Literatura Espanhola Contemporânea I.
A literatura literatura espanhola antes antes da Guerra Civil: Civil: 1900 – 1936
Marco Histórico e Social - A crise de fim de século – “Desastre del 98”; - Durante os primeiros anos do séc. XX, nada muda no sistema político espanhol; - Há uma alternância constante entre governos conservadores e liberais; - O sistema em vigor corresponde a uma sociedade dominada por uma oligarquia que controla as eleições; - Abaixo deste sistema está a pequena burguesia que tende a ser reformista; - Dela surgem intelectuais e escritores inconformados – sintoma da chamada “Crisis de la conciencia burguesa”;
- Quanto à classe obreira: existência de proletariado nas zonas industriais. Todos vivem em condições muito duras e partilham ideias revolucionárias; - Duas grandes convulsões sociais marcam este período; - As consequências da “huelga general de 1917” são decisivas: acaba o regime de partidos mutantes e acedem novas forças no cenário político; - Entretanto, a Guerra Europeia (1914-1918) divide ideologicamente os espanhóis; - A neutralidade de Espanha na Guerra aumenta as desigualdades sociais; - A má situação Espanhola agrava-se: Recessão Económica; Agitação da classe obreira; - A isto se acrescenta a influência da Guerra de Marrocos, novo motivo de mal-estar entre os militares;
O MODERNISMO – Correntes Artísticas e Literárias - Surge nos últimos vinte anos do séc. XIX; Os seus traços comuns são: - Marcado anticonformismo; - Renovação artística contrária às tendências vigentes: Realismo; - Na época, designar alguém de “modernista”, decandentista” e “novíssimo” tinha um cariz pejorativo; - Contudo, desde 1890, Ruben Darío (Nicaraguense, 1867 – 1916) e outros, assumem com orgulho esta designação;
O conceito divide-se entre duas posturas: 1) Uma considera o Modernismo como um movimento literário bem definido, que se desenvolve entre 1885 e 1915, e cujo representante chave, no âmbito hispânico, é Ruben Darío; 2) A outra considera que o Modernismo não é apenas um movimento literário, mas também uma época e uma atitude. Esta interpretação foi defendida por Juan Ramón Jiménez. Conciliando as duas posturas, podemos dizer que: - Se trata de um movimento de rutura; - Fortemente esteticista; - Que se inicia por volta de 1880 e que se desenvolve maioritariamente até à Primeira Primei ra Guerra Mundial; - Esta necessidade de rutura está intimamente relacionada com a crise espiritual de fim de século , entre outros aspetos, já referidos;
O Espírito Modernista
- Esta corrente nasceu como reação contra o espirito utilitário e o industrialismo da época; - Tanto em Espanha como na Hispano-América, a pequena burguesia se viu prostrada por uma poderosa oligarquia; - Assim, os escritores, normalmente com esta origem, mostravam diversas formas de oposição ao sistema;
A crise da consciência burguesa traduz-se em atitudes como: - Rebeldia Política; - Contudo, o mais frequente era mostrar o descontentamento literariamente através de um refinamento estético; - Esta postura literária virá acompanhada de atitudes inconformistas, como “la bohemia”, “el dandismo” e certas
condutas imorais. - Muitos criticam o seu escapismo e elitismo; - Outros sublinham o seu sentido iconoclasta, face ao materialismo burguês.
