CARGOS DE SANTO (“OYÈ”)
São inúmeros os cargos exercidos nos Candomblés. Cada Nação tem seus s eus correspondentes cargos, sendo certo que, embora variem as denominações, na maioria das vezes correspondem ao desempenho das mesmas funções.
Muitas vezes, em Casas da mesma Nação, há cargos que não se usam, por razões de tradição própria, ou mesmo por carência do ocupante.
Os cargos de santo, são outorgados outorgados diretamente pelo Zelador da Casa, pelas pelas Divindades manifestados (geralmente a do próprio Zelador ou daqueles que já contem vários anos de iniciação), ou ainda por vontade dos Orixás revelada através do Oráculo (inclusive o da pessoa que irá receber o oyè).
Geralmente os cargos são distribuídos aos filhos de santo que já possuam razoável tempo de iniciação religiosa e de frequência na Casa (ainda que não iniciados naquele próprio Terreiro), dada à responsabilidade intrínseca e ao grau de confiança depositado.
É pouco usual, porém não impeditivo, que determinados cargos sejam outorgados a pertencentes de outros candomblés, que embora não frequëntem a Casa, a visitam em diversas ocasiões, devendo estar presentes nos momentos em que tal cargo deverá ser exercido. Isto se dá quase sempre quando os cargos têm caráter honorífico, ou quando a Casa prescinde de outra pessoa capacitada para aquele mister. Citamos o caso de Pejigans, Axoguns, Alabês, Ekedis, etc.
Os cargos não são exclusivos dos médiuns de incorporação (“elégùn”, de gùn, montar), podendo ser atribuídos aos “não rodantes”, tais como ogans e ekedis. ekedis .
Cada oyè requer necessariamente uma afinidade afinidade entre a função a ser desempenhada e o Orixá daquele que receberá o cargo, devido às atribuições que lhe cabem ou caberão. c aberão.
Nem sempre aquele que receberá o oyè já domina as funções atinentes ao cargo. É preciso que ele possua as condições para tal. Muitas vezes esta avaliação é subjetiva e, como dissemos, caberá ao outorgante, mesmo que os demais não a entendam ou concordem.
Normalmente, é após a outorga do cargo, que o exercente será precisamente orientado e instruído para o bom desempenho.
Os cargos podem ser renunciados, muito embora isto signifique grande desfeita à Casa e ao Outorgante, bem como podem ser também destituídos dos outorgados. Geralmente a Segunda hipótese ocorre por negligências repetidas do exercente, fazendo com que o próprio outorgante lhe destitua; por sua inexplicada ausência da Casa; ou ainda pela necessidade de ocupação do cargo, quando o exercente precisa se ausentar do Candomblé por muito tempo.
Os cargos não são obrigatoriamente vitalícios, podendo ser remanejados entre os filhos de santo (seguindo-se o mesmo critério da outorga) ocasionando que alguns filhos, ao longo dos anos, tenham exercido vários cargos no mesmo Candomblé. Contudo, raramente há “rebaixamento” dos cargos exercidos pelo mesmo filho de santo.
Os cargos não são acumulados pela mesma pessoa, mas sim as funções. Por exemplo, a Ìyá kékeré (mãe pequena), por alguma necessidade (inclusive ausência de encarregados específicos) pode vir a exercer as funções da Ìyá efun, e ou da Ìyá gbàsé, sem que com isto detenha os três cargos.
Atualmente, face à interseção havida entre as Nações, muitos cargos de origens diversas convivem no mesmo Candomblé, reproduzindo tradições pontuais, mas já perdendo-se a origem histórica, regional e até liturgia.
Outro fator complicador para a identificação precisa de cada “oyè”, é a questão gramatical. Devido à dificuldade com as línguas de origem, a correta denominação, tradução e pronúncia dos cargos foi se perdendo no tempo, ou até mesmo modificando-se.
É importante não confundir o cargo (oyé), com o orunkó, e com o título. Ou seja, o cargo diz respeito à função a ser exercida. Exemplo: Ìyágbasé - a mãe que cozinha. Já o orunkó, é o nome pessoal do Orixá, o qual, em determinadas Casas, passa a ser o nome pelo qual o respectivo iniciado passa a ser chamado. Ex.: Odé Kaiodê – O Caçador Tráz Alegria. O título,
diz respeito exclusivamente ao Orixá, à sua bravura, feitos ou características, o que, por muitos é confundido com as qualidades daquele mesmo Orixá. Ex.: Oya Messãn Orun, título de Iansã que a designa como a Mãe dos Nove Espaços Siderais.
