu caso sem nenhum tipo de impedimento. Joseph Davies escreveu a Washington relatando que, durante o julgamento, ficou provado que os réus eram culpados dos crimes de que eram acusados e que a opinião geral entre os diplomatas que assistiam ao processo era que a existência de uma conspiração muito grave havia sido provada.
Aprendamos com a história A discussão do sistema penal soviético durante a época de Stálin, sobre o qual milhares de artigos e livros mentirosos foram escritos e centenas de filmes foram feitos transmitindo falsas impressões, leva a lições importantes. Os fatos provam, novamente, que são falsos os artigos e reportagens publicados na imprensa burguesa a respeito do socialismo. A direita pode, por intermédio 83
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da imprensa, rádio e TV, que ela domina, causar confusão, distorcer a verdade e levar muitas pessoas a acreditar nas mentiras. Isso é particularmente verdadeiro quanto se trata de questões históricas. Quaisquer novas matérias jornalísticas apresentadas pela direita devem ser consideradas falsas até que o contrário seja provado. Essa abordagem cautelosa é justificada. O fato é que, mesmo sabendo a respeito dos relatórios da pesquisa histórica russa, a direita continua a reproduzir as mentiras ensinadas nos últimos 50 anos, embora tais mentiras tenham sido completamente desmascaradas. A direita continua com sua herança histórica: uma mentira repetida muitas vezes acaba sendo aceita como verdade. Após os relatórios da pesquisa histórica russa terem sido publicados no Ocidente, alguns livros começaram a aparecer em diferentes países com o único propósito de chamar a atenção sobre a pesquisa e permitir que velhas mentiras sejam apresentadas ao público como novas verdades. Esses livros são bem apresentados e recheados, de capa a capa, de mentiras sobre o comunismo e o socialismo. As mentiras da direita são repetidas a fim de combater os comunistas atuais. São repetidas de modo que os trabalhadores não encontrem nenhuma alternativa ao capitalismo e ao neoliberalismo. Fazem parte da guerra suja contra os comunistas, os quais são os únicos que têm uma alternativa a oferecer para o futuro, isto é, a sociedade socialista. Esta é a razão para o aparecimento de todos esses novos livros contendo velhas mentiras.
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Tudo isso propõe uma obrigação a todo aquele que tenha uma visão socialista da história: devemos assumir a responsabilidade de trabalhar para transformar os jornais comunistas em autênticos jornais das classes trabalhadoras, a fim de combater as mentiras burguesas! Esta é, sem dúvida, uma importante missão na atual luta de classes, que, no futuro próximo, irromperá novamente com força renovada.
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O ANTI-STALINISMO, CAVALO DE TRÓIA NO MOVIMENTO COMUNISTA DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XX Nina Andreeva, dirigente do Partido Comunista Bolchevique de Toda a União e professora do Instituto Tecnológico Lensoviet, in ‘Discurso pronunciado na Bélgica’ em maio de 1992 Estimados camaradas. Pronunciando-me perante vocês sobre este problema, quero destacar que abordo este tema partindo da necessidade da luta atual contra a restauração do capitalismo na URSS e das atividades do Partido Comunista Bolchevique de toda a União, em cujo corpo dirigente estou. Consideramos que o anticomunismo nos países da chamada Comunidade de Estados Independentes exige a mais profunda atenção e pode ser superado criticamente apenas com os mais sérios fundamentos científicos da análise histórica em todos os perímetros das ciências sociais. É necessário um tratamento sem preconceitos do amplo arquivo de materiais e outros documentos para ter uma plena imagem dos processos contraditórios acontecidos no nosso país e no movimento comunista internacional, no período de transição do capitalismo ao socialismo na URSS. Agora se pode falar somente sobre alguns caminhos para resolver os assuntos apresentados. A falsificação da história da construção socialista foi tão 86
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longe que se necessita de um tempo considerável para superá-la e tirar a conclusão e a apreciação concreta. Atualmente, devem ocupar-se disto não apenas os comunistas soviéticos, mas também todos os partidos marxista-leninistas que dirigem a luta pelo poder dos trabalhadores. Em 1985, com a Perestroika de Gorbatchov, nas páginas do publicismo científico-político apareceu o termo “stalinismo”, que os pseudo-democratas e revisionistas descreveram como um oposto do leninismo. De acordo com isso, o “stalinismo” foi apresentado como um freio ao desenvolvimento e à renovação do socialismo. Como se sabe, I.V. Stálin nunca utilizou semelhante termo e sempre frisou que ele era um aluno, ou seja, um continuador do trabalho de V. I. Lênin. O caráter abertamente anticomunista do ataque ao “stalinismo” obrigou até Gorbatchov a emitir sua opinião sobre este problema. Em 1986, respondendo às perguntas do jornal L’Humanité sobre “a superação dos resíduos do stalinismo”, declarou: “o “stalinismo” é uma noção ideada pelos adversários do comunismo e utilizada amplamente para denegrir a União Soviética e o socialismo em conjunto” (M. Gorbatchov, discursos e artigos escolhidos, Politzdat, 1987, V.3, p. 112). É evidente que esta resposta reflete a ampla compreensão de muitos comunistas soviéticos de que a estagnação na década dos 80, na URSS, estava vinculada não a Stálin, mas à direção oportunista de Kruchov, que abriu caminho para o surgimento da estagnação do período de Brejnev. A
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preparação ideológica da histeria anti-stalinista levou bom tempo. Mas depois de um par de anos, Gorbatchov começou a falar de “os delitos de Stalin”, mudando a palavra “stalinismo” para o termo “stalinidade”, no mesmo sentido. A histeria anti-stalinista recebeu “sinal verde”. A campanha adquiriu perfeitas formas partidárias e estatais. Portanto, quando eu, no meu artigo “Não posso ceder nos princípios”, citei a apreciação de atividades de Stalin, feita por Churchill, tanto eu como o jornal Sovietskaia Rossia, que publicou o meu artigo em março de 1988, fomos objeto de acusação por parte do CC do PCUS, dos órgãos estatais, dos homens de cultura e de todos os meios de informação massiva. Como está claro agora, o Bureau político passou dois dias em sessão sobre este problema e encarregou a N. Yakovlev, então secretário do CC do PCUS, de dar resposta no Pravda à autora do manifesto das forças anti-perestroika e “stalinistas”. Esta história revelou não apenas a essência classista da Perestroika de Gorbatchov, mas também o verdadeiro valor de sua idéia do pluralismo. Nós consideramos que os termos “stalinismo” e “stalinidade” não são científicos, desempenham a função de argumentação do anticomunismo. Assim, penso que é realmente justo falar do regime da direção partidáriaestatal de Stálin, condicionada pelas peculiaridades da construção do socialismo no país. Estas peculiaridades tiveram um caráter objetivo e estavam relacionadas com as da revolução proletária e da luta de classes na Rússia, e isto deveria ser levado em conta. 88
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Está claro que tal como a grande revolução burguesa francesa do século XVIII, a revolução socialista de outubro na Rússia teve um caráter classista, de confrontação, que revelou claramente os limites sociais, a posição política, a oposição ideológica das classes que estavam no feroz combate. E isto sem considerar o fato de que a revolução proletária na Rússia triunfou num país de nível médio de desenvolvimento sócio-econômico, onde a classe operária não constituía a maioria da população, onde nem “tinha sido cozinhada” no caldeirão fabril devido ao vínculo sangüíneo com as massas de milhões de camponeses que padeciam da cruel exploração dos latifundiários. Noutras palavras, a revolução proletária alcançou a vitória num país rural pequeno-burguês. A derrocada do governo provisório burguês no dia 25 de Outubro de 1917, foi uma revolução sem derramamento de sangue. No total, houve poucas mortes, feridos e violação entre os defensores do Palácio de Inverno, sede do governo que ninguém quis defender. Logo entregaram o poder ao Soviet dos deputados dos operários, camponeses e soldados em todo o país. Houve insignificantes combates em Moscou. Trinta e nove partidos burgueses e sete de nobres e latifundiários desapareceram da arena política. À construção do Soviet, primeiro governo revolucionário dirigido pelos bolcheviques encabeçados por Lênin, incorporaram-se os democratas pequeno-burgueses, inclusive os mencheviques e eseristas. Foram dados os difíceis primeiros passos para a construção do Estado dos operários e camponeses. Tudo era novo e não predito. Nas suas obras, até a primavera de 1918, Lênin traçou tarefas fundamentais no caminho da construção do 89
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socialismo, ou seja, o caminho pacífico da revolução proletária. Nelas estavam, não apenas os métodos de competir com os burgueses, mas também, o aproveitamento deles próprios, sob o controle do governo operário-camponês. Mas este plano não foi levado a cabo. As classes esmagadas pela revolução não quiseram ter compromisso com o novo poder. Elas consideraram a revolução dos bolcheviques um enganoso arrebatamento do poder, como ações que não tinham futuro. Seguros de sua absoluta superioridade sobre o governo dos operários e camponeses, a burguesia e os latifundiários, com a ajuda do capital internacional, desataram a guerra civil e a intervenção estrangeira. A confrontação do trabalho com o capital adquiriu a forma armada e as frentes de guerra estenderam-se a três quartas partes do território nacional. Quando, com a ajuda da marcha de Antantos, o Exército branco não conseguiu derrocar o poder soviético, a burguesia passou para a tática de “guerras pequenas”, em que por meio de motins e rebeliões anti-soviéticas esforçou-se por destruir a unidade combativa dos operários e camponeses. Em 1920 foram arrasados o Dom e a Sibéria, Altai e Ucrânia, Tambovchina e Koban. A culminância da “guerra pequena” foi a rebelião de Kronchtad em março de 1921, depois da qual ela iniciou o declínio, mas seus resíduos apareceram nas regiões fronteiriças até os anos 30. Pelas fronteiras da Finlândia, Polônia, Afeganistão e Manchúria, dezenas de milhares de bandidos armados com sabres e baionetas entraram no território da URSS. Toda a fronteira do país tingiu-se de sangue. Todas as organizações partidárias foram destruídas e todas as aldeias e povoados foram 90
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queimados, surgiram centenas de milhares de órfãos e viúvas. Em 1921, a chamada “política de comunismo de guerra”, praticada devido à guerra civil, foi substituída pela nova política econômica (NEP), que liquidou as raízes soviéticas das “guerras pequenas”. Seus iniciadores se retiraram para trás do seu cordão de onde cometeram a incursão. A nova política econômica substituiu a confrontação classista pela competição econômica. A burguesia recebeu a liberdade econômica de empresa, mas, com esperança na restauração do capitalismo, não renunciou à tática de “guerras pequenas”, mudou para a “contra-revolução tranqüila”. Por seus meios de informação massiva, divulgou a restauração da ideologia burguesa. Os inteligentes burgueses sabotaram os planos de reconstrução do poder soviético, estenderam a sabotagem, as ações de sapa e greves de professores. Queimaram as indústrias petroleiras, os armazéns de cereais, descarrilaram trens, afundaram minas de carvão e pararam as esteiras transportadoras das fábricas, aconteceu de tudo. Isto causou sofrimento e dor às pessoas, que alimentaram ódio pelos inimigos classistas. No princípio o aparelho estatal e as organizações econômicas eram objeto da atividade da “contrarevolução tranqüila”. Depois, a “contra-revolução tranqüila” passou para o Partido e para o Exército, nos quais, por todos os meios, tratou de provocar e fomentar o descontentamento da direção partidária, da direção de Stálin, que jurou durante o funeral de Lênin, que guardaria a unidade do Partido, fortaleceria a ditadura do 91
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proletariado, a aliança operário-camponesa, a união das repúblicas, o exército vermelho e seria fiel aos princípios da Internacional Comunista. Não apenas jurou, também fez tudo o que foi possível para realizar em vida esse juramento. Por que, depois de Lênin, Stalin emergiu para a direção do Partido? Os anticomunistas descrevem isto como uma intriga, uma astúcia georgiana capaz de tirar de seu caminho os rivais etc. Isto não está de acordo com a realidade. No começo de 1924, no Partido Bolchevique, havia apenas um dirigente que declarou abertamente que seguiria, invariavelmente, o caminho de Lênin. Trotsky disputou com Lênin, falando como se tivesse exercido o papel de direção na vitória da Revolução e da guerra civil, e seus partidários colocaram seu nome acima do de Lênin. Bukarin teorizava e tergiversava confusamente com seu publicismo claro, mas não profundo. Zinoviev e Kamenev, apesar de que se autodenominavam “amigos de Lênin” no tempo da emigração, no Partido lembram seu papel de duas faces na véspera do levantamento armado em outubro de 1917. Nenhum deles disse estar pronto para seguir, conseqüentemente, o caminho de Lênin. O Partido e a classe operária só confiavam em Stálin, em nenhum outro. Seu apoio serviu para a vitória sobre os oportunistas direitistas e “esquerdistas”. A luta dramática pelo socialismo na sociedade e a derrota dos elementos burgueses e pequeno-burgueses foram refletidas como no espelho, no combate interior do Partido contra os trotskistas, zinovietistas, bukarinistas e outros oportunistas. Tratava-se da mais complexa e 92
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contraditória etapa que determinava os êxitos da industrialização, o cooperativismo da economia rural e a revolução cultural socialista. A luta contra os oportunistas era de especial perigo quando Hitler chegou ao poder na Alemanha e ficou claro que a guerra era inevitável. Especialmente, a luta dentro do Partido complicou-se depois do assassinato de Kirov. Kruschov e os anticomunistas culparam Stalin disto, mas a causa não foi devidamente esclarecida e era necessário reconhecer logo que Stalin não teve relação alguma com isto. Como depois disse Davis, então embaixador norteamericano na URSS, e jurista norte-americano participante de todos os processos de Moscou, em 1937 iniciou-se a limpeza na retaguarda da “quinta coluna” (agentes e sabotadores), na véspera da guerra inevitável. A limpeza correspondeu a um grande número de pessoas e não evitou a infração da legalidade socialista. Como agora este problema constitui o ponto central da propaganda anticomunista, eu me permito referir mais detalhadamente a ele. O plenário do comitê executivo político da associação de toda a União Soviética “Edinstvo - pelo Leninismo e os ideais comunistas” apresentou a declaração em 27 de janeiro de 1991: “sobre a atitude da campanha para a reabilitação dos castigados pelo crime de lesa- pátria nas décadas de 20, 30, 40 e 50”. Fala-se nela que a ruidosa campanha pela reabilitação das “vítimas da repressão de Stalin” constituiu um dos truques chaves da Perestroika de Gorbatchov. A demagogia de seus inventores pode servir como padrão histórico da hipocrisia social e do engano jesuíta. 93
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Realmente, a encarniçada luta de classes sob o princípio de “quem a quem?” que leva à perda ambas as partes antagônicas, era considerada pelos pequenos- burgueses como uma arbitrariedade lúgubre e terror dos “vermelhos” que estão no poder. Os fatos de castigo pelo crime contra a pátria os afastam do contexto histórico, os observam através do prisma de outro tempo. Em vez de estudar em unidade dialética a luta política classista e os delitos comuns aparecidos neste curso, voltam a atenção somente aos temas biográficos isolados, não relacionados com a lógica desta luta política, chamando os atuais pequeno-burgueses para derramarem lágrimas e excitando gente de atitude negativa a respeito da revolução do passado. De acordo com esta concepção, os trotskistas e outros como os zinovievitas e bukarinistas apresentam-se como ovelhas inofensivas destruídas pelos lobos. Esta mentira descarada não necessita de uma refutação especial, pois há tempo foi refutada por milhares de documentos e depoimentos de pessoas daquele tempo. Ao CC do Partido Comunista Bolchevique de Toda a União (PCBTU), chegam centenas de cartas de grande número de pessoas que diretamente sofreram os terrores dos guardas brancos, kulaks, basmanches e nacionalistas. Os papéis de cúmplices destes inimigos foram desempenhados então, pelos arrivistas e conjunturistas, burocratas e intrigantes, covardes, aduladores e degenerados, todo um conjunto mal formado de infames, que, mais tarde foram a coluna principal no período da Perestroika. Por exemplo, os ex-generais do Comitê de Segurança do Estado (CSE) Kalugin e Sterligov continuam 94
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hoje o trabalho dos traidores dos anos 20-40, sendo inscritos pelos gorbatchovistas na lista política como “combatentes contra o stalinismo”. Uma mulher da Sibéria escreveu para mim que seu pai foi preso pelo chefe de milícia, que depois foi reconhecido pelos cidadãos como ex-oficial do Exército Branco do general Kolchak. Há uma semana, chegou uma carta de um veterano do Partido de Nizni-Novogorod. Ele escreve sobre o fenômeno divulgado no final da década dos 30, que se chama “autoliquidação dos Kulaks”. Sua essência está em que os camponeses ricos, sem lamentarse do poder soviético, mas odiando o Kolkoz, venderam suas fazendas e foram para a cidade, embora ninguém os tenha ameaçado ou oprimido. Tais pessoas calculavam-se em centenas de milhares. Naquele tempo, não deram importância a tal fenômeno, mas hoje consideram que todos os kulaks foram liquidados, apesar de que nenhum foi expropriado. Nos anos dos planos qüinqüenais e da construção do kolkoz, eles e seus filhos foram trabalhar nas fábricas e nas minas. Por isso mostraram especial atividade por todos os métodos, esforçando-se para penetrar no poder e infiltrar-se no Partido, no Comissariado do Povo para Assuntos Internos (CPAI) e nos órgãos de ciências. Conseguiram muito para eles, embora odiando tudo o que fosse soviético. Aconteceu uma grande mudança na distribuição das forças classistas na URSS, a favor dos filhos dos “antigos”. Exatamente a tal gente pertence o general coronel Dimitri Volkogonov, ex-subchefe da direção política geral 95
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do Exército Soviético, agora principal assessor de Ieltsin nos assuntos militares, e que até hoje continua procurando a tumba do pai liquidado como kulak. Quanto terá mentido no seu currículo vitae este “general propagandista” que “desmascara” com cuidado Lênin, Stalin, o socialismo e o comunismo nos seus míseros livros? Ele não se intimida declarando que no começo foi “stalinista”, depois leninista, porém depois, “abriu os olhos” e começou a chamar-se anticomunista e vítima da liquidação dos kulaks. O neto de Stalin, Eugênio Dzugashubili (coronel, professor da Academia Militar) disse-me que ao receber a prova de pós-graduação em Marxismo-leninismo, o professor Volkogonov o adulou e lhe deu nota de destaque sem interessar-se, na realidade, pelos seus conhecimentos. O autor da carta de Nizni-Novogorod citou o exemplo de seu vizinho, coronel reformado, cujo pai foi liquidado como kulak, mas ele foi mandado da fábrica para o órgão do Comissariado do Povo para assuntos Internos (CPAI), onde subiu de funcionário para chefe de seção. Hoje, este ex-“chequista” 1 liberado pela Perestroika, maldiz Lênin, Stálin e o poder Soviético, e exige a dissolução dos kolkozes e dos sovkozes. Não foram tais “chequistas” os que fizeram girar a roda da repressão, prontos para ganhar os favores e procurar “espiões e sabotadores” em cada brigada de kolkoz, reclamando suas façanhas no descobrimento de “inimigos”? Quanta má informação tais 1
Nota da Tradutora: Chequista - membro da Checa, polícia secreta criada pelo governo bolchevique (Dic. Del Español Actual, ed. Santillana, Madri: 1999, p. 1000).
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pessoas levaram à direção do país? Isto foi uma vingança classista contra os soviéticos, por parte dos “antigos”, a qual hoje se apresenta como o terror dos comunistas. Quantos desses “vingadores” foram objeto de repressão depois do plenário do CC do Partido Comunista de toda a União (bolchevique) em 1939, quando os órgãos partidários começaram a examinar semelhantes atividades? Responsáveis por tais coisas, também foram fuzilados os ex-membros do CPAI, Yagoda e Ezov. Por causa desses infames hipócritas e traidores, milhares de pessoas verdadeiramente fiéis aos ideais do socialismo e ao poder soviético perderam a liberdade e até a vida. Contudo, eles foram não apenas vítimas da arbitrariedade, como também combatentes honrados caídos como resultado da intriga do inimigo de classe, que abusava da imperfeição da legalidade, do procedimento judicial, dos PETRECHOS técnicos do sumário e da intransigência da luta de classes naquele tempo. Hoje, em algumas campanhas, Ieltsin e sua companhia reabilitam esses “abnegados lutadores” pelo socialismo, junto com os guardas brancos e verdugos fascistas contra os quais no passado levaram a cabo uma luta sangrenta. Esta reabilitação, como se diz, “variante de zero”, tem a finalidade de obscurecer o próprio fato da luta de classes no passado, comprometer a própria idéia de defesa dos interesses classistas dos trabalhadores na atualidade, e reavivar as teorias revisionistas e capitulacionistas hoje colocadas a serviço da contra-revolução em ofensiva. Falta apenas elevar Hitler ao pedestal das “vítimas da repressão stalinista”. 97
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O Partido Comunista Bolchevique de toda a União pronuncia-se pelo incondicional e imediato restabelecimento dos honestos nomes de quem lutou com ardor pela causa socialista e caiu nesta luta, sendo vítima do complô e da delação; mas nós rechaçamos decididamente a reabilitação dos que tramaram intriga contra seu povo e passaram para o lado inimigo, como parasitas, assassinos, espiões e sabotadores. Estes não podem ser perdoados. Um sábio disse: se exaltas a traição, espera desgraça. Com freqüência escreviam para nós, inclusive exprisioneiros que cumpriram suas sentenças. Eles desmentem a informação dos jornais pseudodemocráticos que escrevem que nos campos de concentração estiveram somente os inocentes. Um dos ex-prisioneiros afirma que num dos maiores campos onde ele esteve, não houve quase nenhum inocente. Eles foram inimigos implacáveis do Estado Soviético, e continuaram suas ações, sorrateiramente, até mesmo na prisão. “Eu também”, esclarece o autor da carta, “estive na prisão por meu delito”. Há pouco, uma das “vítimas da repressão stalinista” esteve num dos nossos jornais dizendo também ter sido reabilitado e recebido o privilégio como sofrido pelo poder soviético. Apesar dele, naquela época, ter sido preso pelo delito de ter assassinado sua mulher e não pelo crime político ou de lesa- pátria… Parece que, com tal método, os governantes atuais consolidam a base social da restauração. A “tranqüila contra-revolução” apoiada nos anos 30 nos elementos oportunistas dentro do Partido Comunista 98
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Bolchevique de toda a União, novamente fracassou. O capital internacional depositou outra vez suas esperanças na luta armada contra o único país socialista que se encontrava no seu cerco. Naquele tempo, todas as atividades da política externas dos países ocidentais estavam voltadas para jogar Hitler para a fronteira da União Soviética e empurrá-lo para a agressão. Sob as botas fascistas tremeram as fronteiras da Áustria, Checoslováquia, Grécia, depois Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, França e Iugoslávia. Na véspera do início da Segunda Guerra Mundial, o pacto de nãoagressão com a Alemanha, de acordo com a prudente diplomacia de Stálin-Molotov, retardou em um ano e meio (!) o ataque de Hitler à URSS. Nem todos na Europa compreenderam corretamente este passo; alguns acusaram Stálin de ter conciliado com Hitler. A URSS preparou-se intensamente para repelir a agressão. Os diplomatas deslocaram as fronteiras por onde podia iniciar-se o ataque ao nosso país. Essas fronteiras foram retiradas 200-300 km a oeste, desde Leningrado, Kiev, Minsk e Odessa. Finalmente, em 22 de junho de 1941, o terrível golpe dos agressores nos pegou a centenas de quilômetros a oeste das fronteiras anteriores do país, onde se desenvolveram os primeiros combates, desfavoráveis para o Exército Vermelho. Não importa como os considerem, mas nessas circunstâncias, foram tiradas duas das 6-8 semanas concedidas a Wehrmacht, de acordo com o plano de “bárbaros” da guerra relâmpago na URSS. Estas duas semanas nos permitiram concentrar forças e preparar o combate nos arredores pantanosos de Leningrado e perto de Smolensk, 99
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Kiev, Odessa, Murmansk, tirando dos agressores 4-5 semanas do verão, tempo precioso para eles. Se nós não tivéssemos ganhado este tempo, não teríamos podido rechaçar esta batalha relâmpago nem impor aos hitlerianos a guerra nas condições invernais, para as quais não estavam preparados. O chamado “Pacto Molotov-Ribbendrop” (O pacto de não agressão com a Alemanha), que na atualidade recebe de todas as partes um golpe injusto, nos ajudou a ganhar futuros aliados de acordo com a coalizão anti-hitleriana, os quais até 1939 não estavam preparados para isso. Graças a este pacto, o imperialismo mundial não pôde formar a coalizão anti-soviética, embora o ataque de Hitler à URSS fosse apoiado pelos exércitos da Itália, Romênia, Hungria, Finlândia e Espanha. Como resultado do pacto, nem o Japão militarista decidiu começar a guerra contra a URSS, o que nos favoreceu, evitando a guerra nos dois fronts, o que teria sido fatal para o nosso país. O exagero da personalidade de Stálin e seus companheiros de armas nos períodos pré e pós-bélico, exigem hoje analisar sem preconceitos os resultados da campanha anti-stalinista, porque suas conseqüências são perdas, não apenas para a URSS, mas também para todo o movimento operário e comunista mundial. Stalin ficará para sempre na memória das gerações futuras como o comandante supremo das forças armadas que contribuiu decididamente para a derrota dos que pretenderam a dominação mundial. Estas não apenas salvaram o povo soviético, mas também toda a humanidade do genocídio
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de Hitler. Muita gente estava predestinada a ser queimada nos odiosos fornos de Oswiecim e Maidanek. Outra tentativa de apagar o socialismo da face da Terra com a guerra fracassou. Novamente entra em vigor a tática da “contra-revolução tranqüila”, passando pelas fases da “guerra fria” e da atenuação da tensão. Digam o que disserem os anticomunistas, a União Soviética criando suas armas de foguetes nucleares, pagando o preço da estagnação no crescimento do bem-estar de seus cidadãos, tornou impossível o desencadeamento da terceira guerra mundial. O papel de Stalin nesta questão foi colossal. Apesar de inumeráveis provas sofridas naquele tempo pela União Soviética, milhões de soviéticos estavam cheios de otimismo social, baseando-se na confiança no futuro. Foi especialmente alta entre o povo, a autoridade do Partido Comunista Bolchevique de toda a União e a direção do Partido e do Estado encabeçados por I.V. Stálin, A valentia e audácia mostradas nos combates contra o inimigo, a consciência do dever social, a firme vontade, a inflexibilidade na superação das dificuldades, a iniciativa e abnegação, a disposição de enfrentar o risco e assumir a responsabilidade, foram traços fundamentais dos soviéticos nascidos na nova época. Estes traços foram provados nos anos da guerra e dos planos qüinqüenais. Além disso, devemos levar em consideração que a Segunda Guerra Mundial causou à URSS incontáveis e insubstituíveis perdas materiais e humanas. Nos campos de combate caiu a nata do Partido Bolchevique de toda a União, três dos cinco milhões de comunistas, a mais ativa 101
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e abnegada parte na construção e defesa do socialismo. A guerra obrigou o Estado Soviético a adiar consideravelmente a realização das tarefas urgentes para o desenvolvimento do socialismo e melhoramento do bem-estar do povo. Mas com a vitória sobre o inimigo, o socialismo recuperou suas forças, e no primeiro decênio pós-guerra restabeleceu a economia nacional destruída pela guerra, e alcançou um avanço qualitativo no desenvolvimento da produção industrial, não tolerou o atraso em relação aos países capitalistas avançados nos progressos científicotécnicos com os primeiros envios do homem ao universo, e criou ramos inteiros para o uso pacífico da energia atômica. Na década de 50 o país ocupou o primeiro lugar na Europa e o segundo no Mundo quanto à produção industrial, e o terceiro lugar no Mundo que se referia à produtividade do trabalho na indústria. Estes avanços desde o arado de madeira até a instalação nuclear levaram a URSS à condição de uma das superpotências mundiais. No estrangeiro falava-se do “milagre russo”. A autoridade de Stálin foi elevada de forma imensurável. Seu nome era relacionado, com fundamento, aos êxitos históricos da potência. Além disso, na década de 50, acumularam-se os problemas, principalmente no planejamento e na administração da economia nacional. Vamos ver alguns destes problemas. Primeiro, o crescimento da produção complicou muito o planejamento em escala de todo o país. Se nos primeiros qüinqüênios, nas condições de suma carência de todas as coisas, era possível limitar-se aos índices 102
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quantitativos do chamado “valor total”, posteriormente foi posta em primeiro plano a qualidade dos artigos produzidos devido ao colossal crescimento da nomenclatura de produtos. A ampliação do órgão de planejamento do país não garantiu o ótimo planejamento. Só a computadorização no planejamento estatal nos últimos decênios, permitiu realizar ao mesmo tempo o cálculo dos índices tanto quantitativos como qualitativos. Nos anos 50, sua realização era impossível. Segundo, se na realização dos primeiros planos qüinqüenais, o Ministro, tendo dezenas de fábricas sob seu comando, podia controlar tudo, diretamente ou por intermédio de seus substitutos, a introdução da nova técnica, o crescimento da produtividade, do trabalho e outros índices do desenvolvimento da produção, nos qüinqüênios pós-guerra, coloraram sob suas ordens, centenas e milhares de empresas, e ficava difícil a direção deste trabalho desde o centro. Por isso, ficaram enfraquecidos sua direção e controle. Até Stálin, como chefe do governo, teve já que assinar, não cada resolução ou ordem, mas a pasta com tais documentos. Terceiro, nas condições do progresso científicotécnico, era necessário aperfeiçoar a susceptibilidade das empresas às novidades da ciência e da técnica. Naquele tempo, a susceptibilidade à revolução científico-técnica era insuficiente. O aumento da procura para o aumento da produção era resolvido tendo por base a construção das fábricas e empresas suplementares e não o reequipamento técnico das existentes. Na década de 80,
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o mecanismo gasto aumentou muito, sendo um dos freios básicos para o progresso da produção. Quarto, agravou-se o problema do estado da economia política do socialismo, cuja teoria não respondia à existência real. Necessitava do aperfeiçoamento do sistema de interesse do homem pelo trabalho; ou seja, do interesse material apoiado, evidentemente, nas relações mercantil-monetárias. Estas agem no socialismo? Tratava-se de um problema de longos debates entre os marxistas. No início, no marxismo, negavam-se todas as relações de mercado, como se devessem ser substituídas pelo intercâmbio de produtos. O problema consistia apenas no seguinte: quando o introduziriam, imediatamente depois da tomada do poder pela classe trabalhadora ou à medida da transição ao comunismo? A nova política econômica (NEP) praticada no início do ano de 1921 destruiu esses pontos de vista sobre as relações mercantil-monetárias. Mas, no primeiro ano da nova política econômica, aconteceu o retrocesso do mercado capitalista, da propriedade privada e revelou-se o interesse dos burgueses da NEP pela restauração do capitalismo. No segundo ano da nova política econômica, foram pensar se era necessário o mercado capitalista num país caminhando para o socialismo. Destaco o mercado capitalista onde em qualidade de mercadorias aparecem também os meios de produção, a terra e a força de trabalho, e não apenas os produtos comestíveis e os artigos para satisfazer a necessidade pessoal dos produtores.
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Penso que justamente nisto Lênin pressentiu “mudança radical do ponto de vista sobre o socialismo”, no qual Gorbatchov e seus perestroikistas viram a transição ao mercado capitalista, à propriedade privada sobre os instrumentos e meios de produção, e ao pluralismo da ideologia no socialismo e à pluralidade de partidos na política. Stálin deu início à solução científica do problema do mercado e colocou no seu livro “Problemas econômicos do Socialismo na URSS” (em 1952) que a produção mercantil não leva ao capitalismo se a troca de mercadorias, por meio da compra e venda é feita apenas com os artigos de consumo pessoal. Sua produção e intercâmbio no Socialismo estão submetidos à Lei do Valor. Contudo, na sociedade socialista os meios de produção e a força do trabalho não estão sujeitos diretamente à ação reguladora da lei mencionada. Isto foi uma argumentação oficial da necessidade do mercado socialista, que garantiria a distribuição de acordo com o trabalho e não com o capital. Restaurando o capitalismo, Gorbatchov e Ieltsin ressuscitaram o mercado capitalista que exigia a propriedade privada, a exploração, o desemprego, o pauperismo dos trabalhadores e a submissão da economia do país ao Fundo Monetário Internacional. Imediatamente depois do falecimento de I.V. Stálin, sua obra “Problemas econômicos do Socialismo na URSS” foi submetida à crítica e retirada do comércio e das bibliotecas. As idéias nela contidas não conseguiram desenvolver-se devidamente. Contudo, os assuntos
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ficaram. A demora ou sua ineficiente solução levou o país à crise e à entrega das posições conquistadas. Se, de acordo com Stalin, a orientação e o índice da qualidade do trabalho da empresa foram a baixa do custo de produção e o crescimento da produtividade do trabalho, nas reformas de Kruschov e Breznev tudo isso foi substituído pelo lucro. Se a baixa do custo de produção e dos preços de venda no atacado e no varejo só era possível com a nova técnica e tecnologia, e com a economia de materiais, matérias-primas, energia e força de trabalho, com a elevação do lucro no índice básico do trabalho nas empresas socialistas foi possível o engano de elevar o preço de um mesmo produto, engano que garante o lucro planejado. Como resultado das reformas de Kruschov e Breznev se fez a orientação da economia não com a baixa do custo e com a elevação da produção de mercadorias de alta qualidade para a melhor satisfação da necessidade dos trabalhadores, mas sim com a obtenção do lucro a todo custo. Tal orientação produziu a demora do desenvolvimento da economia nacional, a queda dos fundos com a desvalorização gradual do rublo. Foi interrompida a baixa anual de preços dos artigos de consumo pessoal e dos produtos comestíveis e começou o processo de encarecimento com o gradual desaparecimento do sortimento barato. Com a abertura ideológica de tais processos negativos iniciou-se a campanha antistalinista, desenvolvida depois do XX Congresso do PCUS e designada oficialmente como a “crítica do culto da 106
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personalidade”. Objetivamente esta, carente da prudência estatal, denegriu a autoridade do socialismo mundial, carreou sérias dificuldades ao movimento operário e comunista: a confrontação social do PCUS com o Partido Comunista da China, e da URSS com a República Popular da China, a ativação dos inimigos do socialismo na Europa Oriental. Esta campanha significava a degeneração pequeno-burguesa do PCUS. Começou a mudança massiva dos quadros do Partido e dos Soviets, a quem acusaram de “dogmatismo”, “stalinismo”, submetendo-os à perseguição e ao terror moral. Agindo neste sentido, Kruschov substituiu todos os secretários dos comitês periféricos regionais e urbanos, e Comitê Central do Partido nas Repúblicas, pelos seus homens, freqüentemente inferiores aos anteriores em capacidade e experiência no trabalho político. Isto logo refletiu no nível não apenas das atividades do partido como também das econômicas. Como ter sido nomeado secretário do Comitê Regional da Sakhalina, um engenheiro especialista na indústria de elaboração de pescados. Isto levou ao fracasso não apenas o trabalho partidário como também a indústria pesqueira. O distrito deixou de cumprir com a pesca e com a produção de pescados. Acontece que a direção política realmente difere da administração econômica e não pode se substituir uma pela outra. Além disso, os especialistas promovidos introduziram na direção partidária o pragmatismo e o abandono de princípios que logo obrigaram a reelaborar e mudar a orientação.
