Dalton Trevisan - O Vampiro de Curitiba.
Esse herói moderno vive suas peripécias sob o estigma e stigma do vampiro, tentando firmar-se e obter reconhecimento do mundo e da mulher. Para tanto, deve demonstrar não só sua virilidade, mas principalmente seu descontentamento diante das coisas, exigindo um comportamento comportamento humilhante por parte da mulher: “Deixa estar, nunca se desculpe. Se ela perde o respeito, meu velho, está acabado como gostosão” (“O Herói Perdido”).
No percurso desse Ulisses Ulisses moderno, surgirão Penélopes Penélopes sempre dispostas a reconhecê-lo como seu amo e senhor, desde que demonstre sua força. Assim, ele não se deixa levar por nenhum sentimento, pois tem de assumir um papel no qual a mulher representaria sempre o lado passivo. São vários os contos que tratam de mulheres que, atacadas pelo vampiro, se entregam de corpo e alma, porque vêem nele um sucedâneo dos galãs de cinema, que as conduziria ao paraíso existencial. Contudo, apesar de a entrega se justificar em nome do encontro do “Príncipe Encantado”, verifica-se que ele encobre o significado do ato sexual como mero prazer físico,
isto é, como liberação dos instintos por parte do homem. (adapt. De Álvaro Cardoso Gomes e Carlos Alberto Vechi, em Lit. Comentada, Abril Cultural, 1981). O Vampiro de Curitiba, Dalton Trevisan. Escrito assim, pode ser tanto o nome de um livro, seguido de seu autor, quanto uma explicação. expl icação. O autor guarda informalmente o codinome de vampiro desde 1965, quando publicou o metafórico O vampiro de Curitiba. Desde então, o escritor paranaense alimenta a lenda em torno da própria figura envolta pelo mistério da reclusão. No conto que batiza essa coletânea, ele auto-ironiza sua estranha maneira de "promoção delirante", mas não é pela mania de viver escondido que o leitor se sente sugado pelas mini-histórias. Não deixa de ser um de seus seus principais personagens; recluso recluso em sua vida pessoal a ponto ponto de ser conhecido pela alcunha de um de seus livros - o Vampiro de Curitiba. Seus contos, quase todos ambientados em sua cidade natal - Curitiba - são impregnados de suspenses e enigmas. Em relatos breves, o autor revela o cotidiano da degradação humana em uma linguagem direta. O Vampiro de Curitiba nos leva ao dia-a-dia de Nelsinho, o vampiro literário personagem dos quinze contos do livro. Um curitibano curiti bano que segue e assedia velhinhas, senhoras respeitáveis, virgens e prostitutas, agoniado e indeciso entre aquela que “molha o l ábio com a ponta da lí ngua para ficar mais mais excitante”, excitante”, a viúva toda de de preto com joelho “redondinho de de curva mais mais doce que o pêssego maduro”, maduro”, a “casadinha” “casadinha” que vai às compras compras e a normalista.
"O vampiro de Curitiba" talvez seja sej a o livro mais conhecido c onhecido de Dalton Trevisan. Nelsinho é o personagem que transita por todos os contos, dando unidade unidade ao livro. Obcecado por sexo, sexo, ele vagueia pela provinciana Curitiba atrás de suas vítimas, enquanto aos olhos do leitor vai se abrindo o quadro de uma cidade decaída. Cidade em que se esconde um vampiro no fundo de cada "filho de família", conforme ironiza o protagonista do livro. Curitiba, esquadrinhada esq uadrinhada por Nelsinho, que primeiro se vê vê seduzido pelos braços e pernas pernas de uma sensual garota de outdoor outdoor ou de uma virgem? - e, ao cabo, precipita-se para o círculo infernal mais baixo, para o quarto de um bordel ao lado de uma velha prostituta banguela. Ele é o próprio Drácula nivelado à cidade degradada sob as vestes do cafajeste brasileiro. Nelsinho, assim como o vampiro, é presa da repetição infindável dos seus atos e de sua obsessão, que agravam sua solidão: "Tem piedade, pieda de, Senhor, são tantas, eu tão sozinho". -- por Adriana Camargo. Que fim levou o vampiro de Curitiba? Crônica escrita em primeira pessoa, extraída do livro "O Pássaro de Cinco Asas, 1974"; onde é destacado em toda a crônica, c rônica, pormenores da cidade com imensa variedade de personagens do submundo (nem todos).
