13 MOVIMENTOS SOCIAIS Valéria Pilão1
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or que há pessoas que teimam em se organizar e propor mudanças para a sociedade? Você já ouviu alar em movimentos sociais, não é? Anal, o que são os mo vimentos sociais, e mais, qual a importância deles para nossa vida cotidiana?
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Colégio Estadual Paulo Leminski – Curitiba - PR
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Na história contemporânea temos diversos exemplos de ormas de organizações coletivas, reivindicando as mais dierentes coisas ou ações caracterizando o que é um movimento social. Como exemplo, citamos o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), o Fórum Social Mundial (FSM), o movimento hippie, movimento eminista, o movimento estudantil, o movimento dos sem-teto, o movimento pela “Tradição, Família e Propriedade” (TFP), os movimentos anti-capitalistas, dentre outros. A lista de movimentos sociais existentes é longa, isso pensando apenas nos séculos XX e XXI. É pelo signicado social e político e, ainda, pela quantidade de mo vimentos sociais existentes que tal tema é de extrema importância para a Sociologia. Vamos por partes...
É importante dizer que abordaremos a temática dos movimentos sociais sempre pensando na orma de organização social atual em que vivemos. Portanto, estaremos tratando dos movimentos vinculados ao sistema capitalista. Quer dizer, priorizaremos aqueles movimentos sociais que nascem de demandas próprias desta orma de organização social. As cidades, organizadas na orma que conhecemos hoje, desenvol veram-se a partir do século XII, ligadas às necessidades dos homens medievais de realizarem trocas comerciais. Mas, no entanto, sabendo que durante a Idade Média a orma de organização social dava-se principalmente dentro dos eudos, essas cidades ainda não assumiam a importância que as mesmas possuem numa sociedade industrial. Com a consolidação do capitalismo a partir do século XVIII, continuou existindo uma separação entre campo e cidade, mas tal distinção não criava um isolamento do campo, ao mesmo tempo em que, o desenvolvimento e o progresso não se restringiam à cidade. Em suma, estamos tratando da importância do rural e do urbano para o desenvolvimento capitalista, que cria duas realidades diversas, mas que, no entanto, nunca deixam de estar vinculadas e apresentando novas necessidades. Considerando que a sociedade capitalista tem sua organização e sua dinâmica marcadas pelas disputas e confitos entre as classes sociais presentes nela, principalmente, entre as duas classes undamentais, a burguesia e os trabalhadores, boa parte dos movimentos sociais será motivada diretamente, por interesses de classe ou maniestará aspectos daquelas disputas como são os casos dos movimentos sindical, de camponeses, dos sem-teto. Já outros movimentos, como o eminista, os de juventude, o hippie, os ecológicos, podem ou não estar, tam-
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bém, motivados diretamente por “interesses de classe” de seus participantes. Ocorre, muitas vezes, de suas razões mais evidentes serem da ordem de outros interesses, como os ligados a lutas contra discriminações de gênero, étnicas, de geração ou culturais. Assim, na sociedade contemporânea, tanto quem vive nas zonas urbanas, como quem vive nas zonas rurais, organiza-se em torno de seus interesses particulares e orma os mais diversos movimentos sociais. Não negamos a dierença quanto ao ritmo de vida existente para quem mora no campo e para quem vive na cidade. Por exemplo: quem mora na cidade sempre se assusta, num primeiro momento, com os horários que as pessoas da zona rural acordam, almoçam e jantam, pois, na maioria das vezes, isso ocorre sempre mais cedo, em comparação à vida urbana. A comparação contrária também é verdadeira: quem sempre morou no campo ca alucinado com o número de pessoas nas ruas, com a quantidade de carros, de prédios e da corrida contra o tempo de quem vive nas cidades. Dierenças entre o campo e a cidade existem e, certamente vão muito além destes dois exemplos acima, mas há também um elemento que une essas duas ormas de vida aparentemente distintas: o ato de que tanto o trabalhador da cidade como o do campo e seus pequenos produtores, para obter a sua