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SUMÁRIO
1 PSICOPATOLOGIAS: NEUROSE, PSICOSE, PERVERSÃO E HISTERIA ....3 2 NEUROSE ..................... ............................................... ................................................... ................................................... ............................. ... 13 2.1 Neurose Obsessiva ...................... ................................................ .................................................... ................................. ....... 14 2.2 TOC - Transtorno obsessivo compulsivo ....................... ................................................ .........................20 3 PULSÃO ........................ .................................................. ................................................... ................................................... ............................. ...25 3.1 Pulsão morte ........................ .................................................. ................................................... ......................................... ................ 26 3.2 Pulsões de Vida: ...................... ................................................ .................................................... ..................................... ...........26 3.3 Princípio de nirvana...................... ................................................ .................................................... ................................. ....... 27 3.4 Princípio do prazer ....................................................................... .................................................................................. ...........27 3.5 Princípio de realidade realidade ............... ......................................... .................................................... ..................................... ........... 28 3.6 A Retomada da vivência de dor .............................................................. ..............................................................29 3.7 Neurose de Angústia: ................................. .......................................................... ............................................. ....................31 3.8 Ataques de ansiedade ansiedade:: ................. ........................................... .................................................... ................................. ....... 33 4 PSICOSE ....................... ................................................. ................................................... ................................................... ............................. ... 42 4.1 Esquizofrenia:....................... ................................................. ................................................... ......................................... ................46 5 DEPRESSÃO...................... ............................................... .................................................. .................................................. .........................48 6 PERVERSÃO...................... ............................................... .................................................. .................................................. .........................57 6.1 Fetiche e a Recusa da Perversão ........................................... ........................................................... ................63 7 A HISTÓRIA DA HISTERIA ....................................................... ........................................................................... ....................66 7.1 Parceria com Breuer................................... Breuer............................................................ ............................................. ....................68 7.2 A histeria e a conversão ........................ ................................................. .................................................. .........................70 7.3 O sintoma .............................................................. ........................................................................................ .................................. ........ 72 BIBLIOGRAFIA ......................... .................................................. .................................................. .................................................. .........................76
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PSICOPATOLOGIAS: PSICOPATOL OGIAS: NEUROSE, PSICOSE, PERVERSÃO E HISTERIA
Fonte: psicanaliseclinica.com
Até o final do século XVIII o sofrimento mental ainda guardava relações com a noção de ‘desmesura’ da Grécia Antiga. Este saber era investido de uma filosofia que
pensava em qualidades fixas do homem, como a teoria dos humores ou a teoria dos temperamentos, ou então era aproximado do pensamento religioso, quando imperavam as concepções supersticiosas sobre a loucura e a predominância da prática do isolamento como principal forma de tratamento (Ceccarelli, 2005). Segundo Ceccarelli o conhecimento partia de tentativas ineficazes de localizar no corpo do doente as causas das paixões violentas, assim como acontece em muitas teorias objetivistas da psicopatologia contemporânea. No Tratado médico e filosófico sobre a alienação alienação mental Pinel (Citado por Pessotti, 1999, p. 57) defendeu que não se poderia compreender o conceito de alienação se não se enfoca a causa que mais frequentemente a provoca: as paixões violentas ou exasperadas pelas contradições. contradições. Houve um interesse em se aplicar estudos propriamente clínicos para pensar um tratamento do sofrimento mental que não estivesse subordinado ao relativo fatalismo das noções qualitativas que permeavam o pensamento Grego, assim como apareceu o 3
interesse de romper com a ideologia religiosa que envolvia as manifestações do adoecer psíquico. Nesta época de florescimento de uma psicopatologia no campo da medicina psiquiátrica prevaleceu a tentativa de classificar e etiquetar as organizações psíquicas, dando privilégio à sintomatologia e à descrição do processo evolutivo das doenças. Segundo Paul Bercherie (1989), em termos de história o espaço franco-alemão foi o que mais gerou consequências no campo da psicopatologia, já que os anglo-saxões não, tinham gosto pela clínica devido ao excesso de pragmatismo e desconfiança pelos saberes que não tem consequência imediata. Os italianos utilizaram aspectos tanto das teorias francesas quanto das alemãs, inclusive devolvendo esses conhecimentos com características mais aperfeiçoadas. Segundo Alvarez, Esteban e Sauvagnat (2004, p. 68), na obra Fundamentos de psicopatologia psicanalítica, foi no início do século XIX que os médicos ousaram uma maior aproximação dos alienados e iniciaram um rigoroso processo de produção teórica sobre a classificação dos tipos de alienação mental. Estes autores lembram que já em 1798 Pinel havia contribuído enormemente para o nascimento da psicopatologia com seu texto Nosografia Filosófica ou Método de Análise aplicado à Medicina. Neste texto Pinel elaborou primeiramente a distinção de quatro grupos de alienação mental. O primeiro grupo incluía a mania, melancolia, histerismo e hipocondria. A mania e a melancolia se tornaram alvo de muitos estudos de Pinel culminando na publicação do primeiro Tratado propriamente psiquiátrico. Este psiquiatra já desconfiava das suposições sobre lesões anatômicas como causa das alienações e se dedicou principalmente à dimensão apreensível dos sintomas. Estes sintomas passaram a ser definidos por um critério chamado de ‘lesões do intelecto
ou da vonta de’, em detrimento dos sintomas especificamente orgânicos (Pessotti, 1999, p. 58). Apontou também para hipóteses sobre a possível hereditariedade das alienações e deu grande importância aos acontecimentos externos e às emoções violentas e exageradas como função de causa do sofrimento mental.
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Um dos principais rompimentos com as tradições anteriores sobre a dita loucura foi a defesa da existência de uma ‘humanidade inalienável’ no núcleo de qualquer
sofrimento mental. Isso abriu caminho para pensar um laço entre paciente e médico que possibilitaria o tratamento moral que ele propunha, fundou-se a máxima de que há um tratamento possível, por mais que o alienado seja um estrangeiro de si mesmo (Alvarez et. al,
2004, p. 69). Essas afirmações permitiram devolver ao alienado algo de sua
cidadania, passando pela noção de responsabilidade e apontando para a necessidade de se permitir o acesso aos seus direitos civis. Ainda segundo Alvarez et al (2004), Pinel inaugurou uma noção nosológica de psicopatologia fundamentada na relação entre razão e desrazão, edificou um extenso conhecimento nosográfico isolando variedades clínicas regulares e criou um tratamento moral que era realizado individualmente de acordo com cada caso. Substituiu assim o hospital Geral pelo asilo terapêutico. As categorias que encontramos no Tratado são as mesmas utilizadas no fim do século XVIII por Cullen e Chiarugi: mania, melancolia e demência; a essas três Pinel acrescentou a idiotia (Pessotti, 1999, p. 57), seguindo ainda as perspectivas sintéticas de autores como Bossier de Sauvages e Laenec. No Tratado de Pinel os quatro tipos clínicos da alienação mental se caracterizavam desta maneira: melancolia ou delírio parcial é quando um único objeto absorve todas as faculdades mentais , mania ou delírio generalizado é caracterizado por uma agitação nervosa ou agitação extrema que leva ao furor, delírio geral, juízos extravagantes e à ocupação de todas as faculdades do entendimento, a demência seria o debilitamento intelectual e generalizado, ausência de juízo e ideação sem conexão, e o idiotismo seria a abolição total do entendimento. Afirmava também que todos esses tipos clínicos poderiam compor a evolução do caso em um mesmo sujeito. Os apontamentos na direção da noção de ideação mais tarde puderam ser pensados por Freud como representação inaugurando um campo propriamente psicológico para o estudo dos sofrimentos mentais. Essa divisão dos tipos na teoria de Pinel acabou por se tornar o fundamento essencial de todas as classificações desenvolvidas pelos psiquiatras franceses ao longo dos 150 anos subsequentes (Alvarez et al, 2004, p. 69). 5
Esquirol foi um dos alunos de Pinel e foi conhecido por ter sido muito mais um clínico antes que um teórico de psicopatologia. Ele também defendia a noção de tipos de paixões como diferenciação nosológica das alienações. Demonstrou a existência de dois polos: o depressivo (lipemania) e o expansivo (monomania). O primeiro se caracterizaria pelas paixões tristes, debilitantes ou opressivas e o segundo grupo era caracterizado como a manifestação de paixões cuja força o paciente não conseguia reprimir, causando a proliferação indefinida dos delírios. Em termos nosográficos apontou para a existência de transtornos de humor, variando entre os polos maníacos e depressivos e os transtornos de juízo caracterizado pelos delírios crônicos. Esquirol manteve o núcleo nosológico de Pinel que se sustentava na ideia de distúrbio das funções racionais, intelectuais e da vontade (Pessotti,1999, p. 61). Alguns adeptos da classificação de Esquirol, sob orientação de Antoine Laurent Jessé Bayle, investiram em estudos de cunho biologicista para tentar encontrar as supostas lesões anatomopatológicas que pudessem estar na base dos sintomas da alienação. Realizaram necropsias e apresentaram dados dignos de pouca confiança principalmente pela dificuldade em definir regularidades sintomáticas específicas como aquelas decorrentes de doenças propriamente biológicas. Além disso, os orientandos de Bayle (seguindo as indicações do então professor Royer-Colard) confundiam sintomas (como a ‘gota’, gastrite, gastroenterite, etc.) com as causas das alienações mentais
(Alvarez et al, 2004, p. 71). Bayle foi o teórico que propriamente criou a noção de doença mental como decorrência das leis biológicas, e a psicopatologia permaneceu um tanto estagnada até o aparecimento de Jean-Pierre Falret. Este autor também assumiu a esperança de concretização de uma vertente biológica nas pesquisas em psiquiatria, porém realizou avanços pela sua noção de classificação que, segundo ele, deveria manter o modelo dos agrupamentos de espécies das ciências naturais, o que concedeu maior rigor em suas classificações naturalísticas da alienação mental. Os substratos orgânicos como etiologia para os vários tipos de sofrimento mental continuavam como hipótese difícil de ser demonstrada.