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Sob a orientação de Brezhnev e Gorbatchov, continuou decrescendo o nível do trabalho partidário. As massas de membros do Partido deixaram de ser como eram, ficaram transformadas em alguma base da pirâmide partidária, enquanto a cúpula se afastavae cada vez mais das massas de comunistas, entusiasmando-se pelo fingimento e pela criação de privilégios pessoais para si mesma. Os quadros dirigentes foram promovidos nos seus clãs de acordo com o princípio de fidelidade pessoal. “O partido de todo o povo” ia sujar-se sempre mais pelos pequeno-burgueses, pelos ambiciosos, oportunistas e o lastro sem princípios. Tudo isto desacreditou o PCUS perante os olhos dos trabalhadores. Desde os anos 60 acontecem mudanças na estrutura da sociedade soviética. A anterior tendência dominante da diminuição das diferenças de classe começa a ser substituída pela diferenciação profissional-proprietária e sócio-cultural. Cresce a distância entre os salários altos e baixos, mais do que tudo entre as inteligentes elites e a maioria da massa trabalhadora. Aparece a classe que “volta” relacionada, principalmente, com a chamada economia “negra”, nascida dos elementos capitalistas privados que aceleram a acumulação inicial do capital. Este capital que se voltava para o poder adquiriu, de repente, o caráter criminoso, e às vezes, abertamente, mafioso. As oficinas “negras” e os “laboratórios” que trabalham sob a máscara das empresas estatais, trouxeram a cisão entre os trabalhadores, degeneraram os jovens arrastando-os para os negócios delituosos. Seus 108
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donos criaram a base do suborno para os funcionários estatais, abrindo o caminho para a extorsão e a corrupção que na Rússia atual alcança proporções gigantescas. Ao mesmo tempo, apareceu na produção algo semelhante à “aristocracia operária” que não trabalha nas empresas tanto como quando presidia reuniões, ocupava lugares de “PAN” na União Sindical, recebia salário sem trabalhar, glorificando os sucessos da incapacidade administrativa. No período da Perestroika de Gorbatchov, esses “ativistas” se fizeram fornecedores de “representantes operários” para as organizações restauradoras anti-soviéticas, ajudaram Ieltsin a destruir a produção socialista, e na atualidade “arrancam” com afinco o salário, do governo, dezenas de vezes maior do que o pago aos trabalhadores. Claro está que sem crescimento da produção nem da produtividade do trabalho. Depois do fim dos locais de aluguel de tratores, começou a romper-se o vínculo entre as propriedades cooperativo-kolkosianas e as estatais, minando a aliança da classe operária e o campesinato. Os kolkoses se transformaram em economias que devem se autoabastecer sem contar com o financiamento estatal nem com a sentença técnica. Ocorre a desintegração do campesinato kolkosiano, a separação e o isolamento no seio dos elementos rapinantes e especuladores, capazes de ser farinha do mesmo saco com os do poder e enriquecerem com o trabalho alheio. O crescimento do número de kolkozes tornou-os empresas não rentáveis que vivem das subvenções. Hoje essas pessoas constituem o esqueleto dos chamados “sítios” que, diziam Gorbatchov e Ieltsin, devem alimentar o país. 109
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Mas não está acontecendo o desenvolvimento dos sítios. Muitos donos de sítio entregam as terras aos kolkozes e sovkozes. Acontece o agravamento das contradições entre os kolkosianos. Numa série de regiões, os restauradores armaram os donos de sítios para que, com armas na mão, possam defender suas posses contra os camponeses kolkosianos. Gradualmente, degrada-se a superestrutura política da sociedade. A classe trabalhadora afasta-se pouco a pouco da política governamental e como resultado a política perde sua estabilidade social e está condenada a cambalear seguindo a chamada “linha geral do partido”. Cai o prestígio dos dirigentes políticos, superiores, do país. Cada um deles, depois de Stálin, tratou de atribuir a causa das dificuldades surgidas no país a seus antecessores, a quem eles antes respeitavam, claro que para se beneficiar da campanha anti-stalinista. Brezhnev tinha possibilidade de afastar-se desta política míope, mas não pôde resistir à pressão das elites intelectuais que se apresentaram na metade da década dos 60, contra “o retorno do stalinismo”, em que viam o obstáculo para seu ilimitado enriquecimento. Começou a introdução no aparato partidário-estatal dos anticomunistas potenciais misturados com os ecléticos da estatura do secretário de assuntos ideológicos do CC do PCUS, Vadim Medevedev. Parece que não foram aqui excluídos os “agentes de influência” treinados pela CIA e outros órgãos de serviço especial ocidentais, aos quais - de acordo com Kruchkov, ex-presidente do CSE, preso agora na prisão “Matrovskaia Tishiná” - promoveram gradualmente aos primeiros postos no Partido e no Estado. Os soviéticos registram 110
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como tais “agentes de influência” a Gorbatchov, A N. Iakovlev e uma série de outros arquitetos da Perestroika. Em comparação com o tempo de Stalin, no início da Perestroika o aparato estatal engordou, perdendo pouco a pouco a qualidade de organizador da construção socialista e afastando-se dos trabalhadores. O crescimento de funcionários superou o da quantidade de trabalhadores da produção material, sobretudo na economia rural. Os funcionários burocráticos isolados foram transformados gradualmente numa fachada, cujo grupo inteiro foi corrompido ativamente. Com a ajuda dos funcionários corruptos das ciências, muita gente com grau de doutor em ciência e o título de professor. Exatamente desta camada saíram inúmeros dirigentes da Perestroika, como Volski, Silaev, Luzkov, Jizi e outros. No tempo da Perestroika de Gorbatchov, muitos diretores de fábricas e trabalhadores de soviet e partido se candidataram a negociantes. Ampliaram suas fileiras os representantes da ciência e reitores de escolas superiores que começaram sua carreira nos órgãos do Partido e do Estado. Assim, Gidaskov, ex-secretário do CC do PCUS, e do Comitê Regional de Leningrado, enganando o bureau de seus comitês respectivos, entregou em agosto de 1991 aos “democratas”, 65 milhões de rublos da fazenda do Partido. Agora dirige uma firma inteira, passeia num brilhante “Toyota” e segue o modo de vida de empresário. O mesmo acontece com Jodirev, ex-secretário do Comitê regional do PCUS de Leningrado e prefeito de Leningrado, que atualmente encabeça uma firma mista com finlandeses. Ele conseguiu para si mesmo, apartamentos 111
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com os quuais nem o imperador da Rússia do passado teria sonhado. Exemplos como estes podem ser mostrados sem fim. Citei apenas aqueles que conheço pessoalmente e que participaram das tentativas de expulsar-me do Partido em 1970, pelo desmascaramento da corrupção “de baixo”. Assim, já no início da década de 60, o Estado do Proletariado foi transformado no “de todo o Povo” e os oportunistas encabeçados por Kruschov transformaram o PCUS num “Partido de todo o Povo”. Será necessário espantar-se com o fato de que no impulso da histeria antistalinista este “estado popular” acumulou nas suas fileiras os futuros negociantes e empresários, nacionalistas e cosmopolitas, arquitetos e condutores da Perestroika restauradora, até os monarquistas e neofascistas? As bases sócio-econômicas e políticas do antistalinismo foram reforçadas pela ideologia oportunista. Imediatamente depois do XX Congresso do PCUS, os revisionistas dedicaram-se a corroer as posições fundamentais do marxismo-leninismo. No início, de forma parcial, e no tempo da Perestroika de Gorbatchov, por completo, foi reabilitado o oportunismo. O relatório de Kruschov no Congresso, com a crítica do “culto da personalidade de Stalin”, como agora está claro, foi entregue pelos seus partidários ao CSE, como vazamento de informação à imprensa ocidental, muito antes que os soviéticos o conhecessem e inclusive os líderes dos Partidos Comunistas estrangeiros. Isto serviu de base e começo da Perestroika ideológica da URSS e do PCUS, que levaram a cabo ativamente os oportunistas e ambiciosos nas ciências sociais. 112
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Antes de tudo, sob a bandeira do desenvolvimento e a superação do dogmatismo está sendo destruída a unidade de todas as partes integrantes do marxismoleninismo, acentua-se a estreita especialização destas partes da concepção científica do mundo do proletariado. O marxismo-leninismo nas ciências sociais soviéticas já não aparece como um monolítico, como um “aço fundido de um mesmo pedaço” (V. I. Lênin), que argumenta no filosófico-sociológico, político-econômico e sócio-político. A missão histórico-mundial da classe trabalhadora e de seus aliados, chamados para acabar com toda forma de opressão, exploração, desigualdade social, violência e guerra entre os povos. As ciências marxista-leninistas na União Soviética foram transformadas gradualmente na mistura de “concepção e teoria” artificialmente presas às citações de Marx, Engels e Lênin. Geralmente, estas teorias não tinham nenhuma relação com a cosmovisão proletária científica do marxismo-leninismo. Sua imensa diversidade desorientou as pessoas, dando lugar à atitude crítica a elas como a toda classe de palavras inúteis, insubstanciais, verborragia. A direção de Gorbachov-Iakovlev no PCUS delineou a introdução nas ciências sociais da chamada “idéia social humanitária mundial” , utilizando as teorias de Bernstein, Kautski, Berdiaev e Martov, Trotski e Bukarin, Jilas e Lefebur, Velli Brandt e de seus colegas da Internacional Socialista, o que abriu a porta para transformar o marxismo-leninismo numa concepção de mundo pequenoburguesa anticomunista.
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Os ex-“marxistas” Jasbulatov, Burbulis, Volkogonov, Alexeiev, Stoliarov e outros, educados no anti-stalinismo, dirigiram no início da Perestroika a restauração do capitalismo e a derrocada da URSS. A transição da histeria anti-stalinista à campanha antileninista e ao raivoso anticomunismo foi inteiramente legítima, como claramente vem sendo mostrado nos últimos anos. A atitude conciliatória do CC do PCUS ante o reformismo burguês constituiu a direta traição à classe trabalhadora e aos comunistas. Em tal posição permanece até hoje o jornal “Pravda”, que até pouco tempo era dirigido por Frolov, partidário de Gorbatchov, e agora o dirige G.N. Seleznev, lotando a redação com democratas anticomunistas. Estes últimos negam não apenas a posição fundamental do marxismo-leninismo como ditadura do proletariado, mas também a objetividade das classes e da luta classista, já reconhecidas no início do séc. XIX. Quero dizer algo que tem relação com a ditadura do proletariado, que Lênin chamou “pedra de toque” para comprovar a autenticidade do espírito revolucionário proletário. Lênin considerou como um dos méritos básicos de Marx e Engels, a condução do reconhecimento da luta de classes pela ditadura proletária. Stalin manteve-se firme nesta posição. Exatamente esta parte da doutrina marxista-leninista foi submetida especialmente, ao furioso ataque dos políticos e ideólogos burgueses e terminou desaparecendo do programa de uma série de partidos comunistas.
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Claro que o assunto não está no termo e sim no conteúdo da noção. Qualquer governo constitui a ditadura de uma ou outra classe que possui o poder econômico. Contudo, não devem confundir o conteúdo do poder (ou seja, os interesses de quem o Estado classista realiza e defende) e a forma, o método e o regime de seu exercício. Assim, o fascismo constitui a forma terrorista da ditadura burguesa. Aparece quando o capital necessita renunciar à forma democrática do poder estatal e passar ao regime da direta e cruel opressão dos trabalhadores. A ditadura do proletariado, como é conhecida, exerce o poder estatal da classe trabalhadora e de seus aliados e pode adquirir as mais diversas formas de regime do poder. Os trabalhadores têm interesse de que este método de realização de seu poder seja mais democrático. Mas isto, como testemunha a História, nem sempre depende deles. A oposição da burguesia pode exigir um regime mais rigoroso do poder. A revolução deve saber defender-se ou não servirá para nada. Os ideólogos e oportunistas burgueses confundem totalmente o conteúdo da ditadura do proletariado como essência classista de seu poder estatal, com a forma e o método de sua realização. Fazem isso para que seja possível identificar o socialismo com o fascismo e desorientar os trabalhadores. Neste caminho estiveram a social-democracia e o eurocomunismo. Até alguns comunistas não vêem as armadilhas nisto. Há pouco, um dos líderes do Partido Comunista da Índia, confirmando no “Pravda” a necessidade da ditadura do proletariado no seu país, considerou possível a pura democracia nos países 115
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desenvolvidos da Europa. Mas não devem contrapor a ditadura e a democracia, que são o conteúdo do poder. Elas podem contrapor-se apenas como a forma, o método e o regime de realização do poder desta ou daquela classe. Eis aqui a essência! Os oportunistas do PCUS tratam de predicar sobre a paz civil no período em que a contra-revolução ataca as conquistas socialistas no país, proibiu o PCUS e comete crimes sangrentos nos chamados “pontos ardentes”. Nos últimos dias, em Pridnestrovie (Moldávia), as mulheres deixaram seus filhos com os anciãos e foram combater para deter os nacionalistas burgueses moldavos, que se apressavam em anexar a Moldávia à Romênia. A propósito, os nacionalistas moldavos estão armados com fuzis automáticos de produção belga. Vale lembrar que na Europa os comerciantes de armas - que jogam combustível na nossa fogueira de choques entre as nações - compartilharão com os nacionalistas criminosos a responsabilidade pelo sangue e pelas lágrimas de gente inocente. Cedo ou tarde, mas compartilharão. Nosso partido de bolcheviques também sofre perdas. Há duas semanas atrás, em Pridnestrovie, caiu em combate o nosso camarada, jornalista bolchevique, cossaco de Koban, o voluntário Evgeni Berlizov, que fez muitos trabalhos para dissipar entre os cossacos a mentira do anti-stalinismo. Na prisão de Vilna, os verdugos do “democrata” Landsberguis batem e torturam nosso camarada Alexander Smotkin, bolchevique lituano, um dos redatores do jornal “Interdvizenie Litvi”, que editou regularmente durante dois anos as nossas matérias. 116
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Agora estamos reunindo dinheiro para pagar um advogado. Também há outras vítimas e mártires da contra-revolução, verdadeiros filhos do povo trabalhador, que lutaram até o fim defendendo seus interesses. Nós, os comunistas soviéticos, consideramos que todo mundo deve saber que o desenvolvimento dos acontecimentos no nosso país, agora se inclina à reação e ao fascismo. Deter isso é o dever de todas as pessoas de boa vontade. Observamos as premissas e as raízes do antistalinismo na vida econômica, política, partidarista e social, que trouxeram a degeneração social-democrata do PCUS e possibilitaram a transição do Partido, criado por Lênin no vazio político, ao florescimento do anticomunismo, à transformação da tendência nacionalista num nacionalismo selvagem e chauvinismo que lançaram os soviéticos num redemoinho de pobreza e sofrimentos. Resumindo o que foi dito, mostramos como as premissas econômicas do anti-stalinismo na URSS serviram antes de tudo à incapacidade de direção de Kruschov, Brezhnev e Gorbatchov, de superar as dificuldades objetivas no crescimento da produção socialista, e na introdução dos elementos capitalistas na economia socialista, que a transformaram numa economia consumidora e não efetiva. No domínio social, as raízes do anti-stalinismo consistiram no surgimento da “sombria” neoburguesia, seu gradual crescimento; o surgimento nas fileiras dos trabalhadores da cidade e do campo, das camadas parasitas que exploram os trabalhos destes; a expansão dos aparatos burocráticos do governo, e a 117
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separação das elites intelectuais das massas populares. Nesta esfera política o fundamento do anti-stalinismo radica na separação da classe trabalhadora da direção do país, no enfraquecimento do poder estatal dos operários e dos camponeses e na degeneração oportunista da direção partidária. Na política internacional, reside no desprezo do conteúdo classista da coexistência pacífica dos países com distintos sistemas sócioeconômicos. No campo da ideologia, como a premissa do anti-stalinismo serviu à incapacidade do PCUS de desenvolver o marxismoleninismo nas novas condições históricas. A experiência de três ou quatro décadas de história soviética demonstra claramente que o oportunismo, principal inimigo da direção stalinista, prospera inevitável e legalmente para uma aberta restauração do capitalismo. A histeria anti-stalinista exerceu o papel de biombo para o reforço da campanha antileninista, e o anticomunismo no seu conjunto depois foi utilizado pela contra-revolução para derrotar o socialismo, mas também para dissolver a poderosa e única potência soviética. No movimento comunista internacional, o anti-stalinismo foi o cavalo de tróia que levou à ruína e à degeneração partidos da excomunidade dos estados socialistas que imitavam cegamente a linha do PCUS. Na URSS, um número cada vez maior de pessoas começa a compreender isto, volta a atenção para as obras de I.V. Stalin, cria associações com seu nome e publica o jornal “Pela Pátria, por Stalin!”. Para terminar, quero sublinhar que as deduções de Stálin, que num tempo pareciam até suspeitas, hoje são 118
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percebidas como predições. Entre elas, por exemplo, pode ser citada sua posição sobre a possibilidade do agravamento da luta classista na URSS, à medida do avanço do socialismo. Antes isto parecia irreal. Os atuais cataclismos sociais no território da URSS confirmam realmente a conclusão de Stálin. Outro exemplo, a previsão de Stálin de que o sistema Yalta-Potsdam de relações internacionais não se manteria por mais de 50 anos. A restauração capitalista numa série de países socialistas da Europa Oriental e as tendências ao reexame das fronteiras pós-guerra, evidenciam a capacidade de longo alcance da predição de Stalin. Também, exponho a verificação da predição de Stálin, advertindo que depois de sua morte a geração de bolcheviques poderá ser acusada de muitas coisas das quais não foi culpada. Assim aconteceu. Contudo, disse Stálin, o vento da História varrerá inevitavelmente de nossas tumbas, todo o palavreado, as calúnias, e deixará claras as verdades. O Partido Comunista Bolchevique de toda a União (PCBTU) não mede forças para fazer soprar o quanto antes esse vento limpador da História, que varrerá não apenas a mentira, a hipocrisia e a traição nascidas por causa da restauração do capitalismo, mas também mostrará a todo mundo quem é quem na atual grande e brusca virada da História do século XX. Penso que logo muita gente que aprecia a paz e o socialismo se unirá a nós, que nos esforçamos ontem e hoje pela verdade da História e pela justa causa dos trabalhadores que hoje defendem na URSS seu glorioso passado revolucionário e o futuro comunista autenticamente humanitário para o qual convergem inevitavelmente, todos os caminhos da 119
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civilização mundial. Tomara que nós, comunistas, avancemos juntos por este caminho histórico-mundial. O PCBTU considera que chegou a hora do renascimento da Internacional Comunista.
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O AVILTAMENTO DO MARXISMO PELOS OPORTUNISTAS V. I. Lenin in ‘O Estado e a Revolução’ A questão da atitude do Estado em relação à revolução social e da revolução social relativamente ao Estado preocupou muito pouco os teóricos e os publicistas mais destacados da II Internacional (1889–1914), tal como, de resto, o problema da revolução em geral. Mas o mais característico no desenvolvimento gradual do oportunismo, que conduziu ao fracasso da II Internacional em 1914, é que, mesmo quando este problema era posto diretamente, faziam-se esforços para o rodear ou para o ignorar totalmente. De uma maneira geral, pode-se dizer que a tendência para iludir o problema da atitude da revolução proletária relativamente ao Estado, tendência vantajosa para o oportunismo que ela alimentava, conduziu à deformação do marxismo e ao seu total aviltamento. A fim de caracterizar, mesmo resumidamente, este triste processo, consideremos os teóricos mais em destaque do marxismo: Plékhanov e Kautsky.
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Plékhanov consagrou à atitude do anarquismo em relação ao socialismo uma brochura especial: Anarquismo e Socialismo, editada em alemão em 1894. Plékhanov conseguiu fazer a habilidade de tratar este tema eludindo completamente o problema mais atual, mais premente e, politicamente, mais essencial na luta contra o anarquismo, a saber: a atitude da revolução relativamente ao Estado e o problema do Estado em geral! A sua brochura compreende duas partes: uma parte histórico-literária, encerrando uma documentação preciosa acerca da evolução das idéias de Stirner, de Proudhon, etc., e outra parte completamente filistina contém argumentos do maior mau gosto sobre a impossibilidade de distinguir um anarquista de um bandido. Esta combinação de temas é arquidivertida e arquicaracterística de toda a atividade de Plékhanov na véspera da revolução e durante o período revolucionário na Rússia. Foi precisamente assim que Plékhanov apareceu de 1905 a 1917: meio doutrinário, meio filisteu, arrastando-se em política, sob as diretivas da burguesia. Vimos que Marx e Engels, na sua polêmica com os anarquistas, puseram sobretudo em relevo, com o maior cuidado, as suas próprias idéias acerca da atitude da revolução relativamente ao Estado. Quando publicou, em 1891, a Crítica do Programa de Gotha de Marx, Engels escreveu: “Nós [isto é, Engels e Marx] estávamos nesse momento dois anos somente após o Congresso de Haia da 122
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Internacional (1) (a primeira), em plena batalha contra Bakunine e os anarquistas.” Os anarquistas tentaram precisamente apresentar a Comuna de Paris como uma coisa, por assim dizer, “deles”, que confirmava a sua doutrina. Mas não compreenderam nada dos ensinamentos da Comuna nem da análise que Marx fez dela. Acerca das questões políticas concretas: será preciso destruir a velha máquina de Estado? e pelo que deve ser substituída? o anarquismo não forneceu nada que se relaciona, mesmo aproximadamente, com a verdade. Mas tratar do tema “anarquismo e socialismo” eludindo totalmente a questão do Estado sem constatar todo o desenvolvimento do marxismo antes e depois de Comuna era cair inevitavelmente no oportunismo. Porque o que convém acima de tudo ao oportunismo é precisamente que as duas questões que acabamos de indicar não sejam postas de maneira nenhuma. É já uma vitória para o oportunismo.
Polêmica de Kautsky com os oportunistas A literatura russa possui sem dúvida nenhuma infinitamente mais traduções das obras de Kautsky do que qualquer outra língua. Não é sem razão que certos sociaisdemocratas alemães dizem gracejando que Kautsky é mais lido na Rússia do que na Alemanha. (Seja dito entre parêntesis, há, neste gracejo, uma verdade histórica 123
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bastante mais profunda da qual não suspeitavam aqueles que o fizeram, que é: tendo encomendado, em 1905, uma quantidade extremamente elevada, sem precedentes, das melhores obras da melhor literatura social-democrata do mundo e tendo recebido um número invulgar nos outros países de traduções e edições dessas obras, os operários russos, por assim dizer, transplantaram num ritmo acelerado, sobre o solo jovem do nosso movimento proletário, a experiência considerável de um país vizinho mais avançado.) Kautsky é conhecido entre nós pela sua exposição popular do marxismo e sobretudo pela sua polêmica contra os oportunistas, com Bernstein à cabeça. Há, no entanto, um fato quase ignorado, mas que não se pode passar sem referir, se nos propomos a tarefa de analisar a maneira como foi possível Kautsky ter resvalado para esta confusão de idéias incrivelmente vergonhosa e para a defesa do social-chauvinismo no decurso da grande crise de 1914 – 1915. Este fato é que antes de se elevar contra os representantes mais em voga do oportunismo em França (Millerand e Jaurés) e na Alemanha (Bernstein), Kautsky tinha manifestado hesitações muito grandes. O jornal marxista Zaria,(2) que foi publicado em Estugarda de 1901 a 1902 e que defendia as idéias proletárias revolucionárias, teve de polemizar com Kautsky e classificar como “elástica” a resolução evasiva e conciliadora relativa aos oportunistas que ele tinha proposto ao Congresso socialista internacional de Paris em 1900(3). Foram publicadas na Alemanha cartas de Kautsky que revelam hesitações em nada menores antes de ter começado a campanha contra Bernstein. 124
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Coisa infinitamente mais grave ainda: até na sua polêmica com os oportunistas, na sua maneira de pôr e de tratar o problema, constatamos agora, ao estudar a história da recente traição de Kautsky em relação ao marxismo, um desvio constante para o oportunismo, precisamente na questão do Estado. Tomemos a primeira obra importante de Kautsky contra o oportunismo, o seu livro Bernstein e o Programa Social-Democrata. Kautsky refuta minuciosamente Bernstein. Mas vejamos o que há aqui de característico. Nas suas Premissas do socialismo, obra que o tornou célebre à maneira de Erostrato, Bernstein acusa o marxismo de blanquismo (acusação retomada mil vezes, desde então, pelos oportunistas e pelos burgueses liberais da Rússia contra os representantes do marxismo revolucionário, os bolcheviques). Aqui, Bernstein detémse especialmente na Guerra Civil em França de Marx; tenta, sem o conseguir de maneira nenhuma, como vimos, identificar o ponto de vista de Marx acerca dos ensinamentos da Comuna com o de Proudhon. O que chama sobretudo a atenção de Bernstein é a conclusão que Marx sublinhou no prefácio de 1872 ao Manifesto Comunista, em que diz: “A classe operária não pode contentar-se com apoderar-se da máquina de Estado tal como existe e fazê-la funcionar por sua própria conta.” Esta fórmula “agrada” de tal modo a Bernstein, que ele a repete pelo menos três vezes no seu livro, interpretando-a num sentido completamente deformado, oportunista. 125
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Como vimos, Marx quer dizer que a classe operária deve destruir, demolir, fazer explodir (Sprengung, explosão – a expressão é de Engels) toda a máquina de Estado. Ora, segundo Bernstein, Marx teria com estas palavras advertido a classe operária contra um ardor demasiado revolucionário quando da tomada do poder. Seria difícil imaginar deformação mais grosseira, mais escandalosa, do pensamento de Marx. E como é que Kautsky procedeu na sua refutação tão minuciosa desta “bernsteiniada”? Evitou analisar em toda a sua profundidade a deformação infligida, neste ponto, ao marxismo, pelos oportunistas. Reproduziu a passagem citada atrás do prefácio de Engels à Guerra Civil de Marx afirmando que, segundo Marx, a classe operária não se pode contentar com apoderar-se da máquina de Estado tal como existe, mas que em geral pode apropriar-se dela, e não disse mais nada sobre o assunto. Que Bernstein tenha atribuído a Marx exatamente o contrário do seu verdadeiro pensamento e que, desde 1852, Marx tenha designado à revolução proletária a tarefa de “destruir” a máquina de Estado – de tudo isto Kautsky não diz uma palavra. Daí resulta que o que distingue fundamentalmente o marxismo do oportunismo na questão da tarefas da revolução proletária se encontra escamoteado por Kautsky! “Nós podemos com toda a tranqüilidade – escreve Kautsky contra Bernstein – deixar ao futuro o cuidado de 126
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resolver o problema da ditadura do proletariado” (p. 172 da ed. Alemã). Isto não é uma polêmica contra Bernstein; é, no fundo, uma concessão a este último, uma capitulação perante o oportunismo; porque, de momento, os oportunistas nada mais pedem que “deixar com toda a tranqüilidade ao futuro” os problemas capitais relativos às tarefas da revolução proletária. De 1852 a 1891, durante quarenta anos, Marx e Engels ensinaram ao proletariado que devia destruir a máquina de Estado. E Kautsky, em 1899, perante a traição total ao marxismo por parte dos oportunistas acerca deste ponto, escamoteia o problema de saber se é necessário destruir esta máquina, substituindo-a pela das formas concretas desta demolição; entrincheira-se atrás desta “incontestável” (e estéril) verdade filistina de não podermos conhecer antecipadamente essas formas concretas! Um abismo separa Marx e Kautsky quanto à atitude de um e de outro relativamente à tarefa do partido proletário, que é preparar a classe operária para a revolução. Tomemos a obra seguinte, mais amadurecida, de Kautsky, igualmente dedicada, numa medida notável, à refutação dos erros do oportunismo. É a sua brochura sobre a Revolução Social . O autor tomou especialmente como assunto os problemas da “revolução proletária” e do “regime proletário”. Desenvolve uma quantidade de idéias 127
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muito preciosas, mas omite justamente o problema do Estado. Nesta brochura aparece sempre o problema da conquista do poder de Estado, sem mais nada; o que significa que o autor escolheu uma fórmula que é uma concessão aos oportunistas, visto que admite a conquista do poder sem a destruição da máquina de Estado. Kautsky ressuscita em 1902 precisamente aquilo que, em 1872, Marx declarava “desatualizado” no programa do Manifesto Comunista. A brochura dedica um capítulo particular às “formas e às armas da revolução social”. Aí se trata da greve política de massa, da guerra civil e dos “instrumentos de domínio de um grande Estado moderno, tais como a burocracia e o exército”; mas nenhuma palavra acerca dos ensinamentos que a Comuna já fornecera aos operários. Não foi com certeza por acaso que Engels acautelava, mais do que ninguém, os socialistas alemães contra a veneração “supersticiosa” do Estado. Kautsky apresenta a coisa do seguinte modo: o proletariado vitorioso “realizará o programa democrático”; segue-se a exposição dos artigos deste programa. Quanto ao que 1871 trouxe de novo relativamente à substituição da democracia burguesa pela democracia proletária, nem uma palavra. Kautsky refugia-se em banalidades de aparência “séria”, como esta: “É evidente que não chegaremos ao poder nas condições do regime atual. A própria revolução pressupõe lutas muito longas, de uma grande profundidade, que terão tido tempo para modificar a nossa estrutura política e social atual.” 128
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Isto “é evidente”, de certo, assim como é verdade também que os cavalos comem aveia e que o Volga deságua no mar Cáspio. E apenas é de lastimar que, com a ajuda de uma frase sonora e oca sobre a luta “de uma grande profundidade”, se iluda uma questão vital para o proletariado revolucionário, a de saber em que consiste a “profundidade” da sua revolução em relação ao Estado e à democracia, em contraste com as revoluções anteriores, não proletárias. Ao iludir esta questão, Kautsky faz na realidade uma concessão ao oportunismo acerca deste ponto capital; declara-lhe uma guerra terrível em palavras, sublinha a importância da “idéia de revolução” (mas o que pode valer esta “idéia” quando se tem medo de propagar entre os operários os ensinamentos concretos da revolução?), ou então diz: “o idealismo revolucionário antes de mais nada”, ou então proclama que hoje os operários ingleses não são “mais do que pequeno-burgueses”. “Na sociedade socialista – escreve Kautsky – podem coexistir ... as formas mais variadas de empresas: burocráticas (??), “trade” – unionistas, cooperativas, individuais... há, por exemplo, empresas que não podem dispensar uma organização burocrática (?), tal como os caminhos de ferro. Aqui, a organização democrática pode revestir o aspecto seguinte: os operários elegeriam delegados que formariam uma espécie de Parlamento tendo por missão estabelecer o regime do trabalho e fiscalizar o funcionamento do aparelho burocrático. Outras explorações podem ser confiadas aos sindicatos operários; outras ainda podem ser fundadas sobre os princípios da 129
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cooperação” (pp. 148 e 115 da tradução russa, publicada em Genebra em 1903). Esta perspectiva é errada: marca um recuo em relação aos esclarecimentos que Marx e Engels davam entre 1870 e 1880, inspirando-se nos ensinamentos da Comuna. No que diz respeito à necessidade de uma organização supostamente “burocrática”, os caminhos de ferro não se distinguem rigorosamente em nada de todas as empresas da grande indústria mecanizada em geral, de qualquer fábrica, de um grande armazém, de uma grande exploração agrícola capitalista. Em todas essas empresas, a técnica prescreve uma disciplina absolutamente rigorosa, a maior pontualidade na realização da parte de trabalho designada a cada um, sob pena de paralisação de toda a empresa ou de deterioração dos mecanismos ou do produto fabricado. Em todas essas empresas, evidentemente, os operários “elegerão delegados que formarão uma espécie de Parlamento” . Mas o ponto importante aqui é que esta “espécie de Parlamento” não será um Parlamento no sentido das instituições parlamentares burguesas. O ponto importante aqui é que esta “espécie de Parlamento” não se contentará com “estabelecer o regime do trabalho e fiscalizar o funcionamento do aparelho burocrático”, como imagina Kautsky cujo pensamento não ultrapassa o quadro do parlamentarismo burguês. É certo que na sociedade socialista uma “espécie de Parlamento” composto por deputados operários “estabelecerá o regime do trabalho e fiscalizará o funcionamento" do “aparelho”, mas esse 130
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aparelho não será “burocrático”. Os operários, depois de terem conquistado o poder político, destruirão o velho aparelho burocrático, demoli-lo-ão até aos seus fundamentos, não deixarão dele pedra sobre pedra e substituí-lo-ão por um novo aparelho compreendendo esses mesmos operários e empregados. Para impedir estes de se tornarem burocratas, tomar-se-ão imediatamente medidas minuciosamente estudadas por Marx e Engels: 1. Elegibilidade, mas também revogabilidade em qualquer momento; 2. Um salário que não será superior ao de um operário; 3. Adoção imediata de medidas a fim de que todos desempenhem funções de controle e de fiscalização, que todos sejam durante algum tempo ‘burocratas’ e que, por esse fato, ninguém se possa tornar “burocrata”. Kautsky não refletiu nem um pouco no sentido destas palavras de Marx: “A Comuna não era um organismo parlamentar, mas um corpo ativo, simultaneamente executivo e legislativo”. Kautsky não compreendeu absolutamente nada da diferença entre o parlamentarismo burguês – que une a democracia (não para o povo) à burocracia (contra o povo) – e o democratismo proletário, que tomará imediatamente medidas para cortar o burocratismo pela raiz e que será capaz de as aplicar até ao fim, até a destruição completa da burocracia, até o estabelecimento completo de uma democracia para o povo. Kautsky deu aqui provas, como tantos outros, de um “respeito supersticioso” em relação ao Estado, de uma “veneração supersticiosa” pela burocracia. 131
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Passemos à última e melhor obra de Kautsky contra os oportunistas, à sua brochura O Caminho do Poder (parece que não foi editado em russo, porque apareceu em 1909, no auge da reação na Rússia). Esta brochura marca um grande progresso, pois não trata nem do programa revolucionário em geral, como a brochura de 1899 dirigida contra Bernstein, nem das tarefas da revolução social independentemente da época do seu advento, como uma brochura A Revolução Social de 1902, mas das condições concretas que nos obrigam a reconhecer que a “era das revoluções” começa. O autor fala explicitamente do agravamento das contradições de classe em geral e do imperialismo, o qual desempenha a este respeito um papel particularmente importante. Depois do “período revolucionário de 1879 a 1881” para a Europa Ocidental, o ano de 1905 inaugura um período análogo para o Leste. A guerra mundial aproxima-se com uma rapidez terrível. “Já não seria questão, para o proletariado, de uma revolução prematura.” “Entramos no período revolucionário.” “A era revolucionária começa.” Declarações perfeitamente claras. Esta brochura de Kautsky permite comparar o que a social-democracia alemã prometia ser antes da guerra imperialista com aquilo em que caiu (e Kautsky com ela) depois da guerra ter rebentado. “A situação atual, escrevia Kautsky na brochura analisada, comporta um perígo: o de facilmente nos poderem tomar (a nós, sociais democratas alemães) por mais moderados do que o que na realidade somos.” Tornou-se evidente que o Partido Social-Democrata 132
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Alemão era na realidade infinitamente mais moderado e mais oportunista do que aquilo que parecia! Isto é tanto mais característico que depois de ter proclamado tão categoricamente que a era das revoluções estava aberta, Kautsky, numa brochura especialmente consagrada, como ele próprio diz, à análise do problema da “revolução política” , deixa de novo completamente de parte a questão do Estado. Todas estas tentativas para eludir a questão, todos esses silêncios e reticências tiveram como resultado inevitável esta ligação completa ao oportunismo de que vamos falar a seguir. A social-democracia alemã parecia proclamar pela boca de Kautsky: conservo as minhas concepções revolucionárias (1899); reconheço particularmente que a revolução social do proletariado é inevitável (1902); reconheço que uma nova era de revoluções está aberta (1909). Mas a partir do momento que se põe o problema das tarefas da revolução proletária em relação ao Estado, recuo em relação ao que Marx dizia já em 1852 (1912). Foi assim que a questão foi posta diretamente na polêmica de Kautsky com Pannekoek.