sobrevivência,submetem-se às regras e leis da produção de mais-valia. Os primeiros quando vendem sua orça de trabalho no mercado, os segundos quando têm a sua produção sujeitada às demandas e obrigações impostas pelas leis de mercado capitalista e da prioridade dos interesses dos capital urbano. Sendo assim, boa parte dos movimentos sociais que se organizam a partir desta realidade social nasce ou se relaciona, direta ou indiretamente, com questões ligadas à estrutura de classes e aos confitos de interesses entre as diversas classes e rações de classe. Isto pode ser observado, por exemplo, no movimento eminista, onde demandas pelo m do machismo estão ao lado de reivindicações pela redução da exploração no trabalho. O mesmo pode ser observado em movimentos como o dos negros no Brasil, onde a luta contra a discriminação por cor da pele está associada a demandas por emprego e escolaridade. Ou, ainda, quando se vê, no movimento social que luta por terra, surgir a organização das mulheres exigindo dos “homens sem-terra” tratamento igualitário dentro da organização do próprio movimento. Os movimentos caracterizam-se por reivindicações dierentes, mas a idéia do movimento social como orma de organização coletiva é extremamente importante neste sistema, pois é a partir deles que se consegue suprir determinadas necessidades dos mais diversos grupos.
Classes Sociais: com a consolidação do capitalismo segundo Karl Marx, estabeleceu-se o confito e a contradição, principalmente, entre os interesses de duas classes sociais undamentais neste sistema. Estamos alando da burguesia (composta pelos indivíduos que detêm os meios de produção e o capital) e do proletariado (classe trabalhadora que necessita vender a sua orça de trabalho em troca de salário, por não deter os meios de produção e capital).
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PESQUISA Pesquise como o modo de produção capitalista, ao longo do século XX, determinou as ormas de trabalho encontradas tanto no campo como na cidade, dierenciando-as, e traçando suas semelhanças.
Quando tratamos dos movimentos sociais encontramos diversas características gerais que permeiam a todos eles, uma delas, por exemplo, é o ato de que estes demonstram a possibilidade de atuarem na História de modo a “determinar” como será o seu desenvolvimento. Estamos alando que os indivíduos tornam-se sujeitos históricos quando organizados de orma coletiva e com objetivos em comum, e, portanto, apesar de não terem certezas sobre o uturo do movimento, podem lutar (seja qual or a reivindicação e o projeto) para a inclusão, exclusão ou transormação radical da sociedade. Esta orma de movimento é muito importante numa sociedade como a que vivemos, pois políticas públicas , tais como: econômicas , sociais , educacionais , trabalhistas , dentre tantas outras, podem ser modicadas, quando indivíduos que isoladamente não possuiriam um grande poder de transormação organizam-se, e com isso, conseguem intererir na sociedade, transormando-a, ou até, mantendo-a de orma a garantir seus interesses. Podemos citar, como exemplo de maniestações sociais que extrapolam a tentativa de reormas e desejam uma transormação social radical da sociedade, a Revolução Cubana, que surge como uma maniestação contrária ao regime ditatorial presente no país, e acaba por culminar num governo socialista, a partir de 1959. Inúmeros exemplos poderiam ser citados para mostrar o homem enquanto sujeito histórico. A partir do momento em que no Brasil temse o movimento social dos negros buscando a sua inclusão, uma série de beneícios oram por este grupo conquistados, como por exemplo: as políticas armativas (sobre este assunto ver mais no “Folhas” sobre cultura), isso representa um processo de transormação na organização da sociedade, que para acontecer necessitou que o indivíduo compreendesse seu papel na sociedade como sujeito histórico. Portanto, armar que a sociedade é desta ou daquela orma, e que não adianta tentar intererir, é reproduzir um pensamento que na verdade atende aos interesses daquelas pessoas, grupos ou classes sociais que se encontram privilegiadas nas relações sociais, já que os movimentos sociais estão presentes na História para demonstrar exatamente o contrário: quando os indivíduos organizam-se coletivamente muito da estrutura social pode ser alterada.