Ruben Darío define o Modernismo, como: “la expresión de la libertad” e “el anarquismo en el arte”; - É visto como um ataque indireto ao socialmente estabelecido;
A Génese do Modernismo – Influências - A vontade de renovação poética é cada vez mais visível a partir de 1880; - Na América começou por haver uma recusa da tradição da antiga metrópole, e isto fez com que os autores alargassem os seus horizontes noutras literaturas; - A Influência Francesa; - Românticos (Victor Hugo); - Parnasianismo e Simbolismo (Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Mallarmé); - O símbolo é uma imagem artística que sugere algo não percetível fisicamente (uma ideia, um sentimento);
- O Simbolismo é assim: uma arte que se propõe a sugerir tudo quanto estiver oculto no fundo da alma das coisas; - A sua linguagem é fluida e musical;
O Modernismo Hispânico é uma síntese de estas duas correntes francesas (Parnasianismo e Simbolismo); Os expoentes hispânicos são: - Ruben Darío; - Os irmãos Machado; - Juan Ramón Jiménez; - E em prosa: Valle-Inclán. - Estes autores recusam a tradição espanhola imediatamente anterior, com a exceção de Bécquer. - Em suma, na literatura espanhola, Bécquer constitui-se como uma ponte entre a literatura Romântica e a Contemporânea;
O MODERNISMO HISPÂNICO - Rubén Darío (1867-1916): Iniciador e representante máximo do Modernismo literário em língua espanhola; O Grupo ou Geração de 98 Autores: - Miguel de Unamuno (1864-1936); - Ramón del Valle-Inclán (1866-1936); - Pío Baroja (1872-1956); - José Azorín (1873-1967); - Ramiro de Maeztu (1874-1936); - Manuel Machado (1874-1949); - Antonio Machado (1875-1939);
Grupo ou Geração de 98? - O termo “geração de 98” foi muito discutido pela crítica liter|ria;
- Houve um forte empenho em mostrar como contrárias as linhas estéticas e de pensamento do Modernismo e da Geração de 98; - Alguns membros da suposta Geração de 98, como Unamuno e Pío Baroja, mostraram-se reticentes em fazer parte dela; - Contudo, esta denominação foi-se generalizando. - O próprio Ortega y Gasset a adotou;
A Juventude de 98 - Espírito de Protesto e Rebeldia; - Unamuno, Maeztu, Azorín e Pío Baroja eram politicamente ativos; - Contudo, deixarão os problemas políticos e económicos de lado, uma vez que sentem não possuir os meios necessários para fazer “a revolução”; - Abandonam o caminho da ação, permanecendo agora numa atitude contemplativa, que derivará num ceticismo desconsolado; - Contudo, nem todos os membros do grupo adotam posturas conservadoras: - Valle-Inclán, até esta data, só tinha professado ideias tradicionalistas; Contudo, a partir de 1917, adota posições progressistas, cada vez mais radicais;
A Maturidade da Geração de 98 Depois do radicalismo da juventude, partilham as seguintes características: 1) Vão ao encontro das correntes irracionalistas , aproximando-se de um Neorromantismo, coincidente com os Modernistas; 2) As preocupações existenciais ganham especial relevo; - Interrogam-se acerca do sentido da vida e do destino do homem; (daí que tenham sido considerados precursores do existencialismo)
3) O Tema de Espanha - Projetam-se sobre a realidade espanhola , os desejos e as angústias íntimas; 4) Subjetivismo caracterizado por: - Homem em permanente contradição e luta interior – Unamuno; - A visão impressionista de Azorín; - O ceticismo de Pio Baroja;
O Estilo da Geração de 98 - Renovação Literária: repudiam a retórica da geração anterior; - Influências de Fray Luis de León, Quevedo e Cervantes ; - Sentido da sobriedade e vontade anti-retórica, ainda que sem descuidar o estilo; (Azorín dizia que uma obra será tanto melhor quanto se usem menos e mais elegantes palavras para se fazer brotar ideias) - Gosto pelas palavras tradicionais; - Subjetivismo; - Inovações nos géneros literários (Lirismo ao descrever a paisagem).