Muitas vezes o filho de Santo pode exercer um cargo na Casa e ser chamado apenas por seu Orunkó. Ou ainda, na mesma situação, ser chamada exclusivamente pelo cargo que exerce. Registre-se ainda, que no mesmo Candomblé, pode haver aquele que é chamado pelo cargo, enquanto outro, por razões aleatórias, é denominada pelo Orunkó. Não há normas rígidas quanto a isto.
Segue elenco de cargos catalogados, listados tal como obtivemos, quer seja, sem o rigor gramatical, nem critério étnico:
Abiãn (Abíyán): é o frequentador da Casa enquanto não iniciado na Religião. A – aquele que, bí – que nasce, íyán – com dúvidas;
Afikodé (Aficode): posto do quarto de Oxossi;
Ajimudá (Àjímúdà): cargo masculino do culto a Omulu;
Ajimudá (Àjímúdà): é um cargo do culto a Oyá. Participa e é saudada no ipadê. A – aquela, ji – que acorda, mú – pega, idá – a espada (ou alfange);
Ajòiè: Ekedi responsável por vestir e zelar pelas roupas dos Orixás;
Akouê (Akòwé): responsável pelas compras; secretária, escritora;
Alabá: um dos sacerdotes do culto aos ancestrais;
Alabê (Alágbè) ou Ogãnilú (Ògán nílù): é o encarregado dos instrumentos musicais e dos cânticos a serem entoados;
Alagadá: Ogan que cuida das ferramentas de Ogun;
Alapini: sacerdote do culto aos ancestrais;
Apajá (Apájá): é o Ogã que sacrifica cachorro para Ogun;
Apetebi (Apètèbí): auxiliar do pai-de-santo. Segundo Bastide, é a esposa do pai-de-santo. Devido a isto, ainda que não iniciada, passa a usufruir de certo prestígio na Casa. Em alguns casos, pode até fazer consultas oraculares;
Apogãn (Apokan): cargo masculino do culto a Omulu;
Apotun (Apótún): cargo masculino do culto a Omulu;
Aramefá: conselho de Oxossi composto por seis pessoas;
Axobá (Ásógbá ou Ásógbánilé): maior cargo masculino do culto a Omulu. Trata-se daquele que conserta, coze e costura as cabaças;
Axogum (Àsògún): responsável pelo sacrifício dos animais. Geralmente é um filho de Ogum;
Aiyabá: cargo feminino. É quem bate o ejé nas grandes obrigações;
Aiyabá Ewe: cargo feminino. É a responsável por rezar as folhas;
Babalaô (Bàbákáwo): sacerdote encarregado da prática do jogo de búzios para conhecer o Orixá e o odú de uma pessoa, e todas as decorrências disto;
Babalossaim (Bàbálósányin) ou Olossaim (Olósányin): é o responsável por conhecer e colher as folhas ritualísticas.;
Babaojé (Bàbálojé): encarregado do culto aos mortos;
Balogun (Balógún): posto do quarto de Ogun;
Bamboxê: sacerdote do culto a Xangô;
Ebômi (Ègbónmi): título inerente ao iniciado que realiza a obrigação de sete anos de iniciação. Representa qualidade hierárquica no Candomblé. Significa “minha irmã mais velha”;
Ejitata: cargo masculino do culto a Omulu;
Elemoxó (Elémòsó): posto do quarto de Oxaguiãn;
Equedi (Ekedi): são aquelas escolhidas pelos Orixás para servi-los. Portanto, são as que cuidam da segurança dos que estão manifestados, dançam com os Santos, vestem e acordam os Orixás, por isso são chamadas de mães. Não se manifestam com Orixá;
Fatumbi: cargo de sacerdote de Ifá;
Iabassê (Ìyá gbàsè): é a responsável pelas cozinhas de santo e pelas oferendas;
