Test Te ste e4
Sequência 4. Eça de Queirós
Grupo rup o I Lê atentamente o excerto d’ Os Maias abaixo transcrito. Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem.
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Defronte do Ramalhete os candeeiros ainda ardiam. Abriu de leve a porta. Pé ante pé, subiu as escadas ensurdecidas pelo veludo cor de cereja. No patamar tateava, procurava a vela quando, através do reposteiro entreaberto, avistou uma claridade que se movia no fundo do – quando, quarto. Nervoso, recuou, parou no recanto. O clarão chegava, crescendo; passos lentos, pesados, pisavam surdamente o tapete; a luz surgiu – e e com ela o avô em mangas de camisa, lívido, mudo, grande, espetral. Carlos não se moveu, sufocado; e os dois olhos do velho, vermelhos, esgazeados, cheios de horror, caíram sobre ele, ficaram sobre ele, varando-o até às profundidades da alma, lendo lá o seu segredo. Depois, sem uma palavra, com a cabeça branca a tremer, Afonso atravessou o patamar, onde a luz sobre o veludo espalhava um tom de sangue – e e os seus passos perderam-se no interior da casa, lentos, abafados, cada vez mais sumidos, como se fossem os derradeiros que devesse dar na vida! Carlos entrou no quarto às escuras, tropeçou num sofá. E ali se deixou cair, com a cabeça enterrada nos braços, sem pensar, sem sentir, vendo o velho lívido passar, repassar diante dele como um longo fantasma, com a luz avermelhada na mão. Pouco a pouco, foi-o tomando um cansaço, uma inércia, uma infinita lassidão1 da vontade, onde um desejo apenas transparecia, se alongava – o o desejo de interminavelmente repousar algures numa grande mudez e numa grande treva… Assim escorregou ao pensamento da morte. Ela seria a perfeita cura, o asilo seguro. Porque não iria ao seu encontro? Alguns grãos de láudano 2 nessa noite e penetrava na absoluta paz…
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Ficou muito tempo embebendo-se nesta ideia, que lhe dava alívio e consolo, como se, escorraçado por uma tormenta ruidosa, visse diante dos seus passos abrir-se uma porta, donde saísse calor e silêncio. Um rumor, o chilrear de um pássaro na janela, fez-lhe sentir o sol e o dia. Ergueu-se, despiu-se muito devagar, numa imensa moleza. E mergulhou na cama, enterrou a cabeça no travesseiro para recair na doçura daquela inércia, que era um antegosto da morte, e não sentir mais nas horas que lhe restavam nenhuma luz, nenhuma coisa da Terra. QUEIRÓS, Eça de, 2016. Os Maias. Porto: Porto Editora (Capítulo XVII, pp. 683-684) (1.ª ed.: 1888) 1.
fadiga, fraqueza; 2. medicamento à base de ópio usado para adormecer e entorpecer.
Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se seguem. 1.
Contextualiza o excerto na globalidade da obra a que pertence, destacando a sua relevância diegética.
2. Descreve a evolução do estado psicológico de Carlos. 2.1. Destaca a expressividade do recurso ao discurso indireto livre no final do segundo parágrafo.
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Sequência 4. Eça de Queirós 3.
Teste 4
Refere dois dos traços caracterizadores de Afonso, comprovando as tuas afirmações com elementos textuais.
4. Comenta a relevância da luz e da cor na criação da
atmosfera trágica.
Grupo II Lê atentamente o texto que segue.
Levanta-te e lê, não sejas Oblomov
OBLOMOV Ivan Gontcharov Tinta da China || 656 págs. €32 30
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Em muitas alturas de Oblomov (1859), o leitor pode eventualmente lembrar- se d’ Os Maias (1888). A crítica social (especialmente às elites) é tão refinada que as páginas se leem com um sorriso nos lábios. Não por acaso, Oblomov aparece na coleção Literatura de Humor da Tinta da China. Lançado inicialmente em Portugal nos anos 70, é relançado agora, mas com a vantagem de pela primeira vez a tradução ter sido feita a partir do russo (por António Pescada). O protagonista, precisamente Oblomov, aparece no livro deitado e assim vai permanecer muito tempo, apesar das solicitações dos amigos que entram e saem de casa – parece uma peça de teatro. Cada amigo é uma caricatura da alta sociedade russa (especialmente a burguesia mais ou menos decadente) de finais de 1800. Aos 32 anos, Oblomov não tem mulher (uma canseira, as relações), nem pais, nem emprego (teve uma fugaz carreira de funcionário público, que deixou depois de um erro – com medo de encarar o chefe, apresentou um atestado médico e não apareceu mais).