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A princípio, abordaremos este tema de orma mais teórica para melhor denir o que é, quando, como e porque se desenvolvem os mo vimentos sociais. Os movimentos sociais apresentam-se ao longo da História de di versas maneiras e por diversos motivos mas, como se verá em seguida, há algumas características em comum a todos eles, por exemplo: em todo movimento social há um princípio norteador.
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O que seria este princípio norteador?
Trata-se de um projeto construído coletivamente, na maioria das vezes buscando a solução de um problema, a transormação de uma situação, ou ainda, o retorno a uma situação anterior, na qual os indivíduos entendem que havia uma melhor condição para suas vidas. Os tipos de projetos dos movimentos sociais variam, principalmente, a partir do posicionamento quanto a características do status quo. Alguns movimentos ligados à luta por terra e por moradia podem pôr em dúvida a própria lógica do sistema social, questionando, por < Assentamento João Batista - Pará exemplo, a orma da propriedade e de distribuição da riqueza social. Outros movimentos sociais, como o eminista, os de juventude, os étnicos, podem pretender, primeiramente, modicar valores e comportamentos sociais. É o que ocorre quando movimentos sociais eministas “pedem” tratamento igual para as mulheres no mercado de trabalho, mesmo sem questionar, exatamente, o trabalho assalariado como orma de exploração do trabalho. Para uma melhor compreensão do que está sendo dito acima podemos usar como exemplo as reivindicações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Este tem como projeto a realização da reorma agrária que signica o m dos latiúndios e a possibilidade da existência de pequenas propriedades rurais, nas quais os menos a vorecidos, nesta sociedade capitalista, poderiam estabelecer-se de orma a criarem seu sustento através de uma agricultura de subsistência ou organizada em cooperativas. É importante salientar que a questão da terra no Brasil sempre oi uma das bandeiras dos movimentos sociais, pois em nossa estrutura agrária a concentração de terras e a existência de latiúndios estão presentes desde o início de nossa colonização. Isto porque nossa ormação social deu-se em dependência de outros países, consequentemente, nossa produção agrária também.
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Capitanias Hereditárias: orma inicial da distribuição das terras brasileiras. Neste modelo, as terras eram dadas, pela coroa portuguesa, para quem tivesse a possibilidade de investimento e quisesse se aventurar por aqui.
Para elucidar o que estamos dizendo, podemos citar a criação das Capitanias Hereditárias — cuja produção era destinada ao mercado português; um exemplo disso na atualidade é a produção da soja e da laranja que também é destinada ao mercado internacional. Assim, temos como característica estruturante em nosso país, a subordinação de parte importante da produção agrícola a uma produção em larga escala e às necessidades do exterior, o que leva a um modelo baseado na utilização de grandes propriedades rurais, produzindo uma pequena variedade de produtos. Podemos ter uma maior clareza desse processo no Brasil quando utilizamos algumas inormações obtidas a partir dos dados cadastrais do INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reorma Agrária) de 1992, a partir dos quais ca claro que a concentração de terra no Brasil só tem aumentado. Conorme podemos observar no gráco abaixo, desde a década de 1960, vem aumentando a porção de terras abarcadas pelas propriedades com mais de 1000 hectares e, em contrapartida, diminuindo aquela ocupada pelas propriedades com menos de 100 hectares. Para acilitar a visualização da imensidão de terras de que estamos tratando, cada 1 hectare equivale a 10.000 m2. Porcentagem sobre o total de terras do Brasil 55,2
53,3 47
45,1
2 9 9 1 , A R C N I o d s o d a d e d r i t r a p a o d a t n o m
20,4 16,4
1966
1972
16,5
1978
15,4
1992
propriedades com menos de 100 hectares propriedades com mais de 1000 hectares
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ATIVIDADE O que aconteceu no período de 1972 a 1978 que acelerou a concentração undiária brasileira? Isto ocorreu em todas as regiões? Por quê? Quais as conseqüências sociais desse processo no campo e nas cidades?