Polêmica de Kautsky com Pannekoek
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Pannekoek, adversário de Kautsky, era um dos representantes da tendência “radical de esquerda” que contava nas suas fileiras Rosa Luxemburgo, Karl Radek e outros. Preconizando a tática revolucionária, estavam de acordo em reconhecer que Kautsky adotava uma posição “centrista”, desprovida de princípios, e oscilava entre o marxismo e o oportunismo. A exatidão desta apreciação foi plenamente demonstrada pela guerra, quando a tendência dita “do centro” (chamada erradamente marxista) ou “kautskista”, se revelou em toda a sua vergonhosa indigência. No seu artigo “As ações de massas e a revolução” (Neue Zeit, 1912, XXX, 2), que trata, entre outros, do problema do Estado, Pannekoek definia a posição de Kautsky como um “radicalismo passivo”, como uma “teoria da espera inativa”. “Kautsky não quer ver o processo da revolução” (p. 616). Colocando assim a questão, Pannekoek abordou o assunto que nos interessa: as tarefas da revolução proletária relativamente ao Estado. “A luta do proletariado – escrevia - não é simplesmente uma luta contra a burguesia pelo poder de Estado; é também uma luta contra o poder de Estado... A revolução proletária consiste em aniquilar os instrumentos da força do Estado e em eliminá-los (Auflösung, literalmente: dissolver) com os instrumentos da força do proletariado... A luta só cessa no momento em que o resultado final é atingido, no momento em que a organização do Estado estiver completamente destruída.
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A organização da maioria prova a sua superioridade ao aniquilar a organização da minoria dominante.” (p. 548). A fórmula de que Pannekoek revestiu o seu pensamento sofre de gravíssimo defeito. Contudo, a idéia é clara, e é interessante ver como Kautsky procurou refutá-la. “Até aqui – escreve – a oposição entre os sociais – democratas e os anarquistas consistia no fato de os primeiros quererem conquistar o poder de Estado e os segundos destruí-lo. Pannekoek quer uma coisa e outra” (p. 724). A exposição do Pannekoek carece de clareza e de precisão (sem contar os outros defeitos do seu artigo que não se relacionam com o assunto tratado); mas Kautsky agarrou a questão de princípio levantada por Pannekoek e, nesta capital questão de princípio, abandona completamente as posições do marxismo para passar inteiramente para o oportunismo. A distinção que estabelece entre sociais-democratas e anarquistas é completamente errada; o marxismo é definitivamente deformado e aviltado. Eis o que distingue os marxistas dos anarquistas: 1.º Os primeiros, propondo-se suprimir completamente o Estado, não crêem a coisa realizável senão depois da supressão das classes pela revolução socialista, como resultado da instauração do socialismo que leva ao desaparecimento do Estado; os segundos querem a supressão completa do Estado de um dia para o outro, sem compreender as condições que a tornam possível. 2.º 135
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Os primeiros proclamam a necessidade para o proletariado, depois de ter conquistado o poder político, de destruir inteiramente a velha máquina de Estado e de a substituir por uma nova, que consiste na organização dos operários armados, segundo o modelo da Comuna; os segundos, lutando pela destruição da máquina de Estado, só muito confusamente concebem aquilo por que o proletariado a substituirá e como usará o poder revolucionário; os anarquista vão até ao ponto de rejeitar a utilização de poder de Estado pelo proletariado revolucionário, até ao ponto de rejeitar a ditadura revolucionária. 3.º Os primeiros querem que o proletariado se prepare para a revolução utilizando o Estado moderno; os anarquistas são contra esta maneira de proceder. Nesta discussão é Pannekoek que representa o marxismo contra Kautsky, porque Marx ensinou precisamente que o proletariado não pode contentar-se com conquistar o poder de Estado (no sentido em que o velho aparelho de Estado não deve passar simplesmente para outras mãos), mas que ele deve destruir, demolir esse aparelho e substituí-lo por um novo. Kautsky troca o marxismo pelo oportunismo, porque escamoteia por completo precisamente esta destruição da máquina de Estado, absolutamente inaceitável para os oportunistas, e deixa assim a estes últimos uma escapatória que lhes permite interpretar a “conquista” como uma simples aquisição da maioria. A fim de dissimular esta deformação do marxismo, Kautsky age como bom glosador: trata-se de uma 136
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“citação” do próprio Marx. Marx afirmava em 1850 a necessidade de uma “centralização decidida da força entre as mãos do Estado”. E Kautsky logo triunfa: não quereria Pannekoek destruir o “centralismo”? Simples malabarismo, que faz lembrar o de Bernstein identificando o marxismo com o proudhonismo nas respectivas idéias acerca de federação considerada preferível ao centralismo. A “citação” de Kautsky surge como um cabelo na sopa. O centralismo é possível tanto com a velha máquina de Estado como com a nova. Se os operários unirem livremente as suas forças armadas, isso será centralismo, mas este assentará sobre a “destruição completa” do aparelho de Estado centralista, do exército permanente, da polícia, da burocracia. Kautsky age de uma maneira completamente desonesta ao eludir as considerações bem conhecidas de Marx e de Engels acerca da Comuna para ir desenterrar um citação que não tem nada a ver com a questão. “...Talvez Pannekoek quisesse suprimir as funções públicas dos funcionários? – Prossegue Kautsky.– Mas nós não podemos dispensar os funcionários nem na organização do Partido nem na dos sindicatos, sem falar das administrações do Estado. O nosso programa não pede a supressão dos funcionários do Estado, mas a sua eleição pelo povo... Trata-se agora, para nós, não de saber que forma revestirá o aparelho administrativo no “Estado futuro”, mas de saber se a nossa luta política destruirá (Auflöst, literalmente: dissolverá) o poder do Estado, a n t e s d e o t e r m o s c o n q u i s t a d o [sublinhado por 137
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Kautsky] . Qual ministério com os seus funcionários que poderia ser destruído? Enumera os Ministérios da Instrução Pública, da Justiça, das Finanças, da Guerra. Não, nenhum dos Ministérios atuais será suprimido pela nossa luta política contra o governo... Repito-o, para evitar mal–entendidos: não se trata de saber que forma a social-democracia vitoriosa dará ao “Estado futuro”, tratase de saber como é que a nossa oposição transformará o Estado atual” (p. 725). É uma verdadeira escamoteação. Pannekoek punha o problema preciso da revolução. O título do seu artigo e as passagens citadas dizem-no claramente. Saltando para o problema da “oposição”, Kautsky limita-se a substituir o ponto de vista revolucionário pelo ponto de vista oportunista. O seu argumento limita-se a isto: agora, a oposição; depois da conquista do poder, pensaremos. A revolução desaparece! É exatamente o que reclamavam os oportunistas. Não se trata nem da oposição nem da luta política em geral, mas precisamente da revolução. A revolução consiste nisto: o proletariado destrói o “aparelho administrativo” e todo o aparelho de Estado para o substituir por um novo, que é constituído pelos operários armados. Kautsky mostra uma “veneração supersticiosa” pelos “ministérios” mas porque é que não poderiam ser substituídos, digamos, por comissões de especialistas junto dos Sovietes soberanos e todo- poderosos dos deputados operários e soldados? O essencial não é saber se os “ministérios” subsistirão ou se serão substituídos por “comissões de 138
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especialistas” ou por outros organismos: isto não tem absolutamente nenhuma importância. O essencial é saber se a velha máquina de Estado (ligada à burguesia por milhares de laços e toda penetrada de rotina e de conservadorismo) será mantida ou se será destruída e substituída por uma nova. A revolução não deve conduzir a que a nova classe comande e governe com a ajuda da velha máquina de Estado, mas a que, depois de a ter destruído, comande e governe com a ajuda de uma máquina nova: é esta idéia fundamental do marxismo que Kautsky escamoteia ou que não compreendeu inteiramente. A sua interrogação relativa aos funcionários mostra com toda a evidência que não compreendeu nem os ensinamentos da Comuna nem a doutrina de Marx. “Nós não dispensamos os funcionários nem na organização do Partido nem na dos sindicatos...” Não dispensamos os funcionários em regime capitalista sob o domínio da burguesia. O proletariado é oprimido, as massas trabalhadoras são escravizadas pelo capitalismo. Em regime capitalista, a democracia é apertada, comprimida, truncada, mutilada por este ambiente que cria escravatura assalariada, a necessidade e a miséria das massas. É por esta razão, e só por esta razão, que nas nossas organizações políticas e sindicais os funcionários são corrompidos (ou mais exatamente, têm tendência para o ser) pelo ambiente capitalista e manifestam uma tendência para se transformar em burocratas, isto é, personagens privilegiadas, desligadas das massas e colocadas acima delas. 139
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Nisto reside a essência do burocratismo. E em quanto os capitalistas não forem expropriados, enquanto a burguesia não for derrubada, é inevitável uma certa “burocratização” dos próprios funcionários do proletariado. Kautsky diz isto em resumo: visto que substituirão funcionários públicos eleitos, haverá portanto também em regime socialista funcionários e uma burocracia! É isso precisamente que é falso. Precisamente com o exemplo da Comuna, Marx mostrou que os titulares das funções públicas, em regime socialista, deixam de ser “burocratas”, “funcionários” à medida que, sem falar da sua elegibilidade, se estabelece além disso a sua revogabilidade em qualquer momento, se reduz além disso o seu vencimento a um salário médio de operário e que além de tudo isso se substituem os organismos parlamentares por corpos “ativos”, “simultaneamente executivos e legislativos.” No fundo, toda a argumentação de Kautsky contra Pannekoek, e sobretudo este argumento admirável de que nas organizações sindicais, assim como nas do Partido, não podemos dispensar os funcionários, atestam que Kautsky retoma os velhos “argumentos” de Bernstein contra o marxismo em geral. No seu livro de renegado As Premissas do Socialismo, Bernstein entra em guerra contra a idéia de democracia “primitiva”, contra aquilo que chama “democratismo doutrinário”: mandatos imperativos, funcionários não retribuídos, representação central sem poderes, etc. A fim de provar a carência desta democracia “primitiva” , Bernstein invoca a experiência 140
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das “trade-unions” inglesas, interpretadas pelo casal Webb. No decurso dos setenta anos do seu desenvolvimento, as “trade-unions” que teriam supostamente evoluído “em plena liberdade” (p.137 da ed. Alemã), ter-se-iam convencido da ineficácia da democracia primitiva e tê-la-iam substituído pelo habitual parlamentarismo aliado ao burocratismo. De fato as “trade-unions” não evoluíram “em plena liberdade”, mas em plena escravatura capitalista, na qual , com toda a certeza, “não se poderiam evitar” as concessões ao mal reinante, à violência, à mentira, à eliminação dos pobres da administração “superior”. Em regime socialista, muitos dos aspectos da democracia “primitiva” reviverão necessariamente, porque, pela primeira vez na história das sociedades civilizadas, a massa da população se elevará a uma participação autônoma, não só nos votos e nas eleições, mas também na administração diária. Em um regime socialista, toda a gente governará alternadamente e se habituará depressa a que ninguém governe. Com o seu genial espírito de análise e de crítica, Marx viu nas medidas práticas da Comuna esta viragem que os oportunistas tanto temem e não querem reconhecer, por covardia e porque se recusam a romper definitivamente com a burguesia; que os anarquistas não querem ver, quer porque se apressem demasiado, quer porque em geral não compreendam as condições nas quais se operam as grandes transformações sociais. “Não se deve sequer pensar em destruir a velha máquina de Estado: como é que poderíamos passar sem os ministérios 141
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e os funcionários?” – argumenta o oportunista imbuído de filistinismo e que, no fundo, longe de acreditar na revolução e no seu poder criador, tem um medo mortal dela (como têm medo dela os nossos mencheviques e os nossos socialistas - revolucionários). “Deve-se pensar unicamente na destruição da velha máquina de Estado; é inútil aprofundar os ensinamentos concretos das revoluções proletárias anteriores e analisar por que e como substituir aquilo que se destrói”, argumenta o anarquista (o melhor dos anarquistas, naturalmente e não aquele que, atrás dos Kropotkine e consortes, se arrasta na esteira da burguesia); é por isso que o anarquista acaba na tática do desespero, e não numa atividade revolucionária, concreta, intrépida, inexorável, mas que tenha em conta ao mesmo tempo as condições práticas do movimento de massas. Marx ensina-nos a evitar esses dois erros: ensinanos a demonstrar a maior audácia na destruição total da velha máquina de Estado; ensina-nos, por outro lado, a pôr o problema de uma forma concreta: a Comuna pôde, em algumas semanas, começar a construir uma máquina de Estado nova, proletária, procedendo desta ou daquela maneira, tomando as medidas atrás citadas tendentes a assegurar uma maior democracia e a extirpar o burocratismo. Aprendamos pois com os “communards” a audácia revolucionária, tentemos ver nas suas medidas práticas um esboço das medidas praticamente urgentes e imediatamente realizáveis; é assim que conseguiremos, seguindo esta via, destruir completamente o burocratismo. 142
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O que garante a possibilidade desta destruição é que o socialismo reduzirá o dia de trabalho, elevará as massas a uma vida nova, colocará a maior parte da população em condições que permitam a todos, sem exceção, desempenhar as “funções públicas”. E é o que conduzirá à extinção completa de todo o Estado em geral. “... O papel da greve de massas – prossegue Kautsky – não pode nunca ser o de destruir o poder de Estado, mas somente de levar o governo a fazer concessões sobre uma dada questão, ou de substituir um governo hostil ao proletariado por um governo que vá ao encontro das necessidades do proletariado... Mas nunca e em caso nenhum isto [isto é a vitória do proletariado sobre o governo hostil] pode conduzir à destruição do poder de estado; dela não pode resultar mais do que um certo deslocamento da relação das forças do no interior do poder de Estado... o objetivo da nossa luta política permanece, portanto, como no passado, a conquista do poder de Estado pela aquisição da maioria no Parlamento e a transformação deste último em senhor do governo.” (pp. 726, 727 e 732). Eis aqui bem patente o oportunismo mais puro e mais chão; é renunciar de fato à revolução, embora reconhecendo-a em palavras. O pensamento de Kautsky, não indo além de um “governo que vá ao encontro das necessidades do proletariado”, é um passo atrás na direção do filistinismo em relação a 1847, quando o Manifesto Comunista proclamava “a organização do proletariado em classe dominante.”
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Kautsky ficará reduzido a realizar a “unidade”, que acarinha com os Scheidemann, os Plékhanov, os Vandervelde, todos unânimes em lutar por um governo “que vá ao encontro das necessidades do proletariado. ” Quanto a nós, romperemos com esses renegados do socialismo e lutaremos pela destruição de toda a velha máquina de Estado, a fim de que o proletariado armado se torne ele próprio o governo. São “duas grandes diferenças.” Kautsky permanecerá na agradável companhia dos Legien e dos David, dos Plékhanov, dos Potressov, dos Tseretéli e dos Tchernov, que não querem mais do que lutar por um “deslocamento da relação das forças no interior do poder de Estado”, pela “aquisição da maioria no parlamento e a transformação deste último em senhor absoluto do governo”, objetivo dos mais nobres em que tudo pode ser aceito pelos oportunistas, em que nada sai do quadro da república burguesa parlamentar. Quanto a nós, romperemos com os oportunistas; e o proletariado consciente estará todo conosco na luta, não por um “deslocamento da relação das forças”, mas pelo derrubamento da burguesia, pela destruição do parlamentarismo burguês, por uma república democrática do tipo da Comuna ou uma república dos sovietes dos deputados operários e soldados, pela ditadura revolucionária do proletariado. *
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O socialismo internacional compreende correntes que se situam mais à direita do que a de Kautsky: os Cadernos 144
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Socialistas Mensais (4 ) na Alemanha (Legien, David, Kolbe e muitos outros, incluindo os escandinavos Stauning e Branting); os jauressistas e Vandervelde em França e na Bélgica; Turati, Trèves e os outros representantes da aça direita do partido italiano; os fabianos e os “independentes” (o Independent Labour Party que, na realidade, esteve sempre na dependência dos liberais) em Inglaterra, etc... Todos estes senhores, que desempenham um papel considerável e muitas vezes preponderante na atividade parlamentar e nas publicações do partido, rejeitam abertamente a ditadura do proletariado e praticam um oportunismo não mascarado. Para estes senhores, a “ditadura” do proletariado “contradiz” a democracia! No fundo nada de importante os diferencia dos democratas pequenoburgueses. Por conseguinte, estamos no direito de concluir que a II Internacional, na imensa maioria dos seus representantes oficiais, caiu inteiramente no oportunismo. A experiência da Comuna foi não só esquecida, mas deformada. Longe de inculcar nas massas operárias a convicção que se aproxima o momento em que é necessário agir e destruir a velha máquina de Estado substituindo-a por uma nova e fazendo assim do seu domínio político a base da transformação socialista da sociedade – sugeria – se - lhes exatamente o contrário, e a “conquista do poder” era apresentada de tal maneira que mil brechas ficavam abertas ao oportunismo. A deformação e a conjura do silêncio à volta do problema da atitude da revolução proletária em relação ao 145
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Estado não podiam deixar de desempenhar um papel considerável no momento em que os Estados, apetrechados com um aparelho militar reforçado em conseqüência da competição imperialista, se tornaram monstros belicosos exterminando milhões de homens afim de decidir quem, da Inglaterra ou da Alemanha, do capital financeiro inglês ou do capital financeiro alemão reinará sobre o mundo.
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Notas: (1) No Congresso da I Internacional teve lugar em Haia de 2 a 7 de setembro de 1872 com a participação de 65 delegados; Marx e Engels assistiram à ele. Na ordem do dia figuravam particularmente as seguintes questões: 1) os direitos do conselho geral; 2) a atividade política do proletariado. Os trabalhos desenrolaram-se numa atmosfera de luta aguda contra os bakuninistas. O Congresso decidiu alargar os direitos do Conselho geral. No que respeita à “atividade política do proletariado”, declarou na sua decisão que o proletariado devia constituir o seu próprio partido político para assegurar o triunfo da revolução social e que a sua missão era a conquista do poder político. Neste Congresso, Bakunine e Guillaume foram excluídos da Internacional como desorganizadores e fundadores de um partido novo, antiproletário. (2) A Zaria (A Aurora): revista científica e política marxista, publicada em 1901-1902 pela redação da Iskra em Estugarda. Saíram quatro números (três fascículos) n.º 1, em abril de 1901 (23 de março segundo o novo estilo); n.º 2-3, em dezembro de 1901; n.º 4 em agosto de 1902. Os objetivos da revista foram definidos no projeto de declaração da Iskra e da Zaria, redigido por Lênin na Rússia. (Veja Oeuvres, Paris – Moscovo, t 4, pp. 360-361). Em 1902, quando surgiram desacordos e conflitos no seio da redação da Iskra e da Zaria, Plékhanov propôs separar a revista do jornal (reservando para si a redação da Zaria ), mas, tendo sido rejeitada esta proposta, a redação destes órgãos permaneceu comum. A Zaria criticava o revisionismo russo e internacional e defendia as bases teóricas do marxismo. (3) Trata-se do Quinto Congresso Socialista da II Internacional , que teve lugar de 23 a 27 de setembro de 1900, em Paris. A delegação russa estava representada por 24 delegados, dos quais treze eram sociais-democratas. Dos seis mandatos que o grupo “Libertação do trabalho” detinha , quatro tinham sido 147
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recebidos por intermédio de Lênin ( três pelo grupo Uraliano “Social-Democrata”, um pela organização de Ufa). No Congresso, a delegação dos sociais-democratas cindiu-se: a maioria com Krichevski à cabeça e a minoria dirigida por Plékhanov. Quando da discussão da questão principal “A conquista do poder político e as uniões com os partidos burgueses”, levantada pela entrada de Millerand no governo contra-revolucionário Waldeck-Rousseau, a maioria votou na resolução moderada de Kautsky, enquanto que a minoria com Plékhanov, Axelrod, Zassulitch, Koltsov, votava a resolução de Jules Guesde que condenava o Millerandismo. O Congresso de Paris tomou a decisão de formar um Gabinete Socialista Internacional (B.S.I) com representantes dos partidos socialistas de todos os países cujo secretário residiria em Bruxelas. Por decisão do Congresso, os representantes no B.S.I deviam ser eleitos pelas delegações no Congresso e confirmados pelas organizações de cada país; antes desta confirmação, a sua delegação permanecia provisória. (4) Cadernos Socialistas Mensais: revista, principal órgão dos oportunistas alemães e um dos órgãos do oportunismo internacional. Editada em Berlim de 1897 a 1933. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918), a revista adotou uma posição social-chauvinista.
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OS 120 ANOS DO NASCIMENTO DO DIRIGENTE COMUNISTA JORGE DIMITROV “Os atuais governos dos países capitalistas são provisórios. O verdadeiro senhor do mundo é o proletariado” J o r g e M i k h a i lo v i t c h D i m i t r o v n a s c e u e m 1 8 d e j u n h o d e 1 8 8 2 e m R a d o m i r , B u lg á r i a , e f o i u m d o s m a i s i m p o r t a n te t e s d i r i g e n t es e s c om o m u n i s t as a s d o s é c u lo lo X X . D e f a m í li a p r o le t á r i a , D i m i t r o v c o m e ç o u a t r a ba b a l h a r a i n d a j o v e m , c o m o g r á f i co co . A o s 1 5 an o s j á d e s e n v o lv i a a t i v i d a d e s p o lí t i c a s e lo g o t o r n o u - s e d i r i g e n t e da d a U n i ão ã o d e S i n d i ca c a t o s d e B u lg lg á r i a . A o s 2 2 a n o s , f o i e le i t o p a r a o C o m i t ê C e n t r a l d o P a r t i d o C o m u n i s t a d a B u lg l g á r i a . G r a ça ç a s a s u a at a t u a çã çã o j u n t o a o s t r a ba b a l h a do d o r e s , J o r g e D i m i t r o v f o i p a r la l a m e n t ar ar n a B u lg l g á r i a d e 1 9 1 3 a t é 1 9 2 3 , d e s t a ca c a n do d o - s e po po r u m a at a t u a çã ç ã o co c o m b a ti t i v a n o s e n t i d o de de t r a n s f o r m a r o par par l amen to num a tr t r ibun a política política em defes a dos t r a b al a l h a do d o r e s b ú lg lg a r o s .
Em junho de 1923, a burguesia búlgara promoveu um golpe de Estado e derrubou o governo constitucional democrático, estabelecendo uma ditadura fascista no país. A partir daí, o Partido Comunista sofreu uma dura perseguição, seus dirigentes foram presos e muitos, assassinados. O Partido Comunista Búlgaro Búlgaro passa, então, a atuar na clandestinidade e, em setembro de 1923, 149
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organiza um levante popular antifascista que, apesar de contar com apoio de muitos trabalhadores, foi derrotado pelas forças reacionárias. O governo fascista decreta a sentença de morte de Dimitrov e ele é obrigado a sair do país. Segue para a Iugoslávia, onde assume a direção do jornal do Partido, o Diário Operário. Operário. Nesse período, Dimitrov é eleito para o comitê executivo da III Internacional Comunista e enviado à Alemanha como observador da Internacional, já que, depois da capitulação dos partidos burgueses e pequenoburgueses, o partido comunista alemão foi a última trincheira de resistência ao nazismo. Portanto, quando Hitler subiu ao poder, Jorge Dimitrov se encontrava na Alemanha.
Desmascarando Hitler e suas mentiras No dia 9 de março de 1933, em Berlim, Dimitrov foi preso pela Gestapo (Geheime Staatspolizei, policia secreta sec reta do estado nazista) juntamente com seus camaradas B. Popov e W. Tanev, acusados de terem realizado o incêndio do Reichstag (parlamento alemão), ocorrido em 27 de fevereiro de 1933, no que ficou conhecido como o Processo de Leipzig. Dimitrov fez sua própria defesa, dispensando o advogado designado pelo tribunal e, inspirado na defesa de Karl Marx em Colônia, saiu da posição de acusado para a de acusador, dando um exemplo para todos os 150
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revolucionários do mundo de como o revolucionário deve fazer sua defesa e comportar-se perante um tribunal fascista e burguês. Contando com um grande movimento de massas desencadeado em todo o mundo pela sua liberdade e graças à sua firmeza, Dimitrov conseguiu provar ao Tribunal a sua inocência e acusou o regime de Hitler de ser o verdadeiro responsável pelo incêndio do parlamento alemão. Absolvido, foi libertado em 19 de fevereiro de 1934. Muitos anos mais tarde, no Tribunal Internacional de Nurembergue, o general nazista Goering contou a verdade sobre o incêndio do Reichstag, confessando que a ação fora realizada por soldados da SS (Schutzstaffel, a polícia militar de elite do Partido Nazista) à paisana, e por por criminosos comuns ligados a ela. Algemado, alquebrado de forças, torturado, Dimitrov indicou ao mundo como é possível, nas prisões e nos tribunais, lutar sem conciliar, e enterrou a idéia de que o homem preso está incapaz de lutar. Sua história é repleta de ensinamentos e exemplos para os revolucionários de todo o mundo. Após sua libertação, foi para a União Soviética e assumiu o cargo de Secretário Geral da Internacional Comunista, de 1935 até 1943. Voltando à Bulgária, após a vitória sobre o nazi-fascismo nazi- fascismo na II Guerra Mundial, assumiu o cargo de chefe de governo da República Popular Búlgara, de 1946 até sua morte, em 1949. Dimitrov entregou sua vida à causa dos operários, não só de seu país, mas de todo o mundo, e sempre esteve na linha de frente da defesa dos princípios revolucionários 151
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e da luta dos trabalhadores pela construção da sociedade socialista. Em sua vida, seguiu fielmente suas próprias palavras: “É preciso estar sempre pronto a fazer, a todo preço, tudo que possa servir verdadeiramente à classe operária”. “O verdadeiro senhor do mundo mundo é o proletariado”
Discurso de encerramento do VII Congresso Mundial da Internacional Comunista, pronunciado por Dimitrov em 20 de agosto de 1935. O VII Congresso Mundial da Internacional Comunista, o congresso dos comunistas de todos os países e de todos os continentes do mundo, termina seus trabalhos. Qual o balanço, que representa o congresso para o nosso movimento, para a classe operária mundial, para os trabalhadores de todos os países? Este congresso foi o congresso do triunfo completo da unidade entre o proletariado da União Soviética S oviética – o país em que o socialismo venceu – e o proletariado do mundo capitalista em luta pela libertação. A vitória do socialismo na União Soviética, vitória que interessa à história mundial, provoca em todos os países capitalistas um poderoso movimento na direção do socialismo. Esta vitória firmou a obra de paz entre os povos, aumentando a importância internacional da União Soviética e o seu papel 152
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de poderoso reduto dos trabalhadores na sua luta contra o Capital, contra a reação e o fascismo. Fortifica a União Soviética enquanto base da revolução proletária mundial. Põe em movimento no mundo inteiro não só os operários que se voltam cada vez mais para o comunismo, mas também os milhões de camponeses e pequenos trabalhadores das cidades, uma parte considerável dos intelectuais, os povos escravizados das colônias; enche-os de entusiasmo pela luta, aumenta a sua união à grande pátria de todos os trabalhadores, intensifica a sua resolução de apoiar e defender o estado proletário contra todos os seus inimigos. Esta vitória do socialismo aumenta a confiança do proletariado internacional nas suas próprias forças e na real possibilidade de obter a sua própria vitória, confiança que se torna, ela própria, uma imensa força em ação contra a dominação da burguesia. É na união das forças de combate do proletariado e das massas trabalhadoras dos países capitalistas que reside a formidável perspectiva de um próximo desmoronamento do capitalismo e a garantia da vitória do socialismo no mundo inteiro. Nosso congresso lançou os fundamentos de uma vasta mobilização das forças de todos os trabalhadores contra o capitalismo como nunca aconteceu na história da luta da classe operária. O congresso coloca diante do proletariado internacional, como a mais importante tarefa imediata, a união das suas forças no domínio político e da 153
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organização, e a liquidação do isolamento a que o conduz a política socialdemocrata de colaboração de classe com a burguesia: a união dos trabalhadores em volta da classe operária numa vasta Frente Popular contra a ofensiva do capital e da reação do fascismo e a ameaça de guerra em cada país e na arena internacional. Não inventamos de modo algum esta tarefa. Foi a própria experiência do movimento operário mundial que a pôs em evidência, e, sobretudo, a experiência do proletariado na França. O mérito do Partido Comunista Francês é ter compreendido o que é necessário fazer hoje, não ter escutado os sectários que assediam o Partido e dificultam a realização da frente única de luta contra o fascismo, mas, pelo contrário, ter preparado corajosamente, à maneira bolchevique, mediante um pacto de ação comum com o Partido Socialista, a Frente Popular Antifascista em via de formação. Por este ato, que responde aos interesses vitais de todos os trabalhadores, os operários franceses, comunistas e socialistas, colocam novamente o movimento operário francês em primeiro lugar, à cabeça da Europa capitalista; demonstram que são dignos descendentes dos partidários da Comuna e os herdeiros dos gloriosos ensinamentos da Comuna de Paris. Nós, comunistas, somos um partido de classe, um partido proletário. Mas estamos prontos, como vanguarda do proletariado, a organizar ações comuns do proletariado e de outras classes trabalhadoras interessadas na luta contra o fascismo. Nós, comunistas, somos um partido
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revolucionário, mas estamos prontos para ações comuns com os outros partidos em luta contra o fascismo.
Fortalecer as posições do proletariado O objetivo final para nós, comunistas, não é o mesmo dessas classes e desses partidos, mas estamos prontos ao mesmo tempo para lutar em comum pelas tarefas imediatas cuja realização enfraquece as posições do fascismo e fortifica as posições do proletariado. Se estivermos prontos para fazer tudo isto é porque queremos, nos países de democracia burguesa, barrar o caminho à reação e à ofensiva do Capital e do fascismo, impedir a supressão das liberdades democráticas burguesas, prevenir o esmagamento terrorista do proletariado, da ala revolucionária do campesinato e dos intelectuais. Nosso congresso é o congresso da luta da manutenção da paz contra a ameaça de guerra imperialista. Esta luta, compreendemo-la hoje de uma nova maneira. Nosso congresso recusa resolutamente a atitude fatalista em relação às guerras; mas é igualmente verdade que as massas trabalhadoras, pelas suas ações de luta, podem impedir a guerra imperialista. O mundo hoje já não é o que era em 1914.
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Atualmente, numa sexta parte do globo, estabeleceu-se um poderoso Estado proletário, que se apóia na força material do socialismo vitorioso. Graças à sua inteligente política stalinista de paz, a União Soviética fez mais uma vez abortar os planos agressivos dos promotores de guerra. Atualmente, na luta contra a guerra, o proletariado mundial não dispõe apenas da arma que constituía sua ação de massa, como em 1914. Hoje a luta de massa da classe operária internacional contra a guerra conjuga-se com o ascendente do Estado Soviético e com o seu poderoso Exército Vermelho, principal guardião da paz. Hoje, a classe operária internacional não se encontra, como em 1914, sob a influência exclusiva da socialdemocracia coligada com a burguesia. Hoje, existe um partido comunista mundial: a Internacional Comunista. Hoje, as massas de operários socialdemocráticas viram-se para a União Soviética e para sua política de paz, para a frente única com os comunistas. Hoje, os povos dos países coloniais e semicoloniais não consideram a causa da libertação como uma causa desesperada. Pelo contrário, passam cada vez mais à luta resoluta contra os opressores imperialistas. A melhor prova é fornecida pela Revolução Soviética da China e pelas proezas heróicas do Exército Vermelho do povo chinês. O ódio dos povos contra a guerra torna-se cada vez mais profundo e intenso. A burguesia, que lança os trabalhadores para o abismo das guerras imperialistas, 156
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arrisca aí a cabeça. Atualmente, vemos levantar-se pela causa da manutenção da paz não só a classe operária, o campesinato e os outros trabalhadores, mas também as nações oprimidas e os povos fracos, cuja independência está ameaçada por novas guerras. Até mesmo determinados grandes Estados capitalistas, temendo as perdas que poderiam sofrer na seqüência de uma nova partilha do mundo, estão interessados, na presente etapa, em evitar a guerra. Daí a possibilidade de uma vastíssima frente única da classe operária, de todos os trabalhadores e dos povos inteiros contra a ameaça de guerra imperialista. Apoiandose na política de paz da União Soviética e no desejo de paz de milhões e milhões de trabalhadores, Nosso congresso mostrou a perspectiva de desenvolvimento de uma vasta frente antibelicista, não só à vanguarda comunista, mas também a toda classe operária internacional e aos povos de todos os países. Do grau de realização e de atividade dessa frente mundial dependerá a questão de saber se, num dado futuro mais próximo, os promotores das guerras fascistas e imperialistas conseguirão provocar o incêndio de uma nova guerra imperialista, ou se as suas mãos criminosas serão cortadas pelo machado da poderosa frente de luta contra a guerra.