Iadagãn (Ìyádagan): é a mais velha (no santo) auxiliar direta dos ritos de ipadê. Possui duas substitutas: otun e osidagan;
Iaefun (Ìyá Efun): é a mãe que pinta os iniciados com efun. Geralmente é uma cargo dado aos filhos de Oxalá, por ser o efun intimamante ligado ao culto daquele Orixá;
Iaegbé (Ìyá Égbé): conselheira, assessora do(a) Zelador(ra). Seu correspondente masculino é o Bàbáégbé;
Iajibonãn (Ìyájíbóna) ou Ajibonãn (Ajíbóna) ou Ojùgbònà): mãe criadeira, é quem cuida dos iniciados enquanto estão recolhidos, ensinando-lhes os rituais e regras de comportamento. A jí bí òna (aquela que dá caminho);
Ialatoridé: posto do quarto de Oxalá. É a mãe que prepara e cuida dos atoris de Oxalá;
Ialaxé (Ìyáláse ou Álásé)): é a que conhece e zela pelo axé. Segundo Beniste, “Toda Ìyálórìsà é uma ìyáláse, mas nem toda ìyáláse é uma ìyálórìsà.”;
Ialaxó (Ìyáláso): é a encarregada de costurar e vestir os Orixás;
Ialodê (Ìyá lodè): é a uma respeitável senhora da Casa, a quem, por idade de santo ou de vida, merece distinguido respeito;
Ialorixá (Ìyálórìsà): autoridade máxima do Candomblé. Seu correspondente masculino é o Babalorixá (Bàbálórìsà);
Iamorô (Ìyámórò): é aquela que dança com a cuia no ritual do ipadê é a que despacha Exú;
Ianassô (Ìyá nasó): sacerdotisa encarregada do culto a Xangô;
Iaô (Ìyàwó): é o recém iniciado no culto. Tal denominação irá acompanhá-lo até os 7 anos de Santo. O termo significa esposa, mais é utilizado tanto para homens quanto para mulheres. Ver “Orun Aye”, fls 234/236);
Iaquequerê (Ìyá kékeré): mãe pequena. É a Segunda na hierarquia da Casa. Seu correspondente masculino é o Babaquequerê (Bàbákékeré);
Iatebexê (Ìyátebesé): a encarregada de escolher os cantos e de cantar os solos;
Iatemi (Ìyátemí): cargo da Nação Jeje, dado às mulheres com mais de 7 anos de iniciação;
Ibalé (Ìgbálè) ou Balé (Balè): cargo do culto a Yansãn;
Iyalabakê: responsável pela alimentação dos iniciados;
Iya Sirrá (Ìyá Síhà): significa seguir em direção a um caminho. É ela quem conduz o estandarte de Oxalá;
Iyatojuomò: responsável pelas crianças do axé;
Jobi: cargo sacerdotal;
Kaueuêo (Kawéo): posto do quarto de Ossaim;
Kolabá (Kólábá): cargo do quarto de Xangô. É a responsável por carregar o labá (bolsa de couro onde são guardadas as pedras de raio – èdún àrá;
Mayê: mexe com as coisas secretas do axé: ajuda o Zelador no preparo do Adoxu;
Obás de Xangô: são consagrados a Xangô e guardiães do seu culto. São em 12 os principais, cada qual com 2 substitutos (Òtún , da direita e Òsì, da esquerda):
Direita:
1 – Abíodún
2 – Ààre 3 – Àróló 4 – Tèlà 5 – Òdòfin 6 - Kakamfò
Esquerda:
1 – Ònàsokùn 2 – Aresà 3 – Eléèrìn 4 – Onìíkoyí 5 – Olúgbòn 6 – Sòrun
Oburô: alto título da hierarquia do culto;
Ogalá (Ogalá): cargo do culto a Oxalá;
Ogãn (Ògán): é uma cargo masculino de alguém que não entra e transe. Os ogãns são iniciados (confirmados), mas não recebem todos os preceitos de um yawo. Os Ogãns, tal como as Equedis, não fazem obrigações periódicas de 1, 3 5, 7, 14 e 21 anos, ao contrário dos Yawos. Também são chamados de Pais;
Ogãn Sojatin: ?
