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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira Br asileira da Livro, Bras Literatura e música / Solange Ribeiro de Oliveira.. [et ai.] . — São Paulo Editora Senac Sã Paulo : Instituto Itaú Cultur 200 Outros autores: Carlos Reottd, Paulo Freire, Maria Alice Amorim, Janaina Roch Bibliograf ISRN 85-7359-342 3 (Editora Senac São Paul ISRN 85-85294-43-5 (Instituto Itaú Cultur 4. Música e literatura 1. Oliveira, Solange Ribeiro de. II. I I. Reond, Carlos. III. Freire, Paul Pau IV. Amorim, Maria Alice.V . Rocha, Janain Índices para catálogo sistemátic 4. Literatura e música 780.0 780. 2. Música e literatura 780.0
Todos os direitos desta edição reservados Editora Senac São Pau Rua Rui Rarbosa, 377 — 10 and Reis Vista CEP 01328-04 Sign up to vote on this title Caixa Postal 3S95 — CEP 02090-97 Useful Not useful São Paulo S Ibl. (11) 3284-4322 — Fax (11) 289 963 E-mail:
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira Br asileira da Livro, Bras Literatura e música / Solange Ribeiro de Oliveira.. [et ai.] . — São Paulo Editora Senac Sã Paulo : Instituto Itaú Cultur 200 Outros autores: Carlos Reottd, Paulo Freire, Maria Alice Amorim, Janaina Roch Bibliograf ISRN 85-7359-342 3 (Editora Senac São Paul ISRN 85-85294-43-5 (Instituto Itaú Cultur 4. Música e literatura 1. Oliveira, Solange Ribeiro de. II. I I. Reond, Carlos. III. Freire, Paul Pau IV. Amorim, Maria Alice.V . Rocha, Janain Índices para catálogo sistemátic 4. Literatura e música 780.0 780. 2. Música e literatura 780.0
Todos os direitos desta edição reservados Editora Senac São Pau Rua Rui Rarbosa, 377 — 10 and Reis Vista CEP 01328-04 Sign up to vote on this title Caixa Postal 3S95 — CEP 02090-97 Useful Not useful São Paulo S Ibl. (11) 3284-4322 — Fax (11) 289 963 E-mail:
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ADMINISTRAÇÃO REGIONAL REGIONAL DO SENAC SENAC NO ESTADO ESTADO DE SÃO PAUL PAUL
Presidente do Conselho Region Abram Szajm Diretor do Departamento Region Luiz Francisco de Assis Salgad Superintendente de Operaçõ Darcio Sayad Ma
EDITORA SENAC SÃO PAUL
Conselho Editori Luiz Francisco de Assis Salgad Clairton Marti Luiz Carlos Dourad Darcio Sayad Ma Marcus Vinicius Barili Alv Edit Marcos Vinicius Barili Alves (
[email protected] Coordenação de Prospecção Editori Isabel M. M. Alexandre (
[email protected] (
[email protected] Coordenação de Produção Editori Antonio Roberto Roberto BerleIli (abertell@spsenac. Supervisão de Produção Editori Izilda de Oliveira Pereira (
[email protected] Preparação de Tex Beth Gri Revisão de Tex Adalberto Luis de Oliveira, Oliveira, Kimie Imai, Lucina Lucina Gú Editora ção Eletrôni Antonio Carlos De De Ange Cap Moema Cavalcan Impressão e Acabamen Cromosete Gráfica e Editora Ltd Sign up to vote on this title Gerência Comerci Useful Not useful Marcus Vinicius Barili Alves (
[email protected] Administração e Vend Rubens Gonçalves Folha (
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Jorge da Cunha Lim Vice-Presidentes Executiv
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Alfredo Egydio Setub Ronaldo Bianc Consultor de Equi Claudiney Ferrei Diretores Executiv Antonio Carlos Barbo Oliveira Lívia Perra Antonio Jacinto Mati Luciana Den Júl Cláudio Salvador Lemb Renata Amaral T. Corre Malú Pereira de Almei Renata Sarmen Renato Roberto Cuoc Sara Marta Fari Shirlene Ams You're Reading a Preview Unlock full access with a free trial.
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Nota dos editores Apresentação - Luís Camargo Introdução à melopoética: a música na literatura brasileira - Solange Ribeiro de Oliveira Poesia literária e poesia de música: convergências - Carlos Rennó A música dos causos - Paulo Freire Improviso: tradição poética da oralidade - Maria Alice Amorim Repensando - Janaina Rocha Sobre os autores
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NOTA DOS EDITORES
Mais uma vez o Senac São Paulo e o Itaú Cultural lançam uma coletânea de ensaio temáticos à maneira de Rumos da crítica, Outras leituras e Literatura, cinema e televisã A exemplo daqueles, cinco autores especializados em literatura e/ou música analisam aqu “musicalidade” do texto, as relações dessas artes que , no dizer da professora de literatu comparada Solange Ribeiro de Oliveira, são evidentes na prosa e na poesia de grande escritores. Ela pergunta e conclui com elegância: “Como negar a musicalidade dominan no poema [de Manuel Bandeira]? Mais que o sentido, a música das palavras puxa a linha d verso, fazendo que a dimensão semântica brote, como Vênus das ondas, do borbulh sonoro”. Acreditamos que a leitura deste livro apura o ouvido e o senso crítico dos apreciam literatura e música, desvendando em uma e outra arte perspectivas cu identificação as enriquece.
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APRESENTAÇÃO
O remo abre o r O rio murmu Cecilia Meirel
As vogais e as consoantes dão a cada palavra uma sonoridade particular. palavras também podem imitar os sons aos quais se referem: zumbir, tilintar, farfalhar. disposição das sílabas, fracas e fortes, dá a cada palavra um ritmo. Por uma espécie d economia fonética, esses ritmos são recorrentes, assim como cada língua utiliza um núme reduzido de fonemas. A sonoridade e o ritmo, que estão presentes em cada palavra, são assim, o ponto de partida para a musicalidade da poesia e, por extensão, da literatur Essas propriedades musicais da palavra vêm sendo estudadas desde a retórica clássic incluindo a peiformance do orador, especialmente o cuidado com a fala: a entonação, intensidade, a velocidade, as pausas, etc. Há registros de que Demóstenes, o maior orado da Grécia antiga, teve aulas com um ator, visando aprimorar sua peiformance. Com respeito estudos sobre a declamação de poemas, Aristóteles menciona Glauco de Teos, cujo text não chegou até nós. O diálogo Íon, de Platão, embora enveredando por uma out abordagem, sugere a importância dos rapsodos, que declamavam os poemas de Homero Na Antiguidade, os estudos mais detalhados sobre a peiformance são os de Quintiliano, n Institutio oratoria (A educação oratória, ou, mais livremente, A educação do orador). Nosso conceito de You're literatura, outro lado, foi se afastand Readingpor a Preview da oralidade e está intimamente associado ao suporte livro e à l full access with a free trial. tura silenciosa e solitária. DessaUnlock forma, a musicalidade das palavras tornou-se, para nó principalmente uma possibilidade, uma virtualidade. Uma possibilidade do texto que With — FreeaTrial atualizada — em geral, apenasDownload mentalmente cada leitura. Essa musicalidade realmente concretizada pela leitura em voz alta e pela declamaçã Existe, assim, uma música de palavras. Nos versos de Cecilia Meireles, na epígrafe acima, palavra murmura imita o barulho da águas, enquanto a repetição dos erres sugere o barulh do remo: O remo abre o rio. Outra interação da música com a literatura é a música verbal espécie de descrição d uma composição musical, especialmente seus efeitos sobre o ouvinte. Nesses casos, o auto freqüentemente expressa suas sensações ou as de um personagem a partir da audição d uma música — real ou fictícia — , o que nos fazSign enveredar pela recepção music up to vote on this title Uma outra interação é a imitação de estruturas musicais pelo texto literário como, po Not useful Useful exemplo, tema e variação, contraponto, rapsódia e sonata. Essas interações são alguns do tópicos abordados pela professora de literatura Solange Ribeiro de Oliveira. Seu conhecimentos de literatura e de música permitem-lhe transitar com facilidade por esse
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Esse é o tema que o letrista Carlos Rennó aborda em seu ensaio, destacando u dos grandes momentos de associação de música e poesia na tradição ocidental, a poes trovadoresca, dando um salto para falar da canção popular norte-americana e brasileira. E comenta procedimentos sonoros e rítmicos, como rimas entre estrofes diferentes, “quase rimas” ou “pseudo -rirnas”, além do apelo imagético, exemplificando com Chão de estrelas, Orestes Barbosa, e alguns versos de Prince. Graças à sua experiência como tradutor de canções, ele oferece exemplos concreto de desafios e soluções. Em sua visão — que retoma a de Pound e a dos poetas concretist brasileiros — , não se trata de traduzir apenas o que se diz, mas também o como se diz. Alé de procurar recriar os efeitos estéticos, ele também busca “a melhor cantabilidade possív para as palavras em português”. Esse conceito — cantabilidade — parece ab perspectivas minto férteis para o estudo da poesia e da canção. Outro procedimento utilizado por Carlos Rennó é a “transposição para u contexto brasileiro”, procedimento que poderia ser denominado transculturação e q poderia, talvez, ser colocado como um outro tipo de tradução, ao lado dos três tip identificados por Jakobson: tradução dentro da mesma língua, de uma língua para outra da linguagem verbal para a não verbal ou vice-versa. Entre várias soluções tão criativas, ci uma das estrofes da tradução de Carlos Rennó para A Picture of Me Without You (1935) ( imagem de mim sem você), de Cole Porter:
Imagine Kant sem a raz Imagine Guirnarães sem o sertã Imagine Tyson sem um cruzad Imagine Marylin Monroe sem um pecad Imagine Kraus sem um desdi You're Reading a Preview Imagine Dom Pedro sem um gri Junte tudo isso e aí você t A imagem de mim sem vo Unlock full access with a free trial.
O violeiro Paulo Freire junta seus interesses pela música, especialmente pela vio Download With Free Trial (acústica, elétrica, de cocho, sem preconceitos), e pela literatura (de Guimarães Rosa letras de Angelino de Oliveira) com o interesse pelo outro, pelo convívio, pelo partilhar d histórias, experiências e emoções. Esse interesse pelo outro faz com que ele veja nos caus todo um imaginário coletivo, criador de laços entre as pessoas. Essas pontes são criad também pela “música especial do falar”, especia lmente “a musicalidade da fala do caipira Nesse universo, surgem diferentes interações entre literatura e música, além da música d fala: os toques de viola, que são um tipo de música instrumental, que geralmente contam uma história, o que leva Paulo Freire a falar em “arte de transformar causo emmúsica Sign up to vote on this title um poema além do estilo “falar e cantar”, de Raul Torres e Florêncio, que “declamam depois seguiam com a música desenvolvendo oUseful caso contado Not useful no poema Na tradição popular, as interações entre literatura e música fazem parte de manifestaçõ culturais formadas por um conjunto complexo de artes em que os limites entre artista
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Outro ponto a destacar é a mudança no perfil cultural dos criadores, que tanto podem te pouca escolaridade como ser pós-graduados. A nomenclatura popular é diferente da erudita — a estrofe, por exemplo, denominada verso; o verso, linha ou pé — , podendo criar certo estranhamento. H denominações saborosas, como quadrão, para oitava. Aprendemos que o repentista “te que ter baião e sonora”. Baião refere-se ao toque de viola e, assim, ao talento com instrumentista, enquanto sonora refere-se à voz. Embora rapidamente, Maria Alice também fala sobre a formação do repentista e d presença feminina, completando o quadro sobre manifestações tradicionais tão ricas, aind tão atuantes e com grande receptividade — seria melhor dizer particzação — do públic Daí passamos ao rap. O rap é um gênero musical, um tipo de canção, mais do que um poesia para ser cantada, uma poesia para ser declamada, com ênfase no ritmo e co acompanhamento musical. Isso está sugerido no termo rap, abreviatura de rhjthm and poet ritmo e poesia. O rap é um dos elementos de uma manifestação cultural mais ampla, o hip hop, cultura de rua constituída por uma música (rap), uma dança (break), uma manifestaçã visual (grafite) e dois atores indispensáveis: o DJ e o MC. Os nomes e as siglas já sugerem a origem norte-americana. Manifestação d resistência cultural e de protesto, em sua origem, vai ganhando outras funções, ao espalha se pelo mundo. Na França, por exemplo, assume um caráter mais literári No Brasil, são ainda bastante recentes os estudos sobre o rap. A jornalista Janaina Roch vale-se de pesquisas realizadas por ela mesma para a elaboração de livro e de vídeo, além d referencial da teoria literária que ela busca em Antonio Candido eJonathan Cuiler. Em Candido, ela se apropria do conceito de sistema literár — composto pela tríadeYou'reautor-obra-público uma tradiçã Reading a Preview formando — para procurar entender a produção, circulação e recepção do rap, sem esquecer que ele Unlock access withcultural. a free trial.Como lembra Bosi, citado po uma espécie de subsistema dentro dafullindústria Janaina, “na sociedade capitalista avançada, não há nenhuma obra que, publicada, se pos dizer inteiramente marginal”. Download With Free Trial Cuiler fornece a Janama elementos para refletir sobre alguns aspectos bastan característicos do rap, como a reciclagem musical, fenômeno que tem sua contraparte literár na intertextua/idade. No processo de legitimação e reconhecimento do rap no Brasil, Janaina destaca publicação Literatura marginal, organizada por Ferréz, que reúne escritores, rappers grafiteiros. O “Manifesto de abertura”, assinado p or Ferréz, com referências a Joã Antônio e ao cordel, serve para Janaina mostrar a construção das imagens de literatu marginal e de literatura popular, visando à construção de uma tradição e buscand Sign up to vote on this title reconhecimento. Ela também estabelece uma aproximação com um texto fundamental pa Useful Not useful se compreender a poética de João Antônio, “Corpo -a-corpo coma vida”. Sem dúvida um aproximação que oferece pistas muito ricas para a compreensão da poética do ra Os ensaios aqui reunidos são resultado de cinco minicursos oferecidos no Itaú Cultural, e
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freqüentemente em meios audiovisuais e eletrônicos. A audição e a visão parecem, assim preceder a leitura, O que não significa, obviamen te, uma “morte” da leitura, mas um alteração significativa em sua natureza. Outro ponto a destacar na alteração da natureza da leitura é a multiplicação de literários, especialmente em lingua inglesa, com transcrições de obras literárias geralmente de domínio público — , inclusive em versões fac-similares, sites de pesquisa, q permitem a comparação de textos originais, diferentes traduções e recriações (como fábulas de Esopo, recriadas por Fedro, La Fontaine, etc.). Literatura e música abre, assim, uma janela sobre uma vasta paisagem. Sua leitu certamente amplia nosso hori2onte de expectativas em relação ao texto literário, ao mesm tempo que amplia nosso conceito de literatura, ao mostrar as interações do literário com outros sistemas culturais. Sua releitura e a conseqüente familiaridade com os vário conceitos aqui expostos modificam nosso modo de ler e de ouvir, a começar por um percepção mais acurada do estrato sonoro dos textos, abrindo-se, em seguida, para as vári interações entre literatura e música aqui abordadas. Luís Camar Coordenador dos cursos que deram origem a este livr
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INTRODUÇÃO À MELOPOÉTICA: A MÚSICA NA LITERATURA BRASILEIR Sheet Music
SOLANGE RIBEIRO DE OLIVEIR
[..] vargas músicas sem so
mortas baladas de enterrado am Abgar Renault, „Windermere, Ambleside, Grasmere”, em Obra poétic
É longa e venerável a história das relações entre a música e a literatura, objeto d estudo da melopoética (do grego, meios = canto + poética), sugestiva designação cunhada p Steven Paul Scher para essa “disciplina indisciplinada”. Filiada à antiga tradição que assoc a literatura e as outras artes, remonta à citação, feita por Plutarco 1, de uma afirmaçã atribuida a Simônides de Ceos, que, cerca de quinhentos anos antes de Cristo, referia-se poesia como pintura falante e à pintura como poesia muda. Para a arquitetura, podemo acrescentar a expressão “música congelada”, usada por Goethe e por Schelling. “Ut pictu poesis” (“A poesia deve ser como um quadro”), verso inicial da Arte poética de Horáci retoma a analogia de Ceos, passando a nomear emblematicamente a linha crítica voltad para as referências mútuas entre as artes. Inserida nessa tradição, a melopoética afrrmagradativamente a partir do século XVI, até atingir, em nossos dias, o prestigio que lh conferem a literatura comparada e a inclinação pós-moderna pela fusão entre os vário sistemas artísticos. O estudo da contribuição da musicologia para as análises interdisciplinares encont adeptos ilustres no século XX. Lévi-Strauss 2 aponta na teoria musical, ou, ma precisamente, na concepção de acordes proposta por Rameau, uma precursora da anális Reading a Preview estrutural nas ciências humanas,You're alcançando também a literatura. Uma incursão nes terreno, que poderíamos denominar ulmusica joesis, Unlock full access with aconduz free trial.a questões teóricas muito gera como a fundamentação para as ligações entre as artes e os contrastes entre as respectiv linguagens. Nesse sentido, perguntas instigantes, formuladas através dos tempos, vê Download With Free Trial sendo retomadas por teóricos contemporâneos como Eugêne Souriau, Steven Paul Sche Calvin Brown, Susanne Langer, Michel Butor, Roland Barthes, Nancy Anne Cluck, Ulric Weisstein, L. e H. Rice-Sayre, Jon de Green e, no Brasil, Mário de Andrade, José Migu Wisnik e outros. De modos diversos, voltam à baila antigas indagações. Como justific prática ininterrupta das leituras intersemióticas? Haveria uma vinculação essencial entre artes, testemunhada pelo registro histórico, sugerindo um passado remoto, quando danç canto e poesia constituiriam uma obra de arte global, ainda testemunhadas, nos dias d hoje, pela inseparabilidade entre música, dança e poesia em culturas da oralidade? Out Signa up to vote on this de titleaproximaçõ hipótese, endossada por Robert Jourdain, propõe que possibilidade interartes repousa numa fundamental unidade empírico-psicológica, Useful Not useful origem d entrelaçamento, no cérebro humano, de diferentes percepções sensórias e estética Susanne Langer oferece mais uma explicação, implícita nas análises comparativas, para
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interpretação vazada em linguagem verbal. Mediando a recepção de todas as criaçõ artisticas, a verbalização, consciente ou não, justificaria as análises intertextuais. Valida-s assirri, a perspectiva semiótica, que toma as artes como diferentes tipos de linguagem interligados por equivalências estruturais — as chamadas homologias — confluentes n contexto social. Oferecendo denominadores comuns para sua abordagem, as homologia aproximam as artes, incluindo, evidentemente, literatura e música. Trabalhando o mesm tipo de material — blocos sonoros em movimento, embora de diferente qualidade acústi — , as duas artes englobam sistemas sígnicos rivais. Dentro dessa concepção, a músic segundo Langer, constitui um sistema de signos sui generis, integrado por “simbolos nã consumados”, já que lhes falta o elemento referencial, de alguma forma presente n linguagem verb ai. Discussões teóricas como essas são complementadas pela crítica e historiograf literárias. Em tempos relativamente recentes, o florescimento do romantismo e d simbolismo destaca momentos cruciais para o entrelaçamento de literatura e músic evidente no interesse dos românticos pelas relações entre as artes em geral. A da aproximada de 1800 assinala o auge do clima em que críticos e artistas afirmam simultaneamente, a supremacia da criação estética na hierarquia das realizações humana “Sinestesia” é a palavra de ordem de muitos desses românticos, partindo do famos conceito de arquitetura como “música congelada”, citado por Schelling 3 em su conferências de Jena-Würsburg sobre a filosofia da arte. Críticos e artistas utilizam noçõ metafóricas como “música verbal”, “pintura tonal”, “orquestração de cores” e “plano sonoros”, visando à anulação das fronteiras entre a pintura, a poesia e a música. Expand se, assim, a conhecida literatização da pintura e adaPreview música durante todo o século XIX, a You're Reading lado do destaque concedido às artes visuais por Ludwig Tieck, E. T. A. Hoffmann e pelo Unlocka full access with free trial. o impacto da música sobre pré-rafaelitas. Não se restringindo motivos e atemas, literatura é mais profundo e abrangente que o das artes plásticas. As qualidades acústicas d sílabas, palavras e frases, as propriedades sonoras de locuções verbais passam a ser cada v Download With Free Trial mais apreciadas como fenômenos essencialmente musicais. “O que os românticos iniciaram os simbolistas terminaram”, comenta Edmun Wilson. Emular o caráter indefinido da música tornou-se um dos principais objetivos novo movimento. Wilson menciona o formidável impacto da teoria e da música de Wagn sobre os simbolistas, bem como o pronunciamento de Poe sobre o caráter vago d verdadeira música da poesia. A obsessão pela instrumentalização sonora faz-se presente e Verlaine e em René Ghil; a partitura musical e espacializada comparece no texto analógic de Mallarmé, sem esquecer o que o crítico brasileiro Antonio Manoel 4, em importan 5 up to vote on this title Sign estudo sobre a música na poética de Mário de Andrade , denomina a “vidência órfica” d Useful Not usefulSchopenhaue Rimbaud. Na Alemanha, a tripla constelação constituída por Difundidas na Europa por Mme. de Stãel e por Byron, as conferências só foram publicad pela Wagner e Nietzsche introduz a preocupação com a música na formulação de sua teor
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direta, imediata e exclusiva da emoção, e a ordenação artística da sucessão temporal n criação literária e musical6. De um modo geral, as associações invocadas pelos poetas simbolistas dize respeito à maneira pela qual a música, em sua precisão formal, afeta o ouvinte: com experiência imanente, transfiguradora, recepção sensória difícil de identificar com uma idé ou emoção precisa. Em termos técnicos, a insistência dos simbolistas sobre a hesitaçã entre o som e o sentido na produção poética, resumida pela fra se de Verlaine, “de musique avant toute chose”, traduz -se principalmente na exploração de estrutur fonêmicas e tonais. A Chanson grise do poeta francês inspirou um vasto número de poem visando a efeitos de instrumentos musicais, da flauta de Mallarmé em L’après - midi d’infame harpas, clarins, sinos e guitarras, cada um com seu timbre particular. Por volta de 189 busca-se estabelecer uma convenção de simbolos e poesia lírica simulando efeitos musicai René Ghil, freqüentador do circulo de Mallarmé, chega a redigir um ensaio teórico, Le dii verbe, buscando uma base científica para a correlação entre som instrumental combinações sonoras na poesia. Outros, como Gustavo Kahn, concentram-se n versificação, visando a liberar a prosódia francesa da tirania secular do alexandrino7. De certa forma, a proposta sirnbolista enfatiza aquilo que, em maior ou menor gra sempre esteve presente na poesia de todos os tempos: a exploração de recursos fônicos acústicos. Próprios da linguagem verbal e da musical, explicam a milenar proximidade ent literatura e música, artes irmãs, geradas pelo enlace entre som e dimensão temporal. N estrato sonoro da literatura, destacam-se imagens acústicas como assonância, consonânci aliteração, onomatopéia, variações tímbricas e distribuições fonemáticas, além de element relacionais, essência do ritmo e da métrica, que incluem acentuação tônica, rim enjambement e pausas expressivas8.You're Reading a Preview A sonoridade destacada na linguagem poética não se restringe, evidentemente, full access with a free trial. vaga musicalidade de românticosUnlock e simbolistas. Prolongando-se na modernidade, faz pens também naquilo que W. K. Winsatt chama de orquestração verbal ou relação homofônica mais audível, imediata e nítida. Download With Free Trial No Brasil, a relação entre literatura e música é exemplarmente ilustrada pela poes de Manuel Bandeira, o mais musical de nossos poetas do século XX, autor de Os sapos, oficial do modernismo, notável pelo apelo de seu estrato fônico. Não fica atrás o jogo d assonâncias, consonâncias e aliterações de “Berimbau”, em O ritmo dissoluto:
Os aguapés dos aguaç Nos igapós dos Japu
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Bolem, bolem, bolem Chama o saci: — Si si si — Ui ui ui ui iii! ― uiva a Ia A mameluca é uma mal Saiu sozinha da maloc
Como negar a musicalidade dominante no poema? Mais que o sentido, a música d palavras puxa a linha do verso, fazendo que a dimensão semântica brote, como Vênus da ondas, do borbulhar sonoro. Coerente com o predomínio do estrato acústico sobre semântico, o texto inteiro reverbera com a exploração de assonâncias, consonâncias aliterações estrategicamente situadas. O chamado do saci evoca a última nota da escala d dó. A interjeição “ui!” gera a forma verbal “uiva”. O adjetivo “maluca” nasce do nom “mameluca”, que o contém, denunciando o jogo de “palavra puxa palavra”, que Me lqui surpreende na poesia de Drummond e que perpassa todo o poema de Bandeira 10. Ao fim ao cabo, que toda essa pirotecnia sonora contribua para evocar a paisagem da Amazôni com suas figuras lendárias, parece — esse é um dos segredos da grande arte — resultar “mágica mão do acaso”, celebrada pelo soneto de Keats 11. Do ponto de vista da melopoética, sobram razões para lembrar a obra de Bandeir Como vimos, a exploração da musicalidade intrínseca à linguagem verbal, de su propriedades sonoras e rítmicas, visando a um efeito conativo-afetivo semelhante ao d obra musical, é exemplarmente ilustrada por sua poética. Ademais, o poeta demonstrav amar e estudar a música, tendo contribuído com resenhas críticas de concertos para revista Idéia Ilustrada, editada por LuísReading Aníbala Falcão. You're PreviewSeu Itinerário de Pasárgada vo repetidas vezes ao tema do vínculo essencial entre a linguagem poética e a musicalidade access withdiscute a free trial. Falando da influência da músicaUnlock sobrefullsua arte, o efeito encantatório e a atraçã exercida por certas palavras, cuja função no texto é, não raro, puramente musica Menciona os valores plásticos e Download musicais dos Withfonemas, Free Trialcreditando a efeitos melódicos peculiar sensação de surpresa criada pela boa rima. Pensando, certamente, no empreg musical de tema e variação, o poeta atribuí à música, e não à imitação de qualquer model literário, a repetição de um ou dois versos, às vezes de uma estrofe inteira, em muito poemas de A cinta das horas e de Carnaval. Informa que, à época da publicação do primeir estava tão impregnado dos lieder de Schubert que quase usou como epígrafe a frase inici do itied Der Leiermann. Sobre Carnaval, Bandeira acrescenta que, lembrando o famoso Opus de Schumann, imaginou fazer algo do mesmo gênero em poesia, ou seja, combinar ritmo diferentes. No poema Evocação do Recife, destaca a intenção musical no uso das duas form Sign up to vote on this title “Capiberibe — Capibaribe”: a primeira vez com e, e a segunda com a, me dava a impressã Useful dita Not de um acidente, como se a palavra fosse uma frasemelódica nauseful segunda vez com bemol na terceira nota. De igual modo, em Neologismo, o verso “Teadoro, Teodora” leva mesma intenção, mais do que de jogo verbal.