Características e Motivos Temáticos 1) A CRISE RELIGIOSA – Problemas religiosos e existenciais Manifestações:
- “Camino de Perfección” de Baroja (Fernando Osorio, o protagonista, busca em vão algo que dê sentido à sua vida); - “La voluntad” de Azorín (O protagonista diz que o domina a inexorável marcha do nosso ser e das coisas que o rodeiam); - “Amor y Pedagogía” de Unamuno (Novela de ide ias: Don Avito Carrascal, partindo de bases racionalistas, propõe educar “cientificamente” o seu filho, Apolodoro, para fazer dele um génio. Mas, a experiência o converterá numa criatura desgraçada que acaba por se suicidar); A lição de Unamuno (vitalismo) é que a vida resiste sempre a deixar-se apertar pelas teorias racionalistas; A característica comum entre as 3 obras é: - Uma introspeção angustiada, uma angústia vital ou metafísica; 2) O PROBLEMA DE ESPANHA - A preocupação pelo Homem, o destino coletivo e a história; - Estes eram já motivos frequentes na literatura Realista e Naturalista, mas a estes autores, esta preocupação incita-os a procurar uma resposta; - Examinam com consciência crítica, o passado, o presente, e fazem ainda propostas para o futuro ; 3) A PAISAGEM CASTELHANA - Apesar de nenhum deles ser Castelhano, viram em Castela o paradigma da Espanha real: Descobrem a beleza sóbria e austera das suas terras; - Para estes autores, a beleza da paisagem castelhana é imagem da conexão entre alma e paisagem;
Os Autores e as suas Obras
1) Miguel de Unamuno Obras: “Amor y Pedagogía” e “Niebla”; Temas: Problema de Espanha e Sentido da Vida Humana. Características: 1) Contradições existenciais; 2) Necessidade de substituir a fé impossível pelo esforço heroico da vontade de crença; 3)Relação tensa do indivíduo com ele mesmo; 4) O mundo afetivo da vida familiar. 5) Nas novelas: Caracterização das personagens e do seu comportamento. A descrição do ambiente é irrelevante; 6) Importância dos Diálogos; 7) A literatura transforma-se numa experiencia privilegiada de vida e escrever é um modo de sobreviver ao vazio. 8) Renovação Formal; 2) Ramón María del Valle-Inclán Obras: - Novelas: “Sonata de Otoño”, “Sonata de Estío”, “Sonata de Primavera” y “Sonata de Invierno”; - Poesia: “La pipa de Kif” (1919); - Teatro: “Luces de Bohemia” (1920 -1924). 3) Pío Baroja Obras: - Repartidas por trilogias; - “La Vida Fantastica” inclui: “Camino de Perfección” (1902); - “La raza” inclui: “El |rbol de la ciencia” (1911);
«El Árbol de la ciencia» (1911) - Em grande parte autobiográfica. (A morte do irmão de Andrés coincide com a do irmão do autor; Tanto o personagem como o escritor estudam Medicina; Há uma relação de intertextualidade entre esta obra e as Memorias do próprio autor.)
- Andrés Hurtado: Um personagem perdido num mundo absurdo e no meio de circunstâncias adversas, às quais suceder-se-ão desilusões; - O ambiente familiar converte-o num rapaz triste e introvertido; - Andrés Hurtado sente-se sozinho, abandonado e com um -
“vacío en el alma”. O protagonista dir|:
“Uno
tiene
la
angustia,
la
desesperación de no saber qué hacer con la vida, de no tener un plan, de encontrarse perdido, sin brújula, sin luz adonde dirigirse.”
José Martínez Ruiz, “Azorín” Obras: - Novelas: “La voluntad” (1902) Características: - O argumento perde importância; - Descrições minuciosas; - Riqueza de vocabulário; Ramiro de Maeztu Em 1936, foi condenado pelo “tribunal popular” e fuzilado;
Obras: - “Defensa de la hispanidad” (1934) - Importante ensaio liter|rio: “Don Quijote, don Juan y la Celestina” (1916);
Manuel Machado Obras: - “Alma” (1900) – Nele est| o seu famoso poema “Castilla”; Antonio Machado Obras: - “Soledades” (1903); - “Campos de Castilla” (1912);
Alejandro Sawa (Sevilha, 1862-1909, Madrid) - Viaja para Madrid com 18 anos; - Viaja para Paris; - Conhece Victor Hugo e Paul Verlaine; - Cria amizade com Rubén Darío, que será desfeita anos mais tarde; - Modernista; - “Declaración de un vencido” (1887) - Este escritor aparece como personagem em duas importantes obras: - Rafael Villasús, personagem secundária em “El |rbol de la ciencia” de Pío Baroja; - Max Estrella, o protagonista de “Luces de Bohemia” de Valle-Inclán. - Valle-Inclán esteve presente no funeral de Sawa, que morreu miserável. Ao transpôr a sua existência para a personagem principal de “Luces de Bohemia”, Valle -Inclán pretende, deste modo, imortalizar Sawa e todos os boémios, incluindo ele próprio; Em “Luces de Bohemia”, Valle-Inclán imortaliza ainda
muitos dos lugares da vida boémia madrilena da época. I. A Literatura Espanhola antes da Guerra Civil: 1900-1936
NOVECENTISMO OU “GENERACIÓN DEL 14” E AS VANGUARDAS - Novecentismo: Este termo foi usado já em 1906 por Eugenio D’Ors, para designar aquelas tendências que se afastavam redondamente das formas artísticas ou literárias herdadas do séc. XIX.
