MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012
O Realismo Génese do Realismo Na segunda segunda metade metade do século século XIX, XIX, a Europa Europa vê-se vê-se sacu sacudida dida de lés a lés lés por novo novoss ventos ventos políticos, políticos, científicos científicos,, sociais sociais e religioso religiosos: s: a Espanh Espanhaa proclama proclama a república república em em 1868; 1868; a França imita-a pouco depois; Vítor Manuel destrói os Estados Pontíficios em 1870; anos atrás desfazia-se a Santa Aliança, último reduto contra a expansão do Liberalismo. Lamark insiste na evolução dos seres por influência do meio; Darwin apregoa a mesma evolução pela selecção natural; Huxley aplica as doutrinas transformistas ao próprio homem; Mendel descobre as leis da hereditariedade. Começa desta maneira a gerar-se uma visão materialista, pampsiquista e monista do Cosmos ao mesmo tempo que se abre o caminho para o estudo do homem sob os aspectos psíquico e físico. A Revolução Francesa tinha conduzido ao apogeu a burguesia capitalista. Para maior desequilíbrio económico, o motor de explosão e o eléctrico lançam agora no desemprego milhares de braços. O proletariado começa a ser um facto alarmante. Engels e Carl Marx apontam a solução comunista para a "questão social". Saint Simon, Proudhon, Fourier e outros preferem o socialismo utópico. A luta de classes prepara-se para deixar na literatura o seu rasto de dor e sangue. O cristianismo histórico e racionalista curva-se sobre as fontes do cristianismo. Harnach, Renan, Reinach e outros, sem negarem o facto cristão, desvirtuam-no e procuram explicá-lo pela fé puramente idealista. Depois de 1850 os homens de letras constatam que a Química, a Física, a Biologia, a Zoologia, a Botânica, para não falarmos da Matemática, numa palavra, constatam que todas as ciências procuravam alicerçar-se em comprovadas certezas e que até os cultores da Arte se esforçavam por serem verídicos. Desta maneira, em todos os ramos do saber se ia dizendo adeus a velhas teses, outrora admitidas sem discussão mas agora arrumadas já como falsidades. Ora, sendo estas coisas assim, porque é que os literatos haviam de continuar presos a um sentimentalismo doentio, a um idealismo aéreo, divorciado da realidade, a uma expressão hipócrita da paixão amorosa, a um carpir inútil de saudades, à idealização de um mundo ideal? Sentindo que perdiam um comboio a correr vertiginosamente para o campo da verdade nua e crua, reagiram. Como as restantes actividades do espírito humano, a literatura começou a buscar a realidade, não a deformada pelos românticos, mas a autêntica, tal qual se apresenta sem artifícios, sem retoques. Ainda por analogia com a técnica, a indústria e a ciência, que não conhecem fronteiras mas são as mesmas em qualquer clima, a nova arte literária deixou de ser nacionalista e revestiu-se de carácter cosmopolita. Como consequência desta reacção, nasceu o Realismo na literatura. O Realismo em Portugal Portugal, nesta época, já não estava separado do resto da Europa. O caminho de ferro encurtara a distância Coimbra-Paris em meses. A barreira dos Pirinéus era ineficaz para suster o avanço rapidíssimo destas novas ideias. Por isso, a sua influência entre nós não se fez esperar. No primeiro primeiro períod períodoo do Romant Romantismo, ismo, como dissemos, dissemos, os os escritore escritoress portuguese portuguesess sofreram sofreram influências do romance histórico de Walter Scott e Vítor Hugo (Nossa Senhora de Paris sobretudo), da poesia sentimental e tradicionalista de Lamartine da evocação históricoPraça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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religiosa de Chateaubriand, do espiritualismo filosófico de Vítor Cousin, da teoria da literatura de Madame de Staël e de Shlegel. Agora, novas influências vão entrar em acção. De França, sobretudo, chegam a Coimbra livros onde se aponta à literatura uma orientação muito diferente da seguida nas décadas anteriores. E todas as especializações do pensamento humano e da cultura vão ser afectadas em Portugal por doutrinas inovadoras nascidas no estrangeiro. 1. Irreligiosismo : os novos de Coimbra comentam asserções de Loisy e de Renan, que no seu criticismo bíblico separavam o Cristo da história do Cristo da fé. Agrada-lhes sobretudo uma religião sem dogmas, de cunho panteísta. Assumem atitudes vincadamente anticlericalistas. 2. Inconformismo com a tradição: graças ao avanço da ciência e da técnica, os nossos escritores convencem-se de que o homem pode superar muitas limitações que paralisaram os antigos; e, conseguindo o nivelamento de classes, acreditam que a consciência humana não mais se importará com os entraves que lhe opunha outrora a sociedade absolutista, burguesa e feudal. Sob traçado de Michelet, muitos escritores nossos (Eça, Antero, Oliveira Martins) tentam desmontar peça por peça a sociedade lusa, apeá-la do pedestal da tradição e alicerçá-la em novos princípios de justiça e dinamismo. dinamismo. 3. Supremacia da verdade física: as ciências exactas e experimentais, secundadas pelo avanço da técnica, levaram os estudiosos a considerar a verdade física como a única válida. Facto que não se demonstre empiricamente, será facto para arrumar. Esta posição materialista ante a realidade abortou nas teorias filosóficas a que nos vamos referir em seguida. 4. Novas teorias filosóficas : a Geração Coimbrã de 70 estuda com avidez o idealismo de Hegel, o socialismo de Proudhon, o positivismo de Comte, o evolucionismo de Darwin e Lamarck. 5. Materialismo optimista: ao mesmo tempo, todos se deixam contaminar por uma esperança firme no bem estar material dos tempos futuros, devido ao auxílio da máquina. E explicam o atraso do passado por os homens se terem deixado conduzir por forças espirituais, sobretudo pela religião. Daí o manifestarem-se contra todos os cultos revelados.
Características do Realismo Numa conferência conferência proferida proferida no "Casin "Casino", o", disse disse Eça Eça de Queirós Queirós a respeito respeito do do Realismo: Realismo: "É a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático, do piegas. É a abolição da retórica considerada arte de promover a emoção, usando da inchação do período, período, da epilepsia epilepsia da palavra, palavra, da congestação congestação dos tropos. tropos. É a análise análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o Realismo é uma reacção contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do sentimento; o Realismo é a anatomia do carácter, é a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que houver de mau na nossa sociedade". E sobre os preceitos a seguir na nova escola, acrescentou o mesmo romancista: "A norma agora são as narrativas a frio, deslizando como as imagens na superfície de um espelho, sem intromissões do narrador. O romance tem de nos transmitir a natureza em quadros exactíssimos, flagrantes, reais". Estas frases do autor de Os Maias são elucidativas. Aí se encontram as principais características do Realismo, que podemos resumir nas alíneas que seguem: 1. Análise Análise e síntese síntese da objectiv objectividade, idade, da realida realidade, de, da verdade, verdade, em oposição oposição ao subjecti subjectivismo vismo e idealismo românticos; 2. Indiferen Indiferença ça do "eu" subjec subjectivo tivo e pensan pensante te diante diante da Natureza Natureza que deve deve ser ser reproduzida reproduzida com com exactidão, veracidade e abundância de pormenores, num retrato fidelíssimo; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 3. Neutralid Neutralidade ade do coração coração e do espír espírito ito diante diante do bem e do mal, mal, do vício vício e da virtude, virtude, do belo belo e do feio; 4. Análise Análise corajosa corajosa dos aspecto aspectoss baixos da vida, vida, sobretudo sobretudo dos dos vícios vícios e taras, não os oculta ocultando ndo e chamando-os pelo seu nome; 5. Relacion Relacionação ação lógica lógica entre as causa causass (biológicas (biológicas e sociais) sociais) do comport comportament amentoo das personagen personagenss do romance e a natureza (exterior e interior) desse comportamento; 6. Admissão Admissão na literatu literatura ra do país de temas temas cosmopoli cosmopolitas tas em vez dos naciona nacionais is e tradicionais tradicionais dos dos românticos; 7. Uso de expre expressão ssão simples simples e tom tom desafect desafectado, ado, de modo modo que as ideias ideias,, sentimento sentimentoss e factos factos transpareçam sem esforço e sem convencionalismos (o oposto ao tom declamatório dos românticos).
Lembramos que o romance romântico é, por vezes, absolutamente verosímil e pode mesmo propugnar uma tese. Mas, na sua base, é todo fruto da imaginação e do sentimentalismo do autor, que, por isso, lança mão de lugares comuns arredados da objectividade: o quimérico e o prodigioso, o ideal e o sentimento, o monstro e o superhomem. Nisto se afasta do romance realista. A Estética Naturalista A filosofia positivista de Comte, as doutrinas de Taine, afirmando que a "virtude e o vício são produtos como o vitríolo e o açúcar", as teorias de Darwin e Haeckel sobre a hereditariedade, a adaptação ao meio e a luta pela vida levaram Zola a uma concepção determinista da existência humana. Por causa disso, o citado escritor entendeu que o romancista não devia limitar-se a observar os acontecimentos e expô-los, como faziam os realistas; teria de mostrar, com rigor próprio da ciência, que os factos psíquicos estão sujeitos a leis rígidas como os fenómenos físicos. Então o romance adquirirá valor social e cientifico. Tal foi o princípio da chamada estética naturalista, muito afim, sem dúvida, do Realismo, a qual cedo entrou em Portugal também. Júlio Lourenço Pinto publicou na revista "Estudos Livres" (dirigida por Teófilo Braga e Teixeira Bastos) uma série de artigos sobre esta matéria, os quais depois reuniu em volume com o título de Estética Naturalista (1885). Os seus princípios podem considerar-se como características da nova corrente: 1. Não Não há disti distinç nção ão entre entre Real Realism ismoo e Natura Naturalis lismo; mo; 2. A literatura literatura naturali naturalista sta é a expressão expressão dos dos progressos progressos da ciência ciência (Fisiol (Fisiologia, ogia, Sociologi Sociologia, a, estudo estudo dos caracteres, da evolução, da influência do meio, etc.); 3. O romanc romancee naturalis naturalista ta inspira inspira-se -se na vida quotidian quotidiana, a, comum; comum; 4. O Naturalis Naturalismo mo deve usar usar o método método psicológi psicológico, co, isto é, é, deve descre descrever ver as emoções emoções atravé atravéss das suas manifestações físicas, com base no estudo dos fisiologistas.
Início do Realismo em Portugal Em Portugal, os princípios do Realismo foram um pouco turbulentos. Isso deve-se ao facto de Castilho ser o mentor de grande parte dos literatos nacionais e não estar disposto a transigir com novidades que achava perigosas e condenadas a um desaparecimento próximo. próximo. Por outro lado, lado, a mocidade mocidade de Coimbra, Coimbra, que que consider considerava ava ultrapas ultrapassado sado o Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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didactismo do poeta cego, desvencilhou-se das redes em que o grupo de Lisboa a queria prender, prender, e seguiu seguiu o seu caminho caminho,, a golpes golpes de polémica polémica acesa acesa e nem nem sempre sempre calma calma.. Esta esgrima entre os discípulos de Castilho e os irrequietos moços de Coimbra ficou conhecida na história pelo nome de "Questão Coimbrã". 1. A "Questão Coimbrã" 1. Castilho aprecia mal Teófilo e os realistas : em 1864, Teófilo Braga publicou Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras; e, no ano seguinte, saíram as Odes Modernas de Antero. Talvez por deferência para com o velho romântico e não por desafio, Teófilo ofereceu a Castilho Tempestades Sonoras. Castilho leu. Gostou dos versos mas ficou alarmado com as teorias da escola realista expostas no prefácio. Escreveu então ao jovem poeta uma careta, onde diz não atinar com a revolucionária doutrina do prólogo, que condena abertamente. Ao contrário, confessa que nas poesias encontrou "milhares de belezas de primeira ordem e assomos de uma verdadeira inspiração". Parafraseando o título da obra, classifica as teorias do prólogo como "tempestades que ensurdecem, desorientam, terrificam"; as poesias, essas considera-as "sonoras e mais e melhor do que sonoras, lustrosas e sólidas de oiro incandescente e de diamante e montanhas de luz. 2. Castilho apresenta "O Poema da Mocidade": em 1865, Pinheiro Chagas publicou "O Poema da Mocidade", Castilho apadrinhou a obra e o autor numa carta endereçada ao editor António Maria Pereira, apensa ao volume. Alude nessa carta aos caminhos perigosos por onde tentavam arrastar a Literatura alguns grupos de Coimbra (por exemplo, a Sociedade do Raio, emigrada no Porto, constituída contra medidas tomadas pelo Reitor da Universidade). Remédio para essa desorientação afirma só conhecer um: a nomeação de Pinheiro Chagas para professor de Literatura no Curso Superior de Letras. Pretendiam também o lugar Antero, Teófilo e Vieira de Castro. Como bom patrono de Pinheiro Chagas, Castilho pôs objecções a todos estes. Enquanto reconheceu talento e futuro a Vieira de Castro, apodou Antero e Teófilo de jovens sem experiência, entusiasmados por teorias deletéreas, que, passados dez anos, como diz, não deixarão de repudiar. Critica-os asperamente e quase lhes pede em troca agradecimentos, que a crítica que lhes estava fazendo só contribuía para lhes antecipar, e muito, a experiência, etc. 3. Reacção de Antero : num opúsculo em forma epistolar, conhecido pelo nome de "Bom Senso e Bom Gosto", Antero de Quental respondeu nesse mesmo ano de 1865 às críticas de Castilho. Examinando uma por uma as obras do velho poeta, disse mal de todas; atacou as concepções românticas a que estava preso o "Bardo da Primavera"; e desceu ao insulto, negando-lhe experiência e confessando-se sem nenhuma consideração por ele. 4. Intervenções pró e contra Castilho : a defender Castilho vieram à liça Pinheiro Chagas, José de Castilho, Júlio de Castilho, Brito Aranha, Camilo Castelo Branco. Ao lado de Antero enfileiraram Teófilo Braga, Oliveira Martins, Eça de Queirós e outros.
Antero escreveu um segundo opúsculo, "A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais" (1865) e Teófilo outro com o título "Teocracias Literárias" (1866). A questão foi-se avolumando, tendo saído pró e contra Castilho 44 folhetos. Entretanto Ramalho Ortigão, durante algum tempo neutral, lembrou-se de intervir como árbitro e escreveu o panfleto "Literatura de Hoje" (1866). Aí critica a escola de Castilho, vaga de conteúdo; mas não perdoa a Antero o ter insultado um velho cego e chama-lhe cobarde. Antero não gostou nada do insulto e mete-se a caminho do Porto para dar uma tareia em Ramalho. Deambulando pelas ruas do velho burgo portuense, foi cumprimentado efusivamente por Camilo, que tinha no prelo um folheto contra ele e Teófilo - "Vaidades Irrritadas e Irritantes" (1866) - e que, por isso, também ficou cheio de medo. Convenceu o autor das Odes Modernas a citar Ramalho para um duelo formal, em vez de o desancar à bengalada. Antero acabou por aceitar o duelo. Travou-se na Arca d'Água, ficando Ramalho Ortigão ligeiramente ferido. A teimosia e a convicção de Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Antero são um símbolo. A nova escola tinha de vingar. Aos poucos os velhos românticos foram ficando em silêncio e o Realismo fez a sua época triunfante. 2. As "Conferências do Casino"
Quando se deu a Questão Coimbrã quase todos os adeptos do Realismo eram estudantes na Lusa Atenas. Terminados os cursos, cada um foi para o seu sítio, permanecendo, porém, unidos no ideal. Antero viajou pela França, América e Açores. Regressando a Lisboa, lembrou-se, juntamente com outros, de organizar uma série de conferências onde se expusessem "as grandes questões contemporâneas religiosas, literárias, políticas, sociais e científicas, num espírito de franqueza, coragem e positivismo" como disse em carta a Teófilo Braga. Se passavam a vida a ler Proudhon, Hegel e até Carl Marx, bom seria - afirmava - que cada semana se lançasse "uma ideia ou duas para o meio da massa adormecida do público". A iniciativa foi avante e começaram as chamadas "Conferências Democráticas do Casino Lisbonense", numa sala de aluguer da esquina da Travessa da Trindade (hoje Largo Rafael Bordalo Pinheiro). 1. Finalidade das Conferências: numa proclamação, publicada n'A Revolução de Setembro de 18 de Maio de 1871 e assinada por Antero, Adolfo Coelho, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Germano Meireles, Guilherme de Azevedo, Batalha Reis, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Manuel de Arriaga, Salomão Sáragga e Teófilo Braga, vem expressa com clareza a finalidade das conferências: 1. Expor ideias e trabalhos que se preocupem com a transformação social, moral e política dos povos; 2. Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a humanidade civilizada; 3. Procurar adquirir consciência dos factos que nos rodeiam na Europa; 4. Agitar na opinião pública as grandes questões da filosofia e da ciência moderna; 5. Estudar as questões da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa;
É curioso notar que este programa se orientava para uma dupla finalidade: livre discussão de ideias, por princípio mas também propaganda aberta, senão imposição, dum ideal revolucionário: republicanismo, socialismo, religiosismo interior sem dogmas e sem hierarquia, função social da arte, etc. Bem vistas as coisas, a segunda finalidade asfixiava a primeira. 2. Conferências realizadas: a sala das conferências estava aberta a toda a classe de pessoas, exigindo-se apenas o pagamento de um tostão para despesas. E começaram; após um discurso inaugural de Antero com o título "O Espírito das Conferências" (22 de Maio de 1871), ele mesmo proferiu, em 29 de Maio a primeira conferência. o
1ª. Conferência: "Causas da Decadência dos Povos Peninsulares" - segundo o autor, essas causas reduzem-se a três: 1. a cintura em que o Catolicismo da Contra-Reforma isolara a Península das ideias do resto da Europa; 2. a centralização do poder nas mãos dos reis e a coartação das liberdades concelhias; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 3. o excessivo desenvolvimento das conquistas, que arruinaram a economia portuguesa.
2.
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2ª. Conferência: "Literatura Portuguesa" - teve lugar em 5 de Junho e proferiu-a Augusto Soromenho, professor do Curso Superior de Letras. Afirmou que Portugal só tivera autêntica literatura em Gil Vicente, Camões, Soares dos Passos e Júlio Dinis. Mostrou-se apologista de gostos estéticos universais, negando que a literatura verdadeira tenha de andar sujeita ao paladar dos tempos e escolas. Também não admite a literatura como expressão da sociedade. Disse que entre nós não se sabia ainda o que é o romance. Causas desta decadência? A Imprensa. Remédios? O regresso à educação e à literatura com base na moral e com Deus por finalidade (aprovação do Romantismo à Herculano - posição um tanto retrógrada).
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3ª. Conferência: "O Realismo como nova expressão da arte" - fez esta conferência, em 12 de Junho, Eça de Queirós. Defendeu teorias estéticas relativistas (estética condicionada pelo solo, clima, raça, cultura, política, etc.), inspiradas em Proudhon. Condenou a fórmula "arte pela arte", tão divulgada por Ariosto na Renascença. A arte deve ser teleológica, isto é, deve ter uma finalidade: corrigir e ensinar. Para isso, tem de basear-se na lei moral e científica. Só no Realismo é que é possível criar uma arte assim, uma arte capaz de revolucionar a sociedade. Segundo Eça, a arte literária deve ter três qualidades essenciais: ser bela, justa e verdadeira. Esta conferência contradiz em parte a anterior.
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4ª. Conferência: "O Ensino" - pronunciou-a Adolfo Coelho, em 19 de Julho. O conferencista, professor do Curso Superior de Letras, criticou todas as instituições escolares portuguesas desde a escola primária à universidade, como no século XVIII fizera Verney. Propugna o desenvolvimento dos estudos filosóficos e sociais e defende o laicismo no ensino.
Proibição das Conferências: estava anunciada para 26 de Junho a conferência de Salomão Sáragga sobre "Os Historiadores Críticos de Jesus". Naturalmente que ia ser um eco das doutrinas de Renan e Strauss. Quando o público já se dirigia para a sala foi notificado de que uma portaria assinada pelo Marquês de Ávila e Bolama, presidente do Ministério, proibia de vez a continuação das conferências, sob pretexto de atacarem a religião e as instituições políticas do Estado. Os organizadores, furiosos, dirigiram-se ao Café Central no Rossio. Aí redigiu Antero um comunicado de protesto, que veio publicado nos jornais do dia seguinte. De nada adiantou. Assim, ficaram para sempre silenciosos nos linguados, além da citada de Salomão Sáragga, as conferências já anunciadas de Batalha Reis (O Socialismo) ,de Antero de Quental (A República), de Adolfo Coelho (A Instrução Primária) e de Augusto Fuschini (Dedução Positiva da Ideia Democrática). Não obstante a sua curta duração, não podemos deixar de assinalar o impulso que estas conferências deram às doutrinas do Realismo, já expostas nos folhetos da "Questão Coimbrã". 3. "As Farpas"
1. Publicação: no mesmo ano em que tiveram lugar as conferências o duunvirato Eça/Ramalho iniciou a publicação de "uma crónica mensal da política, das letras e dos costumes" (como diz Eça em carta a Emídio Garcia). Saiu essa crónica com o nome sugestivo "As Farpas". Por mais de uma vez Eça comparou a sociedade portuguesa do seu tempo a um animal dorminhoco, pachorrentamente imobilizado na arena do mundo. Entendeu que a arte realista tinha por missão farpear esse animal, a ver se sairia da imobilidade glacial em que hibernava. Não quis usar bons modos nem palavras mimadas; preferiu a sátira e a ironia. Essa é a razão de ser do periódico. 2. Colaboração de Eça: Eça não colaborou n'"As Farpas" durante muito tempo. Em 1872, retirouse para Cuba, ficando Ramalho sozinho na liça. Enquanto Eça pontificou, "As Farpas" encheram-se de críticas verrinosas a muitas instituições e costumes tradicionais e à literatura romântica. Por esta razão, contribuíram também para o advento do Realismo, como a "Questão Coimbrã" e as "Conferências do Casino". Sob o aspecto literário, Eça critica: o lirismo romântico, hipócrita e mentiroso; o romance Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 passional, apoteose de adultérios; o teatro, puramente declamatório. O estilo é sempre humorístico, zombeteiro. Desejavam os críticos emendar o mundo com o riso, de harmonia com o ridendo castigat mores "o riso é um castigo; o rios é uma filosofia" - afirmavam os dois, armados em bandarilheiros. E acrescentavam: "passa-se sete vezes uma gargalhada à volta de uma instituição, e a instituição alui-se". Os artigos de Eça de Queirós foram reunidos em dois volumes e publicados com o título de Uma Campanha Alegre (1890-1891). 3. Colaboração de Ramalho: o temperamento e a educação de Ramalho Ortigão não eram de molde a levá-lo a passar a vida a dar pontapés na entorpecida sociedade portuguesa. Saído da velha geração romântica, só tarde aderiu ao Realismo. Deixou-se levar por Eça na corrente. Porém, logo que pôde, saltou para a margem e orientou a actividade literária para destino diferente. Continuou a publicação d' "As Farpas", lançando para as mãos dos leitores um total de 15 volumes. Mas o conteúdo começou a ser outro. Sem deixar de fazer crítica acerba, procurou ser mais construtivo do que demolidor. E ei-lo transformado em mestre que ensina: orientações pedagógicas, princípios higiénicos, normas de conduta social. Peregrinando através das terras de Portugal, viu-se enfeitiçado pela paisagem e pelo povo e descreve com entusiasmo e gosto: o colorido das feiras e arraiais; a beleza das cidades, vilas e aldeias; a policromia dos trajes regionais, o pitoresco das praias e termas. Ramalho Ortigão arredou-se do caminho inicial, como se vê, e em 1908 encontramo-lo totalmente convertido ao neogarrettismo. Em último "As Farpas", atreve-se a criticar até os primeiros anos do governo republicano e o liberalismo.