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letras para canções, Bandeira discute a relação entre a musicalidade possível na poesia e música propriamente dita, cuja acústica específica não pode ser reproduzida pela linguage verbal: paradoxalmente, um fosso intransponível convive com as afinidades entre literatu e música. Nesse sentido, a teorização de Itinerário de Pasárgada, bem como a composição d poemas citados, concentra-se num tipo de relação que Steven Paul Scher, tratando d dimensão musical embutida na literatura, chama de “música de palavras”. Na tipologia qu propõe para o estudo da melopoética, Scher define “música de palavras” como a imitação pela linguagem verbal, da qualidade acústica de sons musicais exemplificada pe onomatopéia. Na poesia brasileira, para exemplificar essa imitação, escolho a lúdic exploração do estrato fônico na poesia de Bandeira. A “música de palavras”, segund Scher, contrasta com a imitação de estruturas e técnicas musicais no texto literário, também com “música verbal”, equivalente literário de partituras existentes ou imagin ária constituído pela “apresentação literária (em poesia ou prosa), de composições musicai reais ou fictícias”13. A construção semelhante à empregada na composição musical também se representar na obra de Bandeira. Mestre na criação de “música de palavras”, Bandei recorre a modelos musicais para a estruturação de alguns de seus poemas, particularmente técnica denominada tema e variação, constante na maioria das formas musicais, com também na poesia e até na prosa. Na ficção, a técnica chega a ser explicitada no título d Missa do galo, variações sobre o mesmo tema, série de reescritas do conto de Machado de Ass por seis autores contemporâneos14. Não por acaso, “Tema e variações” é precisamente nome de um poema de Bandeira em Opus 10, outro título claramente indicativo d inspiração musical: You're Reading a Preview Unlock full access with a free trial.
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Sonhei ter sonha Que havia sonhad
Em sonho lembrei-m De um sonho passa O de ter sonha Que estava sonhan
Sonhei ter sonha Ter sonhado o qu Estar com voc Estar? Ter estad Que é tempo passad
Sign up to vote on this title Um sonho presen
Useful
Not useful Um dia sonh
Chorei de repen Que vi, desperta Que tinha sonhado
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variações. Elas surgem inicial- mente nas doze linhas que contêm uma forma cognata “sonhei”, primeira palavra do poema. A variação consiste geralmente na mudança d tempo verbal ou do significado da palavra- chave “tempo”. Dos cinco versos restantes, do ligam-se gramaticalmente aos anteriores por conter igualmente uma variação de form verbal (“Estar com você. /Estar? Ter estado”), enquanto outro verso (“Que é temp passado”) gera um trocadilho com os dois sentidos da expressão “tempo passado”: sentido gramatical de “forma verbal pretérita” e a significação genérica de “espaç cronológico anterior ao momento atual”. Remetendo também ao duplo sentido, gramatical e o cronológico, da palavra “presente”, o verso “Um sonho presente” resume perfeita integração do conjunto forma-conteúdo que constitui o texto. Ficam assim enfatizadas tanto a natureza evanescente da temporalidade como a dúvida sobre possibilidade de se recuperar, pela memória, a experiência humana, condicionada por es temporalidade. A temática da vida como múltiplo questionamento da realidade — série d sonhos dentro de outros sonhos — emerge da técnica utilizada. Como outro exemplo da utilização de tema e variação na literatura brasileira, cit “Drama de Bárbara Heliodora”. Esse poema de Henr iqueta Lisboa em Madrinha expande, com inúmeras variações, um tema constituído por versos de Alvarenga Peixot que descrevem e comentam os destinos da esposa e da filha do inconfidente:
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“Bárbara be do norte estre que o meu desti sabes guiar Quem é que assim can como quem está chorand Suas faces encovara seus olhos se amortecera sobre seus cabelos negr cai uma chuva de cin Ah! E havia tanta bra em torno de seus cabelo tanto sol na sua ilharg tanto ouro nas suas min tanto potro galopan Em suas terras sem fi
“Tu entre os braç temos abraç dafilha ama Sign up to vote on this title podes goza
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É deveras a Prince do Brasil, essa meni
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Com procedimentos tão inequívocos, Bandeira e Henriqueta tinham certamente em vista o significado técnico dos termos “tema” e “variação”. Para a teoria musical, tema é idéia musical que serve de ponto de partida para uma composição, como sonata, sinfoni quarteto de cordas, fuga, ou ainda as chamadas formas variacionais, a chacona, passaca,g/ia e o basso ostinato, enquanto a variação consiste na reiteração do tema, co alguma alteração, de qualquer natureza, incluindo ritmo, tonalidade, acompanhament orquestração, etc17. Os conceitos de tema e variação, básicos para a teoria musical, têm sid amplamente utilizados também na análise literária. Calvin Brown defme a variação com uma versão do tema, coerentemente reconhecível como tal 18. No entender de Brown, o u de tema e seu reaparecimento nas variações têm a mesma importância para a literatura para a música: toda métrica depende de repetição e variação, embora, na literatura, repetição exija mais cautela. Um poema de métrica totalmente regular seria tã mortalmente cansativo como uma composição musical em tempo quaternário com quatr semínimas em cada compasso. Brown enumera outras dificuldades inerentes ao uso d tema e variação na literatura, que não pode duplicar totalmente o modelo musical. H problemas técnicos, como a extensão do tema e das variações. Na música, o composit usa muitas vezes o que os elisabetanos chamavam de “divisões”: o compasso básico divide em notas de durações decrescentes, como no Andante da Quinta sinfonia Beethoven. O recurso não pode ser utilizado na poesia, em que a velocidade das sila„ teoria musical distingue diferentes tipos de variações, tais como variações seccionais variações contínuas. A variação pode ocorrer na harmonia, na melodia, em ambas, composições modernas, de modo inteiramente livre, podendo até chegar a dificultar reconhecimento dos contornos estruturais do tema. You're Reading a Preview Sílabas variam muito menos que a das notas musicais e escapa inteiramente a full access with a free controle do poeta. Ademais, se asUnlock variações literárias se trial. afastarem muito do tema, não serã reconhecidas pelo leitor: é muito mais fácil lembrar um elemento musical, como a melodi que a letra de uma canção. O escritor enfrenta outro problema: cada variação dev Download Withainda Free Trial atingir um efeito de novidade, pois a redundância, prazerosa na música, dificilmente o ser na literatura. Para evitá-la, os poetas recorrem a artifícios próprios, como variar a imagem usada ou, no caso de mantê-la, sugerir uma interpretação diferente a cada vez que um imagem reaparece. O emprego de tema e variações, conhecido desde o século XVIII, persiste no séculos XIX e XX, em iniciativas independentes, geralmente de poetas menores. Brow aponta possibilidades diversas exploradas na literatura (algumas raramente usadas): variaçã de métrica, de tom, de ponto de vista, ou na estrutura sonora global. Exemplificao uso d Sign up to vote on this title variações na ficção com Une page d’arnour, de Zola, esclarecendo que o paralelo não é exat Useful Not useful musicais, m pois as variações não aparecem em seqüência, como no tema evariações distribuídas igualmente por todo o texto. O romance é dividido em cinco partes, todas co cinco seções. Cada parte se encerra com um capítulo de dez a doze páginas caracterizad
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A técnica de tema e variação, entendida como uma repetição mais ou meno alterada de material já conhecido, faz-se presente em quase todos os gêneros musicai ensejando a criação de formas como passacaglia, rapsódia, contraponto e fuga. Também pa essas formas existem equivalentes literários. Em A morte em Venea, novela de Thomas Man — na obra desse autor o elemento musical é tão importante que só o romance Dou Fausto já inspirou mais de mil trabalhos na linha da melopoética — , Vernon Venab aponta o equivalente literário de uma passacaglia, que integra uma variação continuamen repetida, identificada, na narrativa de Mann, com o motivo da morte Outros trabalhos investigam a possibilidade de transposição literária do contraponto — qual duas ou mais linhas melódicas soam simultaneamente — e de sua forma ma desenvolvida, a fuga. Nem todos os críticos concordam com a possibilidade de emulaçã literária desse tipo de criação musical. H. A. Basilius traz à baila a objeção de Regina Peacock: a imitação exata do contraponto é impossível na literatura, cuja linguagem forçosamente Imear, é incapaz de fazer soar ao mesmo tempo dois “pontos” contrastante como na polifonia e no contraponto musical. No Brasil, Mário de Andrade tenta, se muito sucesso, enxergar a simultaneidade, ou combinação harmônica, exigida pe contraponto, em “frases de natureza nominal, semanticamente disjuntivas e sucessivamen apostas sem formas nexivas” 20. Basilius vai mais longe. Alega que a expressividade music contrapontística pode ser obtida na literatura por meio de temas contrastantes, mesmo qu dispostos em forma seqüencial. Argumentando no mesmo sentido, Jean-Louis Cupe acrescenta que o contraponto literário não contempla, evidentemente, a simultaneidad sonora de várias partes, mas o jogo temático, acompanhando, ao mesmo tempo, articulação sintática do texto e os jogos metafóricos que comandam sua decodificaçã Afirma-se, assim, na literatura, uma estranha presença/ausência da arte irmã You're Reading a Preview Numa linha semelhante, William Freedman analisa o romance de Laurence Sterne, Tristra Unlock full access with a que free trial. Shandj, como uma forma de contraponto literário, antecipa, em quase dois séculos, “musicalização da ficção” espetacularmente tentada por Aldous Huxley no “romanc musical” Point Counter Point (Contraponto), 1928, e Trial reiterada em Themes and Variations, Downloadde With Free 22 1950 . No Brasil, estudos comparáveis ao de Freedman contemplam obras construídas semelhança de tema e variações, que podem ser associados a formas como fuga contraponto, mas também a construções mais livres, como a rapsódia. Destaco dua análises do romance Macunaíma, de Mário de Andrade, cujo subtítulo é exatamente “um rapsódia”. Em edição crítica do texto, Telê Porto Ancona Lopez menciona brevemente su construção musical, remetendo a observações de Mário sobre a questão 23. Em O tupi e alaúde, analisando o mesmo romance, Gilda de Meio e Souza demonstra minuciosamente Sign up to vote on this title transposição para Macunaíma de duas formas básicas da música ocidental, comuns à criaçã Useful daNot useful este últim erudita e à popular: o princípio rapsódico da suíte e o princípio variação, presente, de modo muito peculiar, no improviso do cantador nordestino. Meio e Souz “a técni estuda longamente a utilização, por Mário de Andrade, do processo da suíte
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e caráter distintos”24, nas personagens e na dubiedade das ações. Silviano Santiago — também cita o trabalho de Meio e Souza — faz uma análise semelhante de Claris demostrando que, como Macunaíma, o romance de Erico Veríssimo exibe uma estrutu musical equivalente à da rapsódia, visando a “combinar em harmonia elemento heterócitos, de tal forma que exista uma composição do todo que não seja mero produt de acúmulo”25. Como modelo ou analogia para a estruturação do texto verbal, nenhuma form musical se compara, entretanto, à sonata, se considerarmos o número e o alcance do trabalhos que tem inspirado. Constituindo, talvez, a mais importante das configuraçõe musicais eruditas, tem sido usada continuamente desde Haydn e Mozart, embora, a part de 1900, venha recebendo um tratamento cada vez mais livre. Antes de abordar sua relaçã com a obra literária, é preciso lembrar que o termo “sonata” pode referir -se a composiçõ complexas para um único instrumento — como uma sonata para piano, geralmente co três movimentos — , mas também a uma forma de construção típica do primeir movimento de composição complexa, como, por exemplo, uma sinfonia. Nesse últim sentido, que é o que aqui interessa, a sonata é também chamada de “forma sonata” o “forma de primeiro movimento”. E m sua estruturação clássica, consiste em um introdução opcional, uma exposição de material básico, um desenvolvimento desse materi e uma recapitulação, ocasionalmente seguida por uma corda 26. Para alguns musicólogos, principal característica da forma sonata é a presença, na exposição, de dois tem contrastantes. No desenvolvimento, os dois temas entram em conflito, sendo retrabalhado para que criem uma tensão, que é resolvida na recapitulação. Para outros teóricos, questão central é o conflito, não de temas, mas entre áreas tonai Consciente ou inconscientemente, romancistas têm- se deixado seduzir pela form You're Readinge apoetas Preview sonata — “representação musical de um mundo inparvo, um microcosmo, que projeta Unlock full access with27a. free trial. impressão de um todo perfeitamente integrado” Bandeira, incluído entre os seduzido narra o resultado de sua tentativa de como um poema modelado na forma sonata poema que, insatisfeito, destruiu 28Download . With Free Trial Entre os críticos brasileiros, Maria Luíza Ramos aponta em Maíra, de Darci Ribeir uma estruturação modelada na forma sonata. Segundo a autora, o romance desenvolve do temas — a cultura indígena e a chamada “civilização” — contrapostos por tonalidad distintas. Diferenciando-se do contexto indígena, o contexto civilizado é marcado por u discurso referencial, pontuado, às vezes, por cichês burocráticos do registro policial. Nes discurso, diz a autora: [...] não há lugar para a reflexão, pois o que importa é informa devendo, pois, a linguagem acompanhar a rapidez com que se sucedem os fatos. Por outr lado, espelhando logo depois a atemporalidade do mundo mítico, que caracteriza Sign up to vote on this title segundo tema, o discurso é lento e poético. As pausas e as freqüentes repetições instaura useful Useful Notdos na recursividade da linguagem, voltada sobre si mesma, a densidade ritos no mund fechado das sociedades primitivas. Como se dá na forma sonata, há um contraste entre a
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duas linguagens, desde uma diferença tonal até um diversificado tratamento rítmico Ao lado de outros exemplos de estruturação textual semelhante à da forma sonata, literatura brasileira também registra a utilização do que Scher caracteriza como “músic verbal” ou “apresentação literária (em poesia ou prosa) de composições musicais, reais fictícias”. Além de equivalentes verbais de partituras reais ou imaginárias , esses text podem sugerir uma execução musical ou uma reação subjetiva do autor in-iplicito ou d uma personagem. „Bolero de Ravel”, de Drummond, em Sentimento do mundo, ilustra es música verbal:
A alma cativa e obceca enrola-se indefinidamente numa espiral de dese e melancol Infinita, infinitamente
Os olhos, magnetizados, escuta e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa, está presa Os tambores abafam a morte do Imperador
Não se trata, aqui, de imitação sonora, semelhante à que se encontra em efeito fônicos como a onomatopéia, a aliteração ou a assonância. O texto de Drummon corresponde a uma descrição literária da composição de Ravel, criada inicialmente com estudo para orquestração e ensaio para execução de crescendo. O tema do Bolero, lânguida música de dança espanhola, constituída por duas melodias entrelaçadas, é objet de insistente repetição, enriquecida pela variedade do colorido instrumental. De início, um tambor estabelece o ritmo, que se afirma inexoravelmente. Contra esse fundo, projetauma melodia, executada por diferentes instrumentos, isolados a princípio, depois em You're Reading a Preview grupos, crescendo em volume e efeitos eletrizantes, até o frenético climax fina O poema constitui uma transcrição poética doa free efeito Unlock full access with trial. desses fatos musicais sobre sensibilidade do ouvinte inscrito no texto, a persona poética. Os termos “enrola “espiral” e “círculo”, relativos àDownload melodia, With assinalam a percepção da dimen5ão espaci Free Trial projetada na temporal, própria da músiça, segundo a acepção de Susanne Langer. O obsessivo contorno melódico é interpretado como uma curva, que, desenrolando-s afasta-se gradativamente de um ponto inicial. O brusco e surdo final parece imitar o som de um tiro, sugerindo a execução de uma personagem imperial. Como se vê, o texto nã tenta imitar as características acústicas da composição, apenas registra a impressão qu desperta no eu-lírico. A música verbal comparece também na ficção brasileira. Reflexos do baile, Antônio Caliado, oferece um exemplo muito ilustrativo, representando a reação Sign up to vote on this title Carvalhaes, embaixador português em visita a uma escola brasileira, quando por acaso ou Useful Not useful um choro, executado a distância. O trecho que contémessa música além da alusão verbal, elementos rítmicos, melódicos e compositivos, destaca a percepção dos traços subversivo vislumbrados nessa forma musical, resultante histórica da recriação transgressora
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No mesmo romance, outro exemplo de música verbal — a descrição do efeito d audição de um choro sobre o narrador — assinala mais uma vez a percepção d elementos revolucionários dessa criação musical, considerada a matriz mais importante d música brasileira, em sua deformação irreverente e criativa de modelos europeu as notas da melodia maldita, que começaram a soar sojigadas, entranhadas nas vísceras d disco como diabos nas dobras e pregas do negro ventre de quem os engendra, voaram em densos rolos pelas janelas da casa, pelas portas da Capela e até pela grimpa assanhada d abetos e choupos. Eram agudos punhais de música, [...] verrumas amarelas32. Música de palavras, música verbal ou estruturação literária inspirada em modelo musicais — tipos de incrustação de música na literatura — revelam-se rótulos úteis para interessados na melopoética, mas, evidentemente, não esgotam as múltiplas possibilidad de contribuição da música para a criação literária. Em Reflexos do baile, as contínu referências ao choro, além de exemplificar a música verbal, têm também um carát emblemático. A evolução histórica do choro, gênero transgressor de modelos europeu impostos pela colonização, torna esse gênero musical uma metáfora muito adequada para postura revolucionária assumida pelas personagens do romance. A transgressão estéti prenuncia, assim, a resistência politica. O uso metafórico da referência musical, sem eliminar outras funções possívei pode, como no texto de Cailado, constituir uma entrada para a leitura. É o caso também d “Lundu do escritor difícil”, em A costela do grão cão, de Mário de Andrade:
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Eu sou um escritor difí Que a muita gente enquiz Porém essa culpa é fá De se acabar de uma ve É só tirar a corti Que entra luz nesta escure
Eu sou um escritor difíc Porém culpa de quem é Todo difícil é fác Abasta a gente sab Bagé, piché, chué, ô “xavié De tão fácil virou fóss O difícil é aprend
Você sabe o francês “sing Mas não sabe o que é guanb — Pois é macaco, seu man estranja Que só sabe o que é da Sign up to vote on this title
O título do poema é um designador óbvio, pista transparente, mas indispensáv Not useful para a leitura. Remete à definição de lundu, cantoe Useful dança populares provavelmen introduzidos por escravos angolanos no Brasil do século XVIII. Em 1895, Nina Rodrigue descreve o lundu como “dança de pretos, muito indecente, na qual s
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com suas variantes regionais, incluindo construções sintáticas típicas do linguajar popula (“Não carece vestir tanga”), pronúncias banidas da linguagem culta (“ruim”, “xavié”), além de itens léxicos, cuja origem africana e indigena reflete os diferentes elementos étnico fundidos na cultura nacional (“urubutinga”, “caipora”, “gupiara”, “guariba”, “angu “caruru”). Inseparáveis da referência ao lundu, esses fatores sublinham a propos nacionalista do modernismo, bem como sua condenação à subserviência cultura responsável pela admiração acrítica do elemento estrangeiro (“Você sabe o francês „sing ” ) e pela ignorância do nacional (“Mas não sabe o que é guariba?”). Por constituir um exceção à regra e conhecer e explorar artisticamente a própria cultura, desconhecida de se compatriotas, é que a voz poética paradoxalmente se confessa um “escritor difícil”. O conjunto das propostas implicitas no poema constitui, assim, o lundu, simbolicamen executado para o ouvinte implícito no texto: o brasileiro europeizado, indiferente à língua aos costumes de seu país. A alusão musical potencializa os vários constituintes textuai indispensáveis à leitura, ilustrando a importância da imagem musical para os estudo literários. Remetendo ao contexto cultural, a referência musical denuncia a dependênc cultural, lembrando que, como a própria música, a metáfora nela inspirada nunca inocente dos conteúdos ideológicos. A referência a formas musicais pode exercer ainda outras funções, nem semp rotuláveis, dependendo do efeito sobre a sensibilidade do ouvinte. O título “Cantiguinha poema de Drummond em Boitempo 135 , alude a composições populares musicadas, com ve curtos, geralmente heptassilabos. Eis o texto: You're Reading a Preview Unlock full access with a free trial.
CANTIGUINH Era um brinquedo Ma era uma estória Ma
era uma vez era um d Mar
O estrato fônico do texto, começando Download With Freepelo Trialtítulo, insiste no fonema /i/ convencionalmente associado aos conceitos de pequenez e de ternura, em razão de su presença em diminutivos, talvez por ser a vogal /i/ pronunciada com menor abertura d boca que as demais. A idéia do pequeno, evocando a do humilde, convém a ess “Cantiguinha”, celebração de uma Maria anônima, mulher comum, indicada pe minúscula, cuja vida, dos jogos infantis à maturidade amorosa e à morte, é simbolicamen rememorada. Com sua insistência numa mesma construção (“Era um..”), espécie de rim sintática, o poema lembra também o princípio da repetição, que a música partilha com literatura, além de sugerir efeitos de crescendo e de diminuendo. Evidentemente, ess Sign up to vote on this title efeitos dependem da interpretação e da inflexão dadas pela leitura, lembrando a crítica d Useful latentes Not useful recepção, segundo a qual cabe ao leitor executar oselementos na composiçã artística. A função exercida pela referência musical no texto não esgota as questões
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cantada por trovadores, com acompanhamento musical. É o que sugerem, além do ritmo da melodia, as vagas alusões a uma figura imperial, associada a uma história trágic espelhada na emoção do poeta:
CANÇÃ Demorada demoradame nenhuma voz me falo Eu vi o espectro não sei em que porta ele entro
Mas por detrás da corti que gesto meu se apagou
E que dizer sobre a musicalidade do verso branco? É indubitável que nele, com também na prosa, pode haver música, em qualquer de suas manifestações literárias música de palavras, música verbal, construção modelada em formas musicais, metáfor musical, etc. Um poema de Abgar Renault anuncia essa presença já no título, Sofotula (referência emblemática a uma cidade asiática, equivalente à Pasárgada de Bandeira), com sugestão diagramática de três notas musicais: sol, fá, lá. O texto, longa reflexão filosófic sobre o papel do tempo e da mente na criação do mundo, começa com a sugestão d momento em que, adormecido o poeta e afrouxado o domínio da consciência sobre criação literária, libera-se a criação inconsciente, representada por objetos associados escrita — livros, lápis, máquina de escrever. Com a recém-adquirida autonomia, ess objetos entregam-se ao fazer poético, usando as armas de seu ofício: palavras, soberbo significantes, com peso e vida própria, a princípio indiferentes ao significado. O sentid brota, entretanto, espontaneamente, do pipocar de termos esdrúxulos (outrossim, adimpl You're Reading a Preview pastifício, radagázio, nenhures, isótopos), explodindo, fmalmente, numa série de aliterações, a resultar numa rima inusitada, que ferefullum ponto da sensibilidade do eu-líric Unlock access with anevrálgico free trial. adormecido: a lembrança de Belo Horizonte, “cidade vista através de um horizonte”, ond o poeta viveu sua juventude: Download With Free Trial
SOFOTULAF Às vezes temo que, na minha ausênc as cousas não mais sejam o que sã e o acontecido, quando estou ausen seja diverso do acontecimen em que, até sem querer e sem sab a inocente presença do meu s se misturasse, tal como água e ven ar seon fundem inconscienteme Sign up no to vote this title e criam tempestade e furacã Useful Abrem-se Not useful de repente dicionári vocábulos saltando vão em fieir e, céleres, ordenam-se em fileir
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as aliterações levavam lâmpa para alumiar a antiga estampa cidade vista atrás de um horizonte
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O território comum entre música e literatura parece, assim, inesgotável. Poderíam considerar ainda, entre várias estratégias partilhadas pelas duas artes, processos como o d reescrita e o da colagem. Tal como na literatura, a música recorre freqüentemente citações, alusões intertextuais a outras composições. Nesse caso, como em textos literário paródicos, a reescrita musical pode servir a variegados objetivos, incluindo a denúnc social e politica. Ópera do malandro, comédia musical de Chico Buarque, transcriação d comédia musical setecentista de John Gay, The Beggar Opera (A ópera do mendigo), e d Opera dos três vinténs, composta por Bertolt Brecht e Kurt Weil em 1928, ilust exemplarmente esse processo38. Na Ópera de Chico, destaco a canção “Teresinha”, paród elevada à enésima potência, já que remete às duas outras óperas, elas próprias inicialmen paródicas (conforme documenta a longa trajetória compositiva dos musicais de Gay Brecht/Weil). Não se contentando em parodiar essas paródias, a Ópera de Cbico parod também canções isoladas, como faz com a canção de roda Teresinha de Jesus. Em nos cancioneiro popular, a letra dessa espécie de balada resume o destino reservado à mulher n sociedade patriarcal: a frágil protagonista, tendo sofrido urna queda, mostra-se incapaz d levantar-se por si própria. Agarra-se sucessivamente à mão de três personagens masculi tradicionais detentores de poder sobre seu destino: o pai, o irmão, o marido. Ao contrário a Teresinha de Chico desdenha da predeterminação patriarcal. Acertada ou não, é sua escolha do pretendente ao qual finalmente se entrega: You're Reading a Preview Unlock full access with a free trial.