- O “Novecentismo” ou “Generación del 14” forma-se na primeira década do século e convive com as literaturas de vanguarda dos anos 20; Pressupõe a importância dos modernistas e dos “noventayochistas”.
As principais características da sua ideologia são: 1) No âmbito politico: as raízes dos novecentistas estão ligadas ao reformismo burguês, que vai desde o liberalismo a posições social-democratas; 2) No âmbito cultural: o novecentismo pressupõe o aparecimento de um novo tipo de intelectual: face à boémia modernista, o intuito será agora mostrar “pulcritud” – palavra em voga, naquela época; - As atitudes anteriores, irracionalistas ou exaltadas, são substituídas por uma vontade de clareza racional; 3) Reação contra atitudes “decimonónicas”(Séc. XIX): - Em todos os autores são frequentes declarações Antirromânticas e de entusiasmo pelo Clássico. - Consideram o “98” e o Modernismo como epígonos do séc. XIX; 4) O Europeísmo face ao Casticismo – Os autores interessam-se pelo universal e não somente pelo Nacional; 5) O Problema de Espanha – Continua a estar muito presente, se bem que agora com uma revisão mais rigorosa e objetiva do que a revisão de que foi alvo pela Geração Anterior; Verifica-se uma “noventayochista”
reação
contra
6) Outros temas frequentes são :
o
pessimismo
- A ideia de revolução a partir do poder; - Um marcado elitismo (Cujo exemplo é o ensaio de Ortega: “La España Invertebrada”).
A ESTÉTICA DO NOVECENTISMO Orientações Comuns: - Ponto de Partida: Reação contra as correntes literárias do séc. XIX; - A fuga do sentimentalismo; - A “pulcritud”, no sentido de distanciamento e de equilíbrio, e também uma grande preocupação em escrever com uma linguagem cuidada; - Escreve-se sob um imperativo seletivo, de modo a produzirse uma literatura para minorias; - O intelectualismo, derivado da preocupação de evitar o sentimental; - Tudo conduz a um ideal de “arte pura”, de “el arte por el arte”, no qual se procura o prazer estético ;
Concluindo: A estética novecentista está presidida por uma obsessão constante da obra bem meditada, bem-feita; MEMBROS DO NOVECENTISMO - Antonio Machado; - Gregorio Marañon; - Ortega y Gasset; - Ramón Pérez de Ayala; - Eugenio D’Ors; - Manuel Azaña;
- Concha Espina; - Wenceslao Fernández Flórez; -Benjamín Jarnés; - Gabriel Miró;
- Juan Ramón Jiménez;
O NOVECENTISMO - Este movimento localiza-se entre o Modernismo e a rutura radical das vanguardas; - Integram-no escritores que reprimem o sentimental ou o submetem à vigilância do intelecto; - Opõem um desejo “cl|ssico” frente a qualquer forma de Romantismo; - Propõem um trabalho de seleção e, ainda, aumentar a linguagem poética; - Em suma, tendem a uma “poesia pura”, “nua”, coincidindo com o que postulará Juan Ramón Jiménez.