O narrador pergunta no início de cada parágrafo sempre que fim levou, que fim levaram; interroga pelo paradeiro de cada personagem. Alguns íntimos, outros apenas personalidades da cidade, vista pela sua particular visão de personagem inserido em sua própria narrativa. Seria o narrador o Nelsinho, como assim era chamado pela maravilhosa negra Benvinda? Dessa forma vão desfilando todos os personagens e suas façanhas na cidade. "Que fim levaram as polaquinhas do sobradinho, Petit Palais, Quinta Coluna, Pombal e 111(...) nos iniciaram a mim e você no alegre mistério da carne?" Que fim levaram as cafetinas, a garçonete banguela do Café Avenida, o Candinho que era o rei dos cafetões, o grande Carlinhos que batia em todo mundo, as bailarinas da Caverna Curitibana. Todos os personagens, folclóricos, perversos, ingênuos, reais, surreais; vão desfilando um a um, todos conhecidos pelo narrador que vai esmiuçando as suas aventuras, prazeres e particularidades. "E o homem da Capa Preta que fim levou, inteirinho nu debaixo da capa, chispando impávido na bicicleta, erguendo o vestido da moça e da velhota para roubar uma peça de algodãozinho não tens piedade ó Senhor? -nem sequer enfeitada de renda?" O bordel encantado das normalistas, a Nélcia, o grande Néio, a francesa do cachorrinho, a Juriti, a célebre Natachesca do sobrado da Rua Voluntários da Pátria, as loirinhas gorduchas do Bar Palmital, o Nô, que era sambista " - de copo na mão congelou-se no Bar Pólo Norte?" A ligação do narrador com todos os personagens perfilados na estória é intrínseca. " - Que fim levou a Valquíria, a minha, a tua, a Valquíria de todos nós..." O grande Paulo, rei da boate Marrocos, que exibia as gringas mais fabulosas e vigaristas, o gordo Leandro que por ser veado era a vergonha da família " ... quando ainda era vergonha um veado na família...", o vampiro louco de Curitiba. Pergunta que fim levou o lírico necrófilo que desenterrou a mocinha morta de tifo preto, " ...seria o coveiro? o pobre noivo seria? não seria você, hipócrita pai de família?", as misses de Curitiba e a Sílvia, viciada em uísque "... em cujo quarto você acordava no céu com os sinos da catedral repicando ali na janela?" No final ele termina perguntando de si próprio: "-E afinal eu, o galã amado por todas as taxi-girls, que foi feito de mim, ó Senhor, morto que sobreviveu aos seus fantasmas, gemendo desolado por entre as ruínas de uma Curitiba perdida, para onde sumi, que sem-fins me levaram?" Livro para análise da obra: VILLÁ, Berta Waldman. Do Vampiro ao Cafajeste: Uma Leitura da obra de Dalton Trevisan. São Paulo, Hucitec/Unicamp, 1989.
O Vampiro de Curitiba, de Dalton Trevisan
talvez seja o livro mais conhecido de Dalton Trevisan. Dedicando-se exclusivamente ao conto (só teve um romance publicado: A Polaquinha), Dalton Trevisan acabou se tornando o maior mestre brasileiro no gênero. Em 1996, recebeu o Prêmio Ministério da Cultura de Literatura pelo conjunto de sua obra. Mas Trevisan continua recusando a fama. Cria uma atmosfera de suspense em torno de seu nome que o transforma num enigmático personagem. Não cede o número do telefone, O vampiro de Curitiba
assina apenas "D. Trevis" e não recebe visitas - nem mesmo de artistas consagrados. Enclausura-se em casa de tal forma que mereceu o apelido de O Vampiro de Curitiba , título de um de seus livros. Mestre na arte do conto curto e cruel, é criador de uma espécie de mitologia de sua cidade natal, Curitiba. O vampiro de Curitiba teve seus contos lidos na Rádio Educativa, nas leituras dramáticas e em oficinas. São pequeníssimos textos: leves, românticos, eróticos, existenciais... Mas tudo sempre inteligente e recheado de humor - às vezes negro. O vampiro de Curitiba , Dalton Trevisan. Escrito assim, pode ser tanto o nome de um