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O primeiro me cheg Como quem vem do flori Trouxe um bicho de pelúc Trouxe um broche de ameti
Mas não me negava na E assustada eu disse n O segundo me cheg Como quem chega do b Trouxe um litro de aguarden Tão amarga de trag
Mas não me entregava na E assustada eu disse n O terceirome cheg Sign up to vote on this title Como quem chega do na useful Useful NotEle não me trouxe na Também nada pergunt
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repetitiva melodia tradicional, que espelha o destino cíclico da mulher submetida ao jug patriarcal, incapaz de construir a própria história, a melodia de Chico te desenvolvimentos e resoluções inesperadas. A construção music o inesperado da letra, como convém à personagem, determinada a construir seu própr destino. O conjunto verbivocomusical funde, assim, as associações ingênuas inicialmen evocadas pela melodia com o inesperado de seu desenvolvimento, refletido na letra, qu explicita a caracterização da personagem. Na Ópera de Chico, a mocinha submissa d canção de roda cede o passo a outra Teresinha, que não é de Jesus. Dura herdeira de um cadeia de meretrício, ela aperfeiçoa os métodos do pai e do marido, servindo à sátira d exploração capitalista, emblemada pela prostituição40. Ópera do malandro exemplifica, assim não apenas a presença da música em sua dimensão acústica, rítmica, estrutural o metafórica, mas aquela em que o verbal e o musical, fundidos na forma imemorial d canção, municiam a denúncia social. Uma outra forma de associação entre as duas artes, explorada por Scher, é aque em que a literatura constitui o suporte para a composição musical, como ocorre na músic programática ou poema sinfônico. Em terreno afim, Décio Pignatari proporciona um exemplo curioso, quando traduz o poema de Mallarmé, L’aprês - midi d’unfaune, que f musicado por Debussy. A tradução de Pignatari — que oferece três versos distintos pa cada linha do poema francês — força o leitor a fundir, em uma única imagem, a tríplic visão oferecida pela tradução de cada linha do poema francês, conferindo ao conjunto alg semelhante à indistinção de contornos (visuais ou tonais) do impressionismo pictórico o musical. Tal é o método antiestocástico, caracterizado, segundo Pignatari, por meticulos precisão na busca do impreciso. Referindo-se ao texto de Mallarmé, o tradutor brasileiro u palavras que, em sua múltiplaYou're ressonância, Reading poderiam a Preview igualmente remeter à relaçã literatura —música: “são ninfas e é a poesia; uma flauta dupla priápica, duas n infas: s Unlock full access with a citada free trial.por Pignatari inclui a usada pe canetas, é tinteiro pântano...‟ 41. Para mim, a caneta compositor, quando confia ao papel a sua partitura, podendo ainda simbolizar a batuta d maestro, que, como o instrumentista, extraiWith da notação musical o milagre de sua arte. D Download Free Trial qualquer forma, com suas “rimas hologrâmicas, grandes assonâncias e ressonância harmonia vária e aleatória de amostragem”, o poeta/tradutor proporciona mais um exemplo das muitas formas, limitadas apenas pela criatividade individual, d interpenetração de música e literatura. O texto é extremamente interessante, como registro da experiência pessoal de um poeta em sua relação com a música. Bandeira 42 começa por admitir que, no sentido estrit a poesia não pode reproduzir os efeitos acústicos da composição musical. Detémlongamente, entretanto, nos efeitos sonoros ao alcance da linguagem literária.O poe Sign up to vote on this title discorre, evidentemente, sobre os efeitos de imitação sonora ao alcance do discurso verba Useful Not useful mas destaca sobretudo a organização do texto de modo semelhante ao explorado pe música, em formas como polifonia, tema e variação e sonata. É especialmente interessant o relato de uma tentativa juvenil de construir um poema calcado no modelo da form
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Trata-se de texto clássico, um dos estudos mais abrangentes sobre as relações ent a sociedade, a literatura e a arte. Partindo da Pré-história, o autor, acompanhando as vári fases da evolução dos fenômenos artísticos e literários, chega à contemporaneidade, que e denomina „A era do filme”. O estudo enfatiza a relação da produção artística com a respectivas circunstâncias histórico-sociais, que, na linguagem dos estruturalistas de Prag constituem “séries paralelas”, indissociáveis da dimensão estética. A título de ilustraçã menciono o impressionismo: na pintura como na música, pode ser associado, suger Hauser 43, à noção do objeto evanescente, anunciando a cultura do efêmero e d descartável, típica de nossos dias. Extremamente pertinente como ilustração da análise melopoética aplicada à ficção o texto complementa o de Manuel Bandeira, que focaliza a poesia. A autora estud Macunaíma, de Mário de Andrade, à luz d e seu subtítulo, “Uma rapsódia” 44. Demonstra, d forma convincente, que o romance corresponde realmente a essa forma musica caracterizada pela inspiração popular, pela irregularidade compositiva e pela improvisaçã A autora demonstra que, tendo uma linha principal, a narrativa deixa que ela obscurecida, como na composição musical, por desenvolvimentos laterais. Adota, assim, processo de construir recheando o núcleo central com temas subsidiários — procedimen corrente tanto na música romântica européla como no teatro de revista e nas dança dramáticas brasileiras, cuja expressão mais perfeita é o bumba-meu boi. Introdução atualizada à melopoética, disciplina que focaliza as relações entre literatura e a música, o livro contém urna introdução teónca, voltada para a natureza d música, sua relaçào com a literatura, a evolução histórica dos estudos músico-literário abordagens adotadas, etc. Examina também as contnbuições dos estudos hterános para análise musical e, em contrapartida, as daReading musicologia para a critica literária. Examina aind You're a Preview a estruturação do discurso literário segundo modelos musicais, como tema e variaçã Unlock fulla access withde a free trial. literários contemporâneos, e contraponto e forma sonata. Segue-se análise textos que metáforas musicais, derivadas de formas híbridas, como o choro, o lundu e o calips remetem à experiência da colonização, literal ouFree simbólica, Download With Trial incluindo questões de gêner 45 raça ou grupo social. Literatura e música é um estudo paralelo a Literatura e artes plástic (IJFOPMG, 1994), da mesma autora. Importante antologia de ensaios sobre a relação música/literatura, contemp aspectos pouco estudados, como a contribuição da crítica pós-estruturalista, da criticad recepção, da critica cultural e da etnografia para a análise decomposições musicais. Sã especialmente inovadores alguns ensaios evidenciando que nem mesmo a músic considerada a mais pura das artes, escapa ao conluio com a ideologia. Um ensaio feminis evidencia, por exemplo, que a concepção patriarcal da função social da mulher se fa Sign up to vote on this title presente até em composições aparentemente inocentes, como liedsde Schumann ou Useful Not useful criacão, de Haydn46.
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POESIA LITERÁRIA E POESIA DE MÚSICA: CONVERGÊNCIA CARLOS RENN
Poesia não é literatura, decretou Ezra Pound, um dos maiores poetas e teóricos d poesia do século passado, autor do célebre e ainda hoje, por tantas razões, atual e, por iss mesmo, utiIíssimo (como neste texto mesmo veremos) ABC ofReadin,g — ABC da literatur tal como foi traduzido entre nós por Augusto de Campos e José Paulo Paes. Para ess ícone do modernismo literário europeu, norte-americano de nascimento, a poesia seria um arte mais próxima da música — e até da pintura e da escultura — do que da literatu propriamente dita, tal a diferença substancial, de natureza estrutural, existente entre ela e prosa1. As ideias de Pound a respeito das relações de proximidade e afinidade entre música e a poesia — e, por extensão, acerca da relevância de elementos musicais para a ar poética — desenvolveram-se a partir de uma base muito sólida, apoiadas na experiência d artista. Durante sua vida e o desenrolar da construção de sua obra, o poeta manteve um ligação profunda não só com o gênero de poesia de caráter essencialmente musical, trovadoresca, como também, em certos períodos, com a própria músic De um lado, ele foi um dos maiores responsáveis pelo resgate, no século passado, d legado dos trovadores provençais, que introduziu e traduziu para seus contemporâneos para as gerações posteriores. De outro, ele mesmo se envolveu, primeiro indireta, e seguida diretamente, com a chamada arte dos sons. Assim, depois de patrocinar o trabalho d pianista e compositor americano George Antheil, cm sua primeira fase, de caráte You're Reading a Preview largamente experimental, Pound, então, se dedicou à composição, criando uma espécie d full access with a free ópera de vanguarda chamada LeUnlock (baseada em trial. baladas de Vilion). Para completa testament ainda teve uma mulher violinista. Download With Free Trial XX, o francês Paul Valéry, De acordo com um outro grande poeta do século poesia seria uma “hesitação entre som e sentido”— definição a que chegou também p levar em alta conta a importância que tem a música para a arte poética, considerando-se sonoridade como uma das principais propriedades musicais da poesia, ao lado do ritm O universalmente reconhecido O corvo, de Edgar Allan Poe, oferece uma interessan demonstração da idéia expressa por Valéry, servindo de ilustração do que representa o so para a poesia. O Iingüista russo Roman Jakobson foi quem apontou a relação de afinidad do ponto de vista sonoro, entre o título do poema, The Raven, e seu estribilh “nevermore”, mais exatamente entre raven e never, termos quase completamen Sign up to vote on this title anagrâmicos (fato que, surpreendentemente, passou despercebido pelo próprio Poe, n Not useful conhecida dissecação que fez do processo de criação de Useful sua obra-prima, intitulada Filoso da composição). Ao tempo, leitura do inglês de tradução
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em seu idioma de partida. É simplesmente notável: o ritmo que ouvimos é idêntico Comparar essa tradução com outras já realizadas para o português do mesmo poema s notabilizará ainda mais o trabalho do genial poeta português, por causa principalmente d seu senso musical. Cotejá-la com a feita por outro gênio — mas da prosa... — em nos língua, Machado de Assis, tradução que também mostra suas qualidades, só que do pont de vista mais estritamente literário, pode servir para dar uma visão do que seja uma poes contaminada de música e outra nem tanto) A tradução de outro poeta, Augusto de Campos, para Canson do ili mot son plan e prim (Canção de amor cantar eu vim), de um grande trovador provençal, Arnaut Daniel, também é um primor de poesia sob o ponto de vista da musicalidade. Sob o aspecto sonoro, por exemplo, Augusto reproduz com o som mais aproximado em português três (em “im”, “or” e “oifla” — “olha”) das quatro rimas usadas em sistema de rodízio em cad uma das seis estrofes e uma coda do poema. No tocante à cantabiiidade, a operação tradutória se mostra igualmente bem-sucedida. Como se pode comprovar ouvindo a gravação existente da canção (já que desta a notação musical não se perdeu), os versos de Augusto são perfeitamente cantáveis sobre suas frases melódicas, sílaba por sílaba sobre nota por nota, sem que a prosódia do poema no idioma de chegada seja jamais prejudicada2. De fato, a poesia — não toda, mas boa parte dela — apresenta propriedad musicais que lhe parecem intrínsecas. Já aí podemos localizar um primeiro aspecto associar as duas artes ou linguagens de naturezas tão distintas, uma verbal, outra sonora, por isso mesmo passíveis de ser classificadas, pelo caráter, como díspares e op osta A associação entre elas, no entanto, remonta à própria origem da poesia (da poes ocidental, pelo menos), que, na You're Antiguidade, como sabemos, era cantada. Depois, muit Reading a Preview tempo depois, na Alta Idade Média, a chamada poesia trovadoresca veio a promover um Unlock full access with a free trial. característica da poesia. Com ampliação da aplicação dessa propriedade primordialmente igualmente se sabe, também os poemas criados pelos trovadores ou menestréis eram todo cantados, a cada um correspondendo invariavelmente uma melodia. Não à toa vieram a s Download With Free Trial chamados de “canções”. Infelizmente, grande parte das notações que poderiam indicar as músic correspondentes a essas “letras” se perderam. Os poucos exemplos de linhas de cant sugeridas para os versos desses poemas que permaneceram até hoje, no entanto, são, p sua força expressiva e notável beleza, mais do que suficientes para provar por que ta poemas recebiam a denominação de canções. As canções trovadorescas constitue efetivamente o caso mais evidente de poesia literária em ponto de convergência com música. Sign up to vote on this title Situada ao sul do território que viria a ser posteriormente o da nação francesa, Usefule crescer, Not useful região de Provença foi o lugar em que, por nela inaugurar-se durante os século XI a XIII, uma tradição de trovadores dos mais inventivos, a arte da poesia trovadores prosperou mais gloriosamente.
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— todos esses, e outros mais, seriam assim os trovadores da modernidade, os sucessor de Arnaut Daniel, Bernart de Ventadorn, Raimbaut d‟Aurenga e Bertran de Bom (para m referir a alguns dos principais praticantes da linha mais inventiva das canções trovadoresc provençais) dos tempos modernos. Isso, levando em consideração o enorme engenhoarte do conjunto de suas letras e músicas (de suas poemúsicas, digamos assim) o particularmente da porção mais engenhosa e artística, do ponto de vista poétic especialmente, de seus repertórios. Ocorre que, quando a letra de música se sofistica, extrapolando os limites entre al e baixa cultura e confundindo as distinções usualmente feitas entre cultura erudita popular, ela alcança um plano esteticamente superior e pode, então, ser tomada como um modalidade de poesia: poesia cantada (uma forma de poesia de música, em contraposição poesia literária, de livro). A propósito disso, Augusto de Campos, o mais músico dos poet brasileiros, escreveu:
Esses cruzamentos da linguagem popular e impopular, que rompem fronteiras estilísticas, sinaliz o que se poderia denominar poetização da canção — o momento em que a letra de música, por vezes ban ou vulgar, sem qualquer valor intrínseco, mas eficaz porque perfeitamente aderente à melodia, ou valoriza pela interpretação, se sobreleva e atinge o plano da letra arte: poesi
Augusto de Campos já cresceu num ambiente musical. Seu pai, Eurico de Campo era compositor de sambas (um deles, Caiu a noite, ganhou registro do próprio poet incluído no CD Poesia é risco, de Augusto em parceria com o filho Cid, que é músic profissional), O gosto por música popular nasceu, portanto, em casa. A familiarização com o repertório erudito, de vanguarda, porém, não tardou a ser cultivad Mais tarde, como I\lallarmé em relação a Um lance de dados (cuja inovadora configuraçã espacial dos “versos” devia ser vista, segundo o grande poeta francês, como uma partitura Reading Augusto incorporou a música You're à estrutura dea Preview seus poemas. Assim, a série dc “poetamenos”, publicada nos anos 1950, procurou assimilar, por meio do uso de um Unlock full access with a free trial. variação de cores nas letras, a melodia de timbres pioneiramente empregada por Anto Webern, o criador do serialismo dodecafônico. Tal apropriação inseriu-se no própr Download With Free Trial projeto concretista, de uma poesia de natureza “verbivocovisual” — procurando atua portanto, não só nas dimensões verbal e visual, mas também vocal. Paralelamente a isso, Augusto vem, desde a década de 1960, desenvolvendo u brilhante trabalho de intervenção crítica, dedicando-se à divulgação de trabalhos e obras d músicos que considera importantes e que, não raro, foram marginalizado Já naquela época, desempenharam papel importante, no cenário da música popul brasileira, seus textos em defesa da produção de vanguarda, principalmente a do tropicalistas. De lá para cá, tornaram-se comuns suas publicações, na imprensa, de artigo sobre compositores da música contemporânea de invenção, maison(Pierre Sign updos to vote this titleBoulez a Jo Cage) aos menos afamados (Henry Cowell a Nancarrow), a maioria deles muito pouc Useful Not useful 4 reconhecida. Muitos desses textos estão reunidos em seu livro Musica de invenção . Não é de surpreender que um poeta assim tenha feito amizades — e parcerias
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Alguns autores muito especiais já ergueram, outros (os que ainda estão vivos e atividade) vêm erguendo obras que ilustram magnificamente bem a poetização da cançã popular apontada por Augusto. No panorama mundial, para começar pelos norte-americanos, isso fica patente no trabalhos de compositores-letristas da estirpe de Cole Porter, Irving Berlin, Jerome Kern Johnny Mercer, além das célebres duplas formadas pelos irmãos George e Ira Gershwin por Richard Rodgers e Lorena Hart (ou seu substituto, Oscar Hanimerstein), para no determos nos autores da canção americana clássica, que viveu seu apogeu dos anos 192 aos 1940. Uma outra analogia pode aqui muito bem ser feita. Porter, Berlin, os irmão Gershwin, Rodgers e Hart ou Hammerstein, Mercer, Kern, além de Harold Arlen, Hoag Carrnichael, Vernon Duke, Victor Young e Vincent Youmans. Esses songwriters vêm a de fato, os Bachs, os Beethovens, os Mozarts, os Wagners, os Tchaikovskis da história d canção popular não apenas americana, mas mundial, do século XX e deste início de sécul Numa palavra, os clássicos da canção moderna. Depois, obedecendo a uma ordem cronológica de aparecimento na história da ar da canção, um desfile, no tempo, das obras de maior inventividade, de uma perspectiva qu priorizasse o aspecto poético da conjugação de música e poesia, naturalmente apresentari na seqüência, com enorme destaque, os nomes de ícones do pop e do rock como Bob Dyla John Lennon, Mick Jagger (estes dois, britânicos), Jim Morrison e Lou Reed, entre outro da safra da década de 1960, seguidos por Stevie Wonder, Michael Jackson e, sobretud Prince, além de David Byrne, surgidos já nos anos 1970 e 1980, respectivament Uma seleção internacional dos principais cancionistas do século XX não poderia, aind deixar de incluir nomes como Jacques Brel, o “rei” da canção francesa clássica, Alfred You're Reading a Preview Marceneiro, representante máximo do fado português tradicional, e provavelmen Unlock full access de withtangos. a free trial. Discépolo, como o maior compositor-letrista Entre outros autores e gêneros Quanto a nós, brasileiros, que em matéria de canção popular não ficamos atrás do — , temos americanos — que são os primeiros igualmente nos mostrado pródigos e Download With Free Trial músicos-poetas dessa mais alta linhagem. No panorama de nossa canção, há mais de um dúzia de criadores — existe, solidamente estabelecida, uma tradição deles entre nós — se distinguem por alcançar patamares estéticos normalmente não atingidos no cenár dessa arte em outros contextos nacionais. Apesar das profundas diferenças de estilo, procedimento, formação e contexto e que atuaram, os integrantes desse clã especial se dão as mãos, como artistas, num plan situado acima do tempo. Para efeito de simplificação, eles poderiam ser divididos segund as gerações a que pertenceram. Sign up to vote on this title Assim, uma das mais antigas delas, reunida nos anos 1930, a chamada “época Useful Not useful ouro” de nossa música popular, produziu Orestes Barbosa, Lamartine Babo e Noel Ros merecendo lembrança ainda o nome de Assis Valente. Despontando no fmal daque década e consolidando suas obras nas seguintes, tivemos DorivalCaymmi e Lupicín
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segundo ele, num “lance de imagens sobre a imaginação visual” 5. Trata-se, portanto, d qualquer texto poético de forte apelo imagético. O carioca Orestes Barbosa foi, entre nossos letristas, um dos maiores cultores d fanopéia. Os versos de Chão de estrelas, de sua autoria, receberam música de Silvio Caldas, a canção tornou-se um clássico do gênero seresta, instaurado pela dupla nos anos 193 Composta integralmente de decassilabos, a letra, a exemplo da quase totalidade das letra que Orestes escreveu, apresenta um sistema estrófico e rímico fixo, sendo formada d quatro estrofes de seis versos cada, as rimas ocorrendo segundo o esquema aabccb. Es procedimento, freqüente em sua obra, já sugere a aspiração literária do auto Em chão de estrelas, a força das associações de imagens é crescente. Na terceira estrof Orestes já compara as “roupas comuns dependuradas” no varal a “bandeiras agitadas” e “um estranho festival”, onde se dá a “festa dos nossos trapos coloridos”. O climax, porém ocorre na última estrofe, em que, depois de dizer que a lua “salpicava de estrelas” o chã do barraco, ele nos brinda como famoso “tu pisavas os astros, distraída”. O verso fez a música cair na preferência de alguns poetas de renome cm nos literatura. Primeiro foi Guilherme de Almeida, a quem Silvio e Orestes mostraram composição ainda inédita e que lhes sugeriu a feliz expressão-titulo. Depois, outr modernista, Manuel Bandeira, o considerou “talvez o mais bonito da lingua portuguesa. Por fim, Augusto de Campos lhe dedicou (em Beba Cole, aqui citado) todo um parágrafo, n qual o coteja com outros versos renascentistas e barrocos em que também aparece imagem “pisar estrelas”, empregada por Camões e Góngora. Por causa do efeit paronomástico contido em “astros, distraída”, o poeta concretista dá vantagem ao criad pelo letrista. Caetano Veloso o parafraseia sua canção Livros, da mesma maneira compos You'reem Reading a Preview inteiramente de decassilabos e iniciada com a linha: “Tropeçavas nos astros, desastrada Unlock accessao withverso a free trial. Interessante observar que Caetano se full referiu orestiano, que poderia figurar nu poema de livro, depois de ler o que — e por causa do que — Augusto escreveu sobre es With Free Trial verso em um livro (Cole Porter:Download canções, versões) a que fez referência numa composiçã chamada “Livros” (em que recorda o papel da cultura literária em sua formação — exatamente desde os primeiros tempos dela), contida num CD de nome Livro, lançad pouco depois de ter escrito um livro de reminiscências dos anos 1960, mais exatamente d movimento tropicalista (Verdade tropical) 7 .
A mesma porta sem trin E o mesmo te E a mesma lua a furar nosso zin
up to vote on this title Orestes Barbosa, que era jornalista, veio a serSign o primeiro compositor da músi popular brasileira a destacar-se também como intelectual e o primeiro a escrever e lança Useful Not useful livros. Foram três, dois deles de poesia. O terceiro, de prosa. ( intitulado Samba) , porém, é mais atraente, devido à linguagem ágil, telegráfica, cheia de cortes, pioneiramen
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dos principais cultivadores de uma poesia pop com uma incidência muito acima da méd de elementos imagéticos (tantas vezes responsáveis pela valorização poética de um texto). Entre os maiores songwriters norte-americanos das gerações posteriores à de Dylan, grande Prince, genial não apenas como compositor mas igualmente como letrista, pode nã ser um assíduo praticante de versos que privilegiam o emprego da fonopsia, mas de podemos colher duas passagens antológicas dessa categoria poética no campo da cançã em When Two Are In Love. A primeira ocorre ao final da primeira estrofe, em trecho em que a letra expõe, um logo em seguida à outra, duas imagens particularmente felizes e contrastantes, ricas d sugestões de ritmos (um devagar, outro veloz) e atmosferas (a primeira, romântica e oníric a segunda, sexual e selvagem) completamente distintas, Os versos dizem:
When two are in l Falling leaves will appear to them like slow motion ra When two are in l The speed of their hips can be faster than a runaway tra
Numa tradução livre, algo c Quando duas pessoas estão apaixonad Folhas caindo vão lhes parecer como chuva em câmara len Quando duas pessoas estão apaixonad A velocidade de seus quadris pode ser maior do que a de um tre em disparad
Momentos depois, quase ao término da estrofe derradeira da canção, ele nos vem com essa: You're Reading a Preview
When two are in l
Unlock full access with a free trial.tongue in the V of her love in bis The thought of his
This thought, it leads the pac Download With Free Trial
Aproximadamen Quando duas pessoas estão apaixonad O pensamento da língua dele no V do amor dela na cabeça de Este pensamento, é o que mov
Para não dizer “vagina” (provavelmente por não se tratar de um termo poético bastante para uma canção de amor, mesmo sendo essa uma de suas canções de inten carga erótica), Prince opta por um “V” que ele afirma ser do (of) her love. Ora, a letra “v pensar noonfato de queela pod está no meio da palavra “love”... Além disso, como não Sign up to vote this title (aqui, arrisco dizer que deve) ser vista como uma representação fisionômica de um par d Useful Not useful pernas abertas — condição necessária para que se dê aquilo que os versos estã insinuando?
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Eu não sei se o que trago no pe É ciúme, despeito, amizade ou horr Eu só sei é que quando eu a ve Me dá um desejo de morte ou de d
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Será que, da mesma forma, não poderiam ter sido escritos por Oswald de Andrad os versos de uma marchinha carnavalesca do carioquíssimo Lamartine Babo, qu coincidência ou não, leva o nome de uma série de poemas integrados ao livro Pau-Brasil, genial e bem-humorado poeta modernista de São Paulo, não por acaso um apologista d carnaval brasileiro, em seu Manifesto Antropofágico? Vejamos:
HISTÓRIA DO BRAS Quem foi que inventou o Bras Foi seu Cabral, foi seu Ca No dia 21 de ab Dois meses depois do carnav Depo Ceci amou P Peri beijou Ce Ao som do “Guaran Do “Guarani” ao guara Surgiu a feijoa E mais tarde o par
E o que dizer da segunda quadra do lindo fado Fria claridade (de José Marques do Amaral e Pedro Homem de Meio)? You're Reading a Preview
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Então passaram por m Dois olhos lindos depo Julguei sonhar vendo enf Dois olhos como há só d
Acaso não lembraria certos trechos de Fernando Pessoa? Ou seriam certos trech de Fernando Pessoa que lembrariam isso? A alta voltagem poético-literária de determinadas letras de música nos surpreend particularmente quando sabemos que seus autores não eram artistas cultos, mas intuitivo provenientes não raro de camadas humildes da população. Essa voltagem é o que faz co que certas letras apresentem uma sustentabilidade poética no papel. Ou seja, que mostrem bons poemas não apenas no espaço da melodia, isto é, ao ser cantadas, m Sign up to vote on this title também no espaço branco da página. useful UsefulsãoosNot Cinco Buarque e Caetano Veloso, entre os brasileiros, compositores-letrist cujas obras dispõem do maior número de letras dessa categoria. Antecedendo-os com criador dessa classe de letras-poemas, há Noel Rosa, na primeira metade do século XX
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hermetismo de certas passagens de difícil compreensão, pelo menos para o chamad grande público. Por que, então, esse fez da cançã o um clássico, se nela há frases como “porque és avesso do avesso do avesso do avesso” (referência ao poeta concretista Décio Pignatar por exemplo? Ou, então: “Pan-américas de áfricas utópicas, túmulo do samba / Mas possível no quiombo de Zumbi” (em alusões ao escritor e cineasta José Agripino de Paula, a Vinícius d Morais e ao início do movimento dos operários siderúrgicos do ABC, no final dos ano 1970)? Afinal de contas, uma canção, para ver facilitado seu caminho rumo popularização, deve comunicar de imediato o seu recado. A mesma sugestão de relação feita aqui entre História do Brasi/, de Lamartine Bab e a poesia Pau-brasil, de Oswald de Andrade, pode ser igualmente estendida a Yes, nós tem banana, da dupla João de Barro e Alberto Ribeiro, e o modernismo oswaldiano, sendo aind a marchinha carnavalesca de Braguinha passível de ser apontada como uma canção p tropicalista (não à toa foi regravada por Caetano Veloso em plena eclosão do moviment em 1967, logo depois de o cantor-compositor ouvi-la na peça O rei da vela, montada p José Celso Martinez Correia, do Teatro Oficina, em montagem que significou um marco n história do tropicalismo). Exemplo de absorção criativa (provavelmente inconsciente, intuitiva) d surrealismo, podemos lembrar aqui também a Canção pra inglês ver, outra de Lamartin No campo das assimilações inventivas de procedimentos literários por compositore populares, há que se citarem alguns casos mais modernos, a começar pelo de Batmakumb mais uma peça tropicalista, composição de Caetano e Gilberto Gil, em que a letra, de fatu concretista, apresenta uma configuração de grande apelo visual (um enorme K), ao mesm tempo que se utiliza do recurso You're da montagem vocábulos. O mesmo procedimento Readingde a Preview uso de palavras-valise, empregadas pioneiramente por Lewis Carroil e posteriormente, co UnlockJoyce, full access a free trial. maior radicalidade ainda, por James emwithseu “romance para acabar com todos o romances”, Finnegans Wake — seria reuti]izado por Caetano nos anos 1980 em Outr depois, por Arnaldo Antunes em Inclasscáve palavras e, uma década Download With Free Trial Em música popular, no entanto, o primeiro a utilizar-se dele parece ter sido John Lenno (que já havia publicado um pequeno livro escrito em palavras-valise, inspirado em Jam Joyce; a obra foi traduzida entre nós pelo poeta Paulo Leminski, sob o título Um atrapal no trabalho), mais exatamente na surrealista I Am the Walrus, uma canção dos Beaties, qu cita até personagens de Alice no país dos espelhos Entre as várias invenções formais apresentadas por Arnaut Daniel em suas cançõe está o complexo sistema rímico presente em LAura Amara, em que as rimas têm su ocorrência de estrofe a estrofe e não necessariamente dentro de cada estrofe. E não sã Sign up to vote on this title poucas: doze rimas interestróficas contra (apenas) três intraestróficas (Augusto Useful originalmente Not useful em seu Ver reproduziu todas, em sua bela tradução do poema, incluída reverso controverso) 10 Rimas sutis, remotas, difíceis de ser percebidas à primeira audição, rim (que Pound denominava “polifônicas”) feitas par a ouvidos sensíveis, sofisticados.
