Os Maias – Resumo, estrutura interna, linguagem e simbolismo
Estrutura da Obra Intriga principal - Carlos da Maia e Mº Educarda Intriga Secundária - Pedro da Maia e Mª Monforte Título: “Os Maias”
Narrativa fechada, pois há um desenlace: Afonso morre e os dois amantes separam-se Subtítulo: “Episódios da vida romântica” – crónica de costumes
Narrativa aberta, pois os costumes da sociedade continuam a poder ser retratados
Significado da obra Retrata a sociedade e a mentalidade da época (realismo);
É uma metáfora para o percurso p ercurso da “Geração de 70”, “os vencidos da vida”: começa com grandes ambições, ilusões e fantasias, e acaba na desilusão e no desencanto.
Atualidade da obra A sociedade descrita e retratada por Eça está, ainda hoje, “à solta”. A sua atualidade reside também na linguagem utilizada no estilo literário de Eça de Queirós. A linguagem é de tal maneira soberba que nunca há-de sair de moda, mesmo que os tipos s ociais tratados em Os Maias desapareçam.
As gerações em os maias 1ª Geração – (Caetano – decadência do absolutismo) | Afonso da Maia/Mª Eduarda Runa – lutas
liberais 2ª Geração – Pedro da Maia/Mª Monforte – crises do liberalismo – ROMANTISMO 3ª Geração – Carlos da Maia/Mª Eduarda – decadência do liberalismo (Portugal da Regeneração)
Rui Coelho
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Os temas Educação: Pedro e Eusébiozinho ≠ Carlos Literatura: Romantismo (ultrarromantismo) (Al encar) ≠ Realismo (naturalismo), Ega - apesar de tudo, é romântico pela maneira de vive.
Os espaços Espaço Físico Geográfico - Lisboa (o centro de tudo),Coimbra (os estudos de Carlos), Sintra (o lazer e o ócio),
Sta Olávia (meio rural) Micro-cenários interiores - para acentuar determinados defeitos das personagens e acentuar a
sua caracterização - casa de Dâmaso, casa de Ega, reprografia da "Corneta do Diabo".
Espaço Social Personagens - tipo - Eusebiozinho (educação retrógrada portuguesa), G ouvarinho (ignorância dos
políticos), Dâmaso (a baixeza moral) Representação de ambientes - Hotel Central, corrida de cavalos, sarau no Teatro da Trindade, os
passeios na rua, O grémio, a casa Havaneza - tudo para demonstrar os comportamentos da alta sociedade e também de outras classes.
Afeição trágica de os maias O tema do incesto A presença do destino/fatalismo Os presságios A estrutura da fábula trágica: peripécia (o Sr. Guimarães entrega o cofre com documentos cobre Mª Eduarda ao Ega); reconhecimento (os documentos dentro do sofre); catástrofe (desenlace trágico) A existência de uma vítima inocente: Afonso
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Características da prosa queirosiana Discurso indireto livre: (evita o abuso excessivo dos verbos introdutores do diálogo,
contribui para o tom oralizante, e confunde o leitor, propositadamente, para tornar as críticas feitas pelas personagens mais convincentes e persuasivas; criticas essas que são bem mais do que isso: são comentários do próprio Eça;) Ironia; Hipálages, metáforas, onomatopeias, sinestesias, gradações, personificações, repetições, comparações; Adjetivação; Diminutivo; Neologismos, estrangeirismos;
Nome (“um cansaço, uma inércia...” – nome abstrato, com vários significados); Verbo (“ele rosnou...”) – preferência pela fórmula gerúndio +conjugação perifrástica para dar uma ideia de continuidade e muitas vezes, de arrastamento, no sentido de abo rrecido; Advérbio de modo
Linguagem Apesar de reunir, não só pelo conteúdo, qualidades estrondosamente abonatórias para um romance, “Os Maias” é também rico em vari edade e eficiência linguística. Várias são as faculdades
do autor no campo da expressividade e na recursividade da escrita. Eça de Queirós soube, na esteira de Garrett (Viagens na Minha Terra), trazer para a literatura a verdadeira linguagem corrente da burguesia lisboeta, tirar partido do seu vocabulário habitual, relativamente reduzido, torná-la apta a exprimir um conteúdo ideológico e estético mais rico do que aquele em que até então fora utilizado. Ele soube tornar a língua um instrumento dócil a uma nova expressão, pondo de lado os lugares-comuns e criando novas associações vocabulares. Quase todo o substantivo é acompanhado de adjectivo(s), raramente antepostos ("na enorme e estranha cidade"), rodeando o substantivo ("espessos veludos escuros"). O uso expressivo do adjectivo é, porventura, o proce sso estilístico que melhor individualiza Eça de Queirós no panorama da produção li terária portuguesa.