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Essa concentração undiária causa sérios problemas. Os pequenos produtores não conseguem obter rendimentos signicativos, pois lhes alta o essencial – a terra. Considerando que esses produtores são a maioria e que empregam grande parte da orça de trabalho do campo, podemos entender muitos atos, como as precárias condições de vida da maioria da população rural e a venda de terras por parte dos pequenos proprietários para os produtores maiores ou para as grandes empresas. Em suma, a questão da terra torna-se uma bandeira para os movimentos sociais, pois sua concentração transorma-se em um problema num país de grandes dimensões, e com uma população sem acesso à terra e sem condições de ter acesso àquilo que ela produz. No caso dos movimentos sociais que lutam pela mudança na estrutura agrária, ca evidente a presença de “ interesses de classe” em jogo. Por exemplo, trabalhadores do campo X grandes proprietários. Conhece-se também, movimentos sociais do campo organizados por pequenos proprietários, que buscam, às vezes, melhores políticas estatais para suas necessidades (crédito, política de preços mínimos) ou se organizam para enrentar ameaças de desapropriação por causa da instalação de barragens e usinas de energia em suas terras. Aqui, já se tem um confito de classes direto. O enrentamento se dá entre pequenos proprietários e o Estado. Vê-se, portanto, que há movimentos cujas motivações e propostas visam mais a deesa do status quo, conorme já observado anteriormente Na atualidade, um movimento que pode explicar de maneira clara o que são essas organizações coletivas, que não pensam na organização social de orma a transormá-la e sim de modo a voltar a ormas anteriores são os movimentos neonazistas, também conhecidos como skinheads. Não só no Brasil, mas por todo mundo, crescem as maniestações óbicas a dierentes culturas, nacionalidades ou etnias; especicamente aqui, há movimentos oriundos da ideologia nazista, que chegam a tratar com violência indivíduos que se vestem ou comportam-se dierentemente do eles denem como correto. Há um grupo na grande São Paulo chamado “Carecas do ABC”, cuja atividade coletiva chegou ao extremo da agressão ísica contra outros jovens como os de grupos punks. Encontra-se, também entre os “Carecas”, o preconceito contra os negros, os homossexuais e os nordestinos. Na cidade de Curitiba, capital do estado do Paraná, recentemente (set/2005) um grupo pregando ‘o orgulho branco’ agrediu uma pessoa negra na região denominada setor histórico da cidade. Suas atitudes
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não pararam por aí, panfetos cujo conteúdo propunha o preconceito aos homossexuais e aos negros oram axados nos postes do local.
Como já adiantamos atrás, temos um terceiro tipo de movimento social que não só luta pela transormação de uma dada situação, mas também tem como objetivo a transormação radical da orma de organização da sociedade. O que estamos dizendo, neste caso, é que o coletivo organiza-se a partir de uma necessidade cotidiana, como, por exemplo, melhores condições de trabalho; mas quando o movimento começa a desenvol ver seus objetivos transormam-se, a luta intensica-se, e inicia-se uma tentativa de mudança radical do sistema. Certamente, o que estamos descrevendo não é nenhuma receita de como o movimento social deve se organizar para se tornar revolucionário, na verdade, para que tal dimensão possa ser atingida há atores sociais e históricos do momento vivenciado que contribuem para tal ormação, portanto, há uma indeterminação histórica, isso quer dizer que há uma impossibilidade, a priori de armar o que acontecerá ou não no uturo, se esse caráter revolucionário pode ocorrer ou não. Esses movimentos geralmente organizam-se a partir de uma reivindicação local e especíca, mas, à medida que se desenvolvem, começam a adquirir maior expressão social, extrapolando suas reivindicações iniciais, o que exige do próprio movimento um novo projeto e uma nova proposta para o uturo. Estamos dizendo agora que, se por um lado, é possível pensar em movimentos que querem alterar algumas características da realidade social, outros pedem uma volta a antigas ormas de pensamento preconceituosas e autoritárias, e ainda, existem os movimentos sociais que criam a possibilidade de uma nova orma de organização social, na tentativa de superarem suas necessidades.