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Falret não concordava com a noção de monomania (delírio específico relacionado a apenas um objeto com a manutenção da razão em outros aspectos do funcionamento mental), mas manteve a ideia da existência de transtornos maníaco-depressivos, ou loucura de dupla forma. Falret elogiava o valor fundamental do Tratado de Pinel e os estudos de Esquirol, mas criticava a ideia de que os aspectos psicológicos, como tipos e conteúdo dos delírios, lugar das noções de razão e vontade na nosologia pineliana, determinavam as variadas tipologias clínicas. Para ele essas categorias chamadas de filosóficas não eram suficientes para eliminar a confusão entre os tipos encontrados na clínica, até mesmo a diferenciação entre mania e melancolia de Pinel e Esquirol foi amplamente criticada por serem artificiais e teóricas, já que na observação clínica esses tipos variavam em um mesmo paciente. Para ele todas as manifestações (monomania, melancolia, mania generalizada) bem como os tipos de delírios, advinham de uma mesma doença de fundo que pode afetar diferentes e variados aspectos das chamadas ‘faculdades mentais’ (inteligência, vontade,
etc.). Isaías Pessoti (1999, p. 79) afirma que Pinel e Esquirol realizaram o trabalho de retirar a noção de sofrimento mental de um limbo teórico inespecífico e incompreensível. Foram os desbravadores dá uma psicopatologia sustentada em observações clínicas prolongadas sobre o decurso das alienações. Falret, mais de meio século depois, já encontrava um vasto campo de estudos aberto por esses pioneiros e realizou sistematizações mais coerentes com os tipos de classificações das doenças médicas. De nossa parte, pensamos que o benefício de uma classificação baseada na estrutura da botânica está em organizar um objeto para o qual o olhar do psiquiatra pode encontrar respostas pretensamente objetivas, mas continua sendo (como qualquer classificação), uma ordenação arbitrária, artificial e subordinada à singularidade da experiência. Nos parece que esse foi o preço pago pela psicopatologia francesa do século XIX: fixar seus limites na superfície de um diagnóstico sintomatológico, por mais que essa sintomatologia fosse muito diferente de tudo o que já tinha aparecido em termos de classificações da loucura, a consequência mais interessante dessa história francesa 7
sobre psicopatologia, porém, está na inauguração de um olhar que também ouve, demonstrado pelos estudos e apresentações de casos clínicos, a fecundidade clínica dos franceses deve ser contada como o grande avanço da psicopatologia desta época. Na mesma época das publicações de J-P. Falret (meados do século XIX) encontramos as classificações de Baillarger. Este autor defendia a noção de monomania e apresentou argumentos que apontavam para a existência da dimensão da responsabilidade na formação da alienação mental. Ajudou a inaugurar a ideia de uma loucura de dupla forma (maníaco-depressiva) e criou a diferenciação entre alucinações psíquicas e alucinações psico-sensoriais. Essa forma de pensar as alucinações mostravam o caráter linguístico dos sintomas: uma linguagem que se impõe automaticamente independente da vontade. Essa noção foi corroborada mais tarde por Jules Seglás e se manteve até o início do século XX com Clerambaut, quando elaborou a ideia de automatismo mental também utilizado por Jacques Lacan para caracterizar alguns sintomas da psicose em matéria de psicanálise (Alvarez et al, 2004, p. 74). Como havíamos afirmado a psicopatologia se nutriu efetivamente das teorias dos franceses e dos alemães. Na França do século XIX predominou a prática do alienismo que viemos estudando através desta linhagem que se iniciou com Pinel. Ao longo do século XIX vimos a oposição, na França, entre os clínicos que valorizavam o aspecto hereditário e orgânico das doenças e outros que valorizavam aspectos psicológicos (razão, inteligência, vontade, moral, etc.) e as experiências ‘externas’ (infância, história individual das
gêneses das paixões tristes ou violentas). No contexto alemão, da mesma forma, houve duas abordagens que se alternaram nas correntes ‘psicológicas’ e ‘organicistas’.
Uma destas formas de psicopatologia alemã se associava aos estudos em Filosofia (Kant, Locke, Condilac, Hegel e Schelling) e inauguraram um movimento de orientação romântica e decididamente psicológico chamado de Psychiker. Interessaramse pelo estudo da clarividência, sonambulismo, adivinhação, vidência, simbolismo dos sonhos, realizando uma associação entre a patologia mental com as artes e principalmente com a literatura (Alvarez et al, 2004, p.75).
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Os adeptos da Psycher afirmavam, como Johann Christian Heinroth (que publicou seu primeiro trabalho em 1818, segundo Pessotti, 1999, p. 63), que as patologias mentais eram efeitos das sobreposições dos sentimentos e paixões sobre a razão, da moral sobre a biologia e a hereditariedade, necessitando de mais reflexão e especulação do que autópsias e estudos da natureza. Heinroth chegou a afirmar que as patologias são efeitos das paixões e dos pecados sobre o campo da moralidade, apontando para alterações dos estados psíquicos que reduzem a liberdade. Ele foi o primeiro a utilizar o termo psicossomático nas disciplinas de Medicina. Em sua classificação havia quatro tipos de patologias: delírios (efeito de amores e ciúmes violentos), melancolia (efeito do sentimento de pena, aflição ou preocupação), paranóia (efeito da soberba, exaltação, ambição ou fanatismo) e a demência (que seria efeito dos excessos em geral, do onanismo e da bebida, por exemplo). W. Ideler (1795-1860) afirmava também que as patologias eram manifestações de hipertrofia das paixões indomáveis, ou o retorno das paixões reprimidas, caracterizando a corrente Psycher do pensamento alemão. Por outro lado, existiu o movimento denominado de Somatiker que defendia que o cérebro era a fonte de todas as enfermidades e dos processos psíquicos em geral. Segundo Alvarez et al (2004) os Somatiker eram materialistas como M. Jacobi que afirmava que qualquer mal físico, em qualquer órgão, poderia afetar o psiquismo, representando a ideia de ‘enfermidades físicas vinculadas à loucura. W. Griesinger
(1817-1868) também defendia que o transtorno mental é uma afecção cerebral, bem como Chiarugi e Maudsley10. Griesinger utilizou o termo repressão (verdrangnung) e metamorfoses do eu para caracterizar o curso das patologias – servindo de base para o conceito de recalque de Freud e para as pesquisas sobre os mecanismos psicológicos envolvidos na patologia mental. Griesinger defendia reformas no funcionamento dos asilos psiquiátricos e que os tratamentos tivessem uma duração previamente combinada, para que o paciente pudesse voltar ao convívio social e familiar o mais breve possível. Este movimento alemão denominado Somatiker se caracterizava por defender a existência de uma doença mental de modelo unitário que poderia ir desde transtornos de humor – alterações afetivas como mania ou melancolia – até evoluir para os delírios e 9
demência num mesmo indivíduo. Os fatores etiológicos eram supostos na biologia, mas o curioso é que incluíam também os efeitos das relações familiares, da infância e da história interior da individualidade psíquica (Alvarez et al, p.76). Grandes nomes surgiram no contexto da psicopatologia alemã, como Kahlbaum e Kraepelin no campo da nosologia, Westphal, Alzheimer, Meynert e Wernick no campo das ‘patologias do cérebro’ e o próprio Griessinger foi um dos autores mais estudados
por Freud, deixando o legado da necessidade de estudar a história individual do paciente como possíveis causas de algumas patologias mentais. Esses tipos de nosologias alemãs acabaram por influenciar a psicopatologia mais do que a francesa. De acordo com Alvarez et al (2004) o motivo estaria no centralismo francês que perdia em multiplicidade teórica para a grande quantidade de universidades alemãs espalhadas pelos seus Estados. Ainda na segunda metade do século XIX surgiu a figura de Morel. Este autor iniciou suas pesquisas com Laségue, em 1840, estudando a história das doenças mentais. Chegou a deplorar, no início, o descaso com que outros autores tratavam os processos psicológicos envolvidos na loucura. Depois de muitas pesquisas com Claude Bernard, mudou de ideia e se dedicou a buscar evidências na fisiologia e anatomia (Pessotti, 1999, p. 82). Morel defendia a hereditariedade dos transtornos mentais e criou a teoria da degeneração biológica. O hospital onde ele trabalhava recebia muitos pacientes afetados por uma epidemia de bócio numa região muito pobre com grande porcentagem de pessoas alcoolistas. Morel reuniu todas essas categorias no seu arcabouço psicopatológico e influenciou o Estado a combater qualquer forma de diferença. Foi o nascimento da chamada Medicina Social, defendendo a exclusão da noção de subjetividade e de responsabilidade em nome do determinismo genético, influenciado por uma interpretação equivocada da teoria da seleção natural de Charles Darwin. Acompanhando essa perspectiva organicista de Morel, apareceram Magnan, Kraft- Ebing e Cesare Lombroso. Este último desenvolveu técnicas chamadas de antropologia criminal, que tentava identificar as psicopatologias através da análise das medidas cranianas. Maudsley e
