ENCONTRO NACIONAL DE MORINGA 02 a 04 de setembro de 2009 Aracaju - Sergipe
CARACTERIZAÇÃO CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DA FOLHA, FLOR E VAGEM DA MORINGA (M ori nga oleif oleif era Lamarck) A. S. MOURA1, A. L. G. SOUZA1, A. M. OLIVEIRA JUNIOR 1, M. L. LIRA1, G. F. SILVA 2 1
Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Engenharia de Alimentos, Av. Marechal Rondon, S/N, São Cristóvão-SE, Brasil, CEP: 49100-000, Tel (79) 2105-6556, E-mail:
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[email protected] 2 Universidade Federal de Sergipe, Departamento de Engenharia Química, Av. Marechal Rondon, S/N, São Cristóvão-SE, Brasil, CEP: 49100-000, Tel (79) 2105-6556.
RESUMO – A Moringa oleifera Lamarck é uma planta cultivada em muitos países e possui a característica de adaptar-se a climas áridos e solos pobres em nutrientes. É um vegetal da família Moringaceae originário do norte da Índia. Em razão das suas propriedades nutricionais, farmacológicas e purificantes de água o cultivo deste vegetal tem sido difundido no Brasil. Este trabalho teve como objetivo realizar a caracterização físico-química da folha, flor e vagem da moringa. Um alto teor de carotenóides foi observado na folha da moringa in natura (12967,15 μg/g), e um teor de proteínas de 6,40%, carboidratos de 8,30%, umidade de 77,30%, cinzas de 2,00%, lipídeos de 6,00% e vitamina C de 54,60 mg/100g. A flor, fonte de vitamina C (163,73 mg/100g), apresentou um teor de 8,55% de carboidratos, 83,40% de umidade, 2,50% de cinzas, 3,00% de lipídeos, 2,54% de proteínas e 0,85 μg/g de carotenóides. A vagem apresentou um teor de vitamina C de 99,50 mg/100g, umidade de 87,00%, cinzas de 1,75%, lipídeos de 4,00%, proteínas de 3,00%, carboidratos de 4,25% e carotenóides de 0,80 μg/g. A moringa apresenta-se como um vegetal fonte de excelentes propriedades nutricionais e funcionais.
INTRODUÇÃO A Moringa oleifera Lamarck é uma planta cultivada em muitos países tropicais, que possui inúmeros usos populares devido às suas aplicações nutricionais e farmacológicas. Este vegetal é originário do norte da Índia e pertence à família Moringaceae. Possui a característica de adaptar-se a solos pobres em nutrientes e climas áridos. Cresce rapidamente, podendo atingir atingir 15 metros de altura. altura. As folhas da moringa (Figura 1) possuem um comprimento de 25 a 45 centímetros e apresentam-se em formato elíptico. As flores (Figura 1) são de cor branca ou bege, com
comprimento de 10 a 20 centímetros. O fruto (Figura 1) é uma espécie de vagem, que tem duas faces e um comprimento de 20 a 60 centímetros. No seu interior ficam as sementes, sempre em grande número, entre 12 e 35 por vagem, as quais possuem um diâmetro de aproximadamente 1 centímetro e são aladas. De acordo com BECKER et al (2001) as folhas da moringa são boas fontes de próvitamina A, vitaminas B e C, aminoácidos (metionina e cisteína) e minerais, como ferro (582 mg/kg), potássio (21,7 mg/kg), cálcio (26,4 mg/kg) e zinco (113,9 mg/kg). São comestíveis e consumidas cozidas, geralmente,
como espinafre e utilizadas na composição de sopas e saladas. As vagens verdes podem ser cozidas e consumidas como feijão verde.
vegetais como brócolis, cenoura, espinafre e alface (CARVALHO et al, 2008). Os carotenóides possuem como principal função a capacidade de conversão em vitamina A, cujas funções no organismo estão relacionadas à visão, ao crescimento ósseo e à diferenciação de tecidos (IOM - U. S, 2001) & (OLSON & MACHLIN, 1991). A atuação dos carotenóides na prevenção e tratamento de patologias como câncer, doenças cardiovasculares, catarata e prevenção contra desordens degenerativas do organismo tem sido relatada em diversos estudos (BENDICH, 1989); (TAPIERO et al , 2004); (ZIEGLER, 1989).
