Memória Descritiva – Projecto de Arquitectura de Habitação
Sabemos que para quem trabalha na área de projectos de arquitectura, a elaboração de uma memória descritiva/justificativa – documento indispensável ao processo de licenciamento - é por vezes um quebra cabeças. Neste sentido, principalmente dirigida a quem considera que possa ser uma ajuda ou contributo, nomeadamente pela estrutura a seguir, deixamos aqui um exemplo prático de uma memoria descritiva referente ao projecto de arquitectura de uma moradia unifamiliar. Escusado será dizer que há determinadas situações, desde logo a tipologia e programa, para além de outras, que devem ser devidamente actualizadas à realidade e ao projecto a aplicar. Se o tema desperatr algum interesse poderemos vir a publicar outros exemplos.
Memória Descritiva e Justificativa Projecto de Arquitectura 1 – Identificação do requerente / Obra / Localização da obra:
Nome: Morada: Obra: Construção de moradia unifamiliar isolada e muro de vedação à face da rua Local da Obra: 2 – Caracterização do terreno / arruamento:
O terreno, de acordo com as cartas de zonamento do PDM de ------------------------------------, está integrado em Área de Urbanização Condicionada, e também em Área de Reserva Agrícola Nacional. A proposta da construção implanta-se na zona de Área de Urbanização Condicionada, mas numa zona de edificação consolidada. O terreno, de geometria aproximadamente rectangular, é servido a poente por arruamento público, designado de Rua da -----------------------, dispondo relativamente ao mesmo de uma frente de cerca de 18,50 m. O arruamento na sua relação com o terreno desenvolve-se com um ligeiro declive no sentido sul/norte, com uma inclinação de sensivelmente 2%. O terreno desenvolve-se numa plataforma com declive relativamente acentuado no sentido poente/nascente. O terreno tem uma área total de 1375,00 m2 e encontra-se descrito na Conservatória do Registo Predial de ------------------------------------ sob o Nº -----/------------ e na matriz pelo artigo rústico Nº -------------. A área a afectar à construção para efeito de cálculos dos índices urbanísticos é de 750,00, aquela que está integrada em Área de Urbanização Condicionada. 3 – Critérios de implantação:
A obra será implantada de forma paralela ao eixo do arruamento, com alinhamento definido pelos cunhais mais avançados. O muro e passeio seguirão os alinhamentos já definidos na construção recente existente a norte. A cota de soleira adoptada pretende obter o relacionamento mais adequado da obra com o arruamento, nomeadamente tendo em conta a facilidade das acessibilidades a pessoas deficientes ou com mobilidade condicionada. Lateral e frontalmente a implantação respeita os afastamentos e definições regulamentares previstas no RGEU, e no Regulamento Municipal, nomeadamente quanto à relação entre a altura do perfil natural do terreno e a fachada 4 – Programa proposto:
Trata-se de uma moradia de tipologia T3, composta por Cave, R/C e Águas-Furtadas, com uma cobertura convencional de tipo “quatro -águas”, de dois elementos, com cumeeira. Parcialmente na fachada frontal poente, dispõe de um pátio alpendrado. A Cave, destina-se a garagem e a arrumos e dispõe de um portão de acesso a partir do alçado posterior, a nascente. O R/C destina-se a habitação, sendo do tipo T3, portanto com vestíbulo, cozinha comum, sala comum, três quartos de dormir e duas instalações sanitárias (um banho completo de uso comum e um banho privativo de uso de um dos quartos). Sobre a fachada posterior, a nascente, desenvolvem-se duas varandas. O aproveitamento do vão da Cobertura, designado de Águas-Furtadas, destina-se a complemento da habitação, com uma função de sala de leitura. A iluminação é assegurada por janelas de telhado do tipo “Velux”.
A comunicação vertical entre os pavimentos é assegurada por escada interior, enclausurada entre a Cave e a zona de habitação. O acesso de pessoas ao hall processa-se pela zona lateral sul da habitação. O acesso automóvel processa-se por rampa lateral, com portão exterior praticado na extremidade norte do muro da rua. 5 – Aspectos gerais de construção: 5.1 – Aterros / Desaterros / Fundações
Serão feitas as movimentações de terra necessárias à implantação da obra de acordo com as cotas de soleira previstas no presente projecto.
Tendo em conta o perfil natural do terreno, este será alvo de modelação, nomeadamente na criação da plataforma para a implantação da obra e espaços de circulação. 5.2 – Estrutura / Paredes A edificação terá uma estrutura base formada por sapatas, pilares e vigas em betão armado. As paredes exteriores da Cave que suportem encosto de terras serão realizadas em betão armado com uma espessura de 20 cm e as restantes em blocos térmicos de betão. Pelo interior será aplicada uma fiada em tijolo vazado, com 0,07 de espessura. As paredes exteriores do Rés-do-Chão serão realizadas em fiada dupla de tijolo vazado com 11 cm de espessura cada, formando-se entre elas uma caixa-de-ar com 3 cm. A folga exterior será destinada à aplicação do revestimento térmico tipo “capoto”.