Congresso da unidade da classe operária 157
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Nosso congresso é o congresso da unidade da classe operária, o congresso da luta pela frente única proletária. Não temos ilusões sobre a possibilidade de ultrapassar facilmente as dificuldades que a ação reacionária dos líderes socialdemocratas oporá à tarefa de realização da frente única proletária. Mas não temos medo dessas dificuldades porque, lutando pela frente única, servimos melhor aos interesses do proletariado, pois a frente única proletária é a via segura para derrubar o fascismo e o regime capitalista, para conjurar as guerras imperialistas. Levantamos bem alto, neste congresso, a bandeira da unidade sindical. Os comunistas não defendem a todo custo a existência independente dos sindicatos vermelhos. Mas os comunistas querem unidade sindical com base na luta de classes e na supressão, de uma vez por todas, do estado de coisas em que os partidários mais conseqüentes e mais resolutos da unidade sindical e da luta de classe são expulsos dos sindicatos da Internacional de Amsterdã. Sabemos que nem todos os militantes dos sindicatos que fazem parte da Internacional sindical vermelha compreenderam e assimilaram ainda esta linha do congresso. Existem ainda sobrevivências de presunção sectária, que nos será necessário fazer desaparecer dos militantes para aplicar firmemente a linha do congresso. Mas, essa linha, realizá-la-emos, custe o que custar, e descobriremos uma linguagem comum com os nossos irmãos de classe, os nossos camaradas de luta, os operários que aderem hoje à Federação Sindical de Amsterdã. 158
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Neste congresso, adotamos a orientação da criação do partido único de massa da classe operária, da abolição da cisão política do proletariado, causada pela política social-democrata de abolição de classe. A unidade política da classe operária não é, para nós, uma manobra, mas o problema do futuro de todo o movimento operário. Se encontrassem entre nós umas pessoas que encarassem a formação da unidade política da classe operária como uma manobra, lutaríamos contra elas como se luta contra pessoas que prejudicam a classe operária. É precisamente porque encaramos esta questão com uma gravidade e uma sinceridade profundas, ditadas pelos interesses do proletariado, que pomos determinadas condições de princípio na base de tal unidade. Essas condições de princípio não foram inventadas por nós; são os frutos dos sofrimentos do proletariado no decorrer da sua luta; respondem igualmente à vontade de milhões de operários socialdemocratas, vontade imanente da lição das derrotas sofridas. Essas contradições de princípio foram verificadas pela experiência do conjunto do movimento operário revolucionário. E, pelo fato de o nosso congresso se ter desenrolado sob o signo da unidade proletária, não foi apenas o congresso da vanguarda comunista; foi o congresso de toda a classe operária internacional que aspira ardentemente à unidade da luta sindical e política. Embora não tenham assistido ao nosso congresso delegados dos operários socialdemocratas; embora não tenha havido aqui delegados sem partido; embora os operários alistados à força nas organizações fascistas não 159
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tenham sido representados, o congresso não falou apenas para os comunistas, mas também para esses milhões de operários; expressou os pensamentos e os sentimentos da imensa maioria da classe operária. E se as organizações operárias das diversas tendências procedessem ao exame verdadeiramente livre das nossas decisões em face dos proletários do mundo inteiro, os operários defenderiam, não duvidamos, as resoluções que vocês votaram com uma tão grande unanimidade Além disso, essa circunstância obriga-nos, tanto mais a nós, comunistas, a fazer das decisões de nosso congresso o bem de toda a classe operária. Não é suficiente votar a favor dessas resoluções. Não é suficiente popularizá-las entre os membros dos partidos comunistas. Queremos que os operários dos partidos da Segunda Internacional e da Federação Internacional de Amsterdã, tal como os operários aderentes às organizações de outras tendências políticas, estudem estas resoluções conosco; tragam suas propostas e suas emendas práticas; que meditem conosco sobre a melhor maneira de aplicá-las na vida; que, lado a lado conosco, as realizem de fato. Nosso congresso foi o congresso da nova orientação tática da Internacional Comunista. Mantendo-se firmemente na posição sólida do marxismo-leninismo confirmada por toda a experiência do movimento operário internacional e, antes de tudo, pela vitória da Grande Revolução de Outubro, nosso congresso reviu, no mesmo espírito e com a ajuda do método do marxismo-leninismo, a tática da Internacional Comunista em função da modificada situação mundial. 160
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É a nós operários e não aos parasitas sociais e aos ociosos, que pertence o mundo, o mundo construído pelas mãos operárias. O interesse da causa do comunismo exige não só uma luta abstrata, mas também uma luta concreta contra os desvios, uma resposta dada a tempo e de forma decisiva às tendências nocivas que abrem caminho, a correção a tempo dos erros cometidos. Substituir a necessária luta concreta contra os desvios por uma espécie de desporto, fazer a caça aos desvios aos desviacionistas imaginários, é entregar-se a um sobrelanço nocivo e inadmissível. Na vida prática de nossos partidos, é preciso ajudar de todas as maneiras o desenvolvimento da iniciativa na colocação de novos problemas, favorecer o exame aprofundado das questões relativas à atividade do partido e não qualificar apressadamente de desvio a menor dúvida ou a menor observação crítica feita por um membro do partido a respeito das tarefas práticas do movimento. É preciso agir de modo a que o comunista que cometeu um erro possa corrigi-lo na prática e censurar severamente aqueles que persistirem nos seus erros e que desorganizam o partido. Lutando pela unidade da classe operária, lutaremos ao mesmo tempo com uma energia e uma intransigência cada vez maiores pela unidade interna dos nossos partidos. Não pode haver lugar, nas nossas fileiras, para frações, para tentativas de fração. Quem quer que procure violar a unidade de ferro das nossas fileiras por uma ação fracionista aprenderá por si próprio o que significa a disciplina bolchevique que sempre nos ensinaram Lênin e 161
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Stálin. O Partido acima de tudo! Manter a unidade bolchevique do partido como a pupila dos olhos, tal a primeira lei suprema do bolchevismo! Nosso congresso é o congresso da autocrítica bolchevique e do reforço da direção da Internacional Comunista e de suas seções. Não temos receio de assinalar abertamente os erros, as fraquezas e os defeitos que se manifestem nas nossas fileiras, porque somos um partido revolucionário que sabe que só pode desenvolver-se, crescer e cumprir as suas tarefas na condição de se desembaraçar de tudo o que dificulta o seu desenvolvimento como partido revolucionário. Na sua resolução sobre o relatório de atividade do Comitê Executivo, o Congresso decidiu concentrar, para o nosso movimento, a direção nas próprias seções. Daí a obrigação de reforçar por todos os esforços o trabalho de formação e educação dos quadros, tal como o trabalho de consolidação dos partidos comunistas com a ajuda de verdadeiros dirigentes bolcheviques, a fim de que os partidos, fortalecidos pelas decisões dos congressos da Internacional Comunista e das Assembléias Plenárias do seu Comitê Executivo, possam, no momento das bruscas viragens dos acontecimentos, encontrar com rapidez e por si próprios uma solução justa para as tarefas políticas e táticas do movimento comunista. Ao eleger os organismos dirigentes, o congresso esforçou-se por criar uma direção da Internacional Comunista, composta por pessoas que tornaram suas, não por sentimento de disciplina mas como conseqüência de uma profunda convicção, as novas 162
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diretivas e decisões do congresso, pessoas prontas e aptas a transformá-las em atos, com firmeza. É igualmente necessário assegurar em cada país a justa aplicação das decisões adotadas pelo congresso; isso dependerá, em primeiro lugar, da comprovação, da repartição e da orientação adequadas dos quadros. Sabemos que esta tarefa não é fácil. É preciso não perder de vista que uma parte de nossos quadros foi formada pela experiência política de massa bolchevique, mas principalmente na base da propaganda geral. Devemos fazer de tudo para ajudar nossos quadros a refazeremse, a reeducarem-se no novo espírito, no espírito das decisões do congresso. Mas, onde se concluir que os odres velhos não valem nada para um vinho novo, será preciso tirar as conclusões que se impõem: não deitar ou deixar estragar o vinho nos odres velhos, mas substituir os odres velhos por novos. Eliminamos, de propósito, dos relatórios tal como das resoluções do congresso as frases sonoras sobre as perspectivas revolucionárias. Mas não é tivéssemos razões para apreciar, de um amaneira menos otimistas que antes, a maneira de andar do desenvolvimento revolucionário, é porque queremos desembaraçar os nossos partidos de qualquer tendência para substituir a atividade bolchevique por frases revolucionárias ou discussões estéreis sobre a apreciação da perspectiva. Combatendo toda a orientação para a espontaneidade, vemos e fazemos entrar na linha de conta o processo de desenvolvimento da revolução, não como observadores, mas como participantes ativos deste processo. Como 163
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partido de ação revolucionária, realizando no interesse da revolução as tarefas colocadas em cada etapa do movimento, tarefas que correspondem ás condições de cada etapa, levando sensatamente, em linha de conta o nível político das grandes massas trabalhadoras, aceleramos o melhor que podemos a formação das condições subjetivas necessárias para a vitória da revolução proletária. “É preciso aceitar as coisas como elas são, dizia Marx, quer dizer, defender os interesses revolucionários de uma que corresponda às nossas condições” 1. Está aí o essencial! Nunca devemos esquecer! É necessário levar as massas as decisões do congresso mundial, explicá-las às massas, aplicá-las como diretivas para ação das massas, numa palavra torna-las carne e sangue de milhões da trabalhadores! É necessário reforçar em todo o lado, o máximo possível, a iniciativa dos operários, lá onde se encontram, a iniciativa das organizações de base dos partidos comunistas e do movimento operário, na aplicação destas decisões. Ao partirem daqui, os representantes do proletariado revolucionário, devem levar para os seus países a firme convicção de que nós, comunistas, somos responsáveis pelo futuro da classe operária, do movimento operário, do destino de cada povo, do destino de toda humanidade trabalhadora. 164
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É a nós operários e não aos parasitas sociais e aos ociosos, que pertence o mundo, o mundo construído pelas mãos operárias. Os atuais governantes do mundo capitalista são homens provisórios. O proletariado é o verdadeiro senhor do mundo, o senhor do futuro. E deve tomar posse dos seus direitos históricos, tomar em mãos as rédeas do poder em cada país, no mundo inteiro. Somos discípulos de Marx e de Engels, de Lênin e de Stálin. Devemos ser dignos dos nossos grandes mestres. Viva a unidade da classe operária! Viva o Comunista!
VII
Congresso
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Mundial
Internacional
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CARTA AOS OPERÁRIOS DOS ESTADOS UNIDOS V.I. Lenin, in Pravda, nº 178, 22 de agosto de 1918, Obras completas de V. I. Lênin, 5ª edição. Em 20 de agosto de 1918, logo após o triunfo da Revolução Bolchevique, em outubro de 1917, Lênin, em carta aos operários dos EUA, denuncia vigorosamente as manobras dos governos imperialistas americano e anglo-francês para destruir o novo Estado Operário e Camponês. Forçado a assinar o acordo de paz de Brest, Lênin desmascara a trama, responsabiliza esses governos pela tentativa de arrastar a Rússia de volta à guerra imperialista e não só afirma a inevitabilidade da revolução socialista, mas, também, a invencibilidade da revolução proletária mundial, a única capaz de salvar a humanidade e a cultura que se afundam.
Camaradas! Um bolchevique russo que participou na revolução de 1905 e depois passou muitos anos no vosso país, propôs-me encarregar-se da entrega da minha carta para vós (1). Aceitei a sua proposta com prazer tanto maior quanto é certo que os proletários revolucionários norteamericanos são chamados precisamente agora a desempenhar um papel especialmente importante como inimigos irreconciliáveis do imperialismo norte-americano, o mais recente, o mais forte, o último a participar na matança mundial dos povos por causa da partilha dos lucros dos capitalistas. Precisamente agora, os multimilionários norte-americanos, esses modernos proprietários de escravos, abriram uma página especialmente trágica na história sangrenta do sangrento 166
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imperialismo, tendo dado o seu acordo – não importa se direto ou indireto, aberto ou hipocritamente velado – à campanha armada das feras anglo-japonesas com o objetivo de estrangular a primeira república socialista. A história da América moderna, civilizada, foi aberta por uma das grandes guerras, verdadeiramente libertadoras, verdadeiramente revolucionárias, que foram tão poucas entre a quantidade enorme de guerras de rapina provocadas, como a atual guerra imperialista, por uma luta entre reis, latifundiários e capitalistas para partilhar as terras conquistadas ou os lucros saqueados. Foi uma guerra do povo norte-americano contra os bandidos ingleses que oprimiam a América e a mantinham na escravidão colonial, do mesmo modo que esses vampiros “civilizados” oprimem e mantêm ainda hoje centenas de milhões de pessoas na Índia, no Egito e em todo os confins do mundo. Passaram-se desde então cerca de 150 anos. A civilização burguesa deu todos os seus esplêndidos frutos. Os EUA ocuparam o primeiro lugar entre os países livres e cultos no que diz respeito ao nível de desenvolvimento das forças produtivas do trabalho humano coletivo, no que diz respeito ao emprego de máquinas e de todas as maravilhas da técnica moderna. Ao mesmo tempo, os EUA tornaram-se um dos primeiros países quanto à profundidade do abismo entre um punhado de multimilionários insolentes e que se afogam na imundície e no luxo, por um lado, e milhões de trabalhadores que vivem constantemente na fronteira da miséria por outro. O povo norte-americano, que deu ao mundo um exemplo 167
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de guerra revolucionária contra a escravidão feudal, encontrou-se na escravidão moderna, capitalista, assalariada, dum punhado de multimilionários, encontrouse a desempenhar o papel de carrasco assalariado que em 1898 estrangulou, para a satisfação de ricos canalhas, as Filipinas, sob o pretexto da sua s ua “libertação” (2), e em 1918 estrangula a República Socialista da Rússia, sob o pretexto da sua “defesa” contra os alemães. Mas os quatro anos do massacre imperialista dos povos não passaram em vão. O engano do povo pelos miseráveis de ambos os grupos de bandidos, tanto do inglês como do alemão, foi desmascarado até ao fim pelos fatos incontestáveis e evidentes. Os quatro anos da guerra mostraram, na base dos seus resultados, a lei geral do capitalismo aplicada à guerra entre bandidos por causa da partilha da sua presa: quem era mais rico e mais forte, ganhou e pilhou mais do que ninguém; quem era era mais fraco, foi saqueado, dilacerado, esmagado e estrangulado até ao fim. Os bandidos do imperialismo inglês foram mais fortes do que ninguém quanto à quantidade dos seus “escravos coloniais”. Os capitalistas ingleses não perderam nem um só palmo da “sua” (isto é, pilhada por eles no decurso de séculos) terra, e apoderaram-se de todas as colônias alemães na África, apoderaram-se da Mesopotâmia e da Palestina, estrangularam a Grécia e começaram a pilhar a Rússia. Os bandidos do imperialismo alemão foram mais fortes do que ninguém quanto à organização organizaç ão e à disciplina das “suas” tropas, mas mais fracos quanto às colônias. 168
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Eles perderam todas as colônias, mas saquearam metade da Europa, estrangularam o maior número de países pequenos e de povos fracos. Que grande guerra “libertadora” de ambos os os lados! Que bem “defenderam a pátria” os bandidos de ambos os grupos, os capitalistas anglo-franceses e alemães, em conjunto com os seus lacaios, os sociais-chauvinistas, isto é, os socialistas que se passaram para o lado da “sua” burguesia! Os multimilionários norte-americanos eram talvez os mais ricos, encontravam-se na situação geográfica mais segura. Ganharam mais do que ninguém. Converteram todos os países, mesmo os mais ricos, em seus tributários. Roubaram centenas de milhares de milhões de dólares. E em cada dólar vêem-se marcas de imundície: dos sujos acordos secretos entre a Inglaterra e os seus “aliados”, entre a Alemanha e os seus vassalos, dos acordos acordos sobre a partilha da presa roubada, dos acordos sobre a “ajuda” mútua na opressão dos operários e na perseguição aos socialistas-internacionalistas. Em cada dólar há uma mancha de imundície dos “lucrativos” fornecimentos militares, que em cada país enriqueciam os ricos e arruinavam os pobres. Em cada dólar há vestígios de sangue – daquele mar de sangue que derramaram 10 milhões de mortos e 20 milhões de mutilados numa luta grande, nobre, libertadora e sagrada para saber quem, o bandido inglês ou o alemão, obterá uma parte maior da presa, quem serão os primeiros os primeiros,, os carrascos ingleses ou os alemães, no esmagamento dos povos fracos de todo mundo.
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Se os bandidos alemães bateram o recorde quanto à ferocidade das suas repressões militares, os ingleses bateram o recorde não só quanto à quantidade de colônias acumuladas mas também quanto ao requinte da sua hipocrisia repugnante. É precisamente agora que a imprensa burguesa anglo-francesa e norte-americana difundem em milhões e milhões de exemplares a mentira e a calúnia sobre a Rússia, justificando de maneira hipócrita a sua campanha de rapina contra ela com o pretenso desejo de “defender” a Rússia dos alemães! Para se refutar essa mentira vil e ignominiosa não é preciso gastar muitas palavras: basta assinalar um fato universalmente conhecido. Quando em outubro de 1917 os operários da Rússia derrubaram o seu governo imperialista, o Poder Soviético, o poder dos operários e camponeses revolucionários propôs abertamente uma paz justa, sem anexações nem contribuições, uma paz com observância completa da igualdade de direitos de todas as nações – propôs tal paz a todos os todos os países beligerantes. Foi precisamente a burguesia anglo-francesa e americana do norte que não aceitou a nossa proposta, foi precisamente ela que se negou mesmo a negociar conosco uma paz geral! Foi precisamente ela que ela que atuou de modo traiçoeiro em relação aos interesses de todos os povos, foi precisamente ela que prolongou o massacre imperialista! i mperialista! Foi precisamente ela que, especulando com a possibilidade de voltar a arrastar a Rússia para a guerra imperialista, se esquivou às negociações de paz, deixando assim as mãos livres aos bandidos capitalistas da 170
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Alemanha, os quais impuseram pela violência à Rússia a paz anexionista de Brest! É difícil imaginar uma hipocrisia mais asquerosa do que aquela com que a burguesia anglo-francesa e norteamericana atira a “culpa” pela Paz de Brest para cima de nós. São exatamente os capitalistas dos países dos quais dependia a possibilidade de transformar as negociações de Brest em negociações gerais de uma paz geral que se apresentam como nossos “acusadores”! Os abutres do imperialismo anglo-francês, que enriqueceram com a pilhagem das colônias e com o massacre dos povos, prolongaram a guerra há quase um ano depois de Brest, e são eles que nos “acusam”, a nós, nós, bolcheviques, que propusemos uma paz justa a todos os países, a nós que nós que rompemos, publicamos e expusemos à reprovação geral os criminosos acordos secretos entre o ex-tsar e os capitalistas anglo-franceses. Os operários de todo o mundo, qualquer que seja o país em que vivam, saúdam-nos, simpatizam conosco, aplaudem-nos por termos rompidos os elos de ferro dos laços imperialistas, dos sujos acordos imperialistas, das correntes imperialistas, por termos alcançado a liberdade tendo feito para isso os mais duros sacrifícios, por nos termos mantido, como república socialista, ainda que dilacerada e saqueada pelos imperialistas, fora da fora da guerra imperialista, e por termos levantado perante todo o mundo a bandeira da paz, a bandeira do socialismo. Não é de admirar que o bando de imperialistas internacionais nos odeie por isso, que eles nos “acusem”, que todos os lacaios dos imperialistas, incluindo os nossos 171
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socialistas-revolucionários de direita e mencheviques, também nos “acusem”. O ódio desses cães de guarda do imperialismo para com os bolcheviques, bem como a simpatia dos operários conscientes de todos os países, dão-nos nova confiança na justeza da nossa causa. caus a. Não é socialista quem não compreende que em nome da vitória sobre a burguesia, em nome da passagem do poder para os operários, em nome do começo da revolução proletária internacional, não não podemos nem devemos deter-nos perante quaisquer sacrifícios, inclusive perante o sacrifício de uma parte do território, perante o sacrifício de duras derrotas infligidas pelo imperialismo. Não é socialista quem não provou com atos sua disposição para os maiores sacrifícios por parte da sua “pátria” contanto que avance de fato a causa da revolução socialista. Em nome da “sua” causa, isto é, em nome da conquista do domínio mundial, os imperialistas da Inglaterra e da Alemanha não se detiveram perante a ruína e o estrangulamento completo de toda uma série de países, começando pela Bélgica e pela Sérvia e continuando pela Palestina e pela Mesopotâmia. Quanto aos socialistas, em nome da “sua” causa, em nome da libertação dos trabalhadores de todo o mundo do jugo do capital, em nome da conquista de uma paz geral, duradoura, deverão eles esperar que encontrem um caminho sem sacrifícios, devem eles temer começar o combate enquanto não estiver “garantido” um êxito fácil, devem eles colocar a segurança e a integridade de “sua pátria”, criada pela burguesia, acima dos interesses da 172
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revolução socialista mundial? Os miseráveis do socialismo mundial, os lacaios da moral burguesa que pensam assim merecem um triplo desprezo. As feras rapaces do imperialismo anglo-francês e norte-americano “acusam-nos” de “acordo” com o imperialismo alemão. Oh, hipócritas! Oh, canalhas que caluniam o governo operário, tremendo de medo perante a simpatia que têm para conosco os operários dos “seus” próprios países! Mas a sua hipocrisia será desmascarada. Eles fingem não compreender as diferenças entre o acordo dos “socialistas” com a burguesia (sua e estrangeira) contra os operários, contra os trabalhadores, e um acordo para proteger os operários que venceram a sua própria burguesia, com a burguesia de uma cor contra a burguesia de outra cor nacional, em nome da utilização pelo proletariado da contradição entre os diferentes grupos de burguesia. Mas, de fato, qualquer europeu conhece perfeitamente essa diferença, e o povo norte-americano, como o vou mostrar agora, “viveu-a” de modo especialmente patente na sua própria história. Há acordos e acordos, há fagots et fagots, como dizem os franceses. Quando os abutres do imperialismo alemão lançaram, em fevereiro de 1918, as suas tropas contra a Rússia desarmada, que tinha desmobilizado o seu exército e que tinha confiado na solidariedade internacional do proletariado antes que amadurecesse completamente a revolução internacional, não vacilei minimamente em entrar num certo “acordo” com os monárquicos franceses. O capitão francês Sadoul, que em palavras simpatizava 173
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com os bolcheviques, mas de fato servia de corpo e alma o imperialismo francês, levou junto a mim o oficial francês de Lubersac. “Sou monárquico, o meu único objetivo é a derrota da Alemanha” – declarou-me de Lubersac. Nem preciso dizer, respondi eu (cela va sans dire). Isso não me impediu minimamente que eu chegasse a um acordo com Lubersac no que respeitava aos serviços que nos queriam prestar os oficiais franceses especialistas em explosivos, para fazer saltar vias férreas a fim de entravar a invasão dos alemães. Esse foi um exemplo de um “acordo” que qualquer operário consciente aprovará, de um acordo no interesse do socialismo. Eu e o monárquico francês apertamos a mão sabendo que cada um de nós enforcaria de bom grado o seu “parceiro”. Mas os nossos interesses coincidiam temporariamente. Contra os abutres que nos atacavam, nós aproveitamos, no interesses da revolução socialista russa e internacional, os interesses opostos igualmente rapaces de outros imperialistas. Servimos deste modo os interesses da classe operária da Rússia e dos outros países, reforçamos o proletariado e enfraquecemos a burguesia de todo o mundo, recorremos à manobra, ao estratagema, ao recuo perfeitamente legítimo e obrigatório em qualquer guerra, esperando pelo momento em que amadureça a revolução proletária que amadurece rapidamente numa série de países avançados. Por mais que uivem de raiva os tubarões do imperialismo anglo-francês e norte-americano, por mais que nos caluniem, por mais milhões que gastem para subornar os jornais socialistas-revolucionários de direita, mencheviques e outros jornais sociais-patriotas, não vacilarei nem por um segundo em concluir o mesmo 174
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“acordo” com os abutres do imperialismo alemão, caso o exija a ofensiva das tropas anglo-francesas sobre a Rússia. E eu sei perfeitamente que o proletariado consciente da Rússia, da Alemanha, da França, da Inglaterra, dos EUA, numa palavra, de todo o mundo civilizado, aprovará a minha tática. Uma tal tática facilitará a causa da revolução socialista, acelerará a sua chegada, enfraquecerá a burguesia internacional, reforçará as posições da classe operária que a está a vencer. E o povo norte-americano empregou há já muito, com proveito para a revolução, esta tática. Quando travou a sua grande guerra libertadora contra os opressores ingleses, contra eles estavam também os opressores franceses e espanhóis, aos quais pertencia uma parte dos atuais Estados Unidos da América do Norte. Na sua difícil luta pela libertação, o povo norte-americano também concluiu “acordos” com uns opressores contra os outros, no interesse do enfraquecimento dos opressores e do reforço daqueles que lutavam revolucionariamente contra a opressão, no interesse da massa dos massa dos oprimidos. O povo norte-americano utilizou a dissensão entre os franceses, espanhóis e ingleses, lutou mesmo por vezes juntamente com as tropas dos opressores franceses e espanhóis contra os opressores ingleses, venceu primeiro os ingleses e depois se libertou (em parte por meio de resgate) dos franceses e dos espanhóis. A atividade histórica não é o passeio da avenida Névski, dizia o grande revolucionário russo Tchernichévski. Quem “admite” uma revolução do proletariado apenas “sob a condição” de que se 175
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desenvolva de modo fácil e sem transtorno, de que haja imediatamente uma ação conjunta dos proletários de diferentes países, de que seja dada de antemão uma garantia contra as derrotas, de que o caminho da revolução seja largo, livre, direito, de que para vencer não seja temporariamente necessário aceitar os sacrifícios mais duros, “ocultar-se numa fortaleza assediada” ou meter-se pelos atalhos montanhosos mais estreitos, intransitáveis, sinuosos e perigosos – não é um revolucionário, não se libertou do pedantismo da intelectualidade burguesa, escorregará de fato constantemente para o campo da burguesia contrarevolucionária, como os nossos socialistas-revolucionários de direita, mencheviques e até (se bem que mais raramente) socialistas-revolucionários de esquerda. Seguindo a burguesia, estes senhores gostam de nos acusar do “caos” da revolução, da destruição da indústria, do desemprego e da falta de pão. Como são hipócritas estas acusações por parte dos que saudaram e apoiaram a guerra imperialista ou “estavam de acordo” com Kérenski que prosseguiu esta guerra! É precisamente a guerra imperialista que é culpada de todas as calamidades. Uma revolução engendrada pela guerra não pode deixar de passar pela dificuldade e tormentos incríveis que lhe deixou em herança o massacre dos povos, destruidor e reacionário, de muitos anos. Acusarnos da “destruição” da indústria ou de “terror” significa ser hipócrita ou dar provas de um pedantismo obtuso, de incapacidade de compreender as condições fundamentais dessa furiosa luta de classes agudizada ao extremo que se chama revolução. 176
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No fundo, os “acusadores” de semelhante espécie, se é que “reconhecem” a luta de classes, limitam-se a reconhecê-la em palavras mas de fato caem constantemente na utopia pequeno-burguesa da “conciliação” e da “colaboração” de classe. Porque em época de revolução, a luta de classes tomou sempre e em todos os países, inevitável e necessariam nec essariamente, ente, a forma da guerra civil, e civil, e a guerra civil é inconcebível sem as mais pesadas destruições, sem terror, sem a limitação da democracia formal no interesse da guerra. Só padres melífluos – quer sejam cristãos ou “laicos” nas pessoas dos socialistas de salão, parlamentares – podem não ver, não compreender, não sentir essa necessidade. Só “homens enconchados”, sem vida, são capazes de se afastar por isto da revolução em vez de se lançarem ao combate com toda a paixão e decisão quando a história exige que as maiores questões da humanidade sejam resolvidas pela luta e pela guerra. O povo norte-americano tem uma tradição revolucionária que foi assimilada pelos melhores representantes do proletariado norte-americano, que repetidamente expressaram a sua plena simpatia por nós, os bolcheviques. Essa tradição é a guerra da libertação contra os ingleses no século XVIII, depois a guerra civil no século XIX. Em 1870, a América estava, em alguns aspectos, se tomarmos apenas a “destruição” de alguns ramos da indústria e da economia nacional, atrasada em comparação com 1860. Mas que pedante, que idiota seria o homem que nessa nessa base passasse a negar o maior 177
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significado histórico mundial, progressista e revolucionário da guerra civil de 1863 – 1865 na América! Os representantes da burguesia compreendem que para o derrubamento da escravidão dos negros e o derrubamento do poder dos proprietários de escravos valia a pena que todo o país passasse por longos anos de guerra civil, por abismos de ruína, de destruições, de terror, que estão ligados a qualquer guerra. Mas agora, quando se trata da tarefa incomensuravelmente maior de derrubamento da escravidão assalariada, assalariada, capitalista, do derrubamento do poder da burguesia, agora os representantes e os defensores da burguesia, bem como os socialistas-reformistas, assustados pela burguesia, que se esquivam da revolução, não podem e nem querem compreender a necessidade e legitimidade da guerra civil. Os operários norte-americanos não seguirão a burguesia. Estarão conosco, a favor da guerra civil contra a burguesia. Toda a história do movimento operário mundial e norte-americano reforça em mim essa convicção. Lembro também as palavras dum dos chefes mais queridos do proletariado norte-americano, Eugeni Debs que escreveu no Apelo à Razão ( Appeal Appeal to Reason) Reason)(3), parece-me que nos fins de 1915, no artigo What shall I fight for (Por que Combaterei) – citei este artigo no começo de 1916, numa reunião operária pública em Berna, na Suíça – que ele Debs, antes se deixaria fuzilar do que votar a favor dos créditos para a criminosa e reacionária guerra atual; que ele Debs, só conhece uma guerra sagrada, legítima, do ponto de vista dos proletários, a saber: a guerra contra os capitalistas, a 178
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guerra para libertar a humanidade da escravidão assalariada. Não me admira que Wilson, chefe dos multimilionários norte-americanos, criado dos tubarões capitalistas, tenha metido Debs na prisão. Que a burguesia bu rguesia cometa atrocidades contra os verdadeiros internacionalistas, representantes do proletariado revolucionário! Quanto maiores forem o encarniçamento e as brutalidades da sua parte tanto mais próximo está o dia da revolução proletária vitoriosa. Acusam-nos das destruições criadas pela nossa revolução... E quem são os acusadores? São os sequazes da burguesia, daquela mesma burguesia que em quatro anos de guerra imperialista, tendo destruído quase toda a cultura européia, levou a Europa à barbárie, ao embrutecimento, à fome. Esta burguesia exige agora de nós que façamos a revolução não na base destas destruições, não entre os destroços da cultura, destroços e ruínas criados pela guerra, não com as pessoas embrutecidas pela guerra. Oh, como é humana e justa esta burguesia! Os seus servidores acusam-nos de terror... Os burgueses ingleses esqueceram o seu 1649, os franceses o seu 1793. O terror era era justo e legítimo quando era empregado pela burguesia em seu proveito, contra os feudais. O terror tornou-se monstruoso e criminoso quando os operários e os camponeses pobres se atreveram a empregá-lo contra a burguesia! O terror foi justo e legítimo quando era empregado no interesse da substituição de uma minoria exploradora por outra 179
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minoria exploradora. O terror tornou-se monstruoso e criminoso quando passou a ser empregado no interesse do derrubamento de todas as minorias exploradoras, no interesse duma maioria verdadeiramente enorme, no interesse do proletariado e do semiproletariado, da classe operária e do campesinato pobre! A burguesia do imperialismo internacional exterminou 10 milhões de homens, mutilou 20 milhões na “sua” guerra, guerra essa conduzida para saber quem, os abutres ingleses ou os alemães, dominará todo o mundo. Se a nossa guerra, a guerra dos oprimidos e dos explorados contra os opressores e exploradores, custar meio milhão ou um milhão de vítimas em todos os paises, a burguesia dirá que as primeiras vítimas são legítimas, as segundas criminosas. O proletariado dirá uma coisa totalmente diferente. O proletariado assimila agora, entre os horrores da guerra imperialista, de forma completa e evidente, a grande verdade que ensinam todas as revoluções, a verdade legada aos operários pelos seus melhores mestres, os fundadores do socialismo moderno. Esta verdade consiste em que não pode haver revolução com êxito sem esmagar a resistência dos exploradores. O nosso dever, quando nós. os operários e camponeses trabalhadores, tomamos o poder de Estado, era esmagar a resistência dos exploradores. Orgulhamo-nos porque o fizemos e continuamos a fazê-lo. Lamentamos não o termos feito com suficiente firmeza e decisão.