O adjetivo Adjetivação dupla “ Os seus dois olhos redondos e agoirentos.” agoirentos .”
Os adjetivos nem sempre vêm seguidos. “Os seus lindos dentes miudinhos alvejaram a sombra do véu.”
A adjetivação pode ser tripla ou ainda com mais adjetivos.
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“Dâmaso era interminável , torrencial, inundante a falar das suas conquistas.
Adjetivos com a mesma terminação criando, por vezes, um efeito cómico e depreciativo. “A viscondessa (…), uma carcaça esgalgada, caiada, reborada, gasta por todos os homens”.
O advérbio Adverbiação dupla “insensivelmente, insensivelmente, irreversivelmente irreversivelmente, Carlos achou- se (…)”.
Adverbiação tripla “insensivelmente, insensivelmente, irresistivelmente, irresistivelmente, fatalmente, fatalmente, marchando (…)”.
O advérbio ligado à ironia “o Eusebiozinho foi então preciosamente colocado ao lado da titi”.
Efeito de superlativação “e devia ser deliciosamente ser deliciosamente bem feita (…)”.
O verbo Neologismos “gouvarinhar”; “cervejando”.
Recorrência de verbos derivados de adjectivos de cor “negrejava, no brilho do sol, um magote apertado de gente”
Emprego do gerúndio “(…) Portugal (…) e decente, estudando, pensando , fazendo civilização como outrora.”
Discurso Indireto Livre Então Ega protestou com vermência. Como convinha a ninguém? Ora essa! Era justamente o que convinha a todos! Á bancarrota seguia- se uma revolução, evidentemente. (…)” Figuras de estilo
Aliteração “um moço loiro, lento, lânguido, que se curvava em si lêncio diante de la.”
Hipálege “O poeta tirou o chapéu, passou os dedos pelos anéis fofos da grenha inspirada…” inspirada …”
Ironia “-É possível- respondeu o inteligente Silveira.” Silveira .”
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Sinestesia “…e, muito alto no ar, passava o claro repique de um sino.” sino .”
As linguagens Familiar “ O Baptista, familiarmente familiarmente Tista”.
Infantil “Teresinha, inha, inha”.
Popular “deu-lhe goto”;”Melanie era uma gaja”.
Neologismos “gouvarinhar”; “arvejar”.