OBJETIVO Este trabalho teve como objetivo realizar a caracterização físico-química da folha, flor e vagem da Moringa oleifera Lam. Figura 1: Folha, flor e vagem in natura da Moringa oleifera
MATERIAIS E MÉTODOS
As flores e folhas da moringa são fontes de vitaminas A, B, C e proteínas. Além de suas sementes secas possuírem um conteúdo de 30 a 42% de azeite (BIOMASA, 2006). O conteúdo protéico da folha da moringa não varia de forma considerável em virtude da região de cultivo. Estudos realizados na Nicarágua, Bangladesh e Índia apresentaram um teor de proteínas (base seca) para as folhas de 25,1%, 29, 0% e 26,4 %, respectivamente. A moringa é uma planta muito valorizada por oferecer vagens que podem ser consumidas como conservas em vinagre, sementes que podem ser torradas, possuindo sabor similar ao de amendoim (GOPALAKRISHNAN et. al. (1980), bem como folhas e flores comestíveis que podem ser consumidas na forma de molhos, saladas ou sopas. As folhas secas podem ser utilizadas em pó, substituindo em parte a farinha de mandioca. No Brasil têm sido realizados programas de divulgação para o cultivo e uso da moringa tendo em vista que a planta é uma importante fonte de pró-vitamina A, possuindo teores muito maiores do que os encontrados em
As amostras de folhas, flores e vagens da Moringa oleifera foram coletadas na cidade Aracaju – SE. Após a coleta, as amostras foram transportadas para o Laboratório de Tecnologia de Alimentos (LTA) do Departamento de Engenharia Química da Universidade Federal de Sergipe, onde foram realizadas as análises. As amostras foram homogeneizadas e analisadas na sua forma in natura, sem processamento prévio. Todas as análises foram realizadas em triplicata para as amostras da folha, flor e vagem da moringa, num total de 63 determinações.
Caracterização físico-química A caracterização físico-química das amostras da folha, flor e vagem da moringa incluiu avaliar os seguintes parâmetros: determinação dos teores de umidade, cinzas, proteínas, lipídeos, carboidratos, vitamina C e carotenóides.
Determinação de Umidade O teor de umidade foi determinado pelo método de secagem em estufa com circulação de ar, de acordo com a metodologia oficial da A.O.A.C. (1995).
de lipídeos, 2,0% de cinzas e 3,7% de carboidratos. Tabela 1: Composição centesimal da folha, flor e vagem da Moringa oleifera PALAKRISHNAN
Determinação de Cinzas O teor de cinzas foi determinado por incineração em mufla, de acordo com a A.O.A.C. (1995). Determinação de Proteínas Os valores para proteínas foram calculados a partir dos teores de nitrogênio total. O nitrogênio total foi determinado pelo método Kjeldahl, segundo A.O.A.C. (1995). Utilizou-se o fator geral de conversão 6,25 para calcular o teor de proteínas das amostras. Determinação de Lipídeos Os lipídios totais foram determinados pelo método de extração Soxhlet, segundo A.O.A.C. (1995). Determinação de Carboidratos O teor de carboidratos foi calculado pela diferença entre 100 e a soma das porcentagens da umidade, cinzas, lipídeos e proteínas. Determinação de Vitamina C O teor de vitamina c (ácido ascórbico) foi determinado segundo a metodologia oficial da A.O.A.C. (1995). Determinação de Carotenóides Os carotenóides totais foram calculados de acordo com a metodologia descrita por LICHTENTHALER (1987). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os valores obtidos para a composição centesimal da folha e vagem da moringa in natura (Tabela 1) apresentaram-se similares aos obtidos por GOPALAKRISHNAN et. al. (1980), os quais obtiveram valores para a folha de 75% de umidade, 2,3% de cinzas, 1,7% de lipídeos, 6,7% de proteínas e 13,4% de carboidratos. Enquanto que para a vagem os seguintes teores foram observados pelo autor: 86,9% de umidade, 2,5% de proteínas, 0,1%
Umidade (%) Cinzas (%) Lipídeos (%) Proteínas (%) Carboidratos (%)
Folha* 77,30 2,00 6,00 6,40 8,30
Flor* 83,40 2,50 3,00 2,54 8,55
Vagem* 87,00 1,75 4,00 3,00 4,25
*valores médios de três determinações.
