GOHN, Maria da Glória Universidade Estadual de Campinas Universidade Nove de Julho
FICHAMENTO – MOVIMENTOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA CONTEMPORANEIDADE
Os espaços educativos não se limitam na educação escolar, encontram-se também na participação social em movimentos e ações coletivas, que produz aprendizagens e saberes. A busca dessa analise de saberes parte das articulações que os movimentos estabelecem na prática cotidiana coligada coli gada a conjuntura política, econômica e sociocultural do país, necessárias para compreender os fatores que levam a aprendizagem e os valores da cultura política que se constroem no processo intersubjetivo. A relação do movimento social e educação partiu de uma interação e atuação de sujeitos de ações coletivas que ultrapassavam o âmbito dos locais de trabalho, bem como atuavam na periferia, como moradores, demandando ao poder público o atendimento das suas necessidades para sobrevivência no mundo urbano. Os movimentos fizeram o papel educativo para os sujeitos que constituíam. O movimento social é constituído por ações coletivas de caráter sociopolítico e cultural que viabiliza formas distintas dos sujeitos de se organizarem, que adotam diferentes estratégias que oscilam de simples denúncias para mobilizações, marchas, pressão direta até as pressões indiretas. Um exemplo atual de um movimento social surgem por meio de redes sociais, locais, regionais, nacionais, nacionais, internacionais, meios de comunicação e informação (internet), denominado como agir comunicativo. Estes movimentos são classificados como o pulsar (coração) da sociedade, pois expressam a energia de resistência ao velho que oprime e constrói um novo que liberta. Os movimentos sociais criam características básicas, possuem identidade, tem opositor, articulam ou fundamentam-se em um projeto de vida da sociedade, contribuem para organizar e conscientizar a sociedade, lutam contra a fome, a exclusão, por novas culturas políticas de inclusão e pelo reconhecimento r econhecimento da diversidade cultural. Igualdade é uma tematização da justiça social, a fraternidade e a liberdade também fazem parte e redefinem a esfera pública. No começo desse século, foi ampliado os movimentos que que ultrapassaram as fronteiras da nação, são transnacionais. Novos problemas foram pautados para os temas
sociais da contemporaneidade, como se organizam, utilizando-se de meios de comunicação e informação modernos. Preocupam-se com a formação de seus militantes, pela experiência direta, e não tanto com a formação em escolas, com leituras e estudos de textos. Com a globalização econômica, os movimentos propõem outro tipo de globalização, alternativa baseada no respeito às diferentes culturas locais. Expressa-se nas redes de defesa dos direitos humanos, na luta contra a fome e defesa de frentes de produção alimentar, e não der armas, na defesa do meio ambiente, na luta pela paz, contra exploração e trabalho infantil etc. As demandas sociais são postas com direitos, abrindo espaços à participação cidadã via ações cidadãs, em contraposto há perdas, principalmente de autonomia dos movimentos e o estabelecimento de estruturas de controle social de cima para baixo, nas políticas governamentais e movimentos sociais. Na área da educação, no sentido da escola básica, tem sido procedente de protestos de grandes dimensões, devido ao potencial dos processos educativos e pedagógicos para o desenvolvimento de formas de sociabilidade, constituição e ampliação de cultura política. O fato inegável é que os movimentos sociais dos anos 70/80, no Brasil, contribuíram decisivamente, via demandas e pressões organizadas, para conquista de vários direitos sociais, que foram inscritos em leis na nova constituição federal de 1988. A ética na política foi um movimento no inicio dos anos 90, teve grande importância histórica, pois contribuiu para a deposição – via processo democrático – de um presidente da república. Sendo assim, as políticas neoliberais foram avançando e com elas foram surgindo as contra reformas estatais, a ação da cidadania contra a fome, movimento dos desempregados, ações de aposentados ou pensionistas e sistema previdenciário. Essas lutas de categorias profissionais emergiram no contexto de crescimento da economia informal, que surgiram como respostas à crise socioeconômica, atuando mais com grupos de pressão do que com movimentos sociais estruturados. Os jovens também criaram inúmeros movimentos culturais, especialmente na área da música, enfocando temas de protesto, pelo rap, hiphop, etc. Como os 3 mais importantes movimentos sociais no Brasil nos anos 90: indígenas, funcionários públicos – especialmente na área da educação e saúde – e dos ecologistas. Os indígenas buscam a luta pela demarcação de suas terras e venda de seus produtos a preços justos e em mercados competitivos. Os funcionários públicos se
