Introdução
No dia-a-dia necessitamos dum conjunto vasto de conhecimentos para a satisfação das nossas necessidades individuais e de vida em sociedade. Temos que saber como agir e nos comportar nas diferentes circunstâncias que enfrentamos no nosso quotidiano: a forma como alguém deve se comportar como chefe de família é diferente da forma como deve se comportar como chefe de um departamento de uma empresa, e como estudante duma faculdade, por exemplo. Adicionalmente temos que saber manusear os inúmeros e diferentes instrumentos à nossa disposição, para satisfação destas necessidades e como adquirir mais conhecimentos para melhorar cumulativamente o nosso desempenho, enquanto buscamos satisfazer tais necessidades por mecanismos mais eficientes e socialmente mais aceitáveis e produtivos. Neste âmbito, o presente trabalho tem por objectivo discutir as principais diferenças entre o conhecimento científico e empírico, enquanto formas diferentes de atingir este conhecimento. A metodologia para sua elaboração se baseou essencialmente na pesquisa bibliográfica e documental, que se desdobrou em três etapas. A primeira consistiu na recolha e revisão da literatura deste âmbito, para obtenção de referências teórico-conceptuais e metodológicas para o seu desenvolvimento; a segunda etapa consistiu na análise e interpretação do acervo retirado desta literatura e a terceira na redacção do trabalho resultante. O mesmo é composto por três capítulos: o primeiro que descreve os principais tipos de conhecimento e suas principais características e é composto por cinco secções: uma que desenvolve a noção do conhecimento como base para as discussões posteriores, e outras que descrevem as principais características dos quatro principais tipos de conhecimento; o segundo capítulo centra-se no objecto de estudo de per se, isto é, nas principais diferenças entre o conhecimento científico e empírico de per se; e o terceiro capítulo é reservado às conclusões conclusões e considerações finais.
1. Principais Tipos de Conhecimento e Suas Principais Características Antes de entrarmos da diferenciação dos principais tipos de conhecimento e suas principais características, é pertinente tecer algumas considerações sobre os conceitos de conhecimento e ciência e sua relação, de modo a apresentar a forma como os mesmos são compreendidos e desenvolvidos ao longo do trabalho. Pode-se compreender o conhecimento como o conjunto de objectos materiais e imateriais que aprendemos, retemos e reproduzimos desde que nascemos. Isto é, tudo o que a sociedade à nossa volta cumulativamente nos transmite e o que aprendemos das nossas experiências integra o "património intelectual" a que chamamos conhecimento. Existem autores que consideram que o conhecimento significa elucidação da realidade, o que resulta do facto da palavra elucidar provir do Latim lucere que significa "trazer à luz"; uma vez que em Português esta palavra é precedida pelo prefixo de reforço "e" então elucidar do ponto de vista vocabular significa "trazer á luz fortemente", deste modo, conhecer, entendido como elucidar a realidade, quer dizer uma forma de "iluminar", "tornar compreensível", ou "trazer á luz" a realidade (Demo, 2002). Deste modo, o conhecimento é o meio pelo qual se descobre a essência dos objectos (materiais e imateriais) que se manifestam por meio das suas aparências. Daqui pode-se entender que o conhecimento implica a existência de três elementos essências: a pessoa que conhece (cognoscente); o objecto ou coisa conhecida; e o processo ou acto de
conhecer. Portanto, a pessoa (e.g. estudante), através dum processo (e.g. leitura) apreende (conhece) determinado objecto ou conceito – a primeira lei de Newton sua aplicação, inflação, desemprego, etc. (Ronguane, 2005). No entanto, é de salientar que o saber não implica ciência. Pode-se saber algo sem recorrer a métodos científicos, aliás detemos vários conhecimentos que não resultaram da exploração de métodos científicos por isso existem diferentes tipos de conhecimento, que diferem profundamente entre si, pois resultam de formas diferentes de aproximação e explicação da realidade (Mota, 2005). Estes tipos de conhecimento diferem entre si mais ao nível metodológico (isto é, da forma como são obtidos) do que em relação ao seu conteúdo de per se (embora sua profundidade seja, em
geral, diferente). Refira-se o caso de um agricultor, duma zona rural que não sabe ler e escrever, e desconhece as razões dadas pela ciência para a necessidade de preparar o terreno antes de plantar, mas sabe que deve fazê-lo e tem consciência de que actividade agrícola é um processo com leis próprias. Isto resulta dum lado das experiências que adquiriu de seus pais, ao que se acrescentou o conhecimento tácito, isto é, o conhecimento que adquiriu pela própria pratica da agricultura. Neste exemplo estamos perante dois tipos distintos de conhecimento que convergem de certa forma em relação a sua essência, mas que divergem no campo metodológico: trata-se do conhecimento popular em contraste ao obtido com base na indagação científica, portanto, ao conhecimento científico. São geralmente reconhecidos quatro tipos de conhecimento: o conhecimento empírico (também chamado popular, espontâneo, ou vulgar); o conhecimento científico; o conheciemento filosófico e o conhecimento teológico (Mota, 2005; Marconi e Lakatos, 2000).