4. Conclusão
O movimento realista, iniciado com a "Questão Coimbrã", recebeu enorme impulso das "Conferências do Casino" e começou a ser concretizado nos artigos d'"As Farpas". Depois de 1870, mesmo os seus mais irredutíveis adversários, como Camilo, vergavam a cerviz ao jogo das novas teorias da arte. E ou as tentavam (foi o caso do velho romancista) ou então perdiam os leitores. Eça de Queirós não tardaria a captar as simpatias do público com os seus romances e com uma prosa diferente da antiga. O Romantismo sofreu uma remodelação total.
Eça de Queirós: Os Maias Personagens (mencionadas por ordem de aparição) 1. Sebastião da Maia (p.7); 2. Condessa de Runa (p.9); Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 3. Tobias, um são-bernardo; 4. Gato angorá, branco c/ malhas louras, chama-se, sucessivamente, Bonifácio/D. Bonifácio de Calatrava/Reverendo Bonifácio; 5. Vilaça; 6. Vilaça (o Júnior); 7. Manuel Vilaça; 8. Caetano da Maia (Miguelista), pai de Afonso da Maia (Liberal); 9. Jerónimo da Conceição, confessor de Caetano da Maia; 10. As Cunhas, primas de Afonso da Maia; 11. Fanny, tia de Afonso da Maia; 12. D. Maria Eduarda de Runa, filha de um conde; casa com Afonso da Maia, depois da morte do pai deste, Caetano da Maia; 13. Coronel Sequeira, amigo de Afonso da Maia; 14. Pedro da Maia, filho de Afonso da Maia, tem um bastardo aos 19 anos; 15. Avô da mulher de Afonso da Maia (enlouquecera; julgando-se Judas, enforcara-se numa figueira); 16. Tomás de Alencar, amigo de Pedro da Maia; 17. D. João da Cunha, amigo de Pedro da Maia (e de Alencar); 18. Maria Monforte; 19. Manuel Monforte, pai de Maria Monforte, açoreano; 20. André, criado do café Marrare, no Chiado (p.23); 21. O Melo, conhecido de Pedro da Maia (mais tarde amigo de Alencar, Carlos e Cruges); 22. Tancredo, o napolitano que foge com Maria Monforte; 23. O Magalhães, conhecido de Pedro da Maia; 24. Luís Runa, primo de Afonso da Maia; 25. Teixeira, escudeiro (ó mordomo) de Afonso da Maia; 26. Saldanha, personagem aludida, que é demitido do Paço; 27. Maria da Gama, personagem aludida, frequenta Maria Monforte; é uma troca-tintas; 28. André da Ega, personagem aludida, frequenta Afonso da Maia em Sta. Olávia; 29. D. Diogo Coutinho, personagem aludida, frequenta Afonso da Maia em Sta. Olávia; 30. Dr. Guedes, o médico; 31. Marquesa de Alvenga, personagem referida; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 32. Velho Cazoti (deve ser professor de música); 33. Gertrudes, governanta de Afonso da Maia; 34. Prima da mulher de Afonso, uma Runa, viúva do visconde de Urigo de la Sierra; 35. Abade Custódio; 36. Carlos Eduardo da Maia, neto de Afonso da Maia; 37. Sr. Brown, preceptor de Carlos Eduardo; 38. D. Ana Silveira (vizinha?), a mais velha, solteira, da família dos Silveiras, da Quinta da Lagoaça; 39. Teresinha Silveira, "namorada" de infância de Carlos Eduardo; 40. D. Cecília Macedo, mulher do escrivão (p.67); 41. Pedra, tia de Carlos Eduardo (p.59); 42. D. Eugénia Silveira, viúva; tem 2 filhos, Teresinha e Eusébiozinho (o papa-livros, descrição na p.69); 43. O doutor delegado, que não se decide a casar ou não com D. Eugénia, havia já 5 anos; 44. O juiz de Direito e D. Augusta, sua mulher; 45. Recorda-se, na tagarelice, Manuel Branco, da família dos Brancos; 46. Mr. de l'Estorade, espadachim (mais tarde chamado Vicomte de Manderville); 47. André Noronha, primo de Afonso da Maia; 48. Catanni, acrobata (com quem Maria foge para a Alemanha); 49. Dr. Trigueiros; 50. João da Ega, sobrinho de André da Ega, amigo de Carlos Eduardo; 51. Serra Torres, adido em Berlim, amigo de Carlos Eduardo; 52. Simão Craveiro, amigo de Carlos Eduardo (e de Ega, também); 53. Gamacho (tocava piano), amigo de Carlos Eduardo; 54. Baptista, criado de quarto de Carlos; 55. Amigos de Carlos Eduardo depois do consultório estabelecido: Taveira, vizinho, empregado no Tribunal de Contas; Cruges, maestro, pianista; marquês de Souselas; 56. Sr. Vicente, mestre-de-obras; 57. Mr. Theodore, chef de Afonso da Maia; 58. Jacob Cohen, director do Banco Nacional; 59. Raquel Cohen, esposa de Jacob Cohen (com quem J. da Ega tem um caso); 60. Craft, filho de um clergyman da igreja inglesa do Porto, amigo de Carlos e de Ega; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 61. D. Diogo, amigo do whist de Afonso da Maia; 62. Conde Steinbroken, ministro da Finlândia, visita habitual do Ramalhete; 63. Tarquínio; 64. Marcelino, o padeiro; 65. Marcelina, a mulher do padeiro; 66. Azevedo, jornalista; 67. Sá Nunes, jornalista; 68. Gastão, conde de Gouvarinho; 69. Margarida, cozinheira de D. Diogo; 70. Dr. Barbedo; 71. Amigos do Ega: Dâmaso Salcede, amigo do Cohen; 1 primo da Raquel Cohen; 72. Viegas, um dos doentes de Carlos Eduardo; 73. Manuel Pimenta, criado dos Gouvarinho; 74. Tompson, pai da condessa de Gouvarinho; 75. Sra. Josefa, rapariga cozinheira do Ega; 76. Shelgen, um alemão que vivia na Penha de França; 77. Tio Abraão, um comerciante de bricabraque; 78. Castro Gomes, o brasileiro; 79. Joaquim Guimarães, tio de Dâmaso Salcede; 80. Sra. Cândida, dona de uma venda; 81. Mateus, criado negro de Alencar; 82. Dr. Teodósio; 83. Charlie, o filho dos Gouvarinho; 84. Lola e Concha, as espanholas do Eusébiozinho; 85. Palma, amigo do Eusébiozinho; 86. Carvalhosa, amigo do Alencar, que vive em Colares (p.242); 87. Médico Smith; 88. Mª Eduarda, a "esposa" do Castro Gomes; 89. Melanie, criada dos Castro Gomes; 90. Miss Sara, governanta dos Castro Gomes; 91. Rosa (Rosicler), filha de Mª Eduarda; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 92. Godefroy, costureiro que fez o fato de Mefistófeles do Ega; 93. Sra. Adélia, criada de Raquel Cohen; 94. Domingos, ex-serviçal do Ramalhete, criado dos Cohen; 95. D. Maria Lima, tia de Gastão Gouvarinho; 96. D. Maria da Cunha, amiga da Gouvarinho; 97. Teles da Gama, amigo dos Gouvarinho; 98. Torres Valente, político da câmara; 99. Miss Jones, tia da Gouvarinho, que lhe emprestara a casa à R. de Sta. Isabel para os seus "encontros" com Carlos; 100.Borges, vizinha de Miss Jones; 101.Manuela (ou, Manueleta), "conhecida" do marquês de Souselas; 102.Pe. Serafim, padre da família do Ega; 103.Clifford, um sportsman de Córdova; 104.Visconde de Darque, um sportsman português; 105.Viscondessa de Alvim, presente no hipódromo; 106.Joaninha Vilar, presente no hipódromo; 107.As Pedrosos, presentes no hipódromo; 108.Condessa de Soutal, presente no hipódromo; 109.Menina Sá Videira, filha do negociante de sapatos de ourelo, presente no hipódromo; 110.Ministra da Baviera; 111.Baronesa de Craben; 112.Concha, amiga de D. Maria da Cunha; 113.Pancho Calderon, anfitrião de Carlos e Clifford; 114.D. Pedro Vargas, primo do marquês e comissário das corridas de cavalos; 115.Mendonça, juiz das corridas; 116.Pinheiro, o jóquei que montou o "Escocês"; 117.Josefina do Salazar, acompanhante do Dâmaso; 118.Bertonni, tenor; 119.Sra. Augusta, porteira (?) do prédio onde mora o Cruges e a Castro Gomes; 120."Niniche", a cadelinha de Mª Eduarda; 121.Dr. Chaplain, médico de Mª Eduarda em Paris; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 122.Romão, criado de Mª Eduarda (tinha sido antes do Dâmaso); 123.Manuelinho, filho do Vicente, mestre-de-obras; 124.Fillon, o fotógrafo; 125.Sr. Sousa Neto, amigo do conde Gouvarinho; 126.Barros, ministro do Reino; 127.Vicenta, criada da Baronesa de Alvim; 128.Julinha, mulher do Carvalhosa; 129.Travassos (deve ser médico); 130.Mr. Antoine, o chef francês; 131.Micaela, cozinheira da casa; 132.Cortês, alfaiate do avô de Carlos; 133.Conde de Landim; 134.Patrick Mac Gren, "marido" de Mria Eduarda em Paris; 135.Silvestre, ajudante no pasquim do Palma; 136.Viscondessa de Cabelas; 137.Zeferino, conhecido (?) do Dâmaso, a quem Palma pediu emprestado um relógio; 138.Nunes, tabelião do Dâmaso, sito à Rua do Ouro; 139.Neves, político, director d' A Tarde; 140.Dâmaso Guedes, político; 141.Sr. Pereirinha, editor do jornal do Neves; 142.José Clemente e Rufino, políticos aludidos por Neves; 143.Gonçalo, político, conhecido do Neves; 144.Melchior, conhecido do Ega (e do Neves); 145.D. José Sequeira, comissário do sarau da Trindade; 146.O Prata, que fala no sarau (e põe toda a gente a "fugir"); 147.Vieira da Costa, correligionário do Gouvarinho; 148.Clemence, uma costureira de Levaillant, com quem Guimarães vive; 149.Simões, um estofador; 150.Visconde de Torral, amigo (ou cliente) do Vilaça; 151.Padre Talloux, confessor de Maria Monforte; 152.Paca e Cármen Filósofa, duas espanholas; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 153.Dr. Azevedo, mora ao pé da padaria, perto do Ramalhete; 154.Marquês de Vila Medina, amigo de Carlos; 155.Barradas, pintor do retrato de Cruges; 156.Leonor Barradas, tia do Barradas, já falecida; 157.Homens e mulheres que o Ega conhcera: Lucy Gray, Conrad, Marie Blond, Mr. de Menant, Doubs; 158.Barroso, o amante da mulher de Dâmaso, filha dos condes de Águeda; 159.Adosinda; 160.João Eliseu; 161.Mr. de Trelain, noivo de Mª Eduarda.
Resumo detalhado d'Os Maias Capítulo I
Descrição e historial do Ramalhete, casa que a família Maia veio habitar em Lisboa, Outono de 1875. Em 1858, quase tinha sido alugada a monsenhor Buccarini pelo procurador dos Maias, Vilaça; nota-se que os Maias eram uma família nobre, mas com sinais de decadência. A casa que tinham em Benfica foi vendida (já pelo Vilaça Júnior) e seu conteúdo passou, em 1870, para o Ramalhete. A Tojeira, outra propriedade, também fora vendida. Poucos em Lisboa sabiam quem eram os Maias, família que vivia até então na Quinta de Santa Olávia, nas margens do Douro. Os Maias, antiga família da Beira, eram, no momento desta narração, constituídos por Afonso da Maia e Carlos Eduardo da Maia, seu neto, que estudava medicina em Coimbra. Meses antes de este acabar o curso, o avô decide vir morar para Lisboa, no Ramalhete. Reforma-se o Ramalhete sob a direcção de um compadre de Vilaça, um arquitecto e político chamado Esteves. Mas Carlos traz também um arquitecto-decorador de Londres, despedindo assim Esteves. A casa é fechada e, só depois de uma longa viagem de Carlos pela Europa, é que é habitada pelo avô e neto, em 1875. Descrição física de Afonso (p.12). Começa-se, através do contar da vida de Afonso, uma analepse (pp.13-95), onde se conta a ida a Inglaterra, a morte do pai, o casamento, o nascimento de Pedro da Maia, o retorno e exílio a Inglaterra devido às suas ideias políticas; em Richmond, Afonso fica a saber da morte da mãe, em Benfica. Pedro da Maia é educado pelo padre Vasques, capelão do conde Runa, mandado vir de Lisboa. Morre a tia Fanny. Vão para Roma, Itália. Voltam a Benfica, finalmente. Explica-se porque Afonso se torna ateu (pp.18-20). Pedro cresce; tem um filho bastardo, aos 19 anos. A mãe, esposa de Afonso da Maia, morre; Pedro da Maia entrega-se à bebida e distúrbios. Um ano depois, "acalma-se". Começa a grande paixão de Pedro da Maia (p.22): descrição de Maria Monforte, de origens misteriosas. Alencar vê Pedro e Maria no teatro S. Carlos, no final do I acto do Barbeiro de Sevilha. Pedro pede permissão ao pai para casar com Maria Monforte. Afonso recusa. Pedro casa e vai para Itália. Capítulo II
De Itália, Pedro e Maria vão para França. Maria engravida e Pedro trá-la para Lisboa; antes, porém, escreve ao pai. Vai para Benfica, mas o pai, em desfeita, já tinha partido para Sta. Olávia. Nasce uma filha a Pedro; mas este já não o comunica ao pai, Afonso; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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começa um período de cerca de 3 anos, em que pai e filho não se falam. Descreve-se o ambiente das soirées lisboetas em Arroios. Nasce um menino, Carlos Eduardo. Ao ir a uma caçada na Tojeira, Pedro fere um recém-chegado, um napolitano chamado Tancredo. Trata-o em sua casa. Dois dias depois, Tancredo recolhe-se a um hotel. Descrição do napolitano (p.41). M.ª Monforte isola-se, acaba com as soirées, depois de saber que o sogro voltara a Benfica. Passam-se alguns meses, com a presença habitual de Tancredo. A filha tem já 2 anos. Maria Monforte foge com o napolitano e a filha, deixando o filho, Carlos Eduardo e uma carta. Afonso, por causa disto, reconcilia-se com Pedro. Nessa mesma noite e madrugada, Afonso acorda com um tiro. Pedro suicidara-se. É enterrado no jazigo de família em Sta. Olávia. Capítulo III
Passam-se vários anos. Afonso vive com o neto em Sta. Olávia, o Teixeira e a Gertrudes, escudeiro e governanta, respectivamente. Vive lá também uma prima da mulher de Afonso, uma Runa, que era agora viúva de um visconde de Urigo de la Sierra, e o preceptor de Carlos Eduardo, o Sr. Brown. Refere-se a severa educação inglesa de Carlos, em que não entra a religião, para desgosto do abade Custódio. Descreve-se uma noite em Sta. Olávia com os amigos de Afonso. Fala-se dos arrulhos de Teresinha e Carlinhos (p.72). Menciona-se a Monforte, mãe de Carlos (p.78), que dá pelo nome de Madame de l'Estorade. Não se sabe o que é feito da filha que ela levou. Mais tarde, sabe-se por Alencar que Maria Monforte lhe dissera que sua filha tinha morrido em Londres. Vilaça morre (p.84). Manuel Vilaça, filho do Vilaça, torna-se administrador da casa. Capítulo IV
Passam-se anos. Carlos faz exames; está prestes a formar-se em Medicina. Contam-se as cenas da vida em Celas, com os amigos. O Teixeira, Gertrudes e o abade já haviam morrido. Descrição de João da Ega (p.92), aluno baldas e grande ateu. Alude-se a uma aventura adúltera passageira de Carlos com uma Hermengarda, mulher de um empregado do Governo Civil. Outra aventura foi com uma espanhola, Encarnacion. Carlos forma-se em Agosto. Parte de viagem para a Europa. Chega o Outono de 1875 e Carlos também. Volta-se ao PRESENTE da narração (p.96). Descrição de Carlos já homem feito (p.96). Carlos instala-se no Ramalhete com toda a sua parafernália de instrumentos de medicina. Passa tudo para um laboratório no Largo das Necessidades e abre um consultório no Rossio. Ninguém lhe aparece para consulta. Ega visita-o no consultório. Diz-lhe que vai publicar um livro, "Memórias de Um Átomo". Capítulo V
Carlos tem a sua 1ª doente, a mulher do padeiro Marcelino. Descreve-se um dos serões no Ramalhete. Às 2.15 a.m., começam a abandonar o Ramalhete. Carlos começa a ter clientes. Ega aparece-lhe ocasionalmente, para ler uma parte do seu manuscrito, para o convidar a ser apresentado aos Gouvarinhos… Conhece-os, por fim, na frisa do teatro. Capítulo VI
Carlos visita Ega na sua nova casa, a Vila Balzac, no Largo da Graça, depois da Cruz dos 4 Caminhos. Saem. Encontram Craft. Combinam jantar no Hotel Central, em honra ao Cohen. Chegam os Castro Gomes para se hospedar (p.157). Alencar encontra Carlos da Maia, que tem agora 27 anos. Alencar é contra o Naturalismo e tudo o que lhe cheire a Realismo. Começam a discutir a decadência de Portugal, política e socialmente. Acabam bem o jantar. Ega e Alencar discutem. Reconciliam-se. Saem todos do Hotel Central. Alencar acompanha Carlos até casa. Analepse de uma conversa de Carlos e Ega em que Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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este, bêbado, lhe revelara a verdadeira história da mãe de Carlos. Carlos adormece, pensando na misteriosa senhora do Hotel Central e no Alencar. Capítulo VII
Craft tornara-se íntimo no Ramalhete. Carlos, retirado do consultório, passava os dias em casa, escrevendo o seu livro. O Dâmaso pegou-se a ele como uma "lapa". Ega, endividado, vem pedir mais 115 libras a Carlos. Certo dia, o Dâmaso não aparece, nem nos dias seguintes. Carlos acaba por ir procurá-lo. Chegando ao fim da Rua do Alecrim, encontra Steinbroken, que se dirige ao Aterro. Durante a conversa, passa a misteriosa figura do Hotel Central (pp.202-3). No dia seguinte Carlos volta ao Aterro e ela torna a passar, mas agora acompanhada do marido. A Gouvarinho, a pretexto da "doença" do filho Charlie, visita-o no consultório. Carlos flirta-a abertamente. Reaparece Dâmaso, de repente, numa caleche, dizendo a Carlos ter um "romance divino". Tudo indica serem os Castro Gomes a sua companhia. Aparece na "Gazeta" um artigo de J. da Ega elogiando os Cohen. Discutem-no na soirée. Carlos convida o Cruges a ir a Sintra, depois do Taveira lhe ter dito que Dâmaso e os Castro Gomes se dirigiam para lá. Capítulo VIII
(Este capítulo demora 2 dias) Viagem a Sintra; instalam-se no Nunes. Apanham o Eusébiozinho com duas espanholas. A Concha faz uma cena quando o Eusébiozinho "se deita de fora" (p.228). Na manhã seguinte, partem em direcção a Seteais detendo-se, porém, em frente ao Lawrence. Pausa de reflexão idílica sobre Sintra. Encontram Alencar (p.234). Na volta, passam pelo Lawrence, vão até o Nunes, e Carlos descobre que Dâmaso e os Castro Gomes já tinham saído no dia antes para Mafra. Pensa disparates românticos sobre a Castro Gomes (p.245). Jantam no Lawrence, um bacalhau preparado segundo o Alencar. Partem de Sintra. Cruges, a meio do caminho, lembra-se de que se tinha esquecido das queijadas. Capítulo IX
(1 dia) Já no Ramalhete, no final da semana, Carlos recebe uma carta a convidá-lo a jantar no Sábado seguinte nos Gouvarinhos; entretanto, chega Ega, preocupado em arranjar uma espada conveniente para o fato que leva nessa noite ao baile dos Cohen. Dâmaso também aparece de repente, pedindo a Carlos para ver um doente "daquela gente brasileira", i.e., os Castro Gomes. É a menina, visto que os pais haviam partido essa manhã para Queluz. Chega ao Hotel, mas a pequena, chamada Rosicler, não teve mais que um mal-estar passageiro. Carlos dá uma receita a Miss Sara, a governanta. 10 horas da noite: ao preparar-se para o baile, aparece o Mefistófeles Ega a Carlos, dizendo que o Cohen o expulsara (ao que parece, descobrira as cartas de Raquel e Ega). Vão a casa do Craft pedir conselho sobre o "provável" duelo. Ceiam. (1 dia) No dia seguinte, nada acontece, excepto a vinda da criada de Raquel Cohen, anunciando que ela levara uma coça e que partiam para Inglaterra. Ega dorme nessa noite no Ramalhete. Na semana seguinte, só se ouve falar do Ega e do mau-carácter que ele é. "Todos caemlhe em cima" (p.289). Carlos vai progressivamente ficando íntimo dos Gouvarinhos. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Visita a Gouvarinho e dá-lhe um tremendo beijo (p.297), mesmo antes da chegada do conde Gouvarinho. Capítulo X
Passam-se 3 semanas. Carlos sai de um coupé, onde acabara de estar com a Gouvarinho. Nota-se que já estava farto dessas 3 semanas e que se quer ver livre da Gouvarinho. Encontra o marquês pela rua, constipado. Fugazmente, vê Rosicler acenando de um coupé adiante do Grémio. Combina com o Dâmaso, no Ramalhete, levar os Castro Gomes a ver o bricabraque do Craft, nos Olivais. Não se concretiza a ideia. Chega o(s) dia(s) das corridas de cavalos. Confusão à porta do hipódromo. Descrição do ambiente dentro do hipódromo (pp.314-320). Confusão com um dos jóqueis que perdera uma corrida. Briga e rebuliço. Encontra a Gouvarinho, que lhe propõe ir até o Porto (seu pai estava mal), dar uma "rapidinha" em Santarém, e daí cada um seguia para o seu lado. Carlos começa a ruminar no absurdo de toda aquela ideia. Fazem-se apostas. Todos apostam contra Vladimiro, cavalo em que Carlos tinha apostado. Vladimiro vence e Carlos ganha 12 libras, facto muito comentado. Encontra Dâmaso, que lhe informa que o Castro Gomes afinal tinha ido para o Brasil e deixara a mulher só por uns 3 meses. Carlos devaneia. Discute com a Gouvarinho, mas acaba por aceder ao desejo do encontro em Santarém. Sempre pensando na mulher de Castro Gomes, vem a Lisboa, com o pretexto de visitar o Cruges (o Vitorino), agora que sabe que ela mora no mesmo prédio, à R. de S. Francisco. O Cruges não está; Carlos vai para o Ramalhete. Tem uma carta da Castro Gomes pedindo-lhe que a visite, por ter "uma pessoa de família, que se achava incomodada". Carlos fica numa agitação (de contentamento). Capítulo XI
Carlos vai visitar a Castro Gomes, i.e., Maria Eduarda. É a governanta, Miss Sara, que está doente. Descrição de Maria Eduarda (p.348). Examina Miss Sara. Receita-lhe. Falando com Maria Eduarda, descobre que é portuguesa, não brasileira. "Até amanhã!" é agora no que Carlos só pensa; um recado da Gouvarinho indispõe-no. Começa a "odiála". Por sorte, o Gouvarinho decidiu à última da hora ir com a mulher para o Porto, o que convém muito a Carlos, assim como a morte de um tio de Dâmaso em Penafiel, deixandolhes os "entraves" fora de Lisboa. Nas semanas seguintes, Carlos vai-se familiarizando com Maria Eduarda, graças à doença de Miss Sara. Falam ambos das suas vidas e dos seus conhecidos. Dâmaso volta de Penafiel; visita Maria Eduarda. "Niniche", aninhada no colo de Carlos, rosna e ladra quando Dâmaso tenta lhe fazer festas. "Desconfianças" de Dâmaso. Sabe-se que, por coincidência, os Cohens voltaram de Inglaterra e que Ega está para chegar de Celorico. Capítulo XII
O Ega chega e pede "asilo" no Ramalhete. Informa Carlos de que viera com a Gouvarinho, e de que o conde os convidara para jantar na próxima 2ª feira. (2ª feira) Nesse jantar, a Gouvarinho está mesmo uma chata, mesmo a "pedir nas trombas", com as suas indirectas e quiproquós. O clima suaviza-se durante o jantar, devido aos ditos irreverentes do Ega. A pretexto de um mal-estar de Charlie, a Gouvarinho beija Carlos nos aposentos interiores. Carlos e Ega são os últimos a sair. (3ª feira) Depois de ter sido "retido" pela Gouvarinho na casa da tia, Carlos chega atrasado à casa de Maria Eduarda. Leva uma "indirecta". No meio da conversa, Domingos Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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anuncia Dâmaso; Maria Eduarda recusa-se a recebê-lo. Fala a Carlos sobre uma possível mudança de casa (Carlos pensa logo na casa do Craft). Carlos deixa escapar que a "adora" depois de uma troca de olhares. Beijam-se. (4ª feira) Carlos conclui o negócio da casa com o Craft. Maria Eduarda fica um pouco renitente com a pressa de tudo, mas acaba concordando, com um novo beijo. Ega, depois de se mostrar insultado pelo segredo que Carlos faz de tudo, vem a saber que Carlos está a ter mais do que uma aventura com Maria Eduarda. Capítulo XIII
(6ª feira) Ega informa a Carlos de que Dâmaso anda a difamá-lo e a Maria Eduarda. Carlos faz os preparativos para a mudança de Maria Eduarda para os Olivais. Encontra Alencar, que refere a crescente antipatia de Dâmaso por Carlos. Aparece Ega. Cumprimentam-se. Do outro lado da rua, aparecem o Gouvarinho, o Cohen e Dâmaso. Carlos atravessa a rua; ameaça Dâmaso. (Sábado) Maria Eduarda visita a sua nova casa nos Olivais. Descrição da casa. Têm a sua 1ª relação sexual (p.438). (Domingo) Aniversário de Afonso da Maia. Tagarelice do marquês: Dâmaso estava a namorar a Cohen. Aparece Baptista a informar de que está uma senhora dentro de uma carruagem que quer falar com Carlos. Era a Gouvarinho. Ela tenta uma "rapidinha" mas, ao se lembrar da imagem de Maria Eduarda, Carlos recua. Discutem. Carlos sai. Terminou tudo. Capítulo XIV