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cinqüenta anos, nos oferece em O futebol. A letra se dispõe em três estrofes de cator versos cada, nas quais o fenômeno da coincidência fônica não acontece somente nos fina dos versos décimo e último. Até o oitavo verso, as rimas são cruzadas (intra-estrófica portanto); do nono ao décimo terceiro, parecem não ocorrer... quando, na verdade, se dã interestroficamente, de modo quase imperceptível. E de perceptividade também bastante difícil (mais difícil até) o evento sonoro qu Chico faz ocorrer em outra letra extraordinária de sua autoria, escrita sobre música de Ed Lobo, Bancarrota blues. Nas quatro estrofes correspondentes à primeira parte melódic sempre entre os finais do terceiro e do sexto verso se dá uma quase- rima, ou pseudo-rim entre termos cujas duas últimas silabas possuçm exatamente, ou quase exatamente, a mesmas letras (e que, por isso, em princípio terminariam com a mesma sonoridade) ma que, por serem respectivamente uma palavra paroxítona e outra oxítona, acabam tendo su acentuação forte deslocada. São eles: varanda/jacarandá, fresca/pescar, poeira! cheirar açoites / oitis. Jamais um outro compositor veio com uma invenção dessas — eu, pe menos, nunca vi. Caetano Veloso musicou Escapulário, de Oswaid de Andrade; Pulsar e Dias dias di de Augusto de Campos, e Circuladô de Fulô, trecho de Galáxias, de Haroldo de Campo Arrigo Barnabé musicou um trecho de O jaguadarte, tradução de Augusto para o poema d Lewis Carroil. Péricles Cavalcanti também pôs música em Elegia, poema de John Donne n transposição de Augusto, e em passagem do Panorama do Finnegans Wa/ee, livro dos irmã Campos a partir do original de Joyce 11. Chico Buarque musicalizou Funeral de um lavrador, Morte e vida seperina, de João Cabral de Meio Neto. Canção amlga, de Carlos Drummond d Andrade, recebeu meiodização de Milton Nascimento. Fernando Pessoa e Manuel Bandei foram dois poetas que ganharam cadaReading um todo um disco contendo musicalizações d You're a Preview poemas por grandes compositores brasileiros de MPB. Unlock full a free trial. Não chore mais (para No Woman, Noaccess Cry, with o grande sucesso de Bob Marley) e Só cham porque te amo (para 1 Just Called to Saj 1 Love You, de Stevie Wonder), por Gilberto Gil. Neg BobFree Dylan), amor (para It Ali OverNow, BabjyDownload Blue, de With Trial por Caetano Veloso e Péricl Cavalcanti. O malandro (para Mack the Kn/e, de Kurt Weill e Bertolt Brecht), por Chic Buarque. Modelos de versão em português de canções originalmente compostas em outr Línguas (inglês, sobretudo). Em meu trabalho de versionista, procuro pôr em prática critérios de versã específicos, aplicados em meu livro Cole Porter: canções, versões. De acordo com essa visã busca-se traduzir não apenas o sentido e o espírito das letras originais, mas também forma e o estilo nelas exercidos — além, naturalmente, de obter-se a melhor cantabilidad possível para as palavras em português. Tendo pela frente versos de letristas sofisticado Sign up to vote on this title como Cole Porter e Ira Gershwin, que á verti, a aplicação de um rigor literário ao trabalh usefulde Porter e I Useful se faz necessária. Assim, para enfrentar o desafio, procuro tratarasNotletras como uma modalidade de poesia — cantada. Os recursos que adoto decorrem das idéias de tradução inventiva proposta por Ez
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deicia, que deliquio, que delírio, que delito, que dilema, que dilúvio, que de- lindo!”) — exemplo de tradução nos níveis semântico, formal e fonético. Outro dado: a exemplo d “de - lovey”, o termo “de -lindo”, do título, também constitui um neologismo. - lovey”, 2. Em Eu Só me ligo em você (a versão de 1 Get a Kic/e Out of You), o trecho que diz:
I‟m sure that One took even one sn that would bore me terrifically t errifically to
é vertido par
que porre, o eu não posso com p coca só me provoca dep
Em que o fonema “Pó” (gíria para cocaína) se imiscui entre as palavras e verso assim como “IF” no original. Ao f inal inal da letra, a seqüência de sons em “Y” (de flYing too hIGH with some gUY in the skY is mY Idea of nothing to d é respondida por uma série em “ÉU” (de “céu”, em português): saltar ao lÉU de asa-dEL no cÉU É O que EU nunca penso em fazer
3. A Fogy Dqy (In London Town) virou Um dia de garoa (em São Paulo), porque “garoa” (um espécie de chuva fma e persistente) é um fenómeno climático típico e — assim como em relação a Londres — tradicionalmente associado à cidade de São Paulo. Um caso d transposição cultural para uma ambiência local, tal como propugnava Pound.
4. Façamos, versão de Let Do 14 é outro exemplo de busca de restituição de uma atmosfera de um humor essenciais, como forma de fidelidade fidelidade ao espírito do original. Nela, expressõ como “picantes pica -paus”, “tico-ticos no fubá” e muitas outras transpõem o sentido ger da letra em inglês para um contexto tipicamente brasileiro. Por outro lado, não ficam sem resposta todos os efeitos estilísticos produzidos por Cole Porter: paronomásia trocadilhos, duplos sentidos... “Ojsters down in Ojster Bqy do it”, por exemplo, viro “Camarões em Camarões fazem” (tradução do jogo de palavras); “Sentimenalcentipedes it” se transformou em “Centopéias sem tabu fazem” (tradução paronomástica), etc.
5. Um detalhe em ruem tome conta de mim (Someone to Watch teve SignOver up toMe), vote que on this titlea co-autoria d Nélson Ascher: a aliteração em três “L”s de “oveLhinha ao Léusem Lar sem ninguém Not useful Useful correspondendo aos igualmente três “L”s de “I’m a Little Lamb whose Lost in the wood”, mesmo verso no original. or iginal.
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nova, e do resgate da obra de Lupicínio Rodrigues e da valorização do legado de Torquat Neto. Importantes textos de Gilberto Mendes, Júlio Medaglia e Brasil Rocha Brito também são incluídos. Uma obra antológica no gênero. Verso reverso controverso. São Paulo: Perspectiva, 1979. O poeta-tradutor-crítico viaja por várias épocas da história da poesia, detendoespecialmente no período áureo da poesia trovadoresca provençal, brindando- nos aí co brilhantes versões — em transcrições bilíngües — de poemas de Arnaut Daniel, Bernart d Ventadorn, Bertran de Bom, Cardenal, Marcabru. Mas há também John Donne, Hopkin Marino e os simbolistas franceses — Laforgue, Corbière, Rimbaud. Tradução que nã parece tradução — tradução que é poesia. POE, Edgar Allan. Em BARROSO, Ivo (org.), O corvo e suas traduções. 2 ed. amp Rio deJaneiro: Lacerda, 2000. O célebre poema de Edgar Allan Poe é o tema desse saboroso hvrinho organizad por Ivo Barroso, que reúne não menos que onze traduções de O corvo. Entre os tradutor (três) para o francês, estão simplesmente Baudelaire e Mallarmé, mas o maior destaque fic mesmo para Fernando Pessoa, o principal tradutor da peça para o português (J\Iachado d Assis inclui-se entre os outros sete). Muito importante: o livro traz o também famoso filosofia da composição, texto em que o poeta norte-americano discorre sobre o processo d criação que engendrou O corvo. POUND, Ezra. Em CAMPOS, Augusto de (org.),ABCda literatura. Trad. Augusto d Campos & José Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, 1990. Nessa sua edição brasileira, oABCtraz as polêmicas e originais idéias de Poun sobre a arte da poesia, sobre arte e literatura em geral e sobre linguagem. Um long capítulo é reservad ao famoso “paideuma” (espécie de seleção bastante rigoros poundiano, do qual é apresentada uma pequena antologia (de poema das mais variadas épocas). Em um capítulo, o poeta chega a propor testes e exercícios d composição. RENNÓ, Carlos. Co/e Porter: canções, versões. Participação de Augusto de Campo Caetano Veloso, Cláudio Leal Ferreira. São Paulo: Paulieéia, 199 Reunião de dezessete versões — incluindo quatro do autor e três de Augusto d Campos — de canções do compositor americano, além das suas respectivas partitura trazendo ainda textos do autor, de Augusto, de Caetano Veloso e do maestro Cláudao Le Ferretra sobre a obra de Porter. O livro, de edição já esgotada (e editora não ma existente), pode ser adquirido a partir de pedido pelo e-mail carlosrenno@uol,com.b Sign up to vote on this title
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A MÚSICA DOS CAUS PAULO FREIR
Ei, moço, é você mesmo que estou chamando. Dona, eu preciso falar com senhora. Apeiem do cavalo que nossa prosa carece de tempo. Vão ouvindo Desde o dia em que acreditei que pontear uma violinha também era trabalho e saí andand por aí mais meu instrumento, tocando num tanto de lugar de fazer gosto, fui percebend uns sistemas muito especiais no falar e cantar das pessoas de cada regiã A musicalidade existente na fala fala do caipira, ou sertanejo, sertanejo, carrega dentro de si toda a histór do lugar. Muitas vezes não conseguimos entender o que eles dizem, parecendo tratar-se d outra língua. Um dos maiores contadores de causo do Brasil, Geraldinho Nogueira, qu agora pode ser ouvido até em CD, é um bom exemplo. É necessário escutar várias veze para poder entender tudo o que ele diz, para ver a maneira pela qual conduz a narrativa, fmalmente, deliciar-se com a música do causo. Nesta oportunidade que tive para desenvolver o assunto em um curso no Ita Cultural, em julho de 2002, aprendi um tanto de coisa. Dois anos atrás havia realizado um trabalho semelhante no Festival de Inverno, em Diamantina, Minas Gerais, e percebido importância de manter esse tipo de prosa. Pois lá em Diamantina ouvi entre os muito causos das tecedeiras, de São Gonçalo (padroeiro dos violeiros, casamenteiro, patrono d fecundidade humana e protetor das prostitutas), a incrível história dos gêmeos Pedro Paulo. Quando se levanta esse tipo de discussão, as histórias começam a surg naturalmente. Um dos bons ingredientes para isso é a provocação. Contei que meu mest de viola, seu Manelim, lá do sertão do Urucuia, Minas Gerais, veio visitar-me visitar -me em São Pau e levei-o para conhecer a avenida Paulista. Ah, moço, dona, vão ouvindo. Era época d Natal e havia em um banco uma exposição sobre o Papai Noel. Era um monte de boneco em tamanho natural, vestidos de Papai Noel, que ficavam se movendo e fazendo diversa atividades: tocando música, lendo jornal em frente da lareira, a Mamãe Noel costurando etc. Quando o mestre viu, foi logo me per guntando: “Quem é esse velhinho?”. Respon ligeiro: “Ora, o Papai Noel!”. Aí lembrei que lá no sertão não existe esse ser que leva presente no Natal e ench de gente os shopping centers no fim de ano. Fui tentar explicar, e só ouvia as reaçõ espantadas do mestre. Sign up to vote on this title Papai Noel é um velhinho que mora no pólo norte, e o mestre respondeu: “pólo Useful Not quê?”, desce pela chaminé da lareira, “lareira?”, é, e veste esse tanto de useful roupa por causa d neve, “neve?”, e vem voando num trenó, “tre... o quê?”, puxado por renas voadoras, “ma que diabo é isso de rena?”, ah, sei lá, um tipo de veado, “veado que voa?”, é, e, se a crianç
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do riozinho correndo, a época de chuva e seca, os causos de cangaceiros, a Coluna Preste conhecida como os “revoltosos”, a receita de corpo fechado, os pais ensinando para o filhos, netos, bisnetos... Daí que digo uma verdade para o senhor e a senhora, ah, tenham certeza de qu esse tal de Papai Noel não existe, inventaram o homem porque as crianças lá desse pól norte eram muito danadas, O que existe aqui é caboclo- d‟água, saci, capeta, bicho da noit curupira, um tanto de história que só vendo. Aí puxei o mestre daquele monte de Papai Noel. Ele estava gostando, claro, bonecos se movimentavam sozinhos, uma banda de Papais Noéis tocava um charlesto pendurados em um tipo de bar destes de faroeste (putz...). Dali passeamos um pouco mai assunto puxa assunto, e falamos das folias, que seria o equivalente ao Papai Noel do sertã A senhora vai dizer, com toda razão, que isso de folia de Reis e Jesus também é importad não nasceu no Brasil. Ah, mas em nosso país as folias se transformaram em um mund extraordinário. Quer ver? Pegando o assunto pelo outro lado, fiquei com muita raiva de u padre alemão que viveu um tempo no Urucuia e não deixava os sertanejos entrarem com folias dentro da igreja para saudar a Lapinha, pois ele dizia que essa era uma festa profan que ia contra toda a tradição católica e que os três Reis Magos estavam enterrados n Alemanha. Pode parecer que às vezes falo um pouco atrapalhado, mas acredito na evoluçã dos costumes, até gosto de Papai Noel e coelho da Páscoa, mas tem um tanto de se rondando em volta da gente, nascido e criado em nosso quintal, que a gente enxerga cad vez menos. Pois, se não dermos mais carinho para eles, vão todos embora. Tem mais, te mais: gosto de ver o brilho nos olhos das pessoas quando contam suas histórias, como homem do saco, a loira do banheiro e o famaliá. Sou cismado com folias de Reis; ali nasce um tanto de causo e música. Tonce vo pegar emprestado um trecho de meu livro e CD Lambe-lambe, no qual explic resumidamente como funcionam as folias de Reis do norte de Minas Gerais. Vã ouvindo... Do dia 25 de dezembro a 6 de janeiro, quem andar pelo sertão vai encontrar diversas. Cad folia é formada por oito, dez, doze ou mais foliões, que seriam os próprios Reis Mago Eles caminham com seus instrumentos, cantando de casa em casa, dando a boa nova d nascimento de jesus. Essa caminhada representa a viagem dos três Reis Magos, que saíra do Oriente e foram a Jerusalém adorar o filho de Deus. Os fohões só andam de noite, po os Reis assim faziam, orientando-se pela estrela-guia. Chegam na casa da pessoa e faze diversos cantos: para anunciar a vinda do Menino-Deus, para saudar o dono da casa, pa agradecer a acolhida e outros. Depois desses cantos acontecem as brincadetras: lundu Sign up1 to vote on this title quatros, ponteados de viola, que só terminam no amanhecer . Useful como useful-queijo”, que Not também “come Frequentei folia como folião, tocando viola, e quem fica andando junto com a folia apenas para olhar e comer os agrados que o dono d casa oferece.
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aprender viola tem de morar no sertão e encostar em um violeiro local. Para executar esse toques, só ouvindo as explicações do sertanejo, olhar junto com ele os movimentos d natureza, para depois transformá-la em música. Quando fui morar no sertão do Urucuia, senti necessidade de aprofundar-me n história local para poder entender sua cultura. Acredito que, desse momento em diante, fu misturando de uma maneira cada vez mais intensa a música e a literatura dentro de mim Muitos acontecimentos locais viraram música, como, por exemplo, a dança do quatr Apanhou, Geraldo.
Mas apanhou de Man apanhou de Joã mas quem bateu foi Mar na casa de João Beirã Apanhou, Gerald sua fama se acabo
A partir desses versos, saí buscando sua história e encontrei um interessante recor das relações humanas do Urucuia (ah, se o senhor ficou curioso sobre o Geraldo, cor para o Lambe-lambe 2 , que o causo está lá, bem explicadinho). Quanto aos animais, vejam s o toque de viola “sapo e o veado”, que acabei de mencionar. Pois bem, esse toque conta d corrida entre os dois bichos. Eles ficam proseando, um provocando o outro, e, no dia d corrida, o sapo tapeia o veado, diz que a única condição que impõe para o desafio é que e corra no brejo e o veado na campina. Como não vão estar se vendo, propõe irem cantand assim pelo menos um escuta o outro. O veado acha esquisito, mas aceita. Depois d conversa, o sapo chama toda a sua parentada, cada um fica em um ponto mais afastado d You're Reading a Preview brejo e eles vão cantando, um depois do outro, para que o veado pense que o sapo est Unlocké full access a free trial. o veado trança as pernas, cai correndo. Como sua corrida cantada cada vezwith mais ligeira, perde a aposta. Esse causo é falado, mas na hora de passar para a viola vira um tern Download With instrumental. Para que a viola transmita toda a Free idéia Trial da corrida, o canto do sapo é feit sempre no mesmo lugar do instrumento, enquanto o canto do veado, cada vez mais difíci fica passeando pelo braço da viola. Seu Manoel ia me ensinando esses toques, depois encontrava com outros violeiro que sempre tinham sua própria versão para o acontecido, mudando a história tanto n modo de contar, como no de tocar. Dessa forma, fui buscando minha maneira de pod retratar tudo o que estava vendo e vivendo junto dos mestres sertanejo Fui gostando tanto desse serviço que, quando estou escrevendo, procuro a musicalidad existente nas palavras. Em relação às músicas, toda canção ou toque de viola qu componho carrega um causo que provoca a música. Sign up to vote on this title Useful Not useful Nos CDs que lancei, busquei uma idéia para reger o conjunto das canções. Assi 3 foi em Rio abaixo , que é o nome de um toque de viola, de uma importante afinação d instrumento, além de ser o causo do capeta descendo o rio tocando viola, encantando a
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instrumento, carrega essa tradição do homem do campo, pois a vida do sertanejo escorr melodiosa pelo bojo da viola. Volteando, volteando, ai que eu agarro na conversa e quase perco o assunto! folias, além do aprendizado de viola, os novos causos vão surgindo à nossa frent caudalosos. Imaginem que uma vez saí com uma folia a cavalo, pois tínhamos de percorre um bom pedaço. Depois de cantar em uma casa bem arretirada, em uma noite estrelad perto de um acampamento de ciganos, nossa viagem foi interrompida por dois cavaleiro Eram dois ciganos que saudavam a gente e pediam para ter uma conversa com o chefe d folia. Seu Manoel Quaresma se adiantou e deu o boa-noite. Os cavaleiros perguntaram qu era o rumo de nossa viagem. “Nossa obrigação é anunciar de casa em casa o nascimento de Jesus”, retrucou se Manoel. E o cigano arrematou: “Pois ali é nossa casa e a gente é cristão, entonce vocês tê que ir até lá. Estamos esperando a folia cantar para nós!... Deram meia-volta com seus cavalos e seguiram para o acampamento. Seu Mano deixou eles andando na frente, reuniu todos e falou bem baixinho: “Eles estão certos, se ali que moram, nós temos que cumprir nossa obrigação. Mas, atenção, Antônio, Z Geraldo, venham cá; vocês não vão cantar no acampamento, não. Depois que a gente ape dos cavalos, vocês vão ficar bem do ladinho dos animais e não podem sair de perto nem desgrudar os olhos deles, por um segundo que seja. Nosso dever é cantar, mas esse povo ladino, entonce vamos prevenidos”. Assim fizemos. Quem carrega a bandeira dos Santos em uma folia de Reis chamado de alferes. E um cargo muito especial; o alferes tem de saber todos o movimentos da bandeira. Tem o ritual de entrega para o dono da casa, a postura n caminhada, os volteios e floreios quando encontra com outra folia, mais um tanto d You're Reading a Preview segredo. Unlock full access with a free trial. Pois o alferes fez os movimentos devidos e entregou a bandeira para o chefe deles. O homem levou a bandeira para dentro de uma barraca. É tradição que o dono d casa pregue com um alfmete algum agrado With na bandeira, que servirá de ajuda para o dia d Download Free Trial festa de Santos Reis. O cigano deixou a bandeira dentro da barraca e voltou para junto d todos. A folia cantou a história do nascimento de Jesus, bem ao lado de uma grand fogueira, com os ciganos em volta. Depois sapateamos o lundu e dançamos o quatro. F animado demais. Os ciganos participavam de tudo. Passamos momentos muito alegres co eles. Na hora de ir embora, fizemos as despedidas, o chefe dos ciganos buscou bandeira, entregou para o alferes e fomos em direção aos cavalos. Antônio e Zé Gerald Sign up to vote on this title estavam ali, a postos, ao lado dos animais. Vimos que na bandeira havia algo diferente, m Useful Not useful nos cavalos, saudar os “dono não podíamos demonstrar curiosidade. Era hora de montar da casa” e seguir viagem. Quando nos afastamos um bom pedaço, ouvimos o chamado do alferes: “Gent
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Pois é bem isso que é o causo, a literatura oral. O pai de João Guimarães Rosa tinh um armazém em Cordisburgo, e o menino ficava muitos momentos junto do pai, ouvind histórias dos viajantes que passavam por ali, cada um da sua maneira, com sua músic especial do falar. O próprio escritor dizia que o armazém do pai havia rendido assunt demais para ele. Andei fuçando um pouco a literatura de Guimarães Rosa e tive a alegria d conhecer pessoal- mente Manuelzão, que o escritor retratou em seu livro Manuelzão Miguilim . Vou contar um causo acontecido com o homem para vocês verem a poesia qu esse povo carrega. Manuelzão estava em São Paulo, capital, participando de um evento ligado a escritor. Fizeram uma festa em sua homenagem e corri lá para conhecer o homem Manuelzão, com seus 92 anos, ficava sentado em um sofá contando histórias para todo sempre com um humor muito fino. Até que apareceu uma moça nova e bonita, que já er amiga dele de outros tempos. Fazia muita festa, abraçava, beijava e lhe dizia: “Ah, Manue que beleza, você aqui em São Paulo, que saudades”, abraçava e beijava, “Ah, que bom ver, quanto tempo”, e abraçava, beijava, abraçava e beijava, até que ele disse: “Ah, se e fosse vinte anos mais novo...”; a moça, amiga dele, foi logo provocando: “Você fazia o qu Manuel, pode dizer, fazia o quê?”. E ele arrematou: “Pois eu atravessava o rio e nã molhava nem os pés”. Ai, ai, ai, olhe só a poesia passeando pelo Manuelzão. Os artistas que fazem seus trabalhos inspirando-se nas tradições, no homem d campo, sempre colocam muito de si em suas obras. Vão criando um mundo em cima d personagem, alimentado por seus causos, modo de andar, alguma frase solta, um olha uma música cantada, uma paisagem. Acredito que é nesses instantes que os personagen vão ganhando vida; toda a experiência que o artista carrega transforma-se no mundo qu You're Reading a Preview vai brotando de seu trabalho. Manuelzão, às vezes, reclamava de Guimarães Rosa, dizend que o escritor mentiu muito sobreUnlock ele. full access with a free trial. Aliás, nessa questão de mentir, meu pai, o escritor Roberto Freire, disse-me Triale vi que ele aumentava para un frase muito legal. Um dia estavaDownload contando With uma Free história lados e diminuía para outros. As pessoas escutavam boquiabertas, adorando o caus Quando saíram de perto, fui logo dizendo: “Mas não foi bem assim que aconteceu, voc inventou um pouco”. E ele respondeu: “Eu minto em respeito à inteligência das pessoas Pois é isso mesmo, quando se conta uma história, quem o conduz é quem está ouvindo Pelas suas respostas — por meio de expressões e olhares — é que escolhemos o caminh do relato. Na individualidade de todos existe uma forma única de ver e contar os causo Trabalha-se muito a fantasia, tanto de quem está contando como a de quem ouve. Vamo Sign up to vote on this title criando um mundo em nossa cabeça. A roça revela-se riquíssima nesse momento, porqu Useful Not useful ali a imaginação é exercitada no dia-a-dia. Faço parte da Associação Nacional dos Criadores de Saci. Estamos reintroduzind o saci nas matas e na imaginação das pessoas. Nosso presidente é o engenheiro Jo
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Por falar em saci, acredito que esse meu modo às vezes atrapalhado de escrever tudo por causa dele, que vai embaralhando os meus pensamentos. Como sei que o senhor a senhora apreciam muito o bichinho, selecionei alguns trechos do capítulo em que trat sobre este assunto em meu livro Lambe-lambe. Vão ouvindo: As crianças têm mais facilidad em ver o saci. Para quem não sabe, o saci é um primata que, na idade adulta, atinge um metro de altura. A cor de sua pele é bem escura, suas feições são parecidas com a do s humano. Tem uma perna só. Duas espécies já foram catalogadas e devem ser escritas em itálico, são elas: saci -p ré, que é a mais encontrada, e tem também o saci -acu, que chega a atingir um metro e vin de altura. Quanto ao gorro, os criadores contam que ele tem um pêlo mais avermelhado n cabeça, formando um funil, o que dá a aparência de um gorrinho. Mas, para quem jura qu viu gorro, é porque viu mesmo. Saci gosta muito das coisas que ficam balançando: crin rabo, pano no varal. As lavadeiras fazem rodelas com riras de pano para segurar a lata em cima da cabeça e depois penduram tudo no varal. O saci vê aquele pano balançando acaba enrolando na cabeça em forma de gorro. O cachimbo. Ele quebra galhos de bambu para ficar mastigando. O pedaço d bambu parece com o cachimbo. Mas, gente, saci mexe em tudo, some com as coisas, entã às vezes é cachimbo mesmo o que tem na boca. O médico Vitório Maddarena, um dos primeiros membros da associação, basead em seus conhecimentos e observações de campo, acredita que o saci tem uma perna só po especialização. Na verdade, as duas pernas saem da bacia e se fundem em uma, para pode andar em lugares fechados, como bambuzais, adquirindo maior mobilidade 5. Pois bem, assim como o caso doReading saci, existem diversos seres espalhados por aí qu You're a Preview às vezes a gente não consegue enxergar. O que os vem espantando de nosso convívio é Unlock access with na a free trial.a sombra foi se afastando. luz elétrica. Com a iluminação cada vezfullmais forte roça, Antigamente, era só abrir uma janela que a gente podia enxergar a escuridão; ago ela está tão longe que não dá nem para perceber o Trial tanto de bicho que mora lá dentro Download With Free A Associação Nacional dos Criadores de Saci não consegue ter sede fixa, pois o apronta multo, esconde a chave, tranca as pessoas por dentro, mistura os documentos Então, optamos por uma sociedade mais livre, com alguns encontros e caminhadas na ma para cuidar do bichinho. A cidade de Botucatu, no interior do estado de São Paulo promoveu o I e o II Festival do Saci, nos anos de 2001 e 2002, respectivamente Caminhadas na mata para ver saci; shows de violeiros; encontro com cientistas d Unesp e da Unicamp para entender a evolução desse primata; diversas ONGs movimentando para dar apoio; palestra do presidente da Associação. Tudo isso organizad Sign up to vote on this title pelo secretário de Cultura da cidade, Wilson Nakamoto, profundo conhecedor de viola Useful Not useful ele também, um criador de saci. Existe ainda a Associação dos Criadores de Lobisomem, em J oanópolis, interior d São Paulo, e os Criadores de Mula-sem-Cabeça, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Essa
