MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS COORDENAÇÃO DO MESTRADO ACADÊMIO EM LETRAS Disciplina: Literatura, Cinema e Sociedade RESPONSÁVEIS PELO FICHAMENTO E CONDUÇÃO DA DISCUSSÃO: Maria Fátima Paula dos Santos Area de Concentração: Estudos Literários Linha de Pesquisa: Literatura, cultura e sociedade Carga Horária: 45 horas Período: 2017.1 BENJAMIN, Walter.Magia e Técnica, Arte e Política.3ª.ed.São Paulo.Editora brasiliense. Obras Escolhidas. Volume 1. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. Prefácio de Jeanne Marie Gagnebin, 1987.
Tema: O narrador 1
Tarefa do Tradutor constitui referência incontornável
SOBRE O AUTOR
(Berlim, 15 de Walter Benedix Schönflies Benjamin (Berlim, 15 julho de 1892. de 1892. Portbou, Portbou, fronteira da França com a
dos estudos literários. Walter
Benjamin
nasceu
no
seio
de
uma
Espanha, em 27 em 27 de setembro de 1940) de 1940) foi foi um ensaísta, um ensaísta,
família judaica, família judaica, em em 1892. Filho de Emil Benjamin e de
crítico
Paula Schönflies Benjamin, comerciantes de produtos
literário,
franceses. Na adolescência Benjamin, perfilhando
tradutor, filósofo tradutor, filósofo e sociólogo judeu sociólogo judeu alemão alemão . Associado à Escola à Escola de Frankfurt e à Teoria à Teoria Crítica, foi Crítica, foi fortemente inspirado tanto por autores marxistas, autores marxistas, como Bertolt
Brecht, Brecht,
como
pelo místico pelo místico
judaico Gershom Scholem. Scholem. Conhecedor profundo da
ideais socialistas, ideais socialistas,
participou
no Movimento
da
Juventude Livre Alemã, Alemã, colaborando na revista do movimento. Nesta época nota-se uma nítida influência de Nietzsche de Nietzsche em suas leituras.
língua e cultura francesas, traduziu para o alemão
Em 1915, conhece Gershom conhece Gershom Gerhard Scholem de quem
importantes
como Quadros
se torna muito próximo, e tem gosto comum pela arte, pela arte, e e
Baudelaire e Em Busca do
pela religião judaica que estudavam. Em 1919, defende
de Marcel Proust. Proust. O seu trabalho,
tese de doutorado, A Crítica de Arte no Romantismo
obras
Parisienses de Charles Tempo Perdido
combinando
ideias
aparentemente
antagónicas
Alemão,
que foi aprovada e recomendada para
do idealismo alemão, do materialismo dialético e do
publicação. Em 1925, Benjamin constatou que a porta
misticismo judaico, constitui um contributo original
da vida acadêmica estava fechada para ele, tendo a sua
para a teoria estética. teoria estética. Entre as suas obras mais
tese de livre-docência de livre-docência Origem do Drama Barroco
conhecidas, contam-se A Obra de Arte na Era da Sua
Alemão sido
Reprodutibilidade Técnica
(1936), Teses Sobre o
rejeitada pelo Departamento de Estética
da Universidade da Universidade de Frankfurt.
Conceito de História (1940) e a monumental e
Nos últimos anos da década da década de 1920, o 1920, o filósofo judeu
inacabada Paris, Capital do século XIX, enquanto A
interessa-se pelo marxismo, pelo marxismo, e juntamente com o seu companheiro de então, Theodor então, Theodor Adorno, Adorno, aproxima-se
MESTRADO ACADÊMICO EM LETRAS / CCHL Campus Universitário Petrônio Portela Bairro Ininga – Teresina – Piauí – CEP 64049-550 Telefones: (86) 3215-5794 / 3215-5942 – E-mail:
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da filosofia de Georg Lukács. Por esta altura e nos anos
“
seguintes publica resenhas e traduções que lhe trariam
em morreu em 1895, em Petersburgo. Por seus
reconhecimento como crítico literário, entre elas as
interesses e simpatias pelos camponeses, tem certas
séries sobre Charles Baudelaire.
afinidades com Tolstoi, e por sua orientação religiosa,
Refugiou-se na Itália de 1934 a 1935. Neste momento cresciam as tensões entre Benjamin e o Instituto para Pesquisas Sociais, associado ao que ficou conhecida como Escola de Frankfurt, da qual Benjamin foi mais um inspirador do que um membro.