O avô parte para Sta. Olávia. Maria Eduarda instala-se nos Olivais. Ega parte para Sintra por alguns dias. Carlos, só, vai passear depois do jantar. Encontra Taveira no Grémio, que o adverte contra Dâmaso. Taveira arrasta-o até o Price, mas Carlos pouco se demora. Ao sair, encontra Alencar e o Guimarães, tio do Dâmaso. Sabe-se que Carlos e Maria Eduarda pretendem fugir até Outubro para Itália, mas Carlos pensa no desgosto que dará ao avô. A sua felicidade, por fim, supera o avô nos seus raciocínios. Descreve-se as idas de Carlos aos Olivais: os encontros com Maria Eduarda e as relações que tinham no quiosque japonês (p.456). Isto não é o suficiente: eles querem passar as noites também. A 1ª noite é descrita na p.459. Carlos descobre uma outra casa perto da dos Olivais, que servirá para esperar pelos encontros nocturnos dele e de Maria Eduarda. Numa dessas noites, descobre Miss Sara a fazer sexo no jardim da casa com o que lhe parece ser um jornaleiro. Sente vontade de contar tudo a Maria Eduarda mas, à medida que pensa no caso, compara-o com a furtividade do seu. Decide não dizer nada. Chega Setembro. Craft, regressado de Sta. Olávia para o Hotel Central, diz a Carlos que pareceu-lhe estar o avô desgostoso por Carlos não ter aparecido por lá. Carlos diz a Maria Eduarda que vai visitar o avô. Ela pede-lhe para visitar o Ramalhete, antes. Combinam isso para o dia em que Carlos partirá para Sta. Olávia. Maria Eduarda visita o Ramalhete mas, misteriosamente, desanima-se; Carlos "conforta-a" (p.470). Maria Eduarda refere que às vezes Carlos faz-lhe lembrar a sua mãe (p.471); diz que a mãe era da ilha da Madeira que casara com um austríaco e que tinha tido uma irmãzinha, que morrera em pequena (p.472). Chega Ega. Traz novas de Sintra. Carlos parte para Sta. Olávia. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Regressa uma semana depois. Fala a Ega do plano de "amolecer" o avô quanto à relação com Maria Eduarda. Susto! Castro Gomes anuncia-se! Mostra uma carta anónima que lhe haviam mandado para o Brasil, dizendo que a sua mulher tinha um amante, Carlos. Revela não ser marido de Maria Eduarda, que lhe retirava o uso do seu nome, deixando-a apenas como Madame Mac Gren, seu verdadeiro nome. A Carlos "cai o queixo". Ruminando pensamentos, entre escrever uma carta de despedida ou não, Carlos decide confrontar Maria Eduarda nos Olivais. Ao entrar, sabe por Melanie, a criada, que o Castro Gomes já lá tinha estado. Maria Eduarda, em chôro, pede perdão a Carlos de não lho ter contado; conta a verdadeira história da sua vida. Depois de uma grande cena de chôro, Carlos pede-a em casamento. Capítulo XV
Na manhã seguinte, perguntam a Rosa se quer o Carlos como "papá". Aceita. Maria Eduarda conta toda a sua vida (pp.506-14). Dias depois, ao ir visitar Maria Eduarda com Carlos, Ega diz-lhe pelo caminho que seria melhor esperar que o avô morresse para então se casar. Carlos acalenta a ideia. Jantam nos Olivais e Ega, rodeado deste ambiente, diz querer casar e louva tudo o que até aí era contra (p.523). Aos poucos, os amigos de Carlos (o Cruges, o Ega, o marquês), vão frequentando esses jantares de amizade dados nos Olivais. Meados de Outubro: estava Afonso com ideias de vir de Sta. Olávia (e Carlos de sair dos Olivais), pois o Inverno aproximava-se. Recebe, através do Ega, um n.º da Corneta do Diabo , que o difama em calão "num caso que tem com uma gaja brasileira". Carlos primeiro pensa em matar a quem escreveu mas, reflectindo na verdade dos escritos, pensa se não será melhor não casar com Maria Eduarda. Volta ao 1º pensamento, em matar. Descobre, pelo editor do artigo, o Palma, que tinham sido o Dâmaso e o Eusébiozinho que lho tinham encomendado. Ega e Carlos vão até o Grémio; encontram o Gouvarinho e Steinbroken. Finalmente, aparece Cruges, a quem pedem que faça de padrinho num duelo de Carlos. Sabe-se, a meio disto, que o Governo caíra, pelo Teles da Gama (p.550). Cruges e Ega vão a casa do Dâmaso. Este faz uma cena ao saber do desafio, mas acaba por escrever uma retractação. Ega escreve-lhe a retractação e ele copia-a. Ega entrega-a, ao sair, a Carlos. Satisfeito, Carlos devolve-lha, para usar como lhe aprouver. No dia seguinte, Ega remói a ideia de fazer conhecer a carta do Dâmaso. Chega uma carta anunciando que Afonso voltava ao Ramalhete. Carlos retorna ao Ramalhete e Maria Eduarda à R. de São Francisco. No dia seguinte, chega Afonso à estação de Sta. Apolónia. Ao almoço, Carlos e Ega falam do projecto de uma revista. Ega vai ao Ginásio. Vê a Cohen e o Dâmaso. Sai do Ginásio; dirige-se à redacção d' A Tarde e pede ao Neves para publicar a carta do Dâmaso. Há um ligeiro rumor nos dias seguintes, mas tudo acalma. Dâmaso "vai de férias" a Itália. Capítulo XVI
Antes do sarau da Trindade, Ega ouve com Carlos e Maria, uma parte de "Ofélia" ao piano, na casa desta. Carlos e Maria "enrolam" Ega para fazerem o seu próprio sarau, ali mesmo. Mas lembram-se do Cruges, e Carlos e Ega acabam por ir ao sarau da Trindade. Ouvem o discurso de Rufino. Entretanto, no botequim, dá-se um conversa entre o Guimarães e Ega, a propósito da carta do sobrinho. Ega volta ao sarau, ouve Cruges e sai quando o Prata sobe ao estrado. Carlos vê o Eusébiozinho saindo. Vai atrás dele e dá-lhe uns "abanões" e um pontapé. Voltam ao sarau, onde Alencar já ia declamar. Alencar arrebata a sala com o seu poema, "Democracia". Ega fica desacompanhado; Carlos, disseram-lhe, já havia saído. O Gouvarinho sai furibundo por causa do poema do Alencar. À saída, de caminho para o Chiado, Ega é parado por Guimarães, que lhe diz ter um cofre Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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da mãe de Carlos para entregar à família. No meio da conversa, descobre inconscientemente uma verdade terrível a Ega: Carlos tem uma irmã; é a Maria Eduarda! (p.615). Guimarães conta a Ega tudo o que sabe sobre M.ª Monforte (p.617), inclusive a mentira que ela dissera a Maria Eduarda sobre a sua origem de pai austríaco. Enquanto Guimarães vai buscar o cofre nessa mesma noite, Ega fica a atormentar-se com os seus pensamentos. Chega ao Ramalhete e deita-se, sempre pensando no incesto como ideia fixa. Capítulo XVII
Ega não tem coragem de contar a Carlos. Sai, à procura de Vilaça. Come no Café Tavares e volta à R. da Prata. "Despeja" tudo ao Vilaça. Incumbe-o de contar tudo a Carlos. Abrem a caixa de M.ª Monforte. Encontram um documento provando que Maria Eduarda é filha de Pedro da Maia. Susto! Carlos está em baixo à procura do Vilaça! Ega e Vilaça, atarantados, mandam dizer que não está. Combinam que Vilaça irá ao Ramalhete, às 9 da noite. Mas Carlos não o atende e adia para o dia seguinte, às 11 horas. Ao saber disso, Ega sai para cear no Augusto com o Taveira e duas espanholas. Toma uma carraspana. Acorda ao lado de Cármen Filósofa, uma das espanholas, às 9 da manhã. Chega atrasado ao Ramalhete, às 12 h. Carlos e Vilaça já estavam "lá dentro". Carlos, insensatamente, não acredita no que lhe contam. Mostra ao avô os papéis da Monforte. Mas Afonso não os refuta, dando a Carlos uma insegurança de que tudo pode ser verdade. Afonso, no corredor, diz a Ega que sabe que "essa mulher" é a amante de Carlos. No jantar dessa noite, estão todos "murchos". No final do jantar, Carlos escapuliu-se: ia à Rua de São Francisco. Passa pela casa, desce até o Grémio, toma um conhaque e volta à casa de Maria Eduarda; entra. Tenta inventar uma história, mas ela, no quarto, já deitada, puxa-o para si e… Carlos não "resiste". Na festa de anos do marquês, no dia seguinte, Carlos está muito alegre. Ega desconfia. Ega acaba descobrindo que Carlos continua indo "visitar" Maria Eduarda. Na 3ª feira evita Carlos; só aparece no Ramalhete às 9 da noite para se arranjar para o aniversário de Charlie, o filho do Gouvarinho. Afonso da Maia sabe que Carlos continua a encontrar-se com Maria Eduarda. Ega decide partir; pensa melhor: desfaz a mala. Baptista diz-lhe que Carlos parte amanhã para Sta. Olávia. Carlos debatese com os seus pensamentos: o desejo e a culpa simultâneos (p.664-65); ao vir de Maria Eduarda, às 4 da manhã, encontra o avô e o seu silêncio acusador, como um fantasma (p.667-68). Já era dia, quando dizem a Carlos que o avô estava desacordado no jardim; estava morto (suponho ser trombose, visto que tinha um fio de sangue aos cantos da boca). Carlos culpa-se a si mesmo dessa morte, pois achava que era pelo avô saber tudo que havia morrido. Vilaça toma as providências. Ega escreve um bilhete a informar Maria Eduarda do facto. Reunião dos amigos da família; recordam Afonso. 1878 (p.681) O enterro é no dia seguinte, à uma hora. Carlos, depois do enterro, pede a Ega para falar com Maria Eduarda, contar-lhe tudo e dizer-lhe que parta para Paris, levando 500 libras. Quanto a Carlos, vai para Sta. Olávia, esperar a trasladação do avô; depois, viajará para espairecer. Convida o Ega para tal. Carlos parte. Ega deixa, atabalhoadamente, a revelação a Maria Eduarda e diz-lhe que ela deve partir já para Paris. Encontra-se com ela na estação de Sta. Apolónia, no dia seguinte. Segue no mesmo comboio até o Entroncamento. E nunca mais a vê. Capítulo XVIII
Passam-se semanas. Sai na "Gazeta Ilustrada" a notícia da partida de Carlos e Ega numa longa viagem. Ano e meio depois (1879), regressa Ega, trazendo a ideia de escrever um livro, "Jornadas da Ásia"; Carlos ficara em Paris. (1886) Carlos passa o Natal em Sevilha; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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de lá, escreve a Ega que vai voltar a Portugal. Chega nesse ano a Sta. Olávia. (Jan. 1887) Carlos chega a Lisboa e almoça no Hotel Bragança com Ega, que está ficando careca; a mãe deste já morrera. Carlos pergunta pela Gouvarinho. Aparece o Alencar. Aparece o Cruges. Reminiscências desses últimos anos. Ega e Carlos vão visitar o Ramalhete. Antes, descem o Chiado. Encontram o Dâmaso perto da Livraria Bertrand. Aos poucos, Carlos toma consciência do novo Portugal que existe agora, anos passados. Passagem de Charlie (insinuação de que ele é maricas, p.705). Passagem do Eusébiozinho. Às 4 h, tomam uma tipóia para o Ramalhete. Dentro, nota-se que a maior parte das decorações (tapetes, faianças, estátuas) já tinham ou estavam a ser despachadas para Paris, onde Carlos vivia agora. Também no Ramalhete estavam os móveis trazidos da Toca. Sabe-se que Maria Eduarda ia casar. Saem do Ramalhete, descem a Rampa de Santos. Carlos olha para o relógio: 6.15! Está atrasado para o encontro com os amigos no Bragança. Desata a correr, junto com Ega, pela rampa de Santos e Aterro abaixo, atrás de um transporte. Crítica Social A Corrida de Cavalos
Objectivos: •
Novo contacto de Carlos com a alta sociedade lisboeta, incluindo o próprio rei;
•
Visão panorâmica dessa sociedade (masculina e feminina) sob o olhar crítico de Carlos;
•
Tentativa frustrada de igualar Lisboa às capitais europeias, sobretudo Paris;
•
Cosmopolitismo (fingido) da sociedade;
•
Possibilidade de Carlos encontrar aquela figura feminina que vira à entrada do Hotel Central.
Existem 4 corridas.
Visão caricatural : •
O hipódromo parecia um palanque de arraial;
•
As pessoas não sabiam ocupar os seus lugares;
•
As senhoras traziam "vestidos sérios de missa";
•
O bufete tinha um aspecto nojento;
•
A 1ª corrida terminou numa cena de pancadaria;
•
As 3ª e 4ª corridas terminaram grotescamente.
Conclusões a retirar : •
Fracasso total dos objectivos das corridas;
•
Radiografia perfeita do atraso da sociedade lisboeta;
•
O verniz da civilização estalou completamente;
•
A sorte de Carlos, ganhando todas as apostas, é indício de futura desgraça (Sorte no jogo…).
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 O Jantar dos Gouvarinho
Objectivos: •
reunir a alta burguesia e aristocracia;
•
reunir a camada dirigente do País;
•
radiografar a ignorância das classes dirigentes.
Os alvos visados neste jantar são : •
•
Conde de Gouvarinho o
voltado para o passado;
o
tem lapsos de memória;
o
comenta muito desfavoravelmente as mulheres;
o
revela uma visível falta de cultura;
o
não acaba nenhum assunto;
o
não compreende a ironia sarcástica do Ega;
o
vai ser ministro.
Sousa Neto o
acompanha as conversas sem intervir;
o
desconhece o sociólogo Proudhon;
o
defende a imitação do estrangeiro;
o
não entra nas discussões;
o
acata todas as opiniões alheias, mesmo absurdas;
o
defende a literatura de folhetins, de cordel;
o
é deputado.
Nota-se assim a superficialidade dos juízos dos mais destacados funcionários do Estado; incapacidade de diálogo por manifesta falta de cultura. A Imprensa
"A Corneta do Diabo" : •
o director é o Palma "Cavalão", um imoral;
•
a Redacção é um antro de porcaria;
•
•
•
publica um artigo contra Carlos mediante dinheiro; vende a tiragem do número do jornal onde saíra o artigo; publica folhetins reles, de baixo nível. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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"A Tarde": •
•
o director é o deputado Neves; recusa publicar a carta de retractação de Dâmaso porque o confunde com um seu correligionário político;
•
desfeito o engano, serve-se da mesma carta como meio de vingança contra o inimigo político;
•
só publica artigos ou textos dos seus correligionários políticos.
Aspectos a notar: o baixo nível; a intriga suja; o compadrio político; assim como os jornais, está o País. Sarau do Teatro da Trindade
Objectivos: •
ajudar as vítimas das inundações do Ribatejo;
•
apresentar um tema querido da sociedade lisboeta: a oratória;
•
reunir novamente as várias camadas das classes mais destacadas, incluindo a família real;
•
criticar o ultra-romantismo que encharcava o público;
•
contrastar a festa com a tragédia.
Neste sarau, destacam-se dois personagens : •
•
Rufino o
o bacharel transmontano;
o
o tema do Anjo da Esmola;
o
o desfasamento entre a realidade e o discurso;
o
a falta de originalidade;
o
o recurso a lugares-comuns;
o
a retórica é oca e balofa;
o
a aclamação por parte do público tocado no seu sentimentalismo.
Alencar o
o poeta ultra-romântico;
o
o tema da Democracia Romântica;
o
o desfasamento entre a realidade e o discurso;
o
o excessivo lirismo carregado de conotações sociais;
o
a exploração do público seduzido por excessos estéticos estereotipados;
o
a aclamação do público. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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N.B.: As classes dirigentes estão alheadas da realidade (nota-se isso pela indignação do Gouvarinho). Caracteriza-se a sociedade como sendo deformada pelos excessos líricos do ultra-romantismo. Espaço e Cor O Ramalhete
O Jardim: 1. A estátua de Vénus Citereia o
"enegrecendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres" (Cap.I)
o
"parecendo, agora, no seu tom claro de estátua de parque, ter chegado de Versalhes" (Cap.I)
o
"uma ferrugem verde, de humidade, cobria os grossos membros de vénus Cetereia" (Cap.XVIII)
2. A Cascata o
"uma cascatazinha seca" (Cap.I)
o
"E desde que a água abondava, a cascatazinha era deliciosa" (Cap.I)
o
"Por entre as conchas da cascata, o fio de água punha o seu choro lento" (Cap.XVII)
o
"mais lento corria o prantozinho da cascata, esfiado saudosamente, gota a gota" (Cap.XVIII)
3. O Cipreste e o Cedro o
"um pobre quintal inculto, abandonado às ervas bravas, com um cipreste, um cedro" (Cap.I)
o
"o cipreste e o cedro envelhecendo como dois amigos tristes" (Cap.I)
o
"o cipreste e o cedro envelheciam juntos, como dois amigos, num ermo" (Cap.XVIII)
Os móveis do escritório do Afonso : •
"Todos os móveis do escritório do avô desapareciam sob os largos sudários brancos." (Cap.XVIII)
A Toca: •
•
"O melhor é baptizá-la definitivamente com o nome que nós lhe dávamos. Nós chamávamos-lhe a Toca" (Cap.XIII) "só meter a chave devagar e com uma inútil cautela na fechadura daquela morada discreta, foi para Carlos um prazer" (Cap.XIII)
•
"uma tarde, (…) experimentaram ambos essa chave" (Cap.XIV)
•
"tapeçarias, onde desmaiavam, na trama de lã, os amores de Vénus e Marte" (Cap.XIII)
•
"onde se distinguia uma cabeça degolada"(Cap.XIII)
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•
Ano Letivo 2011/2012 "uma enorme coruja fixava no leito de amor, os deus dois olhos redondos e agoirentos" (Cap.XIII)
•
"o famoso armário, o móvel divino de Craft" (Cap.XIII)
•
"na base quatro querreiros" (Cap.XIII)
•
"a peça superior era quardada aos quatro cantos pelos quatro evangelistas" (Cap.XIII)
•
"espigas, foices, cachos de uvas e rabiça de arados" (Cap.XIII)
•
"dois faunos, recostados em simetria, indiferentes aos heróis e aos santos" (Cap.XIII)
•
"era ao centro um ídolo de bronze, um Deus bestial" (Cap. XIII)
Os símbolos cromáticos
O Vermelho: •
"aquela sombrinha escarlate (…) quase o envolvia, parecia envolvê-lo todo - como uma larga mancha de sangue" (Cap.I)
•
"ao lado de Maria, com uma camélia escarlate na casaca" (Cap.I)
•
"todas as cadeiras eram forradas a repes vermelhos" (Cap.XI)
•
"abria lentamente o grande leque negro pintado de flores vermelhas" (Cap.XI)
Amarelo e Dourado : •
"uma senhora loura, os cabelos loiros, de um oiro fulvo" (Cap.I)
•
"uma senhora alta, loira" (Cap.VI)
•
"era toda forrada, paredes e tecto, de um brocado amarelo, cor de botão-de-oiro" (Cap.XIII)
O Negro: •
"seus olhos muito negros" (Cap.III)
•
"o negro profundo de dois olhos que se fixaram nos seus" (Cap.VII)
Rasgos estruturais da tragédia em OS MAIAS
Talvez porque o caso de amor entre Carlos e Maria Eduarda ultrapassa os limites em que a crítica se resolve numa ironia ou sarcasmo que pinta em pormenor o «quadro» de uma Lisboa decadente e artificial, talvez porque houve a criação (inconsciente?) de um profundo romance de amor, precisamente nos momentos nucleares da sua mútua relação, as personagens escapam à atmosfera da comédia de costumes, para penetrarem no âmbito da tragédia. Estão integrados, com precisão, cronológica e socialmente; são participantes dos inúmeros quadros e das diversas peripécias através dos quais Eça recriou (pela análise, pela ironia) a sociedade portuguesa Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 da segunda metade do século XIX. Contudo, podemos dizer que não são facilmente dissolvidos nessa atmosfera de quase tragicomédia complexa e angustiante. topo 1. A personagem trágica Carlos e Maria Eduarda ultrapassam a dimensão reduzida e pragmática do tipo queirosiano, embora (encarados nessa mesma perspectiva) nos possam dar elementos concretos, a nível essencialmente sociológico e já não literário. destacam-se como figuras eleitas, pertencentes a uma elite, dotados de qualidades superiores, requintados, seres de excepção, não integrados numa sociedade grosseira, limitada e suja. Assim, Carlos, regressado da Europa, é-nos apresentado como «um formoso e magnífico moço, alto, bem feito, de ombros largos, com uma testa de mármore sob os anéis dos cabelos pretos, e os olhos dos Maias...». O autor compara-o então a um «belo cavaleiro da Renascença». Para os conhecidos, ele é o «primeiro elegante... da pátria» ou o romântico «Príncipe Tenebroso». Paralelamente, Maria Eduarda «aparece», no peristilo do Hotel Central, como «uma senhora alta, loira, com um meio véu muito apertado e muito escuro que realçava o esplendor da sua carnação ebúrnea. Craft e Carlos afastaram-se, ela passou diante deles, com um passo soberano de deusa, maravilhosamente bem feita, deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar.» Para as personagens que com ela contactam ela surge como algo de «harmonioso, são, perfeito.» [...] Carlos e Maria Eduarda elevam-se ao nível da tragédia amorosa, embora não rompendo totalmente com as regras do romance de costumes ao qual também pertencem e no qual acabam por se reintegrar. Como detentores da máscara que Eça lhes impõe, definem-se, já não como tipos sociais, mas como símbolos duma fatalidade superior. (a) A nível da acção, nesta perspectiva, quase desaparecem como reais actantes para cederem ao destino a que alude Ega. 2. A acção trágica As duas personagens, figuras de excepção (como convém ao espírito clássico da tragédia), são irresistivelmente levadas a um encontro e a uma união que afirmam a supremacia do Sentimento, concebido segundo um padrão elevado a ideal. Perante os obstáculos oferecidos por Afonso e respeitados pelos próprios amantes, assiste-se à intensificação das relações amorosas que atinge o seu auge na felicidade perfeita (b). «Carlos era positivamente o homem mais feliz destes reinos! Em torno dele só havia felicidades, doçuras. Era rico, inteligente, de uma saúde de pinheiro novo; passava a vida adorando e adorado; só tinha o número de inimigos que é necessário para confirmar uma superioridade; nunca sofrera de dispepsia; jogava as armas bastante para ser temido; e na sua complacência de forte nem a tolice pública o irritava. Ser verdadeiramente ditoso!» Quando a união se torna perfeita, quando o sentimento se eleva ao ponto superior da sua realização, desaba a catástrofe - depara-se-nos a tragédia. Na mesma noite em que Ega, extasiado, faz as considerações acima trancritas, nessa mesma noite, por intermédio de Guimarães, a tragédia desaba (c). Carlos, ao tentar a recusa de uma verdade imposta pelo «implacável destino» (a) concorre para a sua completa realização - a efectivação de um incesto consciente. Classicamente, o aparecimento da tragédia, não só corta o desenrolar harmonioso dos acontecimentos, como também impede a reestruturação dos mesmos. A Fatalidade aniquila, digamos, a possibilidade de recuperação. [...] Gandra, Maria António / Oliveira, Luís Amaro de, Caderno Para Uma Direcção de Leitura de OS MAIAS , Porto Editora, Ldª, Porto, 1987 Notas do autor desta página: (a) A intromissão desta fatalidade superior (destino) escapa às leis do naturalismo. Aliás, as referências, na obra, a esta fatalidade são inúmeras, bem como os indícios e elementos premonitórios que para ela apontam. (b) Este desafio das personagens corresponde à hybris da tragédia clássica. (c) É o primeiro momento da anagnórise.
topo Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Esboço de estudo paralelo de OS MAIAS e FREI LUÍS DE SOUSA (duas formas de recuperação da tragédia clássica) Frei Luís de Sousa
Os Maias
1 Uma partida e separação: D. João de Portugal parte para a batalha de Alcácer Quibir, deixando em Portugal sua mulher, D. Madalena.