Ojú Obá (Ojú oba): é um cargo ligado ao culto de Xangô. Significa os Olhos do Rei;
Ojuodé (Ojú Odè): cargo do quarto de Oxossi (os Olhos do Caçador);
Ojuomin: posto do quarto de Oxum (os olhos das águas);
Olopá (Olopá): é o encarregado de sacrificar cachorro para Ogun;
Oluô: o olhador do oráculo;
Ològun: Cargo masculino. Despacha os ebós;
Olopondá: grande responsabilidade na iniciação;
Omolará: posto de confiança;
Oloya: Cargo feminino das filhas de Oya. Despacha os ebós;
Pejigãn ou Abajigãn (Pejigán): é aquele incumbido de sacrificar os animais atinentes ao Peji ou Cumeeira da Casa;
Rumbono (Humbono): é a primeira pessoa iniciada na Casa. Expressão de origem Jeje;
Sarepebê (Sárepegbé): transmite as decisões egbê, comunicando entre os Terreiros as festas e formulando os convites. É uma espécie de relações públicas do Barracão. Sáre – o que corre, pè – e comunica, egbé – as coisas da sociedade. Geralmente é uma cargo a alguém de Exú ou Ogum;
Sidagan: é a mais nova (no santo) auxiliar dos ritos de ipadê;
Sobalojú (Sobalóju): posto do quarto de Xangô;
Tojuomó (Tojúomo): aquela que olha pelas crianças. De oju – olhar, omo – filho, criança;
Vodunsi: é o mesmoo que ebômi (seu correspondente no Jeje);
Yarubá: carrega a esteira para o iyawô;
Ypery: Ogan de Odé;
Orunkó (literalmente "eco do céu") é o nome que todos os orixás obrigatoriamente tem que ecoar no dia especial, chamado nome do santo (Feitura de santo) em público, na presença de todos os irmãos, filhos e adeptos. Momento mais esperado da iniciação ketu, ritual de tensão muito grande e a expectativa dos sacerdotes que contribuíram nesta sagrada iniciação, podendo ser afirmada ou negada pelo noviço de que tudo foi bem feito ou não, em caso positivo, ouve-se um grito triunfal do seu Orunkó, todos os iaôs "eleguns" que não tem obrigação de sete anos odu ejé entram em transe. Também é o nome que todos os iniciados recebem depois da sua iniciação e chamado por todos da comunidade. Na nação Angola Dijína tem o mesmo sentido que a palavra Orunkó.
O Orunkó significa em Yorubá “nome”, sendo que no Brasil tem o mesmo sentido, porém ele é mais usado para descrever o nome do Orixá. Não podemos confundir com a dígina que é usada na Nação Angola, que seria o novo nome do iniciado, na Nação ketu, não tem dígina, apenas o Orunkó do nosso Orixá. E esse tem uma enorme importância, o Iyawô só nasce a partir do dia do nome, onde o orixá pronúncia seu segredo em alto e bom som, porém o iniciado deve mantê-lo em sigilo, pois ele diz a essência de seu orixá, e de sua vida.
Quando uma pessoa se inicia no culto dos Orixás, passa por certos fundamentos (obrigações, e resguardo) que vai variar de nação e de casas de santo. após a feitura de seu orixá, a grande manifestação, com a participação de adeptos, e praticantes é o dia de dar o nome, o dia do Orunkó ou seja: o nome pelo qual o noviço (a) será ser chamado (a).
A partir daí, na maioria das vezes isso não acontece principalmente nas casas de Ketu, poucos tem o conhecimento do novo nome que o Iyawô tem, seu nome é gritado bem alto, todos ouvem, mas não se liga no que está sendo declarado publicamente, passado o momento da festa somente a pessoa, a mãe ou pai de santo, mãe pequena, e uma ekede principal da casa ou uma egbome com cargo na casa é que sabem o nome desse orixá.
Em outras nações o iniciado (a) passará ser chamado pelo seu nome o nome que ele deu em publico, é lógico de que não vou entrar em discussão sobre a validade ou não desse ato, para quem não revela ou para quem revela o (s) nome (s) dado (s), pois existem prós e contras. Alguns nomes são comuns, outros nem tanto, alguns trazem mensagens que são verdadeiros mistérios que devem ser preservados, alguns significam situações que é bom que fique restritos somente a poucos e que sejam pessoas de confiança. Exemplos de nomes dados por iyawos: Iyatunde, (a mãe que retornou), Babatunde (o pai que retornou) Odé Akinkanju (Caçador bravo) e muitos outros.
Já vi duas ou três maneiras de “tirar o Orunkó , e isso vai de axé para axé. O sentido é o mesmo. Nosso Orunkó é eternizado em um axé, pois ele é citado em muitas obrigações, e quando temos casa aberta ele se torna ainda mais importante, pois tanto ele quanto o Orunkó de nossos antepassados são citados, como uma forma de demonstrar que os atos e ensinamentos que estão sendo passados têm fundamento, tem hierarquia, que não viemos do nada e também tem a função de agradecer aqueles que tanto se dedicaram para que hoje possamos desfrutar dessa religião tão mágica e especial.
O Iyawô deve saber o que significa o seu Orunkó, e assim ele pode entender melhor seu próprio destino. Outra coisa que acontece são os “apelidos” que são usados dentro da casa de santo, por exemplo: Quem é de Ogun, chamamos de Ogunssy, quem é de Oxum, Oxunssy... Essa terminação, ssy, vem de "sì" – que significa "adorar" em yorubá, ou seja, quando chamamos alguém de Oxunssy, na verdade estamos chamando de Adorador de Oxum, iniciado a Oxum, ou seja, é uma forma carinhosa, não confunda com Orunkó.