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pouco, pois é sabido que a mula-sem-cabeça solta fogo pelos olhos e pela venta; assim, s ela beber água, poderá apagar seu fogo. Aí, lobisomem nenhum conseguirá resolver questão... Quando fui fazer as pesquisas para escrever o livro Eu nasci naquela serra 6 , biograf dos compositores paulistas Angelino de Oliveira, Raul Torres e Serrinha, três pioneiros d música caipira, tive um desânimo inicial com a falta de material escrito sobre eles. Fui arquivos de jornais, bibliotecas, e nada. E olha que são os compositores das música Tristezas do Jeca, Cabocla Teresa, Chitãocinho e Xororó, Saudades de Matão, entre muitos outr sucessos. O desânimo veio de constatar a pouca importância dada à música caipira, com também de vislumbrar a trabalheira que teria pela frente para reconstituir a vida desse compositores. Então, peguei meu gravadorzinho e fui a Botucatu entrevistar amigos e familiare dos biografados. Ah, moço, foi uma grande alegria. Percebi que, se por um lado havia dificuldade na reconstituição histórica, por outro eu ficaria um bom tempo por conta d ouvir causos e mais causos de Angelino, Torres e Serrinha. Sobre Angelino, nascido em 1889, autor de Tristezas do Jeca, reconhecidamente u boêmio, um homem voltado à sua arte, todos os amigos me contaram uma história muit significativa de sua vida. Cada um da sua maneira, carregando de emoção o acontecido Reproduzo aqui o trecho do livro em que o “causo” é contado. Vão ouvindo O trem noturno havia acabado de Chegar a Mairinque. Madrugada fna, uma garoa fin castigava as poucas pessoas que descsam naquela estação. Em meio à névoa, percebe-se u carregador negro ajudando uma família a desembarcar do trem. Angelino de Obveira v passando a sua bagagem para o carregador. Depois da édtnna mala, ele volta para dentr do trem para reaparecer no instante seguintea junto com sua esposa, Maria. O cas You're Reading Preview carregava seus três filhos, que dormiam em seus braços, Tasso, Áurea e Angelino Filh full accessde withpolicia a free trial. Tendo pedido demissão do cargoUnlock de escnvão em Ribeirão Preto, Angelino e su família desciam em i\Iairinque para pegar a baldeação da Sorocabana rumo a Botucat onde ele sonhava montar um consultório de dentista. O vento que batia na plataform Download With Free Trial compnda e vazia os castigava. Angelino estava agoniado, pois largava um emprego estáve com filhos pequenos para criar. A verdade é que não conseguia viver longe de Botucatu, precisava voltar para sabia que só seria feliz nessa cidade, Durante a viagem, enquanto o trem passava pela estações de Limeira, Campinas e Salto, Angelino não conseguia pregar o olho. A volta pa Botucatu era um risco que precisava correr, mas a perspectiva de começar uma vida nov sem uma reserva de dinheiro, nem casa para morar, o deprimia e assustav Para piorar, agora em Mairinque, o frio cortante e os pingos d‟água molhavam ele,a mulhe Sign up to vote on this title e os filhos. O carregador vai na frente com as malas, ligeiro. Quando chega à parte cober Useful Not useful da estação, ele diminui o passo e espera o casal se aproximar. Maria dá um suspiro de alivio quando sente estar protegida da chuva. Angelin segue quieto, olhando para o vazio, o coração batendo apertado. O carregador volta
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feliz”. Aproxima-se do homem e lhe pergunta: — Mas o senhor conhece essa música? — Se conheço... — responde o carregador. — Essa moda aqui é de um home bom, lá de Botucatu, um caboclo bom que sú faz coisa bonita... O senhor quer escutar? E assobiou mais um pedaço da música. Angelino começou a chorar. O carregador pára de empurrar o carrinho, vira-se para ele e pergunta: — Por que o senhor está chorando? — Porque esse caboclo bom que o senhor está falando sou eu, o Angelino d Ohveira. O homem largou o carrinho, aquela música vinha lhe ccompanhando o dia inteiro não lhe saíam da cabeça os versos com os quais ele tanto se identificava. Olhou bem par Angelino, viu a emoção que transbordava e também chorou. Os dois se abraçaram ali plataforma vazia, debaixo dos olhos molhados de Maria. [...] Naquela noite fria em Mairinque, Angelino, que não era de esconder seu sentimentos, emocionava-se profundamente com a dimensão que sua música tomava. Tristezas do Jeca simbohzava toda a situação do homem do campo, sua realidade de vida apesar de todas as suas “tnstezas”, a saudade que sentia com a migração para os grand centros. Suas imagens simples e fortes espelham o sentimento do caboclo A música viv independente do seu autor, de sua insegurança e da chuva que caía na tnste estação cober pela névoa Percebi que, cada vez que ouvia, contava ou escrevia essa história, ela vinha de mod diferente. Lembrei-me de um tempo em que freqüentei um grupo de estudos sobr Guimarães Rosa. EsmiuçávamosYou're sua vida e obra.a Preview Corríamos para o caderno de anotaçõe Reading que ele carregava em sua famosa viagem conduzindo boiada; reliamos as conversas com o Unlock full accesscomo with a free trial.criado tantas belezas. Depois vaqueiros da comitiva e tentávamos entender havia um tempo, fui ficando incomodado com esse serviço; percebia que, dissecando o texto, d certa forma ele perdia sua magia.Download Fazíamos aWith leitura deixando de lado as belezas da histór Free Trial que estava sendo contada, pois o que queríamos era compreender a criação de uma obra d arte. Vi que era hora de parar, e caí fora. Prefiro a magi Foi isso que aconteceu para fazer as pesquisas do livro Eu nasci naquela serra. Claro que importante o registro histórico de uma corrente tão rica da cultura brasileira, mas, talvez, s houvesse encontrado o que procurava em livros e revistas, não teria entrado tão a fund em minhas entrevistas e no convívio com contemporâneos e familiares dos compositore Nas conversas com os entrevistados, pude dividir o momento da “contação do causo” — olho brilhando, os caminhos diferentes, a palavra falada, a emoção da lembranç Sign up to vote on this title No primeiro dia do minicurso do Itaú Cultural, pedi para alguém me contar um Not useful Useful causo, e só um moço se animou, ainda assim porque apertei o tal,mas, ao fim do segund dia, parecia que está vamos em volta de uma fogueira, ponteando viola, assando pinhão nos admirando com as histórias que iam aparecendo.
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embaixo do braço e deixa lá por sete dias e sete noites. Não tira para nada, nem para tom banho. Deixa ele lá, chocando. Depois desse tempo, vai nascer um diabinho. Aí a gente um pedido para o tal. O que acontece depois disso? Ai, ai, ai, tenho medo até de escreve isso aqui... Tem mais, tem mais: o unhudo, ser que vive na região de Dois Córregos, no int de São Paulo. É um protetor da mata. Esse acontecido foi até matéria de um jornal d Bauru. Com cerca de dois metros de altura, usa uma roupa toda esfarrapada, tem unha muito grandes e fica à espreita de quem destrói a natureza. Um moço entrou na mata pa derrubar uma árvore; então, escutou um barulho. Olhou para trás e lá estava ele: o unhud O ser esfarrapado deu um tapão no moço tão forte, mas tão forte, que ele foi para desacordado do outro lado do rio Tietê. Ah, mas uma mulher que estava no curso log arrematou que o unhudo tem um ciclo de três aparições, e, como já foram as três de Do Córregos, ele está indo para outro lugar. Teve também um rapaz que contou da pesca batendo bumbum — ah, vamos s claros: dando bundada mesmo! E que ele veio lá do Mato Grosso e disse que há uns rio com muito peixe. Quando saía à noite para pescar, amarrava uma almofada no traseir entrava no barco e ia para o meio do rio. Entonce, começava a dar bundada no assento d barco e, com o barulho e o movimento que fazia na água, os peixes começavam a pula para fora do rio. Aí, era só esticar a mão e bater para dentro do barco, que os peixinho caíam de monte lá para dentro. E olhe que isso não é história de pescado Outra moça revelou que, sempre que conversa com a mãe por telefone — pois ago vivem em cidades distantes — , ela tem uma história nova. E, cada vez que pede pa relembrar algum causo, a mãe se empolga, sai contando e não pára mais. Emocionei-m quando ela disse que estava sentindo dc guardar bem essas histórias, pois sã You'renecessidade Reading a Preview muito especiais, para poder contar para seus filhos. Não lembro se ela já era mãe, ou s Unlock full access comovido, with a free trial. estava pensando num futuro próximo. Fiquei pois venho percebendo que ess tipo de transmissão faz bem para todo mundo. Quem ouve, toma contato com um mund antigo, muitas vezes idealizado, mas com uma imaginação Download With Free Trialmuito grande, já que é do temp em que não havia televisão, então escuta a história e imagina o rosto dos personagens, o locais, as expressões — tudo fica por conta da imaginação. E também para quem es narrando a história e sente que seu mundo está sendo valorizado. Aí, pode- se até “men em respeito à inteligência” de quem está escutando. Essa empolgação faz com que o cau melhore, e muito! Todos os floreios e afluentes dos causos surgem desse momento d troca. Quando morei no sertão do Urucuia, em 1977, incomodavame a impressão que pessoas da região me passavam, dizendo que o mundo delas não era bom, que o melhor e Sign up to vote on this title morar em uma cidade grande para poder “vencer na vida”. Isso faz com que abandonem Useful os Not useful das novela como seus costumes, por julgarem atrasados, e passem a ser personagens com suas músicas, roupas, modo de falar, etc. O movimento que fazia, junto com os amigos que foram morar comigo no sertão
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mostrar a sua vida. Dona, moço, vão ouvindo: as escolas da região, pelo menos naque instante, procuraram os mestres de viola para ensinar os meninos, as folias de Reis sairam com mais vigor, os urucuianos lançavam um novo olhar para o cerrado, a roça e o animais. Entonce, percebi que o caminho mais rápido para essa revalorização de sua vida de seus costumes tem de passar pelos meios de comunicação e sua incrível máquina d convencimento das pessoas a ser iguais aos personagens de seus programa Procuro sempre falar do Urucuia, tocar suas músicas. Sei que a fumacinha que esto fazendo por aqui pode chegar até a região e, assim, de alguma forma, estarei retribuindo tanto que aprendi. Em minha família, tínhamos um grande contador de histórias, o tio Jota, tio d meu pai. Lembro que todas as vees que a família se reunia, fosse em festas, ou também em enterros e velórios, os meninos (pequenos e adultos) encostavam em tio Jot Impecavelmente vestido, contava-nos histórias dos armazéns de café no porto de Santo dava apelidos carinhosos, ouvia-nos com atenção, mostrava sempre um lado diferente da situações que enfrentávamos. Essa necessidade que sinto de conviver com os causos pode ter começado com tio Jota. Lembro perfeitamente a musicalidade de sua voz e suas expressões quando no envolvia com alguma história. Ah, preciso dizer que nasci em São Paulo, capital, e que ess momentos eram vividos na cidade grande. Quero dizer com isso que o causo não é um exclusividade de quem é nascido e criado na roça. Ah, moço, dona, vou tentar explicar, mas para isso tenho de começar perguntand O senhor e a senhora, quando escutam um ponteado de viola, já não imaginam logo um mata, um passarinho cantando, um riacho correndo? Mesmo quem nunca viveu no interio não vem a lembrança de umas férias na Reading fazenda, acheiro de cavalo, ou mesmo as histórias d You're Preview um avô que morava na roça? Pois bem. Uma vez fiquei matutando sobre por que a vio Unlock full access with free trial. me escolheu (sim, o grande músico Pereira da aViola diz que é a viola que escolhe violeiro). Meu avô paterno é de Pitacicaba, interior de São Paulo; o materno é de Campo dos Goitacazes, interior do estado do Rio With de Janeiro. Quando conheci as duas cidade Download Free Trial jorrou em meus olhos o que elas têm de comum: os rios, O rio Piracicaba e o rio Paraíba caudalosos, banhando as cidades. Andando nas margens desses rios, ouvia em su corredeiras o som da viola, quase que via os bandeirantes, jesuítas, colonos portuguese negros e índios subindo os rios, formando os vilarejos e as cidades, promovendo as festa religiosas e pagãs e depois misturando tudo: cultura e sangue. Pensei em uma frase de Guimarães Rosa: “Urucuia margens altas, lá na beira d sertão”. O rio e a beira do rio, o diabo descendo rio abaixo e, com o som da viola, o causos correndo, caudalosos, pelas veias do Brasil, o sangue sendo bombeado, asconvers todas se misturando e se confundindo com a natureza. Sign up to vote on this title Useful de Not useful que o meu t histórias, Pois isso tudo é para dizer que esse espírito decontador Jota tinha e certamente algum parente do senhor, da senhora, ou vocês mesmos carregam é a mesma coisa que o som da viola. A gente não sabe explicar direitinho, só com a
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Quero dizer, cada um tem a sua verdade para determinado causo acontecido. Escuta só canto deste sabiá... Será que nós vamos ouvi-lo do mesmo jeitinho? Decerto que nã minhas lembranças do trinado desse passarinho são muito diferentes das suas. Já contei o sabiá-laranjeira cantava nas horas de meu namoro? Não? Ah, deixa para lá O que foi, dona? Bom, a senhora que sabe. Se está na hora de ir embora, a pressa de vocês. Entonce, vou pedir para o menino ir buscar os seus cavalos. Ah, mas a pros esteve boa demais, não deixem de aparecer por aqui para dar seus palpites, pois esse é meu maior prazer. Na página seguinte vão algumas indicações de livros e músicas dos causos.
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BIBLIOGRAFIA COMENTADA Sheet Music
CERVANTES, Miguel de. Dom .Quixole de /a Mancha. Trad. Ferreira Guilar. Rio de Janeir Revan, 2002. Quero ver quem consegue convencer-me de que esse tal de Cervantes não foi um dos maiores contadores de causo de todos os tempos. Faça o favor de abrir o livro d novo, veja só o jeito como ele fala, os acontecidos que vão se sucedendo. Para mim, Cervantes e o Geraldinho (olha só a indicação de CD) frequentaram a mesma escola.
MEDINA, Sinval. Memorial de Santa CrUF Porto Alegre: Mercado Aberto, 198 Mais um livro que me tirou o fôlego. O Brasil escorre ali dentro. Um romance qu traz um tanto de causo e que vive me impressionando muito, Quando acabei de ler, sen necessidade de fazer uma música. Peguei a viohnha, e o senhor e a senhora não imaginam que tipo de música veio.., um rap! É, sim, O Memorial de Santa Cru por sua profundidade novidade, me pediu um rap de viola. Se ele ficou bom, não sei, é só vocês aparecerem em uma apresentação que eu toco ele. Mas o livro é uma maravilha.
ROSA, João Guimarães. Grande sertéo: veredas. 19 cd. São Paulo: Nova Fronteira, 2001. Sei muito bem que quase tudo já foi dito a respeito dessa obra, mas deixa e assoprar um pouco mais a brasa. Assim como outras pessoas já me contaram, comecei a l as primeiras páginas do livro e logo parei, sem conseguir entender o que estav acontecendo. Acredito que, a partir do momento em que consegui ouvira música criad pelo escritor, é que me empolguei, fui até o fim e agora não consigo mais viver sem Grande ser/do. É um grande causo,You're muitoReading do bem-a Preview contado. Esse livro me levou até a viol que vive me devolvendo para ele. Unlock full access with a free trial.
CDs TIÃO CARREIRO & PARDINHO. ModasWith de viola Download FreeclasseÀ, Trial vol. 3. São Paulo: Continent 1974. 1 CD. As modas de viola contam sempre uma história. Nesta questão pedi ajuda violeiro Roberto Correa, profundo conhecedor do tema, que foi me orientando. compositor Carreinnho é uni mestre no assunto. Tiào Carreiro, com sua viola, foi um grande intérprete e compositor de pagodes. Acabam de sair suas obras completas em CD É bom ouvir tudo, mas, para ter uma idéia das modas de viola, fica a sugestão acim
GERALDINHO, ANDRÉ E ANDRADE & FIAMILTON CARNEIRO. Trova, prosa Sign up to vote on this title rio/a. São Paulo: Anhanguera Discos/Som Livre, s/d. 1 CD. Useful Está useful genial. Not Geraldinho Nogueira é um contador de causos tudo lá. Moço, don faça favor de ouvir esse moço e deliciar-se com as histórias e o modo de contá-las. entonação, as palavras escolhidas, as situações... pura literatura de um incrível Brasil que
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Os livros e CDs de Paulo Freire podem ser encomendados através de seu www.paulofreire.com.br.
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IMPROVISO: TRADIÇÃO POÉTICA DA ORALIDAD MARIA ALICE AMORI
Essencialmente oral. É assim a literatura popular, que, em Pernambuco, finco raízes com o esteio das xácaras e dos romances tradicionais, das cantigas de desafio, do contos e das lendas, dos provérbios rimados, das parlendas e adivinhas; fincou raízes com charme das cantorias, dos cordelistas e do movimento editorial do cordel, das sambadas d maracatu; fincou raízes com a leveza da ciranda, do coco e da embolada. O mananci poético, em prosa e verso, tem as cores da caatinga, mata e litoral, sobrepostas àquel herdadas desde o século XVI, a partir da ocupação portuguesa. Sim, porque o sotaqu inicial era lusitano, ou melhor, ibérico, uma vez que a tradição de oralidade naquele país e a tradição da península Ibérica. Tradição peninsular que também chegou à Améric espanhola. Canções de gesta, romances de amor e de cavalaria, desafio de jograis, tudo iss veio na memória dos europeus e registrou-se na das gerações seguintes, passando de para filho, sedimentando-se na cultura do povo recém-criado. Literatura popular é oralidade, não há como negar isso. O pesquisador Paul Sébillo criou a denominação literatura oral em 1881, para abranger provérbios, adivinhações, conto frases feitas, orações, cantos; conceito que, com o passar do tempo, foi ampliado. “Su característica é a persistência pela oralidade”, registrou o folclorista Luís da Câma Cascudo, no livro cujo título tomou emprestado à designação criada por Sébillot 1. São duas as vertentes dessa mesma manifestação: a impressa e a oral (hoje, não ma estritamente oral, pois o conceito de oralidade se expandiu, passando a incluir matrize escritas). Aquela é, conforme Cascudo:
[...] a reimpressão dos antigos livrinhos, vindos de Espanha ou de Portugal e que s You're Reading a Preview convergências de motivos literários dos séculos XIII, XIV, XV, XVI [...], além da produç contemporânea pelos antigosUnlock processos de versificação popularizada, fixando assuntos da époc full access with a free trial.
A produção literária do que designamos literatura popular é talhada para a assimilaçã pela leitura em voz alta, pela declamação, pelo canto. Assim, a imposição da voz do poe With Free Trial ou do contador de histórias é tãoDownload importante quanto a peformance corporal e dramática n hora de apresentar o produto ao público. Tão importantes, ambas, quanto a envolvência d tema e das palavras utilizadas; quanto as formas poéticas, a rima, o ritmo e o metro. Defende Câmara Cascudo:
Todos os autos populares, danças dramáticas, as jornadas dos pastons, as louvações das lapinh cheganças, bumba-meu-boi, fandango, congos, o mundo sonoro e policolor dos reisados, aglutinan saldos de outras representações apagadas na memória coletiva, resistindo numa figura, num verso, nu desenho coreográfico, são os elementos vivos da literatura ora
Assim, os versos recitados pelas figuras do cavalo-marinho, as sextilhas criadas pe Sign up to vote on this title poeta de cordel, os versos improvisados do mestre de maracatu, a peleja dos violeiros, Useful Not useful coco tirado no pandeiro, a cantiga de ciranda, o aboio de vaqueiro, as jornadas d fandango, do pastoril ou das pretinhas do Congo, tudo é literatura oral, produzida num ambiência peculiar. O universo mítico de anjos e demônios, princesa e Castelo, donze
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tudo isso, aqui e agora, é também reméd io, equívoco mas eficaz, das almas” 4, defende medievalista suíço Paul Zumthor, corroborando o fato de que a literatura popular, além d ela própria fornecer auton ornamente os elementos para uma linguagem cênica, está de t maneira embrenhada nas diversas manifestações culturais do povo, que é quase impossív encontrar canto, dança e música dissociados da criação poética. O universo da literatur popular é o universo cultural do povo que a faz e para quem é feita; universo literário cuj traço ancestral repousa na oralidade. No metal da fala, difundem- se poesia e ficçã essencialmente orais.
GÊNEROS E FUNÇÃO POÉTIC
Não é possível render-se ao argumento simplista de que essa é uma literatura d produção pobre, sem complexidade. Além da importância comunicacional, é indiscutível literária. Estão em jogo valores estético, pedagógico, lingüístico, sociológico, históric psicológico e filosófico, que não podem ser absolutamente desprezados, embora o compêndios continuem com o mesmo erro ao considerá-la de pouca ou nenhum importância. Adverte o professor e ensaísta português Arnaldo Saraiva:
No fim de contas, o desprezo ou esquecimento da literatura popular representará semp esquecimento e o desprezo do homem popular. E não se pense que isso é apenas um problema politi porque é também um problema científico e um problema estétic
Repetição, reinvenção de temas tradicionais consagrados ou inspiração singula “nessa literatura popular, que se produz no Nordeste brasileiro, dá -se, como não pod deixar de ser, uma de’marche arcaizante em vários níveis, preservadora de um‟ -séiie valores já postos de lado pela sociedade global, enquanto que aí se realizam também Reading Preview seus padrões”, é o que sugeremYou're os estudos da apesquisadora Jerusa Pires Ferreira 6, nes confronto entre a cor local e o universal, entre o novo e o velho, entre permanência e tran Unlock full access with a free trial. formação. Nesse caldeirão de mitos, é importante observar que a recorrência a temátic tradicionais se apresenta com roupagem própria, quer pela assii-nilação de novos element With Free Trial ao enredo, quer pela criação de Download formas poéticas. Ao apresentar variantes, decorrentes d motivos invariantes, deflagra-se, segundo o pesquisador Bráulio do Nascimento, “todo u processo de elaboração, um trabalho de metalingüística” 7, provando, afinal, que a literatu popular não é estática, como, de resto, todo processo criador. O maranhense Celso de Magalhães, contemporâneo de Silvio Romero na Faculdad de Direito e que, em 1873, publicou dez artigos sobre a poesia popular brasileira utilizando em primeira mão a expressão “literatura oral”, antecipou -se em oito anos a Pa Sébillot — , coletou um romance tradicional, D. Carlos de Montealbar 8 ,em Pajeú das Flore Pernambuco. São quadras rirnadas em “ar”, em redondilha maior (nathispoesia Sign up to vote on title popular, “ constante rítmica é o verso de sete silabas”, conforme registra Câmara useful Cascudo) Useful Not terminação no “a” tônico, habitual na poética tradicional e muito recorrente na embolada, herança do verso heróico, conforme menciona Rodrigues de Carvalho:
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A quadra é uma das formas poéticas mais antigas de que se tem noticia no Bras forma usual na Idade Média, impregnada nas diversas brincadeiras em que há presença d poesia, não importando se os temas são da tradição oral, da realidade contemporânea, d intersecção das duas. No bumba-meu-boi, por exemplo, os personagens apresentam vári falas naquele mesmo formato, a quadra de sete silabas:
Vocês me chamam gosto Eu não sou gostoso n Gostoso é carne de por Misturado com feijão
No canto da ciranda, “de extrema variedade na temática poética e linha musical”, conform as pesquisas do padre Jaime Diniz, também temos a quadra setissilaba:
Lá detrás de minha ca Tem um riacho no me Tu de lá dás dois suspir Eu de cá, suspiro e meio
cultivada na poesia trovadores galego-portuguesa, uma das matrizes da poesia popular nordestina: Temos, ainda na ciranda, quadras decassílabas, cuja métrica era
Morena, vem ver que noite tão lin A lua vem surgindo cor de pr You're Reading a Preview Faz-me lembrar da minha Ma Quando pra ela eu fazia serenat Unlock full access with a free trial.