JUAN RÁMON JIMÉNEZ - Passam os anos e o Modernismo é superado. Processo que Pedro Salinas sintetizou com esta fórmula: “Del cisne al búho”; - Da excelência sensorial do Modernismo, se passa a uma lírica mais reflexiva e mais intelectual; - Também em Espanha se produz um cansaço modernista; - Os poetas tendem à depuração estilística. JUAN RÁMON JIMÉNEZ: nasce em 1881, morre em 1958; - Em 1900, deixa os seus estudos de Direito para ir “lutar pelo Modernismo” com Ruben Darío;
- Teve uma depressão, permanece em retiro durante seis anos e aí escreve o seu famoso livro «Platero y yo»; - Hospeda-se na Residencia de Estudiantes;
SENSIBILIDADE E CONCEÇÃO DA POESIA - Juan Ramón vivia o seu mundo “a sós”; - Poeta que se consagrou por inteiro à sua Obra; - Cada vez se foi afastando mais da vida pública; - Dizia: “Eu tenho escondida em minha casa, por seu gosto e meu, a poesia. E a nossa relação é a dos apaixonados”;
- Resulta consequente com tudo isto, a sua famosa dedicatória: “A la minoría, siempre”; - A sua poesia é, sem dúvida, uma poesia para minorias, de dificuldade e seleção crescentes, assim como, de um crescente hermetismo;
A sua ideia de poesia baseia-se numa tripla “sede”: - “Sed de beleza”; “Sed de conocimiento”; “Sed de eternidad”. - Independentemente de tudo, para Juan Ramón, a Poesia é beleza, expressão de um comprazimento exaltado no belo, misturado com melancolia e uma dor dilacerante. - É também um modo de conhecimento , de “inteligência”, agudíssima penetração na essência das coisas; - E por ultimo: é uma expressão de ânsia de Eternidade , concebida como possessão inacabável da Beleza e da Verdade. - Daí, a sua preocupação pela Fugacidade das coisas ; - Daí, também, a sua especial ideia de Deus, que identifica com a Natureza, ou com a Beleza Absoluta, ou com a própria consciência criadora.
TRAJETÓRIA POETICA - Na sua obra nota-se uma busca constante e a sua passagem pelos distintos aspetos recorridos pela poesia espanhola desde o Modernismo até às novas formas.
Distinguem-se 4 etapas da sua obra poética: 1) A poesia simples, “sencilla”, “inocente” – do início; 2) A poesia envolta nos “ropages del Modernismo”; 3) A etapa de depuração progressiva, até uma nova simplicidade; 4) A “Poesia desnuda”, definitivamente depurada das formas modernistas; Mais tarde, Juan Ramón Jiménez reduz a sua evolução a 3 fases: - Primeira Época ou Sensitiva – 1898 até 1915 - Segunda Época ou Intelectual – 1916 até 1936 - Terceira Época ou “Suficiente”/”Verdadeira” – 1936 – 1958 (morte) “POESIA DESNUDA”
- O livro escrito em 1915 – Estío – representa o primeiro passo claro a uma nova simplicidade; - Volta ao octossílabo, à assonância, à preferência pelo poema breve, à supressão ornamental e supérflua; - E assim, chegar| a uma poesia muito pessoal, “fuera de escuelas o tendencias”;
- Rompe definitivamente com o Modernismo em 1916; - Escreve neste ano: «Un diário de un poeta recién casado»; - A sua novidade é assombrosa; - Desaparece o léxico modernista, a adjetivação sensorial, os ritmos sonoros; - É de facto, uma poesia “desnuda”, na qual se elimina o contar de uma história, para dar lugar à concentração concetual e emotiva. - Por isso, predominam os poemas breves, densos, em versos preferencialmente livres e sem rima, ou com leves assonâncias;
- E tem também poemas em prosa, que pela heterogeneidade de seus materiais, irá influenciar a poesia de Vanguarda. O poeta define esta sua nova linguagem poética: “Sencilla . Lo
conseguido con menos elementos, es decir, lo neto, lo apuntado, lo sintético, lo justo. Por lo tanto, una poesía puede ser sencilla y complicada a un tiempo […]”.
- Não acredita numa arte para maiorias; - Juan Ramón procura a realidade profunda ou escondida das coisas, a essência e os enigmas da alma e do mundo; - Levado pela “sede de conhecimento”, a sua palavra quer ser um instrumento em busca de uma nova “inteligência”; - Revela uma ânsia de eternidade, só ela permite chegar a uma possessão total da beleza, da realidade e do próprio ser;
CONCLUSÃO A poesia de Juan Ramón Jiménez revela-se como uma busca solitária da Beleza e do Absoluto.
Esta conceção serviu para os poetas puros e para os elementos do Grupo Poético de 27
Todos eles receberam a sua influência.