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Ribot também foram amplamente influenciados pela interpretação do evolucionismo de Darwin. Maudsley caracterizou seu estudo, porém, pela diferença fundamental entre afeto e ideação. Defendia que nas classificações de Pinel e Esquirol não havia possibilidade de reconhecermos patologias que apresentam transtornos específicos em um ou outro desses dois eixos. Essa diferença pode ter influenciado as pesquisas de Freud sobre os mecanismos básicos da função do inconsciente: condensação e deslocamento, que se caracterizam por uma relação específica entre afeto e conteúdos ideativos ou representacionais. É importante também lembrarmos de Laségue, que não era tão radical quanto os anteriores da ‘medicina sócio criminal. Em sua noção de delírio de perseguição conseguiu
isolar determinados componentes importantes para o estudo da psicopatologia como: a certeza inabalável do alienado, o sentimento de inocência, a perplexidade, o pesar e a tentativa delirante de explicação dos acontecimentos que o afetam. Interessou-se pelo estudo da chamada folie a deux, do delírio alcoólico e do estado mental das mulheres histéricas, que ele qualificava como ‘mentira patológica’ o u ‘perversão intelectual’ e também apontou para uma certa complacência e tranquilidade
das mulheres em relação ao próprio mal. É interessante notar que as categorias de paranoia e de histeria normalmente se mantinham refratárias à medicina e à explicação anatomopatológica, culminando numa explicação apressada pela via da mentira patológica. Em 1880 muitos alunos de Magnan se interessaram pelas variantes do delírio crônico e muitos neurologistas e clínicos gerais passaram a se interessar pelo estudo da chamada histeria. Kahlbaum se interessou pelos estudos da catatonia (loucura de tensão) em 1874 e Hecker defendeu a noção de hebefrenia, que se iniciava com alterações profundas de humor com sintomas de melancolia, ideias delirantes vagas, depois ideias fixas até o embrutecimento total e a estupidez. Ainda de acordo com Alvarez et al (2004, p. 82) sob essa orientação clínica e nosológica, inspirando-se em Morel com sua noção de demência precoce, em Moebius com a noção de transtorno neurológico endógeno e na psicologia experimental de Wundt, apareceram os trabalhos de Kraepelin. 11
Este psiquiatra elaborou oito edições de seu compêndio de psicopatologia ao longo de sua vida. Esteve sempre preocupado em diferenciar e classificar as enfermidades mentais, separando determinadas manifestações mórbidas de maneira regular e homogenia até convertê-las em enfermidades independentes. Preocupou-se muito com a evolução e o término das enfermidades, o que produziu uma certa dificuldade na averiguação de suas hipóteses, já que era necessário observar o caso até seu término para realizar um diagnóstico mais preciso. Kraepelin indicava um certo pessimismo terapêutico e uma noção quantitativa quanto aos graus de adoecimento psíquico. Foi um grande sistematizador e professor e considerava os pacientes como uma carga muito pesada para a família e para o Estado, observando a maior dificuldade no fato de não entendermos o idioma dos alienados. Os trabalhos de Kraepelin se difundiram num panorama que mantinha a oposição entre psicose maníaco-depressiva e demência precoce (resultada de um processo psíquico degenerativo). Interessou-se pelo estudo da catatonia e da demência paranoide, que juntamente com a demência precoce foram chamadas, na 5ª edição de sua obra, de enfermidades metabólicas. Por outro lado, apareciam as enfermidades constitucionais como a loucura periódica (em suas fases maníacas, depressivas ou circulares) e a paranoia. Na 6ª edição a demência precoce aparece como um agrupamento de uma síndrome nuclear (caracterizada pela indiferença, apatia, falta de vontade) mais alguns sintomas acessórios como alucinações, ideias delirantes e síndromes catatônicas. Na 8ª edição a demência precoce já englobava dez subtipos e houve significativas variações na explicação etiológica desta enfermidade, influenciadas pelos trabalhos de Bleuler e Chaslin. Mais uma vez é necessário observarmos a noção de paranoia, que nesta edição aparece tendo como relação causal a elaboração enfermiça de certas experiências vitais próprias ao enfermo, assim como o chamado delírio querelante que Kraepelin afirmava como sendo de relativo a causas externas. Krapellin considerava a existência de doenças exógenas (adquiridas) e endógenas (congênitas) e tratava como problemática três das entidades clínicas propostas: a paranoia, a demência precoce e a loucura maníaco-depressiva. Em 1911 Bleuler propôs o nome esquizofrenia para substituir a noção de demência precoce, como uma 12
‘expressão de movimentos psicológicos’ e não de lesões anatômicas. Mais tarde a noção
de paranoi a viria a se tornar o ‘delírio de interpretação’ nas publicações de Serieux e Capgras. Kaepelin, segundo Paul Bercherie (1989), resgatou o trabalho nosológico produzido por Pinel e Esquirol. Como Pinel, estava convencido de que a investigação psicológica era indispensável para a compreensão das doenças mentais e de que, sendo assim, a ‘psicologia normal’ podia oferecer elementos conceituais à análise clínica
(Bercherie, 1989, p. 162). Em 1899, na sexta edição do compêndio, Kraepelin chamou a atenção para a necessidade de se utilizar conceitos da anatomia patológica, da etiologia e da clínica para pensar as doenças mentais, pois nenhuma destas áreas isoladamente tinha fornecido elementos seguros com vista a uma classificação dos distúrbios mentais As críticas ao trabalho de Kraepelin se condensaram no seu descrédito da noção francesa de ‘delírio crônico’, pois qualquer forma delirante poderia ser enquadrada na
noção de demência precoce ou nas parafrenias. Criticado também pela sua maior proximidade aos laboratórios do que à clínica (seguindo Meyer, Meynert, Wernick e Broca) demonstrando uma dificuldade em entrar em contato com os pacientes. 2
NEUROSE
A Neurose, por sua vez, divide-se em histeria e neurose obsessiva. Seu mecanismo de defesa é o recalque ou repressão. Então, enquanto o psicótico encontra sempre fora de si o problema, e acaba por revelar seus distúrbios, ainda que de forma distorcida, o neurótico age da forma oposta. O conteúdo problemático é mantido em segredo. E não só para os outros, mas para o próprio indivíduo que sente. O neurótico guarda dentro de si o problema externo. É disso que se trata o recalque ou repressão. Para que alguns conteúdos fiquem recalcados ou reprimidos, a neurose provoca no indivíduo uma cisão da psique. Tudo o que é doloroso é recaldado e permanece obscuro, causando sofrimentos que o indivíduo mal pode identificar apenas sentir. Por não poder identificá-los a pessoa passa a reclamar de outras coisas, de sintomas que sente (e não da causa). 13
No caso da histeria, o indivíduo permanece dando voltas em torno de um mesmo problema insolúvel. É como se a pessoa nunca conseguisse encontrar a verdadeira causa de sua frustração, por isso as constantes reclamações. É possível identifica ainda uma busca constante por um objeto ou uma relação idealizada, na qual o indivíduo deposita aquela frustração recalcada. Isso, logicamente, leva a mais frustrações. Na Neurose Obsessiva o indivíduo permanece também dando voltas em torno dos mesmos problemas. Nesse caso, no entanto, existe uma forte tendência em organizar tudo ao seu redor. Essa necessidade de organização externa seria um mecanismo para evitar pensar nos problemas reais recalcados em seu interior. 2.1 Neurose Obsessiva
A neurose obsessiva apresenta uma complexidade e uma riqueza de aspectos que levou, de um lado, Freud a dizer que se tratava do tema mais gratificante da pesquisa psicanalítica, e de outro, Lacan a chamar a atenção para uma carência teórica, que deriva justamente da diversidade de facetas apresentadas por essa configuração discursiva. Na clínica não são poucas as dificuldades enfrentadas pelos analistas na condução do tratamento de neuróticos obsessivos, em consequência do modo como se processa a dialética da demanda e do desejo nesses casos. Como todo neurótico, o obsessivo está orientado para o desejo, mas o característico de sua sintomatologia é que, ao apreender o desejo no Outro, o que causa angústia, ele recorre como defesa à demanda do Outro. O recobrimento do desejo pela demanda revela a profunda dificuldade do sujeito obsessivo para passar ao lugar do desejo e sustentá-lo por sua conta e risco. Ele está sempre na dependência que o Outro o autorize ou lhe peça isso. No desenrolar da análise de um obsessivo, nos deslocamentos e viradas que podem vir a se realizar, esse modo de operação se manifesta, dando a esse percurso a característica de um constante vai e vem. Como afirma Lacan: na medida em que a análise sustenta uma dimensão análoga à da demanda, algo subsiste até um ponto muito avançado desse modo que o obsessivo tem de escapar (1962-63, lição XXII). 14