Resumo Cap I
Os Maias vêm habitar o Ramalhete (1875) A descrição do Ramalhete Ramalhete antes de 1875 Vilaça, procurador dos Maias O restauro do Ramalhete (descreve-se a nova decoração) Afonso (retrato físico) Caetano da Maia (pai intransigente) Juventude de Afonso Casamento e exílio Educação de Pedro (o padre Vasques) O regresso a Lisboa A morte de Maria Maria Eduarda Runa (mãe de Pedro) Pedro) A paixão de Pedro Alencar conhece a mulher mulher que Pedro vai amar (Maria (Maria Monforte) O casamento de Pedro e o corte de relações co m Afonso Cap.II
Regresso a Lisboa O nascimento de uma filha (Maria Eduarda) O nascimento de um filho (Carlos)
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Tancredo, o Napolitano, frequenta casa de Pedro Afonso vê, pela primeira primeira vez Carlos Eduardo Pedro suicida-se Afonso parte com Carlos para Santa Olávia Cap.III
Vilaça em Santa Olávia A educação de Carlos (Mr.Brown) (Mr.Brown) Aeducação de Eusebiozinho (a tradicional tradicional portuguesa) Um serão em Santa Olávia Vilaça informa sobre paradeiro de Maria Monforte A confirmação confirmação da morte de Maria Eduarda (neta de Afonso) Carlos vai entrar na faculdade Cap.IV
Paços de Celas (a estadia de Carlos em Coimbra) João da Ega (amigo de Carlos) Amores de Carlos Carlos forma-se em medicina Carloa parte para uma viagem O regresso de Carlos A instalação no Ramalhete Ramalhete (1875) Os projectos de Carlos (consultório, laboratório) Ega vem para Lisboa Cap.V
O serão no Ramalhete. Primeira doença de Carlos. Fala-se de Ega, de Steinbroken. Taveira fala nos Gouvarinhos. Laboratório de Carlos e carreira médica Ega ama Raquel Cohen Ega visita Carlos no laboratório (consultório) Ega insulta os jornalistas (imprensa) Ega propõe que o apresentem aos Gouvarinhos Carlos vai a S.Carlos Carlos conversa com Baptista (criado de quarto) sobre os Gouvarinhos e sobre aventuras amorosas Em S.Carlos, Ega apresenta Carlos aos Gouvarinhos. Cap. VI
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Carlos visita Ega na vila Balzac Carlos e Ega conversam sobre Gouvarinhos Carlos é apresentado a Craft Convite de Ega para um jantar no Hotel Central Carlos vê uma senhora extremamente bela. Dâmaso informa acerca da identidade da senhora Castro Gomes Ega apresenta Alencar a Carlos Cohen O jantar: literatura, política…
Depois do jantar um final agitado (entre Ega e Alencar) Discussão e reconciliação Carlos recorda o passado: recorda visão da bela senhora. Cap. VII
Craft íntimo do Ramalhete Dâmaso íntimo do Ramalhete (persegue Carlos) Ega informa Carlos sobre a paixão da Gouvarinho Carlos vê novamente a senhora Castro Gomes. A Gouvarinho vai ao consultório consultório de Carlos Dâmaso frequenta Castro Gomes Ega publica um artigo insensato sobre Cohen Carlos pensa que os Castro Gomes foram a Sintra Cap.VIII
Carlos procura ver madame Castro Gomes Carlos e Cruges partem para Sintra Encontram Eusebiozinho Vão a Seteais (Alencar recita) Carlos pergunta pelos Castro Gomes: partiram na véspera – Dâmaso está com eles. Jantam Regresso a Lisboa. Cap.IX
Convite dos Gouvarinhos a Carlos para jantar Dâmaso pede a Carlos que venha ve nha ver uma doente (filha de Castro Gomes) Dâmaso confidencia a Carlos perspectivas de ficar só com Madame Castro Gomes (Castro Gomes partirá para o Brasil). Carlos prepara-se para o baile em casa dos Cohen
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Noite em casa de Craft (Ega, Carlos e Craft) Dâmaso informa Carlos presumível doença de Castro Gomes Carlos cruza-se com Castro Gomes: pensa pedir a Dâmaso que l ho apresente Carlos vai ao chá a casa dos Gouvarinho Sedução de Carlos pela condessa conde ssa de Gouvarinho Cap. X
As aventuras de Carlos/ condessa de Gouvarinho Carlos e o marquês, descendo a rua de s.roque, conversam Avistam Madame Madame Castro Gomes (perturbação) sobre as corridas de cavalos. cavalos. Carlos congemina a ideia de Dâmaso levar aos Olivais os Castro Gomes Carlos e Dâmaso falam sobre as corridas. Carlos fala a Dâmaso no passeio aos Olivais. Corridas Dâmaso informa Carlos sobre a partida de Castro Gomes para o Brasil; Carlos permite a insistência da Gouvarinho para ir visitar uma doente, decide-se a acompanhá-la. Carlos sai das corridas e vai à rua de S.Francisco na tentativa de se avistar com Madame Castro Gomes. Cap. XI
Carlos vai a casa de Madame C. Gomes (Maria Eduarda) No Ramalhete Carlos revê o encontro Carlos recebe um bilhete da Gouvarinho sobre ida a Santarém Gouvarinho resolve a situação partindo com a mulher Carlos goza, durante semanas, a intimidade da casa de Maria Eduarda: grande amizade entre ambos Carlos em casaa de Maria Eduarda Aparece Dâmaso Dâmaso pede explicações a Carlos Cap.XII
Ega volta para Lisboa (Ramalhete) Carlos e Ega vão ao jantar dos Gouvarinho Reconciliação Carlos/ condessa de Gouvarinho Carlos compra a quinta dos Olivais (p/instalar M.Eduarda) Afonso aprova a compra compra Ega confidente de Carlos Cap.XIII
Ega informa Carlos das difamações de Dâmaso a seu respe ito e a respeito de M.