organizam em associações e sindicatos contra reformas governamentais que progressivamente retiram direitos sociais, reestruturam as profissões e arrocham os salários em nome da necessidade dos ajustes fiscais (nos dias atuais, o debate à reforma da previdência). Os ecologistas proliferaram após a conferencia eco-92, dando origem a diversas organizações não governamentais (ONGs). Há um novo cenário dos movimentos sociais na atualidade do Brasil, novas demandas, novas identidades, novos repertórios. Surgem movimentos que ultrapassam fronteiras da nação (transnacionais), movimentos identitários, comunitários, etc. surgem também movimentos pela moradia, contra violência urbana e demandas pela paz, mobilização e organização popular, movimentos em torno da questão da saúde (SUS) movimentos de demandas nas áreas do direito, mobilizações contra desemp rego, questões religiosas e diferentes crenças, mobilizações do sem-terra, movimentos contra políticas neoliberais etc. O leque de propostas e ações é amplo, certamente há grupos sérios como há também um grande número de propostas meramente integradoras, que buscam rearticular a coesão social. A aprendizagem no interior de um movimento social, durante e depois de uma luta, são de múltiplas, tanto para o grupo como para indivíduos isolados. Sendo elas, algumas articuladas: Aprendizagem prática: como se organizar, como participar, como se unir, que eixos escolher. Aprendizagem teórica: quais os conceitos chave que mobilizam as forças sociais em confronto (solidariedade, empowerment, autoestima), como adensá-los em práticas concretas. Aprendizagem técnica instrumental: como funcionam os órgãos governamentais, a burocracia, seus trâmites e papéis, quais as leis que regulamentam as questões em que atuam etc. Aprendizagem política: quais são seus direitos e os de sua categoria, quem é quem nas hierarquias do poder estatal governamental, quem cria obstá culos ou usurpa seus direitos etc. Na escola ou em processos de alfabetização com jovens e adultos, pode-se observar o poder da alfabetização, mas concordamos com Ricci quando afirma: “esta compreensão política do seu poder, que Paulo Freire se referia. Mas esta ‘politização’ necessária do alfabetizando possui uma peculiaridade. A alfabetização e o ensino não podem adotar como função a organização, mas ser um meio para este fim”
Aprendizagem cultural: quais elementos constroem a identidade do grupo, quais suas diferenças, suas diversidades, as adversidades culturais que têm de enfrentar, qual a cultura política do grupo (seu ponto de partida e o processo de construção ou agre gação de novos elementos a essa cultura) etc. Aprendizagem linguística: refere-se à construção de uma linguagem comum que possibilita ler o mundo, decodificar temas e problemas, perceber/descobrir e entender/compreender seus interesses no meio de um turbilhão de propostas que se defrontam. Com essa linguagem, criam uma gramática própria, com códigos e símbolos que os identificam. Aprendizagem sobre a economia: quanto custa, quais os fatores de produção, como baixar custos, como produzir melhor com custo mais baixo etc. Aprendizagem simbólica: quais são as representações que existem sobre eles próprios – demandatários, sobre o que demandam, como se autor representam, que representações ressignificam, que novas representações criam. Aprendizagem social: como falar e ouvir em público, hábitos e comportam entos de grupos e pessoas, como se portar diante do outro, como se comportar em espaços diferenciados. Aprendizagem cognitiva: a respeito de conteúdos novos, temas ou problemas que lhes dizem respeito, criada a partir da participação em eventos, observação, informações transmitidas por assessorias etc. Aprendizagem reflexiva: sobre suas práticas, geradora de saberes. Aprendizagem ética: a partir da vivência ou observação do outro, centrada em valores como bem comum, solidariedade, compartilhamento, valores fundamentais para a construção de um campo ético-político. Como meta geral é preciso alterar a cultura política da nossa sociedade, ainda fortemente marcada pelo clientelismo, fisiologismo e por diversas formas de corrupção, contribuir para o fortalecimento de uma cultura cidadã que respeite os direitos e deveres dos indivíduos e das coletividades.
NOME: LANA PADOVINI SEVERINO