Freud localizou os problemas do obsessivo em sua relação com o desejo inicialmente no trauma primitivo, no qual, à diferença da histérica, ele desempenhou um papel ativo e obteve muito prazer. Mais adiante, após a análise do Homem dos Ratos, chamou a atenção para a precoce desfusão pulsional que marca seu desenvolvimento, por meio da desvinculação da tendência destrutiva, que está na origem dos impasses vividos pelo obsessivo na aproximação do objeto do desejo, na sua agressividade recalcada, e na forma ambivalente de se dirigir ao Outro. Estas indicações são preciosas porque permitem destacar duas questões centrais para a análise da complexa dinâmica do desejo na neurose obsessiva: a relação ao significante falo, que ressurge em todos os pontos da fenomenologia do obsessivo, por meio de sua poli presença nos sintomas, e a prevalência da morte que marca está dinâmica de forma radical. Essas duas questões não são, certamente, sem relação, o conceito de pulsão de morte, tal como formulado por Freud em 1920, indica que para o homem a vida projeta se desde sempre para a morte, nossa única certeza é a morte, morte essa que não pode, contudo, ser experimentada na sua radicalidade, como ponto limite, cuja ultrapassagem abole toda experiência possível. Mas é por referência a esse ponto de falta que se desenvolvem os fenômenos da vida, como mostra Freud e Lacan, por sua vez, vem destacar que é pela sujeição ao significante, por meio da qual experimentamos a vida, que o homem percebe-se como já morto. Como não há experiência da morte, ela é simbolizada de outra maneira, justamente pelo significante privilegiado que representa o desejo e o impulso da vida. É o falo que assume um lugar especial na cadeia significante para introduzir a dimensão de falta-a-ser, por meio da qual a linguagem marca a vida do sujeito. O que interessa discutir aqui é o modo particular como se articulam a referência ao significante fálico e a proeminência da morte na neurose obsessiva, na maneira própria como o obsessivo constitui seus sintomas, e que revela as dificuldades que ele enfrenta na sustentação de seu desejo. De início, é importante enfatizar que para o obsessivo, tal como para a histérica, a questão do desejo é central. Mais do que isso, para o obsessivo, o desejo apresenta-se 15
em seu estado de condição absoluta, que lhe é constitutivo, como desejo puro. Lacan dá o exemplo da criança que irá se tornar um obsessivo, dizendo que “ela tem ideias fixas”,
que é exigente e que sua demanda é intolerável. Não se trata de uma demanda como as outras, mas tem esse caráter de condição absoluta que é própria do desejo. A ênfase do sujeito recai não apenas sobre o desejo, mas no que ele chama de “desejo como tal, isto é, como aquilo que, em sua constituição, comporta a destruição do Outro” (Lacan, 1957-58, p. 414).
Enquanto a histérica vai buscar seu desejo no desejo do Outro, isto é, no que ela imagina ser o desejo do Outro, o obsessivo vai buscá-lo em um além, o que faz com que ele faça o seu desejo passar à frente de tudo. Ao buscá-lo além, o que ele visa é o desejo como tal, na medida em que ele nega o Outro. Vemos aí claramente a presença da pulsão de morte como sustentação desse desejo puro. Mas o Outro é o lugar do desejo, e para se constituir, o desejo do sujeito precisa desse apoio no Outro. A destruição do Outro representa a destruição do próprio desejo, e é nisto que esbarra o obsessivo, revelando a profunda contradição entre ele e seu desejo. Na verdade, trata-se de uma contradição que é interna ao próprio desejo, tal como é abordado nesse caso, nesse mais além que o constitui. Disso decorrem as constantes idas e vindas do obsessivo, uma vez que a possibilidade de realização de seu desejo apresenta-se como mortal. É desse momento que ele se afasta, na medida em que alcançá-lo significa matar o desejo, Lacan chama a atenção para o fato de que, mais do que uma distância do objeto, trata-se na neurose obsessiva de uma distância do desejo. Na clínica isso se manifesta de modo sensível, onde os avanços discursivos do obsessivo são frequentemente seguidos de recuos, a aproximação do desejo é sentida como perigosa e angustiante, uma vez que ao ser apreendido no Outro, esse desejo surge fundamentalmente como estranho para o sujeito. No dilema entre destruir o Outro ou mantê-lo a qualquer custo, o obsessivo revela sua profunda dependência do Outro para a obtenção do acesso ao desejo. A saída que encontra é recobrir o desejo com a demanda do Outro, em que o desejo é denegado e assume a forma imperativa da necessidade, o obsessivo está sempre à espera de que o Outro lhe peça algo, movimento pelo qual ele anula o desejo 16
do Outro, reduzindo-o à demanda. Mas é por meio disso que ele sustenta seu desejo como excluído. A destruição do desejo do Outro poderia sugerir uma proximidade dessa estrutura com a psicose. Todavia, como indica Lacan no Seminário 5, as formações do inconsciente (1957-58), o que está em jogo no caso do obsessivo é a denegação do desejo do Outro (Verneinung), e não a foraclusão (Verwerfung) típica da psicose, que implicaria na impossibilidade de apreender o desejo do Outro. Diversamente do psicótico, o obsessivo está referido ao Outro, como lugar da fala, para onde se dirige a demanda e onde se descobre o desejo. Ele está inteiramente no significante, como atesta o caráter verbal das obsessões e das blasfêmias, assim como seu discurso sem furo, carregado de sentido, que serve como uma couraça protetora por meio da qual ele anula o desejo do Outro, e, portanto, o seu próprio desejo. Nesse quadro, qual é o lugar do significante fálico, uma vez que ao pretender destruir o desejo do Outro é o falo como significante do desejo do Outro que é anulado? É importante lembrar que o mecanismo da anulação pressupõe o significante – isto é, o que se anula é o que já existe como significante. Isso fica evidente na dinâmica do obsessivo, uma vez que ela se articula em torno do significante fálico, que aparece de forma velada nos objetos que ele encontra apoio para o seu desejo. O que está em jogo nesse caso, contudo, é a prevalência do falo imaginário, que ressurge também nesse Outro que paradoxalmente o obsessivo precisa manter, sob pena de se ver desfalecer completamente como sujeito. É por meio de formulações imaginárias que ele sustenta esse Outro, continuamente ameaçado de cair. O grande outro aparece através da imagem do outro semelhante, que se apresenta para ele como completo e potente, ou seja, como representante do falo imaginário, objeto de identificação e de rivalidade. Na clínica do obsessivo pode-se perceber sempre a presença desse irmão ou amigo que é mais viril do que ele imagem idealizada de completude visada pelo sujeito, como objeto de amor e ódio. O obsessivo, como a histérica, acedeu à ordem fálica, mas é em torno do objeto anal, objeto privilegiado da demanda materna, que ele faz girar a sua economia 17
desejante. O objeto excremencial, entretanto, só adquire seu valor de objeto-tampão por referência ao falo. No Seminário sobre a angústia (1962- 63), Lacan tece considerações importantes a propósito do lugar desse objeto na constituição do desejo, em sua função de causa, como primeiro objeto que simboliza a castração, a relação agalmática da mãe com as fezes de seu filho, na qual, ao mesmo tempo que se demanda, se recusa, só pode ser concebida em relação ao falo e à angústia fálica como tal. É ela que vai situar a ambivalência e a divisão do obsessivo em relação à demanda do Outro é de mim e não é de mim que se trata, pela sua duplicidade, simboliza muito bem o falo. A questão central do obsessivo na relação com seu desejo localiza-se, portanto, na relação com o desejo/demanda da mãe, que introduz precocemente na vida do sujeito o problema do desejo. É ao se colocar como objeto do desejo da mãe, isto é, ser ou não ser o que ela deseja, portanto, como falo, que seu desejo sofre esse efeito de destruição tão característico, que o impele a manter uma distância em relação a ele. É por meio da articulação da demanda, que ele mantém sua relação com o desejo. Como diz Lacan: “É numa certa relação precoce e essencial com sua demanda, ($<>D)
que ele pode manter a distância necessária para que lhe seja possível em algum lugar, mas de longe, esse desejo anulado em sua essência, esse desejo cego que se trata de garantir” (1957-58, p. 481).