1.1
Conhecimento Empírico
O conhecimento empírico é aquele que resulta das experiências do quotidiano e daquilo que nos é transmitido pelos nossos pais e pela sociedade em geral através da educação informal, ou seja, o conhecimento empírico é aquele que desenvolvemos a partir das experiências do dia-a-dia e da imitação e daquilo que aprendemos da sociedade à nossa volta, por meio da educação informal 1. Segundo Solis (1997:60), citada por Mota (2005), este é baseado no senso comum e caracterizase por um conjunto desagregado de idéias e opiniões difusas e dispersas que fazem parte de um pensamento genérico de uma época ou de um certo ambiente popular. É neste sentido que podese afimar que o conheciemento emperíco também tem fundamentos históricos, ou seja, é resultante das condições sociais especificas dos homens de uma época ou região.
1
O vocábulo empírico está associado ao termo empirismo que é originário do grego enpeiria que significa experiência. É no entanto, o sistema filosófico que defende que a fonte do conhecimento é a experiência dos sentidos: as sensações; é geralmente referido através do axioma latino: "Nihil est in intellectu quod prius non fuerit in sensu" – nada existe no intelecto que antes não tenha estado nos sentidos (Mota, 2005).
Outras características do mesmo são: superficial, isto é, conforma-se com a aparência, com aquilo que pode comprovar-se simplesmente pelas características exteriores do objecto, sem ser submetido a experiências ou outras formas de observação. Subjectivo porque é o próprio sujeito que cria uma forma de organizar suas experiências e
conhecimento, tanto os que adquiri por vivência própria quanto os que por ouvir dizer Assistemático porque tal organização das experiências e conhecimento adquiridos não por
objectivo sistematizá-los, nem tentar validá-los Acrítico pois verdadeiros ou não, a pretensão de tais conhecimentos ou sejam, em geral, não se
manifesta de forma crítica (Marconi e Lakatos, 2000).
1.2
Conhecimento Científico
Já o conhecimento científico exige método racional de aquisição e transmissão de conhecimentos, de modo que está constituído por uma série de elementos básicos, inter alia, sistema conceptual, hipóteses, definições, leis e modelos. No entanto, o conhecimento científico é formado por um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que se referem a objectos de uma mesma natureza (Ander-Egg, citado por Marconi e Lakatos, 2000). Da definição supracitada pode-se inferir que o conhecimento é adquirido metodicamente, pois este não se adquire ao acaso ou a partir de meras experiências do quotidiano, mas a partir de regras, procedimentos e processos lógicos. É sistematizado isto é, não se trata de conhecimentos dispersos e desconexos, mas de um saber ordenado logicamente, constituindo um sistema de ideias (teorias e modelos, leis etc.). Também certo ou provável porque não se pode atribuir a ciência a certeza indiscutível de todo o saber que
a compõe; e referente a objectos duma mesma natureza, ou seja, o conhecimento científico refere-se a objectos de têm entre si caracteres de homogeneidade.