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Nós sabemos que em todos os países é inevitável uma resistência raivosa da burguesia contra a revolução socialista e que ela crescerá à medida que cresce esta revolução. O proletariado quebrará esta resistência, ele amadurecerá definitivamente para a vitória e para o poder no decurso da luta contra a burguesia que opõe resistência. Que a imprensa burguesa corrupta grite aos quatro ventos acerca de cada erro cometido pela nossa revolução. Não temos medo dos nossos erros. Pelo fato de a revolução ter começado, os homens não se tornam santos. As classes que durante séculos foram oprimidas, embrutecidas e mantidas pela violência nas garras da miséria, da ignorância e do asselvajamento não podem fazer a revolução sem erros. E é impossível, como já tive uma vez ocasião de assinalar, fechar o cadáver da sociedade burguesa e enterrá-lo. O capitalismo morto apodrece e decompõe-se entre nós, contaminando o ar com miasmas, envenenando a nossa vida, envolvendo aquilo que é novo, recente, jovem e vivo com milhares de fios e laços daquilo que é velho, podre e morto. Por cada cem erros nossos, sobre os quais gritam aos quatro ventos a burguesia e os seus lacaios (incluindo os nossos mencheviques e socialistas-revolucionários de direita) há 10.000 atos grandiosos e heróicos - tanto mais grandiosos e heróicos quanto são simples, invisíveis, ocultos na vida quotidiana dum bairro fabril ou de uma aldeia perdida - realizados por pessoas que não estão acostumadas (e não tem a possibilidade) a gritar aos quatro ventos sobre cada êxito seu. 181
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Mas ainda que fosse o contrário – embora eu sabia que tal suposição não é verdadeira – ainda que por 100 atos justos nossos houvesse 10.000 erros, mesmo assim a nossa revolução seria, e será perante a história mundial, grande e invencível, pois pela primeira vez não é pela minoria, não são apenas os ricos, não são apenas as pessoas instruídas, mas uma verdadeira massa, uma enorme maioria dos trabalhadores, que constroem eles próprios a nova vida, resolvem as questões mais difíceis da organização socialista com a sua experiência. Cada erro neste trabalho, neste trabalho sincero e consciencioso de dezenas de milhões de simples operários e camponeses para reestruturar toda a sua vida, cada erro desses vale milhares e milhões de êxitos “sem erros” da minoria exploradora, dos êxitos em lograr e iludir os trabalhadores. Pois só através de tais erros os operários e camponeses aprenderão a construir a nova vida, aprenderão a passar sem os capitalistas, só assim eles abrirão o caminho – através de milhares de obstáculos – para o socialismo vitorioso. Cometem erros ao fazer o seu trabalho revolucionário, os nossos camponeses, que de um só golpe, numa só noite, de 25 a 26 de outubro (velho estilo) de 1917, aboliram toda a propriedade privada da terra e estão agora, de mês para mês, superando dificuldades imensas, corrigindo-se a si próprios, a cumprir na prática a tarefa dificílima de organizar novas condições de vida económica, de lutar contra os kulaques, de garantir a terra para os trabalhadores (e não para os ricos), de passar à grande agricultura comunista. 182
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Cometem erros ao fazer o seu trabalho revolucionário os nossos operários, que nacionalizaram agora, em alguns meses, quase todas as grandes fábricas, e estudam, através de um duro trabalho quotidiano, a nova obra de gestão de ramos inteiros da indústria, que organizam as empresas nacionalizadas, superando a gigantesca resistência da rotina, do espírito pequenoburguês, do egoísmo, que lançam, pedra a pedra, os alicerces de novas relações sociais, de uma nova disciplina do trabalho, de um novo poder dos sindicatos operários sobre os seus membros. Cometem erros ao fazer o seu trabalho revolucionário os nossos Sovietes, criados já em 1905 pelo poderoso ascenso das massas. Os Sovietes de operários e camponeses são um novo tipo de Estado, um novo tipo, superior, de democracia, são a forma da ditadura do proletariado, o meio de administrar o Estado sem a burguesia e contra a burguesia. Pela primeira vez a burguesia serve aqui para as massas, para os trabalhadores, deixando de ser uma democracia para os ricos, como continua a ser a democracia em todas as repúblicas burguesas, mesmo nas mais democráticas. Pela primeira vez as massas populares cumprem a tarefa, à escala de centenas de milhões de pessoas, da realização da ditadura dos proletários e semiproletários – tarefa sem cujo cumprimento não se pode sequer falar de socialismo. Que os pedantes ou os homens incuravelmente cheios de preconceitos democrático-burgueses ou parlamentares abanem perplexamente a cabeça a propósito dos nossos Sovietes de Deputados, detendo-se, 183
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por exemplo, na ausência de eleições diretas. Essas pessoas não esqueceram nem aprenderam nada no período das grandes viragens de 1914-1918. A união da ditadura do proletariado com a nova democracia para os trabalhadores, da guerra civil com a mais ampla participação das massas na política – tal união não pode ser conseguida imediatamente e não cabe nas formas triviais do democratismo parlamentar rotineiro. Um novo mundo, o mundo do socialismo – eis o que se nos apresenta nos seus contornos sob a forma de República Soviética. E não admira que este mundo não nasça já pronto, não saia de uma vez, como Minerva da cabeça de Júpiter. (4) Enquanto as velhas constituições democráticaburguesas exaltavam, por exemplo, a igualdade formal e o direito de reunião, a nossa Constituição Soviética proletária e camponesa rejeita a hipocrisia da igualdade formal. Quando os republicanos burgueses derrubavam tronos, então não se preocupavam com a igualdade formal dos monárquicos com os republicanos. Quando se trata de derrubamento da burguesia, só traidores ou idiotas podem reclamar uma igualdade formal de direitos para a burguesia. Não vale um tostão a “liberdade de reunião” para os operários e camponeses se todos os melhores edifícios estiverem em poder da burguesia. Os nossos Sovietes tiraram aos ricos todos os bons edifícios, tanto nas cidades como nas aldeias, entregando todos estes edifícios aos operários e camponeses para as suas uniões e assembléias. Eis a nossa liberdade de reunião – para os trabalhadores! Eis o sentido da nossa Constituição Soviética, da nossa Constituição Socialista! 184
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E eis porque todos nós estamos tão profundamente convencidos de que, quaisquer que sejam as desgraças que caiam sobre a nossa República dos Sovietes, ela é invencível . Ela é invencível porque cada golpe do imperialismo enraivecido, cada derrota que a burguesia internacional nos inflige, levantam para a luta novas e novas camadas de operários e camponeses, ensinam-nos ao preço dos maiores sacrifícios, temperam-nos, geram um novo heroísmo de massas. Nós sabemos que a vossa ajuda, camaradas operários norte-americanos, não chegará, talvez, muito rapidamente, pois o desenvolvimento da revolução nos diversos países se realiza sob formas diferentes e a ritmos diferentes (e não pode realizar-se de outra maneira). Nós sabemos que a revolução proletária européia pode não eclodir ainda nas próximas semanas, por mais rapidamente que tenha amadurecido nos últimos tempos. Nós apostamos na inevitabilidade da revolução internacional, mas isso não significa de modo algum que apostemos como tontos na inevitabilidade da revolução num período determinado e curto. Nós vimos as duas grandes revoluções de 1905 e de 1917 no nosso país e sabemos que as revoluções não se fazem por encomenda nem por acordo. Nós sabemos que as circunstâncias lançaram para frente o nosso destacamento, o destacamento da Rússia do proletariado socialista, não devido aos nossos méritos, mas devido a um atraso especial da Rússia, e que antes que rebente a revolução
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internacional é possível uma série de derrotas de diferentes revoluções. Apesar disso, sabemos firmemente que somos invencíveis, porque a humanidade não será quebrada pelo massacre imperialista, mas superá-lo-á. E o primeiro país que quebrou as grilhetas da guerra imperialista foi o nosso país. Suportamos duríssimos sacrifícios na luta pela destruição dessas grilhetas, mas quebramo-las. Estamos fora de dependências imperialistas, levantamos perante todo o mundo a bandeira da luta pelo derrubamento completo do imperialismo. Encontramo-nos como que numa fortaleza assediada, enquanto não chegarem em nossa ajuda outros destacamentos da revolução socialista internacional. Mas esses destacamentos existem, são mais numerosos do que os nossos, eles amadurecem, crescem, reforçam-se à medida que prosseguem as atrocidades do imperialismo. Os operários rompem com os seus sociaistraidores, os Gompers, Henderson, Renaudel, Scheidemann, Renner. Os operários avançam devagar, mas firmemente, para a tática comunista bolchevique, para a revolução proletária, a única que está em condições de salvar a cultura e a humanidade que se afundam. Numa palavra, somos invencíveis, pois é invencível a revolução proletária mundial. 20 de agosto de 1918.
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Notas: (1) O envio da Carta aos Operários Norte-americanos para os EUA foi organizado pelo bolchevique M.M. Borodine, recémchegado dos Estados Unidos. Quem levou a Carta para os EUA foi P.I. Trávine (Sletov). Juntamente com a Carta foram enviados a Constituição da RSFSR e o texto da nota do governo soviético para o Presidente Wilson exigindo que pusesse fim à intervenção. A Carta aos operários Norte-americanos foi publicada em inglês (com poucas reduções) em dezembro de 1918, nos órgãos da ala esquerda do Partido Socialista da América: a revista The Class Struggle (A Luta de Classes), que se publicava em Nova Iorque, e o semanário The Revolutionary Age (A Época Revolucionária), que se editava em Boston, com a participação de John Reed e Sem Katayama. Posteriormente a Carta foi editada em folheto e publicada diversas vezes na imprensa americana e da Europa ocidental. (2) Em abril de 1898 os imperialistas norte-americanos, procurando aproveitar no seu interesse o movimento de libertação nacional contra os colonizadores em Cuba e nas Filipinas, começaram uma guerra contra a Espanha. Sob o pretexto de prestar “ajuda” ao povo das Filipinas, que acabava de proclamar no seu país a República das Filipinas, desembarcaram nas ilhas as suas tropas. A Espanha, em conformidade com o tratado de paz assinado em dezembro de 1898 em Paris, renunciava às Filipinas a favor dos EUA. Em fevereiro de 1899 os imperialistas norte-americanos iniciaram perfidamente operações militares contra a República das Filipinas. No território deste país desenvolveu-se uma ampla luta de guerrilhas contra os invasores. A oligarquia dos latifundiários e dos burgueses, assustada com o fato de que os camponeses, juntamente com a luta pela independência, lutavam também pela terra e pelo melhoramento das suas 187
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condições de vida, entraram em conciliação com os imperialistas. Em 1901 o movimento de libertação nacional da Filipinas foi esmagado e o país caiu na dependência colonial dos EUA. (3) Appeal to Reason (Apelo à Razão): jornal dos socialistas norte-americanos fundado em 1895. O jornal dedicava-se à propaganda das idéias socialistas e tinha grande êxito entre os operários. O artigo de Debs foi publicado no jornal em 11 de setembro de 1915. O título exato do artigo, que Lenin provavelmente cita de memória, é When I shall fight (Quando eu lutar). (4) Júpiter e Minerva: deuses da mitologia romana. Júpiter era considerado inicialmente como deus do céu, da luz e da chuva, e, posteriormente, como divindade suprema do Estado Romano. Minerva era considerada deusa da guerra e protetora das ciências e das artes. Minerva, segundo o mito, nasceu da cabeça de Júpiter.
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PODE UM JORNAL SER UM ORGANIZADOR COLETIVO? V. I. LÊNIN IN ‘QUE FAZER?’ A chave do artigo Por onde Começar? é pôr precisamente esta questão e resolvê-la pela afirmativa. A única pessoa que, pelo que conhecemos, tentou analisar a questão quanto ao fundo e provar a necessidade de resolver de modo negativo foi L. Nadéjdine, cujos argumentos reproduzimos na íntegra: “...Muito nos agrada que o Iskra (n.º 4) coloque a questão da necessidade de um jornal para toda a Rússia, mas não podemos de maneira alguma estar de acordo com que esta maneira de pôr o problema corresponda ao título do artigo de Por onde Começar ?. É sem dúvida um dos assuntos de extrema importância, mas não é com isso, nem com toda uma série de panfletos populares, nem com uma montanha de proclamações que se podem criar os fundamentos de uma organização de combate para um momento revolucionário. É indispensável começar a formar fortes organizações políticas locais. Não as temos, o nosso trabalho desenvolveu-se sobretudo entre os operários cultos, enquanto as massas travavam quase exclusivamente a luta econômica. Se não se educam fortes organizações políticas locais, que valor poderia ter um jornal político para toda a 189
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Rússia, mesmo que esteja excelentemente organizado? Uma chama ardente que queima sem se consumir, mas que a ninguém transmite o seu fogo! O Iskra crê que em torno desse jornal, no trabalho para ele, se concentrará o povo, se organizará. Mas como lhe é muito mais fácil concentrar-se e organizar-se em torno de um trabalho mais concreto! Este trabalho pode e deve ser o de organizar jornais locais em vasta escala, o de preparar imediatamente as forças operárias para manifestações, o de levar as organizações locais a trabalhar constantemente entre os desempregados (difundindo persistentemente entre eles folhas volantes e panfletos, convocando-os para reuniões, exortando-os à resistência ao governo, etc.). É preciso dar início a um trabalho político vivo no plano local, e quando surgir a necessidade de unificação nesta base real, a união não será algo de artificial, não ficará no papel. Porque não é com jornais que se conseguirá esta unificação do trabalho local numa obra comum a toda a Rússia! ( Às Vésperas da Revolução, p.54). Sublinhamos nesta tirada eloqüente as passagens que permitem apreciar com maior relevo tanto a opinião errada do autor sobre o nosso plano, como, em geral, o falso ponto de vista que ele opõe ao Iskra. Se não se educam fortes organizações políticas locais, não terá valor o melhor jornal destinado a toda a Rússia. Completamente justo. Mas trata-se precisamente de que não existe outro meio para educar fortes organizações políticas senão um 190
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jornal para toda a Rússia. O autor não notou a declaração mais importante do Iskra, feita antes de passar a expor o seu “plano”: a declaração de que era necessário “apelar para a formação de uma organização revolucionária capaz de unir todas as forças e de dirigir o movimento, não só de uma maneira nominal , mas na realidade, quer dizer, capaz de estar sempre disposta a apoiar todo o protesto e toda a explosão, aproveitando-os para multiplicar e robustecer as forças de combate aptas para a batalha decisiva”. Mas agora, depois de Fevereiro e Março, todos estarão em princípio de acordo com isso – continua o Iskra -, e o que nós precisamos não é de resolver o problema em princípio, mas sim na prática; é necessário estabelecer imediatamente um plano determinado para a construção, para que todos possam, agora mesmo e de todos os lados, iniciar a construção. E eis aqui que nos arrastam mais uma vez da solução prática do problema para trás, para uma verdade em princípio justa, incontestável, grande, mas completamente insuficiente, completamente incompreensível para as grandes massas trabalhadoras: para a “educação de fortes organizações políticas”! Mas não é disso que se trata, respeitável autor, mas de como, precisamente, há que educar, e educar com êxito! Não é verdade que o “nosso trabalho se desenvolveu sobretudo entre os operários cultos, enquanto as massas travavam quase exclusivamente a luta econômica”. Sob esta forma, a tese desvia-se para a tendência, habitual no Svoboda e radicalmente errada, de opor os operários cultos à “massa”. Pois, nestes últimos 191
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anos, também os operários cultos do nosso país travaram “quase exclusivamente a luta econômica”. Isto, por um lado. Por outro, tampouco as massas aprenderão jamais a travar a luta política enquanto nós não ajudarmos a formação dos dirigentes para esta luta, procedentes tanto dos operários cultos como dos intelectuais; e estes dirigentes podem formar-se, exclusivamente, iniciando-se na apreciação sistemática e quotidiana de todos os aspectos da nossa vida política; de todas as tentativas de protesto e de lutas das diferentes classes e por diferentes motivos. Por isso, falar de “educar organizações políticas” e, ao mesmo tempo, opor o “ trabalho da papelada” de um jornal político ao “ trabalho político vivo no plano local” é simplesmente ridículo! Mas se o Iskra adapta precisamente o seu “plano” de um jornal ao “plano” de criar uma “ preparação combativa” que possa apoiar tanto um movimento de desempregados, um levantamento de camponeses, como o descontentamento dos membros dos zemstvos, “a indignação da população contra os bachibuzuques1 tzaristas cheios de soberba”, etc. Além disso, qualquer pessoa familiarizada com o movimento sabe muito bem que a imensa maioria das organizações locais nem sequer pensa nisto; que muitas das perspectivas aqui esboçadas de “ um trabalho político vivo” não foram aplicadas na prática nem uma só vez por nenhuma organização; que, por exemplo, a tentativa para chamar a atenção para o recrudescimento do descontentamento e dos protestos entre os intelectuais dos zemstvos origina um sentimento de confusão e perplexidade tanto em Nadéjdine ( “Meu Deus! Mas será esse órgão para os zemstvos?” Em Vésperas, p. 129) 192
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como nos “economistas” ( ver a carta n º 12 do Iskra), como em muitos militantes práticos. Nestas condições, pode-se unicamente “começar” por incitar as pessoas a pensar em tudo isso, a resumir e sintetizar todos e cada um dos indícios de efervescência e de luta ativa. Em momentos destes, em que se rebaixa a importância das tarefas sociais-democratas, ‘o trabalho político ativo’ só pode iniciar-se exclusivamente por uma agitação política viva, coisa impossível sem um jornal para toda a Rússia, que apareça freqüentemente e se difunda com regularidade.
O fio fundamental para desenvolver e alargar a nossa organização Aqueles que consideram o “plano” do Iskra como uma manifestação de “literalismo” não compreenderam de modo algum a própria essência do plano, tomando como fim o que se propõe como meio mais adequado para o momento presente. Esta gente não se deu ao trabalho de refletir sobre duas comparações que ilustram claramente o plano proposto. A organização de um jornal político para toda a Rússia – escrevia-se no Iskra – deve ser o fio fundamental , seguindo o qual podemos invariavelmente desenvolver, aprofundar e alargar esta organização (isto é, a organização revolucionária, sempre disposta a apoiar todo o protesto e toda a explosão). Façam o favor de nos dizer: quando os pedreiros colocam em diferentes pontos as pedras de um edifício enorme e sem precedentes, será 193
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um trabalho “ de papelada” esticar um fio que os ajuda a encontrar o lugar justo para as pedras, que lhes indica a finalidade da obra comum, que lhes permite colocar não só cada pedra, mas mesmo cada bocado de pedra, que, ao somar-se aos precedentes e aos seguintes, formará a linha acabada e total? E não vivemos nós, por acaso, um momento desta índole na nossa vida de partido, quando temos pedras e pedreiros, mas nos falta precisamente o fio, visível a todos e pelo qual todos se podem guiar? Não importa que gritem que, ao esticarmos o fio, o que queremos é mandar: se assim fosse, senhores, poríamos Rabótchaia Gazeta n.º 3 em vez de Iskra n.º 1, como nos propuseram alguns camaradas e como teríamos pleno direito de fazer depois dos acontecimentos atrás relatados. Mas não o fizemos; queríamos ter as mãos livres para desenvolver uma luta intransigente contra todo tipo de pseudo-sociais-democratas; queríamos que o nosso fio, se está justamente esticado, fosse respeitado pela sua justeza, e não por ter sido esticado por um órgão oficial.
Encontrar e agarrar com força o elo da cadeia “A questão de unificar as atividades locais em órgãos centrais move-se num círculo vicioso – diz-nos sentenciosamente L. Nadéjdine. A unificação requer homogeneidade de elementos, e esta homogeneidade não pode ser criada senão por um aglutinador, mas este aglutinador só pode aparecer como produto de fortes 194
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organizações locais, que, neste momento, não se distinguem de maneira alguma pela sua homogeneidade.” Verdade tão respeitável e tão incontestável como a de que é necessário educar fortes organizações políticas. E não menos estéril do que esta. Toda a questão “se move num círculo vicioso”, pois toda a vida política é uma cadeia sem fim, composta de uma série infinita de elos. Toda a arte de um político consiste precisamente em encontrar e agarrar-se com força precisamente ao elo que menos lhe possa ser arrancado das mãos, que seja o mais importante num dado momento e que melhor garanta ao seu possuidor a posse de toda a cadeia 2 . Se tivéssemos um destacamento de pedreiros experimentados, que trabalhassem de modo tão harmônico que, mesmo sem o fio, pudessem colocar as pedras precisamente onde é necessário ( falando abstratamente isto não é de modo algum impossível), poderíamos talvez agarrarmo-nos também a um outro elo. Mas a infelicidade consiste precisamente em ainda termos necessidade de pedreiros experimentados e que trabalhem de modo tão harmônico, em as pedras serem colocadas freqüentemente ao acaso, sem serem alinhadas pelo fio comum, de forma tão desordenada que o inimigo as dispersa com um sopro, como se fossem grãos de areia e não pedras.
O jornal não é apenas um propagandista coletivo e um agitador coletivo, mas também um organizador coletivo 195
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Outra comparação:. Neste último sentido, pode ser comparado aos andaimes que se levantam à volta de um edifício em construção, marcando-lhe os contornos, facilitando as comunicações entre os construtores, ajudando-os a repartir entre si o trabalho e a observarem os resultados gerais alcançados pelo trabalho organizado.” 3 Isto faz pensar – não é verdade? – no literato, no homem de gabinete, exagerando a importância do seu papel. Os andaimes não são imprescindíveis para a própria casa: são feitos de um material de qualidade inferior, são utilizados durante um período relativamente curto e lançados ao fogo uma vez terminado o edifício, ainda que apenas as suas grandes linhas. No que diz respeito à construção de organizações revolucionárias, a experiência mostra que se podem, por vezes, construir sem andaimes ( recordai a década de 70). Mas agora não podemos sequer imaginar a possibilidade de construir sem andaimes o edifício de que temos necessidade. Nadéjdine não está de acordo com isso e diz: “ O Iskra crê que em torno desse jornal, no trabalho para ele, se concentrará o povo, se organizará. Mas como lhe é muito mais fácil concentrar-se e organizar-se em torno de um trabalho mais concreto!” Claro, claro: ‘mais fácil, concentrar-se e organizar-se em torno de um trabalho mais concreto’...Um provérbio russo diz: Não cuspas no poço, que da sua água terás de beber. Mas há pessoas que não se importam de beber de um poço sem cuja água já se cuspiu. Em nome deste caráter mais concreto, quantas infâmias não disseram e escreveram os nossos notáveis ‘críticos’ legais do ‘marxismo’ e os admiradores ilegais do Robótchaia Misl ! Até que ponto está todo o nosso 196
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movimento abafado pela estreiteza de vistas, pela nossa falta de iniciativa e pela timidez, justificada com os argumentos tradicionais: “Muito mais fácil...em torno de um trabalho mais concreto!” E Nadéjdine, que se considera dotado de um sentido especial da ‘vida’, que condena com singular severidade os homens de ‘gabinete’, que imputa ao Iskra (com pretensões da sagacidade) a debilidade de ver o ‘economicismo’ em toda a parte, que imagina estar muito acima desta divisão em ortodoxos e críticos, não nota que com os seus argumentos favorece a estreiteza de visão que o indigna e bebe a água do poço em que mais se cuspiu! Sim, não basta a indignação mais sincera contra a estreiteza de visão, o desejo mais ardente de elevar as pessoas que se curvam perante ela, se o que se indigna anda à deriva, sem velas e sem leme, e se, tão ‘espontaneamente’ como os revolucionários da década de 70, se aferra ao ‘terror excitante’, ao ‘terror agrário’, ao ‘toque a rebate’, etc. Vede em que consiste esse algo ‘mais concreto’ em torno do qual, pensa ele, ‘será muito mais fácil’ concentrar-se e organizar-se: 1) jornais locais; 2) preparação de manifestações; 3) trabalho entre os desempregados. Ao primeiro olhar se vê que todas essas coisas são tomadas completamente ao acaso, unicamente para se dizer alguma coisa, porque, qualquer que seja a forma com que forem consideradas, seria uma total incongruência encontrar nelas o quer que seja de especialmente capaz de ‘concentrar e organizar’. E o próprio Nadéjdine diz algumas páginas mais à frente: ‘Já é tempo de deixar claramente assente um fato: na base faz-se um trabalho extremamente mesquinho, os comitês não fazem um 197
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décimo do que poderiam fazer...os centros de unificação que temos atualmente são uma ficção, burocracia revolucionária, promoção recíproca a general, e assim continuarão as coisas enquanto não se desenvolverem fortes organizações locais.’ Não há dúvida que estas palavras, ao mesmo tempo que exageros, encerram muitas e amargas verdades; e será que Nadéjdine não vê a ligação que existe entre o trabalho mesquinho na base e o estreito horizonte dos militantes, o reduzido alcance das suas atividades, coisas inevitáveis dada a pouca preparação dos militantes confinados nos limites das organizações locais? Terá Nadéjdine, tal como o autor do artigo sobre organização publicado no Svoboda, esquecido que a passagem a uma ampla imprensa local (desde 1898) foi acompanhada de uma intensificação especial do ‘economicismo’ e do ‘ trabalho artesanal’? Além disso, mesmo que fosse possível uma organização mais ou menos satisfatória de ‘ uma abundante imprensa local’ (e já demonstramos que mais atrás, salvo casos muitos excepcionais, isto era impossível), mesmo nesse caso, os órgão locais tampouco poderiam ‘concentrar e organizar’ todas as forças dos revolucionários para uma ofensiva geral contra a autocracia, para dirigir a luta única. Não esqueçais que aqui só se trata do alcance ‘concentrador’, organizador, do jornal, e poderíamos fazer a Nadéjdine, defensor da fragmentação a mesma pergunta irônica que ele faz: ‘Será que herdamos, de qualquer parte, uma força de 200.000 organizadores revolucionários?’. Prossigamos. Não se pode contrapor a ‘preparação de manifestações’ ao plano do Iskra, pela simples razão de este plano dizer precisamente que as manifestações mais amplas são um 198
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de seus fins, mas do que se trata é de escolher o meio prático. Aqui mais uma vez Nadéjdine se enredou, não vendo que só um exército já ‘concentrado e organizado’ pode ‘preparar’ manifestações (que até agora, na imensa maioria dos casos, têm sido completamente espontâneas), e que o que precisamente não sabemos é concentrar e organizar. ‘Trabalho entre os desempregados.’ Sempre a mesma confusão porque isto também representa uma das ações militares de um exército mobilizado e não um plano para mobilizar este exército. O caso seguinte demonstra até que ponto Nadéjdine subestima, também neste sentido, o prejuízo que nos causa a fragmentação, a falta entre nós de uma ‘força de 200.000 organizadores’. Muitos (e entre eles Nadéjdine) censuram o Iskra pela parcimônia de notícias sobre o desemprego, pelo caráter casual das crônicas sobre os fenômenos mais habituais da vida rural. É uma censura merecida, mas o Iskra é ‘culpado sem ter culpa.’ Nós procuramos ‘ esticar um fio’ também através da aldeia mas no campo quase não há pedreiros e há forçosamente que encorajar todo aquele que nos comunique mesmo os fatos mais habituais, na esperança de que isto multiplicará o número de colaboradores neste terreno e nos ensinará a todos a escolher, finalmente, os fatos realmente relevantes. Mas há tão pouco material de ensino, se não o sintetizamos à escala de toda a Rússia, não há absolutamente nada que aprender. Não há dúvida que um homem que tenha, mesmo que seja aproximadamente, as aptidões de agitador e o conhecimento da vida dos vagabundos que observamos em Nadéjdine, poderia, com agitação entre os 199
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desempregados, prestar inestimáveis serviços ao movimento; mas um homem desta índole enterraria o seu talento se não tivesse cuidado de manter todos os camaradas russos ao corrente de todos os pormenores da sua atuação para servir de ensinamento e de exemplo às pessoas que, na sua imensa maioria, não sabem ainda iniciar este novo trabalho.
Por onde começar a unificação Todos sem exceção falam hoje da importância da unificação, da necessidade de ‘concentrar e organizar’, mas a maior parte das vezes não têm uma noção exata de por onde começar e de como realizar esta unificação. Todos estarão certamente de acordo em que ‘se unificássemos’ os círculos isolados – digamos, de bairro – de uma cidade seria necessário para isso organismos comuns, isto é, não só a denominação comum de ‘união’ mas um trabalho realmente comum, um intercâmbio de materiais, de experiência, de forças, uma distribuição de funções, não já só por bairros mas segundo as especialidades de todo o trabalho urbano. Todos estarão de acordo em que um sólido aparelho conspirativo não cobrirá os seus gastos ( se é que se pode utilizar uma expressão comercial) com os ‘recursos’ (subentende-se que tanto materiais como pessoais) de um único bairro e que o talento de um especialista não se poderá desenvolver num campo de ação tão reduzido. O mesmo se poderá dizer, entretanto, também da união de várias cidades, porque, como mostrou a história do nosso movimento social-democrata, mesmo o campo de ação de 200
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uma localidade isolada se mostra e já se mostrou enormemente estreito: provamo-lo mais atrás pormenorizadamente, com o exemplo da agitação política e do trabalho de organização. É necessário, é incondicionalmente necessário, antes de mais, alargar este campo de ação, criar uma ligação efetiva de união entre as cidades com base num trabalho regular e comum, porque o fracionamento deprime as pessoas que ‘estão metidas num buraco’ (expressão do autor de uma carta dirigida ao Iskra), sem saber o que se passa no mundo com quem têm de aprender, como adquirir experiência de modo a satisfazer o seu desejo de uma ampla atividade. E eu continuo a insistir que esta ligação efetiva de união só pode começar a ser criada com base num jornal comum que seja, para toda a Rússia, a única empresa regular nacional a fazer o balanço de toda a atividade nos seus aspectos mais variados, incitando dessa maneira as pessoas a seguir infatigavelmente para frente, por todos os numerosos caminhos que levam à revolução, como todos os caminhos levam a Roma. Se queremos a unificação, não só em palavras, é necessário que cada círculo local dedique imediatamente, suponhamos um quarto das suas forças, a um trabalho ativo para a obra comum. E o jornal mostra-lhe imediatamente 4 os contornos gerais, as proporções e o caráter da obra; mostra-lhe quais são as lacunas que mais se notam em toda atividade geral da Rússia, onde é que não existe agitação, onde são débeis as ligações, quais são as engrenagens do enorme maquinismo geral que este ou aquele círculo poderia reparar ou substituir por outras melhores. Um círculo que ainda não tenha trabalhado e 201
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que não procura senão trabalho poderia começar já, não como artesão na sua pequena oficina isolada e que não conhece nem o desenvolvimento da ‘indústria’ anterior a ele nem o estado geral de determinadas formas de produção industrial, mas como colaborador de uma vasta empresa, que reflete todo o impulso revolucionário geral contra autocracia. E quanto mais perfeita for a preparação de cada engrenagem isolada, quanto mais numerosos fossem os trabalhadores isolados que participam na obra comum, tanto mais apertada seria a nossa rede e tanto menos perturbações nas nossas fileiras provocariam as inevitáveis prisões.
È preciso sonhar A ligação efetiva começaria já a ser criada através da simples função de difusão do jornal (se ele merecesse realmente tal título, isto é, se aparecesse regularmente, umas quatro vezes por mês, e não uma vez por mês como as revistas volumosas). Atualmente são raríssimas, e em todo o caso uma exceção, as relações entre as cidades sobre os assuntos revolucionários; então essas relações converter-se-iam em regra e, naturalmente, assegurariam não só a difusão do jornal, mas também (o que é muito mais importante) o intercâmbio de experiência, de materiais, de forças e de recursos. Imediatamente o trabalho de organização ganharia uma envergadura muito maior, e o êxito alcançado numa localidade encorajaria constantemente o aperfeiçoamento do trabalho e o aproveitamento da experiência já adquirida por uma camarada que atua noutro extremo do país. O trabalho 202
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local seria muito mais rico e variado do que é atualmente; as denúncias políticas e econômica que se recolhessem por toda a Rússia alimentariam intelectualmente e os operários de todas as profissões e de todos os graus de desenvolvimento, forneceriam dados e ocasião para conversas e leituras sobre os mais variados problemas, suscitados, além disso, pelas alusões feitas pela imprensa legal, pelas conversas em sociedade e os ‘tímidos’ comunicados do governo. Cada explosão, cada manifestação, seria apreciada e discutida em todos os seus aspectos e em todos os confins da Rússia, fazendo surgir o desejo de não ficar para trás, de fazer melhor que os outros (nós os socialistas não excluímos de modo nenhum toda a emulação, toda a ‘concorrência’, em geral!), de preparar conscientemente o que da primeira vez se tinha feito até certo ponto espontaneamente, de aproveitar as condições favoráveis de uma determinada localidade ou de um determinado momento para modificar o plano de ataque, etc. Ao mesmo tempo, esta reanimação do trabalho local não acarretaria a desesperada tensão ‘agônica’ de todas as forças, nem a mobilização de todos os homens, como sucede freqüentemente agora, quando há de organizar uma manifestação ou publicar um número de um jornal local: por um lado a polícia tropeçaria com muito maiores dificuldades para chegar até ‘à raiz’, já que não se saberia em que localidade haveria que procurá-la; por outro, um trabalho comum e regular, ensinaria os homens a fazer concordar em cada caso concreto a força de um ataque com um estado de forças deste ou daquele destacamento do exército comum ( hoje quase ninguém pensa, em parte alguma, nesta coordenação porque nove 203
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décimos dos seus ataques se produzem espontaneamente) e facilitaria o ‘transporte’ de um lugar para outro não só das publicações, mas também das forças revolucionárias. Atualmente, a maior parte dos casos, estas forças são sangradas no estreito trabalho local; então ter-se-ia possibilidade e ocasiões constantes para transferir um agitador ou organizador mais ou menos capaz de um extremo para o outro país. Começando com uma pequena viagem para tratar de assuntos do partido e à custa do partido, os militantes habituar-se-iam a viver inteiramente por conta do partido, a tornar-se revolucionários profissionais, a formar-se como verdadeiros chefes políticos. E se realmente conseguíssemos que todos ou uma maioria considerável dos comitês, grupos e círculos locais empreendessem ativamente o trabalho comum, poderíamos, num futuro muito próximo, estar em condições de publicar um semanário que se difundisse regularmente em dezenas de milhares de exemplares por toda a Rússia. Este jornal seria uma parte de um gigantesco fole de uma forja que atiçasse cada centelha da luta de classes e da indignação do povo, convertendoa num grande incêndio. Em torno deste trabalho, em si muito inofensivo e muito pequeno ainda, mas regular e comum no pleno sentido da palavra, concentrar-se-ia sistematicamente e instruir-se-ia o exército permanente de lutadores experimentados. Sobre os andaimes desta obra comum de organização, rapidamente veríamos subir e destacar-se, de entre os nossos revolucionários, os Jeliábov sociais-democratas; de entre os nossos 204
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operários, os Bebel russos, que se poriam à cabeça do exército mobilizado e levantariam todo o povo para acabar com a ignomínia e a maldição da Rússia. É com isto que é preciso sonhar! * *
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É preciso sonhar! Escrevi estas palavras e assusteime. Imaginei-me sentado no ‘congresso de unificação’, tendo à minha frente os redatores e colaboradores da Rabotcheie Dielo. E eis que se levanta o camarada Martínov e, em tom ameaçador dirige-se a mim: ‘Permitame que lhe faça uma pergunta: tem ainda a redação autônoma o direito de sonhar sem prévio referendo dos comitês do partido?’ Atrás dele levanta-se o camarada Kritchévski e (aprofundando filosoficamente o camarada Martínov, que, há muito tempo já, tinha aprofundado o camarada Plekánov), num tom ainda mais ameaçador, continua: eu vou ainda mais longe, e pergunto se em geral um marxista tem o direito de sonhar, se não esquece que, segundo Marx, a humanidade sempre pôs perante si tarefas realizáveis, e que a tática é um processo de crescimento das tarefas, que crescem com o partido.’ Só de pensar nestas perguntas ameaçadoras sinto calafrios, e não penso senão numa coisa: onde me esconder. Tentarei esconder-me atrás de Píssarev. ‘Há desacordos e desacordos – escrevia Píssarev sobre o desacordo entre os sonhos e a realidade. – Os meus sonhos podem ultrapassar o curso natural dos 205
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acontecimentos ou podem desviar-se para um lado onde o curso natural dos acontecimentos não pode nunca chegar. No primeiro caso, os sonhos não produzem nenhum dano, e podem até apoiar e reforçar as energias do trabalhador... Em sonhos desta índole, nada existe que possa deformar ou paralisar a força do trabalho. Bem pelo contrário. Se o homem estivesse completamente privado da capacidade de sonhar assim, se não pudesse de vez em quando adiantar-se e contemplar em imaginação o quadro inteiramente acabado da obra que se esboça entre as suas mãos, eu não poderia, de maneira alguma, compreender que móvel levaria o homem a iniciar e levar a seu termo vastos e penosos empreendimentos nas artes, nas ciências e na vida prática...O desacordo entre os sonhos e a realidade nada tem de nocivo, sempre que a pessoa que sonhe acredite seriamente no seu sonho, observe atentamente a vida, compare as suas observações com os seus castelos no ar e, de uma maneira geral, trabalhe escrupulosamente para a realização das suas fantasias. Quando existe um contato entre o sonho e a vida tudo vai bem. 5 Pois bem, sonhos desta natureza, infelizmente, são muitos raros no nosso movimento. E a culpa têm-na sobretudo os representantes da crítica legal e do ‘seguidismo’ ilegal, que se gabam da sua ponderação, da sua ‘proximidade’ do ‘concreto’.
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Notas: (1) Bachibuzuques: tropas irregulares turcas especialmente conhecidas pela sua ferocidade. (N. Ed.) (2) Camarada Kritchévski e camarada Martinóv! Chamo a vossa atenção para esta escandalosa manifestação de ‘absolutismo’, de autoridade sem controle’, de ‘regulação suprema’, etc. Olhai: quer apoderar-se de toda a cadeia!! Apressai-vos a apresentar a vossa queixa. Tendes já um tema para dois artigos de fundo no n.º 12 da Robótcheie Dielo (3) Martínov ao inserir na R. Dielo a primeira frase desta citação (n.º 10, 10, p.620, omite precisamente a segunda frase, como que sublinhando assim que não queria tocar na essência da questão ou de que era incapaz de a compreender. (4) Com uma reserva: desde que simpatize com a orientação deste jornal e considere útil à causa ser seu colaborador, entendendo-se por isto não só a colaboração literária, mas toda a colaboração revolucionária em geral. Nota para a ‘Rabótcheie Dielo’: esta reserva subentende-se para os revolucionários que apreciam o trabalho e não o brincar à democracia, que não separam as ‘simpatias’ da participação mais ativa e real. (5) Vladimir Ilich Lênin cita o artigo de D. I. Píssarev Erros de um pensamento imaturo.
