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UM PASSEIO PELOS REGIONALISMOS Publicada em 14/05/2008

Surgido há mais de 150 na literatura brasileira, o Regionalismo traduz-se pela abordagem focalizada em determinada região visando retratar as suas peculiaridades, seja de maneira superficial, ou profunda. O surgimento desta manifestação ocorreu na literatura romântica, em meados do século XIX, reaparecendo em diversos outros momentos até os tempos atuais. Na literatura brasileira, o Regionalismo, em suas variadas aparições, surge com diferentes feições. Pode-se dizer que apareceu com três padrões básicos: O Regionalismo sem tensão crítica; o Regionalismo de tensão social e o Regionalismo de tensão psicológica. Vejamos então:

Cena do filme Vidas Secas, dirigido por Nelson Pereira dos Santos.

1) REGIONALISMO SEM TENSÃO CRÍTICA Manifestou-se durante o Romantismo, através da linha Regionalista ou Sertanista, que, diferente dos demais romances românticos, não contava com os modelos do Romantismo europeu, mas baseava-se na construção de modelos próprios de representação das diversidades do país. Incumbiu-lhe, portanto a missão decisiva de conferir autonomia à produção cultural brasileira, representando uma experiência nova, calcada na abertura de um caminho próprio de criação que visava valorizar as diferenças culturais, étnicas e sociais das diversas regiões brasileiras. O foco do romance regional, em geral, era voltado às regiões interioranas, não retratadas pelo romance urbano. No entanto, esta experiência nova apresentou-se como um retrato do país desprovido de tensão crítica. Em linhas gerais, o narrador não mostrava a vida regional com seus verdadeiros conflitos (seca, retirantes, violência, fome, opressão, analfabetismo, etc,), mas preferia mostrar o belo, as amenidades, o exótico. Muitos definem esta manifestação como “regionalismo de cartão-postal”. Nas obras, o sertanejo aparece de maneira mitificada, como um protótipo de bravura, de honra e lealdade. Pode ser evidenciado em autores como José de Alencar – “O sertanejo” sertanejo” (Ceará); “O Tronco do Ipê” Ipê” (Rio de Janeiro); “Til “Til”” (São Paulo); “O “O Gaúcho” Gaúcho” (Rio Grande do Sul); Visconde de Taunay – “ Inocência” Inocência” (sertão de Mato Grosso), considerada a obra prima do romance regionalista brasileiro e “O Garimpeiro” Garimpeiro” (Minas Gerais). Bernardo Guimarães – “O

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Este momento teve, dentre seus autores, uma clara exceção à ausência de tensão crítica. Trata-se de “O Cabeleira”, Cabeleira”, retrata a região de Pernambuco, trazendo elementos Franklin Távora que, na obra “O pré-realistas com um regionalismo de tensão social. Introduziu temas como o cangaço, as migrações e as secas, mais tarde retomados por autores como Graciliano Ramos, Jorge Amado e José Lins do Rego.

2) REGIONALISMO DE TENSÃO SOCIAL Fez-se notório no final do Naturalismo com o Grupo do Norte, em que o traço naturalista de retratação do fatalismo das forças naturais e sociais sobre o homem apareceu associado à retomada da abordagem regionalista. Representam este segmento literário, dentre outras, as obras “ Luzia-homem”, Luzia-homem”, de Domingos Olímpio; “O Paroara”, Paroara”, de Rodolfo Teófilo; “ Aves de Arribação”, Arribação”, de Antônio Sales; “ Dona Guidinha do Poço”, Poço”, de Manuel de Oliveira Paiva ; “ A Normalista”, Normalista”, de Adolfo Caminha. Esta vertente regionalista aparece também no período Pré-modernista, com “Os “ Os Sertões”, Sertões”, de Euclides “ Jeca Tatu”, da Cunha, que retrata a Guerra de Canudos e os costumes do sertanejo e “ Jeca Tatu”, de Monteiro Lobato, que traz a crítica ao ideal romântico do homem do campo, a partir de um retrato do interior de São Paulo em que ressalta a ignorância e o atraso da região. Na geração de 30 do Modernismo, em meio às diversas transformações políticas do momento, a literatura regionalista ressurge como uma resposta artística engajada, capaz de efetivar a interferência do artista nas transformações sociais, a partir do enfoque nos problemas da sua realidade imediata e da denúncia social. Aparece na obra de autores como José Américo de Almeida ( A Bagaceira), Memorial de Maria Moura), Moura), Jorge Amado (Terras do Sem Fim), Fim), José Lins do Rachel de Queiroz ( Memorial Morto), Graciliano Ramos (Vidas Secas), Secas), Érico Veríssimo ( O Tempo e o Vento). Vento). Rego (Fogo Morto), Na poesia desta mesma geração, surge em autores como Jorge de Lima, como exceção ao universalismo, trazendo o enfoque na cultura popular, no folclore e nos problemas sociais do Nordeste.

3) REGIONALISMO DE TENSÃO PSICOLÓGICA Surge no Modernismo, com a geração de 45, que renova os padrões regionalistas evidenciados na geração de 30, trazendo toques universalistas em vez do enfoque na realidade local. Manifestou-se através do realismo fantástico com o enfoque do plano mítico e não tanto do plano social, como na geração de 30. Esta vertente, presente na obra de escritores como João Guimarães Rosa e Mário Palmério, caracteriza-se pela abordagem da realidade psicológica dos personagens. No Regionalismo da geração de 45, a exemplo das obras de João Guimarães Rosa como “Sagarana “ Sagarana”” e “Grande Sertão: veredas”, veredas”, evidencia-se a pesquisa em torno da própria linguagem literária. Guimarães Rosa surpreende ao reinventar a linguagem regional a partir de pesquisas sobre as expressões usadas pelos sertanejos, inovando inclusive a sintaxe das construções das frasais. A obra roseana, transpondo os limites do espaço regional para alcançar a dimensão universal, fez seguidores como Adonias Filho ( Léguas da Promissão e Corpo Vivo) Vivo) e João Ubaldo Ribeiro (Sargento Getúlio e Viva o Povo Brasileiro). Brasileiro).

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