O que caracteriza sua demanda precoce e exigente é que se trata de uma demanda de morte, porque as primeiras relações com o Outro foram marcadas por essa anulação do desejo, em que ele se apreende como desejo no Outro. É esse lugar de enigma do desejo da mãe que ele se vê convocado a ocupar, o que o instala no dilema de saber se ele é ou não é aquilo que é o desejo do Outro. O recurso à demanda como saída para esse impasse, por meio do qual ele preserva o lugar de seu desejo como excluído, anulado, não pode ter no horizonte outra coisa senão uma demanda de morte. É o que se observa nos obsessivos graves, em que os silêncios prolongados, que tantas dificuldades criam ao desenvolvimento da análise, revelam os obstáculos que essa demanda de morte traz para a articulação do discurso do obsessivo e de sua demanda. 18
Na medida em que a demanda de morte é formulada no lugar do Outro, no discurso do Outro, e por ser o Outro o lugar da demanda, ela acarreta a morte da demanda, como é possível apreender na forma sempre desviada, negada, suprimida, ou então agressiva, que o obsessivo formula sua demanda. Mas é nesse intervalo, entre a relação do sujeito com sua demanda e o Outro que lhe é tão necessário, que se localiza o desejo, em si mesmo anulado, mas cujo lugar é mantido, e é isso que pode nos servir de guia na condução da análise de neuróticos obsessivos. A neurose é um sofrimento psíquico provocado pela coexistência de sentimentos contrários ao amor, ódio, medo e desejos incestuosos para com quem ama e de quem se depende, com esta definição entende-se que o Édipo é uma neurose ou, pode se dizer que é a primeira neurose saudável na vida de um indivíduo e sendo a segunda, a crise da adolescência. Assim nossos conflitos com quem mais amamos não passam de reflexos naturais de nossa neurose infantil conhecida como complexo de Édipo. O retorno do Édipo na idade adulta vem em forma de duas neuroses, a neurose ordinária e a neurose mórbida.
Neurose ordinária: são todos os conflitos e desentendimentos que se tem com as pessoas que se ama intimamente pelo desejo ardor que sempre existe. Esta neurose é resultado de uma dessexualização insuficiente pelos pais edipianos, os prazeres e angústias de fantasias infantis mal recalcados preservam toda sua violência e geram a neurose cotidiana presente em todos os seres humanos.
Neurose mórbida: é patológica, aparecem como sintomas recorrentes que inclui o ser humano em uma solidão narcísica e doentia. Seja ele fóbico, obsessivo ou histérico, foi provocado por algo mais grave que um recalcamento insuficiente das fantasias edipianas, trata-se de traumas singulares resultante em pleno período do Édipo.
O abandono: real ou imaginário, também provoca uma imensa aflição na criança, a fantasia do abandono resulta na fobia do adulto. O trauma de maus-tratos, reais ou imaginários, que resulta em humilhação à criança levará a uma obsessão. 19
O terceiro trauma é causado por uma experiência de um intenso e sufocante prazer durante um contato excessivo sensual por quem a criança depende (fantasia de sedução), resultando na histeria. Nos três casos estará sempre a presença de angústia de castração sob uma forma doentia tornando-se um terror de castração. A angústia de castração traumatizante, vivida durante a infância, gera uma neurose patológica na idade adulta. A neurose masculina: uma fobia, na idade adulta, é resultante da fantasia de angústia de abandono pelo pai repressor; enquanto a histeria é resultante da fantasia de angústia de ser assediado pelo pai sedutor; e por fim, a obsessão é resultante da fantasia de angústia de ser maltratado e humilhado pelo pai rival. Na mulher a paixão infantil mais perturbadora é a inveja ciumenta do falo. Na histeria, a menina, agora mulher, ainda acha que não é digna de interesse nem de amor e se torna amarga e triste. Surge nela uma repulsa pela sexualidade, duplicada por uma grande solidão. No complexo de masculinidade, a mulher substitui a ideia de ser castrada e acredita ser munida do Falo. Julga-se onipotente, exibe o Falo em uma atitude de desafio e passa a ter traços masculinos a ponto de ser tornar mais viril que o homem. Uma das variantes desse complexo é a forma assumida de homossexualidade manifesta.
A angú st ia: é uma das variantes edipiana propriamente feminina. Essa
angústia feminina é gerada pelo medo na mulher de ser abandonada pelo homem amado, de ser privada do amor de seu companheiro. Agora mulher, ela desconfia dos homens e teme perder o amor, a alegria de amar, ser amada e sentir-se protegida. Se para o homem o Falo é a força, para a mulher é a felicidade de ser amorosa e ser amada por aquele a quem ama, ou seja, para ela o Falo é o amor. 2.2 TOC - Transtorn o obsessivo compu lsivo
O TOC é um transtorno mental incluído pela classificação da Associação Psiquiátrica Americana entre os chamados transtornos de ansiedade. Está classificado ao lado das fobias (medo de lugares fechados, elevadores, pequenos animais como ratos 20
ou insetos), da fobia social (medo de expor-se em público ou diante de outras pessoas), do transtorno de pânico (ataques súbitos de ansiedade e medo de frequentar os lugares onde ocorreram os ataques), etc. Os sintomas do TOC envolvem alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (preocupações excessivas, dúvidas, pensamentos de conteúdo impróprio ou ruim, obsessões) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua característica principal é a presença de obsessões e/ou compulsões ou rituais. Além disso, os portadores do TOC sofrem de muitos medos (de contrair doenças, de cometerem falhas, de serem responsáveis por acidentes). Em razão desses medos, evitam fazer coisas que de acordo com o que acreditam poderia provocar tais desastres. Em razão disso, no TOC são muito comuns comportamentos evitativos ou evitações (não tocar em trincos de portas, não cumprimentar outras pessoas, não usar banheiros públicos, etc.). As evitações, embora não específicas do TOC, são, em grande parte, as responsáveis pelas limitações que o transtorno acarreta. Esses são os sintomas-chave do TOC. Manifestações do TOC: o toc tipicamente se caracteriza pela presença de
obsessões e/ou compulsões também chamadas de rituais compulsivos ou simplesmente rituais. Costumam também estar presentes manifestações emocionais como medo, ansiedade, culpa, depressão, comportamentos evitativos ou evitações, indecisão, lentidão motora e pensamentos de conteúdo negativo ou catastrófico, apreensão e hipervigilância. Os obsessivos vivenciam exageradamente quaisquer riscos, a ansiedade seria mais intensa quando predominasse essa sensação exacerbada de vulnerabilidade ao perigo, no extremo oposto, estariam pacientes com rituais de simetria, ordenação ou lentidão, com predominância da sensação de não-finalização e menos ansiedade. A dúvida patológica consiste na incapacidade de se certificar, por exemplo, de que a porta está trancada, o botijão desligado, a louça bem lavada ou, mais irracional e incompreensivelmente, de que não engoliram cacos de vidro, não são homossexuais, não traíram o cônjuge ou mataram alguém sem perceber, vale lembrar que o toc já foi 21
conhecido como “loucura da dúvida” (“folie de doute”). Na v erdade, em muitos casos tal
separação é difícil, com os três aspectos muito interligados. Segundo Pitman, o problema central seria a persistência de “sinais de erro”, que
não desapareceriam com o comportamento, mantendo a sensação de dúvida e incompletude. Enquanto o sinal perceptual não coincidir com o referencial interno, as compulsões se repetiriam para tentar reduzir essa diferença (“mismatch”), mas em vão,
pois, o dano estaria no sistema comparador. A culpa é outro fenômeno importante e constante nas descrições clínicas, considerada a base do sofrimento desses pacientes. Para Lima, o peso insuportável da culpa (sujeira moral) é essencial, junto com a dúvida, as fobias e a sombra da morte. Segundo descreve, haveria dois subgrupos principais: pacientes mais voltados para um passado de culpa, que temem principalmente a responsabilidade, e outros mais preocupados com o futuro ameaçador, predominando a sensação de fragilidade (mais temores de contaminação e da morte). Enquanto estes se sentem ameaçados, aqueles se consideram uma ameaça para os outros. Tallis enfatiza a fusão psicológica entre pensamento e ação: como temem que pensar algo ruim resulte na realização do pensamento, tendem a suprimir a raiva ou sua expressão para evitar “fatalidades”.