1 Uma partida e separação: Maria Monforte parte com o napolitano, deixando em Portugal Pedro, seu marido, e Carlos, seu filho.
2 D. João de Portugal é dado como morto; D. Madalena tenta, por todos os meios ao seu alcance, certificar-se da morte do marido. A hipótese da morte acaba por ser aceite como certeza.
2 Maria Monforte e sua filha são consideradas mortas; Afonso da maia tenta, por todos os processos, adquirir a certeza da morte da neta. A hipótese da morte acaba por ser aceite como certeza.
3 D. Madalena reorganiza a sua vida, baseando-se na morte de D. João.
3 Afonso dedica-se inteiramente a Carlos, considerada a neta para sempre perdida.
4 D. João de Portugal, erradamente considerado morto, vai-se aproximando de portugal.
4 Maria Eduarda, erradamente tida por morta, aproxima-se de Portugal.
5 D. João de Portugal, uma vez regressado, dirige-se 5 Maria Eduarda, uma vez de regresso a Lisboa, à sua antiga casa. Encontra-se com D. Madalena encontra Carlos que, naturalmente, a não que não o reconhece e pára diante do retrato. reconhece. Acabando ela por se dirigir ao Perante a interrogação inquieta de Frei Jorge, Ramalhete, pára diante do retrato do Pai. Carlos responde: «Ninguém». esclarece: «- É meu Pai». 6 Uma vez consumada a tragédia, D. Madalena revolta-se, tenta negar a evidência dos factos, lutando desesperadamente pela conservação de um amor para ela mais forte que todas as dúvidas.
6 Quando conhece o parentesco que o une a Maria Eduarda, Carlos revolta-se e tenta, também ele, com desespero, lutar pela sobrevivência de um amor que julga superior a todos os imperativos que lhe são exteriores.
7 D. João de Portugal permanece impassível e 7 Maria Eduarda aceita, discreta e silenciosa, a silencioso perante a tragédia. Sensibilizado apenas tragédia que destrói as suas relações amorosas por uma falsa interpretação dos sentimentos de D. com Carlos. Madalena, quando pretende (?) alterar o curso dos Apenas de ressente do mutismo e ausência deste acontecimentos que desencadeara, vê-se último. impossibilitado de o fazer. 8 Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena 8 Carlos e Maria Eduarda separam-se. Tentam separam-se. Permanecem vivos para se enterrarem reintegrar-se, aparentemente incólumes, numa no convento. vida solitária: Carlos - instalado em Paris, Maria Eduarda - casada em Orléans. 9 Maria, a verdadeira vítima trágica e testemunha acusadora do «erro» dos pais, morre.
9 Afonso, oponente racional à paixão «incestuosa» de Carlos e Maria Eduarda, morre.
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 TESTES DIAGNÓSTICO Português
11º ano
Os Maias de Eça de Queirós
1 - Os Maias apresentam uma: A) interpretação simbólica e pessimista do Portugal da Regeneração. B) C)
interpretação simbólica e optimista do Portugal da Regeneração. interpretação simbólica e pessimista do Portugal do primeiro quartel do século XIX.
2 - Em Os Maias, o suicídio de Pedro pode ser interpretado como: uma consequência da educação tradicional, do meio social em que cresceu e de factores A) hereditários.
B)
uma consequência da educação tradicional, e não do meio social em que cresceu ou de factores hereditários.
C)
apenas uma consequência de factores hereditários.
3 - Em Os Maias, a 2.a geração (de Pedro da Maia) representa: A) as crises do liberalismo. B) a decadência do liberalismo. C) a decadência do absolutismo. 4 - Em Os Maias, o jantar no Hotel Central descreve: A) o contacto de Pedro da Maia com a sociedade de elite, a crítica literária e a literatura, a situação financeira do país e a mentalidade limitada e retrógrada.
B)
o contacto de Carlos com a sociedade de elite, a crítica literária e a literatura, a situação financeira do país e a mentalidade limitada e retrógrada.
C)
o contacto de Carlos com os melhores intelectuais da cidade.
5 - Em Os Maias, o jantar em casa do Conde de Gouvarinho apresenta-nos: A) a superficialidade dos temas de conversa, a insensibilidade artística, a ignorância dos dirigentes, a oratória oca dos políticos e os excessos do Ultra-Romantismo.
B)
a educação dos homens em duas concepções opostas e a sólida fundamentação das opiniões de Sousa Neto, o representante da administração pública.
C)
a educação das mulheres em duas concepções opostas e a superficialidade das opiniões de Sousa Neto, o representante da administração pública.
6 - Em Os Maias, Eusebiozinho (" o menino molengão e tristonho" de " perninhas flácidas" e "mãozinhas pendentes e os olhos mortiços" que não " descolava das saias da titi ") simboliza, de forma perfeita: A) as consequências da educação t radicional portuguesa. B) C)
as consequências da educação à inglesa. as consequências de um ambiente familiar degradado.
7 - O tema fulcral da intriga de Os Maias é: A) a educação, que conduz à catástrofe como desenlace inevitável. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 B)
o incesto, que conduz à catástrofe como desenlace inevitável.
C)
o incesto, que só não conduz à catástrofe porque Afonso impôs a sua vontade.
8 - A obra Os Maias dá-nos um retrato da sociedade, embora só tenha conseguido: A) descrever-nos o seu lado positivo. B)
descrever-nos o seu lado mais negativo: os vícios, o adultério, a chantagem, a corrupção, a falta de valores.
C)
descrever-nos as festas e os jantares de sociedade.
9 - Em Os Maias, João da Ega afirma-se como: A) o defensor do Romantismo. B)
o defensor do Ultra-Romantismo. Ultra-Romantismo.
C)
o defensor do Realismo.
10 - Em Os Maias, Dâmaso Salcede aparece retratado: A) como um homem inteligente e cobarde. B) C)
como um homem inteligente e corajoso, que congrega em si as qualidades da sociedade. como um homem snob, servil, pouco inteligente e cobarde, que congrega em si os vícios da sociedade.
Correcção Obtiveste o seguinte resultado: 30%
nas seguintes perguntas: 1-Pergunta: Os Maias apresentam uma:
Resposta: interpretação simbólica e pessimista do Portugal da Regeneração. 2- Pergunta: Em Os Maias, o suicídio de Pedro pode ser interpretado como:
Resposta: uma consequência da educação tradicional, do meio social em que cresceu e de factores hereditários.
3- Pergunta: Em Os Maias, a 2.a geração (de Pedro da Maia) representa:
Resposta: as crises do liberalismo. 4- Pergunta: Em Os Maias, o jantar em casa do Conde de Gouvarinho apresenta-nos: Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Resposta: a educação das mulheres em duas concepções opostas e a superficialidade das opiniões de Sousa Neto, o representante da administração pública.
5 - Em Os Maias, o jantar em casa do Conde de Gouvarinho apresenta-nos: a educação dos homens em duas concepções opostas e a sólida fundamentação das opiniões de Sousa Neto, o representante da administração pública.
6-Pergunta: perninhas flácidas" e "mãozinhas Em Os Maias, Eusebiozinho ("o menino molengão e tristonho" de " perninhas pendentes e os olhos mortiços" que não "descolava das saias da titi ") ") simboliza, de forma perfeita:
Resposta: as consequências da educação tradicional portuguesa. 7 - O tema fulcral da intriga de Os Maias é: o incesto, que conduz à catástrofe como desenlace inevitável.
8 - A obra Os Maias dá-nos um retrato da sociedade, embora só tenha conseguido: descrever-nos o seu lado mais negativo: os vícios, o adultério, a chantagem, a corrupção, a falta de valores.
9-Pergunta: Em Os Maias, João da Ega afirma-se como: Resposta- defensor do realismo
10-Pergunta: Em Os Maias, Dâmaso Salcede aparece retratado:
Resposta: as consequências da educação tradicional portuguesa.
Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Eça de Queirós - uma curta biografia 0 comentários Publicada por 11ºB em 14:06
Queirós, (José Maria) Eça de (1845 - 1900) Na obra deste vulto máximo da literatura portuguesa, criador do romance moderno, distinguem-se usualmente três fases estéticas. A primeira, de influência romântica, englobaria as experiências jornalísticas do autor, no âmbito das quais iniciou a observação crítica da sociedade portuguesa, bem como os textos posteriormente incluídos nas Prosas Bárbaras e Bárbaras e iria até à publicação de Mistério da Estrada de Sintra , escrito com Ramalho Ortigão. A segunda, de afirmação do Realismo-Naturalismo, iniciarse-ia com a participação do autor nas Conferências do Casino Lisbonense, teorizando "O Realismo como nova expressão da Arte", e manifestar-seia plenamente nos romances O Primo Basílio e Basílio e O Crime do Padre Amaro . A Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 terceira, de questionamento e de superação do Realismo-Naturalismo, espelhar-se-ia nos romances A Relíquia e Relíquia e Os Maias e Maias e nos semi-póstumos A Ilustre Casa de Ramires e Ramires e A Cidade e as Serras , nos quais os pressupostos científicos ou deterministas soçobram ante "o manto diáfano da fantasia", a imaginação, o fantástico.
Filho natural de um magistrado, também ele escritor, e depois de uma infância passada fora do lar paterno, Eça vai cursar Leis para Coimbra, em 1861, onde convive com muitos dos futuros representantes da Geração de 70, já então aglutinados em torno da figura carismática de Antero de Quental, e onde acede às recentes ou redescobertas correntes ideológicas e literárias europeias (o Positivismo, o Socialismo utópico, o Realismo-Naturalismo), sem, contudo, participar activamente na que seria a primeira polémica dessa geração, a Questão Coimbrã. Terminado o curso, Eça inicia a sua experiência jornalística como redactor do jornal O Distrito de Évora e Évora e colaborador na Gazeta de Portugal , onde publica muitos dos textos postumamente coligidos no volume das Prosas Bárbaras . No final de 1867, forma-se na casa de Jaime Batalha Reis, em Lisboa, o grupo que ficaria conhecido como o Cenáculo, de que farão parte, nesta primeira fase, além de Eça e de Batalha Reis, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e Salomão Saragga, entre outros. Após uma viagem pelo Oriente, para assistir à inauguração do canal do Suez, na qualidade de correspondente do Diário Nacional , Eça regressa a Lisboa, onde participa, com Antero de Quental e Jaime Batalha Reis, na criação do poeta satânico Carlos Fradique Mendes e escreve, de parceria com Ramalho Ortigão, o Mistério da Estrada de Sintra . Em 1871, profere a conferência "O Realismo como nova expressão da Arte", integrada nas Conferências do Casino Lisbonense e produto da evolução estética que o encaminha no sentido do Realismo-Naturalismo de Flaubert e Zola, com influência das doutrinas de Proudhon e Taine. No mesmo ano, inicia, novamente com Ramalho, a publicação de As Farpas , uma série de crónicas satíricas que, servidas por uma ironia e um humor corrosivos, movem um rigoroso inquérito à sociedade portuguesa do período da Regeneração. Em 1872, Eça inicia também a sua carreira diplomática, no decurso da qual ocupará o cargo de cônsul sucessivamente em Havana (1872), Newcastle (1874), Bristol (1878) e Paris (1888). É, pois, com o distanciamento crítico que a experiência de vida no estrangeiro lhe permite que concebe a maior parte da sua obra romanesca, consagrada ao exame e à crítica da vida social portuguesa, de onde se destacam O Primo Basílio , O Crime do Padre Amaro , A Relíquia e Relíquia e Os Maias , este último considerado a sua obra-prima. Durante esses anos, colabora com crónicas e contos em vários jornais portugueses, como A Actualidade , a Gazeta de Notícias , a Revista Moderna , o Diário de Portugal e Portugal e a Revista de Portugal , que funda, em 1889. Morre aos cinquenta e cinco anos, em Paris, deixando um vasto espólio literário que seria publicado nos anos seguintes à sua morte, com "revisões" e correcções apócrifas de amigos e Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 familiares do escritor, revelando um conjunto de textos reconhecidamente distintos da que seria a vontade final do seu autor.
Resumo do Capítulo Ega regressa a Lisboa, instala-se no Ramalhete e confidencia a Carlos que a Condessa de Gouvarinho, fala constantemente, irresistivelmente e imoderadamente dele e conta-lhe que o casal os convidou para jantar na segunda-feira. Na segunada-feira seguinte Carlos e Ega, dirigem-se a casa dos Gouvarinho, Ega aproveita para lhe perguntar sobre o seu romance com a brasileira, e diz a Carlos que soube do romance através de Dâmaso. Carlos conta-lhe a verdade sobre o romance, embora não se abrindo em relação aos seus sentimentos pela rapariga. Entretanto, durante o jantar a própria Gouvarinho toca no assunto do romance de Carlos com a brasileira deixando Carlos com a sensação que já todos sabem do romance; a Condessa fica “amuada” com Carlos e dá toda a atenção a Ega; o Conde denuncia a sua ignorância e falta de memória; Sousa Neto, acossado por Ega, revela-se ignorante. Já reconciliada com Carlos, a Condessa simula um exame médico rápido ao filho e marca um encontro amoroso com ele. Na tarde seguinte, em visita a Maria Eduarda, Carlos declara-lhe o seu amor, que é correspondido, e ambos beijam-se pela primeira vez. Mediante o desejo de Maria Eduarda de viver num lugar mais recatado, longe da coscuvilhice dos vizinhos, e com espaço livre para Rosa brincar, Carlos compra a Quinta dos Olivais a Craft, Afonso aprova o investimento, desconhecendo, contudo, o verdadeiro motivo do mesmo. Carlos conta a Ega o seu romance com Maria Eduarda e a sua intenção de fugir com ela; Ega pensa para ele próprio que esta mulher seria para sempre, o seu irreparável destino.
Intriga Principal Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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É a relação incestuosa entre Carlos da Maia e Maria Eduarda. Que se desenvolve a par com a crónica de costumes, de maneira a “integrar” ambos na sociedade portuguesa. Relação entre o capítulo e a intriga principal: É a declaração de Carlos a Maria Eduarda, ou seja, a consumação do incesto (inconsciente).
Crónica de Costumes Principais episódios ao longo dos quais o narrador faz o retrato da alta sociedade portuguesa do século XIX: . Jantar do Hotel Central; . Corridas no hipódromo; . Jantar dos Gouvarinho; . Jornais “A Corneta do Diabo” e “A Tarde”; . Sarau no Teatro da Trindade;
Reflexões críticas e temas abordados: Literatura, crítica literária, finanças, atraso intelectual do País, educação, decadência do jornalismo português e corrupção do jornalismo, gosto convencional, provincianismo snob e falta de espírito crítico da sociedade lisboeta.
Jantar em casa dos Gouvarinho Ambiente marcada pela futilidade e ociosidade da alta burguesia e aristocracia lisboeta; apresenta uma visão crítica relativamente à mediocridade, ignorância e superficialidade da elite social lisboeta, em geral, e à incapacidade da classe política dirigente, em particular. Onde se sobressai Ega, com a sua veia mordaz e impiedosa.
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Durante o jantar os grandes temas de conversa são: . A educação das mulheres em que Ega diz que ‘’A mulher só devia ter duas prendas: cozinhar bem e amar bem.’’ Ao dizer isto está a desprezar as capacidades das mulheres; . O atraso intelectual e a falta de cultura dos indivíduos que são detentores de cargos que os inserem na esfera social do poder, e consequentemente do país; . O deslumbramentos pelo estrangeiro.
O jantar do Hotel Central e o jantar dos Gouvarinho Jantar do Hotel Central: •
Objectivos:
Jantar dos Gouvarinho: •
– Homenagear o banqueiro Jacob Cohen;
Objectivos: – Reunir a alta burguesia e aristocracia;
– Proporcionar a Carlos um primeiro contacto com o meio social lisboeta;
– Reunir a camada dirigente do País; – Radiografar a ignorância das classes dirigentes.
– Apresentar a visão crítica de alguns problemas; – Proporcionar a Carlos uma visão de Maria Eduarda. . O jantar no Hotel Central permite abordar a crítica literária e a literatura, a situação financeira do país e a mentalidade retrógrada. . No Jantar dos Gouvarinho, as conversas permitem abservar a degradação dos valores sociais, o atraso intelectal do País, a mediocricidade de algumas figuras da alta burguesia e da aristocracia. . O jantar dos Gouvarinho trata-se de uma reunião semelhante ao jantar no Hotel Central, onde persiste o aparato exterior a contrastar com a ignorância das classes dirigentes do País.
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Personagens A sua função na obra: . João de Ega – Naturalismo e o Realismo; . Condessa de Gouvarinho – Adultério e futilidade; . Conde de Gouvarinho – Política (deputado); . Sousa Neto – Administração Pública. A função na obra de outras personagens que não estão presentes neste capítulo: . Alencar – Ultra-Romantismo; . Cohen – Finanças (burguesia poderosa); . Raquel Cohen – Adultério; . Craft – Educação Inglesa; . Cruges – Talento não reconhecido; . Dâmaso – Egocentrismo, exibicionismo dos novos ricos, decadência moral...; (defeitos da sociedade) . Eusebiozinho – Educação tradicional; . Palma “Cavalão” e Neves – Jornalismo corrupto; . Rufino – Oratória superficial.
Carlos da Maia Protagonista da obra, é filho de Pedro da Maia mas, após o suicídio do pai, vai viver com o avô que lhe proporciona uma educação à inglesa. Apesar de ter sido educado para ser capaz de enfrentar todas as contrariedades, a sua vida fracassou, devido a ter tido uma educação baseada apenas em valores físicos e espirituais. Mas também devido ao meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos, e por outro lado devido a aspectos hereditários – a fraqueza e cobardia do pai, o egoísmo, a futilidade e o espírito boémio da mãe. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Retrato físico:
. Estatura alta; . Bem constituído;
“(…) e os olhos dos Maias, aqueles irresistíveis olhos do pai, de um
. Ombros largos;
negro líquido, ternos como os dele e mais graves.”
. Olhos negros; . Pele branca;
“(…) o que lhe dava, com o bonito
. Cabelos negros e ondulados; . Barba fina, castanha escura, pequena na face e aguçada no
bigode arqueado aos cantos da boca, uma fisionomia de belo cavaleira da Renascença.”
queixo. Traços psicológicos: . Culto e bem educado;
“Mas tinha nas veias o veneno de
. Gostos requintados;
diletantismo: e estava destinado, como dizia João da Ega, a ser um
. Corajoso e frontal;
desses médicos literários que
. Amigo e generoso; . Cosmopolita;
inventam doenças de que a humanidade palpava se presta logo
. Sensual;
a morrer!”
. Diletante; . Vítima da hereditariedade: gosto exagerado pelo luxo (mãe) e tendência para o sentimentalismo (pai).
Maria Eduarda Ignorando a sua verdadeira identidade, entra na sociedade lisboeta pela mão de Castro Gomes, com quem partilhava a sua vida, havia três anos. É em Lisboa que se dá o infortunado encontro com Carlos que consuma a desgraça predita por Vilaça, quando Afonso resolve habitar de novo o Ramalhete, ignorando as suas lendas e agouros. A súbita revelação da verdadeira identidade da sua deusa vai provocar em Carlos estupefacção e compaixão, posteriormente o incesto consciente, e depois deste a repugnância. A separação é a única solução Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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para esta situação caótica a que se junta a morte de Afonso. No final da obra, parte para Paris onde mais tarde se casa com Mr. de Trelain. Retrato físico: . Estatura alta;
“(…) uma senhora alta,
. Cabelos Loiros;
loira, com um meio véu
. Pele branca;
muito apertado e muito
. Mulher bem feita;
escuro que realçava o esplendor da
. Sensual mas delicada;
sua carnação ebúrnea. (…) com um passo soberano de deusa,
. Simples.
maravilhosamente bem feita, deixando atrás de si como uma claridade, um reflexo de cabelos de oiro, e um aroma no ar.” Traços psicológicos:
. Requintada; . Culta; . Dignidade; . Sensatez e equilíbrio; . Generosidade; . Forte consciência moral e social; . Ideologia progressiva e pragmática.
João da Ega É o grande companheiro e confidente de Carlos da Maia. É o responsável pela apresentação de Carlos à sociedade lisboeta (através do jantar que organiza no Hotel Central) e tem, também, um papel fundamental na intriga principal, visto que é ele a que Guimarães entrega o cofre com a verdade. Tal como Carlos, é um dândi e um diletante, sendo, no entanto, muito mais exuberante e
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excêntrico. Desenvolve uma paixão avassaladora com Raquel Cohen, que termina com a sua expulsão de casa da amante, pelo seu marido. Retrato físico:
Traços psicológicos:
. Magro;
. Intelectual;
. Pescoço esganiçado;
. Irreverente;
. Tinha um monóculo;
. Revolucionário;
. Bigode arrebitado;
. Boémio;
. Nariz adunco.
. Excêntrico e exagerado;
Era um retrato de Eça.
. Provocador; . Sarcástico; . Crítico; . Anarquista sem moral e sem Deus; . positivista e romântico.
Conde de Gouvarinho É ministro e par do Reino, personagem-tipo que representa o político incompetente. Casou com a filha de um comerciante rico do Porto, aliando o seu título ao dinheiro dela, pelo que é um casamento de conveniência. Retrato físico:
Traços psicológicos:
. Tinha um bigode encerrado e uma
. Ignorante;
pêra curta;
. Incompetente; . Fútil; . Vaidoso; . Maçador.
Condessa de Gouvarinho É uma mulher fútil que despreza o marido pelo seu fraco poder economico e desenvolve uma paixão por Carlos (até este se enfastiar e resolver abandonála). É uma personagem-tipo, simbolizando as mulheres adúlteras. É uma Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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aristocrata que corporiza a decadência moral e a ausência de escala de valores da alta sociedade. Retrato físico:
Traços psicológicos:
. Olhos escuros e finos;
. Fútil;
. Cabelos crespos e ruivos;
. Adultera;
. Nariz petulante e boca larga;
. Imoral;
. Pele clara, fina e doce;
. Sem escrúpulos;
. Bem feita.