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PODE O PARTIDO DEGENERAR? J os e f S táli n , in ‘Perguntas e respostas’ da palestra
proferida por na Universidade de Sverdlov, 9 de junho de 1925 Pergunta – Quais são os perigos de degenerescência do nosso Partido caso a estabilização do capitalismo se prolongue? Resposta – Existem realmente esses perigos? Sim, é indiscutível que existem e são bem reais. Eles existem independentemente da estabilização, que apenas os tornam mais palpáveis. Eis, em minha opinião, os três perigos principais: 1. O perigo de perdermos a perspectiva socialista no trabalho de edificação do nosso país e, em conseqüência, o perigo de aparecer uma tendência de liquidação das conquistas da revolução; 2. O perigo de perder a perspectiva revolucionária internacional e, portanto, o perigo de aparecimento do nacionalismo; 3. O perigo de enfraquecer a direção do Partido e, portanto, a possibilidade de o Partido se transformar num apêndice do aparelho estatal. Comecemos pelo primeiro desses perigos. Ele caracteriza-se pela falta de confiança nas forças internas da nossa revolução; pela falta de confiança na aliança entre os operários e os camponeses e no papel 208
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dirigente do proletariado nessa aliança; pela falta de confiança na transformação da “ Rússia da NEP” em Rússia socialista; pela falta de confiança na vitória da construção socialista no nosso país. Esta é a via do liquidacionismo e da degeneração, porque leva à liquidação dos princípios e objetivos da Revolução de Outubro, à degeneração do Estado proletário num Estado democrático-burguês. A origem desta mentalidade, o terreno que lhe permite desenvolver-se dentro do Partido, é o reforço da influência burguesa sobre o Partido nas condições da Nova Política Econômica e da luta desesperada entre os elementos capitalistas e os elementos socialistas no seio da nossa economia. Os elementos capitalistas não lutam apenas no domínio econômico; tentam transpor a luta para o domínio da ideologia proletária, procuram introduzir nos nossos destacamentos menos firmes a falta de confiança na possibilidade de construir o socialismo, o ceticismo em relação às perspectivas socialistas do nosso trabalho de edificação; e não se pode dizer que os seus esforços tenham sido completamente estéreis. “Como pode um país atrasado como o nosso edificar o socialismo integral”, dizem alguns desses comunistas contaminados. “O estado das forças produtivas no nosso país não nos permite aspirar a objetivos tão utópicos. Procuremos manter-nos no poder como pudermos e deixemos de sonhar com o socialismo. Façamos o que é possível de momento e depois se verá.”
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Dizem outros: “Já cumprimos a nossa missão revolucionária ao fazer a Revolução de Outubro. Agora tudo depende da revolução internacional, porque sem a vitória do proletariado do Ocidente não poderemos construir o socialismo. Para dizer a verdade, um revolucionário já não tem mais nada a fazer na Rússia...” como se sabe, em 1923, às vésperas da revolução na Alemanha, uma parte da juventude das nossas escolas estava disposta a abandonar os livros e partir para a Alemanha, considerando que um revolucionário já nada tinha a fazer na Rússia e que o seu dever era ir fazer a revolução para a Alemanha. Como vêem, tanto um como outro destes dois grupos de comunistas negam as potencialidades socialistas do nosso trabalho de construção, adotam uma posição liquidacionista. A diferença entre eles consiste em que os primeiros cobrem o seu liquidacionismo com a teoria pseudocientífica das “forças produtivas” (não foi por acaso que Miliukov os elogiou, há dias, no seu “Posliednie Novosti”, como “marxistas sérios”), ao passo que os segundos cobrem o seu liquidacionismo com frases de esquerda e “terrivelmente revolucionárias” acerca da revolução mundial. Com efeito, admitamos que um revolucionário nada tenha a fazer na Rússia; admitamos que seja inconcebível e impossível edificar o socialismo no nosso país antes da vitória nos outros países; admitamos que a vitória do socialismo nos países avançados só surja daqui a dez ou vinte anos. Pode-se acreditar que, nestas circunstâncias, com o país cercado por Estados burgueses, os elementos 210
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capitalistas da nossa economia consintam em parar a luta sem tréguas contra os elementos socialistas e esperem, de braços cruzados, o triunfo da revolução mundial? Basta colocar esta suposição para ver todo o seu absurdo. Mas, nesse caso, o que resta para fazer aos nossos “marxistas sérios” e aos nossos “terríveis revolucionários”? Obviamente, não lhes resta senão seguir a corrente e degenerar pouco a pouco em vulgares democratas burgueses. Das duas uma: ou nós consideramos o nosso país como a base da revolução mundial, possuímos, como disse Lênin, tudo o que é necessário à construção de uma sociedade socialista integral - e, nesse caso, podemos e devemos construir essa sociedade, na perspectiva de uma vitória completa sobre os elementos capitalistas da nossa economia; ou então não consideramos o nosso país como a base da revolução mundial, não temos as condições necessárias à construção do socialismo, é-nos impossível construí-lo – e, nesse caso, se a vitória do socialismo nos outros países demorar, teremos que nos resignar com a perspectiva de os elementos capitalistas da nossa economia levantarem a cabeça, de o regime dos soviets entrar em decadência, de o Partido degenerar. Ou uma coisa ou a outra. É por isso que a falta de confiança nas potencialidades socialistas do nosso trabalho de construção leva à liquidação e à degenerescência. É por isso que a luta contra o perigo liquidacionista é uma tarefa imediata do nosso Partido, sobretudo no 211
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período atual, enquanto durar a estatização temporária do capitalismo. Passemos ao segundo perigo. Ele caracteriza-se pela falta de confiança na revolução proletária mundial, na sua vitória; falta de confiança no movimento de libertação nacional das colônias e nações dependentes; pela incompreensão de que, sem o apoio do movimento revolucionário internacional, o nosso país não teria podido resistir ao imperialismo mundial; pela incompreensão de que a vitória do socialismo num país isolado não pode ser definitiva porque está à mercê de uma intervenção enquanto a revolução não tiver triunfado pelo menos em vários outros países; pela incompreensão da base do internacionalismo, que exige que o triunfo do socialismo num país não seja um fim em si, mas um meio de desenvolver e apoiar a revolução noutros países. Essa é a via que leva ao nacionalismo, à degenerescência, à liquidação total da política internacional do proletariado, porque aqueles que são afetados por essa doença consideram o nosso país, não como uma parte do movimento revolucionário internacional, mas como o princípio e o fim desse movimento, consideram que os interesses de todos os outros países devem ser sacrificados aos interesses do nosso país. Apoiar o movimento de libertação nacional da China? Para que? Não será isso perigoso? Não nos trará complicações com outros países? Não será melhor 212
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estabelecer “esferas de influência” na China de acordo com outras potências “civilizadas” e apanharmos uma parte desse país? Isso traria vantagens e não arriscaríamos nada... apoiar o movimento de emancipação na Alemanha? Valerá a pena? Não seria melhor entrar em acordo com os Aliados acerca do Tratado de Versalhes e obter uma compensação? Manter a amizade com a Pérsia, Turquia, Afeganistão? Não nos seria mais vantajoso abdicarmos dela? Não seria melhor restabelecer as “esferas de influência” de acordo com uma ou outra das grandes potências? E assim por diante. Esta é uma mentalidade nacionalista de novo tipo que tenta liquidar a política externa da Revolução de Outubro e onde se desenvolvem à vontade os elementos de degenerescência. Enquanto o primeiro perigo, o perigo de liquidacionismo, surge da influência burguesa sobre o Partido no terreno da política interna, no terreno da luta entre os elementos capitalistas e socialistas na nossa economia, a origem do segundo perigo, do perigo de nacionalismo, está no reforço da influência burguesa sobre o Partido no terreno da política externa, no terreno da luta que os Estados capitalistas conduzem contra o Estado de Ditadura do Proletariado. É fora de dúvida que a pressão dos Estados capitalistas sobre o nosso Estado é enorme, que os funcionários do nosso Comissariado dos Negócios Estrangeiros nem sempre lhe conseguem resistir e, pelo receio de complicações internacionais, são tentados muitas vezes a seguir o caminho da menor resistência, o caminho do nacionalismo. 213
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É evidente que, só na base do internacionalismo conseqüente, da política externa da Revolução de Outubro, pode o primeiro Estado proletário continuar sendo o porta-bandeira do movimento revolucionário mundial; e é claro que a linha da menor resistência e do nacionalismo em política externa significa o isolamento e a decomposição do país da primeira revolução vitoriosa. É por isso que a ausência de uma perspectiva revolucionária internacional leva ao perigo do nacionalismo e da degenerescência. É por isso que a luta contra o perigo do nacionalismo na política externa é uma das tarefas imediatas do Partido. Passemos finalmente ao terceiro perigo. O seu traço característico é a falta de confiança nas forças internas do Partido e o seu papel dirigente; a tendência do aparelho de Estado para enfraquecer a direção do Partido, para se emancipar dela; a incompreensão de que, sem a direção do Partido Comunista não pode existir ditadura do proletariado. Esse perigo ameaça-nos de três lados. Primeiro, as classes que temos de dirigir modificaram-se. Os operários e os camponeses já não são os mesmos do período do comunismo de guerra. Antes, a classe operária estava desorganizada e dispersa, os camponeses estavam dominados pelo medo do regresso dos senhores da terra em caso de derrota na guerra civil, e o Partido, única força centralizada, governava em estilo militar. Agora a situação é outra. Já não há guerra. 214
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Portanto, o perigo eminente que agrupava as massas trabalhadoras à volta do nosso Partido já não existe. O proletariado recompôs-se e elevou o seu nível material e cultural. Os camponeses também se desenvolveram e educaram. A atividade política de ambas as classes cresceu e continuará a crescer. Já não podem ser governadas em estilo militar. Em primeiro lugar, é necessária a maior flexibilidade nos métodos de direção. Em segundo lugar, é preciso dar extrema atenção às necessidades e aspirações dos operários e camponeses. Em terceiro lugar, é preciso saber chamar ao Partido os operários e camponeses que surgem na vanguarda devido ao desenvolvimento da atividade política destas classes. Mas, como sabemos, essas qualidades e condições não se adquirem de um dia para o outro. Daí o desnível entre o que se exige do Partido e aquilo que ele pode dar neste momento. Daí também o perigo de enfraquecimento da atividade dirigente do Partido, o perigo de o Partido perder o papel dirigente. Em segundo lugar, é de notar que nestes últimos tempos, durante o período de desenvolvimento econômico, os aparelhos das organizações estatais e públicas se alargaram consideravelmente e se fortaleceram. Os trustes e sindicatos, os organismos de comércio e crédito, as organizações administrativopolíticas, culturais e educativas e, por último, as cooperativas de todos os gêneros, cresceram e alargaramse muito, recrutando centenas de milhares de novos trabalhadores, a maior parte deles sem partido. E esses aparelhos não aumentam só numericamente; o seu poder e influência aumentam também. E quanto mais cresce a 215
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sua importância, mais sensível se torna a sua pressão sobre o Partido, com maior persistência tentam enfraquecer o papel dirigente do Partido, maior é a sua resistência ao Partido. É preciso proceder a um reagrupamento das forças e a uma distribuição dos elementos dirigentes por esses aparelhos, de forma a assegurar a direção do Partido na situação nova em que nos encontramos. Mas isso não se consegue de repente. Daí o perigo de que o aparelho de Estado se desligue do Partido. Em terceiro lugar, o próprio trabalho se tornou mais complicado e variado. Falo do nosso trabalho atual de edificação. Setores inteiramente novos de atividade surgiram nas cidades e nos campos, obrigando a direção a tornar-se mais concreta. Antes era habitual falar-se de direção “em geral”. Agora, a direção “em geral” não passa de palavreado que nada dirige. Hoje se exige uma direção concreta, específica. O período anterior criou uma espécie de militante do tipo sabe-tudo, pronto a responder a qualquer questão teórica ou prática. Agora, esse tipo de militante deve ceder o lugar ao novo tipo de militante, capaz de se tornar conhecedor de um dado ramo da atividade. Para dirigir efetivamente é preciso conhecer a fundo o seu setor de trabalho, estudá-lo conscienciosamente, com paciência e perseverança. Não se pode dirigir no campo sem conhecer a agricultura, as cooperativas, a política de preços, sem ter estudado as leis que respeitam diretamente ao campesinato. Não se pode dirigir na cidade sem conhecer as indústrias, as condições de vida dos operários, as suas reivindicações e aspirações, sem conhecer tudo o que se relaciona com os sindicatos, 216
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as cooperativas e associações. Infelizmente, todos esses conhecimentos não se adquirem num abrir e fechar de olhos. Para elevar a ação dirigente do Partido ao nível exigido, é necessário antes de tudo elevar a preparação dos militantes do Partido. Mas não é fácil elevá-la rapidamente. Ainda persistem nas organizações do Partido os antigos hábitos de dar ordens a torto e a direito em vez de estudar as questões. É por isso que a chamada ação dirigente do Partido degenera por vezes num ridículo amontoado de ordens perfeitamente inúteis, numa “direção” verbal, puramente imaginária. Esse é um dos perigos mais sérios de enfraquecimento e desaparição da direção do Partido. São estas, de modo geral, as razões por que o perigo de o Partido perder a direção leva ao enfraquecimento e degenerescência do Partido. É por isso que o combate resoluto contra esse perigo é uma das tarefas imediatas do nosso Partido.
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A FORMAÇÃO DA MORAL COMUNISTA Nikolai Ivanovich Boldyriev in Folheto editado em Moscou, em 1951, pela Sociedade de Divulgação dos Conhecimentos Políticos e Científicos da URSS Lênin e Stálin, chefes do Partido Bolchevique e do povo soviético, sempre dedicaram uma grande atenção aos problemas relativos à formação da moral comunista. Em seus numerosos trabalhos formularam as tarefas e os princípios básicos da formação da moral comunista e indicaram os caminhos para a formação do homem novo nas condições da luta pela vitória do comunismo. Lênin e Stálin dedicaram uma atenção particularmente grande à educação da jovem geração no espírito da moral comunista. Em seu histórico discurso pronunciado por ocasião do III Congresso do Komsomol, Lênin afirmou: “É preciso que toda a tarefa de educação, formação e aprendizagem da juventude atual seja a sua formação segundo os princípios da moral comunista” . Lênin e Stálin consideravam as tarefas de educação da jovem geração no espírito da moral comunista em ligação indissolúvel com as tarefas de edificação da sociedade comunista. Partem da consideração de que é justamente à juventude que cabe concluir a edificação da sociedade comunista. 218
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Stálin afirmou: “Camaradas! A juventude é nosso futuro, nossa esperança. A juventude deve nos substituir, os velhos. Deve conduzir nossa bandeira à vitória final” . Para que a juventude possa cumprir essa tarefa, deve ser educada no espírito da nova moral, a moral comunista. Devem ser-lhe inoculadas as mais elevadas qualidades morais, necessárias a ativos construtores do comunismo. O futuro do nosso país e o futuro de toda a humanidade depende em grau considerável da educação que se der à juventude e da formação que se der à nossa jovem geração. É por esse motivo que os problemas relativos à educação da juventude no espírito da moral comunista sempre atraíram a atenção dos chefes dos trabalhadores Lênin e Stálin. É por esse motivo que tais problemas sempre estiveram e continuam a estar no centro da atenção de nosso Partido Bolchevique e do Estado soviético.
A ESSÊNCIA DA MORAL COMUNISTA E SUAS CARACTERÍSTICAS FUNDAMENTAIS Lênin e Stálin revelaram em toda a sua profundeza a essência da moral comunista e demonstraram de maneira
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convincente a sua particularidade como moral de novo tipo. A moral comunista, ou ética comunista, é o conjunto de normas e regras que determinam a conduta dos homens construtores do comunismo. As normas e regras da moral comunista representam um guia para a ação não só dos homens soviéticos, mas também para os povos dos países de democracia popular que constroem o socialismo e para os representantes da vanguarda dos trabalhadores de todo o mundo que travam luta contra os exploradores. “Na base da moral comunista - ensina-nos Lênin - se encontra a luta pela conciliação e coroamento do comunismo” . Por isso, do ponto de vista da ética comunista, é moral o que contribui para a destruição da velha sociedade exploradora e para a construção da nova sociedade, a sociedade comunista. Tudo que impeça a realização desse objetivo é reprovável e amoral. Daí se conclui que a luta pela edificação do comunismo é o critério mais elevado da moral comunista. Ser homem de moral significa, segundo o que conceituamos, empregar todas as suas forças e energias na causa da luta pela sociedade nova, a sociedade comunista. Em discurso pronunciado por ocasião do III Congresso do Komsomol, Lênin condenou a afirmação dos ideólogos da burguesia no sentido de que os comunistas negam a moral. 220
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“Existe a moral comunista? Existe a ética comunista?” , perguntou Lênin. E respondeu: “É evidente que sim. Com freqüência apresenta-se o problema seguido da afirmativa de que não temos moral própria e muito amiúde a burguesia nos acusa de que nós, os comunistas, negamos qualquer espécie de moral. Tratase de um processo de inversão dos termos do problema, um meio de atirar areia nos olhos dos operários e camponeses. Em que sentido negamos a moral, negamos a ética? No sentido em que as prega a burguesia, que estabeleceu a sua moral por decreto de Deus. Evidentemente, a esse respeito afirmamos que não acreditamos em Deus e sabemos muito bem que em nome de Deus fala o clero, falam os latifundiários e fala a burguesia a fim de defenderem os seus interesses de exploradores”. Lênin demonstrou de maneira convincente a inconsistência e o absurdo das afirmações dos ideólogos da burguesia no sentido de que os princípios da moral foram prescritos por Deus ao homem e por isso são “eternos” e “imutáveis”. Ao mesmo tempo, Lênin desmascarou as afirmações idealistas dos moralistas burgueses no sentido de que os princípios morais são inerentes à própria natureza humana e que foram postos em sua "alma" para todo o sempre. A moral, como uma das formas de consciência social, surge no processo da atividade produtiva e de trabalho dos homens na sociedade. Os princípios morais e as normas de conduta não têm suas raízes nas particularidades biológicas do homem, mas nas condições 221
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da sua vida social. Por isso que a moral é um fenômeno social. Os fundadores do marxismo-leninismo nos ensinam que a moral é uma categoria histórica. Não há e não pode haver uma só moral útil para todos os tempos e povos. Com a modificação das condições sociais e econômicas modificam-se também as regras que regulam as relações recíprocas entre os homens, as regras de sua conduta. "Não acreditamos na moral eterna e desmascaramos todos os embustes e contos de fada sobre a moral" , afirmou Lênin. Cada época histórica tem as suas normas morais. Assim, por exemplo, na Grécia antiga os espartanos atiravam ao precipício as crianças fracas e portadoras de defeitos físicos porque consideravam impossível torná-las guerreiros bons, fisicamente fortes. Esse costume selvagem do nosso ponto de vista não era considerado amoral naquela época. Novas condições sociais, via de regra, dão origem a novos pontos de vista sobre a vida, a novas normas de conduta. "A dialética nos afirma - ensina-nos o camarada Stálin - que no mundo não há nada eterno, no mundo tudo é transitório e mutável, modifica-se a natureza, modificase a sociedade, modificam-se os hábitos e costumes, modificam-se os conceitos de justiça, modifica-se a própria verdade..." . A moral, como forma de consciência social, reflete as relações sociais entre os homens e no final das contas é determinada pelas condições da vida material da 222
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sociedade. Ao desenvolvimento e à modificação da vida espiritual da sociedade precedem o desenvolvimento e a modificação de sua vida material. “Na vida social - afirma o camarada Stálin - primeiro se modificam as condições materiais e depois se modificam de acordo com estas o pensamento dos homens, seus hábitos, seus costumes, sua concepção do mundo." Assim como outros elementos da superestrutura, a moral não se modifica automaticamente e ao mesmo tempo em que se verificam modificações nas condições materiais da vida da sociedade, mas com algum atraso. A semelhança da consciência dos homens, a moral em seu desenvolvimento se atrasa em relação ao desenvolvimento econômico da sociedade. É por isso que após a passagem a um novo regime encontram-se comumente entre os homens restos e sobrevivências das regras morais do passado. Assim é que, por exemplo, entre determinadas pessoas de nossa sociedade socialista ainda não se acham superados os restos e sobrevivências da moral burguesa. A luta contra essas sobrevivências representa uma importantíssima tarefa da educação comunista. O direito, a filosofia, a arte e a religião exercem uma séria influência sobre a formação e o desenvolvimento da moral. Podem acelerar ou retardar o desenvolvimento da moral. É particularmente grande a influência das idéias avançadas para a formação da nova moral nas condições de nossa sociedade socialista. No final das contas, porém, o desenvolvimento da moral e sua substituição dependem das modificações que se verificam nas condições materiais 223
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da vida da sociedade, da modificação das relações econômicas. Ao mesmo tempo é necessário ter em vista que a moral, como fenômeno de caráter de superestrutura, exerce, por sua vez, uma séria influência sobre a infraestrutura. O camarada Stálin nos ensina que a superestrutura é originada pela infra-estrutura, mas isso não significa que seja passiva, neutra e indiferente em relação ao destino de sua infra-estrutura: "Pelo contrário. Logo que surge, torna-se uma grandiosa força operativa que coopera ativamente para que a infra-estrutura assuma forma definitiva e se consolide, e toma todas as medidas no sentido de ajudar o novo regime a dar cabo e a liquidar a velha infra-estrutura e as velhas classes.” Nossa moral comunista, que expressa as tendências progressivas da sociedade soviética, é uma grandiosa força que contribui para a vitoriosa edificação do comunismo. Acelera de maneira considerável os ritmos do desenvolvimento de nossa sociedade e multiplica as fontes de poderio da nossa Pátria. A moral comunista ajuda, ao mesmo tempo, a se lutar com maior êxito contra as sobrevivências do regime burguês e contra os restos da moral burguesa. Dá ao nosso povo uma imensa força para lutar contra todas as ideologias reacionárias, estranhas à nossa. Contribui para a consolidação ulterior do regime social e estatal soviético. Os fundadores do marxismo-leninismo nos ensinam que numa sociedade de classe a moral apresenta um caráter de classe. Não há e não pode haver uma moral 224
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idêntica entre pessoas de classes diferentes. Os homens sempre formam, consciente ou inconscientemente, os seus pontos de vista morais partindo das condições concretas de sua situação de classe. Por isso cada classe tem uma moral própria. De acordo com as condições de seu viver social, as diferentes classes da sociedade elaboraram diferentes opiniões sobre conceitos como "bem" e "mal", “justiça" e "injustiça”, etc. Condenando a afirmação de Dühring sobre a possibilidade da existência numa sociedade de classe de uma moral comum a toda a humanidade e sem caráter de classe, Engels afirmou: "... toda teoria da moral foi até hoje, no final das contas, um produto de determinada condição econômica da sociedade. E uma vez que até agora a sociedade se desenvolveu dentro das contradições de classe, então a moral tem sido sempre uma moral de classe...”. Há na sociedade capitalista, segundo a afirmação de Engels, três tipos de moral: a moral da aristocracia feudal, legada da época do feudalismo, a moral burguesa e a moral da classe operária. Cada uma delas apresenta as suas particularidades condicionadas pela situação das citadas classes na sociedade. A moral das classes exploradoras reflete os interesses das forças obsoletas da sociedade, tem por objetivo final defender a propriedade privada dos meios e instrumentos de produção. Acha-se voltada para o passado e condena decididamente tudo o que é novo e avançado. A moral da classe operária é a moral da classe mais avançada na história da sociedade humana. Reflete as aspirações e os interesses das massas 225
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de milhões de trabalhadores. As suas reivindicações coincidem com a marcha progressiva do desenvolvimento da humanidade. É por isso que a moral da classe operária, a moral comunista, livre das contradições, se tornará com o tempo a moral comum a toda a humanidade. Uma moral comum a toda humanidade somente se tornará possível num grau de desenvolvimento social em que não só estará superada a oposição entre as classes, mas também desaparecerão as suas pegadas na vida prática. Lênin se referiu por diversas vezes ao caráter de classe da moral. Já em 1895 afirmou em seu trabalho O conteúdo econômico do populismo e a crítica que dele faz o Sr. Struve: "O sistema de apropriação da mais-valia produzida pelos camponeses servos presos à terra criou a moral do Feudalismo; o sistema do ‘trabalho livre’, do trabalho ‘por conta de outrem’, para o proprietário do dinheiro criou em sua substituição a moral burguesa" . Os ideólogos da burguesia afirmam que a moral burguesa é “comum a toda a humanidade”, visam a estabelecer “verdades morais eternas” e "princípios morais eternos” na realidade proveitosos somente aos exploradores. Os fundadores do marxismo-leninismo desmascararam a teoria dos que pregam que a moral está “acima das classes’’ e demonstraram que, numa sociedade de classe, entre as pessoas de diferentes classes se formam diferentes pontos de vista sobre as regras de conduta humana e diferentes princípios morais.
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Lênin afirmou em discurso pronunciado por ocasião do III Congresso do Komsomol: “Negamos a moral extraída de um conceito alheio à humanidade e alheio às classes. Afirmamos que se trata de um logro, de uma chantagem e de entorpecimento da mente dos operários e camponeses em defesa dos interesses dos latifundiários e capitalistas. Afirmamos que nossa moral se acha totalmente subordinada aos interesses da luta de classes do proletariado. Nossa moral decorre dos interesses da luta de classes do proletariado”. Os princípios morais desta ou daquela classe constituem parte integrante de sua ideologia. Numa sociedade de classes a moral dominante é a moral da classe dominante. Lênin e Stálin submeteram a moral burguesa a uma crítica esmagadora pondo a nu a sua falsidade e hipocrisia. Demonstraram que a moral burguesa torna regra a opressão de milhões de homens pelos capitalistas e justifica a exploração do homem pelo homem. A moral burguesa surgiu para substituir a moral feudal. Tanto uma como outra, porém, apesar de toda a sua diferenciação, apresentam um caráter de exploração. Lênin afirmou, caracterizando a sociedade burguesa e sua moral que defende a exploração: "A velha sociedade estava baseada no princípio seguinte: ou saqueia teu próximo ou este saqueia a ti; ou trabalhas para outrem ou este para ti; ou és dono de escravos ou és escravo. É natural que os homens educados em tal sociedade assimilem com o leite materno, por assim dizer, a psicologia, os costumes e a idéia de que não existe mais 227
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do que o amo e o escravo, o pequeno proprietário, o pequeno empregado, o pequeno funcionário intelectual, em uma palavra: homens que se ocupam exclusivamente de defender o seu sem pensar nos demais. ‘Se exploro minha parcela de terra, pouco me importa os demais. Se alguém tem fome tanto melhor, venderei meu trigo mais caro. Se tenho meu lugarzinho de médico, de engenheiro, de professor ou de empregado, que me importam os demais? Se me arrasto ante os poderosos é possível não só que conserve meu posto, mas também que possa fazer carreira e chegue a burguês’. Trata-se de uma psicologia e de um estado de ânimo que não podem existir em um comunista”. A moral burguesa se baseia nos seguintes princípios: "O homem é lobo do homem" , "Se não enganas não conseguirás vencer" , "Cada qual por si e Deus por todos” . Na sociedade burguesa, baseada na exploração e na opressão do homem pelo homem, trava-se uma incessante "guerra de todos contra todos". Na notável obra de Máximo Gorki, Tomás Gordeev , o comerciante Maiakin diz: "A vida, irmão Tomás, é muito simples: ou mordes a todos, ou não consegues tirar o pé da lama...” . Para a sociedade burguesa é característica a abolição da personalidade individual, o sufocamento da personalidade humana e o individualismo. Há o seguinte aforismo num dos compêndios de moral editados na França: "A luta por uma vida feliz somente é possível quando cada qual pensa exclusivamente em si mesmo” .
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O individualismo e o egoísmo são os traços mais característicos da moral burguesa. Isso decorre das relações econômicas e políticas da sociedade burguesa baseada na propriedade privada dos meios e instrumentos de produção e na exploração do homem pelo homem. Todo o sistema de educação moral dos países burgueses se acha orientado para a formação e fortalecimento dos princípios da moral burguesa entre a nova geração. Já Marx afirmava que "a burguesia entende por educação moral a imposição dos princípios burgueses" . Mascarando-se com frases bombásticas a respeito da moral "eterna" e "comum a toda a humanidade”, a escola burguesa infunde nas crianças a veneração à propriedade privada. Cumprindo ordens de seus patrões - os capitalistas - os pedagogos burgueses visam a inocular nas crianças e na juventude os princípios da moral burguesa. Esforçam-se por transformar os filhos dos trabalhadores em serviçais submissos e obedientes à burguesia, educar homens passivos e sem capacidade de iniciativa, incapazes de lutar ativamente contra seus opressores. A escola burguesa e as organizações infantis e juvenis reacionárias dos países imperialistas não só sufocam as melhores aspirações da juventude, mas também envenenam sua consciência com o veneno da corrupta moral burguesa. A moral reacionária da atual burguesia imperialista luta contra o progresso. É característica sua a tendência ao velho, ao obsoleto e o medo do novo, do que é progressista. Isso é explicável pelo fato de que o regime 229
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capitalista conduz os imperialistas a um beco sem saída. A revolução socialista representa a única saída desse beco. O pavor que os imperialistas têm dessa revolução dá origem ao seu pessimismo e ao seu temor de tudo o que é novo e progressista. Refletindo os interesses e as tendências das forças reacionárias da sociedade, a moral burguesa contemporânea impede que se formem entre os homens da sociedade burguesa nobres qualidades morais. Os ideólogos do imperialismo anglo-americano pregam hoje com intensidade a crueldade e o ódio ao homem e expulsam da consciência dos homens tudo o que é nobre e humano. A atual literatura e arte americanas envenenam a consciência do povo, visam a educar no homem os traços mais repugnantes da corrupta moral burguesa e cultivam entre eles paixões egoístas e animais. Na luta pelo domínio mundial, os imperialistas angloamericanos não se detêm diante de nenhuma consideração. Perdem sua fisionomia humana e descem ao nível dos animais selvagens. As atrocidades cometidas pelos piratas e aventureiros anglo-americanos na Coréia testemunham essa situação confirmada por toda a sua política interna e externa. Em informe apresentado ao XVIII Congresso do Partido, Stálin, já em 1939, se referiu à falta de moral dos imperialistas anglo-americanos. Desmascarando sua política de "não intervenção" como política de traição e apostasia, o camarada Stálin afirmou: "Seria ingênuo pregar moral a pessoas que não reconhecem a moral humana". 230
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Os acontecimentos posteriores e, particularmente, os acontecimentos dos últimos anos, confirmaram integralmente essa característica dos imperialistas angloamericanos. *** A moral comunista se origina entre as fileiras da classe operária já na sociedade capitalista. Entre os representantes da vanguarda da classe operária e no decurso da luta contra o capitalismo se formam qualidades como a solidariedade e a ajuda mútua entre camaradas, ódio em relação aos exploradores e o espírito de organização, disciplina, firmeza, persistência e de decisão na luta contra o capital. Lênin afirmou em 1920, ao caracterizar a fisionomia moral do proletariado: "A firmeza, a perseverança, a disposição, a decisão e a habilidade em experimentar por centenas de vezes, em tentar novamente por centenas de vezes e alcançar o objetivo custe o que custar são qualidades que o proletariado adquiriu em 10, 15, 20 anos antes da Revolução de Outubro e fortaleceu-as no decurso de dois anos após essa revolução, sofrendo privações sem precedentes, a fome, a ruína e as desgraças. Essas qualidades do proletariado são uma garantia de que ele vencerá” . A existência dessas qualidades assegurou à classe operária e ao seu Partido uma imensa autoridade entre os trabalhadores e ajudou a incorporar à luta contra o capitalismo toda a massa dos trabalhadores e explorados.
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Em artigo publicado em 1907 e dedicado à memória do operário revolucionário G. Telia, o camarada Stálin se referiu às notáveis qualidades morais que o Partido Bolchevique formou entre a classe operária: “Tudo o que, acima de tudo, caracteriza o Partido Social-Democrata: a sede de conhecimentos, a independência, o inflexível movimento para a frente, a firmeza, o amor ao trabalho, a força moral - tudo isso se encontrava na pessoa do camarada Telia. Telia encarnava as melhores características de um proletário” . O Partido Bolchevique formava entre a classe operária essas características apesar do fato de que a burguesia visava a envenenar a consciência dos operários com o veneno do egoísmo, da hipocrisia, da concorrência e do individualismo. A moral comunista se formou em nosso país após a Grande Revolução Socialista de Outubro e na base de novas relações sociais. Após haver destruído os fundamentos da velha sociedade exploradora, a Revolução de Outubro modificou não só as condições materiais de vida dos homens, mas também sua consciência e conduta social. Foi, segundo a expressão do camarada Stálin, “uma revolução nos espíritos e uma revolução na ideologia da classe operária”. O regime soviético criado como resultado da vitória da revolução socialista assegurou aos homens soviéticos as condições de uma existência realmente humana. Criou as premissas para um ilimitado progresso ideológico e cultural dos homens soviéticos, para a manifestação de suas forças e capacidade criadora e para sua educação no 232
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espírito da moral comunista. Logo, a partir dos primeiros passos da jovem sociedade soviética, no fogo da luta de classes e na atividade prática consciente de edificação do socialismo, iniciou-se o processo de transformação e reeducação dos homens, o processo de formação de um homem novo, o homem soviético. A história da humanidade não conhece, numa amplitude tão grandiosa e em ritmos tão rápidos, um processo de transformação da consciência das massas populares como o que a revolução proletária trouxe consigo em nosso país, acelerando consideravelmente o progresso espiritual e mental do povo soviético. Como resultado da vitória do socialismo na URSS, verificou-se um gigantesco salto no desenvolvimento moral dos homens soviéticos. Em nossa sociedade soviética desenvolveu-se e consolidou-se - e continua a desenvolver-se - uma nova moral, a moral comunista, que regula a conduta de milhões de homens soviéticos. Quanto mais rapidamente marcha o processo de construção do comunismo, tanto mais rapidamente se eleva a consciência comunista e se fortalece a moral comunista entre os trabalhadores Durante os anos de edificação do socialismo, o homem soviético adquiriu novas qualidades morais e se tornou o homem mais avançado do mundo. "... O último cidadão soviético livre das cadeias do capital - afirmou o camarada Stálin – acha-se em situação superior a qualquer dignitário estrangeiro altamente colocado e que arraste sobre os ombros o jugo da escravidão capitalista...". 233
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Na sociedade soviética, baseada na cooperação fraternal entre os operários, os camponeses e os intelectuais, desenvolveram-se forças motrizes da categoria da unidade moral e política da sociedade soviética, da amizade entre os povos e do patriotismo soviético. Essas forças motrizes garantem um maior progresso e desenvolvimento da moral comunista. Todo o estilo e todo o regime de vida soviético é tal que em nosso país se desenrola diariamente e sem cessar o processo de formação entre os homens soviéticos de elevadas qualidades morais, o processo de formação dos notáveis traços do homem novo. Porém, esse processo - o processo de educação do homem novo - não se verificou e continua a não se verificar espontaneamente, por si mesmo. A formação da moral comunista é um processo ativo, no qual nosso Partido Comunista representa um papel dirigente. As transformações que se verificaram na consciência e na conduta dos homens soviéticos não surgiram automaticamente em conseqüência da revolução socialista e da transformação das bases materiais da sociedade soviética. Essas modificações representam o resultado de um prolongado trabalho de organização e de educação realizado pelo Partido Bolchevique e pelo Estado soviético O Partido Bolchevique sempre formou e continuará a formar entre os homens soviéticos qualidades tão notáveis como a dedicação à causa do comunismo, amor ardente à pátria socialista e ódio em relação a seus inimigos, um elevado espírito de disciplina e uma atitude nova, 234
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comunista, em relação ao trabalho e à propriedade social, uma nova atitude em relação aos homens, etc. Logo a partir dos primeiros dias da Grande Revolução Socialista de Outubro a tarefa da educação comunista e da reeducação das massas populares foi apresentada pelo Partido Bolchevique como tarefa imediata, de magna importância. Stálin afirmou em seu informe Balanço do XIII Congresso do PC (b) da URSS que a reeducação das velhas gerações e a educação das novas gerações no espírito da ditadura do proletariado “são tarefas imediatas de nosso Partido sem cuja realização é impossível a vitória do socialismo”. O Partido Bolchevique realizou com êxito essas tarefas e criou novas qualidades morais entre os povos soviéticos que se manifestaram de maneira particularmente brilhante nos anos da Grande Guerra Pátria. O camarada Stálin afirmou em 1935, ao saudar os participantes da corrida de cavalos de Ashkabad a Moscou: “Somente a clareza de objetivos, a perseverança nos esforços para se alcançar os objetivos e a firmeza de caráter que superam todos e quaisquer obstáculos poderiam assegurar uma vitória tão brilhante. O Partido Comunista pode se congratular pelo fato de que são justamente essas as qualidades que cultiva entre os trabalhadores de todas as nacionalidades de nossa imensa Pátria” . O trabalho educativo realizado pelo Partido Bolchevique educa o povo soviético no espírito da moral 235
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comunista. “Ao nosso Estado - ensina-nos o camarada Stálin - são inerentes funções culturais e educativas. Essas funções têm hoje um desenvolvimento particularmente amplo na etapa de transição do socialismo para o comunismo. Educando os homens soviéticos e, inclusive, a juventude no espírito da política do Partido Bolchevique, o Estado soviético desempenha um imenso papel na formação da fisionomia moral de nosso povo”. A nossa moral comunista encontra uma brilhante expressão na Constituição stalinista, a Constituição do socialismo vitorioso. A Constituição stalinista representa não só a lei básica da sociedade socialista que marcha no sentido do comunismo. Os artigos da Constituição stalinista, afirmou Kalinin, “representam não só a sistematização jurídica dos direitos e deveres do cidadão, mas também um poderoso fator de educação dos homens”. Por conseguinte, as fontes básicas da moral comunista são a vitória do socialismo em nosso país, que condicionou a criação de novas relações sociais, e o grande trabalho educativo realizado pelo Partido Bolchevique e pelo Estado soviético. A moral comunista que surgiu na base de novas relações sociais e como resultado do imenso trabalho educativo realizado pelo Partido Bolchevique e pelo Estado Soviético é uma moral nova de tipo superior. Nela se encontra a expressão da superioridade da ideologia comunista soviética em relação à ideologia burguesa.