Não é de estranhar queDownload a poesiaWith esteja presente em praticamente todas Free Trial manifestações populares, pois mesmo orações, benditos, novenas, incelenças (canto pa encomendar o morto), modinhas, ladainhas e matinas, cantos de trabalho, tudo recorre poesia mnemônica, em variadas formas, por revelar-se eficaz meio de comunicação ora acessível aos grupos de pouca escolaridade. No maracatu rural, o canto do mestre inicia com a marcha (improviso em quadra d sete silabas, gênero tradicional muito utilizado nos antigos desafios de viola), passando pe samba de dez (décima), pelo galope e pelo samba curto (ambos em sextilha). Numa quad de coco transcrita por Mário de Andrade: Sign up to vote on this title
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Not usefulCorra depress
Vá na casa de Maro Si arrancô a mandio
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V ida do cantador 15 , sobre a oitava da embolada, que “consiste em duas quadras somada ambas em redondilhas maiores, mas com o primeiro verso, ou só da primeira ou das dua quadras, com apenas quatro sílabas.” Na cantoria, versos curtos (quatro ou cinco sílabas) caracterizam a modalidad chamada de parcela ou carretilha, bem como a toada alagoana, que é uma estrofe mista, co versos de sete e quatro sílabas. Rodrigues de Carvalho registra estrofes em que a primei linha apresenta três ou quatro sílabas16. E Coutinho Filho, em Violas e repentes, regist embolada utilizada por violciros, em décimas de quatro ou cinco sílabas 17. O pesquisad pernambucano Berlando Raposo também registrou um aparentado tipo de oitava entre o mestres de maracatu rural da Zona da Mata pernambucana, cuja diferença consistia n tamanho dos versos menores: eram de apenas duas sílabas 18. Embora seja construído sextilhas, a mesma característica citada por Mário de Andrade (verso tetrassílabo) aparec na primeira linha de um samba curto de maracatu do mestre João Paulo, cuja rim (ABBCCB) não é a tradicional rima em ABCBDB das sextilhas de cordel:
É na vio que eu quero deixar tu ro eita que poeta frou vou lhe meter o cace se pratico gabine aí é que leva acocho
Em redondilha menor (cinco silabas), é uma das versões do mais antigo romanc inventado em Pernambuco: You're Reading a Preview Unlock full access with a free trial.
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— Fecha a porta, gen Cabeleira aí ve Matando mulher Meninos també Corram, minha gen Cabeleira aí ve Ele não vem Vem seu pai também
Cabeleira era o apelido de um rapaz mestiço, José Gomes, cuja fama era a d valentão, incitado e acompanhado pelo pai nas arruaças. Em 1776, no largo das Cinc Pontas, Recife, quatro dias após ter sido julgado, foi à forca, transformando-s rapidamente, por causa da idade e do arrependimento fmal, em tema de romancepopula Sign aupcriação to vote on this title o primeiro genuinamente pernambucano e que estimulou literária erudita. É co Useful(1842-1888) Not useful o romance histórico O Cabeleira (1876) que Franklin Távora inicia, de fato, chamada Literatura do Norte. No mesmo tema inspira-se Silvio Rabelo (1899- 1972) pa escrever a peça de teatro Cabeleira aí vem.
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Silvio Romero (1851-1914) considera essa versão popular um romance notáve especialmente por pertencer ao ciclo de guapos e valentes da tradição espanhola do séculos XVII e XVIII e constituir uma prova cabal da tradição originada dos pliegos suelt Fernandes Gama registrou que trovadores criaram cantigas referentes à vida e morte d Cabeleira, que as velhas cantavam para acalentar os netos. Outros romances destacado com temática pernambucana, são: Adolfo Rosa Meia-Noite; A mulher enganada ou A dolorid José do Vale. Este último assemelha-se, no tema e nos versos, ao Cabeleira, apresentand porém, a forma dialogada das xácaras do século XVII:
Senhor presiden Se dinheiro va Dou-lhe dez cont Solte José do Va “Ó senhora m Dou meu coraç Se o dinheiro é pou Dê maior porção
Outro rico exemplo de literatura oral é o fandango, que, conforme José Mar Tavares de Andrade, é um “espetáculo popular que soma romance antigo, dança, músic anedotas, ditos, lendas e orações” 22. O romance antigo de que fala é a xácara portuguesa d assunto marítimo, a Nau Catarineta, cuja história é a de uma embarcação que passou se anos e um dia à deriva. Entre as demais variedades de literatura popular, temos paródia d orações rimadas (Pelo-sinal, Salve-rainha e Ave-maria), como a famosa Ave-maria da eleição, cordelista Leandro Gomes de Barros; ABC mnemônico (transposto da oralidade para o You're Reading a Preview folhetos de cordel); parlendas, como a popularíssima O tango-lo-mango23 , o qual é també recorrente na poesia do coco: Unlock full access with a free trial. Download With Free Trial
Eram nove irmãs numa ca Uma foi fazer biscoi Deu o tango-lo-mango ne Não ficaram senão o
O tipo de estrofe usado na poesia de cordel e em outras manifestações populare — quadra, sextilha, septilha e décima — é apenas parte do que é utilizado nas cantoria caracterizadas por uma variedade de modelos poéticos, em que combinações de estrofe melodia fazem o violeiro improvisar os versos em obrigatórias formas fixas, porém d diferentes maneiras na poesia e no canto. É de lei respeitar as regras da cantoria: (ou quantidade de linhas, o esquema de rima, a acentuação tônica, o refrão, a oração Sign up to vote on this title capacidade de desenvolver o tema com fidelidade). Sem desleixar os cânones, parceiro Not useful Useful que viola incitam o verso. Diz-se, embora não exista comprovação, a sextilha e a deix (obrigação de rimar a primeira linha com a última do adversário) foram introduzidas n cantoria pelo paraibano Silvino Pirauá de Lima (1848-1913), radicado em Pernambuco
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(ABCBDB), tanto quanto da quadra, que Carolina Michacis de Vasconcelos diz popularíssima em todo o século XVI, no qual predominara. No romance do Rei Artur, d Távola Redonda, que Jorge Ferreira de Vasconcelos publicou em 1567 (Memorial das proe da segunda Távola Redonda), ao lado das quadras há sextilha igual à dos nossos cantadores Além dos gêneros mais freqüentes no folheto, que são a estrofe de seis linh (sextilha, em rima ABCBDB) e a de sete (septilha, em rima ABCBDDB), a décima utilizada normalmente para as pelejas de cordel (em geral, fictícias). No folheto A embola da Velha Chica, de Francisco Saies Arêda, entretanto, o gênero é a quadra por se tratar d um coco de embolada. Na cantoria, acrescente- se a décimas e sextilhas um outro verso assim que a estrofe é chamada no meio popular) muito comum: o mourão de sete-linha (cada verso ou linha é chamado de “pé”), um dos gêneros mais antigos no baião de viola um dos estilos dialogados. Em sete versos de sete sílabas, o primeiro diz as duas primeira linhas; o segundo, as duas seguintes; o primeiro encerra com as três últimas. Dez-pés-e quadrão, mourão você-cai e mourão voltado são mais três exempios de estrofes dialogada freqüentes na cantoria. A estrofe em decassilabo conhecida por martelo, que pode variar n quantidade de linhas, é outro gênero consagrado. Também é comum glosar, com martel um mote (assunto em um, dois ou quatro versos) de decassílabas. A glosa pode s improviso recitado, o caso da roda de glosa em que não há, muitas vezes, nem acompanhamento da viola. Os participanres, entretanto, a exemplo dos próprios violeiros apologistas25, são altamente especializados. E importante ressaltar que existem, em Pernambuco e em outros estados d Nordeste, diversos tipos de repentista, embora possamos afirmar que os mais conhecido sejam o embolador e o violeiro. Nessa modalidade, há os que peregrinam pelos bares pelas praias e são vistos, com desdém, por violeiros de congressos e festivais, como um You're Reading a Preview subclasse. O coquista é outro tipo de poeta improvisador, que pode ser o embolador ou Unlock full access withramificações a free trial. coqueiro da roda de coco, duas das muitas dessa mesma vertente d 26 improviso. Há o glosador , de que já falamos no parágrafo anterior; há o aboiador, qu executa um canto de trabalho Download ao desfiar With versos, tange o boi, em meio ao Freeenquanto Trial arabescos melódicos do aboio; há o cirandeiro; o mestre de maracatu rural, de caboclinh de boi. Dos poetas que fazem questão de duelar no improviso, e que encontramos com muita força atualmente em Pernambuco, os mais conhecidos em todo o estado são o violeiros e, na Zona da Mata, os mestres de maracatu. Estes últimos protagonizam sambadas, ou desafios entre dois mestres, que acontecem de setembro a fevereiro, quand os brincantes se preparam para o Carnaval.
A POESIA, O DESAFIO EA VIOL Sign up to vote on this title
Useful Not Vem de longe o cantar poético ao desafio: do canto amebeu da useful Antiguidade greg das disputas dos jograis da Idade Média, das diversas culturas espalhadas pelo mundo em todas as épocas. Há até notícia de improviso poético entre indígenas brasileiros, praticad
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poética em geral, as regras que ela se impõe e a peiformance”, define Paul Zumthor ressaltando a importância das leis poéticas do verso associadas ao desempenho do corpo da voz. Poeta que desenvolve a estrofe improvisando a partir de um mote oferecid naquele momento. Ele, entretanto, recita os versos: não canta, nem se faz acompanhar d instrumento musical. Em território pernambucano, registros apontam a presença de exímios performáticos cantadores no século XIX, muitos de origem paraibana, migrados para pernambucano sertão do Pajeú, celeiro de poetas. A vizinha vila do Teixeira, Cariri d Paraíba, legou-nos violeiros do porte de Francisco Romano Caluete (Romano da Mã d‟Agua ou Romano do Teixeira), Silvino P irauá de Lima, Agostinho Nunes da Costa, o irmãos Ugolino e Nicandro Nunes da Costa, Bernardo Nogueira, esbanjandores, por ess rincões, de generosos versos de boa poesia. Cantar de improviso, exercício de criatividade, tornou-se uma tradição nordestin O nome de Severino Lourenço da Silva Pinto, ou Pinto do Monteiro, paraibano que vive longo período no Recife e em Sertânia, Pernambuco, tornou-se um marco no universo d poesia improvisada do Nordeste. Diz-se que foi o maior, entretanto, segundo ele própri maior mesmo “foi o sogro e foi o genro”, ao referir -se a Antônio Marinho e Louriv Batista. Dos irmãos Batista, Dimas é tido por muitos como o melhor dos três. “Sintétic monossilábico”, defme o pesquisador Ésio Rafael, ao dizer que “o maior de todo s cham se Pinto do Monteiro” 27. O grande vencedor do 1 Congresso de Cantadores do Nordest organizado por Rogaciano Leite, realizado em 1948 no teatro de Santa Isabel, no Recife, f Pinto, a cascavel do Monteiro, juntamente com o piauiense Domingos Martins Fonsec Também participaram do Congresso os três irmãos Batista. Dois anos antes, em 1946, escritor Ariano Suassuna haviaYou're promovido, mesmo teatro, uma Cantoria, em qu Readingno a Preview participaram os Batista e que estimulou Rogaciano a realizar o Congresso. Daí em diant Unlock full de access a free trial. os festivais e congressos proliferaram talwith maneira que, acusada de excessivamen profissionalizada, a cantoria, na avaliação de Ésio Rafael, “está com a essência poétic enfraquecida”. Em 1984, PintoDownload esteve presente noTrial Festival de Violeiros de Olind With Free homenageado por João Furiba, um dos antigos companheiros de viol De 1987 a 1991, a capital pernambucana assistiu, sob a organização geral de Ésio Rafael, a Congresso de Cantadores do Recife, versões II, III, IV, V e VI, duas no Santa Isabel, du no Teatro Guararapes e a última no Teatro do Parque. Paralela ao VI Congresso, acontece a Primeira Roda de Glosa do Recife, evento importante para difundir um hábito poétic tão arraigado na cultura nordestina. A partir dos anos 1990, diversos violeiros organiza festivais e concursos, a exemplo daqueles coordenados, no Recife, em ocasiões diferente por Antônio Lisboa e Ivanildo Vilanova. Na Paraíba, a violeira Maria Soledade articulou, Sign up to vote on this title partir dc 1992, o Encontro de Mulheres Violeiras do Nordeste. Em São Paulo, o Useful do Not useful nordestinos migrados trataram de dar continuidade à tradição repente, de tal modo qu hoje não podemos dizer que a poesia de viola vive apenas no Nordeste. Os festiva espalharam-se pelo Brasil, para além das fronteiras nordestinas: São Paulo, Brasília, Rio d
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Catota, Manuel Xudu, Oliveira de Panelas, Pedro Bandeira, José Faustino. Ivanildo Vi Nova, Diniz Vitorino Ferreira, José Dionísio da Cunha, Francisco Maia d Queiroz (Louro Branco), Lourinaldo Vitorino, Zé Gonçalves, Severino Nunes Feitos Moacir Cosme de Lima (Moacir Laurentino), José Galdino dos Santos, Severino Borge (cordelista, foi cantador dos anos 1940 aos 1980), Heleno Severino, Maria Alexandrina d Silva (Mocinha de Passira), Maria Josefa da Silva (Santinha Maurício), Bernadete Oliveir Ismael Pereira, Valdir Teles, Geraldo Amâncio, Terezinha Maria, Severina Maria da Silva ( iu Bonzinho), Rogério Menezes, Ant6nio Lisboa e Edmílson Ferreira, Edvaldo Zuz Maxiniino Bezerra, Diomedes Mariano, entre outros. O desafio de violeiros, um dos sustentáculos da vertente improvisada da poes popular, foi variando os gêneros poéticos — a partir de quadra, sextilha, décimas, quadrã entre outros — para criar modelos como o coqueiro da Bahia, martelo de sete, mourã caído, mourão zebrado, Brasil de Mãe Preta, dez-de-queixo-caído, Brasil de Pai Tomá quadrão perguntado e gabinete. O galope à beira-mar é uma décima de onze sílabas. Um formato não muito usual atualmente, o desafio em quadras ainda aparece nas cantoria como na disputa entre Téo Azevedo e Bule Bule 29, em que pegam na deixa e rima segundo e quarto versos (ABCB), em heptassílabos:
Bule Bu
Nem que o meu verso chu Do meu jeito tão mate Eu vou arrancar o cou De um poeta mine You're Reading a Preview Unlock full access with a free trial.
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Téo Azeve
Te deixo num atole Ou então no murun Lugar de plantar ca Morada de uru
Bule Bu
O seu jeito é de ja Daquele bem capi E quando pego um chifru Eu lasco ele no p
Téo Azeve
Lhe passo o meu berimb E arremato no for Sign up to vote on this title A coisa pior do mun É a gente açoitar cor Useful Not useful
De tal modo o cantador de viola diversificou as possibilidades do jogo de palavra
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originariamente em versos alexandrinos, com rima emparelhada — a Pedro Jaime Martel professor da Universidade de Bolonha, que viveu entre os séculos XVII e XVIII. Cascud afirma, ainda, que esse tipo de verso, com tais características, não foi registrado na nos poesia popular, entretanto a denominação aponta para a origem erudita, “visível em su ligação clássica com os poetas p ortugueses do século XVII”31. Uma peleja em martelo é o que fazem os cantadores Valdir Teles e Louro Branco Martelando um fraseado grandiloqüente, lançando desaforos mútuos, tentam desconstru o discurso poético do rival, à semelhança do que fazem os poetas de cordel na tradição do marcos, vangloriando-se dos próprios dotes na arte de versejar, como faziam e fazem todo os poetas da tradição dos cantos de desafio:
Valdir Te
Meu trabalho tem força de mo Não existe poeta do meu ti Nos eventos locais que partici Apareço com fama mund Sou estrela de luz univers Encostado de mim não tem quem an Mando em todos em mim não tem quem man Tenho fama, coragem e bons costum Trago mais uma espada de dois gum Pra rolar cantador da língua gran
Louro Bran
Quando piso na praia o mar se escon Nem o grupo da fada me gover You're Reading a Preview Eu gritando encostado uma caver Não existe leão que não deb Unlock full access with a free trial. Pois já dera a certeza que sou gran Não respeito quem passa aonde eu pas Quanto mais fotocópia de palha Download With Free Trial Sinonímia banal de cafaje Que só canta material que pre Se roubar do caderno aonde eu fa
Como referimos anteriormente, o mote e a glosa são práticas recorrentes n cantoria de viola. O mote geralmente aparece em uma ou duas linhas, e o poeta glos desenvolvendo a estrofe de modo que conclua com o mote. É interessante observar que n Alentejo, em Portugal, ainda hoje se mantém a prática do mote e da glosa, num forma que já andou pelo Brasil, entretanto inabitual na atualidade nosso repente: omote d Sign up do to vote on this title quatro linhas, para ser desenvolvido em quatro décimas. O poeta Dionísi useful Useful Notalentejano 33 Gonçalves comprova isso, com publicação em livro de mote e glosas da própria autori rimadas em ABBAACCDDC, fórmula das décimas tradicionais usadas por repentist
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festeja a chuva no sertão, um dos temas fortes, justamente pelo fato de a tradiçã primordialmente rural, ter-se fmcado primeiro nas terras sertanejas do Nordeste quand chegou ao Brasil e ainda por haver até hoje muitos cantadores nascidos no sertão. Em “Quanto é belo se ouvir a trovoada / Numa tarde de chuva no sertão”, a rima é feita — como tradicionalmente acontece — para alinhar-se aos dois últimos versos, que são fixos:
Quanto é belo se ver um nevoe Levantar-se para o lado do nascen E um trovão estalar dizendo à Que acabou se miséria e desespe O trovão é a voz do mensage Que anuncia mudança de estaç Na notícia da morte do v Canta alegre e feliz a passara Quanto é belo se ouvir a trovoa Numa tarde de chuva no se
Também a oitava, ou quadrão, tornou-se um dos gêneros mais conhecidos. oitavão-rebatido, em redondilha maior, Moacir Laurentino e Zé Viola 37 desenvolvem um disputa, cujo título é teima de cantadores, em que, mais uma vez, a “cantoria despeitada”, agressão mútua instiga a criação poética. Zé Viola adverte que não aceita verso aprendido verso torto. Moacir, numa das oitavas, recorre a imagens de caráter épico, para mostrar pode O arremate de cada estrofe, na última linha, refere o gênero utilizado: You're Reading a Preview Unlock full access with a free trial.
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Eu sei perfurar laje Lá no redondo ou compri Desagasalho o roche Pelo tempo construí Quem vem tirar meu confo Pula pro mato e cai to Chega vivo e volta mo No oitavão-reb
Entre as estrofes dialogadas, encontramos um tipo de oitava, o quadrão perguntado, d qual apresentamos um exemplo, com Valdir Teles e Louro Branco 38. Na realidade, incluir o refrão: “Isso é quadrão perguntado / Isso é responder quadrão”, apresenta -se o gêne como uma décima em redondilha maior, com a rima tradicional, mencionad anteriormente. Cada cantador desenvolve uma linha daSign estrofe, e oson dois, up to vote this no titlefinal, repetem o refrão: Useful Not useful
Valdir Te
Quatro que a gente se agra
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Bnga, perca, pouco e na
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Valdir Te
Quatro na Bíblia sagra
Louro Bran
Ló, Abel, Jó e Ad
Valdir Te
Quatro rumos do crist
Louro Bran
Tempo, vida, signo e fa
Valdir Teles Louro Bran
Isso é quadrão pergunta Isso é responder quadr
Outro modelo de estrofe dialogada é dez-pés-lá-vai, que termina apresentando-se em doze pés, com os versos finais e fixos da primeira, segunda e última parte, além do recitad “você cai”, conforme mostram Sebastião Marinho e Antônio Maracajá:
Sebastião Marin
Vamos lá, Maraca Cantador de acopia Conte um, dois, tr You're Reading a Preview
Antônio Maraca
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Fui o cantador de Mas hoje só resta a Conte quatro, cinco, s
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Sebastião Marin
De Sobral a Ubaj a Você hoje então dist
Antônio Maraca
Você c
Sebastião Marin
Provando ser viole Cantando Sign up to vote on this title o sertão inte Sendo por dez-pés-lá-va
Useful
Not useful
Para provar que se é violeiro, é preciso começar um dia. E se começa escutand cantador. Assim é que se dá a iniciação dos improvisadores da viola, do coco, do maracat
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cordel é igualmente estímulo à criação poética. Agora, se faltar inspiração, é como disparo Edmílson Menezes, quando cantou com o parceiro Antônio Lisboa, um coqueiro da Bahi
“[...] Mas se a musa salta fora / Poesia é como nora / Faz raiva à pessoa um dia”
Antes dos atuais desdobramentos dos recursos da mídia eletrônica, os programas rádio serviam como uma das principais influências, sobretudo para os cantadores o iniciantes do meio rural, que viviam sem maiores contatos com a vida urbana. A origem campesma ainda abrange parcela significativa dos poetas populares improvisadore Independentemente de haver ancestrais, na árvore genealógica, com talento para a poesia, interessante observar que muitos cantadores começam por reconhecer a aptidão para verso embalados pelo que experimentam na infância e juventude, no ambiente em vivem, não vinculando, necessariamente, o aprendizado do ofício à presença de poeta família. As vezes, o que acontece, e termina sendo suficiente, é existir no ambiente familia um apologista que serve como orientador do violeiro neófito. O principal estímulo, n realidade, é a importância, é o status que aquele ambiente sociocultural concede aos poet da comunidade. Se se diz que o poeta de tradição oral é geralmente analfabeto, não pode existir err mais extemporâneo. Os cantadores de viola sabem ler e escrever, em esmagadora maiori embora muitos, sobretudo os das gerações que estão hoje na faixa dos 50 anos ou mai tenham freqüentado escola por curtíssimo período de dias ou meses. Isso prova a facilidad que têm em lidar com as palavras e a inclinação para o autodidatismo. Há ainda, entretant muitos cantadores com o ensino médio completo, curso universitário e pós-graduaçã curso de língua estrangeira. Nada disso, porém, anula a necessidade de o poeta se pesquisador por conta própria, para suprir a obrigaçào de cantar temas dos mais variado complexos, aos mais triviais. Leitura de jornal, revista; acompanhamento de noticiários d You're Reading a Preview rádio e tevê; estudo de assuntos relacionados a história, geografia, mitologia, língu portuguesa, literatura, adagiário Unlock e fabulário, biologia, física: esses são alguns do full access with a freequímica, trial. temas a que se dedicam. É hábito dos cantadoresDownload estudar dicionários, ler a Bíblia, conhecer almanaque With Free Trial pesquisar a biografia de personagens históricos. Tudo isso mostra como o conheciment do cantador necessita ser enciclopédico, para não correr o risco de não saber desenvolve assunto pedido em pleno torneio. Se puder não ficar na superficialidade, tanto melhor: público, atento, sabe distinguir os melhores. A observação da natureza, ao lado dessa pesquisas, serve como subsídio para o poeta que, cantando pelo mundo, cultiva a nostalg da vida no campo. Afirma o cantador João Pereira da Luz, o famoso João Paraibano Nossa admiração sempre está nas paisagens, no infinito, nos oceanos, nos rios, no cant dos passarinhos, no entardecer, no amanhecer. A maior parte dos cantadores desde ced Sign up to vote on this title leu muito esse negócio de livros de rios e de mares e de estrelas. Isso são as históri EUseful antigas que a maior parte dos cantadores estudou antes. para a lutaNot douseful dia- a-dia a pesso vem sempre se atualizando com a televisão, com o jornal, com a revista, para não ficar no passado.