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PESQUISA Realize uma pesquisa buscando um movimento social existente no Brasil que represente uma destas três ormas descritas acima, caracterizando-o e compreendendo os motivos que os levaram a deenderem, suas reivindicações. Para realizar esta pesquisa sugerimos que procure um movimento que exista na sua região, seja ela rural ou urbana.
Desta orma, trataremos um pouco mais cuidadosamente dos movimentos sociais que apresentam pouca possibilidade de ruptura (transormação radical da sociedade) com a realidade social posta, mas que de alguma orma apresentam alternativas. Um bom exemplo para estas ormas de movimento encontra-se no Fórum Social Mundial, realizado desde 2001, que já ocorreu no Brasil, em Porto Alegre, e na Índia, em Mumbai. O Fórum Social Mundial (FSM) oi idealizado e criado a partir da iniciativa de alguns brasileiros que desejavam desenvolver uma resistência ao pensamento dominante, e principalmente, a orma neoliberal de organização política e econômica em que a sociedade encontrase na atualidade. A vontade de azer oposição ao neoliberalismo no Fórum Social é tão séria que, as datas para as suas realizações oram programadas sempre concomitantes a do Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça. Esse Fórum Econômico é realizado anualmente para discutir os rumos a serem dados à economia dos países centrais e periéricos. A partir do momento em que surgiu a idéia, criou-se um Comitê Organizador a m de por em prática o Fórum; o mesmo acabou ocorrendo no ano de 2001, em Porto Alegre, na sua primeira edição, e no mesmo ano oi criado um Conselho Internacional para melhor desen volver a sua organização e eventos. Neoliberalismo:
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I Fórum Social Mundial – Abertura
Os princípios do neoliberalismo remontam o liberalismo clássico de Adam Smith, no qual o mercado não é regulado pelo Estado, e sim pela livre concorrência. Na atualidade o liberalismo está sendo reestabelecido de acordo com as novas necessidades históricas surgidas – por isso, o uso do prexo neo (novo) – na política econômica mundial. Entre as propostas de tipo neoliberal, destacam-se a indicação de retirada do Estado das atividades econômicas, a redução de políticas estatais de proteção de mercado e a redução da regulamentação estatal sobre as relações trabalhistas
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O FSM é também composto por outros Fóruns realizados paralelamente nas mais diversas regiões, com os mais diversos propósitos. Há os chamados óruns temáticos: Fórum Mundial da Educação, Fórum sobre “Democracia, Direitos Humanos, Guerra e Tráco de Droga”; e ainda, os óruns nacionais e regionais: como por exemplo, Fórum Pan Amazônico, Fórum Social Aricano, entre tantos outros mais. Esta ormação caracteriza o FSM como uma série de grandes eventos, nos quais são discutidas as mais diversas temáticas sempre preocupadas com a criação de alternativas para a realidade social. Desta orma, o FSM constitui-se como um espaço de articulação, debate, discussão e refexão teórica pelos mais diversos movimentos sociais que participam de suas atividades. Estes movimentos sociais, por sua vez, possuem os interesses mais diversos, não havendo, portanto, uma prioridade na deesa das lutas. Todas são importantes e válidas, pois seguindo o projeto norteador do Fórum, cada uma delas possui um contexto especíco que as azem necessárias. Segundo o que diz Boaventura de Sousa Santos, sociólogo e participante do Fórum: “As prioridades políticas estão sempre situadas e dependentes do contexto” (Santos, 2005: 37) Assim, a impossibilidade da construção de uma alternativa coleti va, geral, ao mesmo tempo que, possibilita a diversidade e a não imposição de um único modelo como alternativa, também az com que o ambiente de debate perca-se na preocupação individual de cada mo vimento. Geralmente, é pensado como uma saída que reorme o sistema, pois para uma transormação radical da sociedade é necessário a existência de um grande movimento social. Portanto, cada movimento possui suas necessidades, buscam alternativas dierenciadas para seus problemas e utiliza-se do FSM como um momento para