Os limites entre mundo mental e real estariam de certa forma comprometidos. Tal natureza bizarra do pensamento obsessivo teria dado ao TOC sempre um “status especial” entre os transtornos de ansiedade. Julgamento critico: A maioria dos pacientes apresenta a capacidade crítica
preservada e envergonha-se de seus pensamentos e/ou comportamentos, procurando ocultá-los. Muitos, enquanto conseguem, restringem seus rituais a alguns cômodos da casa ou a quando estão sozinhos, assim, mesmo pessoas bem próximas podem desconhecer a existência do problema. Trata-se, portanto, de uma doença em geral secreta, que pode levar anos até ser diagnosticada e tratada, por isso, a importância de investigar diretamente na anamnese a ocorrência de obsessões e compulsões que, mesmo assim, podem só ser admitidas pelo paciente quando o vínculo terapêutico estiver fortalecido. Alguns só procuram ajuda
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em fases de piora (ex: incapacitação, medo de perder o autocontrole sobre os impulsos) ou por complicações, como depressão secundária. Entretanto, a pacientes ambivalentes ao considerar os sintomas absurdos, e alguns até acreditam e temem as consequências. Insel & Akiskal relataram que 17% dos casos que estudaram acreditavam parcialmente nas obsessões e eram mais refratários ao tratamento. Portanto, em casos mais graves ou em fases de agravamento, pode ocorrer prejuízo da crítica, com os sintomas não se apresentando como obsessões típicas (caráter egodistônico), e sim como ideias prevalentes ou até delirantes (egossintônicas). Essa apresentação menos usual é denominada no DSM- IV1 de “TOC com poor insight” (para mais detalhes, vide artigo de Hounie et al neste volume). Entre 90 pacientes avaliados por Okasha et al,17 nenhum apresentava crítica excelente, havia comprometimento leve em 26%, moderado em 50%, grave em 14% e total em 9%. Assim, possivelmente é mais adequada uma concepção dimensional de graus de crítica e não categorial (com ou sem “insight”).
De toda forma, mesmo não sendo tão simples, a questão egodistonicidade x egossintonicidade, como postulou Bleuler ao dizer que enquanto os obsessivos lutam contra a ideia os paranoides lutam pela ideia, normalmente na existência obsessiva é a parte saudável que detém a identidade, vivenciando como absurdos os significados atribuídos pela parte doentia. Os tipos de sintomas : o conteúdo dos pensamentos ou das imagens mentais
aversivas geralmente se refere a acidentes, doenças ou perda de pessoas queridas. As obsessões de contaminação (Aids, sujeira, radioatividade) são conhecidas, e as somáticas (preocupações com outras doenças, com a aparência física) podem apresentar pior nível de crítica. As obsessões agressivas apresentam- se geralmente como “fobias de impulsos”: medo de ferir, matar ou prejudicar alguém sem querer, de se matar, fazer algo proibido ou embaraçoso (p. ex.: furtar, xingar, assediar). Muitos evitam manusear facas, tesouras, fósforos, ou quaisquer objetos que considerem perigosos, ou ficar sozinhos, por não confiarem em si mesmos. Mesmo nada de fato ocorrendo, a ameaça persiste e costuma ser muito assustadora, por vezes associada à dúvida sobre ter ou não feito o ato tão temido. Pensamentos obsessivos 23
“neutros” são palavras, sons, músicas intrusivas ou imagens que, pela recorrência,
atrapalham e tornam-se aversivos. As compulsões de verificação podem estar relacionadas a obsessões somáticas (autoexame) e ao medo de, por imprudência, vir a causar alguma catástrofe. Os rituais de lavagem (de mãos, banhos, objetos), quando intensos, causam até dermatites e problemas de coluna. As compulsões de contagem podem se associar às de repetição e são geralmente mentais (somas e divisões desnecessárias, repetir várias vezes tal ato), e as de simetria são inúmeras: posição de livros, de sapatos ou outros objetos, ordenação de roupas no varal e mesmo simetria em toques ou esbarrões (p. ex.: ter de tocar com a mão direita naquilo que foi tocado com a esquerda ou vice-versa). Já os rituais de colecionamento são menos conhecidos: incapacidade de se desfazer de jornais, notas fiscais antigas, embalagens inúteis, papéis de bala ou objetos encontrados na rua. São considerados rituais diversos: sapatear, rezar, perguntar, relembrar, gesticular, tocar, cuspir etc., como se vê, trata-se de um transtorno extremamente heterogêneo, que pode ter incontáveis apresentações; ou seja, em princípio, qualquer comportamento pode ser compulsivo. Alguns autores consideram as obsessões de contaminação como as mais comuns. Dúvidas patológicas costumam se associar aos rituais de conferência e são também bastante frequentes. Entre os pacientes de Rasmussen & Tsuang,6 80% apresentavam compulsões de verificação, consideradas como os sintomas mais comuns. No Brasil, Del Porto10 avaliou 105 pacientes e encontrou principalmente obsessões de agressividade (52%), contaminação (44%) e somáticas (40%), compulsões de limpeza (57%) e verificação (56%). Estudando a variação sintomatológica em quase 300 casos, Leckman et al9 agruparam sintomas que tendem a co-ocorrer e propuseram a existência de quatro fatores principais, responsáveis por mais de 60% da variação clínica: obsessões principalmente agressivas e somáticas, e verificação: simetria e ordenação, também envolvendo repetição e contagem, contaminação e limpeza e colecionamento. Um sintoma raro e menos conhecido é a lentidão obsessiva, em que os pacientes não repetem suas ações, mas demoram horas em tarefas diárias, na maioria, a indecisão, 24
ruminações
e
rituais
encobertos
provavelmente
responsáveis
pela
lentidão.
Aparentemente temeriam errar ou causar problemas, por isso a demora excessiva nas ações. 3
PULSÃO
Processo dinâmico que consiste numa pressão ou força (carga energética, fator de motricidade) que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma pulsão tem sua fonte numa excitação corporal (estado de tensão); o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional, é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir a sua meta. Na língua alemã existem dois termos, Instinkt (instinto) e Trieb (pulsão), o termo Trieb, de uso muito antigo, conserva sempre a nuança de impulsão, ou seja, a menos ênfase numa finalidade definida do que numa orientação geral, sublinhando o caráter irreprimível da pressão mais do que a fixidez da meta e do objeto. Já o termo Instinkt faz referência ao biológico, ou seja, àquilo que é expresso quase da mesma forma em todos os indivíduos da mesma espécie, Freud utiliza este termo para se referir a um comportamento animal fixado por hereditariedade. A pulsão é uma representante do somático e do psíquico, pois ao lado das excitações externas a que o indivíduo pode fugir ou de que pode proteger-se, existem forças internas (pulsões) portadoras constantes de um afluxo de excitação a que o organismo não pode escapar e que é o fator propulsor do funcionamento do aparelho psíquico. A pulsão não tem meta e nem objeto fixo, ela é variável e parcial. Freud propõe duas teorias das pulsões e ambas são dualistas. Na primeira teoria das pulsões, o dualismo se dá entre pulsões sexuais X pulsões do ego ou de auto conservação. O id representa um reservatório de pulsões e a contraposição se dá entre pulsões de vida X pulsões de morte
.
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3.1 Pulsão morte
No quadro da última teoria freudiana das pulsões, designa uma categoria fundamental de pulsões que se contrapõem às pulsões de vida e que tendem para a redução completa das tensões, isto é, tendem a reconduzir o ser vivo ao estado anorgânico. Voltadas inicialmente para o interior e tendendo à autodestruição, as pulsões de morte seriam secundariamente dirigidas para o exterior, manifestando-se então sob a forma da pulsão de agressão ou de destruição. As pulsões de morte representam a tendência fundamental de todo ser vivo a retornar a um estado anorgânico. Freud elaborou o conceito de pulsões de morte ao observar os fenômenos de repetição, que o levou a ideia do caráter regressivo da pulsão. Em tais fenômenos de repetição, o aparelho psíquico não apenas descarregava a libido, mas a libido estava relacionada a situações desagradáveis. A exigência dualística é particularmente importante quando se trata das pulsões, já que estas fornecem as forças que se enfrentam no conflito psíquico. Freud sublinhou que a tendência a destruição de outrem ou de si mesmo pode denotar uma satisfação libidinal. Observou também que as manifestações do masoquismo, a reação terapêutica negativa e o sentimento de culpa dos neuróticos indicam a presença na vida psíquica de um poder que chamou de pulsões de agressão ou destruição, derivadas da pulsão de morte originária
.
As pulsões de morte representam um retorno a um estado anterior, ou, em última análise, o retorno ao repouso absoluto do anorgânico. O princípio de prazer parece estar a serviço da pulsão de morte. 3.2 Pulsões de Vida:
Grande categoria das pulsões que Freud contrapõe, na sua última teoria, às pulsões de morte. Tendem a constituir unidades cada vez maiores, e a mantê-las. As pulsões de vida, também designadas pelo termo “Eros”, abrangem não apenas as
pulsões sexuais propriamente ditas, mas ainda as pulsões de auto conservação. Na
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segunda teoria das pulsões proposta por Freud, as pulsões de vida se opõem as pulsões de morte. As primeiras tendem não apenas a conservar as unidades vitais existentes, como a constituir, a partir destas unidades mais globalizantes. As segundas tendem para a destruição das unidades vitais, para a igualização radical das tensões e para o retorno ao estado anorgânico que se supõe ser o estado de repouso absoluto. As pulsões de vida não têm o caráter regressivo característico das pulsões, mas sim um caráter construtivo, uma vez que um princípio fundamental de tal pulsão é o princípio de ligação, que consiste em instituir unidades cada vez maiores e conservá-las, princípio este que está associado a nova concepção de Freud sobre a sexualidade. 3.3 Princípio de nirvana
Denominação proposta por Barbara Low e retomada por Freud para designar a tendência do aparelho psíquico para levar a zero ou pelo menos para reduzir o mais possível nele qualquer quantidade de excitação de origem externa ou interna. A ideia de Nirvana representa o aniquilamento ou extinção do desejo humano, levando o aparelho psíquico a um estado de quietude e felicidade perfeita, o princípio de nirvana corresponde a uma tendência do ser humano de retornar a um estado anterior um estado de homeostase, no qual ocorreria a supressão de uma excitação interna ou externa, ou seja, os seres humanos tenderiam a chegar em um estado anorgânico. O Princípio de Nirvana exprime a tendência da pulsão de morte, ou seja, a tendência radical para levar a excitação ao nível zero. 3.4 Princípio do prazer
Um dos dois princípios que, segundo Freud, regem o funcionamento mental: a atividade psíquica no seu conjunto tem por objetivo evitar o desprazer e proporcionar o prazer. É um princípio econômico na medida em que o desprazer está ligado ao aumento das quantidades de excitação e o prazer à sua redução.