. Sensual; . Provocante.
Sousa Neto É representante da Administração Pública. É um homem ignorante, desconhece o sociólogo Proudhon, defende a imitação do estrangeiro, acompanha as conversas sem intervir, acatando todas as opiniões alheias, mesmo que absurdas. É uma personagem-tipo da burocracia, tacanhez intelectual e ineficácia da Administração.
A Condessa de Gouvarinho e Maria Eduarda Condessa de Gouvarinho:
Maria Eduarda:
. “Brilhava mais e melhor que todas
. Era vista por Carlos como uma
na imaginação de Carlos.”;
deusa;
. Tem um casamento falhado, desprezando o marido pelo seu
. Escolhe a maneira mais fácil de subir na vida, juntar-se com homens
fraco poder económico;
ricos;
. Procura Carlos, com a desculpa de
. Usa a “doença” da Miss Sara, para
que o filho está doente. . Carlos acaba tudo com ela, por
Carlos ir a sua casa, e este aproveita.
esta ser fútil.
. Afastam-se depois de saberem do incesto.
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Visão crítica da sociedade portuguesa A par da intriga principal, encontramos a crónica de costumes, que funciona como caracterização da sociedade portuguesa, assumindo a forma de critica e sátira social, revelando os defeitos sociais que impedem o progresso e a renovação das mentalidades. As características mais marcante são a falta de visão histórica e cultural, a ausência de espírito critico, apatia e ociosidade e a importação de modas estrangeiras.
Analogia com a actualidade A sociedade descrita e retratada por Eça está, ainda hoje, “à solta”. A crítica que Eça faz à sociedade do século XIX, caracterizando-a como uma sociedade corrupta, fútil, superficial, ignorante, procurando agitar as ideias sociais, políticas e literárias, constitui uma verdadeira caricatura da sociedade portuguesa da época, conservando-a até à actualidade, apesar dos contextos serem um pouco diferentes.
No romance Os Maias, Eça de Queirós, no propósito de elaborar um retrato da sociedade, que se percebe no subtítulo Episódios da Vida Romântica, e dentro do espírito naturalista, procura encontrar razões para a crise social, política e cultural a partir da formação do indivíduo. Fator de humanização, de socialização e de autonomia, a educação produz ou reproduz modelos sociais e políticos que propõem um sistema de valores e princípios que são a base de uma sociedade. O tema da educação é frequentemente tratado por Eça de Queirós e surge n' Os Maias como um dos principais fatores comportamentais e da mentalidade do Portugal romântico por oposição ao Portugal novo, voltado para o futuro. Não só deparamos com dois sistemas educativos opostos, como é frequente ver as conceções de educação afloradas ao longo da obra através de opiniões das personagens ou das mentalidades e cultura que revelam. Pedro da Maia e Eusebiozinho protagonizam a educação tradicionalista e conservadora, enquanto Carlos recebe a educação inglesa. A incapacidade para enfrentar as contrariedades ou a capacidade para se tornar interveniente na sociedade são as consequências imediatas dos processos educativos opostos. A educação tradicionalista e conservadora caracteriza-se pelo recurso à memorização; ao primado da cartilha apenas com os saberes e os valores aí insertos; à "moral do catecismo" e da devoção religiosa com a conceção punitiva do pecado; ao estudo do latim como língua morta; à fuga ao ar livre e ao receio do Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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contacto com a Natureza. A educação inglesa caracteriza-se pelo desenvolvimento da inteligência graças ao conhecimento experimental; pelo desprezo da cartilha, embora com a defesa do "amor da virtude" e "da honra" como convém a "um cavalheiro" e a "um homem de bem"; pela ginástica e pela vida ao ar livre; pelo contacto direto com a Natureza, pelo gosto das línguas vivas. A educação tradicionalista e conservadora desvalorizou a criatividade e o juízo crítico, deformou a vontade própria, arrastou os indivíduos para a decadência física e moral. Em Pedro da Maia, por exemplo, levou-o a uma devoção histérica pela mãe e tornou-o incapaz de encontrar uma solução para a sua vida, quando Maria Monforte o abandonou; em relação à personagem Eusebiozinho, tornou-o "molengão e tristonho", arrastou-o para uma vida de corrupção, para um casamento infeliz e para a debilidade física. A educação inglesa procurou "criar a saúde, a força e os seus hábitos", fortalecendo o corpo e o espírito. Graças a ela, Carlos da Maia adquiriu valores do trabalho e do conhecimento experimental que o levaram a abraçar um curso de medicina e a projetos de investigação, de empenhamento na vida literária, cultural e cívica. A vida de ociosidade de Carlos e o sequente fracasso dos seus projetos de trabalho útil e produtivo não resultaram da educação, mas da sociedade em que se viu inserido. A ausência de motivações no meio em que se movimentou, o próprio estatuto económico que não lhe exigia qualquer esforço e a paixão romântica que o seduziu foram causas suficientes para, apesar de culturalmente bem formado, desistir, sentir o desencanto e afastar-se das atividades produtivas. Mas ao contrário do seu pai, Pedro da Maia, que, perante o fracasso amoroso, se suicidou, Carlos procura um novo caminho, elaborando uma filosofia de vida, a que chama "fatalismo muçulmano": "Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves."
Os Maias - Resumo A acção de "Os Maias" passa-se em Lisboa, na segunda metade dos séc. XIX. Conta-nos a história de três gerações da família Maia. A acção inicia-se no Outono de 1875, altura em que Afonso da Maia, nobre e rico proprietário, se instala no Ramalhete. O seu único filho – Pedro da Maia – de carácter fraco, resultante de um educação extremamente religiosa e proteccionista, casa-se, contra a vontade do pai, com a negreira Maria Monforte, de quem tem dois filhos – um menino e uma menina. Mas a esposa acabaria por o abandonar para fugir com um Napolitano, levando consigo a filha, de quem nunca mais se soube o paradeiro. O filho – Carlos da Maia – viria a ser entregue aos cuidados do avô, após o suicídio de Pedro da Maia. Carlos passa a infância com o avô, formando-se depois, em Medicina em Coimbra. Carlos regressa a Lisboa, ao Ramalhete, após a formatura, onde se vai rodear de alguns amigos, como o João da Ega, Alencar, Damaso Salcede, Palma de Cavalão, Euzébiozinho, o maestro Cruges, entre outros. Seguindo os hábitos dos que o rodeavam, Carlos envolve-se com a Condessa de Gouvarinho, que depois irá abandonar. Um dia fica deslumbrado ao conhecer Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Maria Eduarda, que julgava ser mulher do brasileiro Castro Gomes. Carlos seguiu-a algum tempos sem êxito, mas acaba por conseguir uma aproximação quando é chamado Maria Eduarda para visitar, como médico a governanta. Começam então os seus encontros com Maria Eduarda, visto que Castro Gomes estava ausente. Carlos chega mesmo a comprar uma casa onde instala a amante. Castro Gomes descobre o sucedido e procura Carlos, dizendo que Maria Eduarda não era sua mulher, mas sim sua amante e que, portanto, podia ficar com ela. Entretanto, chega de Paris um emigrante, que diz ter conhecido a mãe de Maria Eduarda e que a procura para lhe entregar um cofre desta que, segundo ela lhe disse, continha documentos que identificariam e garantiriam para a filha uma boa herança. Essa mulher era Maria Mão Forte – a mãe de Maria Eduarda era, portanto, também a mães de Carlos. Os amantes eram irmãos... Contudo, Carlos não aceita este facto e mantém abertamente, a relação – incestuosa – com a irmã. Afonso da Maia, o velho avô, ao receber a notícia morre desgosto. Ao tomar conhecimento, Maria Eduarda, agora rica, parte para o estrangeiro; e Carlos, para se distrair, vai correr o mundo. O romance termina com o regresso de Carlos a Lisboa, passados 10 anos, e o seu reencontro com Portugal e com Ega, que lhe diz: - "falhamos a vida, menino!".
Personagens Centrais: Afonso da Maia | Pedro da Maia | Carlos da Maia | Maria Eduarda | Maria Monforte
Personagens Planas e/ou Tipo: João da Ega | Eusébiozinho | Alencar | Conde de Gouvarinho | Sousa Neto | Palma Cavalão | Dâmaso Salcede | Steinbroken | Cohen | Craft | Condessa de Gouvarinho | Cruges | Tancredo | Sr. Guimarães |Rufino Sobre as personagens
Os Maias - Afonso da Maia Caracterização Física Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. O cabelo era branco, muito curto e a barba branca e comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado das idas heróicas, um D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque".
Caracterização Psicológica Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus netos. É o símbolo do velho Portugal que contrasta com o novo Portugal – o da Regeneração – cheio de defeitos. É os sonho de um Portugal impossível por falta de homens capazes.
Capítulo I
Inicia-se com a descrição do Ramalhete, a «casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no Outono de 1875», situando no espaço e no tempo aquela que será a intriga principal. Esta é interrompida e há um recuo no tempo - 1820. Conhece-se então a juventude de Afonso da Maia, o seu casamento com Maria Eduarda Runa, o nascimento de Pedro, o exílio da família em Inglaterra por motivos políticos, a educação tradicional portuguesa ministrada a Pedro contra a vontade Afonso, o regresso da família Portugal, a morte de Maria Eduarda Runa, os amores de Pedro e de Maria Monforte, a oposição de Afonso ao enlace do filho com Maria Monforte e a ruptura entre pai e filho após o casamento deste com Maria Monforte. Capítulo II
Pedro e Maria Monforte viajam por Itália e Paris em lua-de-mel; após o regresso do casal a Portugal, Maria Monforte, grávida, pressiona Pedro a reatar relações com o pai que se mantém inacessível. Entretanto nasce Maria Eduarda; Pedro da Maia e Maria Monforte vivem faustosamente. Segue-se o nascimento de Carlos Eduardo. Mais tarde, por intermédio do marido, Maria Monforte conhece Tancredo com quem acaba por fugir, levando a filha com ela. Pedro, desesperado, reconcilia-se com o pai, deixa Carlos aos seus cuidados e suicida-se. Afonso, abatido com a desgraça familiar, vai viver com o neto para Santa Olávia. Capítulo III
Afonso da Maia e o neto vivem felizes em Santa Olávia, onde recebem assiduamente vários amigos. Vilaça visita-os, comove-se com a cumplicidade entre avô e neto, conversa com as Silveira sobre a educação ministrada a Carlos, totalmente diferente da imposta a Eusébiozinho que, a pedido da mãe, recita um poema ultra-romântico. No final da noite, Vilaça informa Afonso sobre a situação de Maria Monforte e entrega-lhe uma carta remetida por Alencar. Afonso mostra interesse em recuperar a neta e dá conta ao procurador da carta que Pedro escrevera na noite em que se suicidara. Mais tarde, Vilaça escreve a Afonso, comunicando-lhe que, segundo o que Maria Monforte dissera a Alencar, a sua neta morrera em Londres, o que Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Afonso não consegue, de facto, comprovar. Depois disso, Vilaça morre e o filho assume as funções de procurador da família Maia. Entretanto Carlos da Maia faz o seu primeiro exame com distinção. Capítulo IV
É retratado o período de formação académica de Carlos, em Coimbra, no curso de Medicina, vocação já manifestada na infância. Evidencia-se: o carácter diletante de Carlos, as reuniões intelectuais em seu redor, a prática de actividades diversas e a vivência de casos amorosos fugazes. Carlos termina o seu curso e viaja, durante um ano, pela Europa. A acção principal, nesse Outono de 1875 é retomada: Afonso encontra-se instalado no Ramalhete, aguardando ansiosamente a chegada do neto, no paquete Royal Mail. H´+a um jantar em honra de Carlos. Após a sua acomodação, Carlos traça vários planos de trabalho, contudo dispersos; e aluga o primeiro andar no Rossio onde instala luxuosa e requintadamente o seu consultório, faltando-lhe, no entanto, doentes. Ega visita-o no consultório e ambos falam sobre os seus projectos. Carlos incita o amigo a aparecer no Ramalhete, dizendo-lhe em linhas gerais como e com quem passa aí o tempo. Ega propõe a Carlos a organização de um Cenáculo, falha-lhe de Craft com admiração e comunica-lhe a intenção de publicar as Memórias de um
Átomo. Capítulo V
Os amigos da família frequentam o Ramalhete, durante o serão: joga-se bilhar, cartas e conversa-se. Vilaça confidencia a Eusebiozinho que os maias desperdiçam dinheiro inutilmente. Carlos, quase sem pacientes, dispersa-se nas suas actividades. Entretanto, ganha « a primeira libra» da família que é adquirida através do trabalho. Ega, enamorado de Raquel Cohen, leva uma vida dândi. Em sequência da leitura de um excerto de Memórias de um Átomo, na casa dos Cohen, Ega é elogiado na Gazeta do Chiado. Carlos, investigado por Ega, vai em vão ao Teatro de S. Carlos com o intuito de ver a condessa de Gouvarinho. Já em casa, no quarto, obtém de Baptista informações sobre os Gouvarinho. Carlos é apresentado, no Teatro de S. Carlos, por Ega ao Conde de Gouvarinho e conhece a esposa. Capítulo VI
Carlos visita Ega de surpresa, na Vila Balzac, ninho dos seus amores com Raquel Cohen. Inconscientemente, Ega augura um futuro amoroso trágico para Carlos. Este é apresentado por Ega a Craft, quando casualmente se encontram na entrada do Largo da Graça. Sucede-se o jantar no Hotel Central, organizado por Ega em honra de Cohen. No peristilo do Hotel Central, Carlos, na companhia de Craft, vê Maria Eduarda pela primeira vez e fica deslumbrado. Dâmaso é apresentado por Ega a Carlos; aquele fala sobre os Castro Gomes e sobre o seu tio Guimarães. Ega apresenta Alencar a Carlos , o qual afirma ter sido um grande amigo de seu pai, Pedro da Maia. Cohen chega atrasado, Ega recebe-o com euforia e apresenta-o a Carlos. Durante o jantar, a conversa recai sobe a literatura - Alencar defende o Ultra-Romantismo, Ega o Naturalismo, Craft critica o Realismo, Carlos reage contra o Naturalismo - e as finanças nacionais - a inevitável bancarrota do país. Entretanto, Ega e Alencar desentendem-se violentamente numa discussão literária, acabando, contudo, por se reconciliar. Após o jantar, Carlos e Alencar caminham juntos e este fala sobre o seu passado. Já em casa, Carlos relembra o que Ega certo dia, completamente embriagado, lhe revelara sobre a mãe e o que a seu pedido, mais tarde, o avô lhe contara, nomeadamente a morte da mãe e da irmã em Viena. Nessa noite Carlos sonha com Maria Eduarda. Capítulo VII
Depois do almoço, Afonso e Craft jogam uma partida de xadrez. Carlos tem poucos doentes e vai trabalhando no seu livro. Dâmaso, à semelhança de Craft, torna-se íntimo da casa dos Maias, seguindo Carlos por todo o lado e procurando emita-lo. Ega anda ocupado com a organização de um baile de máscaras na casa dos Cohen. Carlos, na companhia de Steinbroken em direcção ao Aterro, vê, pela segunda vez, Maria Eduarda acompanhada do marido. Carlos desloca-se várias vezes, durante a semana, ao Aterro na Esperança de ver novamente Maria Eduarda. A Condessa de Gouvarinho, com a desculpa que o filho se encontra doente, procura Carlos no consultório. Ao serão, no Ramalhete, joga-se dominó, ouve-se música e conversa-se. Carlos convida Cruges a ir a Sintra no dia seguinte, pois tomara conhecimento, por intermédio de Taveira, que Maria Eduarda aí se encontrava na companhia do marido e de Dâmaso. Capítulo VIII Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Carlos vai com Cruges a Sintra. Aquele procura Maria Eduarda discretamente. Ambos encontram, no Hotel Nunes, Eusebiozinho e Palma «Cavalão» na companhia de Lola e Concha, duas prostitutas espanholas. Carlos e Cruges decidem ir a Seteais em passeio; entretanto, encontram Alencar que os acompanha; sobretudo Cruges e Alencar apreciam e deslumbram-se perante aquela paisagem. De regresso a Sintra, Carlos dirige-se ao Hotel Lawrence e, desiludido, constata que Maria Eduarda já partira. Em monólogo interior, Carlos imagina Maria Eduarda «nas rendas do seu peignoir», em Lisboa. Depois de jantar, «na Lawrence», os três amigos partem para a capital. Capítulo IX
Na ausência dos Castro Gomes, Dâmaso, aflito, leva Carlos ao Hotel Central, para consultar a filha de Maria Eduarda que adoecera. Enquanto aguarda no «gabinete toilette», Carlos observa atentamente os objectos pessoais de Maria Eduarda; entretanto, é levado à presença de Rosicler e conhece também Miss Sara. Nessa noite, Ega é expulso por Cohen do baile de máscaras e aquele pede a Carlos que vá com ele aos Olivais conversar com Craft, pois pretende desafiar Cohen para um duelo. Craft e Carlos procuram acalmar Ega, dissuadem-no da sua intenção e aconselham-no a esperar que Cohen o desafie. A Sr.ª Adélia, criada dos Cohen, chega com notícias: Raquel levara uma tareia do marido e reconciliara-se com ele. depois disto, Ega decide ir uns tempos para Celorico, onde vive a mãe, para fugir aos sacarmos de Lisboa. Em monólogo interior, Carlos reflecte sobre o fracasso dos projectos de Ega, considerando que também ele próprio, até ao momento, nada fizera produtivo. Carlos Vê novamente Maria Eduarda com o marido. Passa algum tempo na companhia dos Gouvarinho e acaba por se envolver com a Condessa. Capítulo X
Carlos vive uma aventura amorosa com a Gouvarinho. Ela quer fugir com ele, mas Carlos dissuade-a. Em conversa com o marquês, Carlos confidencia-lhe que Ega está a escrever uma comédia em cinco actos, O Lodaçal, para se vingar de Lisboa. Carlos avista Rosicler na companhia da mãe e cumprimenta-as, ficando novamente bastante perturbado com a beleza de Maria Eduarda. Em monólogo interior, Carlos idealiza uma visita à Quinta dos Olivais com os Castro Gomes. No Ramalhete conversa-se sobre as corridas: Afonso defende as touradas como «sport próprio» da «raça» portuguesa; o marquês apoia-o; Dâmaso considera que as corridas «outro chique». Carlos expõe a Dâmaso o seu plano de conhecer os Castro Gomes numa visita à Quinta dos Olivais; este, embora desconfiado, acede, comprometendo-se a fazer o convite ao casal e a dar conhecimento do eventual encontro a Carlos. Carlos e o marquês vêem Afonso a dar esmola a duas mulheres, o que o deixa embaraçado por ter sido surpreendido na «sua caridade». Segue-se o episódio das Corridas de Cavalos : Carlos e Craft vão juntos para o hipódromo; o ambiente é tristonho, acabrunhado, monótono e ocioso; há uma discussão à entrada do hipódromo entre um «dos sujeitos de flor ao peito» e um polícia; os dois amigos observam o ambiente em redor e dirigem-se para a tribuna onde encontram as mulheres; Carlos conversa com D. Maria da Cunha; o rei D. Carlos é anunciado pelo «Hino da Carta»; começam as corridas; continuam a chegar pessoas e Carlos, inquieto, procura Dâmaso e Maria Eduarda no meio da multidão; Carlos, Craft e Clifford bebem champanhe; instala-se a desordem no hipódromo; discretamente a condessa de Gouvarinho transmite a Carlos a sua intenção de ir ao aniversário do pai ao Porto e o plano que arquitectou para que ambos pudessem ficar uma noite juntos; fazem-se apostas para a corrida do «Grande Prémio Nacional» e Carlos, ao contrário do que seria de se esperar, ganha todas as apostas; finalmente, Carlos, encontra Dâmaso através do qual fica a saber que Castro Gomes partira para o Brasil e que Maria Eduarda estava instalada no primeiro andar de uma casa da mãe de Cruges; Carlos é forçado a aceder ao capricho da Gouvarinho; as corridas terminam e desaparece «todo o interesse fictício pelos cavalos»; Carlos sai sozinho do recinto e passa pela rua de S. Francisco, onde se situa a casa alugada de Maria Eduarda. Ao chegar ao Ramalhete, Carlos toma conhecimento por Craft, que as corridas acabaram com uma cena de murros; ao entrar em casa, um criado entrega-lhe uma carta de Maria Eduarda, na qual esta lhe pede para ir ver, na manhã seguinte, «uma pessoa da família» que se encontrava doente. Capítulo XI
Carlos, na sua consulta a Miss Sara, conhece finalmente Maria Eduarda; ambos conversam e esta despede-se com um «até amanhã» que deixa Carlos radiante. Este, contrariado, vai ter com a Condessa à estação de Santa Apolónia; aqui encontra Dâmaso que ia aa Penafiel em virtude do Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 falecimento de um tio; inesperadamente, a Condessa aparece acompanhada pelo marido que, para gáudio de Carlos, assim lhe estraga «o plano» de pernoitar com a amante. Com a desculpa da doença de Miss Sara, Carlos convive diariamente com Maria Eduarda; fica a saber que ela considera Dâmaso «insuportável» e que conhece o tio deste (Guimarães) por intermédio da mãe. Novamente em Lisboa, Dâmaso visita Maria Eduarda que o recebe friamente. Ao ver Carlos na companhia de Maria, Dâmaso pede-lhe, mais tarde, explicações. Depois de o tranquilizar, Carlos informa-o sobre a chegada de Ega a Lisboa, no sábado seguinte, e Dâmaso diz-lhe que também os Cohen tinham regressado de Southamptom, dois dias antes. Capítulo XII
Ega regressa a Lisboa, instala-se no ramalhete e confidencia a Carlos que a Condessa fala «constantemente, irresistivelmente, imoderadamente» dele. Em conversa com Afonso, Ega e Carlos justificam a sua inércia com a «prodigiosa imbecilidade nacional» e aquele, apercebe-se da falta de estímulo de ambos, incita-os a fazerem «alguma coisa». Segue-se o jantar em Casa do Gouvarinho: Carlos e Ega vão juntos ao jantar; a condessa recrimina Carlos devido às suas ausências e fá-lo saber que, por intermédio de Dâmaso, conhece as suas visitas assíduas à «brasileira» (Maria Eduarda). Durante o jantar, o Conde denuncia a sua ignorância e falta de memória; A Condessa «amuada com Carlos», dá toda a atenção a Ega; D. Maria da Cunha na sua conversa com Carlos tece criticas negativas a Ega; Sousa neto, acossado por Ega, revela-se ignorante relativamente a Proudhon; já reconciliada com Carlos, a Condessa simula um exame médico rápido ao filho e marca um encontro amoroso com ele. Na tarde seguinte, em visita a Maria Eduarda, Carlos declara-lhe o seu amor, que é correspondido, e ambos beijam-se pela primeira vez. Mediante o desejo de Maria Eduarda de viver num lugar mais recatado, com espaço ao ar livre, Carlos compra a Quinta dos Olivais a Craft; Afonso aprova o investimento, desconhecendo, contudo, o verdadeiro motivo do mesmo. Carlos conta a Ega o seu romance com Maria Eduarda e a sua intenção de fugir com ela; Ega sente que esta mulher seria «para sempre, o seu irreparável destino». Capítulo XIII Carlos recebe uma carta da Condessa que, «num tom amargo», marca novo encontro com ele, ao qual este decide não comparecer. Ega conversa com Carlos e informa-o que Dâmaso o tem andado a difamar, bem como a Maria Eduarda, por todos os lugares frequentados por todas as pessoas importantes de Lisboa. Carlos vai aos Olivais proceder aos últimos preparativos para a visita que Maria Eduarda fará, no dia seguinte. De regresso ao Ramalhete, encontra Alencar que não via desde as corridas e confirma por este que Dâmaso o anda a difamar. Maria Eduarda visita os Olivais; ela e Carlos cometem incesto inconscientemente. No dia seguinte, festeja-se o aniversário de Afonso da Maia: Ega sabe pelo Marquês que Dâmaso tem sido visto na companheira de Raquel Cohen. A condessa procura Carlos e este separa-se dela definitiva e friamente. Capítulo XIV
Afonso vai para Santa Olávia passar uns tempos. Maria Eduarda instala-se, com Rosicler e seus criados, nos Olivais. Ega vai para Sintra no encaço de Raquel Cohen. Carlos encontra Alencar à porta do Prince que o informa sobre a estada dos Cohen em Sintra e mostra-se interessado em apresentar Guimarães, o que Carlos adia para outra altura. Em monólogo interior, Carlos relembra o seu pai e projecta a fuga com Maria Eduarda para Itália, mostrando-se apreensivo com a reacção do avô a esta «aventura absoluta». Carlos e Maria Eduarda encontram-se diariamente na Quinta dos Olivais (Toca) e refugiam-se, «numa intimidade mais livre» no quiosque japonês. Acidentalmente, Carlos descobre o envolvimento secreto de Miss Sara com um homem que «parecia jornaleiro», o que o deixa bastante surpreendido e «atordoado». Maria Eduarda visita o Ramalhete na companhia de Carlos; ela falhe-lhe de sua mãe; Ega chega de Sintra. Carlos visita Afonso em Santa Olávia. Castro Gomes vai ao ramalhete falar com Carlos e, em tom irónico, comunica-lhe que não é casado com Maia Eduarda, nem Rosicler é sua filha; Carlos fica transtornado e vai à Toca pedir explicações a Maria Eduarda que, humildemente, lhe revela toda a verdade reafirmando o seu amor por ele. Carlos, comovido, compreende e perdoa-lhe a omissão; pedindo-a em casamento. Capítulo XV
No quiosque japonês, Maria Eduarda conta detalhadamente a Carlos o que conhece da sua vida passada. Dadas as circunstancias, e sobretudo para poupar Afonso a esse «desgosto», Ega convence Carlos a casar com Maria Eduarda apenas depois do falecimento do avô. Ega vai jantar Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 com Carlos e Maria Eduarda à Toca e conversam sobre a ideia de criar um Cenáculo a uma revista que «dirigisse a literatura, educasse o gosto, levasse a politica, fizesse a civilização, remoçasse o carunchoso Portugal…»; Maria Eduarda, enlevada, apoia esta intenção. Após o primeiro convívio, cria-se um círculo de amizades que passa a frequentar a Toca. Carlos, incentivado por Maria Eduarda, recomeça a escrever artigos de Medicina para a Gazeta Médica. Segue-se o incidente relacionado com a Corneta do Diabo e A tarde. Ega envia a Carlos um bilhete, juntamente com a Corneta do Diabo na qual vinha uma notícia escandalosa sobre a sua vida pessoal, envolvendo também Maria Eduarda. Carlos e Ega procuram Palma «Cavalão», director do jornal, e este denuncia Dâmaso, como autor do artigo, e Eusebiozinho como seu intermediário. Egas e Cruges vão a casa de Dâmaso a fim de o desafiar para um duelo com Carlos devido ao artigo que tinha mandado publicar. Dâmaso opta por por escrever uma carta de desculpa a Carlos onde se declara bêbado. Afonso regressa de Santa Olávia, Carlos vê-se obrigado a deixar os Olivais e Maria Eduarda instala-se novamente na rua de S. Francisco. Depois de ver Dâmaso a conversar intimamente com Raquel no ginásio, onde decorria a festa de beneficência, Ega, despeitado e vingativo, faz publicar no jornal A Tarde a carta que este remetera a Carlos. O Governo cai, forma-se um novo Governo e o Conde de Gouvarinho é eleito ministro da pasta da Marinha. Dâmaso parte «para uma viagem de recreio a Itália». Capítulo XVI
Ega e Carlos, este contrariado por deixar Maria sozinha, vão ao sarau da Trindade, no qual se destaca a oratória superficial e bajuladora de Rufino, o recital de Cruges e a declamação «patriótica» de Alencar… Guimarães é apresentado por Alencar a Ega; aquele pede-lhe explicações sobre a carta de seu sobrinho Dâmaso, que fora publicada no jornal A Tarde; ao saber toda a verdade, e concordando que o sobrinho é um mentiroso, troca» um rasgado aperto demãos» com Ega. Carlos, ao avistar Eusebiozinho, vai ao seu encalço e, em virtude de este ter andado» metido nessa maroteira da Corneta», dá-lhe uma sova. Findo o sarau, Guimarães encontra Ega à porta do Hotel Aliança e diz-lhe que tem em seu poder um cofre de Maria Monforte, de quem fora íntimo em Paris, para entregar a Carlos ou à irmã; Ega aterrorizado descobre casualmente a verdadeira identidade de Maria Eduarda. Capítulo XVII
Ega, transtornado com os acontecimentos do dia anterior, decide procurar Vilaça e encarrega-lo de revelar a verdadeira identidade de Maria Eduarda a Carlos. Este, angustiado com a fatídica notícia, interpela Afonso sobre o destino da sua irmã, neta de Afonso, e constata que Afonso também desconhece o que se passou. Carlos vai ter com Maria Eduarda a fim de lhe contar a desastrosa descoberta sobre as suas origens, mas irresistivelmente comete incesto de forma consciente. Afonso apercebe-se desta fraqueza do neto e morre com o desgosto. Depois do funeral de Afonso, Carlos refugia-se em Santa Olávia e encarrega Ega de revelar a verdade à irmã e de lhe pedir que esta parta para Paris. Ega encontra-se no dia seguinte com Maria Eduarda na estação de Santa Apolónia, ambos vão de viagem: ela segue para Paris e ele vai encontrar-se com Carlos em Santa Olávia. No Entroncamento despedem-se definitivamente. Capitulo XVIII
Carlos e Ega fazem uma viagem pelo mundo, durante um ano e meio. Ega regressa a Portugal, mas Carlos instala-se em parios. Em 1886, Carlos passa o Natal em Sevilha e, no inicio do novo ano, visita Portugal, reencontrando vários amigos com que combina um jantar no Bragança. Segue-se o episódio do passeio final dos dois amigos, durante a deambulação de Carlos e de Ega pela capital, destaca-se: a «estátua triste de Camões», Dâmaso, que entretanto casara e era enganado pela mulher, um obelisco «com borrões de bronze no pedestal», uma «geração nova e miúda que Carlos não conhecia, Charlie (filho da Condessa de Giouvarinho) a vaguear numa vitória «com lentidão e estilo» e Eusébio que casara com uma «avantesma» que « o derreia à pancada». os dois amigos vão ao Ramalhete e entristecem-se com o seu estado de degradação e abandono. Ambos concluem que falharam e Ega afirma que são «Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento, e não pela razão…»; Carlos declara que a sua teoria de vida se baseia no «fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear… Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves». O capítulo termina com os dois amigos - que segundos antes afirmavam que «não vale a pena fazer um esforço, correr com ânsia para coisa alguma» - a correrem desesperadamente Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 para apanhar o americano (eléctrico), a fim de chegarem a tempo ao convívio marcado com «os rapazes» no Bragança.