AS VANGUARDAS - Esta constitui uma época, tanto na Europa como em Espanha, de enorme interesse; - Uma agitação de experiências que pressupõe uma rutura e conduz a uma profunda renovação do conceito da literatura e da linguagem poética;
- Em Espanha, merece especial importância: 1) A obra poética de Ramón Gómez de la Serna; 2) A funda marca que o Surrealismo deixaria na Geração de 27;
- O Grupo poético de 27 – denominação mais exata – nutre-se, em boa medida, das vanguardas, contudo, sabe torná-las compatíveis com o enraizamento da tradição espanhola. - Os novecentistas trouxeram novidades importantes , mas aqui não se podia falar de “rutura ” em relação { literatura anterior, mas só mais precisamente de “depuração” e “inovação”; - A verdadeira rutura – mais intensa que a modernista e quiçá a mais radical das que se deram na história da arte – é a que levam a cabo as vanguardas; - Os “ismos” vanguardistas sucedem -se a um ritmo muito rápido: Expressionismo, Futurismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo, etc.
JOSÉ ORTEGA Y GASSET (1883 – 1956) - «La deshumanización del arte» é um ensaio que teve uma grande repercussão nos ambientes artísticos e literários do momento; Ainda que trate da arte de vanguarda, os seus pressupostos estéticos são ainda muito característicos do Novecentismo;
LA DESHUMANIZACIÓN DEL ARTE - “A mi juicio, lo característico del arte nuevo, «desde el punto de vista sociológico», es que divide al público en estas dos clases de hombres: los que lo entienden y los que no lo entienden. - Aunque sea imposible un arte puro, no hay duda alguna de que cabe una tendencia a la purificación del arte.
- Esta tendencia llevará a una eliminación progresiva de los elementos humanos, demasiado humanos, que dominaban en la producción romántica y naturalista. - Y en este proceso se llegará a un punto en el que el contenido humano de la obra sea tan escaso que casi no se le vea. Entonces tendremos un objeto que sólo puede ser percibido por quien posea ese don peculiar de la sensibilidad artística. - Será un arte para artistas, y no para la masa de los hombres; - El arte nuevo es un hecho universal. - Desde hace veinte años, los jóvenes más alerta de dos generaciones sucesivas se han encontrado sorprendidos por el hecho ineluctable de que el arte tradicional no les interesaba, más aún, les repugnaba. - Y pronto he advertido que germina en ellos un nuevo sentido del arte, perfectamente claro, coherente y racional. - Tiende: 1º, a la deshumanización del arte; - 2º, a evitar las formas vivas; - 3º, a hacer que la obra de arte no sea sino obra de arte; - 4º, a considerar el arte como juego y nada más; - 5º, a una esencial ironía; - 6º, a eludir toda falsedad y, por tanto, a una escrupulosa realización. - 7º, el arte, según los artistas jóvenes, es una cosa sin trascendencia alguna. - “En vez de ser la idea instrumento con que pensamos un objeto, la hacemos a ella objeto y término de nuestro pensamiento.” - Es un síntoma de pulcritud mental querer que las fronteras entre las cosas estén bien demarcadas. - Vida es una cosa, poesía es otra . - No las mezclemos. El poeta empieza donde el hombre acaba. - El destino de éste es vivir su itinerario humano; la misión de aquél es inventar lo que no existe. - De esta manera se justifica el oficio poético. - El poeta aumenta el mundo , añadiendo a lo real, que ya está ahí por sí mismo, un irreal continente. - Autor viene de auctor , el que aumenta .
“La poesía es hoy el |lgebra superior de las met|foras.”
PENETRACIÓN Y DESARROLLO DEL VANGUARDISMO EN ESPAÑA - Desde 1914, se recebe em Espanha uma nova sensibilidade e novas orientações estéticas (Novecentismo); - Assim, progressivamente, observa-se um afastamento da realidade aparente – ou rutura com todo o realismo –, que consiste naquela “desumanização da arte” diagnosticada por Ortega; - Os criadores vanguardistas em Espanha estão em consonância com os vanguardistas europeus, que, por sua vez, conhece bem; - Picasso foi um dos grandes motores deste “arte nuevo”; Na literatura, as vanguardas contam com um pioneiro: Ramón Goméz de la Serna; - E no ambiente literário proliferam as tertúlias e as revistas, onde a vanguarda tem o seu espaço; - Entre as tertúlias, são famosas as do “Café Pombo”, presidida por Ramón Gómez de la Serna;
- Entre as revistas, são essenciais: “La revista de Occidente” – criada por Ortega y Gasset; E “La Gaceta Liter|ria”;
Em síntese, podem distinguir-se 4 etapas do desenvolvimento do vanguardismo espanhol: 1) De 1908 a 1918: Primeiras manifestações de vanguarda, especialmente protagonizadas por Ramón Gómez de la Serna ; 2) De 1918 a 1925: Desde a chegada de Vicente Huidobro até aos primeiros ecos do Surrealismo. São os anos do Ultraismo e do Creacionismo. Predomina o lúdico, a exaltação vital e a desumanização.