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O aparelho psíquico é regido pela evitação ou evacuação da tensão desagradável. A escala de prazer-desprazer é um regulador da economia libidinal. Freud considera a descarga de tensão como prazer e o aumento desta como desprazer. Contudo, Freud ressalva que sentimento de tensão não é o mesmo que desprazer, pois existem tensões agradáveis. O princípio de prazer se opõe ao princípio de realidade. Um exemplo de tal oposição é realizar um desejo, pois a realização de um desejo inconsciente, regido pelo princípio de prazer, se depara com o princípio de realidade, que representa as exigências do mundo externo. 3.5 Princípio de realidade
Um dos princípios que, segundo Freud, regem o funcionamento mental. Forma par com o princípio de prazer, e modifica-o; na medida em que consegue impor-se como princípio regulador, a procura de satisfação já não se efetua pelos caminhos mais curtos, mas faz desvios e adia o seu resultado em função das condições impostas pelo mundo exterior. Encarado do ponto de vista econômico, o princípio de realidade corresponde a uma transformação da energia livre em energia ligada; do ponto de vista tópico, caracteriza essencialmente o sistema pré-consciente-consciente; do ponto de vista dinâmico, a psicanálise procura basear a intervenção do princípio de realidade num certo tipo de energia pulsional que estaria mais especialmente a serviço do ego. O princípio de realidade surge como uma necessidade do psiquismo de descarregar a tensão pulsional não de uma maneira alucinatória, mas a partir das condições que o mundo oferece. Assim, já não se representa o que é agradável, mas sim o que é real, mesmo que seja desagradável. O princípio de realidade sucede o princípio de prazer, contudo, o princípio de prazer não desaparece, só se torna o oposto do princípio de realidade. O princípio de prazer é o campo das atividades psíquicas, entregue as fantasias inconscientes. Já o princípio de realidade corresponde a obtenção de satisfação no plano da realidade. Cabe ao ego mediar e garantir a supremacia do princípio de realidade sobre o princípio de prazer. Nas palavras de Freud: “[o ego] consegue discernir se a tentativa
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de obter satisfação deve ser efetuada ou adiada, ou se a reivindicação da pulsão não deverá ser pura e simplesmente reprimida como perigosa. ” 3.6 A Retomada da vivênc ia de dor
Em Além do princípio do prazer (1920/1975), no entanto, Freud começa a reconhecer que a teoria até então elaborada, que pensava o funcionamento psíquico a partir unicamente do modelo da vivência de satisfação e do desejo, não permitia explicar uma série de fatos nos quais o desprazer parece ser originário. A necessidade de admitir a existência de processos psíquicos que repetem experiências originariamente desprazerosas o leva a introduzir os conceitos de "compulsão à repetição", de "pulsão de morte" e a retomar a hipótese da "vivência de dor" - que passa em 1920 a ser chamada de "trauma" - em um sentido muito próximo àquele que lhe havia sido atribuído no "Projeto..." (Caropreso, 2010; Caropreso & Simanke, 2008). Em Inibição, sintoma e angústia (1926/1975), Freud passou a situar essa vivência na origem do aparelho psíquico e, assim, voltou a vincular as neuroses a experiências traumáticas reais. Nesse último texto, Freud associa explicitamente a "repressão primordial" a traumas efetivamente experienciados. Diz ele: "é inteiramente verossímil que fatores quantitativos, como a intensidade hipertrófica da excitação e a ruptura da proteção ante estímulo constituam as ocasiões imediatas das repressões primordiais [...]" (Freud, 1926/1975, p. 90). A irrupção de grandes quantidades de excitação exógena no aparelho psíquico caracterizaria, por definição, a experiência traumática, Freud especula que a primeira experiência traumática seria o nascimento e que, portanto, seria a ocasião da primeira experiência de angústia. O estado de angústia é a reprodução de uma vivência que reuniu as condições para um aumento da estimulação, no caso dos seres humanos, o nascimento nos oferece uma vivência arquetípica de tal índole e, por isso, nos inclinamos a ver no estado de angústia uma reprodução do trauma do nascimento (Freud, 1926/1975, p. 126). 29
A angústia, nesse momento, como se sabe, passa a ser pensada como reação frente a alguma espécie de perigo. No nascimento, o perigo ao qual se reagiria com o surgimento de angústia seria o aumento da estimulação, com a ruptura da homeostase intrauterina, a angústia de castração seria uma modificação da angústia resultante de um processo cuja origem estaria no nascimento. Freud estabelece uma série de experiências de angústia que se sucederiam no desenvolvimento da criança: a do nascimento - da separação da mãe de castração da consciência moral. Tanto na separação da mãe, como na de castração e na da consciência moral, o perigo ao qual o sujeito reagiria, seria a ameaça de se ver novamente na mesma situação de desamparo que fora vivenciado ao nascer, portanto, o nascimento é que conferiria um caráter traumático às demais experiências. Nesse sentido, Freud volta a vincular as neuroses a experiências "traumáticas" e "reais", no sentido de efetivamente vividas como tais. Não é mais um desejo que se situa na gênese das neuroses, mas sim uma experiência traumática objetivamente ocorrida. Ele especula que cada um dos diversos tipos de neuroses estaria relacionado com um tipo de angústia específica: a histeria de conversão à angústia de separação da mãe; a fobia à angústia de castração; a neurose obsessiva à angústia da consciência moral. Essas ideias elaboradas por Freud em Inibição, sintoma e angústia impõem uma série de modificações em sua teoria sobre a gênese do psiquismo e sobre a etiologia das neuroses, entre as quais está a atribuição de uma ênfase maior ao fator biológico nessa etiologia. No fim desse texto de 1926, Freud diferencia entre três fatores que atuariam na etiologia das neuroses:
O "biológico" - o desamparo do ser humano e sua prolongada dependência do próximo ao nascer;
O "filogenético" - o fato da sexualidade nos seres humanos se manifestar em dois tempos e o "psíquico" - a renúncia pulsional imposta pela realidade.
As hipóteses apresentadas em 1926 colocam o que Freud chama de "fator biológico" na base de toda a etiologia das neuroses.
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O papel da sexualidade e das restrições que a cultura impõe a ela - que fora enfatizado na teoria que se desenvolve após o abandono da hipótese da sedução infantil, parece ser relativizado. As ideias de que a própria experiência do nascimento seja traumática e de que o estado de prematuração e desamparo do indivíduo ao nascer façam ressurgir novas experiências traumáticas, ou melhor, façam com que experiências posteriores sejam vividas como traumáticas por remeterem a um trauma anterior, conduzem a uma vinculação das neuroses a vivências dolorosas inevitáveis. No livro Vida e morte em psicanálise (1985), Laplanche chama a atenção para o fato de que, ao reexaminar sua teoria das neuroses em Inibições, sintomas e angústia, Freud não integra a pulsão de morte a suas reformulações. Encontra-se considerações semelhantes em outros autores. Rudge (2006), por exemplo, observa que a pulsão de morte não apresentou aplicação imediata na teoria das neuroses e dos conflitos a elas subjacentes. Embora seja verdadeiro que em Inibição, sintoma e angústia, Freud não integre a pulsão de morte à sua reformulação da teoria das neuroses, parece não ser possível dizer que tal conceito não apresentou aplicação imediata em sua teoria sobre as neuroses. Isso não parece ser correto, primeiro, pelo fato de que a introdução do conceito de pulsão de morte derivou, em parte, de evidências clínicas obtidas a partir da observação das neuroses, mas, principalmente, porque em seus últimos textos, Freud o insere de forma clara em suas reflexões clínicas. Em Análise, terminável e interminável (1937/1997), Freud retomou o conceito de pulsão de morte e, de certa forma, o incorporou às suas hipóteses sobre a etiologia das neuroses. 3.7 Neurose de Angústia:
Essa neurose é caracterizada por um sentimento permanente de angústia não referida a algo determinado. Sobre esse terreno angustioso podem ocorrer exacerbações
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súbitas, intensas e aparentemente imotivadas (crises de angústia), com seus correspondentes correlatos fisiológicos. O sentimento mais chamativo e que se destaca dos demais é uma angustia crônica generalizada. Em razão dessa angústia quase sempre os músculos estão tensos e o relaxamento é difícil ou impossível, á também uma inquietação incômoda, um medo vago e indefinido e tormentosas expectativas negativas relativas ao futuro. Habitualmente estão presentes também os acompanhamentos fisiológicos, tais como palpitações, sensações de sufocações, tremores, sudorese excessiva, mal-estar gástrico etc. Muito frequentes são as sensações de aperto na cabeça ou no peito, são comuns os
distúrbios
psicossomáticos
como úlceras, asma, gastrites,
colites,
dores
de cabeça etc. Algumas vezes esses neuróticos mostram-se hipocondríacos, fóbicos, histéricos ou melancólicos. Geralmente a função sexual está prejudicada, com diminuição do interesse e deformações várias. Outras vezes sofrem de graves inibições generalizadas das demais funções, as quais limitam suas vidas: não conseguem trabalhar, divertir-se, conviver livremente etc. Quando predomina a inquietude, costuma-se dar ao quadro a denominação de ansiedade, os angustiados estão continuamente em estado de alerta, à espreita de um perigo imaginário, vago e indefinido. Frequentemente esse perigo é referido à saúde e eles supervalorizam negativamente todo sinal que interpretem como doença. Em compensação, fatos relevantes e realmente ameaçadores, como as guerras e a falta de higiene, por exemplo, podem deixá-los indiferentes. Os angustiados, principalmente aqueles inquietos e intranquilos são os que chamamos de ansiosos, têm dificuldades com o ócio e, em geral, não concedem a si mesmos nenhuma forma de lazer. Em geral estão numa constante movimentação estéril (sacodem as pernas, esfregam as mãos, andam de um lado para outro etc.), como em contínua atividade. Se nada têm a fazer, inventam alguma coisa. Quase nunca tiram férias e não se permitem desfrutar
outros
momentos
de
relaxamento.