Introdução A obra -prima de Eça de Queirós, publicada em 1888, e uma das mais importantes de toda a literatura narrativa portuguesa. É um romance realista (e naturalista) onde não faltam o fatalismo, a análise social, as peripécias e a catástrofe próprias do enredo passional. A obra ocupa-se da história de uma família (Maia) ao longo de três gerações, centrando-se depois na última geração e dando relevo aos amores incestuosos de Carlos da Maia e Maria Eduarda. Mas a história é também um pretexto para o autor fazer uma crítica à situação decadente do país a nível político e cultural e á alta burguesia lisboeta oitocentista, por onde perpassa um humor (ora fino, ora satírico) que configura a derrota e o desengano de todas as personagens.
Biografia José Maria Eça de Queirós nasceu na Póvoa de Varzim, a 25 de Novembro de 1845, filho de José Maria Teixeira de Queirós, magistrado judicial, e Carolina Augusta Pereira d'Eça, natural de Viana do Castelo. Por se tratar de uma ligação amorosa irregular, o pequeno José Maria foi registado como filho de "mãe incógnita". Passou parte da infância longe dos pais, que só viriam a casar quando ele já tinha quatro anos. Na verdade passou a maior parte da sua vida como filho ilegítimo, pois só foi reconhecido aos quarenta anos de idade, na ocasião em que casou. Até 1851 foi criado por uma ama em Vila do Conde; depois foi entregue aos cuidados dos avós paternos que viviam perto de Aveiro, em Verdemilho. Por volta dos dez anos foi internado no Colégio da Lapa, no Porto, onde o pai era juiz. Ramalho Ortigão era filho do director e chegou a ensinar Francês ao jovem Eça.
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Em 1861 matriculou-se em Coimbra, no curso de Direito, que concluiu em 1866. Foi aí que conheceu Antero de Quental e Teófilo Braga mas não se envolveu na polémica conhecida por Questão Coimbrã (1865-66), que opôs os jovens estudantes a alguns dos mais conhecidos representantes da segunda geração romântica. Segundo o seu próprio testemunho, nesta fase leu os autores franceses que, na época, entusiasmavam a juventude letrada em Portugal. Em Coimbra, cruzavam-se a tendência romântica e as novas ideias de raiz positivista e ambas contribuíram para a formação intelectual de Eça e dos seus companheiros. Após a formatura, chegou a estabelecer-se como advogado em Lisboa, mas rapidamente desistiu dessa carreira, que lhe parecia pouco promissora. Em 1867 fundou e redigiu integralmente, durante perto de meio ano, o jornal "O Distrito de Évora", com o qual fez oposição política ao governo. Meses depois instalou-se em Lisboa, passando a colaborar com maior regularidade na "Gazeta de Portugal", para a qual começara a escrever no ano anterior. Os textos desta época, publicados posteriormente com o título Prosas Bárbaras, reflectem ainda uma acentuada influência romântica. Em 1869 fez uma viagem ao Egipto e Palestina, tendo na ocasião assistido à inauguração do canal de Suez. Acompanhava-o o conde de Resende, com cuja irmã, Emília de Castro Pamplona, viria a casar em 1886. As impressões dessa viagem ficaram registadas nos textos que integram o livro O Egipto e forneceram o ambiente para o romance A Relíquia. Ainda em 1869, de parceria com Antero de Quental e Batalha Reis, cria a figura de Carlos Fradique Mendes, que mais tarde transformaria numa espécie de alterego. Em 1870 escreveu de parceria com Ramalho Ortigão uma série de folhetins a que deram o nome de O Mistério da Estrada de Sintra. A colaboração entre os dois continuou no ano seguinte com uma publicação de crítica política e social "As Farpas". Os textos de Eça de Queirós viriam a ser publicados em livro com o título Uma Campanha Alegre.
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Durante a sua estada em Lisboa reencontrou Antero de Quental e outros jovens intelectuais e juntos formaram o grupo do Cenáculo, de onde partiu a ideia das Conferências do Casino. O próprio Eça pronunciou uma das palestras, em 12/6/1871, sobre "O Realismo como nova expressão de arte". Em 1870 havia sido nomeado administrador do concelho de Leiria. Essa curta estadia forneceu-lhe o material para imaginar o ambiente provinciano e devoto em que decorre a acção de O Crime do Padre Amaro. Entretanto ingressou na carreira diplomática, tendo sido nomeado cônsul em Havana (Cuba, na altura colónia espanhola), em 1872. Durante a sua estada procurou melhorar a situação dos emigrantes chineses, oriundos de Macau, colocados numa quase escravidão. Durante esse período, fez uma longa viagem pelos Estados Unidos e Canadá. Foi nesta fase que redigiu o conto Singularidades de uma rapariga loura e a primeira versão de O Crime do Padre Amaro. Em Dezembro de 1874 foi transferido para Newcastle, onde escreveu O Primo Basílio, e mais tarde para Bristol (1878). Dez anos depois (1888) foi colocado em Paris, onde permaneceu até à sua morte. Na sequência das Conferências do Casino, em 1877 Eça projectou uma série de novelas com que faria uma análise crítica da sociedade portuguesa do seu tempo, com a designação genérica de "Cenas Portuguesas". Mesmo sem obedecer com rigor a esse projecto, muitos dos romances escritos por Eça até ao fim da sua vida nasceram dele: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, A Capital, Os Maias, O Conde de Abranhos e Alves e C.a. Entre 1889 e 1892 dirige a "Revista de Portugal". Ao longo dos anos colaborou em muitas outras publicações, tendo esses textos sido publicados postumamente. Pouco depois da publicação de Os Maias, que não obteve o sucesso que o autor esperava, nota-se na produção romanesca de Eça de Queirós uma significativa inflexão. Essas últimas obras (A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e as Serras e Contos) manifestam um certo desencanto face ao mundo moderno e um vago desejo de retorno às origens, à simplicidade da vida rural.
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Eça de Queirós morreu em Paris, a 16 de Agosto de 1900.
Época Literária Os romances de Eça são portadores de um realismo corrosivo, impregnado de um espectacular, e para a época, inovadora arte narrativa, revelando um humor caricatural que se mantém sempre actual. Ao grupo de Coimbra, a que veio chamar-se Geração de 70 levou a cabo uma ampla acção crítica e renovadora na cultura portuguesa, Entre os seus membros mais influentes estavam Eça de Queirós, introdutor do realismo literário. A actividade reformadora da Geração 70 manifestou-se, na literatura, de diversas formas. Em 1871, deu-se início à edição de As Farpas, e mais tarde Os Maias de Eça de Queirós. Nela era feita uma crítica satírica à sociedade portuguesa, toma como alvo diversos aspectos económicos, políticos, religiosos, mas também literários dirigindo os seus ataques especialmente à literatura romântica sentimental, hipócrita e desligando da vida, imoral de acordo com os princípios ideológicos e artísticos desta nova geração. Eça fazia a defesa do realismo, criticando violentamente o Romantismo pela sobreposição do sentimentalismo à análise do real. A prática literária de Eça de Queirós, no entanto, não se manteve dentro dos limites ortodoxos da doutrina realista ou naturalista.
Personagens Arvore Genealógica da família Maia
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Afonso da Maia Caracterização Física Afonso era baixo, maciço, de ombros quadrados e fortes. A sua cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. Os cabelos eram branco, muito curto e a barba branca e comprida. Como dizia Carlos: "lembrava um varão esforçado das idas heróicas, um D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque". Caracterização Psicológica Provavelmente o personagem mais simpático do romance e aquele que o autor mais valorizou. Não se lhe conhecem defeitos. É um homem de carácter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e é obrigado, pelo seu pai, a sair de casa; instala-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Dedica a sua vida ao neto Carlos. Já velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu gato – Reverendo Bonifácio – aos pés, opinando sobre a necessidade de renovação do país. É generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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natureza e o que é pobre e fraco. Tem altos e firmes princípios morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus netos.
Pedro Da Maia Caracterização Física Era pequenino, face oval de "um trigueiro cálido", olhos belos – "assemelhavamno a um belo árabe". Valentia física. Caracterização Psicológica Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e já velho". O autor dá grande importância à vinculação desta personagem ao ramo familiar dos Runa e à sua semelhança psicológica com estes. Pedro é vítima do meio baixo lisboeta e de uma educação retrógrada. O seu único sentimento vivo e intenso fora a paixão pela mãe. Apesar da robustez física é de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reacção do suicídio face à fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem.
Carlos da Maia Caracterização Física Carlos era um belo e magnífico rapaz. Era alto, bem constituído, de ombros largos, olhos negros, pele branca, cabelos negros e ondulados. Tinha barba fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode era arqueado aos cantos da boca. Com diz Eça, ele tinha uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença". Caracterização Psicológica Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Carlos era culto, bem-educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é fruto de uma educação à Inglesa. É corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projecto sério). Todavia, apesar da educação, Carlos fracassou. Não foi devido a esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos e também devido a aspectos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, o futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a questão Coimbra e as Conferências do Casino e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.
Maria Eduarda Caracterização Física Maria Eduarda era uma bela mulher: alta, loira, bem feita, sensual e delicada, "com um passo soberano de deusa", é "flor de uma civilização superior, faz relevo nesta multidão de mulheres miudinhas e morenas", era bastante simples na maneira de vestir, "divinamente bela, quase sempre de escuro, com um curto decote onde resplandecia o incomparável esplendor do seu colo" Caracterização Psicológica Maria Eduarda nunca é criticada, é uma personagem delineada em poucos traços, o seu passado é quase desconhecido o que contribui para o aumento e encanto que a envolve. A sua caracterização é feita através do contraste entre si e as outras personagens femininas, e ao mesmo tempo, chega-nos através do ponto de vista de Carlos da Maia, para quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito, "Maria Eduarda! Era a primeira vez que Carlos ouvia o nome dela; pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua beleza serena."
João da Ega Caracterização Física Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Ega usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço esganiçado, punhos tísicos, pernas de cegonha". Era o autêntico retrato de Eça. Caracterização Psicológica João da Ega é a projecção literária de Eça de Queirós. É um personagem contraditório. Por um lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional. Era o Mefistófeles de Celorico. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos de Coimbra, onde se formara em Direito (muito lentamente). A mãe era uma rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos, com a filha. Boémio, excêntrico, exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre também de diletantismo (concebe grandes projectos literários que nunca chega a executar). Terminado o curso, vem viver para Lisboa e torna-se amigo inseparável de Carlos. Como Carlos, também ele teve a sua grande paixão – Raquel Cohen. Um falhado, corrompido pela sociedade. Encarna a figura defensora dos valores da escola realista por oposição à romântica. Na prática, revela-se em eterno romântico. Nos últimos capítulos ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga. É a ele que Guimarães entrega o cofre. É juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a Afonso. É ele que diz a verdade a Maria Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris definitivamente.
Conclusão O romance termina quando Carlos, anos passados, regressa a Lisboa de visita e considera que, afinal, a sua paixão funesta por Maria foi a única coisa que deu valor à sua vida.
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Ficha Informativa sobre Cesário Verde Características realistas
Características modernistas
TEMÁTICAS A cidade e o A campo humilhação A Busca da A imagética perfeição Feminina formal
Linguagem e Estilo
Questão Social
Características estilísticas QUANDO TUDO ACONTECEU... (Biografia)
Características temáticas
Enquadramento Estético-Literário da poesia de Cesário Verde
Resumo
O Impressionismo Múltiplos olhares sobre adaptado ao Real a obra de Cesário Verde
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Características realistas: •
Supremacia do mundo externo, da materialidade dos objectos; impõe o real concreto à sua poesia. Predomínio do cenário urbano (o favorito dos escritores realistas e naturalistas).
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Situa espacio-temporalmente as cenas apresentadas (ex: «Num Bairro Moderno» - «dez horas da manhã»).
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Atenção ao pormenor, ao detalhe.
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A selecção temática: a dureza do trabalho («Cristalizações» e «Num Bairro Moderno»); a doença e a injustiça social («Contrariedades»); a imoralidade das «impuras», a desonestidade do «ratoneiro» e a «miséria do velho professor» em «O Sentimento dum Ocidental».
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A presença do real histórico: a referência a Camões e o contexto socio-político em «O Sentimento dum Ocidental».
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A linguagem burguesa, popular, coloquial, rica em termos concretos.
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Pelo facto da sua poesia ser estimulada pelo real, que inspira o poeta, que se deixa absorver pelas formas materiais e concretas.
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Características modernistas: «A poesia de Cesário Verde reflecte a crise do naturalismo e o desencanto pela estética realista. O poeta empenha-se no real, é certo, porém a instância da visão subjectiva é marcante ao ponto de fazer vacilar a concepção de Cesário Verde como poeta realista.» (Elisa Lopes). Mesmos nos textos mais frequentemente citados como realistas, encontramos já um olhar subjectivo (porque selectivo), valorativo, que se manifesta num impressionismo pictórico, pois mais do que a representação do real importa a impressão do real, que suplanta o real objectivo. A realidade é mediatizada pelo olhar do poeta, que recria, a partir do concreto, uma super-realidade através da imaginação transfiguradora, metamorfoseando o real num processo de reinvenção ou recontextualização precursora da estética surrealista.
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Abre à poesia as portas da vida e assim traz o inestético, o vulgar, o feio, a realidade trivial e quotidiana. A. C. Monteiro chama-lhe «o pendor subversivo».
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Forte componente sinestésica (cruzamento de várias sensações na apreensão do real), de pendor impressionista, que valoriza a sensação em detrimento do objecto real.
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Um certo interseccionismo entre planos diferentes, visualismo e memória, real e imaginário, etc, (concretizado muitas vezes em hipálages sugestivas).
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Características estilísticas: •
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A estrutura narrativa dos seus poemas, em que encontramos acções protagonizadas por agentes/actores (ex: «Deslumbramentos», «Cristalizações» e «Num Bairro Moderno»). A estrutura deambulatória que configura uma poesia itenerante: a exploração do espaço é feita através de sucessivas deambulações, numa perspectiva de câmara de filmar, em que se vão fixando vários planos (ex: «Cristalizações», em que se configuram vários planos, e «O Sentimento dum Ocidental», em que há um fechamento cada vez maior dos cenários apreendidos pelo olhar). É uma espécie de olhar itinerante e fragmentário, que reflecte o passeio obsessivo Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 pela cidade (e também no campo em alguns poemas); uma poesia transeunte, errante. Exemplos mais significativos são os poemas «Num Bairro Moderno», «O Sentimento dum Ocidental», que definem a relação do poeta com a cidade. •
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O olhar selectivo: a descrição/evocação do espaço é filtrada por um juízo de valor transfigurador, profundamente sinestésico (ex: «Num Bairro Moderno»). O poeta é como um espelho em que vem repercutir-se a diversidade do mundo citadino. O contraste luz/sombra: jogo lúdico de luz em que as imagens poéticas se configuram em cintilações, descobrindo, presentificação e recriando a realidade (ex: «O Sentimento dum Ocidental»). Tanto pode ser a luz do dia como a luz artificial, como a luz metafórica que emana da visão da mulher. A incidência da luz é uma forma de valorizar os objectos, entendendo-se a luz como princípio de vida. Automatismo psíquico: associações desconexas de ideias, visível nas frases curtas, na sequência de orações coordenadas assindéticas, que sugerem uma acumulação, uma concatenação aleatória de ideias (ex: «Contrariedades», «O Sentimento dum Ocidental). Adjectivação particularmente abundante e expressiva, com dupla e tripla adjectivação, ao serviço de um impressionismo pictórico. Os substantivos presentificadores da realidade convocada, frequentemente em enumeração, que sugere uma acumulação, um compósito de elementos, característicos da construção pictórica.
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Características temáticas: •
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Oposição cidade/campo, sendo a cidade um espaço de morte e o campo um espaço de vida – valorização do natural em detrimento do artificial. O campo é visto como um espaço de liberdade, do não isolamento; e a cidade como um espaço castrador, opressor, símbolo da morte, da humilhação, da doença. A esta oposição associam-se as oposições belo/feio, claro/escuro, força/fragilidade. Oposição passado/presente, em que o passado é visto como um tempo de harmonia com a natureza, ao contrário de um presente contaminado pelos malefícios da cidade (ex: «Nós»).
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A questão da inviabilidade do Amor na cidade.
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A humilhação (sentimental, estética, social).
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A preocupação com as injustiças sociais.
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O sentimento anti-burguês.
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O perpétuo fluir do tempo, que só trará esperança para as gerações futuras.