1.3
Conhecimento Filosófico
Etimologicamente a palavra filosofia traduz-se por amor a sabedoria 2 e pode-se interpretar esta expressão com o sentido de busca incessante da verdade por parte do filósofo. O objecto da filosofia transcende o mundo material, ou seja, mesmo aquilo que está fora do alcance dos sentidos pode ser objecto da análise filosófica. O conhecimento filosófico, propriamente dito, apresenta as características seguintes: é valorativo, pois seus ponto de partida são hipóteses que não podem ser submetidas a observação; não verificável já que os enunciados das hipóteses filosóficas não podem ser confirmados nem
refutados; racional uma vez que consiste num conjunto de enunciados logicamente correlacionados (Marconi e Lakatos, 2000). É também sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam uma representação coerente da realidade estudada, numa tentativa de apreende-la na sua totalidade; e infalível e exacto uma vez que como quer como forma de busca da realidade capaz de abranger todas outras formas de conhecimento, quer na definição do instrumento capaz de aprender a realidade desta forma, seus postulados e hipóteses não são submetidos ao decisivo teste de observação (Ibid.).
1.4
Conhecimento Teológico
Segundo (Mota, 2005) o conhecimento teológico ou místico é orientado exclusivamente pela fé humana e desprovido de método. Surge a partir da crença na existência de entes divinos e superiores que controlam a Vida e o Universo; resulta de revelações transmitidas oralmente ou por inspirição espritual e e procura dar respostas às questões que não sejam inteligíveis às outras esferas conhecimento. São exemplos os textos sagrados como a Bíblia, o Alcorão, as Escrituras de Nitiren Daishonin, entre outros. O conhecimento teológico parte do pricípio de que as verdades tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em revelações da divindade, do sobrenatural. 2
A paternidade do termo filosofia é atribuída a Pitágoras, filósofo grego da antiguidade que, certa vez ao ser considerado o homem mais sábio do mundo (por ter sido um pensador muito iminente na sua época), terá recusado este título, considerando-se humildemente amigo do saber, isto é, filo que se traduz por "amor, amizade" e sophia "saber, sabedoria" (Logos, 2000).
2. Principais Diferenças Entre o Conhecimento Científico e Empírico
Antes de se debruçar sobres as principais diferenças destes dois tipos de conhecimento é pertinente salientar (como já referido no exemplo do agricultor inculto) que não existe um limite rígido entre os diferentes tipos de conhecimento, as diferentes formas de conhecimento distinguem-se mais ao nível metodológico e de profundidade do que na sua essência em si. Adicionalmente, com o desenvolvimento, a ciência têm buscado bases no saber popular: refira-se as tendências actuais da medicina moderna, de explorar a medicina tradicional, cujas bases provem maioritariamente do saber empírico, transmitido de pais para filhos, por vias informais. No entanto, a ciência distingue-se do saber empírico essencialmente pela crítica e rigor, que fazem dela um tipo de conhecimento substancialmente diferente do saber empírico. Isto é, a ciência não aceita as certezas resultantes das características imediatas do objecto ou dadas pelo saber popular, mas antes submete-as a observação crítica, formula questões, busca explicações, faz comparações para comprovar as conclusões, etc.; doutro lado, existem uma série de técnicas (métodos) incontornáveis para a produção do conhecimento cientifico, que vão desde os métodos e etapas para elaboração de uma pesquisa, até aos critérios para resultados respectivos serem aceites. Pedro Demo (2002) divide os critérios para distinção do conhecimento científico em internos e externos. Os internos são próprios do produto ou sistema científico, isto é, fazem parte da própria
contextura da ciência, ou seja, aquilo que se define como características do conhecimento científico (e.g. coerência que significa falta de contradição, possuir uma argumentação integrada e consistente, sistematização, etc.), enquanto que os externos resultam da opinião que a comunidade científica tem sobre determinado produto ou sistema de investigação científica.