Nikolai Leskov, nasceu em 1831 na província de Orjol
com Dostoievski. Mas os testos menos duradouros de sua obra são exatamente aqueles que tais tendências assumem uma expressão dogmática e doutrinária – os primeiros romances. A significação de Leskov está em suas
narrativas,
que
pertence
a
uma
fase
posterior.”(W.B.197) Em 1940, ano da sua morte, Benjamin escreve a sua última obra, considerada por alguns como o mais
A partir do 1º parágrafo, Benjamin explicita que as
importante texto revolucionário desde Marx; por outros,
experiências vivências na figura do narrador estavam em
como um retrocesso no pensamento benjaminiano:
baixa, pois “ a arte de narrar está em vias de
as Teses Sobre o Conceito de História .
extinção”.(W.B.197)
A sua morte, desde sempre envolta em mistério, teria ocorrido durante a tentativa de fuga através
Como isso aconteceu?
dos Pirenéus, quando, em Portbou, foi parado, junto do “
Temendo ser entregue à Gestapo, teria cometido o
continua até hoje. No final da guerra, observou-se que
suicídio ou overdose de morfina. Tomou pílulas no hotel
os combatentes voltavam mudos do campo de batalha
em que o grupo de judeus que acompanhava aguardava
não mais ricos, e sim mais pobres em experiência
a deportação. No dia seguinte, porém, as autoridades
comunicável. E o que se difundiu dez anos depois, na
espanholas permitiram a passagem do grupo.
enxurradas de livros sobre a guerra, nada tinha em
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Walter_Benjamin.
comum com a experiência transmitida de boca a boca. ”(W.B.198)
Acessado em 23/04/2017.
2
Com a guerra mundial tornou-se manifesto até
seu grupo de refugiados, pela polícia espanhola.
Síntese das ideias principais do texto: O NARRADOR
Como ocorria a presença do narrador? “A experiência que passa de pessoa a pessoa é
a fonte a
Apresentação da obra:
que recorreram todos os narradores. E, entre as
Neste ensaio Benjamim descreve a figura no narrador
narrativas escritas, as melhores são as que menos se
em Nikolai Leskov, o qual faz considerações sobre a
distinguem das histórias orais contadas pelos inúmeros
ação de narrar no tempo distante que cada momento se
narradores anônimos. (... )A figura do narrador só se
distância mais.
trona plenamente tangível se temos presentes esses dois grupos(... )camponês sedentário e outro pelo marinheiro
Quem foi Nikolai Leskov?
comerciante.” ( W.B.198 -199)
O narrador em Leskov: MESTRADO ACADÊMICO EM LETRAS / CCHL Campus Universitário Petrônio Portela Bairro Ininga – Teresina – Piauí – CEP 64049-550 Telefones: (86) 3215-5794 / 3215-5942 – E-mail:
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“Leskov está à vontade tanto na distância espacial como
ensinamento – talvez o melhor exemplo seja Wilhelm
na distância temporal.”(W.B. 199)
Meisters Wanderjahre (Os anos de peregrinação de
Leskov viajou pela Russa a serviço de uma firma, assim
Wilhelm Meisters) – essas tentativas resultaram sempre
essas viagens enriqueçam suas experiências de mundo
na transformação da própria forma romanesca ”.
como seus conhecimentos sobre as condições de russas
(W.B.202)
e funcionamentos de seitas rurais, o que deixou traços em suas narrativas.
MINHA EXPLICAÇÃO: Com base na citação verificamos a perda da essência do
“O conselho tecido na sub stância viva da existência tem
narrador no romance, pois mesmo alguns autores
um nome: sabedoria. A arte de narrar está definhando
tentando colocar algumas de suas experiências não são
porque a sabedoria – o lado épico da verdade – está em
suficientes para marcar as peculiaridades da oralidade.
extinção”. ( W.B.200 -201)
CRISE NO ROMANCE E A NOVA FORMA DE A MORTE NA NARRATIVA DE TRADIÇÃO
COMUNICAÇÃO
ORAL
(...), no alto capitalismo, é um dos instrumentos mais importantes – destacou-se uma forma de comunicação
“O primeiro indício da evolução na morte da narrativa é
que, por mais antigas que fossem suas origens nunca
o surgimento do romance no início do período moderno.
havia influenciado decisivamente a forma épica. Agora
O que separa o romance da narrativa (e da epopeia no
ela exerce essa influência. Ela é mais ameaçadora e, do
sentido estrito) é que ele está essencialmente vinculado
resto, provoca uma crise no próprio romance. Essa nova
ao livro.”(W.B.2010
forma de comunicação é a informação.”(W,B. 202)
MINHA EXPLICAÇÃO:
MINHA EXPLICAÇÃO:
Com invenção da impressa a partir do início da
Continuando a discussão percebe-se nessa passagem do
modernidade as narrativas orais caíram em desusos, pois
texto de W.B. que o romance entra em crise a partir da
o romance começa a ganhar espaço no mundo. Na
alta do capitalismo, assim torna-se arcaico, e a
narrativas, o narrador pode relatar suas experiências a
informação é a nova forma de comunicação, mas ao
partir de outras, como por exemplo dar um conselho.
mesmo tempo termina perdendo sua essência, porque os
Enquanto no romance não existe essa preocupação,
fatos narrados nas notícias do mundo inteiro já
porque o indivíduo é isolado, não pode falar sobre suas
chegavam acompanhados de explicações. Dessa forma
preocupações ou emitir um conselho.
não apresentavam características de uma narrativa, porque “(...) quase na da
“O primeiro
grande livro do gênero, Dom Quixote,
mostra a grandeza e alma, da coragem e a generosidade
do que acontece está a serviço
da narrativa, e quase tudo está a serviço da informação.”