A flor e vagem da moringa apresentaram teores de proteínas, e minerais (Tabela 1) superiores aos encontrados em vegetais como feijão-de-vagem, espinafre cenoura e alface, sendo para estes vegetais os teores de proteínas e minerais, respectivamente: vagem (1,8% e 0,5%) espinafre (2,0% e 1,2%), cenoura (1,3% e 0,9%) e alface (1,7% e 0,8%). Demonstrando seu alto potencial nutritivo, as folhas da moringa apresentaram um teor de proteínas e minerais superiores aos encontrados nos vegetais já citados e comparando-se com outros vegetais como brócolis e couve, os quais possuem, respectivamente, teores de proteínas de 3,6% e 2,9% e minerais de 0,5% e 0,3% (TACO, 2006), as folhas apresentaram também valores superiores aos mesmos (Tabela 1). ,
Os teores de carboidratos encontrados na vagem da moringa (TABELA 1) estavam próximos ao de feijão-de-vagem (5,3%), brócolis (4,0%), e couve (4,3%) (TACO, 2006). As folhas e flores da moringa apresentaram teores de carboidratos (Tabela 1) superiores, caracterizando-se por serem vegetais potencialmente energéticos. A folha da moringa apresentou um teor de carotenóides de 12967,15 μg/g (Tabela 2), destacando-se entre vegetais como cenoura (11760 μg/g), couve (266 μg/g), tomate (37,2 μg/g), abóbora (84,0 μg/g) e espinafre (143,0 μg/g) (AZOUBEL et al.,1998); ( PINHEIRO et al.,2001); ( GODOY & RODRIGUEZAMAYA , 1994) & (MANGELS et al. ,1993). Entretanto, o mesmo não foi observado para a
vagem (0,80 vegetal.
μ
g/g) e flor (0,85μg/g) do
Tabela 2: Teores de vitamina C e carotenóides da folha, flor e vagem da Moringa oleifera in natura
Folha*
Vitamina C (mg /100g) Carotenóides
Flor*
Vagem*
54,60
163,73
99,50
12967,15
0,85
0,80
(μg/g) *valores médios de três determinações.
De acordo com GOPALAKRISHNAN et. al. (1980) o fruto (vagem) da moringa possui um teor de 0,55 μg/g de carotenóides e a folha um teor de 33,9 μg/g. A folha, flor e vagem da moringa apresentaram-se como fonte de vitamina C, 54,60 mg/100g, 163,73 mg/100g e 99,50 mg/100g, respectivamente, equiparando-se a vegetais como: brócolis (113mg/100g), laranja (54mg/100g) e caju (219 mg/100g). Segundo BECKER et al (2001), a folha fresca da moringa possui um teor de 967,0 mg/100g de vitamina C. GOPALAKRISHNAN et. al. (1980) apresentaram os teores 220 mg/100g de vitamina C na folha e 120 mg/100g no fruto da moringa. ALFARO et al (2006) estudaram a folha e vagem frescas da moringa e apresentam os seguintes teores de vitamina C: 109,3 mg/100g e 72,2 mg/100g, respectivamente, os quais são similares aos valores obtidos no presente trabalho. A composição química dos vegetais é determinada pela espécie, grau de maturação, condições de cultivo, estação do ano e pela parte da planta analisada. Além disso, as condições de colheita, armazenamento e exposição para o consumidor podem alterar o conteúdo de componentes termolábeis, como os carotenóides e a vitamina C, modificando o alimento tanto qualitativamente quanto quantitativamente.
CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos para as propriedades químicas e funcionais da Moringa oleifera Lamarck recomenda-se a expansão do cultivo deste vegetal para o aproveitamento dos seus componentes na complementação ou suplementação de dietas deficientes em energia, proteínas, minerais, carotenóides e Vitamina C. Foram observados altos teores tanto de carotenóides quanto de proteínas e carboidratos na folha in natura da moringa. A flor e vagem apresentam-se como fontes para produção de alimentos com propriedades antioxidativas em razão dos altos teores de vitamina C observados. A Moringa oleifera apresenta-se como um vegetal de grande potencial no desenvolvimento de novos produtos alimentícios.
REFERÊNCIAS ALFARO, N.C. et al. Rendimiento y uso potencial de Paraíso Blanco, Moringa oleifera Lam em la producción de alimentos de alto valor nutritivo e su utilización em comunidades de alta vunerabilidad alimentario nutricional de Guatemala, Informe final, Proyecto Fodecyt, nº 26 – 2006. AOAC INTERNATIONAL. Official Methods of Analisys of AOAC, 16 ed. Arlington (USA), 1995. AZOUBEL, L.M.O et al. Tabela de composição de alimentos. In: DUTRADE-OLIVEIRA, J.E., MARCHINI, J.S. Ciências nutricionais. São Paulo : Sarvier, 1998. p.363-376. BECKER, K. FOIDL N., MAKKAR H.P.S. “The potential of Moringa oleifera for agricultural and industrial uses ”, Dar Es Salaam, October 20 th, November 2nd, 2001. BENDICH, A. “Carotenoids and the imune response”. J. Nutr., v. 119, p. 112-115,
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