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Eduarda. Preparativos da quinta dos Olivais (Toca) Carlos ameaça Dâmaso Dâmaso pede explicações Aniversário de Afonso A Gouvarinho pede explicações explicações a Carlos Carlos rompe as relações com a Gouvarinho Cap. XIV
Afonso parte para Santa Santa Olávia Maria Eduarda parte para os Olivais Ega parte para Sintra Carlos só em Lisboa Alencar apresenta Guimarães Guimarães a Carlos Idílio Carlos/Maria Eduarda Maria Eduarda visita o Ramalhete Carlos vai a Santa Olávia: regressa e recebe Castro Gomes Castro Gomes revela a Carlos que não é marido de Maria Eduarda Desespero de Carlos (a mentira): decide romper. Carlos perante Maria Eduarda não consegue manter decisão Longa história de Maria Eduarda Carlos propõe casamento a Maria Eduarda Cap. XV
Maria Eduarda, na Toca, conta a Carlos a vi da atribulada Carlos conta a Ega o propósito de partir com Maria Eduarda O avô-obstáculo a esta ideia Ega, Carlos e Maria Eduarda jantam nos Oli vais Toca, ponto de reunião de amigos Dâmaso difama publicamente Carlos na “Corneta do Diabo”
Ega e Cruges desafiam Dâmaso Dâmaso retrata-se num documento que é obrigado a escrever Carlos sente-se vingado Afonso regressa a Lisboa Carlos regressa ao Ramalhete Maria Eduarda regressa à rua de S. Francisco Festa de beneficiência: Ega vê Dâmaso com Raquel Cohen
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Ega publica a retratação de Dâmaso (sem repercussões) Cap. XVI
Carlos e Ega em casa de Maria Eduarda O Sarau Guimarães entrega um cofre a Ega Guimarães revela a identidade de Maria Eduarda (irmã de Carlos) Cap. XVII
Ega na posse do segredo, pensa na forma de o revelar a Carlos Vilaça é incumbido de o fazer: carta carta de M.Monforte esclarece esclarece e filiação de M. Eduarda Vilaça revela a Carlos a notícia Ega e Carlos conversam sobre o assunto Carlos dá abruptamente a notícia a Afonso Carlos decide dar ele mesmo a notícia a M.Eduarda Carlos, face a M.Eduarda, deixa-se levar e nada lhe revela Carlos a passar as noites com M.Eduarda Ega e Afonso certificam-se da situação Carlos vê pela última vez o avô a vô Afonso morre morre Carlos parte para Santa Olávia Ega revela a M. Eduarda o seu parentesco com Carlos Maria Eduarda parte para Paris Ega vai ter com Carlos Cap. XVIII
Notícia da partida de Carlos e Ega para o estrangeiro Ega volta a Lisboa ano e meio depois Carlos volta a Portugal (dez anos depois) d epois) Os velhos amigos: encontro ou notícias Carlos e Ega visitam Ramalhete: modificações operadas pelo tempo.