suas articulações e debates. Esta característica é tão orte dentro da organização ou realização do Fórum que na sua carta de princípios consta que nenhum dos participantes pode alar em nome do FSM, tamanha é a diversidade de reivindicações e propostas lá encontradas. Para maiores inormações sobre a Carta de Princípios do FSM pode ser consultado o site do Fórum: www.orumsocialmundial.org.br. Uma outra característica peculiar quanto à constituição do Fórum é o ato do mesmo não possuir qualquer liderança; os seus dois conselhos e o caráter democrático das decisões não permitem que exista uma hierarquia, e ainda é atribuída, por parte dos movimentos sociais que participam do Fórum uma grande importância às redes que são criadas ou possibilitadas por intermédio da Internet. Assim, como arma o próprio Boaventura: “O FSM é uma utopia radicalmente democrática que celebra a diversidade, a pluralidade e a horizontalidade. Celebra um outro mundo possível, ele mesmo plural nas suas possibilidades”. (Santos, 2005: 89)
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As dierenças dos movimentos sociais participantes do FSM, portanto, são inúmeras, como já oi armado. Há uma pluralidade quanto à sua constituição que ca ainda mais clara quando são discutidas as possibilidades e alternativas para a sociedade. Encontram-se desde os que querem romper drasticamente com esta orma de organização social em que vivemos, até os que reivindicam uma reorma no sistema político, econômico e social, garantindo sua inclusão neste. O que há em comum entre todos eles, e os azem se reunir, é a luta contra as ormas devastadoras assumidas pelo neoliberalismo contra as minorias e os não-detentores de capital. Há também, a opção pela busca da transormação, seja ela qual or, por intermédio da intervenção e pressão política, lutando e idealizando a construção de um outro mundo por meio de mecanismos pacícos. Na verdade essa caracterização atual do Fórum enquanto espaço de movimentos sociais, não é um consenso. Esta é uma posição, por exemplo, de Francisco Withaker (um dos undadores do FSM e membro das comissões), deensor da idéia de que se uma linha comum or estabelecida, o espaço será perdido e se estará “asxiando” a própria onte de vida do Fórum. Outra posição também encontrada é a de que o Fórum deve ser sim um movimento dos movimentos, isso quer dizer que o Fórum de ve assumir uma posição política, pois caso contrário, será um espaço que se perderá e não canalizará nenhuma ação concreta, perdendo seu sentido de existência. É assim que o Fórum, tomado como exemplo, sintetiza algumas das características e dilemas dos movimentos sociais atuais.
PESQUISA Uma afrmação realizada no inicio desta discussão ainda pode ser retomada: oi afrmado que o FSM é representativo dos movimentos sociais que não realizam uma ruptura radical com a realidade, mas também, oi dito, que os movimentos que compõem o Fórum são contrários ao neoliberalismo e buscam alternativas para a sociedade. Assim, com base no que oi dito acima, pesquise os projetos de dois movimentos sociais que participam do Fórum Mundial Social e compare seus objetivos e suas propostas para a sociedade. Para realizar tal pesquisa, sugerimos que se consulte o site ou os materiais impressos produzidos pelo Fórum.”.
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Referências: GOHN, M. G. (Org.). Movimentos Sociais no início do século XXI: antigos e novos atores sociais. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. _______. Movimentos Sociais e luta pela moradia . São Paulo: Edições Loyola, 1991. HOBSBAWN. E. Rebeldes Primitivos: estudo sobre ormas arcaicas de movimentos sociais nos séculos XIX e XX. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978. ______. A era do capital: 1848-1875. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. MARX, K. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Boitempo Editorial, 1998. SANTOS, B. S. O Fórum Social Mundial: manual de uso. São Paulo: Cortez Editora, 2005. TOURAINE, A. A sociedade pós-industrial. Lisboa: Moraes editores, 1970.
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Site: www.orumsocialmundial.org.br
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