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A superioridade da moral comunista e seu caráter progressista acham-se demonstrados e confirmados por toda a marcha do desenvolvimento social, confirmados pelas vitórias de significado histórico e mundial alcançadas pelo povo soviético e pela elevada fisionomia moral dos homens soviéticos. Quais são, porém, os traços básicos e as particularidades fundamentais da moral comunista? Na nossa sociedade socialista que marcha para o comunismo existem as premissas para a unidade de concepção do mundo e de conduta dos homens e para a unidade de convicções e ação comunistas. A moral comunista acha-se indissoluvelmente ligada à concepção comunista do mundo. Apóia-se nas idéias e convicções comunistas dos homens soviéticos em sua concepção do mundo. A concepção comunista do mundo permite que o homem soviético determine sem errar a justeza de sua conduta e assegura uma atitude crítica para a apreciação de sua conduta e da conduta de outros homens. O homem soviético, armado com a concepção comunista do mundo, sabe rechaçar quaisquer tentativas de insinuação da ideologia burguesa e da moral burguesa. Por conseguinte, a concepção comunista do mundo determina no final das contas a conduta dos homens soviéticos. Nisto se encontra uma das particularidades de nossa moral comunista. A unidade dos interesses pessoais e sociais dos homens soviéticos constitui igualmente uma importantíssima peculiaridade da moral comunista. Tal 237
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unidade só é possível na sociedade socialista. Somente em nosso país, que constrói o comunismo, os interesses do indivíduo coincidem com os interesses gerais do Estado. Já em 1906, em polêmica com os anarquistas, o camarada Stálin se referiu à coincidência entre os interesses pessoais e os interesses sociais na Era do socialismo. Em seu genial trabalho Anarquismo ou Socialismo? Stálin escreveu: “... o marxismo e o anarquismo acham-se estruturados sobre princípios inteiramente diferentes, apesar do fato de que ambos se apresentam na arena de luta sob a bandeira socialista. A pedra fundamental do anarquismo é a personalidade, cuja libertação, segundo prega, representa a condição principal da libertação das massas, da coletividade. Segundo o anarquismo, é impossível a libertação das massas enquanto a personalidade não se libertar, em vista do que decorre a sua palavra de ordem: Tudo para a personalidade. Entretanto, para o marxismo a pedra fundamental são as massas, cuja libertação, segundo sua opinião, é a principal condição de libertação da personalidade. Isto é, segundo o marxismo, é impossível libertar a personalidade antes de se libertar as massas, em vista do que decorre a sua palavra de ordem: Tudo para as massas”. As perspectivas de desenvolvimento de nossa sociedade soviética acham-se indissoluvelmente ligadas à satisfação dos interesses pessoais e das necessidades dos homens soviéticos e, por outro lado, os interesses pessoais do homem soviético não contradizem os interesses da Pátria socialista. Quanto mais se 238
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desenvolverem as bases materiais da sociedade soviética, tanto mais amplas se tornam as possibilidades de satisfação das necessidades pessoais do povo soviético. Tudo isto cria as premissas para a unidade entre os interesses pessoais e sociais dos homens soviéticos. A particularidade mais importante da moral comunista é representada pelo seu elevado caráter ideológico. Isso se explica pelo fato de que a formação de qualidades morais entre os homens soviéticos se baseia na ideologia marxista-leninista, a mais progressista. É justamente essa ideologia que assegura a superioridade moral comunista, a sua supremacia em relação a todas as outras espécies de moral das sociedades anteriores ao socialismo. Na base da nova moral do homem soviético se encontra o elevado caráter ideológico e a dedicação sem limites à causa do comunismo. São, precisamente, as idéias do comunismo que exercem uma influência enobrecedora sobre nosso povo e o elevam a uma altura moral sem precedentes. Um traço muito importante inerente ao homem soviético é a sua atitude ativa em relação à realidade, baseada no caráter operativo de nossa concepção do mundo, na unidade entre a teoria e a prática. A concepção comunista do mundo não só explica o mundo cientificamente, mas também convida à sua transformação revolucionária. O homem soviético estabelece contato com a realidade atuando ativamente sobre a mesma, modificando-a no processo da luta e da atividade criadora. Agindo sobre o mundo que o cerca, o homem soviético modifica-o e ao mesmo tempo se 239
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modifica a si próprio. A moral comunista é uma moral que prega a luta ativa. Não se limita a negar o velho e a reconhecer o novo, mas exige ações concretas em nome da criação do novo. Um traço característico da conduta do homem soviético é também o seu profundo otimismo baseado na convicção da justeza moral de sua causa. A Pátria socialista empresta à vida dos homens soviéticos um conteúdo rico e brilhante, assegura um florescimento sem precedentes do patriotismo soviético e cria as premissas para a formação de uma nova moral, penetrada do sentimento do otimismo. A moral comunista torna a vida dos homens soviéticos mais brilhante e rica de conteúdo. Acelera consideravelmente o desenvolvimento da sociedade soviética. Assim, por exemplo, o trabalho abnegado dos stakanovistas da indústria e dos vanguardeiros da agricultura, a luta pelo cumprimento do prazo e pela superação dos planos, a procura de novos caminhos de desenvolvimento da ciência e da técnica, etc., tudo isso, evidentemente, tem como fonte a moral nova, a moral comunista. Essas são, em traços gerais, as particularidades básicas da moral comunista, a mais sublime moral do mundo. A elevada fisionomia moral dos homens soviéticos representa um excelente exemplo para a educação comunista dos trabalhadores dos países de democracia
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popular e um exemplo para toda a humanidade progressista. O progresso moral dos homens soviéticos explica-se, em primeiro lugar, pelo fato de que o Partido Bolchevique e o Estado soviético para educarem e reeducarem as massas populares sempre se orientaram pelas diretivas leninistas-stalinistas relativas à formação da moral comunista. As elevadas qualidades morais dos homens soviéticos e sua beleza espiritual têm como fonte a doutrina de Lênin e de Stálin sobre a construção do comunismo e sobre a moral comunista. Na base dessa doutrina em nosso país se acha educada mais de uma geração que encarna os melhores traços e as elevadas qualidades morais do homem novo, o homem soviético.
AS TAREFAS E O CONTEÚDO DA FORMAÇÃO DA MORAL COMUNISTA Nos trabalhos de Lênin e de Stálin acham-se demonstradas de maneira brilhante e persuasiva as qualidades morais que os homens soviéticos devem possuir, inclusive nossa juventude. Em seu histórico discurso pronunciado por ocasião do III Congresso do Komsomol, Lênin dirigiu à juventude soviética um ardente apelo no sentido de que seguisse os princípios da nova moral, a moral comunista. Em muitos dos seus discursos o camarada Stálin assinalou a
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necessidade de formar elevadas qualidades morais no povo soviético. Apoiando-se nas numerosas manifestações de nossos dirigentes podem-se formular as tarefas básicas da educação da nossa juventude no espírito da moral comunista. Essas tarefas são as seguintes: 1. A educação do amor à Pátria, ao povo. Em outras palavras: a educação do patriotismo soviético, do orgulho nacional soviético. 2. A educação do respeito aos trabalhadores de todas as nacionalidades, do respeito aos direitos e à liberdade dos povos de todos os países, a educação do internacionalismo proletário. 3. A educação do ódio e da implacabilidade em relação aos inimigos do povo, aos inimigos da paz e da democracia. 4. A educação bolcheviques.
da
fidelidade
aos
princípios
5. A educação da coragem e do destemor na luta pelo comunismo. 6. A educação do espírito de disciplina e de organização. 7. A educação de uma atitude nova, comunista, em relação ao trabalho e à propriedade social.
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8. A educação do humanismo socialista, do otimismo, do entusiasmo e da alegria de viver. 9. A educação do coletivismo, da amizade e do espírito de camaradagem. 10. A educação da modéstia, da sinceridade e da honestidade. A formação e consolidação dessas elevadas qualidades é o que constitui o conteúdo da educação da moral comunista. Nos terríveis dias da Grande Guerra Pátria o camarada Stálin, falando das condições básicas de nossa vitória, apontou a necessidade da formação e consolidação entre o povo soviético de elevadas qualidades morais e volitivas. "O grande Lênin, - afirmou Stálin em seu discurso pelo rádio de 3 de julho de 1941 - criador de nosso Estado, afirmou que a coragem, a valentia, a ausência de medo na luta e a disposição para lutar em conjunto com o povo contra os inimigos de nossa Pátria devem constituir as qualidades básicas dos homens soviéticos. É necessário que essas magníficas qualidades bolcheviques se tornem atributos de milhões e milhões dos soldados do Exército Vermelho, de nossa Marinha Vermelha e de todos os povos da União Soviética”. Esta tarefa permanece atual até nos nossos dias. Na luta pela paz e contra os fomentadores de guerra os homens soviéticos e os trabalhadores de todos os países devem manifestar uma extraordinária firmeza e domínio de si mesmos. Ao mesmo tempo os povos da URSS e os trabalhadores de todos os países devem sempre lutar 243
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contra os inimigos da paz e da democracia. É por isso que a educação das qualidades indicadas pelo camarada Stálin constitui a mais importante tarefa de nossa época. A educação de nosso povo no espírito da moral comunista acha-se indissoluvelmente ligada à formação entre os homens soviéticos e, em primeiro lugar, entre a juventude, das características bolcheviques da vontade e do caráter. Os nossos grandes chefes Lênin e Stálin frisaram repetidas vezes a necessidade da formação e consolidação entre os homens soviéticos de qualidades da vontade e do caráter como a tendência a um objetivo determinado, a perseverança, a firmeza, a capacidade de iniciativa, a tenacidade, o espírito de organização, a audácia e a coragem, o desconhecimento do medo na luta, etc. É indiscutível que essas qualidades exercem uma grande influência sobre a conduta do homem, sobre seus atos e ações morais. Os homens de força de vontade e firmeza de caráter na maioria das vezes realizam atos e ações altamente morais e heróicos. Por outro lado, os homens abúlicos e de caráter fraco são incapazes de feitos heróicos. É por isso que a formação entre a nossa juventude e entre todos os homens soviéticos de uma vontade forte e de um caráter firme representa uma das mais importantes tarefas de educação moral. Lênin e Stálin sempre consideraram as tarefas de educação da moral comunista em estreita ligação com a luta contra as sobrevivências do capitalismo na consciência de determinados homens soviéticos. Essas sobrevivências têm sua expressão na atitude indiferente em relação ao trabalho, na atitude negligente em relação 244
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à propriedade social, no individualismo e egoísmo, na presunção e na empáfia, na conduta anti-social, na contraposição dos interesses pessoais aos interesses sociais, na veneração que determinados indivíduos manifestam pela cultura burguesa, etc. O processo de superação das sobrevivências do capitalismo na consciência e na conduta de determinados indivíduos é um processo prolongado e complexo. Achase penetrado de uma luta feroz do novo contra o velho e do avançado e progressista contra o obsoleto. *** A moral comunista encontra expressão, em primeiro lugar, nas ações e procedimentos patrióticos dos homens soviéticos. “O patriotismo - afirmou Lênin - é um dos sentimentos mais profundos, fortalecido por séculos e milênios de isolamento das diferentes pátrias". O patriotismo soviético originado pela Grande Revolução Socialista de Outubro e pelo regime soviético tornou-se uma poderosa força motriz de nossa sociedade que marcha para o comunismo. A poderosa e vivificadora força do patriotismo soviético manifestou-se de maneira particularmente brilhante nos penosos dias da Grande Guerra Pátria. Atualmente, nas condições de construção pacífica, o patriotismo soviético manifesta-se no trabalho abnegado dos homens soviéticos e na ativa participação de nosso povo na construção da sociedade comunista. 245
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O patriotismo soviético é um patriotismo novo, de tipo superior. O camarada Stálin afirmou, revelando a essência do patriotismo soviético e suas particularidades: "A força do patriotismo soviético encontra-se no fato de que não tem como base preconceitos raciais ou nacionalistas, mas uma profunda dedicação e fidelidade do povo à sua pátria soviética e uma fraternal cooperação dos trabalhadores de todas as nações de nosso país. No patriotismo soviético combinam-se harmoniosamente as tradições nacionais dos povos e, em geral, os interesses vitais de todos os trabalhadores da União Soviética. O patriotismo soviético não desassocia, mas, pelo contrário, aglutina todas as nações e nacionalidades de nosso país numa única família fraternal. Nisto se vê as bases de uma amizade indestrutível e que se fortalece dia após dia entre os povos da União Soviética. Ao mesmo tempo, os povos da URSS respeitam os direitos e a independência dos povos dos países estrangeiros e sempre manifestaram apoio à sua disposição de viver em paz e amizade com os países vizinhos. Nisto se encontra a base das crescentes ligações que se fortalecem continuamente entre nosso país e os povos livres”. Nessas palavras o camarada Stálin demonstrou a ligação indissolúvel entre o patriotismo soviético, a amizade entre os povos da URSS, o internacionalismo proletário e o respeito aos direitos e à liberdade dos povos dos países estrangeiros. O patriotismo soviético tornou-se o mais importante traço característico que define a fisionomia moral do homem soviético. Determina a conduta dos homens 246
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soviéticos e é a fonte de seu heroísmo e coragem. Qualidades morais e políticas tão elevadas de nosso povo, como a nova atitude, comunista, em relação ao trabalho e à propriedade social, o humanismo socialista, o espírito de disciplina, a coragem, o heroísmo e muitas outras dependem, em primeiro lugar, dos sentimentos e convicções patrióticas dos homens. Em nossos dias o patriotismo soviético encontra sua expressão mais brilhante nas proezas que os homens soviéticos realizam no trabalho. A célebre cultivadora de algodão Basti Baguirova, deputada ao Soviete Supremo da URSS, escreveu: "Cento e cinco quintais de algodão por hectare não representam simplesmente uma elevada colheita. Trata-se de uma manifestação de grande amor à nossa grande Pátria”. É assim que no trabalho criador os homens soviéticos se educam no espírito de um autêntico patriotismo soviético. No patriotismo dos homens soviéticos manifesta-se o entendimento do orgulho nacional, o sentimento do orgulho heróico passado e pelo maravilhoso presente de nosso povo. Os homens soviéticos orgulham-se pelo fato de que nosso país é a pátria do leninismo e que somos nós que pela primeira vez no mundo construímos o socialismo e, sob a direção do camarada Stálin, edificamos a sociedade comunista. O cosmopolitismo e o nacionalismo burguês são organicamente estranhos ao patriotismo soviético. O patriotismo soviético é incompatível com esses dois aspectos da ideologia reacionária. 247
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O sentimento de orgulho pelo nosso país, a profunda compreensão das imensas vantagens e a superioridade do regime social e estatal soviético em relação ao regime capitalista asseguram aos homens soviéticos o êxito da luta contra uma das sobrevivências do passado - a subserviência - em face da ciência e da cultura burguesas. O espírito de subserviência em relação ao que é estrangeiro é incompatível com a dignidade do homem soviético, portador da moral mais avançada, a moral comunista. *** Lênin e Stálin emprestaram grande significação à educação entre o nosso povo de uma atitude nova, comunista, em relação ao trabalho e em relação à propriedade social socialista. Lênin afirmou, já nos primeiros dias de existência do Estado soviético: “Trabalharemos para abolir o malfadado princípio de cada um por si e Deus por todos; o hábito de se considerar o trabalho apenas como uma obrigação penosa e somente pago de acordo com determinada norma. Trabalharemos para infundir na consciência, nos costumes e nos hábitos diários das massas o seguinte princípio de um por todos e todos por um, e o princípio de cada um segundo sua capacidade e a cada um segundo suas necessidades, a fim de introduzir gradualmente, mas de maneira inflexível, a disciplina comunista e o trabalho comunista". A nova atitude em relação ao trabalho representa uma condição necessária de elevação da produtividade do 248
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trabalho. E a luta por uma elevada produtividade, ensina Lênin, é a luta pelo comunismo. Durante os anos do Poder soviético verificou-se em nosso país uma modificação radical das opiniões dos homens sobre o trabalho. A emulação socialista, como nos ensina o camarada Stálin, “transforma o trabalho de fardo insuportável e pesado, como era considerado antes, numa questão de honra, numa questão de glória, numa questão de valentia e heroísmo” . Essa indicação de Stálin sobre a grandeza do trabalho em nosso país encontrou expressão na Constituição da URSS: “O trabalho na URSS é uma obrigação e uma questão de honra de todo cidadão apto ao trabalho, de acordo com o princípio de que quem não trabalha não come” , conforme o texto do artigo 12° da Constituição stalinista. Uma atitude honesta e conscienciosa em relação ao trabalho tornou-se um índice da conduta moral do homem da sociedade soviética. O homem que não se esforça no trabalho ou que mantém uma atitude negligente em relação ao trabalho é o homem mais amoral. O camarada Stálin afirmou, por ocasião do I Congresso dos kolkozianos trabalhadores de choque: “O socialismo e o trabalho são inseparáveis um do outro... O socialismo exige não a ociosidade e sim que todos trabalhem honestamente, trabalhem não para outrem, não para os ricaços e os exploradores, mas para si próprios, para a sociedade".
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Em nossos dias, o homem que trabalha sente-se como cidadão livre e militante da vida social. "E se trabalha bem - afirmou o camarada Stálin - e dá à sociedade o que pode dar, é herói do trabalho e cobre-se de glória" . Em nosso país os homens simples que trabalham abnegadamente são agraciados com o elevado titulo de Herói do Trabalho Socialista e são condecorados com ordens e medalhas. Todo o país fica sabendo quem são esses homens. Representam um motivo de orgulho para nosso povo. Entre os laureados dos prêmios Stálin encontramos ao lado dos nomes de sábios, escritores e artistas, os nomes de operários e kolkozianos, inovadores da indústria e da agricultura. Assim, por exemplo, na primavera de 1950 foram laureados com o Prêmio Stálin, V.V. Utkin, torneiro da fábrica de Moscou O Calibre, os pedreiros F.D. Shavliuguin, V.V. Koroliov e muitos outros. A educação da atitude comunista em relação ao trabalho acha-se estreitamente ligada à educação da nova atitude em relação à propriedade socialista. O espírito de economia e o cuidado constante para a manutenção e multiplicação da propriedade social socialista representam um dos novos traços morais do homem soviético que o distinguem dos homens do mundo capitalista. Os trabalhadores de nosso país são os donos de todas as riquezas e é essa qualidade que determina a sua atitude em relação à manutenção da propriedade social. Nunca houve na história da humanidade uma sociedade mais econômica do que a sociedade socialista. Isso se explica pelo fato de que todos os meios de 250
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produção e seu emprego acham-se à disposição e nas mãos dos trabalhadores, os produtores desses meios de produção. A Constituição stalinista exige uma atitude cuidadosa em relação à propriedade social. O artigo 131° da Constituição da URSS afirma: “Todo cidadão da URSS é obrigado a cuidar e a fortalecer a propriedade social, socialista, como base sagrada e inviolável do regime soviético, como fonte da riqueza e do poderio da Pátria, como fonte de uma vida acomodada e culta de todos os trabalhadores. As pessoas que atentem contra a propriedade socialista são consideradas inimigas do povo”. Durante os últimos anos desenvolveu-se amplamente em nosso país um movimento de massas pela economia nos gastos das matérias-primas e dos materiais, pela economia dos combustíveis e da energia elétrica, por um melhor aproveitamento dos tornos e da maquinaria e por uma elevada cultura da produção. A nova atitude dos homens soviéticos em relação ao trabalho e à propriedade social encontra expressão nesse movimento. Cuidando de fortalecer e de aumentar a propriedade socialista muitos milhares de inovadores da produção encontram novas e novas reservas complementares e as utilizam para dar ao país um maior número de meios de produção e artigos de consumo. Ao mesmo tempo, os homens soviéticos progressistas observam o regime de economia e defendem por todas as formas os bens do Estado e dos kolkozes em relação aos ladrões e dissipadores. 251
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A luta pela economia e por uma nova atitude comunista em relação ao trabalho acha-se indissoluvelmente ligada à luta pelo comunismo. A esse respeito manifestou-se Kalinin, o mais próximo discípulo e companheiro de armas de Lênin e Stálin. “Necessitamos afirmou - primeiro aprender a trabalhar de acordo com a nossa capacidade, aprender a zelar pelos bens da sociedade, e quando trabalharmos o suficiente e aprendermos a conservar o produto do nosso trabalho, então poderemos atender a todos segundo as necessidades de cada qual”. *** A educação da moral comunista também inclui a educação de nosso povo e, inclusive, da jovem geração, no espírito da disciplina consciente. A disciplina é necessária em toda a parte: na produção, no Exército, em qualquer instituição e nos hábitos e costumes diários. Uma disciplina severa e consciente representa uma condição indispensável à realização com êxito das grandes tarefas de edificação da sociedade comunista. Lênin considera a disciplina como base da cooperação entre os homens no processo de sua atividade produtiva. “De cada ordem social nova - afirmou - tornam-se necessárias novas relações entre os homens e uma nova disciplina” . Essa nova disciplina não cai do céu, mas surge das novas condições materiais da vida da sociedade, forma-se 252
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no processo da atividade produtiva, no processo de educação das novas gerações. A conduta disciplinada do homem soviético constitui uma das suas mais importantes qualidades morais. Lênin se referiu à estreita ligação entre a disciplina e a moral comunista, afirmando em seu discurso pronunciado por ocasião do III Congresso do Komsomol: "Para um comunista, toda a moral se encontra numa disciplina coesa e solidária e na luta consciente das massas contra os exploradores" . A disciplina soviética é uma disciplina consciente. Tem por base a atitude consciente dos trabalhadores em relação às suas obrigações e a compreensão que os mesmos têm das normas e regras de conduta em vigor. Caracteriza-se pelo fato de que os homens soviéticos cumprem os seus deveres de maneira consciente e voluntária. Entretanto, a disciplina soviética é uma severa e férrea disciplina; supõe a subordinação das tendências e desejos individuais às necessidades e interesses sociais. A circunstância de que a disciplina soviética é de ferro não contradiz o seu caráter consciente. "Uma férrea disciplina - afirma o camarada Stálin - não exclui e sim supõe a subordinação consciente e voluntária porque só uma disciplina consciente pode ser realmente uma disciplina de ferro". A atitude nova, comunista, em relação ao trabalho representa a base da elevada e consciente disciplina vigente em nosso país. Quem ama o trabalho ama a 253
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disciplina, não suporta a desorganização, a desordem e o relaxamento. Os nossos stakanovistas são os operários mais disciplinados e organizados. Os nossos estudantes laureados com distinção são, via de regra, os alunos mais disciplinados. *** O humanismo socialista é um fator essencial à moral comunista. Nele se refletem as novas relações entre os homens soviéticos. Nele se manifesta o profundo respeito aos homens, aos quadros, aos construtores da sociedade comunista. O camarada Stálin revelou e fundamentou de maneira profunda, a essência do humanismo socialista e as tarefas de sua formação. Em palestra com os metalúrgicos, Stálin afirmou, em 26 de dezembro de 1934: “É preciso criar os homens de maneira cuidadosa e atenta, como um jardineiro cuida da árvore frutífera favorita”. Algum tempo depois, em 4 de maio de 1935, Stálin afirmou em seu histórico discurso pronunciado por ocasião da formatura dos acadêmicos do Exército Vermelho: "...devemos em primeiro lugar aprender a dar valor aos homens, aos quadros e a todo trabalhador, capaz de ser útil à nossa causa comum. É preciso, finalmente, compreender que de todos os capitais valiosos existentes no mundo, o capital mais decisivo e mais valioso são os homens, os quadros”.
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O cuidado diário em relação aos homens, à elevação de seu bem-estar material e ao nível cultural do povo soviético constitui uma lei imutável de nossa sociedade socialista que marcha para o comunismo. O zelo pelo homem que trabalha, pela satisfação de suas necessidades e reivindicações, pelo seu desenvolvimento espiritual e físico, sempre esteve e continua a estar no centro das atenções do Estado soviético. O humanismo socialista é incompatível com uma atitude indiferente e despreocupada em relação aos homens. Supõe uma atitude sensível e atenta em relação ao homem que trabalha. O humanismo socialista supõe ao mesmo tempo o sentimento de ódio em relação aos exploradores, aos inimigos da paz e da democracia. Exige uma luta ativa contra os que atentam contra a honra, a liberdade e a independência dos povos. Nos dias da Grande Guerra Pátria as palavras do grande humanista Máximo Gorki ("Se o inimigo não se rende, é aniquilado" ) foram incluídas numa das ordens do camarada Stálin. Essas palavras inspiraram os soldados do Exército Vermelho para a destruição definitiva dos invasores fascistas alemães. O humanismo socialista é fonte de entusiasmo pela vida. Acha-se estreitamente ligado ao otimismo socialista. O amor aos homens e à vida entusiasma os homens de vanguarda para a luta pela felicidade de toda a humanidade. Julius Fucik, escritor tcheco e membro do Comitê Central do Partido Comunista da Tchecoslováquia, em suas memórias escritas antes de sua morte e publicadas 255
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sob o título Reportagem ao pé da forca, afirmou: "Amei a vida e lutei por ela. Eu os amei, irmãos, e fui feliz quando vocês me correspondiam e sofri quando vocês não me compreendiam". Julius Fucik terminou suas memórias com as seguintes palavras: "Irmãos, eu os amei! Sejam vigilantes!" . Nessas fervorosas palavras do comunista tcheco, assim como em todo o seu livro, acha-se brilhantemente expressa a idéia do autêntico humanismo e do otimismo socialista. Atualmente a luta pela paz é a tarefa mais humana de todo homem. Em nome do amor à humanidade todos os homens progressistas se unem para uma luta organizada contra os fomentadores da guerra, pela paz e pela democracia. O ódio em relação aos inimigos da paz e da democracia é uma fonte de grande força moral, aglutinando milhões de pessoas de boa vontade para a luta contra os agressores imperialistas. *** A sinceridade e a honestidade são traços característicos da fisionomia moral do homem soviético. Em discurso pronunciado por ocasião da assembléia dos eleitores do distrito eleitoral Stálin, da cidade de Moscou, realizada em 11 de dezembro de 1947, o camarada Stálin afirmou que os eleitos pelo povo "eram tão sinceros e honestos como o fora Lênin" . Na sociedade socialista, baseada na confiança recíproca e no respeito entre os homens, não deve haver lugar para a mentira e a hipocrisia. “A mentira e a 256
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hipocrisia constituem taras inatas da sociedade burguesa, baseada no princípio: se não enganares, não vencerás”. Os homens soviéticos devem sempre ser fiéis à palavra empenhada, não permitir discordância entre a sua palavra e a sua ação. "Quando a palavra de um homem não corresponde à sua ação - afirmou Lênin - encontramonos diante de um defeito bastante sério que traz em seguida como conseqüência a hipocrisia" . A palavra do homem soviético reveste-se da maior seriedade e é habitualmente confirmada por ações concretas. A sinceridade e a honestidade enobrecem o homem soviético. É por isso que a formação e o fortalecimento dessas qualidades representam uma das mais importantes tarefas de nosso trabalho educativo. É preciso começar tão cedo quanto possível a educar as crianças e a juventude no espírito da sinceridade e da honestidade. E.N. Koshievaia, mãe de Oleg Koshiev, em sua narrativa Meu Filho nos conta como, a partir dos mais tenros anos, formou a fisionomia moral do futuro comandante de A Jovem guarda: “Sempre me esforcei por tornar Oleg sincero e honesto e por fazê-lo manter uma atitude consciente em relação à verdade e à mentira. Repetia sempre a meu filho: sempre lhe perdoarei um erro, mas a mentira nunca" . A partir dos seus mais tenros anos, Oleg foi sincero para com todos. “Nunca nos enganou em qualquer coisa, por mais insignificante que fosse e correspondeu à confiança de todos numa situação séria quando teve que 257
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perder a vida pela Pátria em encarniçada luta contra o inimigo...” . O homem soviético é sincero não só de palavra, mas também em seus atos. É capaz de lutar pela verdade. *** A modéstia é uma das mais notáveis qualidades morais inerentes ao homem soviético. Em discurso pronunciado por ocasião do I Congresso dos kolkozianos trabalhadores de choque, o camarada Stálin afirmou que "não é a presunção e sim a modéstia que adorna o bolchevique" . Em discurso pronunciado por ocasião da solenidade realizada no Kremlin em homenagem aos estudantes das academias militares, caracterizando a fisionomia moral do grande Lênin, Stálin se referiu a duas notáveis qualidades inerentes a Lênin: a simplicidade e a modéstia. "...Essa simplicidade e essa modéstia de Lênin - afirmou Stálin - a tendência a permanecer imperceptível ou, em todo o caso, a não chamar atenção sob si mesmo e não acentuar a sua elevada posição, essa característica representa um dos mais profundos aspectos de Lênin como chefe de novo tipo, de novas massas, de massas simples e comuns, das mais profundas ‘camadas baixas’ da humanidade". Stálin, grande continuador da obra de Lênin, igualmente se distingue por extraordinária modéstia. Em palestra com o escritor alemão Ludwig, o camarada Stálin referiu-se modestamente a si próprio, frisando o imenso papel representado por Lênin na edificação do novo regime social: "Quanto a mim, sou apenas um discípulo 258
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de Lênin e meu objetivo é ser um digno discípulo de Lênin". A modéstia de Lênin e de Stálin expressa da maneira mais brilhante a modéstia das massas populares de cujo meio saíram e com as quais se acham ligados. A modéstia de nossos grandes chefes aproxima-se das massas populares e torna-os acessíveis e compreensíveis ao povo. A escola soviética, além de outras qualidades morais, forma entre os alunos a modéstia. O parágrafo 13° dos Preceitos aos Estudantes obriga os escolares soviéticos a "serem corteses e a se conduzirem modesta e decentemente na escola, na rua e nos meios sociais". Não só os professores, mas também os pais, as organizações da Juventude Comunista e dos Pioneiros devem zelar pelo cumprimento desses preceitos. *** Nos numerosos discursos pronunciados pelo nosso grande chefe Lênin encontra-se um amplo programa de formação do novo homem. Consideramos acima apenas algumas qualidades morais básicas necessárias ao homem soviético, construtor da nova sociedade, a sociedade comunista.