( W.B.203)
de um dos mais nobres heróis da literatura são totalmente refratárias ao conselho e não contêm a menor
A narrativa para Leskov
centelha de sabedoria. Quando no correr dos séculos se
“Metade da arte narrativa está em evitar explicações.
tentou ocasionalmente incluir no romance algum
Nisso Leskov é magistral.” (W.B.203)
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Por quê? A exemplo, o texto “A fraude” de Leskov , a narrativa se apresenta de forma extraordinária, permitindo ao leitor de interpretar a história como quiser, assim o episódio narrado atinge seu ápice que não existe na informação. Para Benjamim pois a informação só tem valor quando é nova, enquanto a narrativa conserva suas forças por muito tempo e ainda é capaz de se desenvolver.
MEMORIZAÇÃO DAS NARRATIVAS Nada facilita mais a memorização das narrativas que
“
aquela sóbria concisão que as salvas da análise psicológica”.(W.B.2014)
Por quê? Segundo Benjamin quanto maior a naturalidade com que o narrador renuncia às sutilezas psicológicas, mais facilmente a história se gravará na memória do ouvinte, e será assimilada permitindo contá-las um dia. Mas assim como alguns pássaros estão em vias de extinção, a arte de narrar (narrador) também porque essa ação não é mais comum entre as pessoas. “ A narrativa, que durante tanto tempo floresceu num
meio de artesão- no campo, no mar e na cidade- é ela própria, num certo sentido, uma forma artesanal de comunicação”.(W.B.205)
Por quê? Benjamin diz que a narrativa tem seu valor dentro da ideia da mor te, contando suas
experiências
em
que
mundo
essa ideia de
finitude perde valor, o narrador, que antes narrava suas experiências no leito de morte, não tem
mais
tanta importância dentro dos lares e, consequentemente , a narrativa também não. É da morte que o narrador retira sua autoridade. Dessa forma interfere na extinção da narrativa, uma vez que a autoridade daquele que vai morrer e se recorda da vida, está na origem da narrativa
A
FORMA
ÉPICA,
.
HISTORIOGRAFIA,
CRÔNICAS E SUAS RELAÇÕES COM A NARRATIVA “Cada vez
necessário
se pretende estudar uma certa forma épica é investigar
a
relação
entre
essa
e
historiografia. Podemos ir mais longe e perguntar se a historiografia
não
apresenta
uma
zona
de
indiferenciação criadora com relação a todas as formas épicas. Nesse caso, a história escrita se relacionaria com as formas épicas como a luz branca com as cores do espectro. (...) entre todas as formas épicas a crônicas é aquela cuja inclusão na luz pura e incolor da história
MINHA EXPLICAÇÃO: A narrativa não estava centrada em transmitir o puro em si de uma coisa narrada, mas contar experiências vivenciadas que foram transformadas em histórias. Segundo W.B. Leskov considerava essa arte artesanal – a narrativa - como manual. Dessa forma a literatura também seria um trabalho manual e não uma arte.
DA MORTE À AUTORIDADE “A morte é sanção de tudo o que o narrador pode contar.
escrita é mais incontestável.
MINHA EXPLICAÇÃO: Resumido: Para estudar uma certa forma épica é preciso investigar e entender a relação entre essa forma e a historiografia. Na crônica, quem escreve a história é o historiador, e quem a narra, o cronista, pois esse é o narrador da história. Logo os precursores da histografia modernas foram os cronistas medievais.
É da mor te que ele deriva sua autoridade.” (W.B. 206) MESTRADO ACADÊMICO EM LETRAS / CCHL Campus Universitário Petrônio Portela Bairro Ininga – Teresina – Piauí – CEP 64049-550 Telefones: (86) 3215-5794 / 3215-5942 – E-mail:
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RELAÇÃO ENTRE OUVINTE E NARRADOR “ Não se
percebeu devidamente a relação ingênua entre
o ouvinte e o narrador é dominada pelo interesse em conservar o que foi narrado. Para o ouvinte. Para o ouvinte imparcial, o importante é assegurar a possibilidade da reprodução. A memória é a mais épicas de todas as faculdades. Somente uma memória abrangente permite a poesia épica apropria-se do curso das coisas, por um lado resignar-se, por outro lado, com o desaparecimento dessas coisas, com o poder da morte. ”(W.B.210)
CONCLUINDO Quem escuta uma história está em companhia do narrador, e quem lê também partilha dessa companhia. Enquanto o leitor do romance é solitário, mais solitário que qualquer outro leitor, pois apodera com ciúmes da mateira de sua leitura. Esse leitor procura homem que possa ler o sentido da vida. O narrador tem suas raízes no povo, principalmente nas camadas artesanais. Nesse perspectiva destaca-se a figura do narrador camponês(sedentário) e outro pelo marinheiro comerciante. O autor termina o texto retomando a importância da figura do narrador: “o narrador figura entre os mestres e
os sábios. Ele sabe dar conselhos: não para alguns casos, como o provérbio, mas para muitos casos, como o sábio. Pois pode recorrer ao acervo de toda uma vida. (...)O narrador assimila à sua substância mais intima aquilo que sabe ouvir dizer. Seu dom é poder contar sua vida.”(W.B. 221)
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