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Presença obsessiva da figura feminina, vista:
→ negativamente, porque contaminada pela civilização urbana - mulher opressora – mulher nórdica, fria, símbolo da eclosão do desenvolvimento da cidade como fenómeno urbano, sinédoque da classe social opressora e, por isso, geradora de um erotismo da humilhação (ex: «Frígida», «Deslumbramentos» e «Esplêndida»), em que se reconhece a influência de Baudelaire; → positivamente, porque relacionada com o campo, com os seus valores salutares
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 - - mulher anjo – visão angelical, reflexo de uma entidade divina, símbolo de pureza campestre, com traços de uma beleza angelical, frequentemente com os cabelos loiros, dotada de uma certa fragilidade («Em Petiz», «Nós», «De Tarde» e «Setentrional») – também tem um efeito regenerador; - mulher regeneradora – mulher frágil, pura, natural, simples, representa os valores do campo na cidade, que regenera o sujeito poético e lhe estimula a imaginação (ex: as figuras femininas de a «A Débil» e «Num Bairro Moderno»); - mulher oprimida – tísica, resignada, vítima da opressão social urbana, humilhada, com a qual o sujeito poético se sente identificado ou por quem nutre compaixão (ex: «Contrariedades»); - mulher como sinédoque social – (ex: as «burguesinhas» e as varinas de «O Sentimento dum Ocidental» como objecto do estímulo erótico - mulher objecto – vista enquanto estímulo dos sentidos carnais, sensuais, como impulso erótico (ex: actriz de «Cristalizações»). topo
Múltiplos olhares sobre a obra de Cesário Verde Eduardo Lourenço «O universo de Cesário não é um universo pensado, crítico, à maneira de Eça (...), é um mundo sentido, palpado e ao mesmo tempo transcendido pelo sonho, que é desejo de um lugar outro, de uma humanidade outra que inconscientemente o conforta na sua admiração pela força, pela saúde e energia que a memória e o sangue lhe denegam.» Jacinto do Prado Coelho «Poeta do imediato, Cesário é também um poeta da memória...» (colectiva em «O Sentimento dum Ocidental», pessoal em «Nós») Óscar Lopes «É, porém, em «O Sentimento dum Ocidental» (...) que o poeta ultrapassa com maior fôlego estrutural o seu naturalismo positivista, no mesmo momento em que parecia, aliás, consumá-lo em poesia. (...) Cesário não se desprende da imanência aos dados da percepção sensível, mas articula-o com um modo inteiramente novo, precursor do Cubismo ou Interseccionismo.» «Para Cesário, como depois para Pessoa, o eu, o tu, o nós, o tempo irreversível e as dimensões reversíveis do espaço, as coisas mais simples constituem problemas e despertam ânsias que a poesia apreende antes mesmo de se formularem em teoria.» Luís Mourão «... a sua poesia aparece, por isso, como um filtro por onde passa a cultura da «Geração de 70» para o Modernismo. E que Cesário seja um personagem singular e sem escola, só mostra essa verdade «natural» de que entre o nascer e o morrer o mais difícil talvez seja o espaço que vai de um ponto ao outro...» topo
CESÁRIO VERDE TEMÁTICAS
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A cidade e o campo A natureza, ávida mas “honesta”, “salutar” e sempre jovem, aparece-nos pintada nos seus poemas como nas evocações da pintura geral (“pinto quadros por letras, por sinais”) – característica impressionista, porque é nas letras como um artista plástico. •
Identifica-se com a cidade presente, deambulando pelas ruas e becos; revive por evocação da memória todo o passado e os seus dramas; acha sempre assuntos e sofre uma opressão que lhe provoca um desejo “absurdo de sofrer”: ao anoitecer, ruas soturnas e melancólicas, com sombras, bulício...; o enjoo, a perturbação, a monotonia (“Nas nossas ruas, ao anoitecer,/ Há tal soturnidade, há tal melancolia,/ Que as sombras, o bulício do Tejo, a maresia/ Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.” – Sentimento de um ocidental ) •
Do campo capta a vitalidade e a força telúrica; não canta o convencionalismo idílico, mas a natureza, os pomares, as canseiras da família durante as colheitas. •
A cidade surge viva com homens vivos; mas nela há a doença, a dor, a miséria, o grotesco, a beleza e a sua decomposição fatal... No campo há a saúde, o refúgio durante a peste na cidade... •
“Ao nível pessoal, a cidade significa a ausência, a impossibilidade ou a perversão do amor, e o campo a sua expressão idílica. Ao nível social, a cidade significa opressão, e o campo a recusa da mesma e a possibilidade do exercício da liberdade.” •
No campo, a vida é activa, saudável, natural e livre, por oposição à vida limitada, reprimida e doentia na cidade. (“Que de fruta! E que fresca e temporã./ Nas duas boas quintas bem muradas, /Em que o Sol, nos talhões e nas latadas,/ Bate de chapa, logo de manhã” – Nós) •
As descrições de quadros e tipos citadinos retratando Lisboa em diversas facetas e segundo ângulos de visão de personagens várias ( Num Bairro Moderno; Cristalizações; O Sentimento dum Ocidental ). •
A invasão simbólica da cidade pela vitalidade e pelo colorido saudável dos produtos do campo (como por exemplo, a “giga” da “rota, pequenina, azafamada” rapariga em Num Bairro Moderno). •
Binómio cidade/campo O contraste cidade/campo é um dos temas fundamentais da poesia de Cesário e revela-nos o seu amor ao rústico e natural, que celebra por oposição a um certo repúdio da perversidade e dos valores urbanos a que, no entanto, adere. A cidade personifica a ausência de amor e, consequentemente, de vida. Ela surge como uma prisão que desperta no sujeito “um desejo absurdo de sofrer”. É um foco de infecções, de doença, de MORTE. É um símbolo de opressão, de injustiça, de industrialização, e surge, por vezes, como ponto de partida para evocações, divagações è
O campo, por oposição, aparece associado à vitalidade, à alegria do trabalho produtivo e útil, nunca como fonte de devaneio sentimental. Aparece ligado à fertilidade, à saúde, à liberdade, à VIDA. A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, daí surgir o mito de Anteu, uma vez que a terra é força vital para Cesário. O poeta encontra a energia perdida quando volta para o campo, anima-o, revitaliza-o, dá-lhe saúde, tal como Anteu era invencível quando estava em contacto com a mãe-terra. è
O campo é, para Cesário, uma realidade concreta, observada tão rigorosamente e descrita tão minuciosamente como a própria cidade o havia sido: um campo em que o trabalho e os trabalhadores são parte integrante, um campo útil onde o poeta se identifica com o povo (Petiz). É no poema Nós que Cesário revela melhor o seu amor ao campo, elogiando-o por oposição à cidade e considerando-o “um salutar refúgio”. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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A oposição cidade/campo conduz simbolicamente à oposição morte/vida. É a morte que cria em Cesário uma repulsa à cidade por onde gostava de deambular mas que acaba por aprisioná-lo. topo
A humilhação - a humilhação sentimental: •
a mulher formosa, fria, distante e altiva ( Esplêndida; Deslumbramentos; Frígida);
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a mulher fatal da época/a humilhação do sujeito poético tentando a aproximação ( Esplêndida);
a mulher burguesa, rica, distante e altiva/a humilhação do sujeito poético que não ousa aproximar-se devido à sua baixa condição social ( Humilhações); •
a mulher fatal, bela e artificial, poderosa e desumana/a consequente humilhação do poeta (“Milady, é perigoso contemplá-la (...)/ Com seus gestos de neve e de metal.”, Deslumbramentos); •
a mulher fatal, pálida e bela, fria, distante e impassível que o poeta deseja e receia/a humilhação e a necessidade de controlar os impulsos amorosos ( Frígida). •
- a humilhação estética: a revolta pela incompreensão que os outros manifestam em relação à sua poesia e pela recusa de publicação por alguns jornais (“Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores/ Deliram por Zaccone”; “Agora sinto-me eu cheio de raivas frias/ Por causa dum jornal me rejeitar, há dias/ Um folhetim de versos.”, Contrariedades). •
- a humilhação social: •
o povo comum oprimido pelos poderosos ( Humilhações);
o abandono a que são votados os doentes (“Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes (...)/ O doutor deixou-a...”, Contrariedades); •
o povo dominado por uma oligarquia poderosa (a “Milady” de Deslumbramentos é uma representante dessa oligarquia). •
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A BUSCA DA PERFEIÇÃO FORMAL - Cesário busca a expressão clara, objectiva e concreta;
- As suas descrições têm pouco de poético – prosaísmo lírico –, pois procura explorar a notação objectiva e sóbria das graças e dos horrores da vida da cidade ou a profunda vitalidade da paisagem campestre – características de um realista. - A preocupação com: •
a beleza e a perfeição da sua poesia (a musicalidade, a harmonia, a escolha dos sons...);
o vocabulário – a expressividade verbal, a adjectivação abundante, rica e expressiva, a precisão vocabular (chega mesmo a usar termos técnicos), o colorido da linguagem...; •
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os recursos fónicos – as aliterações, que contribuem para a musicalidade e para a perfeição formal;
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os processos estilísticos – abundância de imagens, as metáforas, as sinestesias...; Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 a regularidade métrica, estrófica e rimática (na métrica, preferência pelo verso decassilábico e pelo alexandrino; na organização estrófica, a preferência evidente pela quadra que lhe permitia registar as observações e saltar com facilidade para outros assuntos). •
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A imagética Feminina A mulher fatal, altiva, aristocrática, “frígida” que atrai/fascina o sujeito poético, provocandolhe o desejo de humilhação. É o tipo citadino artificial, surge portanto associada à cidade servindo para retratar os valores decadentes e a violência social. Esta mulher surge na poesia de Cesário incorporando um valor erótico que simultaneamente desperta o desejo e arrasta para a morte conduzindo a um erotismo da humilhação ( Esplêndida, Vaidosa, Frígida). è
A mulher angélica, “tímida pombinha”, natural, pura, acompanhada pela mãe, embora pertencente à cidade, encarna qualidades inerentes ao campo. Desperta no poeta o desejo de protecção e tem um efeito regenerador (Frágil ). è
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Questão Social O poeta coloca-se ao lado dos desfavorecidos, dos injustiçados, dos marginalizados e admira a força física, a pujança do povo trabalhador. O poeta interessa-se pelo conflito social do campo e da cidade, procurando documentá-lo e analisá-lo, embora sem interferir. è
Anatomia do homem oprimido pela cidade
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Integração da realidade comezinha no mundo poético
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O Impressionismo adaptado ao Real “A mim o que me preocupa é o que me rodeia”
A poesia do quotidiano despoetiza o acto poético, daí que a sua poesia seja classificada como prosaica, concreta. O poeta pretende captar as impressões que os objectos lhe deixam através dos sentidos. Ao vaguear, ao deambular, o poeta percepciona a cidade e o “eu” é o resultado daquilo que vê. Cesário não hesita em descrever nos seus poemas ambientes que, segundo a concepção da poesia, não tinham nada de poético. Cesário não só surpreende os aspectos da realidade como sabe perfeitamente fazer uma reflexão sobre as personagens e certas condições. A representação do real quotidiano é, frequentemente, marcada pela captação perfeita dos efeitos da luz e por uma grande capacidade de fazer ressaltar a solidez das formas ( visão objectiva), embora sem menosprezar uma certa visão subjectiva – Cesário procura representar a impressão que o real deixa em si próprio e às vezes transfigura a realidade, transpondo-a numa outra. topo
Linguagem e Estilo: Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Cesário Verde é caracterizado pela utilização do Parnasianismo que é a busca da perfeição formal através de uma poesia descritiva e fazendo desta algo de escultórico, esculpindo o concreto com nitidez e perfeição. O parnasianismo é também a necessidade de objectivar ou despersonalizar a poesia e corresponde à reacção naturalista que aparece no romance. Os temas desta corrente literária são temas do quotidiano com um enorme rigor a nível de aspecto formal e há uma aproximação da poesia às artes plásticas, nomeadamente a nível da utilização das cores e dos dados sensoriais. Através deste parnasianismo ele propõe uma explicação para o que observa com objectividade e, quando recorre à subjectividade, apenas transpõe, pela imaginação transfiguradora, a realidade captada numa outra que só o olhar de artista pode notar. Cesário utiliza também uma linguagem prosaica, ou seja, aproxima-se da prosa e da linguagem do quotidiano. A obra de Cesário caracteriza-se também pela técnica impressionista ao acumular pormenores das sensações captadas e pelo recurso às sinestesias, que lhe permitem transmitir sugestões e impressões da realidade. A nível morfossintáctico recorre à expressividade verbal, à adjectivação abundante, rica e expressiva, por vezes em hipálage, ao colorido da linguagem e tem uma tendência para as frases curtas. •
Vocabulário concreto
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Linguagem coloquial
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Predomínio do uso do decassílabo e do Alexandrino
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Uso do assíndeto que resulta da técnica de justaposição de várias percepções
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Técnica descritiva assente em sinestesias, hipálages, na expressividade do advérbio, no uso do diminutivo e na utilização da ironia como forma de cortar o sentimentalismo (equilibrar).
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CESÁRIO VERDE ( Poeta: 1855 – 1886) QUANDO TUDO ACONTECEU... 1855: A 23 de Fevereiro, num prédio da Rua da Padaria (junto à Sé de Lisboa), nasce José Joaquim CESÁRIO VERDE, filho de Maria da Piedade dos Santos Verde e de José Anastácio Verde. – 1857: Peste em Lisboa; a família Verde refugia-se na sua quinta de Linda-a-Pastora. – 1865: Os Verde passam a morar na Rua do Salitre (Lisboa). Cesário conclui a instrução primária e começa a estudar inglês e francês. – 1872: Cesário começa a trabalhar na loja de ferragens do pai, na Rua dos Fanqueiros. Com 19 anos, tuberculosa, morre Maria Julia, irmã de Cesário. – 1873: Cesário matricula-se no Curso Superior de Letras, onde conhece e se torna grande amigo do escritor Silva Pinto. Publica os seus primeiros poemas no Diário de Notícias. – 1874: Publica mais poemas no Diário de Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Notícias (Lisboa) e nos jornais do Porto Diário da Tarde e A Tribuna. Ramalho Ortigão crava-lhe uma Farpa a propósito do poema Esplêndida. Boémia revolucionária no “Martinho”. – 1875: Cesário conhece e faz amizade com Macedo Papança (futuro conde de Monsaraz). Continua a publicar poemas no Mosaico (Coimbra), n’ A Tribuna e n’O Porto. Começa a dirigir a loja da Rua dos Fanqueiros e a quinta de Linda-a-Pastora. – 1876: Desenvolve negócios. Frequenta a casa de Papança, na Travessa da Assunção, onde se cruza com Guerra Junqueiro, Gomes Leal e João de Deus. Os Verde mudam-se para a Rua das Trinas. – 1877: Volta a colaborar no Diário de Notícias. Queixa-se dos primeiros sintomas de tuberculose. – 1878: Passa a viver em Linda-a-Pastora. Nos jornais publica Noitada, Manhãs Brumosas, Em Petiz. – 1879: Publica Cristalizações no primeiro número da Revista de Coimbra. É atacado pela republicana Angelina Vidal n’ A Tribuna do Povo e pelo monárquico Diário Ilustrado. – 1880: Publica O Sentimento dum Ocidental no número do Jornal de Viagens (Porto) dedicado ao tricentenário de Camões. Os Verde exportam maçãs para Inglaterra, Alemanha e Brasil. – 1881: Cesário participa no “Grupo do Leão” e convive com Abel Botelho, Alberto de Oliveira, Fialho de Almeida, Gualdino Gomes e com os pintores José Malhoa, Silva Porto, Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro. – 1882: Morre, tuberculoso, Joaquim Tomás, irmão de Cesário. – 1883: Cesário viaja para França, numa tentativa malograda de exportar vinhos portugueses. – 1884: Publica Nós. Deixa de frequentar os meios literários. Activa negócios, produz, compra e exporta frutas. Recolhe-se a Linda-a-Pastora. – 1885: Agravase o seu estado de saúde mas regressa a Lisboa e continua a trabalhar na loja da Rua dos Fanqueiros. – 1886: Extremamente doente, instala-se em Caneças. Vai depois para casa de um amigo, no Lumiar (às portas de Lisboa), onde vem a morrer a 19 de Julho. – 1887: Silva Pinto edita O Livro de Cesário Verde. O CANCRO E A LARANJA (OU TALVEZ LIMÃO)
Releio Malraux. Quando Perkens, uma das suas personagens, compara o tempo a um cancro, recordo os versos de Cesário Verde escritos em 1874: (...) Vai-nos minando o tempo - o cancro enorme Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Que te há-de corromper o corpo de vestal. (...)
Coincidência? Pouso o livro, pego noutro. Folheio Las Uvas y el Viento de Pablo Neruda, editado em 1954. No poema Lámpara Marina, diz o chileno: Cuando tú desembarcas en Lisboa (...) las casas, las puertas, los techos, las ventanas salpicadas del oro limonero. (...) E então lembro-me dos versos de Cesário escritos em 1879:
(...) E o sol estende, pelas frontarias, Seus raios de laranja destilada. (...) Coincidência, ao repetir-se, deixa de o ser. Mastigo a dedução e é quanto basta para saltar para a segunda metade do século XIX em busca do realista, do impressionista, do poeta conciso tão ignorado pelos seus contemporâneos. É o que normalmente acontece àqueles que se afastam do rebanho das convenções. Fernando Pessoa conhece bem tais desencontros. No Livro do Desassossego irá escrever:
“Vivo numa época anterior àquela em que vivo; gozo de sentir-me coevo de Cesário Verde, e tenho em mim, não outros versos como os dele, mas a substância igual à dos versos que foram dele.” PESTE José Anastácio Verde tem uma loja de ferragens na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa. É um comerciante bem sucedido e dono ainda de uma quinta em Linda-a-Pastora (a uns quinze quilómetros da capital). Em 1852 casa com Maria da Piedade dos Santos. O casal vai morar num andar de um prédio na Rua da Padaria, próximo da velha Sé de Lisboa. Em 1853 nasce-lhes Maria Julia, a primogénita. Em 1855 o segundo filho, José Joaquim CESÁRIO. E no ano seguinte, Adelaide Eugénia, menina que morrerá com 3 anos. Em 1858, Joaquim Tomás, o quarto filho. E em 1862, Jorge, o quinto e último filho. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Próximo da Rua da Padaria há um arco escuro onde se acumulam excrementos e cabeças de peixe. A Baixa de Lisboa é toda assim, não lhe faltam focos de infecção em becos e vielas. No Verão de 1857 irrompe a febre amarela, peste a ceifar a vida dos lisboetas. Os Verde abandonam a capital, refugiam-se em Linda-a-Pastora. Cesário evocará a fuga:
(...) Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre E o Cólera também andaram na cidade, Que esta população, com um terror de lebre, Fugiu da capital como da tempestade. Ora meu pai, depois das nossas vidas salvas, (Até então nós só tivéramos sarampo) Tantos nos viu crescer entre uns montões de malvas Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo! Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga: O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos; Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos Morreram todos. Nós salvámo-nos na fuga. (...) Sem canalizações, em muitos burgos ermos, Secavam dejecções cobertas de mosqueiros. E os médicos, ao pé dos padres e coveiros, Os últimos fiéis, tremiam dos enfermos! Uma iluminação a azeite de purgueira, e noite, amarelava os prédios macilentos. Barricas de alcatrão ardiam; de maneira Que tinham tons d’inferno outros arruamentos. (...) E o campo, desde então, segundo o que me lembro, É todo o meu amor de todos estes anos! Nós vamos para lá; somos provincianos, Desde o calor de Maio aos frios de Novembro!
MARIA JÚLIA
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Aos 10 anos Cesário conclui a instrução primária e começa a estudar francês e inglês, prepara-se para ser o correspondente comercial da firma do pai. Entretanto os Verde tinham-se mudado para um prédio da Rua do Salitre. Os ares, por ali, são mais saudáveis do que os da Rua da Padaria ou da Rua dos Fanqueiros (onde a família também chegara a morar). O que não evita que Maria Julia, aos 19 anos (1872), morra tuberculosa. Cesário irá recordá-la, sempre: (...) Unicamente, a minha doce irmã, Como uma ténue e imaculada rosa, Dava a nota galante e melindrosa Na trabalheira rústica, aldeã. E foi num ano pródigo, excelente, Cuja amargura nada sei que adoce, Que nós perdemos essa flor precoce, Que cresceu e morreu rapidamente! Ai daqueles que nascem neste caos, E, sendo fracos, sejam generosos! As doenças assaltam os bondosos E - custa a crer - deixam viver os maus! (...) E que fazer se a geração decai! Se a seiva genealógica se gasta! Tudo empobrece! Extingue-se uma casta! Morre o filho primeiro do que o pai! Mas seja como for, tudo se sente Da tua ausência! Ah! Como o ar nos falta, Ó flor cortada, susceptível, alta, Que assim secaste prematuramente! Eu que de vezes tenho o desprazer De reflectir no túmulo! E medito No eterno Incognoscível infinito, Que as ideias não podem abranger! (...)
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UM POEMA E UMA FARPA O desprazer de reflectir no túmulo... Estar ocioso é estar doente, trabalhar é ter saúde! Aos 17 anos Cesário arregaça as mangas na loja da Rua dos Fanqueiros: escreve cartas para o estrangeiro, lança débitos e créditos, calcula a conversão das moedas, recebe caixeiros viajantes, compra e vende, pesa pregos e parafusos, monta e oleia fechaduras, experimenta ferramentas, atende valadores, calafates e marceneiros, ao balcão ouve, entende e vive as aflições do povo miúdo que labuta para ganhar a vida, muitas vezes a sobrevida. Consome intensamente o dia. Nos fins de tarde, e à noite, gosta de ler, escreve poemas. Mas detesta abstracções, acha que o pensamento é o patamar superior dos sentidos, tangem-no excitados,
sacudidos, o tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto. Acha que um poema deve ser um cristal, superfícies várias, cada verso a reflectir uma das faces do real. Para escândalo do pai (literatos são ociosos...), em 1873 Cesário matricula-se no Curso Superior de Letras (como se elas lá estivessem...). Temor infundado, o de José Anastácio: Cesário é alérgico à retórica, à literatice impingida e, poucos meses depois da matrícula, arma umas discussões e abandona o Curso. Cesário tem o furor da discussão, diz sempre o que pensa e bate-se por aquilo que acha certo, incansavelmente, não concilia. Mas quando reconhece que está errado, não hesita em dar o braço a torcer, frontalidade. Esta sua postura irá atrair antipatias em vários meios, principalmente nos literários. Da sua passagem pelo ateneu sobra-lhe apenas a amizade de Silva Pinto, candidato a escritor, cujo pai, um industrial, o expulsara de casa porque ousara liderar uma greve dos seus operários... Silva Pinto tem um ódio febril aos burgueses, é um republicano, é um socialista inflamado pela Comuna de Paris. Tudo nele é paixão, vê tudo a preto e branco, alto contraste, ou explorador ou explorado, ou isto ou aquilo, ou sim ou não. Começa por ter um desprezo radical por Cesário, Cesário arregaça as mangas na loja da Rua dos Fanqueiros: escreve cartas para o estrangeiro, lança débitos e créditos, calcula a conversão das moedas, recebe caixeiros viajantes, compra e vende, pesa pregos e parafusos, monta e oleia fechaduras, experimenta ferramentas, atende valadores, calafates e marceneiros, ao balcão ouve, entende e vive as aflições do povo miúdo que labuta para ganhar a vida, muitas vezes a sobrevida. Consome intensamente o dia. Nos fins de tarde, e à noite, gosta de ler, escreve poemas. Mas detesta abstracções, acha que o pensamento é o patamar superior dos sentidos, tangem-no excitados,
sacudidos, o tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto. Acha que um poema deve ser um cristal, superfícies várias, cada verso a reflectir uma das faces do real. Para escândalo do pai (literatos são ociosos...), em 1873 Cesário matricula-se no Curso Superior de Letras (como se elas lá estivessem...). Temor infundado, o de José Anastácio: Cesário é alérgico à
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 retórica, à literatice impingida e, poucos meses depois da matrícula, arma umas discussões e abandona o Curso. Cesário tem o furor da discussão, diz sempre o que pensa e bate-se por aquilo que acha certo, incansavelmente, não concilia. Mas quando reconhece que está errado, não hesita em dar o braço a torcer, frontalidade. Esta sua postura irá atrair antipatias em vários meios, principalmente nos literários. Da sua passagem pelo ateneu sobra-lhe apenas a amizade de Silva Pinto, candidato a escritor, cujo pai, um industrial, o expulsara de casa porque ousara liderar uma greve dos seus operários... Silva Pinto tem um ódio febril aos burgueses, é um republicano, é um socialista inflamado pela Comuna de Paris. Tudo nele é paixão, vê tudo a preto e branco, alto contraste, ou explorador ou explorado, ou isto ou aquilo, ou sim ou não. Começa por ter um desprezo radical por Cesário, esse aprendiz de comerciante, esse burguesinho metido a escritor... Mas ao ler os seus poemas converte-se no seu mais fervoroso admirador, no amigo para toda a vida. Cesário ampara-lhe os desequilíbrios, sensibiliza-o aquele amor alucinado aos oprimidos. - Como tu tens tempo, meu amigo, para sofrer tanto! E Silva Pinto responde-lhe: - Como tu tens tempo, meu amigo, para me acompanhar no sofrimento! Eduardo Coelho é o director do Diário de Notícias. Em tempos idos fora caixeiro na loja de José Anastácio Verde e continua a respeitar o antigo patrão. É quanto basta para Cesário conseguir publicar no jornal os seus primeiros poemas. Um deles, Esplêndida, escrito ao jeito de João Penha ( Vinho e Fel ), paródia anti-romântica, merece a Farpa n.º 22 de Ramalho Ortigão: “(...) Averigua-se que o realismo baudelaireano está fazendo mais numerosas e mais lamentáveis vítimas do que o velho romantismo de Byron, de Lamartine e de Musset. (...) Tal é a deplorável influência (...) na poesia moderna representada na obra de um dos seus cultores, o snr. Cesário Verde, ao qual sinceramente desejamos que estas modestas observações contribuam para que continue a ilustrar o seu nome, tornando-se cada vez menos Verde e mais Cesário.”