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cantou Louro Branco 42. A viola abre o peito do poeta para entoação do que não é somen canto, é poesia, sobretudo — rima, ritmo e metáfora. E tem de ter baião e sonora: também importante atrair o público pelo toque da viola (o baião) e pela voz (a sonora Ainda não são, todavia, apenas esses itens acessórios e principais que norteiam discernirnento sobre a boa cantoria. Mesmo intuitivamente, sem o domínio teórico do qu seria a imagem poética, é ela a mestra de tudo. Nem sempre o cantador sabe definir, com termos literários precisos, as imagen poéticas, entre outras, a metáfora e a comparação, que cria e que tanto comovem a platéias. Como os temas sociais e a politização de certas questões são vigorosos na cantori a linguagem metaforizada às vezes cede espaço a discurso cru, realista e panfletário. “ temática social ainda predomina muito no congresso de violeiro, não deixando a naturez de lado, que é a fonte maior de todas as pesquisas”, garante o violeiro Sebastião Dias pós-graduado em história e secretário de Cultura da cidade de Tabira, em Pernambuco. elaboração poética, no entanto, leva à distinção dos bons violeiros, em meio ao meramente versejadores. “A poesia é um dom, ele flui. Quando a gente tenta desc obrir uma image diferente, é como se fosse uma verdadeira profecia. Nem a gente sabe explicar, muita horas, essa qualidade do poeta”, é como o violeiro Geraldo Alves 44,parente do grande poe popular Leandro Gomes de Barros, consegue definir o que fa “ O cantador é um criador”, al ardeia o poeta Sebastião Dias. Um Criador, sim deixando à parte se o gênero é masculino ou feminino. Desde tempos imemoriais, a mulh sobressai em disputas poéticas, conforme registro de estudiosos. E interessante conferir participação da mulher desde as mais antigas noticias que se têm de cantoria. Maria Teban Zefinha do Chabocão, Chica Barrosa, Joana aparecem nos principais livro You'reSalvina, ReadingMaria a Preview sobre poesia popular, como em Vaqueiros e cantadores, de Câmara Cascudo, em Cancioneiro Unlock access a free trial. Non’e, de Rodrigues de Carvalho, em full Vida do with cantador, de Mário de Andrade. A paraiban Chica Barrosa, conforme Rodrigues de Carvalho, era “alta, robusta, mulata simpática, beb 45 e jogava como qualquer boêmioDownload A célebre poetisa acabava sempre as suas toadas co With Free Trial este estribilho: „A negra C hica Barrosa / É faceira e é dengosa”46. A potiguar Maria Teban também chamada de Maria Turbana ou Trubana 47, era possuidora, segundo Câma Cascudo, de “uma das mais fortes e lindas vozes de que o sertã o se orgulhava. Verseja com rapidez e o seu „repente‟ era assustador”. Mário de Andrade acredita ser a tradição de nossas mulheres cantadeir proveniente da península Ibérica, em decorrência de dados históricos convincentes: existência de jogralesas, os indícios de que as mulheres foram presença marcante na poes medieval galaico-portuguesa. Andrade ainda registra a procedência árabe do costume e Sign up to vote on this title presença marcante de cantadoras nas tradições populares recentes de Portugal Useful Not Embora as mulheres estejam nessa seara há tanto tempo, a realidade dasuseful cantadoras apon para as dificuldades de engajamento nos festivais e congressos, creditadas ao machismo do organizadores. Maria da Soledade Leite, paraibana de Alagoa Grande, tem um histórico d
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dificuldades de cantar com um homem, por exemplo, é o tom. “Quando a dupla homem mulher acerta o tom, dá pra tirar a jornada”, esclarece Soledade.49 Entre as vi oleiras ma famosas, temos a pernambucana Mocinha da Passira, que viaja pelo país, duplando mint vezes com violeiros. Mesmo não sendo fácil empunhar uma viola num meio dominado p homens, a qualidade dos versos não se mistura à divisão de sexos. O que importa, mesm é o talento poético. Mocinha tem participação em diversos CDs, e num deles canta com Minervina Ferreira, parceira de Soledade em muitas cantorias. É justamente a recorrente inextinguível disputa de gênero e as conquistas sociais femininas o tema da gemedei cantada no disco:
Mocin
A mulher caminhone Já viaja acostuma A dormir de meia-no Se acordar de madruga Sem temer os obstácul Ai ai ui Que existem na estra
Minervi
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A luta é multo pesa Mas se a mulher não estran A revolução dos temp Lhe joga em qualquer façan Pois só se leva o trof Ai ai ui Depois da batalha ganh
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A POÉTICA DO MARACATU RURA
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O mestre de maracatu é o poeta do grupo: apito na mão, batuta sobre o ombro mão em concha sobre o ouvido, como os antigos bardos, é quem inaugura a brincadeir com o canto responsivo em versos improvisados 51. Somente a voz ecoando no terreir numa pausa dos instrumentos musicais (percussão e sopro), cabe a ele saudar os brincante agradecer aos colaboradores e tecer loas às autoridades, numa prática recorrente da poes de louvação, conforme refere Mário de Andrade, em Vida do cantad “esse desenvolvimento, essa particularização de coisas a louvar, é tradicional na poesia d nosso cantador”52. 52 Cascudo, em Vaqueiros e cantadores, reproduz modelos delouvaçã Uma prática que, conforme refere, é conhecida nos cancioneiros e ainda Sign up to vote on this titleremanesce n manifestações populares em que há poesia, improvisada ou não. cabe ao poet Not useful Useful Enfim, além de louvar, conquistar a platéia com imagens poéticas e rimas bem construídas. E Nazaré da Mata, Pernambuco, a 65 quilômetros de Recife, onde se diz que nasceu
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discurso poético distintivos de cada criador. E, sobretudo, podem ser apreciadas qualidades do bom mestre. De vasta cabeleira, lança robusta, chocalhos nas costas, gola ricamente bordada d lantejoula com miçanga, e gestos viis, não é essa emblemática figura do caboclo de lanç que faz os habitantes da zona canavieira se acotovelarem na praça João XXIII, a famos praça da catedral de Nazaré da Mata. E o mestre de maracatu o motivo de tanta atençã sobretudo quando se sabe que é de nome respeitável. Fraquinho, bom, muito bom mediano, ao poeta não interessa o rótulo. Todos os mestres que sobem no palanqu imbuídos do sentimento de ascendência sobre os demais brincantes, cheios de bazófl fazem questão de cantar os versos, improvisados ou supostamente improvisados, pa granjear a atenção do público. Sobretudo, é de lei subir no palco e cantar na cidade d Nazaré, respeitada por mestres e caboclos como o lugar da tradição, o lugar que v florescer a pujante brincadeira e que, ouvidos atentos, tem visto desfilar estrofes d requintada poesia, desde o período que a memória dos antigos alcanç Cantar é mesmo de lei; encantar, só se for generoso o talento, pois o público, que não nem de longe neófito, tripudia sobre os versos mal construídos, aplaude os famosos e d urras aos versos inteligentes. A platéia, que já conhece os melhores, ainda assim quer ouv os menos bons, a fim de elaborar o próprio veredicto. Para delícia dos amantes de poesia, surpreendente ouvir os comentários da platéia, composta principalmente por camponese sobre os sambas que cada criador desfia. Ali, na federação, a cantoria é individual, sem disputa face a face, mas os versos ressoam de tal maneira na cachola dos ouvintes, que apresentação termina virando torneio. Aos vencedores, os louros: comentários elogioso durante todo o ano e consolidação da fama. O que define exatamenteYou're a vitória não tem fórmula secreta. É a mesma que defm Reading a Preview quem é bom poeta. E os critérios da boa poesia passam pela construção de imagens qu access with free trial. sensibilizam. No caso da poesiaUnlock dosfullmestres dea maracatu, herdeira das tradições ora literárias procedentes da Antiguidade — desde a disputa dos pastores amebeus, passand pelos trovadores, jograis e menestréis, chegando aos Trial nossos mestres improvisadores, do Download With Free quais os mais afamados são os cantadores de viola — , outros critérios soam indispensáve porque é uma construção de formas fixas, que exige boa rima, métrica impecável, marcaçã correta do ritmo poético-musical, adequada utilização dos tipos de estrofe e peforman atraente na voz e no gestual. No fim de contas, é mesmo o talento que ganha a nota, qu consegue estabelecer a hierarquia e conceder status, acariciado pelo espírito de emba entranhado no público e nos poetas. Foi exatamente assim que definiu um dos nome respeitáveis do samba de maracatu, o mestre Antônio Roberto, quando cantou no carnav com o Estrela do paraíso, valendo-se, na mesma estrofe, da expressão “samba bonito Sign up to vote on this title corriqueira nos versos dessa categoria de poetas, e também da recorrente imagem alusiv Useful Not como useful sinônimo d ao provérbio “Prego batido, ponta virada”, que os sambadores usam invencibilidade na arte poética:
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Ninguém não ganha pra mim Sheet Music
Embora do ponto de vista da criação artística sejam mais cobiçados, os ensaios d barraca que antecedem o tríduo momesco não diferem das apresentações de carnaval n formulação poética. Nesse tipo de ensaio, também conhecido como “ensaio de sede”, poeta do grupo canta a noite inteira, ou enquanto durar a energia dos brincantes. O diferencial é justamente o tempo de samba: no palanque carnavalesco cada poeta tem direito a apenas alguns minutos de jogos verbais, o que limita bastante a verve do criado É interessante observar que os melhores poetas, orgulhosos da reputação, se sentem livr para cantar vinte ou trinta minutos no palanque, quando o pedido é para duração de, n máximo, metade disso. Quando há extrapolação, até provoca samba despeitado, como fo o caso do mestre Dudé, do Leão Coroado, da cidade de Araçoiaba, ao subir, no palanque d Nazaré, após o afamado mestre Zé Galdino, do maracatu Estrela Dourada, da Buenos Air pernambucana (localizada na Zona da Mata Norte, a 14 quilômetros de Nazaré), que hav cantado durante 22 minutos! Nos sete minutos de Dudé, ele concluiu, com desprezo sambando assim:
Pessoal, eu vou embo Eu vou sair pelos fun O meu desgosto é profun Não vou perder meu assun Tem mestre que demora mu Pensa que é dono do mun
Essa foi a penúltima estrofe, cantada em agalope (samba de seis linhas), e a última You're Reading Preview arrematada com desaforo ainda maior. A palavra “muito” é pronunciada como e access with a free trial. pronuncia sempre, de modo queUnlock rimafullcom “assunto”, em dois momentos distintos: n versos citados acima e também no trecho que se segue: “E quem quiser cantar munto Bote um palanque em casa”. É uma poesia With de tradição assentada na oralidade, na audição Download Free Trial relacionada às experiências ancestrais poético-musicais, em que a pronúncia, o som é o qu vale na hora de achar a rima. Convencionou-se chamá-la de “literatura oral”: realmen uma literatura antes da letra, antes do alfabeto, antes do tempo em que se começou utilizar o designativo “literatura”, vocábulo cuja raiz remet e ao que é escrito, ao que destinado à leitura. Outro exemplo de oralidade é a não-concordância de número n expressão “pelos fundo”. O poeta Asa Branca do Norte, do Leão das Cordilheiras (Carpina), chega log dizendo que está ali para dar surra em gente:
Sign to vote/ on title “Meus sambas têm umupchicote Southis Asa Branca do Norte
Useful useful poesia com E, para confirmar a repetição da imagem do prego, defme própria aNot motivo de inspiração para muito poeta, conforme canta nesta outra estrofe:
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rimas, muitas delas toantes, não obedecem a certas regras gramaticais, obedecem, antes, sonoridade da pronúncia matuta, à prosódia e à ortoépia. A palavra “engenho” (engenho d açúcar, lugar de origem do poeta) é pronunciada conforme o costume e, por isso, rima co ninguém. A concordância verbal, sem obediência ao número do sujeito, é assim utilizad no último verso para fechar (ninguém/engem/tem) o esquema de rima desta sextilh (ABBAAB) de Asa Branca do Norte:
Pra cantar sou prepara E nunca perdi pra ningué Sou da vida do enge E do manero e dos p Dez caminhão carrega Não leva os samba que eu te
Na métrica, o poeta também se vale de certas pronúncias para não quebrar o verso Foi o que fez o mestre José Demésio, antigo no ofício, talvez lembrando o tempo em qu Nazaré se escrevia com “th” e a pronúncia usual era essa que utilizou. De toda forma, fo uma solução original, logo na terceira marcha:
Saí de Araçoia Fazendo uma passea E vim deixar samba grava Em Nazarete da Ma
Como é de praxe, todo mestre que pega o apito para cantar começa tecendo loa Reading a Preview aos presentes, hábito ancestral dasYou're poéticas da oralidade mundo afora. No carnaval, há um exacerbação desse ritual porque, Unlock além do desejo de agradecer às autoridades locais a chan full access with a free trial. de apresentar-se na cidade, o tempo é tão restrito que fica quase todo preenchido pelo elogios e, por isso, o discurso laudatório sobressai. O mestre aproveita para dirigir saudaçã Free Trial carinhosa a algum amigo, parenteDownload e tambémWith comerciante ou parceiro que tenha oferecid algum tipo de colaboração ao maracatu. O mestre do “Leão da Aldeia” brincou com antiga reputação de Nazaré, numa marcha de quatro linhas ou quadra de abertura quadra, que já foi abundante no repente de viola, é um gênero recorrente no irnproviso do mestres de maracatu, e é com ela que se inaugura a sessão de improviso, diferentemente d cantoria, que é aberta com sextilha):
Tô com o Leão da Alde e aleg Com prazer Sign up to vote on this title Eu vim só dar um coch Useful Not useful No berço da poe
Por essa condição de hipotético nascedouro da poética dos maracatus, praticamen
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A não-improvisação é outro aspecto interessante a analisar na poética do maracat Sabe-se que, apriori, todos os versos desfiados por dois mestres seriam feitos na hora, u respondendo ao outro, na tentativa de suplantarem-se mutuamente. Quando o mestr canta sozinho, também reza a tradição que tudo sai aos borbotões. A tradição do “halaio ou verso decorado, entretanto, não é prática só de emboladores, cirandeiros ou violeiro Também o mestre sambador denuncia a prática da estrofe pré-fabricada, com esquema d rima repetitivo, com imagens recorrentes, com um repertório de jogos verbais bastan previsível. Nada disso desmerece o talento poético, embora seja facilmente percebido pel platcias de aficionados. Afinal, o repertório tradicional se vale de processos mnemônico ancestrais, tão em voga nas literaturas orais. É nessa mesma fonte remota que o poeta sac o sôfrego desejo de expressar-se em poesia, o que denuncia no próprio canto, mesmo n cardápio trivial, como fez José Dernésio para apresentar-se em 2002, com sextilha de rim (ABBCCB) não-corriqueira na cantoria:
O que eu tem de cantar ho Não vou deixar pra dep Canto o meu feijão-com-arr Mas sei que agrado o po Isso é galope no Que eu fiz pra 20
Pela condição de porta-voz do grupo, o mestre de maracatu exerce liderança, apresen auto-estima elevada e, quando o conceito de que desfruta está acima de “bom normalmente constrói samba de You're dez (décima de aredondilha Reading Preview maior) em que se intitula rei, exemplo de Manuel Damião, mais uma vez confirmando que os poetas da oralidade vivem mesmo é no reino da bazófia: Unlock full access with a free trial. Download With Free Trial
Noventa quando eu brinq Para fazer meu pap O velho Alfredo Migu Me chamou menino Quando eu me apresen Na barraca do Le Foi meu pai foi meu irm Meu caboclo sem ludu Foi o fã número u De Manuel Damiã
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O samba de maracatu é, portanto, uma poesia metrificada, Useful e Not useful com form rimada fixas características da tradição oral procedente, no Nordeste brasileiro, dos colonizadore portugueses e que granjeia status para quem a pratica. Tem parentesco evidente com o baiã
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ouvintes da ciranda, do maracatu, mas, concliundo, é uma cultura só e nós temos qu transmiti-la com perfeição. Ultimamente, e cada vez mais, valendo-se de registro sonoro e audiovisual da novas tecnologias para difundir a própria arte, conforme testemunha o mestre João Paul autodenominado “papa do maracatu”, numa das faixas do primeiro disco55 que consegui colocar no mercado no final de 2001, para satisfação dos admiradores, confirmando que poeta é reverenciado por uma sacralização do status quo e, sobretudo, porque detém o pod da palavra, uma poderosa arma na manutenção das raízes culturais:
Tá na praça o meu C meu Deus, muito obriga O sonho virou verda Me sinto realiza Maracatu quando dan Surgem nuvens de poe Mostrando a identida Da zona canavieira
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BIBLIOGRAFIA COMENTAD
ANDRADE, Mário de. Vida do cantador. Coleção Obras de Mário de Andrade, n2 2 Edição crítica de Raimunda de Bnto Batista. Belo Horizonte: Vila Rica, 1993. Oferece importantes elementos de composição da poética popular e da psicolog dessa manifestação cultural, a partir da vida de um cantador de coco potigua Chico Antônio. Tais elementos, aí particularizados, percorrem caminhos da tradiçã conforme dados históricos e comparativos levantados pelo autor. São os mesmo elementos que vão aparecer, por exemplo, em estudos de outros autores sobre improvis de viola e samba do mestre de maracatu.
CARVALHO, Rodrigues de. Caocioueiro do lVorte. 3 cd. Rio de Janeiro: Instituto Nacion do Livro, 1967. “Um clássico na bibbografia folclórica”, conforme definição de Luís da Câma Cascudo. Foi dos primeiros bvros brasileiros no gênero. Trata-se de uma recolha de canto populares e respectiva onportância histórica. Uma parte da pubbcação é dedicada bibhografia e transcrição de versos de cantadores, entretanto é no prefácio que oferec expbcações detalhadas sobre aspectos formais e temáticos da poética popular nordestin CASCUDO, Luís da Câmara. História da literatura brasileira: literatura oral. Vol. Coleção Documentos Brasileiro, 63. Direção de Alvaro Lins. Rio deJaneiro: J. Oympio 1952. As fontes e o objeto da hteratura oral, seus Irinites e transmissão, elementos temas, participação indígena, sobrevivência afro-negra, permanência portuguesa, romanc You're Reading a Preview conto, lenda, mito, autos populares brasileiros, desafio e cantiga social são alguns do access with a free trial. aspectos estudados nesse hvro,Unlock quefulloferece um volumoso registro das poéticas d orabdade, pela primeira vez incluídas numa pubbcaçào de história da literatura brasileir Download With Free Trial
Vaqueiros e caotadores. Rio de Janeiro: Ediouro. 1968. Trata-se do “folclore poético do sertão de Pernambuco, Paraíba, Ri o Grande d Norte e Ceará”, conforme registra o subtítulo. Cascudo descreve modelos do que cham “poesia sertaneja”; apresenta uma recolha de versos de temática tradicional variada transcreve exemplos de peleja entre cantadores; discorre sobre antecedentes, instrumento canto e acompanhamento, temas do desafio. Livro indispensável para a compreensão d unportâncsa histórica, social e hterária da poesia popular nordestiu Sign up to vote on this title
COSTA, Francisco Pereira da. Folk-lore pernambucano: subsídios para a história da poesia popul Useful Estadual, Público Not useful em Pernambuco. Prefácio de Mauro Mota. Recife: Arquivo 1974. É outro livro em que o subtítulo resume o conteúdo: “subsídios para a história d poesia popular em Pernambuco”. É um registro fundamental para o levantarrient
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REPENSAND JANAÍNA ROCH
O rap1 ,existe no Brasil há cerca de vinte anos. Faz parte do hip hop, hoje, u conjunto de manifestações culturais formado por uma música, o rap; que envolve mestr de-cerimônias (MC) e disc-jóquei (DJ); uma dança, o break; e uma forma de expressã plástica, o grafite.‟ Popular e controverso , ele reflete e prefigura mais do que um esti musical. Sua prática social, entretanto, abranda uma análise estética rigorosa. No Brasil, es viés analitico causa, inclusive, desconforto entre manos e teóricos do tema. Desnudar o rap da prática social e analisá-lo sob o ponto de vista estético o comercial, encarando-o como tendência musical, ou ainda nessa nova perspectiva como u tipo de literatura, é algo novo e perpassa por um terreno teórico bastante problemático Isso ocorre não só pela dificuldade de investigação da sua forma — e não do conteúd como costumeiramente é feita — , mas por ser uma manifestação recentíssima, de viç juvenil e estudos críticos insuficientes 2. Enfim, uma cultura em transformação, cheia d contradiA cultura hip hop é compo sta “oficialmente” por quatro elementos, mencionados no texto. Observa-se no seu desenvolvimento, entretanto, além de novas formas de art maneiras particulares de organização e mobilização. Podemos considerar, assim, como um quinto elemento integrante do hip hop, a posse. Basicamente, a posse é uma associação d jovens de uma comunidade ligados ao hip hop que têm como objetivo reelaborar realidade conflitiva das ruas nos You're termosReading da cultura e do lazer. Ao se organizarem em su a Preview comunidade, deforma independente, esses lovens desenvolvem práticas não só artística full access with a freecomo trial. também práticas politicas. O como na criação de um rap ouUnlock de uma coreografia, processo criativo é tambem um espaço de discussão informal, em que ganham sentid palavras como consciência e atitude,Download e que são ainda With Freemais Trialvalorizadas em reuniões de um posse. A definição conceitual do hip hop (cultura de rua ou movimento social) é exemplo desse tipo de problemática, ainda não resolvida, e serve-nos como pressupos para a questão a ser tratada: a relação entre o rap e a literatura. E importante entender quanto ela é incipiente (até polêmica), justamente porque o rap não surge de forma isolad como música, mas como um tipo de base musical para a dança de rua, o brcak, nu contexto cultural e socialmente subordinado à expressão gestual. O termo “hip hop”, que significa, numa tradução literal, movimentar os quadris Sign up to vote on this title hi, em inglês) e saltar (te hop), foi coada pelo Dl Afrika Bambaataa, em 1968, para nomear o usefuldo Bronx, cm Useful encontros dos dançannos de break, DJs e MCs nas festas de ruanoNot bairro Nova York. Bambaataa percebeu que a dança seria uma forma eficiente e pacífica d expressar os sentimentos de revolta e de exclusão, uma maneira de diminuir as brigas d
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Assim como outros ritmos afro-norte-americanos, o rap tem um sentido resistência cultural. O historiador Eric Hobsbawm explica, por exemplo, que a paixão o adesão do povo ao jazz não acontecia apenas porque as pessoas gostavam do som, mas po ser uma conquista cultural de uma minoria dentro da ortodoxia cultural e social, da qu elas tanto diferiam. Hobsbawm4, obviamente, não aplica essa tese ao rap, no seu livro História social do publicado nos anos 1960, portanto vinte anos antes do nascimento do hip hop, mas ess análise encontra eco em outros estudos. O antropólogo Marco Aurélio Paz Teila, po exemplo, afuma que o rap [...]deve ser principalmente compreendido como resultado d apropriação de um patrimônio musical simbólico da cultura afro-americana qu posteriormente foi internacionalizado através dos veículos de comunicação 5. A educadora Elaine Nunes de Andrade6 define o bip hop como um movimen social que engloba uma forma de organização politica, cultural e social do jovem negr Esse movimento social seria conduzido por uma ideologia de aurnvalorização da ;uventud de ascendência negra, por meio da recusa consciente de certos estigmas (drogas, violênci marginalidade) associados a essa juventude imersa em uma situação de exclusão econômic educacional e racial. Sua principal arma seria a disseminação da “palavra”: por meio d atividades culturais e artísticas, os jovens seriam levados a refletir sobre sua realidade e tentar transformá-la. Se a atuação de muitos grupos envolvidos com as várias atividades que constituem o universo hip hop de fato tem as características de organização defendidas por Elaine d Andrade e comunga com a cartilha antidrogas e antiviolência, é preciso não esquecer qu originalmente, ele é um conjunto de manifestações culturais. A caracterização como cultu de rua é a mais utilizada pelos próprios integrantes do hip hop, embora sem negar a idé You're Reading a Preview de movimento social. Quando solicitados a responder “o que é o hip hop”, a primeir Unlock full with a free trial. definição que surge é: “uma cultura de access rua formada por quatro elementos artísticos: break, o rap, o grafite, o DJ e o MC”. Cultura envolve não só consciência, mas um modo d vida, no qual valores, comportamento, estiloWith de seFree vestir compõem o conjunto. Download Trial
ENTRECRUZAMENT
Conforme a estruturação do hip hop sob a forma de cultura, limitada por um me social urbano, o rap conquistou status de música. Assim como outras form comunicacionais, entre alas o jornalismo, o cinema e a publicidade, ele também tem interagido com a literatura e, por conseqüência, provocado um entrecruzamento com es linguagem. Nesse sentido, o rap ocupa espaço hoje não apenas na indústria fonográfic Sign up to vote on this title como um estilo musical, mas, de certa forma, retoma uma das funções da literatura num Useful Not useful sociedade, possibilitando ao mano (ou mina) o direito de exprimir-se pela palavra. N cultura de massa, a palavra, muitas vezes, tem a função de indicar uma direção para comportamento, como “faça”, “compre”, “seja”. No rap, ela debate, discord
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Marcos Flamínio Peres7 discute o paradoxo de que [...] o hip hop se tornou no anos 1990 um ícone da cultura norteamencana mainstream ao mesmo tempo que os negro nascidos entre 1965 e 1984, viram declinar seu poder de mobilização política e aument dramaticamente sua marginahzação social e econômica — ponto de vista presente na ob The Hz Hop Generation, de Bakari Kitwana, um dos teóricos do hip hop nos Estado Unidos. Ao ser entrevistado para o Mais!, Kitwana afirmou que “os intelectuais negros velha-guarda se desconectaram da realidade da geração hip hop e se tornaram incapazes d propor novas soluções para essa situação socioeconômica globalizada”. Esse espaço de discussão vem sendo ocupado por rappers e cineasta Escotores e poetas tradicionais não têm se destacado pelas críticas e pela compreensão d nova geração. Os rappers, que são escritores e poetas, e os jovens cineastas têm feito ta tentativas, de dar conta das novas reahdades que desafiam essa geração. Um dos ponto que destaco no hvro é como os intelectuais negros fracassaram ao tentar fornecer um explicação para o surgimento da nova cultura jovem negra, vazio que foi preenchido pelo rappers e pelos cineastas. Fracassaram ao tentar fazer uma análise da cultura negra jove que emergiu nos anos 1980 e 1990, fracassaram ao tentar exphcar o que estav acontecendo de diferente em nossas comrmidades e fracassaram também ao tentar cnar u diálogo que levasse em conta teorias plausíveis para abranger a psique coletiva d comunidade. Diante disso, os jovens diretores negros chamaram para si a tarefa. Sua respostas foram filmes como Os donos da iria, Perigo à sociedade, New Jade Ci e Inferno branco todos eles sucessos do ponto de vista financeiro. Em alguns casos eles acertaram, em outros, erraram. Mas a questão pnncipal que abordo é como eles exploraram e fortalecera o niilismo dessa geração, mais doYou're que simplesmente mascarar suas ongens. Na ausência d Reading a Preview uma tal crítica, muitos jovens negros aceitam a análise que recebem de filmes, programas d Unlock full access with a free trial. TU e da música popular. Muitos intelectuais negros estão se encastelando na torre marfun do debate pós-cstruturahsta, em vez de discutir quem somos e para onde estamo indo. Download With Free Trial O jornalista Alcino Leite Neto traz outra perspectiva sobre o encontro do rap com a literatura. Ele entrevistou o musicólogo e professor de filosofia Christjan Béthune, auto de Le rap: une esibétique hors la loi (O rap: uma estética fora da lei), um estudo histórico estético sobre o gênero musical, em que citações de Rousseau, Benjamin e Bastide misturam a outras, de Public Enemy, Notorious Big e Ice T. Para Béthune, o rap se desenvolve, sobretudo, a partir da tradição oral das cultur dos imigrantes. [...] embora eu não considere que o rap seja uma forma de música apenas oral. Ela Sign up to vote on this title ao mesmo tempo totalmente escrita e tctatmente oral. É do vaivém entre escrita Useful Not useful artística. vocalização que o rap tira grande parte de sua condição O autor ainda ratifica que a função escrita tem mais importância na França, onde s escreve um rap mais literário que o dos Estados Unidos.