livro, seguido de seu autor, quanto uma explicação. O autor guarda informalmente o codinome de vampiro desde 1965, quando publicou o metafórico O vampiro de Curitiba. Desde então, o escritor paranaense alimenta a lenda em torno da própria figura envolta pelo mistério da reclusão. No conto que batiza essa coletânea, ele auto-ironiza sua estranha maneira de "promoção delirante", mas não é pela mania de viver escondido que o leitor se sente sugado pelas mini-histórias. Não deixa de ser um de seus principais personagens; recluso em sua vida pessoal a ponto de ser conhecido pela alcunha de um de seus livros - O Vampiro de Curitiba . Um livro que se quer como novela, mas que cada unidade tem autonomia em relação às outras, e que inaugura uma .poética do vampirismo. As ações não ultrapassam as fronteiras que as separam, podendo ser lido como um livro de contos. O herói e sua tara, que na primeira parte revela a sua maldição: é obcecado por fêmeas, servem como elemento aglutinador destas narrativas. Não há descrições detalhadas. É o próprio personagem que se revela ao leitor ao revelar sua tara. Atormentado pelo desejo carnal, o herói se dilacera na busca constante do outro. Foco Narrativo
Apenas os contos O Vampiro de Curitiba e O herói perdido são escritos em 1ª pessoa. Espaço
Alguns contos têm como cenário a cidade de Curitiba. No conto Visita à professora, o espaço mencionado é São Paulo. O narrador menciona lojas, ruas, igrejas, botequim. Tempo
Não há flashbacks; Nelsinho tem idade diferente nos contos; os contos não estão em ordem cronológica. Linguagem
linguagem coloquial, com termos vulgares (“grande cadela”); presença de diminutivos (safadinha, taradinha, casadinha); frases i ncompletas, mas de fácil compreensão (“Ai, eu morro só de olhar para ela, imagine então se.”); predomínio do discurso direto nos contos “Contos dos bosques de Curitiba” e, principalmente, “Arara bêbada”. Intertextualidade Bíblica
Conto “A noite da paixão”: “terei de beber, ó Senhor, deste cálice?”; “Que se faça tua vontade, Senhor, e não a minha”; “Está consumado”. Personagem
Nelsinho é o protagonista de todos os contos. Ao longo do livro, Nelsinho percorre uma via crucis, com o objetivo de saciar-se sexualmente com as belas mulheres que encontra nas ruas de Curitiba. Tarado insaciável, voyeur incontido, "não quero do mundo mais que duas ou três só para mim". É a normalista, a garotinha de família, a professora, nenhuma foge ao fervor de Nelsinho, que, ora bem-sucedido ora nem tanto, vai deixando, nas ruas corrompidas de Curitiba, as marcas em suas vítimas singelas, repletas de ingenuidade e - simultaneamente - de morbidez. Enredo
Seus contos, quase todos ambientados em sua cidade natal - Curitiba - são impregnados de suspenses e enigmas. Em relatos breves, o autor revela o cotidiano da degradação humana em uma linguagem direta. O Vampiro de Curitiba nos leva ao dia-a-dia de Nelsinho, o vampiro literário personagem dos quinze contos do livro. Um curitibano que segue e assedia velhinhas, senhoras respeitáveis, virgens e prostitutas, agoniado e indeciso entre aquela que “molha o lábio com a ponta da língua para ficar mais excitante”, a viúva toda de preto com joelho “redondinho de curva mais doce que o pêssego maduro”, a “casadinha” que vai às compras e a normalista.
Nelsinho é o personagem que transita por todos os contos, dando unidade ao livro. Obcecado por sexo, ele vagueia pela provinciana Curitiba atrás de suas vítimas, enquanto aos olhos do leitor vai se abrindo o quadro de uma cidade decaída. Cidade em que se esconde um vampiro no fundo de cada "filho de família", conforme ironiza o protagonista do livro. Curitiba, esquadrinhada por Nelsinho, que primeiro se vê seduzido pelos braços e pernas de uma sensual garota de outdoor - ou de uma virgem? - e, ao cabo, precipita-se para o círculo infernal mais baixo, para o quarto de um bordel ao lado de uma velha prostituta banguela. Ele é o próprio Drácula nivelado à cidade degradada sob as vestes do cafajeste brasileiro. Nelsinho, assim como o vampiro, é presa da repetição infindável dos seus atos e de sua obsessão, que agravam sua solidão: "Tem piedade, Senhor, são tantas, eu tão sozinho" .