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Como rendimentos, tem uma quinta distante (herdada dos pais), que, ao que parece, está a dar problemas. Mas não vai lá há muitos anos, nem parece ter muito vagar para isso agora. Para piorar as coisas, o senhorio do apartamento onde vive, em São Petersburgo, quer desalojá-lo. A casa está imunda – os espelhos têm tanto pó que dá para escrever neles. Nunca é limpa pelo criado porque o patrão não sai de casa. Oblomov vive num permanente estado de letargia, cansaço e tédio. Se algum projeto lhe assoma à cabeça, por mais pequeno que seja, dura o fogo de um fósforo. Os estudos não serviram para nada, e ele até já esperava isso. Os livros, se lhe interessam, são abandonados às primeiras páginas. A sala serve-lhe de quarto de dormir, gabinete e sala de receção. Oblomov é a obra-prima de Ivan Gontcharov e um dos clássicos da imortal literatura russa oitocentista [...]. É um clássico tão grande que na Rússia se chama oblomovista a alguém apático e excessivamente ocioso. Imprescindível, da primeira à 647.ª página. ALVES, Marco, 2016. “Levanta-te e lê, não sejas Oblomov”. GPS (Sábado), n.º 46, 14 de janeiro de 2016 (p. 27)
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Sequência 4. Eça de Queirós
Teste 4
Responde aos itens apresentados. 1. Identifica o género textual em que se integra o artigo, justificando a tua resposta com referências: a. ao b.
objetivo do texto.
à organização interna do artigo.
2. Interpreta a metáfora “fogo de um fósforo” (l. 40) e respetivo valor no contexto em que é utilizada. 3. Comenta a expressividade do título, atendendo ao conteúdo do artigo. 4. Assinala como verdadeiras (V) ou falsas (F) as afirmações seguintes: a.
Na primeira frase do artigo, a utilização do complemento oblíquo “d’ Os Maias (1888)” (ll. 2-3) constitui um mecanismo de coesão interfrásica.
b.
A palavra “que” utilizada na linha 4 é uma conjunção subordinativa completiva.
c.
Os três advérbios com valor de modo utilizados no primeiro parágrafo desempenham a função sintática de modificador (do grupo verbal).
d.
O antecedente do pronome pessoal utilizado em “Para piorar as coisas, o senhorio do apartamento onde vive, em São Petersburgo, quer desalojá-lo.” (ll. 30-32) é “Oblomov” (l. 20).
e.
O quinto parágrafo do texto integra uma oração subordinada adverbial comparativa e uma oração subordinada adverbial causal.
f.
A expressão “pelo criado”, usada na linha 35, desempenha a função sintática de complemento oblíquo.
g.
A utilização das passagens “O protagonista, precisamente Oblomov, aparece no livro deitado e assim vai permanecer muito tempo [...]” (ll. 12-14) e “Oblomov vive num permanente estado de letargia, cansaço e tédio.” (ll. 37-38) evidenciam, em termos de coerência textual, o
respeito pelo princípio da relevância. 4.1. Corrige as afirmações falsas.
Grupo III A rotina da vida quotidiana conduz-nos, muitas vezes, ao desejo de evasão. Num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, defende uma perspetiva pessoal sobre a importância da evasão da rotina nos dias de hoje. Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles com, pelo menos, um exemplo significativo. (Item adaptado do Grupo III da Prova Escrita de Português, 2015, Época Especial, IAVE)
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Sequência 4. Eça de Queirós
Teste 4
Cotações do Teste 4 Questões
Cotação Total por questão
Grupo I
(C) Conteúdo
(F) Forma*
1.
12
8
20
2.
9
6
15
2.1.
12
8
20
3.
12
8
20
4.
9
6
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Grupo II
Total do grupo
90 pontos
Total por questão
1.
6
4
10
2.
6
4
10
3.
6
4
10
4./4.1.
–
–
35
65 pontos
(7 x 5 pont os) ETD**
CL***
Total por questão
27
18
45
45 pontos
Grupo III
TOTAL * Estruturação do discurso e correção ** Estruturação temática e discursiva *** Correção linguística
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200 pontos (20 valores)
linguística
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