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Simbologia Maria Eduarda é a terceira figura feminina na panóplia de três g erações da família Maia
apresentadas na obra. Simbolicamente, o número três é o número da completude e implica a conjugação de três momentos temporais: o passado, o presente e o futuro, ou seja, a mulher aparece na obra como um fator de transformação do mundo masculino, conduzindo à esterilidade, à estagnação. O terceiro elemento feminino torna-se a revelação simbólica dos outros dois que foram nefastos à família. Ainda relacionado com este simbolismo, é interessante ver a relação simbólica que,
metonimicamente, se pode estabelecer entre os três lírios brancos que Carlos vê dentro de um vaso do Japão, quando, pela primeira vez, tem acesso ao espaço físico onde M aria Eduarda se move, a sua casa, na Rua de S. Francisco, e as três mulheres que penetram na família Maia. Apesar da brancura dos lírios (conotada na tradição oriental com o luto), as flores murcham num vaso do Japão. A cultura europeia presente na decoração contracena com a cultural oriental, na qual a alvura representa a morte: a morte fís ica de Maria Eduarda Runa e de Maria Monforte e a morte moral e espiritual (num tempo futuro) de Maria Eduarda Maia. Os lírios brancos, à partida conotados com a pureza, perdem a sua conotação positiva ao murcharem e passam e simbolizar a morte. O lírio concentra a ideia de prosperidade da raça, continuada de geração em geração. Por outro lado, o facto dos três lírios brancos se encontrarem num vaso do Japão aponta já para o incesto, pelo exotismo que representa esta peça decorativa, pois insere no espaço físico de Maria Eduarda uma cultura estranha à cultura ocidental. Saliente-se que Carlos e Maria Eduarda terão os seus encontros quer na Toca, marcada por uma
decoração excêntrica e exuberante, quer no quiosque japonês, pelo que retoma a simbologia de uma cultura estranha neste espaço.
A Toca é o nome dado à h abitação de certos animais, apontando desde logo para o carácter
animalesco do relacionamento amoroso entre Carlos e Maria Eduarda. Carlos introduz a chave no portão da Toca com todo o prazer, sugerindo não só poder m as também o prazer das relações incestuosas (é de lembrar que a chave é um s ímbolo fálico). Da segunda vez que se alude à chave, os dois amantes experimentam-na o que passa a simbolizar a aceitação e entrega mútua. Os aposentos de Maria Eduarda simbolizam a tragicidade da relação, estando carregados de
presságios: nas tapeçarias do quarto “desmaiavam, na trama de lã, os amores de Vénus e Marte”, de igual modo este amor de Carlos e Maria Eduarda estava condenado a desmaiar e desaparecer;
“... a alcova resplandecia como o interior de um tabernáculo profano...” misturando o sagrado e o profano para simbolizar o desrespeito pelas relações fraternas. Assim, a descrição do quarto tem
traços próprios de um local dedicado ao culto: a porta de comunicação “em arco de capela”,
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donde pendia “uma pesada lâmpada da Renascença” conferindo maior solenidade. Com o sol, o quarto “resplandecia como (...) um tabernáculo. Carlos mostrava-se indiferente aos presságios, inconsciente e distante, mas Maria Eduarda impressiona-se ao ver a cabeça degolada de S. João Baptista, que foi degolado por ter denunciado a relação inc estuosa de Herodes, e a enorme coruj a a fitar, com ar sinistro, o seu leito de amor (lembre-se que a coruja coruj a é considerada uma ave de mau agoiro, que surge aqui para vaticinar um futuro sinistro para este amor). O ídolo japonês que há na Toca remeta para a sensualidade exótica, heterodoxa, bestial desta ligação incestuosa. Os guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religião e os troféus agrícolas, o trabalho que terão existido na família Maia (e no Portugal). Os dois faunos simbolizam os dois amantes numa atitude hedonista e desprezadora de tudo e de todos. Na primeira noite de amor entre Carlos e Maria Eduarda, a qual se dá precisamente na Toca, dá-se uma grande trovoada como que a pressagiar um mau ambiente que se criaria resultante deste in cesto.