Como sugerido por Mota (2005) as principais diferenças entre o conhecimento científico e empírico podem ser assim sistematizadas:
Quadro Comparativo: conhecimento empírico versus científico CONHECIMENTO EMPÍRICO É o método comum, espontâneo de conhecer
CONHECIMENTO CIENTÍFICO Nasce da dúvida e se fixa em alcançar a certeza do saber
Atinge os factos sem questionar e conhecer as Procura a causa dos fenômenos, demonstrando-os suas causas É ametódico
É metódico, e rigoroso com a correcta aplicação dos metódos na busca do saber
É fragmentário, ingênuo e assistemático
É sistemático, e procura sempre fundamentar suas leis
Não analisa o testemunho da informação
Cada informação evidencia o caráter de responsabilidade da fonte
É mais sujeito ao erro por causa da Estabelece leis válidas para todos os casos d a mesma natureza, que aleatoriedade Gera certeza intuitiva e pré-crítica
venham a ocorrer nas mesmas condições Não aceita o verdades sem justificação e demonstração dos motivos da sua certeza
Atinge somente os factos, o fenômeno Procura a relação entre as componentes do fenômeno para enunciar singular
as leis gerais que regem tais relações
Fonte: Adaptado de Mota (2005) e Marconi e Lakatos (2000)
3. Conclusões e Considerações Finais
Este trabalho estudou as principais diferenças entre o conhecimento científico e empírico e chegou a conclusão de que é quase de consenso que existem diferentes tipos de conhecimento, que possuem diferenças substâncias entre si, no entanto estas diferenças são mais expressivas ao nível da forma, isto é, conjunto de métodos e técnicas usadas para obter e reproduzir o conhecimento, do que ao nível da essência do conhecimento em si. No entanto, em muitas circunstâncias o próprio conteúdo do conhecimento produzido por cada um destes diferentes tipos de conhecimento é diferente, uma vez que os mesmos são também formas diferentes de explicar e interpretar a realidade. Podem se distinguir quatro tipos principais de conhecimento: conhecimento empírico, que resulta da experiência do quotidiano e dos conhecimentos obtidos da sociedade à nossa volta, através da educação informal; conhecimento científico que resulta da aplicação dos princípios, métodos e técnicas científicas para a interpretação da realidade; conhecimento filosófico, que estuda as causas últimas do saber e conhecimento teológico baseado na fé em doutrinas inspiradas pela Divindade, que criou e controla todo o Universo. A principal diferença entre o conhecimento científico e o empírico é essencialmente a crítica e o rigor que definem o conhecimento científico, distinguindo-o substancialmente do empírico. O conhecimento não aceita verdades imediatas como o empírico, mas antes o que foi verificado e comprovado, através de métodos apropriados; o conhecimento científico não nasce de meras experiências do quotidiano, mas dum sistema adequado de produção de conhecimento e exige a observação de um conjunto de técnicas apropriadas para sua produção e reprodução. No entanto, o conhecimento empírico é importante por ser a base para realizar as actividades do dia-a-dia e também a base para a produção de outras formas de conhecimento, o que é visível na medicina moderna que desenvolve muitos farmacos a partir de plantas medicinais identificadas com base no saber popular, acumulado a partir da experiência e transmitido de pais para filhos por vias informas de educação.
Referências Bibliográficas
Demo, P. (2002). Metodologia Científica em Ciencias Sociais, 5ª edição, São Paulo: Editora Atlas S.A. Logos, (2000). Enciclopédia Luso-brasileira de Cultura, sec. XXI , Porto: editora Verbo. Marconi, M. de A. & Lakatos, E. M. (2000). Metodologia Científica., 3ª ediçao. São Paulo: Editora Atlas S.A. Mota, S., (2005), Metdolgia Jurídica, disponível em http://www.silviamota.com.br . Acedido aos 09/09/10 as 13 e 45 min. Ronguane, S. (2005). Manual de Filosofia para Principiantes: Noções Básicas de Pessoa, Ética e Conhecimento, Maputo: s/editora.
ÍNDICE Introdução .............................................................................................................................................. 1
1.
Principais Tipos de Conhecimento e Suas Principais Características .............................................. 2 1.1
Conhecimento Empírico ....................................................................................................... 3
1.2
Conhecimento Científico ...................................................................................................... 4
1.3
Conhecimento Filosófico ...................................................................................................... 5
1.4
Conhecimento Teológico ...................................................................................................... 5
2.
Principais Diferenças Entre o Conhecimento Científico e Empírico ............................................... 6
3.
Conclusões e Considerações Finais............................................................................................... 8
Referências Bibliográficas ........................................................................................................................ 9