As paredes divisórias interiores serão constituídas por paredes simples de tijolo cerâmico vazado com as dimensões por peça de 0.30 x 0.20 x 0.11 m. O muro de suporte de terras, na criação da plataforma de circulação automóvel, na zona posterior de acesso à garagem, será realizado em betão armado. Toda a construção do prédio projectado deverá obedecer aos cálculos definidos pelo Projecto de Estabilidade e Betão Armado a apresentar, nomeadamente sobre fundações, estruturas, materiais, etç. 5.3 – Pisos / Pavimentos / Tectos / Cobertura O pavimento da Cave será realizado com caixa de brita e argamassa, com as alturas de 20 e 10 cm, respectivamente, assente sobre o piso devidamente compactado. O pavimento será reforçado com malha-sol. Os tectos da Cave e do R/C serão realizados em laje pré-esforçada. A cobertura será realizada com sistema de laje pré-esforçada. Será revestida com telha cerâmica em barro natural do tipo “Sotelha – Rooftile”.
5.4 – Revestimento térmico / Impermeabilizações As fachadas exteriores ao nível do R/C serão revestidas com o sistema tipo “capoto”.
As paredes exteriores que suportem encosto de terras ao nível da Cave serão devidamente hidrofugadas. Ao nível do lintel de fundação, a nascente, será realizado um sistema de drenagem das águas pluviais infiltrada, composto por tubo perfurado superiormente, envolvido em caixa de brita e godo e esta em manta geotextil. Apesar destas considerações generalistas, todos os aspectos de impermeabilização deverão respeitar as definições a prever no Projecto de Comportamento Térmico. 6 – Aspectos gerais de acabamentos: 6.1 – Fachadas exteriores / Telhado / Arranjos exteriores
Os acabamentos exteriores da edificação estão descritos nas peças desenhadas correspondentes aos alçados. Fachadas areadas e pintadas a tinta plástica de cor creme claro O telhado será realizado com telha cerâmica de barro natural vermelho, do tipo “bébé”. O espaço exterior de acesso automóvel será realizado em betonilha esquartelada alisada. O passeio de acesso à habitação, bem como o pátio frontal serão revestidos a tijoleira cerâmica. A zona frontal e lateral sul será ajardinada. O logradouro a nascente manterá a actual afectação. O passeio público, que dará continuidade ao existente a norte, será realizado em guias de betão, com altura de 0,25 m (espelho de 0,14 m) e largura de 0,20 m, assentes sobre fundação de betão pobre (200Kg/m3). O passeio será pavimentado com pedras de betão assentes sobre almofada de areia e pó-de-pedra com 0,12 m e fundação em “tout -venant” com 0,20 m e acabamento superficial a traço-seco. Muro de vedação: Conforme já se referiu, faz parte do projecto a construção de muro de vedação à face do arruamento e interiores, com um comprimento total de 18,50 ml. O muro da rua disporá de duas entradas, sendo uma de pessoas, centralizada no enfiamento da entrada de acesso e uma destinada a acesso de automóveis, na extrema lateral norte. O muro da rua respeita as definições regulamentares, nomeadamente quanto à sua altura e
desenvolvimento em segmento horizontal. O muro da rua será realizado com blocos de betão com uma espessura de 20 cm. O muro será assente numa sapata contínua de betão ciclópico e intervalados por pilares em betão armado assentes em sapatas. Será amarrado superiormente por viga-cinta. Terá acabamento a reboco de argamassa de cimento, em areado liso e pintado a tinta plástica de cor creme claro e será coroado com remate em granito picado. Os portões serão realizados em chapa metálica, esmaltados a branco. 6.2 – Acabamentos interiores / Pavimentos / Paredes / Tectos Os pavimentos dos espaços da Cave serão revestidos a tijoleira cerâmica e as paredes e tectos serão areados e pintados a tinta plástica de cor branco. Os pavimentos do R/C serão revestidos com soalho em madeira de cerejeira, nos quartos e os restantes espaços (cozinha, sala, banhos, circulação) serão revestidos em tijoleira cerâmica. O pátio e passeios adjacentes serão revestidos em tijoleira cerâmica. As paredes da cozinha/copa e banhos serão revestidos a tijoleira cerâmica vidrada. As restantes paredes serão estanhadas e pintadas a tinta plástica. Os tectos serão todos estucados a gesso. O tecto da zona do pátio exterior será revestido com reguado de madeira de mogno. Nas Águas-Furtadas o pavimento será revestido a tijoleira cerâmica e as paredes e tectos em reboco de argamassa de cimento com pintura a tinta plástica de cor clara. 6.3 – Serralharias / Caixilharias / Vidraças As caixilharias exteriores serão realizadas em alumínio de corte térmico, termolacado na cor “champanhe”.
Para oclusão dos vãos exteriores serão instalados estores eléctricos em alumínio de corte térmico, em cor “champanhe”.