Maria Eduarda tem receios, desconhece a sua verdadeira identidade, mas que perscruta o futuro
através da análise de pequenos pormenores das coisas ou das pessoas, análise essa que assume um valor simbólico ou premonitório, como acontece quando ela descobre semelhanças entre Carlos e a sua mãe.
O Ramalhete está simbolicamente ligado à decadência moral do Portugal da Regeneração. O ramo
de girassóis que ornamenta a casa simboliza a atitude do amante, que como um girassol, se vira continuamente para olhar o ser amado; girando sempre, numa atitude de submissão e de fidelidade para com o ser amado, o girassol associa-se à incapacidade de ultrapassar a paixão e a falta de receptividade do ser amado, ligando-se assim a Pedro e a Carlos. Os móveis do escritório escrit ório de Afonso estão cobertos de panos brancos que são comparados a mortalhas com que se envolvem cadáveres, prenunciam já a morte que se abaterá na família Maia. Concentra em si o peso da fatalidade familiar, que lhe foi atribuída por Vilaça num relatório sobre a casa que enviou a Afonso, o qual se riu da observação; mas de facto é lá que morre Pedro na sequência do abandono de Maria Monforte, e é lá também que Afonso vai morrer de desgosto após descobrir o incesto dos netos.
O jardim do Ramalhete é rico em simbologias. Numa primeira e última fases, este espaço
evidencia a tristeza e o abandono, e na desolação do jardim, s obressaem três símbolos do amor puro e imortal. O cipreste (símbolo da morte) e o cedro (símbolo do envelhecimento), unidos entre si por laços quase míticos que se perde m nos anais da mitologia grega, inseparáveis em vida, envolvidos num amor puro e forte e cuja reco mpensa foi a união incorruptível das suas raízes, que a tudo resistem, emblematizando o Amor Absoluto; podendo ainda estar ligados ao mundo romântico por serem árvores de cemitério conotadas com a mor te; acabam por simbolizar duas
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personagens românticas mas que na teoria se dizem realistas e que no final da obra ficam tão sós como estas duas árvores: Carlos e Ega. Velada por est e par imortal, encontramos Vénus Citereia, deusa do amor, ligada à sedução e à volúpia, liga-se às três fases do Ramalhete: numa primeira fase relaciona-se com a morte de Pedro “enegrecendo a um canto”; numa segunda fase e após a remodelação, aparece em todo o seu esplendor simbolizando a ressurreição da família para uma vida feliz e harmónica (a sua recuperação coincide com o aparecimento de Maria Eduarda), deixando adivinhar prenúncios de uma desgraça futura, enquanto símbolo da feminilidade perversa; na terceira e última fase, enquanto símbolo do Amor e do Feminino, aparece aos nossos
olhos coberta “de ferrugem”, simbologia negativa, assumindo-se como duplo de Maria Eduarda, último elemento feminino que, através do amor, destruiu para sempre a frágil harm onia da família Maia. O facto da estátua ser de mármore s imboliza o universo clássico, numa nítida tentativa de relembrar a tragédia clássica; por outro lado, o mármore l iga-se ao cemitério por ser frio como a morte, e por ser o m aterial usado nas campas. A cascata é, na tradição judaico-cristã, símbolo de regeneração e de purificação; cheia de água, conota-se com o choro, com as lágrimas, num nítido prenúncio da tristeza que se abatera sobre os Maias; como numa clepsidra, a água fluirá gota a gota, marcando a passagem inexorável do tempo e, acentuando melancolicamente, o implacável
Destino d’Os Maias, condenados ao desaparecimento, após a doçura ilusória de uma “instante” que durou dois anos.