3) De 1925 a 1930: Influência dominante do Surrealismo , com o qual se inicia uma “rehumanização”, acompanhada de uma
certa
angústia
ou
rebeldia
perante
os
efeitos
“desumanizadores” da sociedade moderna;
4) De 1930 a 1936: As inquietudes do momento levam até um “novo Romantismo”. Depois de certas tentativas para conciliar a vanguarda estética e a vanguarda política, as “urgências” deste ultimo tipo levam à decadência do Vanguardismo Espanhol.
EFEMÉRIDES VANGUARDISTAS - 1909: Ramón Goméz de la Serna publica o seu ensaiomanifesto: “O conceito da nova literatura”; - 1918: Vem a Espanha o poeta chileno Vicente Huidobro, portavoz das vanguardas parisienses e cabecilha do “Creacionismo”; - 1919 y 1920: Publicam-se vários manifestos do “Ultraísmo”; - 1925: “La revista de occidente” inclui a tradução do Manifesto Surrealista; - 1925: “La deshumanización del arte” de Ortega y Gasset; - O cinema de vanguarda contará com dois filmes fundamentais de Buñuel e Dalí: “Un chien andalou” (1928) e “L’Age d’Or” (1930).
RAMÓN GÓMEZ DE LA SERNA – PIONEIRO DO VANGUARDISMO ESPANHOL - Nasceu em Madrid em 1888 e morreu em Buenos Aires, em 1963; - Nunca interveio em assuntos políticos ou sociais;
- O mundo afigurava-se-lhe como um circo grotesco, descritível apenas em termos de humor, com um poço de amargura; - A sua vida e a sua obra são uma contínua rutura de convenções; - Pronuncia conferências vestido de toureiro, e num circo, em cima de um elefante; - Cultiva o extravagante, o grotesco, o provocativo, em qualquer terreno; - É a plena reencarnação do espírito de vanguarda; - Sempre defendeu e difundiu as novas correntes (anos antes do Surrealismo praticava já o irracionalismo poético), às quais dedicaria o livro “Ismos” (1931); - A sua extensa obra tem como base a “greguería”; - Com este nome, que em espanhol significa “algarabía” (no seu duplo sentido de alvoroço e linguagem incompreensível) designou Ramón um género inventado por ele, desde 1910 ;
- A sua definição é: Humorismo + Metáfora = Greguería; - Na maioria dos casos, “greguería” é como uma piada: Ex: “Hay unas beatas que rezan como los conejos comen hierba”;
- Noutros casos, aproxima-se da filosofia: “Nos desconocemos a nosotros mismos porque nosotros mismo estamos detrás de nosotros mismos”;
- Em ocasiões, alcança uma funda gravidade: “Hay suspiros que comunicam la vida con la muerte”;
- Outras são de um lirismo intenso: “De la nieve caída en el lago nacen los cisnes”;
- Muitas vezes são caprichosas relações verbais : “Un tumulto es un bulto que les suele salir a las multitudes”;
Como assinalou Cernuda, há um certo parentesco entre a “greguería” e as aud|cias culteranas e concetistas. (recorde-se “el bostezo de la tierra” que é para Gôngora uma cova, ou “érase un elefante boca arriba”, com que Quevedo se refere a um
narigudo.) - A “greguería” antecipa essa “|lgebra superior das met|foras” que Ortega vê na poesia vanguardista.