As vidraças a aplicar nas portas e janelas exteriores serão do tipo duplo, transparentes. As caixilharias interiores, guarnições, aros, portas e roda-pé, serão em madeira de T ola, envernizadas. A escada interior da Cave ao R/C será revestida a granito amaciado e do R/C às Águas-Furtadas será revestida a madeira. A guarda e corrimão serão em madeira. 7 – Infra-estruturas: 7.1 – Rede de Esgotos
Os esgotos provenientes das instalações sanitárias e cozinha serão encaminhados para uma fossa séptica com poço absorvente a construir no local, ficando prevista a sua ligação à futura rede pública. Os tipos, características e diâmetros das tubagens a utilizar são descritos no projecto da especialidade. 7.2 – Rede de Águas Pluviais As águas pluviais provenientes da cobertura, serão captadas por caleira circundante no perímetro da mesma e descarregadas por tubos de queda em PVC, para a valeta pública. O desenvolvimento da rede, características de materias e diâmetros de tubagens serão devidamente descritas no projecto de rede de esgotos. 7.3 – Rede de Abastecimento de Água O abastaceimento de água será realizado a partir da rede pública. A água será conduzida por rede própria abastecendo as diferentes peças nas zonas sanitárias, lavandaria e na cozinha, bem como torneiras de serviço e rega no exterior do edifício. O abastecimento de água quente será garantido por esquentador a Gás. Todas as características da rede, como materiais, acessórios e dimensionamentos, serão as indicadas no projecto da especialidade. 7.4 – Rede de Abastecimento de Gás. O abastecimento será realizado a partir de garrafas tipo G110 de gás propano alojadas em cabine própria. Ficará prevista a ligação á futura rede pública de gás natural. Todas as características da rede, como materiais, acessórios e dimensionamentos, serão as indicadas no projecto da especialidade.
7.5 – Rede Eléctrica e de Tele-Comunicações. A rede de energia eléctrica será executada por profissional competente e responsabilizada por técnico idóneo, sendo observadas na sua execução todas as normas técnicas gerais e específicas em vigor. Serão realizados todos os pontos de iluminação, tomadas, etç. Será também realizada a rede de telecomunicações, de acordo com as indicações técnicas em vigor pela Telecom, bem como rede de recepção de meios de radiodifusão. O abastecimento de electricidade será feito pela empresa pública de distribuição. Todas as características da rede, como materiais, acessórios e dimensionamentos, serão as indicadas no projecto da especialidade. 8 – Segurança contra incêndios:
As portas da caixa-de-escada interior ao nível da Cave será do tipo corta-fogo. A cozinha e a garagem deverão ser dotadas com extintores de pó-quím ico tipo ABC, de 2 e 4 Kg, respectivamente. Os fumos e gases do fogão e esquentador serão conduzidos por chaminé com saída no exterior da cobertura. 9 – Projectos das Especialidades:
Posteriormente à aprovação do projecto de Arquitectura, apresentar-se-ão os seguintes projectos de especialidades: Cálculos de Estabilidade e Betão Armado, Rede Saneamento, Rede de Águas Pluviais, Rede de Abastecimento de Água, Rede de Gás, ITED, Comportamento Térmico e Estudo Acústico. Apresenta-se ainda uma ficha electrotécnica referindo a potência eléctrica prevista. 10 – Adequabilidade e enquadramento da proposta para com as normas regulamentares do PDM:
A pretensão enquadra-se perfeitamente no plano director municipal. Estando inserida em área de construção preferente, sem quaisquer condicionantes ou restrições. Adequa-se por isso ao plano de ordenamento do território contido no Plano Director Municipal de ------------------------ e seu Regulamento, bem como respeita os diversos índices de construção e ocupação. São respeitadas as normas previstas pelo RMUE – Regulamento Municipal da Urbanização e Edificação e pelo RGEU – Regulamento Geral das Edificações Urbanas. A construção cumpre e respeita as normas relativas ao Regulamento de Incêndios, salubridade, etç. A edificação proposta e as suas soluções, ao nível de programa, funcionalidade e compartimentação, adequam-se perfeitamente à utilização pretendida, que é de habitação unifamiliar. A proposta adequa-se às infra-estruturas básicas existentes, na linha do que acontece com as construções limítrofes. Em suma, a proposta reúne todas as condições regulamentares objectivas conducentes à sua aprovação e licenciamento. 11 – Plano de acessibilidades a pessoas deficientes ou com mobilidade condicionada. Decreto-Lei, 163/2006 de 08/08:
É apresentado o plano de acessibilidades, em peças desenhadas anexas. Em anexo é também apresentada a respectiva memória descritiva e justificativa das soluções preconizadas no respectivo plano. 12 – Considerações finais:
A presente memória descreve de um modo geral e sucinto, os principais aspectos, enquadramento e características do projecto de arquitectura e a sua articulação com os demais aspectos técnicos. Para além disso, esta memória não deverá ser considerada como elemento referencial e director para a execução de qualquer fase da empreitada de construção, devendo para o efeito ser redigidos os respectivos Cadernos de Encargos e seguidos os respectivos projectos de todas as especialidades.