Uma farpa desperta instantaneamente a braveza de um touro. Esta Farpa irá certamente despertar o realismo instantâneo de Cesário. BOÉMIA Silva Pinto arrasta o poeta para a boémia revolucionária no “Martinho” das mesas
espelhentas. Alto, magro, louro, activo, sensual, Cesário tem boa figura, seduzem-no e seduz mulheres, mas as que mais o fascinam são actrizes, a Luísa Cândida - do “Condes” - , a Palmira de Souza - do
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 “Variedades” - , e ainda a Tomásia Veloso, com quem, ao que parece, terá um romance. Fialho de Almeida irá descrevê-lo. Assim: “O tipo era seco, com uma ossatura poderosa, a pele de fêmea loura, rosada, de bom sangue, a cabeça pequena e grega, com uma testa magnífica, e feições redondas, onde os olhos amarelo-pardos de estátua, ligeiramente míopes, tinha a expressão profunda, rectilínea, longínqua, que a gente nota nos marítimos acostumados a interrogar o oceano por dilatadas extensões.” E aí vem uma actriz, talvez a Tomásia, a saltitar por entre as obras de uma rua:
(...) E aos outros eu admiro os dorsos, os costados Como lajões. Os bons trabalhadores! Os filhos das lezírias, dos montados; Os das planícies, altos, aprumados; Os das montanhas, baixos, trepadores! Mas fina de feições, o queixo hostil, distinto, Furtiva a tiritar em suas peles, Espanta-me a actrizita que hoje pinto, Neste Dezembro enérgico, sucinto, E nestes sítios suburbanos, reles!
Como animais comuns, que uma picada esquente, Eles, bovinos, másculos, ossudos, Encaram-na, sanguínea, brutamente: E ela vacila, hesita, impaciente Sobre as botinhas de tacões agudos. Porém, desempenhando o seu papel na peça, Sem que inda o público a passagem abra, O demonico arrisca-se, atravessa Covas, entulhos, lamaçais, depressa Com os seus pezinhos rápidos, de cabra!
BAUDELAIRE...? O realismo baudelaireano... Sim, alguma coisa Cesário tomou de Baudelaire. Mas enquanto o francês fez da realidade um trampolim para alcançar os paraísos artificiais, o português vai
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 bolinando por entre todas as coordenadas do real. A sua vida de comerciante e agricultor será a sua poesia. Até quando recorda Maria Julia, observa:
(...) À procura da libra e do shiling Eu andava abstracto e sem que visse Que o teu alvor romântico de miss Te obrigava a morrer antes de mim. (...) Até quando passeia no campo, com uma prima, não se esquece de apontar:
(...) Numa colina azul brilha um lugar caiado. Belo! E arrimado ao cabo da sombrinha, Com teu chapéu de palha, desabado, Tu continuas na azinhaga; ao lado Verdeja, vicejante, a nossa vinha. (...) Ao escrever a Silva Pinto, então a morar no Porto, Cesário define, define-se: "A mim o que me rodeia é o que me preocupa.” Baudelaire ficou longe...
CONTROVERSAS E UM DUELO MALOGRADO Cesário continua a publicar poemas no Diário de Notícias, no Diário da Tarde e n’ A Tribuna (ambos do Porto) no Mosaico e n’ A Evolução (estes de Coimbra). O seu implícito republicanismo provoca um violento ataque do monárquico Diário Ilustrado. Cesário responde em verso:
(...) Na praça, de manhã, havia, ó rei brutal! Montões de sordidez horrível e avinhada... - Nascera o Ilustrado - um vómito real! Contudo, a inexistência de retórica nos seus versos, leva um tal Juvenal Pigmeu a publicar n’ A
Tribuna do Povo um artigo insultuoso. Cesário desafia-o para um duelo e o ridículo vem à tona: Juvenal Pigmeu é pseudónimo de Angelina Vidal, pedagoga e activista republicana...
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Atacado por monárquicos e republicanos, singularidade, Cesário plantado para além do tempo que lhe cabe viver agora... Escreve ao seu amigo Bettencourt Rodrigues, estudante de Medicina em Paris: está farto, tem vontade de sair de Portugal, foco de mandriice e de asneiras...
O SENTIMENTO DE UM OCIDENTAL O Hotel Pelicano fica na Rua dos Fanqueiros, perto da loja dos Verde. A vizinhança e o gosto pelas letras promovem a amizade entre o hóspede António de Macedo Papança (futuro conde de Monsaraz) e Cesário. Entretanto este vai tomando a direcção da loja e da quinta, desenvolve negócios, exporta maçãs para a Inglaterra, a Alemanha e o Brasil, escreve versos. Mais tarde, na sua casa da Travessa da Assunção, Papança promoverá saraus literários onde Cesário se cruza com Guerra Junqueiro, Gomes Leal e João de Deus. Nenhum prestará atenção aos seus poemas, onde já se viu um comerciante a poetar? Ainda por cima opinativo, conflituoso... 1880, comemorações do tricentenário da morte de Camões! O Jornal de Viagens, do Porto, lança um número especial: Portugal a Camões. Nele, entre inéditos de autores vários, vem publicado O
Sentimento dum Ocidental , poema de Cesário em quatro cantos: I - Ave-Marias, II - Noite fechada, III - Ao gás, IV - Horas mortas.
(...) O céu parece baixo e de neblina, O gás extravasado enjoa-me, perturba; E os edifícios, com as chaminés, e a turba, Toldam-se de uma cor monótona, londrina. (...) Semelham-se a gaiolas, com viveiros, As edificações somente emadeiradas: Como morcegos, ao cair das badaladas, Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros. (...) Toca-se as grades, nas cadeias. Som Que mortifica e deixa umas loucuras mansas! O aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças, Bem raramente encerra uma mulher de “dom”. (...) A espaços, iluminam-se os andares, Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos, Alastram em lençol os seus reflexos brancos; E a lua lembra o circo e os jogos malabares. (...) Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco; Da solidão regouga um cauteleiro rouco; Tornam-se mausoléus as armações fulgentes. “Dó da miséria!... Compaixão de mim!...” E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso, Pede-me sempre esmola um homenzinho idoso, Meu velho professor nas aulas de latim! (...) E os guardas, que revistam as escadas, Caminham de lanterna e servem de chaveiros; Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros, Tossem, fumando, sobre as pedras da calçada. E, enorme, nesta massa irregular De prédios sepulcrais, com dimensões de montes, A Dor humana busca os amplos horizontes, E tem marés, de fel, como um sinistro mar!
Andam todos distraídos, ninguém repara neste caudal. Só decénios depois, muitos, Fernando Pessoa (um simples empregado de escritório, um bêbedo, um doido que julga ser poeta) é que irá induzir o seu heterónimo Álvaro de Campos a bradar: - Ó Cesário Verde, ó Mestre!
O GRUPO DO LEÃO Em 1881 começam as reuniões do Grupo do Leão (referência ao restaurante “Leão de Ouro”). Literatos muitos: Abel Botelho, Alberto de Oliveira, Mariano Pina, Fialho de Almeida, D. João da Câmara, Gualdino Gomes e Cesário, entre outros. Também pintores, tais como José Malhoa, Silva Porto e os irmãos Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro. Fialho mostra-se insatisfeito com o naturalismo na pintura, afirma que a arte não deve ser uma cópia da natureza, antes a “expressão roaz do pensamento”. Cesário apoia Fialho, veemência. Mas os pintores discordam, estão ancorados no imutável céu azul, nas vaquinhas malhadas por entre os prados verdes, nas messes loiras, nos rebanhos ao entardecer, nos muros cobertos de musgo, nas pontes sobre os riachos, nos moinhos lá no alto das colinas... Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Mais tarde, ao pintar o Grupo do Leão, Columbano irá esquecer-se de colocar Fialho e Cesário entre os convivas. Esquecimento? Talvez não seja...
E se alguém já sabe (e talvez Alberto de Oliveira saiba) das exposições impressionistas de Paris (a primeira ocorreu em 1874), cala-se! Do Grupo do Leão é um não-pintor, é Cesário quem antecipa o impressionismo em Portugal. O seu poema De Tarde é como tela de Renoir: Naquele “pic-nic” de burguesas, Houve uma coisa simplesmente bela, E que, sem ter história nem grandezas, Em todo o caso dava uma aguarela. Foi quando tu, descendo do burrico, Foste colher, sem imposturas tolas, A um granzoal azul de grão de bico Um ramalhete rubro de papoulas. Pouco depois, em cima duns penhascos, Nós acampámos, indo o sol se via; E houve talhadas de melão, damascos E pão de ló molhado em malvasia. Mas, todo púrpuro, a sair da renda Dos teus dois seios como duas rolas, Era o supremo encanto da merenda O ramalhete rubro das papoulas!
SE EU NÃO MORRESSE, NUNCA Mas afinal o anticlericalismo sempre está na poesia de Cesário:
(...) Duas igrejas, num saudoso largo, Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero; (...) Também ali está a sátira ao militarismo de opereta:
(...) De súbito, na volta de uma esquina, Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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Sob um bico de gás que abria em leque, Vimos um militar de barretina E galões marciais de pechisbeque. (...) Ali está a simpatia pelas classes oprimidas:
(...) Povo! No pano ora rasgado das camisas Uma bandeira penso que transluz! Com ela sofres, bebes, agonizas. Listrões de vinho lançam-lhe divisas E os suspensórios traçam-lhe uma cruz! (...) Ali está o seu enlevo pelos frutos a vindimar:
(...) Ó pobre estrume, como tu compões Esses pâmpanos doces como afagos! “Dedos de dama”: transparentes bagos! “Tetas de cabra”: lácteas carnações! (...) Mas também está o que a indolência das meninges não deixa perceber, a alucinada justaposição de dois instantes do real, abrangência:
(...) E nesse mês, que não consente as flores, Fundeiam, como a esquadra em fria paz, As árvores despidas. Sóbrias cores! Mastros, enxárcias, vergas! Valadores Atiram terra com as largas pás. (...) Ali estão os aparelhos para descobrir e assinalar a realidade: Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 (...) Eu tudo encontro alegremente exacto, Lavo, refresco, limpo os meus sentidos E tangem-me, excitados, sacudidos, O tacto, a vista, o ouvido, o gosto, o olfacto. (...) Ali está um advérbio a subverter o corriqueiro:
(...) E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes, Amareladamente, os cães parecem lobos. (...) Também um adjectivo a perturbar:
E os olhos de um caleche espantam-me sangrentos. Ali estão os pequenos prazeres quotidianos:
Cheiro salutar e honesto ao pão no forno. Ali estão enjauladas as crianças da capital:
Os querubins do lar flutuam nas varandas. Ali está um pormenor a ressoar durante a noite, cidade deserta:
Um parafuso cai nas lajes, às escuras. Ali está a súbita associação de vegetais com as formas femininas:
(...) Há colos, ombros, bocas, um semblante Nas posições de certos frutos. E entre As hortaliças, túmido, fragrante, Como d’alguém que tudo aquilo jante, Surge um melão, que me lembrou um ventre. (...) Ali estão as trabalhadoras, as genuínas, não as que a Angelina pespegava em panfletos:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 (...) Vazam-se os arsenais e as oficinas; Reluz, viscoso, o rio; apressam-se as obreiras; E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras, Correndo com firmeza, assomam as varinas. Vêm sacudindo as ancas opulentas! Seus troncos varonis recordam-me pilastras; E algumas, à cabeça, embalam nas canastras Os filhos que depois naufragam nas tormentas. (...)
Ali está a sua mágoa, arredar o real o poeta não consegue: (...) Nas nossas ruas, ao anoitecer, Há tal soturnidade, há tal melancolia, Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia Despertam-me um desejo absurdo de sofrer. (...) Contudo, está ali também a sua esperança, embora vã:
(...) Se eu não morresse, nunca! E eternamente Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas... (...) RIQUEZAS QUÍMICAS NO SANGUE... Em 1876 os Verde fogem do centro da capital, mudam-se para a Rua das Trinas. No mesmo ano o Dr. Sousa Martins avisa Silva Pinto: - O poeta Cesário Verde está irremediavelmente perdido. Em 1877 Cesário queixa-se: - Agora trago sempre no pescoço umas escrófulas que se alastram, que se multiplicam depressa. Não sei se é resultado sifilítico, se o que é.
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Em 1882 morre, tuberculoso, Joaquim Tomás, irmão de Cesário. Como dez anos antes morrera Maria Julia...
(...) Uma tuberculose abria-lhe cavernas! Dá-me rebates ainda o seu tossir profundo! E eu sempre lembrarei, triste, as palavras ternas Com que se despediu de todos e do mundo! (...) Pobre da minha geração exangue De ricos! Antes, como os abrutados, Andar com os sapatos ensebados E ter riquezas químicas no sangue. (...)
DEIXA-ME DORMIR Em 1883 Cesário vai a Paris numa tentativa malograda de exportar vinhos portugueses. Regressa. Sente-se debilitado mas continua a trabalhar na loja e na quinta, ficar ocioso é dar o flanco à doença. Em 1884, em Linda-a-Pastora, ainda tenta exorcizar a morte, esse medonho muro:
(...) Oh! que brava alegria eu tenho quando Sou tal-qual como os demais! E, sem talento, Faço um trabalho técnico, violento, Cantando, praguejando, batalhando. (...) Em 1886, para fugir à humidade marítima de Linda-a-Pastora e aos consequentes acessos de tosse e hemoptises, vai para Caneças, a dois passos de Lisboa, porém serra, clima seco. Silva Pinto e António Papança visitam-no. Cesário tem apenas 31 anos mas já perdeu as ilusões: - Curo-me? Sim, talvez. Mas como ficou eu? Um cangalho, um canastrão, um grande cesto roto, entra-me a chuva, entrame o vento no corpo escangalhado... Resolve subitamente abandonar Caneças, fugir, fugir... Recolhe-se à casa de um amigo, junto ao Paço do Lumiar, às portas de Lisboa. No patamar da escada José Anastácio Verde e Silva Pinto encontram-se, abraçam-se, choram. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 A 19 de Julho, Jorge, o último dos irmãos, pergunta a Cesário: - Queres alguma coisa?
- Não quero nada. Deixa-me dormir. São as últimas palavras do poeta. No ano seguinte Silva Pinto colige os versos e edita O LIVRO DE CESÁRIO VERDE , 37 poemas, cento e muitas páginas, 200 exemplares.
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Cesário Verde Resumo Poesia: - parnasianismo: “arte pela arte” -> Tendência artística que procura a confecção perfeita através da poesia descritiva. Preocupação com a perfeição, o rigor formal, a regularidade métrica, estrófica e rimática. Retorno ao racionalismo e às formas poéticas clássicas. Busca da impessoalidade e da impassibilidade. - impressionismo: acumula pormenores das sensações captadas e recorre às sinestesias. As palavras antecipam a simbolismo. - poeta-pintor: capta as impressões da realidade que o cerca com grande objectividade; transmite as percepções sensoriais. - Pintura literária e rítmica de temas comuns e realidades comezinhas, escolhendo as palavras que melhor os reflectem. - Não canta motivos idealistas, mas coisas que observa a cada instante; descreve ambientes que nada têm de poético. - Não dá a conhecer-se, nem dá a conhecer o que sente -> oposto ao romantismo - recorre raramente à subjectividade -> imaginação transfiguradora - poesia do quotidiano: nasce da impressão que o “fora” deixa no “dentro” do poeta. - Interesse pelo conflito social do campo e da cidade. - Nível morfossintáctico: expressividade verbal, adjectivação abundade, rica e expressiva (hipálage), precisão vocabular, colorido da linguagem, frases curtas e acumulativas, quadras em versos dicassilábicos ou alexandrinos. - O mito de Anteu permite caracterizar o novo vigor que se manifesta quando há um reencontro com a origem, com a mãe-terra. É assim que se pode falar deste mito em Cesário Verde na medida em que o contacto com o campo parece reanimá-lo, dando-lhe forças, energias, saúde. Binómios e Dicotomias em Cesário Verde: Cidade Campo Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 Mulher fatal
Mulher angélica
Morte
Vida
- Cidade: - deambulação do poeta; melancolia; monotonia; “desejo absurdo de viver”; vícios; fantasias mórbidas; miséria; sofrimento; poluição; cheiro nauseabundo, seres humanos dúbios e exploradores; ricos pretenciosos que desprezam os humildes; incomoda o poeta e os trabalhadores que nela procuram melhores condições de vida. Mulher citadina: fatal, frígida, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos, erótica, artificial, predadora, vampírica, formosa, fria, altiva. Subjectividade do tempo e a morte: cidade = certeza para a morte - Campo: - vida rústica de canseiras, vitalidade, saúde, liberdade, rejuvenescimento, vida, fertilidade, identificação do poeta com o povo campesino, local de trabalho onde acontece alegrias e tristezas (oposto ao local paradisiaco defendido por poetas anteriores). Mulher campesina: proporciona um amor puro e desconfinado, frágil, terna, ingénua, despretensiosa. Subjectividade do tempo e a morte: Salvação para a vida. Poemas: - “Bairro Moderno”:
- Poema representativo da cidade - Transfiguração de elementos do campo para a cidade - Poesia do quotidiano
- “Contrariedades”:
- Poesia do quotidiano. - impressão que o “fora” deixa na alma do poeta (cruel, frenético, exigente, impaciente) - Alteração do estado de espírito -> causa: depravação nos usos e nos costumes; injustiça da vida pela doença que destrói a vizinha (abandono e exploração); recusa dos jornais em publicarem os seus versos; fim do poema: intervencionismo, denuncia e acusação do mundo injusto e pouco solidário.
- “O sentimento dum Ocidental”:
- Poema representativo da cidade em várias fases do dia - Poesia do quotidiano - Capturação de factos sem referir causa/efeito - opção pelas formas impessoais, construções nominais e sinestesias (materializar o abstracto/imaterial e o seu estado de espírito)
- “Cristalizações”:
- Poema representativo da cidade - Poesia do quotidiano
- “Nós”: - Poema representativo do campo - Crítica à cidade - Campo: refúgio dos males da vida e recordação da família. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012 - oposição entre sociedades indústriais e sociedades rurais - oposição entre proprietários e trabalhadores - “De Tarde”
- Poema representativo do campo
- “Em Petiz”
- Poema representativo do campo
“De Tarde”
- tom irónico em relação aos citadinos - recordação do passado: companheira e campo
- “Deslumbramentos” - “Vaidosa”
- Poema representativo da mulher citadina
- Poema representativo da mulher citadina - A mulher arrasta para a morte
- “Esplêndida”
- Poema representativo da mulher citadina - A mulher arrasta para a morte
- “Frígida”
- Poema representativo da mulher citadina - mulher -> símbolo directo da própria morte
- “A Débil”
- Mulher campesina retratada na cidade
Revisões Cesário Verde Analise dos poemas de Cesário “ Contrariedades” - A critica sócio cultural. “ Deslumbramentos”, “A débil”, “Manhãs Brumosas” – A diversidade dos perfis femininos. “ De tarde” – A aguarela impressionista. “ Nós” – O campo e a cidade. “Cristalizações” – Apologia do povo trabalhador, num ambiente citadino. “ Sentimento de um ocidental” – A visão nocturna da cidade – Realismo/ Simbolismo
topo Enquadramento histórico da poesia de Cesário Verde
Transformações da sociedade portuguesa a partir de meados do séc. XIX 1- 1- Introdução
No período em que viveu Cesário Verde (1855 a 1866 ), o Portugal velho está em profunda transformação. Vimos o longo período da crise provocada pelas invasões napoleónicas, pelas lutas liberais, pela perda da colónia brasileira, pela ascensão da burguesia ao poder, pela instabilidade política e governativa, crise essa que se caracterizou a primeira metade do século XIX em Portugal e em que se enquadrou o nosso Primeiro Romantismo. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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MEP - Escola Profissional da Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada Ano Letivo 2011/2012
Vimos depois, que o levantamento militar de Saldanha, em 1851, introduziu um período de estabilidade política, sob a égide do partido regenerador, que encaminhou a sua actuação para os melhoramentos materiais, difundindo confiança no progresso. Baseandose no crédito financeiro nacional ou estrangeiro, o governo da Regeneração deu primazia ao lançamento dos meios de transporte e de comunicação que conduziram ao desenvolvimento da agricultura, sem que a industria e a pequena burguesia urbana tenham sido alvo de idêntico apoio. O descurar dos sectores primário e secundário da economia e a tendência para a especulação desenfreada levaram á queda do governo regenerador em 1868 ( revolta da Janeirinha ) e conduziram á crise de 1876. Entretanto, neste período de aparente progresso inserimos a produção literária de Júlio Diniz, alheia ainda ao processo de industrialização, foi no segundo Romantismo. A terceira geração romântica surge nos anos 70 ( realismo) e coincide com o regresso ao poder de Fontes Pereira de Melo (1871-1877). Aquando da crise económica de 1876, surge o partido progressista que irá alternar com o regenerador até ao fim da monarquia, não tendo sabido nenhum deles resolver os grandes problemas sócio-económicos , entre outros, com que o país se deparava. É neste período que se insere a poesia de Cesário e, por isso, convém acompanhar mais detalhadamente as alterações, sobretudo as urbanas, sofridas pelo país a partir dos anos 70, algumas delas registadas nos seus poemas. 2- 2- Desenvolvimento capitalista e processo de urbanização em Portugal a partir de 1870
O Fontismo Regenerador ( 1871-1877) traz profundas transformações: incremento sensível da produção industrial, fomento agrícola, facilitação na comercialização dos produtos, aumento do consuma e das classes trabalhadoras assalariadas (operários da indústria e da construção civil), aumento dos transportes, desenvolvimento da mineração , das pescas, da indústria do tabaco... A multiplicação dos meios de transportes (caminhos de ferro, transportes urbanos colectivos) e dos meios de comunicação (jornal, telégrafo) favorece o desenvolvimento de todos os sectores da economia. Paralelamente, verificamse migrações internas para a cidade uma enorme emigração para o Brasil, como sintoma das dificuldades no campo e do apelo exercido pelos meios urbanos. Lisboa conhece os problemas peculiares do rápido desenvolvimento urbano a que o poder não sabe dar resposta, designadamente no que diz respeito á salubridade pública (tuberculose, febre amarela e peste). Assim, o desenvolvimento capitalista revela-se, desde o seu início, grosseiro e caótico, ainda mais em Lisboa do que nas outras cidades europeias industrializadas.
Enquadramento Estético-Literário da poesia de Cesário Verde Poeta da cidade, um dos maiores em qualquer tempo em qualquer língua, por isso mesmo que genuíno, original, profundamente renovador, quer ao descrever os quadros e os tipos citadinos, quer ao denunciar, em sóbrias palavras, as atitudes subjectivas provocadas pela vida exterior. Cesário tem o culto da descrição, da contenção. A sensibilidade e a fantasia são nele dominantes pela estética anti romântica, pela reserva irónica, pela sábia composição, pelo gosto de polir a frio os seus versos. Praça 5 de Outubro 9500-153 Telf: 296 306420 Fax: 296 306428 E.mail:
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