De facto, muitos dos versos dos jovens poetas do “Grupo del 27” são autênticas “greguerías” Jorge Guillén fala do “radiador, ruiseñor del invierno” Para Gerardo Diego: “La guitarra es un pozo, con viento en vez de agua”;
- A sua obra é muito extensa e como novelista rompe os moldes do género: Desinteressa-se pelo argumento e substitui-o por quadros e divagações. Chama-lhe novela livre. - Compõe biografias e ainda, um importante teatro de vanguarda ;
FUTURISMO, ULTRAISMO E CREACIONISMO EM ESPANHA O FUTURISMO - O Futurismo conheceu-se em Espanha através de Ramón Goméz de la Serna, que publicou, em 1910, o seu manifesto numa revista; - Não se criou uma escola; - Contudo, notaram-se algumas marcas da sua temática; - Sobretudo, nos primeiros poemas de Pedro Salinas (poema dedicados à maquina de escrever, por ex.) e de Alberti (poema em que fala de um guarda-redes de futebol, por ex.)
O ULTRAÍSMO - O Ultraísmo recolheu também elementos futuristas ; - É um efémero movimento espanhol; - O seu primeiro manifesto aparece em 1919; - O seu nome “ultra” ou “ultraísmo” revela a vontade de ir “m|s all|” do Novecentismo, que impera; - Na linha do “asentimentalismo”, da desumanização , inclui os temas maquinistas e desportivos;
- Procura imagens novas e recorre a disposições tipográficas ao modo dos caligramas; - O principal promotor do Ultraísmo foi Guillermo de Torre (18991971), que ilustrou as suas doutrinas com poemas visuais;
Este autor, junto com Ramón, é um impulsionadores do Vanguardismo Espanhol.
dos
principais
- O mesmo declarou morto o “ultraísmo” em 1923.
O CREACIONISMO - Foi iniciado em Paris por Vicente Huidobro e Pierre Reverdy; - Em 1918, Huidobro dá-lo a conhecer a Espanha; - Os creacionistas diziam: “Queremos hacer un arte que no imite ni traduzca la realidad”; - Pretendem um afastamento da realidade, que conduzirá à abstração; - O poema será um objeto autónomo, criação absoluta e não imitação;
“Hacer un poema como la naturaleza hace un {rbol” – Divisa de Huidobro - Assim, o poeta cultivar| o “el juego de azar de las palabras”;
Vicente Huidobro (1893-1948) é hoje considerado como uma figura chave na renovação da poesia hispano-americana. Entre os seus seguidores estão Juan Larrea, surrealista , e, sobretudo, Gerardo Diego.
O SURREALISMO EM ESPANHA
- Espanha é possivelmente o país onde a influência surrealista foi maior; - O primeiro Manifesto Surrealista cedo foi conhecido em Espanha (1925); - E não podemos esquecer também a influência das visitas de Bréton a Barcelona (1922) e a de Aragón { “Residencia de Estudiantes” (1925), onde viviam, nesta altura, Dalí, Lorca e Buñuel ; - Contudo, a difusão deste movimento em Espanha deve muito ao poeta Juan Larrea; - Juan Larrea nasce em Bilbao, em 1895; - A sua obra inicia-se entre o Ultraismo e o Creacionismo, mas já em 1924 conhece os surrealistas em Paris, onde residirá até 1926; - Escreve em francês e será traduzido por Gerardo Diego; - Escreve versos que respondem ao Surrealismo mais puro e que revelam uma notável capacidade criadora;
- A Larrea, segundo Cernuda, deve atribuir-se a orientação surrealista dos vários poetas de 27; - Para outros, é fundamental a influência de Buñuel e Dalí; - E o que é certo, é que quase todos os membros deste grupo foram fortemente marcados pelo Surrealismo; - Isto pode apreciar-se em obras como “Sobre los Angeles” de Alberti e “Poeta en Nueva York” de Lorca; - E ainda na obra de Vicente Aleixandre; - Afirma Cernuda a respeito desta última: “El Surrealismo Francés obtiene con Aleixandre en España, lo que no obtuvo en su tierra de origen: un gran poeta” ; - Contudo, o Surrealismo Espanhol não chegou aos extremos da pura criação inconsciente, nem praticaram a chamada “escrita autom|tica”; - Nos seus poemas, percebe-se uma intencionada ideia criadora; - Há uma liberação da imagem, desatada de bases lógicas;
- E com isto, há também um enriquecimento prodigioso da linguagem poética; - A erupção do surrealismo significará a crise do ideal de “pureza” e de “desumanização”, que tinha prevalecido durante alguns anos; - O Humano, o Social e o Político voltam a constar na literatura, precisamente por causa da expressão surrealista.