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Não é. Estou trabalhando atualmente numa aproximação entre o rap e os chamado “grandes retóricos” do século XVI, que trabalhavam bastante sobre os efeitos prosódico como começar um verso com a rima do último verso ou rimar no interior do verso, et Todas essas estratégias, que Malherbe (1555-1628), em prol do classicismo, iria consider gratuitas, mas eram verdadeiros jogos com a linguagem, reaparecem de certo modo no ra Essa música também foi um maravilhoso desembocadouro literário para a linguagem da ridades. A inclinação literária dos franceses também é acentuada e chega a ter ma importância que a função politica 8. Essas recentes análises incidem sobre a mesma temática, entretanto possue desdobramentos divergentes. Entre elas há, em comum, o ponto de vista comparativo d rap à literatura, que serve de pressuposto para questionarmos, de fato, quais similaridades dessa linguagem urbana pós-moderna com a criação literária. Além de ba informativa para entrecruzamento dessas artes, os estudos de Bakari Kitwana e Christia Béthune funcionam como exemplos de como enxergar no rap características da literatur Certamente, não é possível afirmar o rap como um gênero literário. Não há produção d conhecimento suficiente, no Brasil, para classificá-lo dessa forma. Essa é uma discussã embrionária. Bakari Kitwana aproxima o rap da literatura pela análise de conteúdo, sua funçã ideológica e social e, a partir daí, como se deu uma mudança na produção artístic contemporânea. Já Christian Béthune concebe uma investigação dc orientação estétic enfatizando uma mudança na forma de criação literária. O ideal é a combinação das dua perspectivas, equilibrando os valores estéticos e sociológicos; mas, especialmente no Bras há uma tendência para uma análise mais sociológica, reforçada pela ferocidade contestatór do rap, inserida numa cultura jovem e rebelde. You're Reading a Preview A teoria literária pode contribuir para entendermos algumas características comu Unlock full access with a free trial. ao rap e à literatura. Download With Free Trial
TEORIA LITERÁRI
Como ponto de partida, um dos livros do sociólogo e crítico literário Antonio Candido iteratura e sociedade. Ao considerarmos o rap como arte, ou seja, um sistema simbólico comunicação inter-humana, entenderemos que a repercussão da obra se dá no moment em que repercute no público, assim como a literatura. O rap só se completa no moment em que ecoa e atua. Esse caráter comunicativo, “integrador e bitransitivo por natureza não deve, como explica Candido, obscurecer a expressão de realidades profundamen radicadas no artista. Sign up to vote on this title Na compreensão do rap como forma comunicacional artística, nesse sentido simil useful Useful Notimportantes, à literatura, e, conseqüentemente, possuidor de elementos socialmente como autor, a obra e o público, faz-se necessário equilibrar análises que combinem conceitos interpretações de diversas áreas de humanidades. Ao reforçar a dialética de Candid
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Tanto quanto os valores, as técnicas de comunicação de que a sociedade dispõ influem na obra, sobretudo na forma, e, através dela, nas suas possibilidades de atuação n meio. [...] Todos sabem — para dar mais um exemplo — da influência decisiva do lorn sobre a literatura, criando novos gêneros, como a chamada crônica, ou modificando outro já existentes, como o romance 9. Podemos, ao menos, procurar entender as possibilidades criativas transformadoras do rap e da cultura hip hop nas artes em geral.
LITERATUR Em 2001, a revista Caros Amzgos publicou o suplemento especial Literatura margin com o subtítulo A cultura da perifr ria: ato 1, cujo segundo número foi lançado no primeir semestre de 2002. Entre outras qualidades, foi responsável por reunir um conjunto d textos que poderiam ser classificados como literatura. Mais do que a qualidade dos textos — em prosa e poesia — , talvez seja ma importante olhar para o manifesto que abre a publicação, feito por Ferréz, escritor d Capão Redondo (bairro periférico da zona sul de São Paulo), autor de Capão pecado — traz textos de Mano Brown e Gaspar, rapper do grupo Z‟África Brasil. O “Manifesto d abertura: literatura marginal” é um divisor de águas nesse encontro do rap — e outr expressões artísticas da periferia — com a literatura: [...] queimaram nossos documento mentiram sobre nossa história, mataram nossos antepassados. Outra coisa também é cert menrirão no futuro, esconderão e queimarão tudo o que prove que um dia a periferia fe arte jogando contra a mas sificação que domina e aliena cada vez mais os assim chamado por eles de “excluídos sociais”, e para nos certificar de que o povo d periferia/favela/gueto tenha suaYou're colocação na história e não fique mais qumhentos ano Reading a Preview jogado no limbo cultural de um país que tem nojo de sua própria cultura, o Car Unlock full access with free trial.autêntica de um povo compos Amzgos/Literatura marginal vem para representar a acultura de minorias, mas em seu todo uma maioria. E temos muito a proteger e a mostrar, temosTrial nosso próprio vocabulário, que Download With Free muito precioso, principalmente num país colonizado até os dias de hoje, onde a maior não tem representatividade cultutal e social. Como João Antônio andou pelas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro sem se valorizado, hoje ele se faz presente aqui e temos a honra de citá-lo como a mÍdia eternizou, um autor da literatura marginal. Também citamos a batalha da vida de Máxim Gorki, um dos pn — meiros escritores proletanados. Mas não podemos esquecer de Pin Marcos, que vendia seus livros no centro da cidade e que também levou o título de auto marginal e acabou escrevendo dezenas de obras, Dois perdidos numa noite suja e Queró, Sign up to vote on this title citar só duas. useful Useful Notde Fazemos uma pergunta: quem neste país se lembra da literatura cordel? Que tra a pura essência de um povo totalmente marginalizado, mas que sempre insistiu em prov que a imaginação não tem fronteira? A literatura de cordel, que cem anos completou,
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Segundo Cuiler, o que distingue um texto literário de outros tipos de texto é que o literários10 passaram por um processo de seleção: foram publicados, resenhados reimpressos, para que os leitores se aproximassem deles com a certeza de que outros o haviam considerado bem construídos e “de valor”) . Essa definição chama atenção para o processo de produção, circulação e consum que se prolonga no processo de reconhecimento da obra como literatura e de su legitimação como boa literatura ou até mesmo como grande literatur A atitude de Ferréz é bastante próxima do que Candido diz a respeito da posição escritor dentro desse sistema artísticcx Ferréz, primeiramente, lançou seu livro, fazend presente a marca de artista criador, mas já incorporando elementos da arte coletiva, qu para Candido, é a arte criada pelo indivíduo a tal ponto identiúcado com as aspirações valores do seu tempo, que parecem dissolver- se nele. Os elementos individuais adquirem significado social na medida em que as pessoa correspondem a necessidades coletivas; e estas, agindo, permitem, por sua vez, que o indivíduos possam exprimir-se, encontrando repercussão no grupo. As relações entre artista e o grupo se pautam por essa circunstância e podem ser esquematizadas do seguint modo: em primeiro lugar, há a necessidade de um agente individual que tome a si a taref de criar ou representar a obra; em segundo lugar, ele é ou não reconhecido como criado ou intérprete pela sociedade, e o destino da obra está hgado a essa circunstância; em terceiro lugar, ele utiliza a obra, assim marcada pela sociedade, como veículo das su aspirações individuais mais profundas11. Essa última afirmação de Candido, a respeito das aspirações individuais, també poderia referir-se ao meio hip hopper e da periferia, embora a grande mensagem qu envolve as artes relacionadas a esses mundos sejaa baseada You're Reading Previewnum princípio de coletividade. relação com o mercado, editorial ou fonográfico, é sempre dicotômica para os mano full access with a free trial. Ferréz mantém-se como artistaUnlock criador independente ao escrever para a revista Car Amzgos, agindo, assim, como outros colaboradores da revista. Por outro lado, em Literatu específico artista, marginal, há mais do que um papel Download Withdo Free Trial mas a formação de grupos d artistas, citados no fim do manifesto. Isso é também parte da estrutura de um sistem comunicacional, no caso a literatura. Ao referir-se à literatura de cordel, Ferréz estabelece um parâmetro importante pa entender a literatura de rappers e outros marginalizados. De origem européia, o cordel arte múltipla, que se expressa no plano da escrita, da oralidade e da música. Especialmen a partir dos anos 1970, por intermédio de pesquisadores estrangeiros e nacionais, literatura de cordel foi reconhecida como uma das expressões mais legitimamen brasileiras. Chegou-se ao fato de um poeta de cordel, no Rio de Janeiro, candidatar-se pa Sign up to vote on this title a Academia Brasileira de Letras. Consta que ele obteve cinco votos. Como informa Useful das NotNações useful Unidas pa estudioso Joscph M. Luyten, professor catedrático da Organização a Educação, a Ciência e a Cultura ((Jnesco) e docente da Universidade Metodista de Sã Paulo (Umesp) e da Umversidade Católica de Santos: [...] Os folhetos noticiosos que, ante
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povo. É certo que os poetas mudaram. Hoje, há diversos formados em universidade. O povo também mudou. De inocentes e crédulos campesinos surgiram suburbano descrentes e sequiosos de transformações sociais e não necessanamente politicas 12.Es tendência contestatória do cordel não é soberana dentro do gênero. O discurso criativo d ficção se mantém marcante. O que nos interessa na aproximação entre o cordel e o rap e a literatura reunida po Ferréz — e por ele denominada rnargina/ — é a retomada por ambos de uma das ma importantes funções da literatura, a função social. Segundo Candido, talvez essa funçã prepondere na literatura dos grupos iletrados, enquanto a literatura erudita atual parec “feita para a leitura individual e voltada para a singularidade diferenciadora dos indivíduo do que para o patrimônio comum dos grupos” 13. Nesse sentido, pudemos estabelecer esse paralelo entre as duas expressões/artes. vimos, assim, que o rap pode retomar uma das funções da literatura numa sociedad quando o mano (ou mina) conquista o seu direito de manifestar-se pela palavr mobilizando milhares de jovens em todo o país. O domínio da linguagem dos manos nã se mostra na perfeição gramatical, mas na utilização de diferentes códigos d reconhecimento; no falar primeiro para a sua comunidade, e os demais que procurem entender. “Não conseguia fazer um barato mais difidil. Já tentei poesia concreta, mas nun vou fazer um livro com pensamento francês. Não faço literatura para elite”, afrrma Ferré defendendo que “a literatura está no ar, o último lugar em que ela aparece é no livro” 14. Já o cordel cumpre uma função de comunicação folclórico- popular: repor eventos de sua própria comunidade e região, opina sobre eles e leva para o consumido local, recodificadas, as mensagens de uma cultura nacional de massas 15. o “Manifesto de abertura: literatura marginal” é a d Uma outra perspectiva sobre You're Reading a Preview literatura como construção intertextual ou auto-reflexiva. Como Cuiler esclarec Unlock full a free trial.feitas a partir de outras obra [...j teóricos recentes argumentaram queaccess as with obras são tornadas possíveis pela obras anteriores que elas retomam, repetem, contestam transformam. Essa noção àsDownload vezes With é conhecida Free Trial pelo nome imaginoso d “intertextuahdade”. Uma obra existe em meio a outros textos, através de suas relações eles. Ler algo como literatura é considerá-lo como um evento hngüístico que te significado em relação a outros discursos 16 . Mas como isso se dá no “Manifesto”? E no rap? Para legitimar sua proposta de uma literatura marginal, Ferréz cria uma genealogi elegendo como precursores dois escritores brasileiros (João Antônio e Plínio Marcos) e u russo (Gorki), além de um gênero da cultura popular, a literatura de cordel. Outro exemp de construção intertextual: a partir do rap dos Racionais, por exemplo, surgiraminúmero Sign up to vote on this title grupos que utilizaram sua criação textual e musical, baseando-se na sua linguagem e nã Useful Not useful exatamente no que dizem representar: a realidade da sua quebrada. O conceito d intertextualidade é fundamental para entender outros processos que envolvem a criação d
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um rap, como a produção musical, composta por meio de música (de autoria de outro compositores) reprocessada mecânica ou eletronicamente. Para denunciar a vida dentro de uma instituição penitenciária, Mano Brown utiliza de uma outra forma de intertextualidade. Diário de um detento, um dos sucessos d grupo Racionais, foi composta por Mano Brown a partir da leitura de um relato do ex detento J ocenir em seu livro homônimo: Coloquei em suas mãos dois cadernos, um d prosa, outro de versos. Imediatamente Brown começou a folhear tudo com muita atençã parecia procurar algo que já sabia estar ali. Depois de alguns minutos, ele se dirigiu a mim pediu permissão para destacar algumas folhas do caderno de versos. Consenti 17. Quand questionado a respeito dessa música, Mano Brown afirma que foi atrás da realidade, n caso intermediada pelo então presidiário.
MANIFEST
Não é difícil entender por que Ferréz elegeu João Antônio como um de seu “precursores”: “João Antônio andou pelas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro”, ou viveu a cultura das ruas, “a cultura autêntica de um povo composto de minorias”, e, isso, ele pode ser seu porta-voz. Segundo Ferréz, João Antônio não foi valorizado, o que aproximaria das “centenas de escritores marginalizados deste país”, emb ora afirme qu João Antônio foi eternizado pela mídia como autor de literatura marginal. Por meio des ícone, Ferréz traça indiretamente um retrato de escritor e de seu papel social: um sujei que conhece sua gente, fala por ela, é autor de uma obra que mostra que “a periferia f arte”, além de reivindicar o reconhecimento e a legitimação como escritor, “ser lembrado eternizado”. You're Reading a Preview Há outras razões, porém, para a escolha de João Antônio, que podem ser deduzid access Antônio with a free trial. pela referência a “andar pelas Unlock ruas”.full João viveu entre jogadores dc sinuc viradores, vadios, vagabundos, principais personagens das histórias. Sobre seu primei ele conta: EuFree viviTrial a aventura de “Malagueta, Perus livro, Ma/agueta, Perus e Bacanaço,Download With Bacanaço” um pote de vezes. Um tufo d e vezes, um derrame, uma profusão de vezes. Sa da Lapa, catar a Barra Funda, desguiar para o centro da cidade, pegar os lados de Pinheiro procurando jogo e acabar na Lapa, era a aventura diária de quem estava naquele fogo João Antônio chegava a afirmar que a maior qualidade do seu Livro era o ponto de vist ver pelos olhos dos bandidos, dos merdunchos, não pelo olhar do escritor. “De um ou de outro, o líquido e certo é que Malagueta, Penes e Bacanaço é, talvez, mais sinuca qu literatura.”19 “Corpo-a-corpo com a vida”, último texto de Malhação de Judas carioca, é uma espéc Sign up to vote on this title de manifesto literário tão raivoso quanto “Manifesto de abertura: literatura marginal”. Nel Not useful Useful essa relação inter- textual é evidente. A leitura de alguns trechosenfatiza essa ligação: [. Digamos, um bandido falando de bandidos. [...] Literatura de dentro para fora. Isso pouco. Realismo crítico. É pou co. Romance-reportagem-depoimento. Ainda pouco. Pod
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estabelecendo, assim, uma outra semelhança intertextual, pautada por construçõe hiperbólicas e apaixonadas. Se, na década de 1970, João Antônio vivia provocando a elit literária brasileira, dizendo que na favela, por exemplo, é lugar onde há vida, é Mano Brow que o faz hoje, quando fala de gueto e quebrada, referindo-se ao Jardim Angela ou Capã Redondo — bairros periféricos da zona sul de São Paulo. Nesse sentido, o rapper é um afilhado dessa voz louca que João Antônio propagava. É um ruído novo intimament ligado à fala dos sucumbidos pela lógica do mercado, que tem como expressão rítmica “poética” uma função importante de ser, se possível, antídoto para a fala educada, também atacada por João Antônio. Em seus manifestos, ambos querem [...] uma arte literária, como de um teatro, de um cinema, de um jornalismo, que firam penetrem, compreendam, exponham, descarnem as nossas áreas da vida. [...] desconhecida vida de nossas favelas, local onde mais se canta e onde mais existe um espírito comunitário; a inédita vida industrial; os nossos subúrbios escondendo qua sempre setenta e cinco por cento de nossas populações urbanas; os nossos interiores — nossos intestinos, enfim, onde estão em nossa literatura? Enquanto isso, os aspectos d vida brasileira estão aí, inéditos, não tocados, deixados pra lá, adiados eternamente aguardando os comunicadores, artistas e intérpretes21.
OUTROS DEBATE
O rap é arte pós-moderna, segundo o filósofo norte-americano Richa Shusterman: Tendência mais para uma apropriação reciclada do que para uma criaçã original, tinica. Uma mistura eclética de estilos, a adesão entusiástica à nova tecnologia e cultura de massa, o desafio das noções de autonomia estética e pureza artístic You'remodernistas Reading a Preview e a ênfase colocada sobre a localização espacial e temporal mais do que sobre o univers Unlock full access with a free trial. ou o eterno 22. Para o autor, o rap desafia algumas convenções estéticas. A mais óbvia é apropriação artística de músicas,Download mensagens, cichês, gírias, expressões populares, histór With Free Trial oral, etc. Esse traço característico de sua forma estética é ainda visto como alg depreciativo, afrontando, até, outras artes. Shusterman, por exemplo, afirma que sua singularidades estéticas (recuperação de músicas antigas, prática de colagem, trabalho sob a repetição) são tão vivas e judiciosas que justificam, por elas mesmas, a leitura da obr A discussão não fmda, especialmente quando pensamos que o rap já está submetido à su própria apropriação. E a arte, no caso do rap, é essencialmente mais um processo do qu um produto acabado. Embora as diversas formas de música negra, tanto nos Estados Unidoscomo n up to vote on this title Brasil, tenham relações estreitas com os movimentos Sign de identidade e de orgulho racial, Useful Not useful portanto, tenham um papel sociopolitico importante, isso não significa que elas esteja fora do mercado, da riídia e da indústria cultural. O rap não é exceção nesse contexto. Nã dá para ignorar, por exemplo, que ele vende milhões de discos pelo menos desde o estour
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Ao aproximarmos o rap e a literatura, observando seus entrecruzamentos, necessário que questões referentes ao mercado também sejam levadas em conta. Se, po um lado, a relação com o mercado pode abrandar o seu conteúdo, tornando-o suscetível chamadas “regras do sistema”, é o seu conteúdo que tem estimulado mudanças em outr linguagens, como o cinema. É preciso repensar o conceito de rap como retrato da periferi Por um lado, como salienta Cuiler, a realidade não é um original que pode ser representad ou seja, substituído por signos, já que a própria realidade é medliada por signos, po simbolos, por ideologias 23. Por outro lado, além de porta-voz de seu grupo social (meno ou mais consciente, menos ou mais engajado), o rapper também é uma voz individua Embora Racionais ou outro grupo de rap tematize a realidade de sua quebrada, ao retrat la, eles não farão de forma isenta. Esses poetas da periferia, inseridos num sistema artístic utilizam signos que intermedeiam esse retrato que, sem dúvida, está comprometido com valores da sua comunidade. Isso não significa que fazem uma versão estilizada, mas já podemos afirmar que sua leitura é a realidade pura e simples, mas música ou literatu mibuída de signos identificáveis no cotidiano de uma periferia e acrescidos de tudo o qu envolve a criação artística. Nesse sentido, parece extremamente atuai uma afirmação do intelectual francê Sainte-Beuve, que sintetiza a relação entre o artista e o meio:O poeta não é uma resultant nem mesmo um simples foco refletor; possui o seu próprio espelho, a sua mônad individual e única. Tem o seu núcleo e o seu órgão, através do qual tudo o que passa transforma, porque ele combina e cria ao devolver à realidade 24.A interação do rap com cinema, já sob esse prisma de literatura da “realidade”, tem a ver com o debate propos acima, de que não se transpõe a realidade diretamente, sem o filtro de um intérprete. Ma do que isso: é arte que tem servido como referência para outra. Ele está influenciando um You're Reading a Preview tipo de estética do cinema nacional, qualidade explicita no filme Invasor, de Beto Bran Unlock full access with a free trial. guiado, em alguns momentos, pelo ritmo do rapper Sabotage (ator e professor da poétic da gíria para o protagonista, encenado pelo músico Paulo Mildos). Em 1998, o mesm ocorreu com os Racionais MC‟s no vi deocipe da Free música Diário de um detento. Novamente, Download With Trial rap extrapolou o gênero e “ocupou lugar de roteiro”, como afirma o diretor do videocip o cineasta Maurício Eça. Lê-se, em ambos os trabalhos cinematográficos, influências d texto do rap. Cidade de Deus, de Fernando Meireiles, não é um filme com bip hoppers ou rapper mas apresenta elementos comuns ao rap e ao bip hop, como a violência. O historiador d arte Jorge Coli questiona o eventual embelezamento da violência e da miséria, que pode s comum ao rap e ao cinema. A ficção, no entanto, mesmo quando se quer realista, tem seus direitos, e ess Sign up to vote on this title senões poderiam ser salvos pela qualidade propriamente cinematográfica. Ninguém acredi Useful daquele useful Mas ningué Not jeito. que os miseráveis, descritas por Victor Hugo, fossemmesmo esquece de Jean \Taljean, Cosette oujax-ert, cuja verdade literária marca a memória d qualquer leitor, inquietante e perturbadora. Cidade de Deus foi bem filmado, de maneira háb
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Cidade de Deus baseia-se no romance homônimo de Paulo Lins 26, e não em fatos reais, com é mostrado ao seu término, motivando o público a acreditar nessa afirmação como verdad absoluta. Em toda criação artística, novos significados são dados para aqueles tema mesmo que sejam calcados no real. O resultado dessa afirmação repercute no público uma vez dita real, uma inverdade é reproduzida. A Cidade de Deus de Fernando Meireiles uma leitura de Cidade de Deus de Paulo Lins. Outras questões rondam Cidade de Deus, entre elas o seu grande sucesso e seu val cinematográfico. Nesse momento, vale ressaltar como é imprópria a definição de arte qu retrata/mostra a realidade, sem citar que, entre o tema e a linguagem, há uru intérprete, se ele o cineasta ou o rapper. O Capão Redondo de Mano Brown não é o mesmo de Ferréz, assim por diante.
BIBLIOGRAFIA COMENTAD
CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. 8 ed. São Paulo: T. A. Queiroz/Publifolh 2000. Publicado originalmente em 1965, este livro reúne oito ensaios do sociólogo crítico literário Antonio Candido. Mesmo sendo independentes, os estudos possue unidade metodológica e coerência temática. Candido aborda os vários níveis de correlaçã entre literatura e sociedade, dando importância à análise da estrutura (forma), mas sem dispensar o estudo da circunstância. São ensaios fundamentais para Rapensando: “Crítica sociologia”, „\ literatura e a vida social” e “Estímulos da criação literária”. Além de focaliz os aspectos sociais envolvidos no processo literáno, Candido empenha-se na teorizaçã You're Reading a Preview sobre esse processo e sua estrutura. Sua conceituação fornece-nos instrumental para access with a sem free trial. análise mais rigorosa do ponto deUnlock vistafull sociológico, reproduzir um olhar paternalista.
CULLER, Jonatlian. Teoria literária: Trad. uma introdução. Download With Free Trial Sandra Vasconcelos. São Paul Beca Produções Culturais, 1999. Teoria literária: uma introdução, do teórico americano Jonathan Culler, é daqueles livr que acabam com qualquer resistência em relação à teoria e à critica. Não segue a linearidad óbvia de estudar a literatura através de escolas criticas. Faz um jogo dialético ent conceitos e tendências, procurando exemplos clássicos e atuais. Num primeiro moment toca numa questão delicada e tomada como sabida pela critica: “o que é literatura Especialmente para Rapensando, dois capítulos possuem extrema relevância: “O que t literatura e tem ela import ância?” e “Literatura e estudos culturais”. Com eles, é possível Sign up to vote on this title informações suficientes para que o leitor possa formular melhor seu juízo critico acerca d Useful Not useful própria critica. FERRÉZ. Capão pecado. São Paulo: Labortexto Editorial, 2000.
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relação com a estética da penfena; porque ela fere a palavra e está presente em cada esquin das periferias brasileiras. Capão pecado é intercalado por pequenos textos de outros rapper inclusive de Mano Brown, do grupo Racionais.
SHUSTERMAN, Richard. Vivendo a arte: o pensamento pragmatista e a estética popular. Tra Gisela Domschke. São Paulo: Editora 34, 1998. Judeu branco de classe média, Richard Shusterman procura examin criteriosamente as formas de expressão artística populares, as artes de consumo, por me de uma corrente filosófica, o pragmatismo (do qual a figura mais ativa foiJohn Dewey). O capítulo de maior importância para Rapensando é „A arte do rap”. Situando -o dentro d estética pós-moderna, ele analisa a mósica, o ritmo e a poesia, rememora sua bistória no Estados Unidos e estabelece um diálogo instigante sobre sua estética, pela análise de algun raps. Fundamental para entender a formação do rap e uma séne de valores imbuídos ness estilo musical. Sua análise filosófica de conteúdo é extremamente esclarecedora e acessível dá ao rap legitimidade como arte desafiadora de convenções artística
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SOBRE OS AUTORE Sheet Music
CARLOS RENN Letrista, produtor e jornalista. Tem parcerias com Arrigo Barnabé, Chico Césa Gilberto Gil, Lenine, Rita Lee e Tom Zé. Já teve músicas gravadas por esses e outro intérpretes, como Gal Costa, Maria Bethânia e Tetê Espíndola. E autor de Co/e Port cancões, versões (Paulicéia, 1991) e co-autor do livro Gilberto Gil: todas as letras (Cia. das Letra 1996). Produziu o CD Co/e Porter e Geoege Gershwin: canções, versões (Geléia Geral, 2000), co versões suas cantadas por nomes da MPB, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Soares, Cássia Eller, Zélia Duncan, Sandra de Sá, Ed Motta e Múnica Salmaso. Criou a sér de sites Os inventores da música brasileira, para o UOL. Produziu um CD com musicalizaçõe de trechos do livro A canção do divino mestre, de Rogério Duarte. Escreve eventualmen sobre música popular em jornais (como Folha de S.Paulo) e revistas. Dá palestras, cursos oficinas de canção popular.
JANAINA ROCH
Jornalista e co-autora do livro Hib hop: aperiftriagrita (Fundação Perseu Abramo, 2001). F epórter do Caderno 2 (O Estado de S . Paulo) de 1998 a 2001. É autora da pesquisa d documentário VinteDe de Tata Amaral e Francisco Cesar Filho, produzido e 2001. Escreveu para o jornal Valor Econômico e para as revistas Carta Capital e (publicação mensal do Sesc São Paulo). Foi ra-geral da Coordenadoria Especial d Juventude da Prefeitura do Município de São Paulo, órgão criado na gestão de Mar Suplicy, e responsável pela construção politicasa Preview públicas para os jovens da cidade. You'rede Reading Unlock full access with a free trial.
MARIA ALICE AMORI
Jornalista e pesquisadoraDownload na área de literatura popular. Pós- graduada em teor With Free Trial literária, pela UFPE. Tem trabalhos publicados, no campo do jornalismo cultural, em periódicos de Pernambuco, a exemplo do Jornal do Commercio, Diario de Pernambuco, revis Continente Turismo, Suplemento Cultural. Publicou, recentemente, um ensaio intitulad Literatura popular, num encarte especial sobre a cultura pernambucana, veiculado no Jornal Commertio. Lança, com o pesquisador Roberto Benjaniin, o livro Carnaval: cortejos e improvis (Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2002), em que fala sobre a poesia improvisad presente nas brincadeiras carnavalescas da Zona da Mata Norte do estado. Sign up to vote on this title
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PAULO FREIR
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Violeiro e escritor. Pertence à nova geração de instrumentistas que está trazendo viola do sertão para as salas de concerto. Apaixonado pelo romance Grande sertão: veredas,
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