“Maria Eduarda, Carlos Eduardo... Havia uma similitude nos seus nomes. Quem sabe se não
pressagiava a concordância dos seus destinos!” Pressagiava de facto, mas de maneira trágica. Também a semelhança do nome das três figuras femininas centrais parece apontar para que todas elas são fatais, à sua maneira, aos homens da família Maia – Maria Eduarda Runa, Maria Monforte, Maria Eduarda – todas Maria e, a primeira e a última Maria Eduarda, concorda também nos seus próprios destinos, todas morreram, se bem que as duas primeiras fisicamente e a última psicologicamente.
Há ainda que salientar a similitude física entre Carlos e Maria Monforte, sugerida por Maria
Eduarda, e a semelhança de carácter de Afon so e Maria Eduarda, sugerida por Carlos quando vê que Maria Eduarda é tão bondosa como o avô – Maria Eduarda pede-lhe para ir ver a irmã da sua engomadeira que tinha reumatismo, e o filho da Sr.ª Augusta, a velha do patamar, que estava tísico; Carlos cumpria estes encargos com o fervor de acções religiosas.
Afonso encontra sérias semelhanças entre seu filho, Pedro, e um tio da família Runa que
endoideceu e se enforcou. Estas semelhanças agoiravam já o futuro de Pedro qu e, tal como o tio, se suicidou, mas este com um tiro na cabeça, morrendo alagado numa poça de sangue.
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Maria Monforte estava lendo uma novela sugerida por Alencar, em que o herói era o último
Stuart, o romanesco príncipe Carlos Eduardo, como estava fascinada por ele, quis dar esse nome a seu filho, pois parecia ser pleno de um destino de amores e façanhas. De facto, Maria Monforte estava certa, o incesto era o destino amoroso de Carlos que acabou por levar a que este seja o último dos Maias. Contrariamente a Maria Monforte, Pedro queria chamar Afonso ao filho, mas acabou por aceder a Carlos Eduardo.
Afonso recebe, por Vilaça, a notícia do casam ento de Pedro, com o qual não concordara, e quando
se senta “à mesa do almoço posta ao pé do fogão” vê que “ao centro um ramo esfolhava-se num vaso de Japão, à chama forte da lenha”. Isto pressagiava o fim do “romance” de Pedro e Maria Monforte pois este enlace iria desfazer-se e d esaparecer, como aquelas folhas secas que à chama forte da lenha se esfolhavam no vaso de Japão. E Pedro, um dos Maias, separar-se-ia depois, pelo suicídio, do tronco familiar.
Carlos com um profundo sentimento de culpa dirige-se da Rua de S. Fr ancisco para o Ramalhete
pensando que, depois de ter cometido o incesto consciente, é -lhe impossível recomeçar a sua vida, tranquilamente, na presença do avô e de Ega.
No momento da chegada de Carlos ao Ramalhete, no exterior “os candeeiros ainda ardiam”,
porém o advérbio de tempo “ainda” indica que a escuridão está prestes a acabar, dando lugar à luz do dia. Mas no interior reinava a escuridão, e Carlos procurava uma luz para iluminar os seus passos e o se comportamento, é que moralmente sen tia-se também às escuras.
Neste momento de hesitação surge o avô com uma luz, manifestada primeiro como claridade que
vai crescendo, e depois se torna num clarão, numa luz bem definida. Podemos descortinar nesta luz um simbolismo: o avô sempre representou a luz uma luz para Carlos que lhe dissipava os
momentos de incerteza e o orientava na vida. Mas agora “estava lívido”, descorado pelas dúvidas, os seus olhos estavam vermelhos, não só por ter passado a noite em claro, mas pelo sofrimento. A luz de antigamente apagara-se e agora o avô não se encontrava ali para orientar mas para pedir contas, para recriminar.