DIRETRIZES BÁSICAS E MÉTODOS DE EDUCAÇÃO DA MORAL COMUNISTA
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Como se forma, porém, a fisionomia moral do homem soviético? Quais são as diretrizes e métodos de educação dos homens soviéticos e, inclusive, da juventude, no espírito da moral comunista? Consideramos, embora em traços gerais, as diretrizes básicas e os métodos de formação de nossa juventude de acordo com os princípios da moral comunista. Lênin e Stálin destinam à escola soviética o papel dirigente e decisivo na educação da moral comunista. A escola é o elo fundamental do sistema da educação comunista da juventude. Arma a nova geração com conhecimentos, forma a sua concepção do mundo, seu caráter e tempera a vontade de nossa juventude. Prepara a nova geração para a vida, o trabalho e a luta pelo comunismo. Os Preceitos para os Estudantes regulam a conduta dos escolares soviéticos. Esses Preceitos constituem um código peculiar de moral da juventude estudantil, estabelecendo os requisitos básicos sobre a atitude dos escolares em relação aos estudos, a seus professores e progenitores, à propriedade escolar e à sua conduta na escola, no lar e nos meios sociais. A infância e a juventude soviética assimilam as bases da moral comunista durante os anos escolares. Todo professor da escola soviética - independentemente da disciplina que lecione - soluciona os problemas educativos, forma os sentimentos morais dos estudantes e os acostuma ao cumprimento consciente das normas e exigências da moral comunista. 260
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As resoluções aprovadas durante os últimos anos pelo Partido e pelo Governo sobre a escola por iniciativa e sob a direção do camarada Stálin asseguram uma reviravolta radical no trabalho cultural e educativo da escola soviética, contribuindo para elevar a qualidade da educação comunista da juventude estudantil. Dos bancos de nossas escolas saem jovens patriotas convictos da justeza de nossa causa e da vitória do comunismo. Um testemunho desse fato nos é apresentado, em particular, pelas composições dos alunos dos cursos de dez anos e que representam seu atestado de madureza. Assim, M. Pojarekaia, aluna da escola número 131 de Moscou, escreveu em sua composição: "O que pode ser mais belo do que nossa luminosa vida, quando todas as estradas estão livres diante de nós na época em que os mais formosos e puros sonhos, desejos e tendências nos dominam, quando são abundantes e jovens as nossas forças, a nossa energia e nosso entusiasmo? Marchamos plenamente confiantes no futuro... E será que permitiremos que o inimigo pisoteie nossa felicidade, nossos sonhos? Não! Nunca! E saibam todos os inimigos de nossa Pátria que a juventude, o Komsomol, sem qualquer vacilação dará o que lhe é mais caro - a sua vida - para o bem de toda a humanidade". Outra escolar de Moscou, aluna do curso de dez anos da escola N. Pershniak número 349, terminou com as seguintes palavras a sua composição sobre o tema O Homem Soviético, senhor e transformador da natureza: 261
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"Marchamos para o comunismo e ninguém pode impedir a nossa marcha, sejam forças da natureza ou as forças negras da reação. O povo soviético transporá todas as barreiras que se erguerem em seu caminho”. As composições da juventude operária que terminou o curso igualmente atestam a elevada fisionomia moral de nossa juventude e sua madureza ideológica. Assim, o jovem operário de Moscou, Iuri Marsov, terminou sua composição com as seguintes palavras: "Viver, como a erva cresce, não queremos! Que a erva cresça como queremos! O futuro da Pátria está em nossas mãos e justificaremos suas esperanças!” Sabemos que não se trata apenas de palavras. A juventude soviética demonstrou ser a juventude mais avançada do mundo com os seus feitos e sua heróica proeza nas frentes da Guerra Pátria e com as suas proezas de trabalho durante os anos de construção pacífica. A escola representa um grande papel e, pode-se dizer, um papel decisivo na formação da fisionomia moral de nossa juventude. A educação das crianças e da juventude no espírito da moral comunista não deve, porém, se limitar apenas à educação escolar. “Não acreditaríamos no estudo, na educação e na formação - afirmou Lênin - se fossem apenas limitados à escola e desligados das tempestades da vida” . Lênin frisou a necessidade da ligação entre a educação escolar e a vida, entre a educação escolar e a 262
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luta pelo comunismo, ao esclarecer o problema de como é necessário estabelecer a formação no espírito do comunismo. As organizações da Juventude Comunista e dos Pioneiros representam um grande papel na educação da jovem geração no espírito da moral comunista. A Juventude Comunista leninista-stalinista é auxiliar do Partido Bolchevique na educação comunista da juventude. Reúne em suas fileiras mais de 10 milhões de jovens. As organizações da Juventude Comunista são para os nossos jovens e moças uma escola de educação política e de atividade social. A Juventude Comunista dedica uma atenção particularmente grande à formação entre a juventude soviética de uma moral avançada, a moral comunista. Ajuda o Partido e o Estado soviético a transformar a juventude em homens de elevado nível ideológico e de elevada cultura e em ativos construtores da sociedade comunista. O histórico discurso pronunciado por Lênin por ocasião do III Congresso da Juventude Comunista e as indicações do camarada Stálin sobre a educação comunista da jovem geração constituem o programa de educação da jovem geração. Os artigos e discursos de nossos chefes, extraordinários pela riqueza de seus pensamentos, prestam uma inapreciável ajuda na educação da jovem geração no espírito da moral comunista. Ensinam os 263
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membros da Juventude Comunista e toda a juventude soviética a viver e a lutar pelo comunismo. O papel educativo das organizações da Juventude Comunista é particularmente significativo em nossos dias. “Hoje quando o povo soviético soluciona as grandes tarefas de edificação do comunismo - afirma a saudação enviada pelo CC do PC (b) da URSS ao XI Congresso do Komsomol - aumenta ainda mais a significação do papel da Juventude Comunista no trabalho de educação comunista da jovem geração. O Komsomol deve transformar os jovens em lutadores corajosos, audazes, alegres, seguros de suas forças e prontos a superar quaisquer dificuldades pela liberdade e honra da nossa Pátria, pela causa do Partido de Lênin e Stálin e pela vitória do comunismo". As organizações da Juventude Comunista devem formar na nossa juventude elevadas qualidades morais em cumprimento dessa diretriz estabelecida pelo Comitê Central do PC (b) da URSS. O XI Congresso do Komsomol, orientando-se pelas indicações estabelecidas por Lênin e Stálin, estabeleceu ser obrigação de todas as organizações da Juventude Comunista o trabalho de educação da juventude no espírito da moral comunista. O Congresso propôs “empreender uma firme ofensiva contra as sobrevivências do capitalismo na consciência dos homens” . As organizações de Pioneiros que têm o nome do grande Lênin igualmente realizam ao lado da Juventude Comunista um grande trabalho de educação da juventude 264
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estudantil no espírito da moral comunista. Essas organizações unificam em suas fileiras mais de 16 milhões de estudantes. Nas equipes, destacamentos e escalões de Pioneiros a nossa influência se adapta à vida social, amplia o seu campo de visão, educa-se no espírito da moral comunista e prepara-se para se tornar ativa e consciente construtora do comunismo. Os Pioneiros habitualmente manifestam capacidade de iniciativa e entusiasmo na realização do trabalho social útil aos escolares. Dão exemplo de capacidade de organização e de atividade nos estudos e no domínio de conhecimentos. As instituições infantis extra-escolares prestam uma séria ajuda ao Estado soviético na educação da jovem geração no espírito da moral comunista. Os palácios e as casas de Pioneiros das estações infantis técnicas e agrícolas, as casas de educação artística, as bibliotecas e outras instituições extra-escolares são centros muito importantes de educação moral. Nelas se realiza um trabalho educativo diferenciado que abrange amplas massas das crianças e da juventude soviética. A família soviética representa um grande papel na educação da criança e da juventude no espírito da moral comunista. No ambiente familiar a infância e a juventude passam pela primeira escola de moral. Nas condições da sociedade soviética não há contradições entre a educação familiar e a educação ministrada pelo Estado, entre a família e a escola. Apresenta-se a ambos a mesma tarefa: a educação de uma geração capaz de levar a cabo a construção do comunismo. Nossa família soviética vive a 265
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mesma vida de todo o país e são comuns os interesses gerais de todos. É por este motivo que ascendeu extraordinariamente o papel educativo da família soviética. Muitas famílias soviéticas formaram ardentes patriotas. Basta que mencionemos a família Kosmodemianski, que produziu dois Heróis da União Soviética, a família Koshiev, as famílias Tchekalin, Kovshov e muitas outras. Na família soviética surgiram novas relações entre pai e filhos. Essas relações, segundo a expressão de Kalinin, “se humanizaram no melhor sentido desta palavra”. Existe entre pais e filhos da família soviética uma atmosfera de sinceridade e simplicidade nas relações, uma atmosfera de cooperação coletiva, de ajuda recíproca e de respeito. As novas relações entre os homens soviéticos, baseadas nos princípios do humanismo socialista, refletem-se igualmente nas relações familiares. Os pais formam elevadas qualidades morais em seus filhos através de palestras sobre diferentes assuntos, da freqüência ao cinema e ao teatro e da organização de leituras em família. Entretanto, em primeiro lugar os pais educam seus filhos pelo exemplo pessoal, pelas suas atitudes em relação às pessoas que os cercam, pelo honesto cumprimento de seus deveres em relação ao Estado soviético e pelo trabalho abnegado em beneficio da Pátria. A conseqüência dos pais e dos velhos membros da família em seus princípios morais, procedimentos e ações, 266
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e sua firmeza moral, exercem uma imensa influência sobre a formação da fisionomia moral das filhos durante a infância e a juventude. É indispensável que os pais conheçam bem os Preceitos aos Estudantes e acostumem seus filhos a observá-los. É muito importante que nas atitudes dos pais em relação a seus filhos se observe a uniformidade de procedimento entre a família e a escola. A educação das crianças e da juventude na família soviética, tanto quanto na escola, realiza-se na base da doutrina leninista-stalinista sobre a educação comunista, o que assegura a unidade das ações educativas em relação à juventude e facilita a solução das tarefas de educação da jovem geração no espírito da moral comunista. *** É em primeiro lugar no trabalho e na luta ativa pela vitória do comunismo que se criam elevadas qualidades morais entre os homens soviéticos e, inclusive, entre a juventude. Lênin nos ensina a combinar a educação e o aprendizado de nossa juventude à sua ativa participação no trabalho comum a todo o povo. Em discurso pronunciado por ocasião do III congresso do Komsomol, Lênin se referiu à necessidade de se educar a juventude no trabalho consciente e disciplinado a partir dos mais tenros anos, dos doze anos de idade. Lênin afirmou, definindo a tendência básica do trabalho educativo do Komsomol: “Ser membro da União 267
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da Juventude Comunista significa agir no sentido de dedicar o próprio trabalho e as próprias forças à causa comum. É isso o que representa a educação comunista. É somente num trabalho desse gênero que o jovem ou a moça se transformam em autênticos comunistas”. Conclamando a juventude soviética a aprender o comunismo, Lênin explica que aprender o comunismo significa lutar pelo comunismo, ligando cada momento do aprendizado, educação e formação à luta dos trabalhadores contra a velha sociedade exploradora. Lênin se manifestou ao mesmo tempo contra a falta de espírito crítico, o dogmatismo e contra o desdém pelo trabalho prático. "Sem trabalho, sem luta - afirma Lênin - o conhecimento livresco do comunismo haurido dos folhetos e obras do comunismo não vale nada porque continuaria a velha separação entre a teoria e a prática, a antiga ruptura que representava o traço mais repugnante da velha sociedade burguesa”. Lênin nos ensina que só a luta pode formar homens de novo tipo e só sob a condição de que sejam participantes ativos da luta pela vitória do comunismo. A educação comunista, afirma Lênin, não é oferecer à juventude deliciosos discursos e regras de moral. É somente através de esforços tenazes no sentido de dominar conhecimentos e da abnegada participação no trabalho em beneficio do povo e do emprego de todas as forças na causa da edificação do comunismo que nossos jovens e moças se tornarão comunistas. É precisamente assim que a jovem geração deve aprender o que é o comunismo e se educar no espírito da moral comunista. 268
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Por conseguinte, a ativa participação de nossa juventude no trabalho útil à sociedade e na luta pelo comunismo representa um importantíssimo instrumento de educação da moral comunista. O trabalho criador consciente forma elevadas qualidades morais entre a juventude e sua fisionomia espiritual. O domínio da teoria marxista-leninista constitui um instrumento decisivo da educação dos homens soviéticos no espírito da moral comunista. Stálin nos ensina que a teoria marxista-leninista é a arma mais forte e mais aguda do Partido Bolchevique em sua luta pelo comunismo. O domínio da teoria marxistaleninista coopera para elevar a consciência comunista dos homens soviéticos e formar a sua concepção comunista do mundo. A consciência comunista e uma justa concepção do mundo influenciam de maneira decisiva, por sua vez, a conduta dos homens soviéticos. A teoria marxista-leninista, segundo a expressão do camarada Stálin, “empresta à prática a força de orientação, a clareza de perspectivas, a certeza no trabalho e a fé na vitória de nossa causa" . Por isso, não é por acaso que o Partido Bolchevique e seus chefes Lênin e Stálin sempre emprestaram uma extraordinária significação à propaganda da teoria marxista-leninista e ao domínio dessa teoria pelos nossos quadros. A crítica e a autocrítica representam um dos mais importantes métodos de formação de elevadas qualidades morais entre os homens soviéticos. Sem uma crítica eficiente e prática às manifestações das sobrevivências do 269
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velho na consciência e na conduta dos indivíduos não se pode alcançar sérios êxitos na educação moral. Em nossa sociedade soviética a luta entre o velho e o novo se processa sob a forma da crítica e da autocrítica. Com a ajuda da crítica e da autocrítica educa-se entre os homens soviéticos o precioso sentimento do novo. A crítica e a autocrítica contribuem para que os homens soviéticos progridam de maneira criadora, não permitem que se satisfaçam com o que já alcançaram, originando e desenvolvendo a sua tendência ao progresso. Lênin e Stálin consideraram o desenvolvimento da crítica e da autocrítica em todos os setores da atividade dos homens soviéticos como condição necessária a um seguro movimento para frente. Em carta à Máximo Gorki, pela primeira vez publicada no 12º tomo das obras de Stálin, encontramos as seguintes palavras: “Não podemos passar sem a autocrítica. De forma alguma, Alexei Maximovitch. Sem ela é inevitável a estagnação, a decomposição do aparelho, o domínio do burocratismo, o detrimento da iniciativa criadora da classe operária. É evidente que a autocrítica fornece material aos inimigos. A esse respeito você tem toda razão. Entretanto, apresenta igualmente material e impulso ao nosso progresso, ao desenvolvimento da emulação, às brigadas de choque, etc. O aspecto negativo do problema é reduzido ao mínimo e compensado pelo seu aspecto positivo”. A crítica e a autocrítica ajudam a formar entre os homens soviéticos qualidades bolcheviques, como um 270
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elevado nível ideológico, a fidelidade aos objetivos almejados e aos princípios, a firmeza de caráter e a tendência à vitória. É por isso que a crítica e a autocrítica, na sua qualidade de forças motrizes e de lei do desenvolvimento da sociedade soviética, representam, ao mesmo tempo, um importantíssimo método bolchevique de educação. A literatura e a arte desempenham um papel de séria significação na educação moral dos homens soviéticos e, em primeiro lugar, da juventude. Já o grande democrata revolucionário N.G. Tchernyshevski chamava a literatura de "compêndio da vida" . É particularmente grande a significação educativa da literatura soviética. Nas obras dos escritores soviéticos, ardentes patriotas, livros do gênero de A jovem Guarda, de A. Fadeev, Assim foi temperado o aço, de N. Ostrovski, Um homem de verdade, de Boris Polevoi, Os dois capitães, de V. Kaverin, e muitos outros, tornaram-se livros de cabeceira de nossa juventude, pois ensinam a juventude e todos os homens soviéticos a viver e a lutar pela vitória do comunismo. Nas telas do cinema soviético e no palco de nossos teatros a juventude vê brilhantes exemplos dos homens de novo tipo, portadores da moral comunista, manifestando em sua conduta a tendência a imitar os heróis amados e, dessa forma, assimilar as normas e princípios da moral comunista. As resoluções aprovadas durante os últimos anos pelo Comitê Central do PC (b) da URSS sobre os problemas ideológicos por iniciativa do camarada Stálin tiveram imensa significação no levantamento do papel 271
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educativo de nossa literatura e da arte soviética e no levantamento de seu nível ideológico e político. Nessas resoluções e nos documentos publicados pela imprensa do Partido foram decisivamente desmascarados o objetivismo burguês, o apoliticismo, o cosmopolitismo apátrida, a subserviência em relação a tudo o que é estrangeiro e a outras formas de manifestação das sobrevivências da ideologia burguesa. As resoluções aprovadas pelo CC do PC (b) da URSS demonstraram, ao mesmo tempo, a necessidade de se educar o povo soviético e, em primeiro lugar, a juventude, no espírito do patriotismo soviético e do orgulho nacional soviético e de se educar uma juventude entusiasta e alegre, capaz de superar quaisquer dificuldades que se apresentem no caminho da construção do comunismo. *** Os grandes chefes e mestres dos trabalhadores Lênin e Stálin determinaram com muitas décadas de antecedência as tarefas básicas da educação comunista dos homens soviéticos e particularmente da juventude. As suas notáveis idéias sobre a educação da moral comunista iluminaram como um poderoso projetor o caminho de formação do homem de novo tipo. O estudo profundo e a aplicação dos preceitos e diretrizes estabelecidos por Lênin e Stálin sobre a educação da moral comunista indubitavelmente possibilitarão um maior ascenso e melhoramento do trabalho educativo em nosso país. A obediência a esses preceitos e diretrizes ajuda a solucionar com maior êxito 272
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os problemas de educação de todo nosso povo no espírito de uma dedicação sem limites à causa do Partido de Lênin e Stálin, à causa do comunismo.
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A QUESTÃO DA ESTRATÉGIA E DA TÁTICA J. Stálin in P r av da, n º 5 6 , 1 4 de m ar ç o de 1 9 2 3 ) Para o presente artigo tomei como base as conferências sobre a Estratégia e a Tática dos Comunistas Russos, que pronunciei no círculo operário do bairro de Presnaia e na fração comunista da Universidade de Sverdlov. Resolvi publicá-lo, não só porque me acho no dever de ir ao encontro dos desejos dos camaradas do Círculo Presnaia e da Universidade de Sverdlov, mas também porque o artigo não me parece destituído de utilidade para a nova geração de militantes do nosso Partido. Creio necessário, contudo, fazer a ressalva de que este artigo não tem a pretensão de oferecer nada de substancialmente novo a respeito do que muitas vezes escreveram na imprensa russa do Partido os nossos camaradas dirigentes. Ele deve ser considerado como uma exposição sucinta e esquemática das idéias principais do camarada Lênin.
Conceitos preliminares 1.
Dois aspectos do movimento operário
A estratégia política, assim como a tática, ocupa-se do movimento operário. Mas no próprio movimento operário encontramos dois elementos: o elemento objetivo, ou espontâneo, e o 274
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elemento subjetivo, ou consciente. O elemento objetivo, espontâneo, é formado pelo conjunto de processos que se desenvolvem independentemente da vontade consciente e reguladora do proletariado. O desenvolvimento econômico do país, o desenvolvimento do capitalismo, o desmoronamento do velho regime, os movimentos espontâneos do proletariado e das classes que o rodeiam, os choques de classes etc. são, todos, fenômenos cujo desenvolvimento não depende da vontade do proletariado: representam o aspecto objetivo do movimento. A estratégia não pode intervir nesses processos, uma vez que não pode suprimi-los como ponto de partida. Esse é o campo que constitui objeto de estudo para a teoria e o programa do marxismo. Mas o desenvolvimento tem, além disso, um aspecto subjetivo, consciente. O aspecto subjetivo do movimento é o reflexo, na mente dos operários, dos processos espontâneos do movimento, é o movimento consciente e sistemático do proletariado para um objetivo determinado. Esse aspecto do movimento interessa-nos precisamente porque, ao contrário do aspecto objetivo, depende inteiramente da ação que orienta a estratégia e a tática. Se a estratégia não pode mudar coisa alguma no curso dos processos objetivos do movimento, já aqui, no aspecto subjetivo ou consciente do movimento, o campo de aplicação da estratégia é vasto e multiforme, uma vez que ela, a estratégia, pode acelerar ou conter o movimento, dirigi-lo pelo caminho mais curto, ou desviálo pelo caminho mais difícil e penoso, segundo as virtudes ou as deficiências da própria estratégia. 275
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Acelerar ou conter o movimento, favorecê-lo ou embaraçá-lo: eis os limites e o campo de aplicação da estratégia e da tática políticas. 2.
A teoria e o programa do marxismo
A estratégia, como tal, não se ocupa em estudar os processos objetivos do movimento. Não obstante, deve conhecê-lo e levá-lo em consideração, de um modo justo, se não quer cometer erros mais crassos e funestos na direção do movimento. É antes de tudo a teoria marxista e, logo em seguida, o programa marxista que estudam os processos objetivos do movimento. A estratégia, pois, deve apoiar-se inteiramente nos dados da teoria e do programa do marxismo. A teoria marxista, ao estudar os processos objetivos do capitalismo no seu desenvolvimento e declínio, chega à conclusão de que a queda da burguesia e a conquista do poder pelo proletariado são inevitáveis, de que é inevitável a substituição do capitalismo pelo socialismo. A estratégia proletária só se pode chamar efetivamente marxista quando essa conclusão fundamental da teoria marxista se torna a base de sua atividade. O programa marxista, baseando-se nos dados fornecidos pela teoria, determina os objetivos do movimento proletário, que são cientificamente formulados nos seus artigos. O programa pode ser válido para todo o período do desenvolvimento capitalista e ter como objetivo a derrubada do capitalismo e a organização da produção socialista, ou apenas para uma fase determinada 276
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do desenvolvimento capitalista, por exemplo, a eliminação do regime feudal-absolutista e a criação das condições do livre desenvolvimento do capitalismo. Por conseguinte, o programa pode constituir-se de duas partes: programa máximo e programa mínimo. É óbvio que a estratégia prevista para a parte mínima do programa não pode deixar de diferir da estratégia prevista para a parte máxima; e a estratégia só se pode chamar efetivamente marxista, se a sua atividade se orienta de acordo com os objetivos do movimento, formulados no programa marxista. 3.
A estratégia
A tarefa mais importante da estratégia consiste em determinar qual a direção principal que deve seguir o movimento da classe operária, qual a direção que oferece maiores vantagens ao proletariado para vibrar o golpe principal contra o adversário, a fim de alcançar os objetivos fixados no programa. O plano estratégico é o plano da organização do golpe decisivo, na direção em que esse golpe possa produzir os resultados máximos com a máxima rapidez. Os traços essenciais da estratégia política poderiam ser dados, sem muito esforço, recorrendo-se à analogia com a estratégia militar, por exemplo, no período da guerra civil, durante a luta contra Deníkin. Todos se lembram dos últimos meses de 1919, quando Deníkin se encontrava às portas de Tula. Realizavam-se, então, entre os militares, interessantes discussões sobre o seguinte problema: onde se deveria desferir o golpe decisivo contra as tropas de Deníkin? Alguns militares propunham que se escolhesse como 277
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direção principal da ofensiva a linha Tsaritsin-Novorossisk. Outros, pelo contrário, propunham que se desferisse o golpe decisivo pela linha Voronezh-Rostov, a fim de que, percorrendo essa linha e dividindo assim o exército de Deníkin em duas partes, fosse possível aniquilá-las em separado. O primeiro plano tinha, indubitavelmente o seu lado positivo, no sentido de que, contando com a ocupação de Novorossisk, ficaria automaticamente cortada a retirada das tropas de Deníkin. Mas, por um lado era desvantajoso, porque pressupunha o nosso avanço através de zonas (como a região do Don) hostis ao Poder Soviético e comportava, por conseguinte, grandes perdas; por outro lado, era perigoso, porque deixava aberto às tropas de Deníkin o caminho de Moscou, através de Tula e Serpukhov. A concepção do golpe principal contida no segundo plano era a única justa, porque de um lado previa o avanço do nosso núcleo principal por algumas regiões (como a província de Voronezh e a bacia do Donetz), onde a população nutria simpatia pelo Poder Soviético, e, portanto, não implicava grandes perdas; por outro lado, desbaratava as operações do núcleo principal das tropas de Deníkin, que marchavam sobre Moscou. A maioria dos militares pronunciou-se pelo segundo plano e, assim, decidiu-se a sorte na guerra contra Deníkin. Por outras palavras: determinar a direção do golpe principal significa decidir de antemão o caráter das operações para todo o período da guerra. Significa, por conseguinte, decidir de antemão nas suas nove décimas partes a sorte de toda a guerra. Esta é a missão da estratégia. 278
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O mesmo se deve dizer da estratégia política. O primeiro choque sério entre os dirigentes políticos do proletariado da Rússia sobre o problema da direção principal do movimento proletário ocorreu no começo do século, durante a guerra russo-japonesa. Como se sabe, uma parte do nosso Partido (os mencheviques) sustentava nessa altura que o movimento do proletariado, na sua luta contra o czarismo, devia orientar-se, sobretudo, para a formação de um bloco do proletariado com a burguesia liberal; os camponeses,como importantíssimo fator revolucionário, eram excluídos ou quase excluídos do plano, enquanto à burguesia liberal se confiava o papel dirigente no movimento geral das forças revolucionárias. A outra parte do nosso Partido (os bolcheviques) afirmava, pelo contrário, que se devia orientar para a formação de um bloco do proletariado com os camponeses, confiandose ao proletariado o papel dirigente do movimento revolucionário geral, enquanto a burguesia liberal devia ser neutralizada. Se, por analogia com a guerra contra Deníkin, representássemos todo o nosso movimento revolucionário, desde os princípios do século até a revolução de fevereiro de 1917, contra uma guerra dos operários e camponeses contra o czarismo e contra os latifundiários, é claro que da adoção de um determinado plano estratégico (menchevique ou bolchevique), da adoção de uma determinada orientação principal do movimento revolucionário, dependia em grande parte a sorte do czarismo e dos latifundiários.
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Como durante a guerra contra Deníkin a estratégia militar, indicando a direção principal do golpe, pode determinar em nove décimos o caráter de todas as operações ulteriores até a liquidação de Deníkin, assim também aqui, no campo de luta revolucionária contra o czarismo, a nossa estratégia política, tendo indicado a direção principal do movimento revolucionário de acordo com o plano bolchevique, determinou, por isso mesmo, o caráter do plano do nosso partido para todo o período da luta aberta contra o czarismo, desde a época da guerra russo–japonesa até a revolução de fevereiro de 1917. A estratégia política tem, sobretudo, a missão de determinar, de um modo justo, a direção principal do movimento proletário de um dado país para um determinado período histórico, partindo dos dados da teoria e do programa marxista e levando em conta as experiências da luta revolucionária dos operários de todos os países. 4. A Tática A tática é uma parte da estratégia à qual se subordina e à qual serve. A tática não se ocupa da guerra no seu todo, mas dos seus diferentes episódios, das batalhas, dos combatentes. Se a estratégia visa a vencer a guerra ou levar a termo, por exemplo, a luta contra o czarismo, a tática, pelo contrário, visa a ganhar várias batalhas, determinados combates, realizar com êxito esta ou aquela campanha, estas ou aquelas ações mais ou menos correspondentes à situação concreta da luta em cada momento dado. 280
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A missão mais importante da tática consiste em determinar os caminhos e os meios, as formas e os métodos de luta, que correspondam do melhor modo à situação concreta existente em determinado momento e que preparem de modo mais seguro os êxitos estratégicos. Por isso, as ações e os resultados da tática devem ser avaliados não em si mesmos, não do ponto de vista do seu efeito imediato, mas do ponto de vista das tarefas e das possibilidades da estratégia. Existem situações em que os êxitos táticos facilitam a realização das tarefas estratégicas. Assim ocorreu, por exemplo, na frente contra Deníkin em fins de 1918, quando as nossas tropas libertaram Oriol e Voronezh, quando os êxitos obtidos pela nossa cavalaria do setor de Voronezh e pela infantaria, no setor de Oriol, criaram as condições favoráveis para vibrar o golpe sobre Rostov. Assim ocorreu em agosto de 1917, na Rússia, quando a passagem dos sovietes de Petrogrado e de Moscou para o lado dos bolcheviques criou uma nova situação política, que facilitou, depois, o golpe desferido pelo nosso Partido no mês de outubro. Existem também situações em que os êxitos táticos brilhantes pelos seus efeitos imediatos, mas não proporcionais às possibilidades estratégicas, criam uma situação “imprevista”, funesta para toda a campanha. Assim ocorreu com Deníkin em fins de 1919, quando, empolgado pelo êxito fácil de um avanço rápido e sensacional sobre Moscou, distendeu a sua frente do Volga ao Dniéper e desse modo preparou a derrota dos seus exércitos. Assim ocorreu em 1920, durante a guerra 281
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contra os poloneses, quando nós, subestimando a força que tinha o fator nacional na Polônia e empolgados pelo êxito fácil de um avanço espetacular, empreendemos a tarefa, superior às nossas forças, de irromper na Europa através de Varsóvia e levantamos contra as tropas soviéticas a enorme maioria da população polonesa, criando desse modo uma situação que anulava os êxitos obtidos pelas tropas soviéticas no setor de Minsk e Zhitômir e minava o prestígio do Poder Soviético no Ocidente. Existem, enfim, outras situações em que é necessário desdenhar o êxito tático e enfrentar conscientemente reveses e derrotas táticas para assegurar vitórias estratégicas no futuro. Assim ocorre freqüentemente na guerra, quando uma das partes beligerantes, ao querer salvar os quadros do próprio exército e subtraí-los aos golpes das forças superiores do inimigo, inicia uma retirada metódica e cede, sem combate, cidades e regiões inteiras com o objetivo de ganhar tempo e concentrar as forças para travar novas batalhas decisivas no futuro. Assim ocorreu na Rússia, em 1918, durante a ofensiva alemã, quando o nosso Partido foi obrigado a aceitar a paz de Brest-Litovsk – que no momento oferecia uma grande vantagem do ponto de vista do efeito político imediato – para conservar a aliança com os camponeses sedentos de paz, para obter uma trégua, para constituir um novo exército e assegurar, desse modo, futuras vitórias estratégicas. Em outras palavras: a tática não pode ficar subordinada aos interesses transitórios do momento, não 282
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deve inspirar-se em considerações de efeito político imediato e, com maior razão ainda, não deve afastar-se da realidade, nem constituir castelos no ar: a tática deve ser elaborada de modo a corresponder às tarefas e às possibilidades da estratégia. A tática tem, sobretudo, a missão de determinar as formas e os métodos de luta que melhor correspondam à situação concreta da luta em cada momento dado, orientando-se segundo as indicações da estratégia e tendo em conta a experiência da luta revolucionária dos operários de todos os países. 5.
As Formas de Luta
Os métodos de fazer a guerra e as formas da guerra não são sempre os mesmos: mudam, segundo as condições de desenvolvimento e, sobretudo, do desenvolvimento da produção. Nos tempos de Gêngis Khan, a guerra não se fazia do mesmo modo que nos tempos de Napoleão III e, no século XX, a guerra faz-se de modo diverso do século XIX. A arte da guerra, nas condições atuais, uma vez assimiladas todas as formas de guerra e todas as conquistas da ciência nesse campo, consiste em saber aproveitá-las racionalmente, em saber combiná-las com habilidade e em saber aplicar, no momento oportuno, essa ou aquela forma, segundo a situação existente. O mesmo se deve dizer das formas de luta no campo político. As formas de luta no campo político são ainda 283
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mais variadas do que as formas de fazer guerra. Mudam em função do desenvolvimento econômico social e cultural, conforme a situação das classes, a correlação das forças em luta, caráter do Poder, de acordo, enfim, com as relações internacionais etc. A forma de luta ilegal, sob o absolutismo, liga-se às greves parciais e às manifestações operárias; a forma de luta aberta quando existem as “possibilidades legais” e as greves políticas das massas operárias; a forma de luta parlamentar, por exemplo, na Duma, e a ação extraparlamentar das massas, que às vezes desemboca em insurreições armadas; finalmente, as formas de luta estatais, depois da tomada do Poder pelo proletariado, quando este tem a possibilidade de dominar todos os meios e recursos estatais, inclusive o exército: tais são, em linhas gerais, as formas de luta surgidas da prática da luta revolucionária do proletariado. O Partido tem a missão de assimilar todas as formas de luta, de combiná-las racionalmente no campo de batalha e de saber aguçar habilmente a luta nas formas que, numa determinada situação, sejam as mais adequadas ao objetivo. 6.
As Formas de Organização
As formas de organização dos exércitos, as espécies e os tipos das forças adaptam-se, geralmente, às formas e aos métodos de fazer a guerra. Mudam ao modificaremse estes últimos. Na guerra de manobras, o emprego em massa da cavalaria resolveu com freqüência a situação. Na guerra de posições, pelo contrário, a cavalaria quase 284
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não tem função nenhuma, ou tem importância secundária: a artilharia pesada e a força aérea, os gases e os tanques decidem tudo. A arte militar tem a missão de assegurar-se de todos os tipos de forças, de aperfeiçoá-las e de saber combinar com habilidade as suas operações. O mesmo se pode dizer das formas de organização no campo político. Aqui, como no campo militar, as formas de organização adaptam-se às formas de luta. As organizações clandestinas dos revolucionários profissionais, na época do absolutismo; as organizações culturais, sindicais, cooperativas e parlamentares (a fração parlamentar etc.) na época da Duma, os comitês de greve, os sovietes de deputados operários e soldados, os comitês militares revolucionários e um amplo partido proletário que ligue todas essas formas de organização no período das ações de massas e das insurreições; finalmente, a organização estatal do proletariado no período em que o poder se concentra nas mãos da classe operária: tais são, em linhas gerais, as formas de organização nas quais, em determinadas condições, o proletariado pode e deve apoiar-se na sua luta contra a burguesia. O Partido tem a tarefa de assimilar todas essas formas de organização, de aperfeiçoá-las e de combinar inteligentemente a sua atividade em cada momento dado.
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A Palavra de Ordem
As decisões formuladas com acerto, que reflitam os objetivos da guerra ou de uma determinada batalha e que conquistem popularidade entre as tropas, têm as vezes uma importância decisiva na frente, como meio para animar o exército para a luta, para manter o seu moral etc. As ordens, as palavras de ordem e os apelos apropriados às tropas têm para todo o curso da guerra importância tão grande quanto uma excelente artilharia pesada ou os velozes tanques de primeira classe. As palavras de ordem têm uma importância ainda maior, no campo político, onde se tem de lidar com centenas e centenas de milhões de homens, com as suas várias reivindicações e com as suas várias necessidades. A palavra de ordem é a formulação sucinta e clara dos objetivos imediatos e distantes da luta, lançada, por exemplo, pelo grupo dirigente do proletariado, pelo seu Partido. Existem palavras de ordem diversas, que variam segundo os objetivos da luta, palavras de ordem que abrangem todo um período histórico, ou diversas fases e episódios de um determinado período histórico. A palavra de ordem de “Abaixo a autocracia”, que o grupo “Libertação do Trabalho” lançou pela primeira vez, no decênio de 1880-1890, era uma palavra de ordem de propaganda, porque tinha por objetivo ganhar para o Partido, individualmente e em grupos, os combatentes mais firmes e intrépidos. No período da guerra RussoJaponesa, quando a instabilidade da autocracia se tornou mais ou menos evidente às grandes massas da classe 286
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operária, essa palavra de ordem transformou-se em palavra de ordem de agitação, porque já se propunha ganhar massas de milhões de trabalhadores. No período que precedeu a revolução de fevereiro de 1917, quando czarismo já estava definitivamente desacreditado aos olhos das massas, a palavra de ordem de “Abaixo a autocracia” transformou-se de palavra de ordem de agitação em palavra de ordem de ação, porque o seu objetivo era mobilizar massas de milhões de trabalhadores para o assalto contra o czarismo. Durante as jornadas da revolução de fevereiro, essa palavra de ordem transformou-se em diretriz do Partido, isto é num apelo aberto à conquista, dentro de um prazo fixado, de certas instituições e de certas posições do sistema czarista, posto que se tratava de derrubar o czarismo, de destruí-lo. A diretriz é um apelo direto do Partido à ação em momento e lugar determinados, obrigatório para todos os membros do partido e habitualmente secundado pelas grandes massas trabalhadoras, se o apelo formula de modo justo, exato, as reivindicações das massas, se é verdadeiramente oportuno. Confundir a palavra de ordem com as diretrizes ou a palavra de ordem de agitação com a palavra de ordem de ação é tão perigoso quanto são perigosas, e às vezes até funestas, as ações prematuras ou tardias. Em abril de 1917, a palavra de ordem de “Todo o Poder aos Sovietes” era uma palavra de ordem de agitação. A célebre manifestação de Petrogrado, em abril de 1917, com a palavra de ordem “Todo o Poder aos Sovietes”, demonstração que se realizou em torno do Palácio de 287