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A luz do avô agora assustava Carlos porque este, cedendo ao prazer pecaminoso, tornou -se
cúmplice do mal e do poder das trevas. Não admira que en trasse no quarto às escuras, sem s em rumo, desorientado, tropeçando num sofá, sem saber o que fazer. A imagem do avô ficou gravada no neto, sobretudo através de duas cores: o lívido do rosto e o vermelho da vela e dos olhos, ambas de natureza negativa que apontam para a morte. A partir desta confrontação, a vida perdera todo o sentido para ele.
depr essivo que o Foi preciso ser anunciado o sol e a luz do dia para ele reagir a este estado depressivo dominava e adormecer. Através da evasão do sono, logrou fechar as portas à luz do dia e da razão, e mergulhar na escuridão que é o antegos to da morte.
Um prolixo cromático povoa Os Maias, cumprindo não só os postulados do impressionismo, mas
também os do simbolismo.
O vermelho tem na obra um carácter duplo: ora feminina e nocturna, centrípeto, ora masculina e
de poder centrífugo. Maria Monforte e Maria Eduarda são portadoras de um vermelho feminino, fogo que desencadeia a libido e a sensibilidade, espalham a morte provocando o suicídio de Pedro, a morte física de Afonso e a morte psicológica de Carlos. Já os olhos vermelhos de Afonso e a vela vermelha que ele trazia na mão incomodaram tanto Carlos que este an teviu a morte, que de facto estava para acontecer no jardim do Ramalhete.
A casa do Ega , a Vila Balzac, tem uma grande concentração de cores, dispostas em espaços bem
definidos: “verde feio e triste” na sala, sala de d e jantar amarela, quarto vermelho, cozinha verde e branca. O vermelho do quarto é tão intenso que indica a dimensão essencialmente libidinosa, carnal e efémera dos encontros de amor com Raquel Cohen. O amarelo/dourado indica o carácter ardente da paixão, tendo um significado duplo: cor do ouro de essência divina; cor da terra simbolizando o Verão e o Outono, anunciando a velhice, o Outono e a p roximidade da morte.
Maria Monforte e Maria Eduarda conjugam o vermelho (leque negro [negro conotado com morte
e luto] pintado com flores vermelhas, sombrinha escarlate) com o amarelo/dourado (cabelos de ouro), pelo que, tanto simbolizam a vida como a morte, o divino e o humano.
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Afonso vê Pedro e Maria Monforte juntos num passeio. Maria Monforte traz um v estido cor-de-
rosa que cobria os joelhos de Pedro, condizendo com as fitas do chapéu, também cor-de-rosa, simbolizando a vida romântica em que Pedro se deixou enlear. O azul dos olhos de Maria que,
embora azuis da cor do céu, eram de um “azul sombrio” prevendo sombras, tristezas e complicações para este amor. O caminho por onde estes passeavam era verde e fresco, mas a ramagem que o circundava pareceu, a Afonso, de um verde triste, prenunciando luto e tristeza que ensombraria aquela união; embora o verde seja símbolo da primavera, e por isso devia ser alegre, este verde é sombrio, pressagiando que a primavera da vida de Pedro também vai ser sombria. A sombrinha vermelha que envolvia Pedro lembrou a Afonso “uma larga mancha de
sangue” em que, de facto, Pedro vai morrer. O presságio do sangue pode ainda ser visto à luz dos netos de Afonso que, sendo do mesmo sangue, se vão envolver numa relação incestuosa, manchando a honra familiar dos Maias.
Durante as corridas de cavalo, Carlos que apostara em Vladimiro, uma pileca, acaba por ganhar
várias apostas, quando vai cobrar a dívida à ministra da Baviera que lhe diz, em tom de presságio
“Vous connaissez le proverbe: heureux au jeau...” azar no amor. De facto , Carlos pode ter sorte ao jogo, mas acaba por falhar no amor ao se apaixonar pela própria irmã.
A obra afasta-se dos postulados naturalistas, submetidos a um forte racionalismo, ao aceitar e
introduzir uma entidade transcendente que tudo faz para destruir Carlos e Maria Eduarda, depois de os ter aproximado. O destino compraz-se, assiste atento e ciumento, à felicidade do par e, quando nada o fazia prever, aparece abertamente através do Sr. Guimarães.
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