Frequentemente
se
queixam
de fadiga ou “esgotamento” que, no entanto, não guarda relação com o esforço físico. 32
Nunca vivenciam o momento presente e sempre estão mentalmente antecipando um futuro desastroso. Sempre requerem a presença de outras pessoas, sendo-lhes difícil ficar sozinhos, a insegurança por vezes os leva a desistirem de suas empreitadas, convencidos de antemão de que elas não darão certo. Sentem-se inferiores, débeis e impotentes e, por isso, suas vidas são marcadas por fracassos, tristezas e crises. Habitualmente são muito voltados para si mesmos, sem horizontes ou perspectivas. Suas relações sociais (casamento, profissão, amizades etc.) são baseadas na necessidade de se sentirem protegidos. Decorrências normais da vida, como a menopausa ou a aposentadoria, por exemplo, são experimentadas com grande dramaticidade. No sentido fenomenológico, contudo, fala-se de angústia se predominam sensações de constrição e aperto (principalmente referidas ao peito e à cabeça) e de ansiedade para se referir às expectativas negativas, a uma certa inquietação motora e psíquica generalizada e a correlatos fisiológicos como palpitações, tremores, abafamento respiratório etc. Pieron diz que “na prática, os dois termos são sinônimos”. As raízes etimológicas de ambos são comuns. A palavra angústia significa sufocar, estrangular e ansiedade se refere a incerteza, excitação, medo, estreitamento. A literatura de língua inglesa parece ter preferência por angst (angústia) e a francesa por anxieté (ansiedade). 3.8 Ataques de ansiedade: “Ataque de ansiedade” é, na verdade, um termo coloquial criado para descrever
períodos intensos ou prolongados de ansiedade. Um ataque de ansiedade é mais intenso do que um mero sentimento de ansiedade, pode durar entre minutos e horas, mesmo dias e semanas. Ataques de pânico é uma manifestação extrema da ansiedade caracterizada por uma grande descarga de hormônios e uma série de sintomas por todo o corpo. Geralmente descrito como uma sensação intensa e súbita de medo. 33
Na maioria dos casos, os ataques ocorrem durantes situações de estresse social mas eles também podem ocorrer durante o sono, em casa, no trabalho ou qualquer outro ambiente cotidiano. Os ataques de pânico são mais frequentes em pessoas portadoras de transtornos de ansiedade, como a síndrome do pânico e o transtorno de ansiedade generalizada, pois o pânico pode ser compreendido como um levar a ansiedade a limites extremos. Se fizermos uma pequena reflexão, a ansiedade também está relacionada com a antecipação de eventos que irão acontecer, principalmente com a possibilidade de "resultados ruins acontecerem" com o medo das coisas darem errado, á então uma íntima relação entre ansiedade e pânico. A frequência dos ataques de pânico irá depender de inúmeras variáveis, que didaticamente podemos reduzir a situações de ameaça: ameaças externas à integridade do indivíduo e ameaças internas (orgânicas, não raro desconhecidas ou não percebidas pelo paciente).
O pânico ocorre principalmente em pessoas de 14 a 45 anos e é mais frequente em mulheres do que homens, em uma proporção de 2 para 1. Produz grau elevado de incapacitação. Sintomas de um ataque de pânico: Assim como o ataque de ansiedade,
geralmente têm pelo menos alguns dos seguintes sintomas:
Sensação de ameaça ou perigo iminente
Medo de perda de controle ou morte
Frequência cardíaca rápida e pulsante
Sudorese
Tremedeira
Falta de respiração ou aperto na garganta
Arrepios
Ondas de calor
Náusea
Cólica abdominal ou diarreia
Dor no peito
Dor de cabeça 34
Tonturas ou fraqueza
Sensação de entorpecimento ou formigamento
Sensação de irrealidade ou alienação
Estes sintomas geralmente duram 10-15 minutos. Às vezes, a pessoa que está passando pelo ataque, pensa que está tendo um ataque cardíaco. Com ataques de pânico, as pessoas geralmente sentem uma sensação de ameaça imediata. Isso faz com que eles sintam desespero e peçam ajuda, tentando escapar da dificuldade em que estão. Às vezes, as pessoas só têm um ou dois ataques de pânico em suas vidas. Eles geralmente ocorrem sob grandes quantidades de estresse ou pressão. A ocorrência repetida de ataques de pânico geralmente é um sintoma de transtorno de pânico. Se você tiver esse problema, considere trabalhar com um profissional de saúde mental. Ataqu es de ans ied ade de di stúrb io s somáti co s vár ios: O transtorno de
sintomas somáticos é caracterizado por um ou mais sintomas físicos crônicos acompanhados por níveis significativos e desproporcionais de angústia, preocupação e dificuldade em desempenhar funções diárias. As pessoas com transtorno de sintomas somáticos estão preocupadas com seus sintomas e gastam muito tempo e energia com esses sintomas e preocupando-se com a saúde. O termo transtorno de sintomas somáticos substitui vários outros diagnósticos utilizados antigamente, como transtorno de somatização, hipocondria, transtorno doloroso, transtorno somatoforme indiferenciado e alguns transtornos relacionados. Todas essas doenças envolvem a somatização a expressão de fatores mentais na forma de sintomas físicos (somáticos). A preocupação da pessoa com seus sintomas físicos é tão acentuada que causa angústia significativa e interfere com o funcionamento diário. As pessoas com transtorno de sintomas somáticos não produzem intencionalmente nem fingem ter os sintomas, e os sintomas podem ou não estar associados a outro problema médico. As pessoas com transtorno somatoforme e outro problema médico podem reagir de forma exagerada ao problema médico. Por exemplo, após um ataque cardíaco, elas 35
podem apresentar uma recuperação física completa, mas podem continuar se comportando como inválidos ou se preocupar constantemente com a possibilidade de terem outro ataque cardíaco. Os sintomas físicos normalmente começam antes dos 30 anos, às vezes, durante a infância. A maioria das pessoas apresenta muitos sintomas, mas algumas apresentam apenas um sintoma grave, normalmente dor, os sintomas podem ser específicos (como dor no abdômen) ou vagos (como fadiga). Qualquer parte do corpo pode ser o foco da preocupação, as pessoas com transtorno de sintomas somáticos se preocupam excessivamente com os sintomas e suas possíveis consequências catastróficas. Sua preocupação é desproporcional aos sintomas. As pessoas podem interpretar sintomas ou desconforto normais, como sons estomacais, como sendo uma doença física. Elas tendem a pensar o pior sobre qualquer sintoma que apresentam. Os próprios sintomas ou a preocupação excessiva com eles é angustiante ou perturba todos os aspectos da vida rotineira. Algumas pessoas ficam deprimidas. As pessoas podem ficar dependentes umas das outras, demandando ajuda e apoio emocional, podendo enfurecer-se quando sentem que suas necessidades não são satisfeitas, elas também podem ameaçar ou tentar o suicídio. Quando seu médico tenta tranquilizá-los, elas geralmente pensam que o médico não está levando seus sintomas a sério. Geralmente insatisfeitas com seu tratamento médico, elas normalmente vão de um médico a outro ou buscam tratamento com vários médicos ao mesmo tempo, muitos não respondem ao tratamento médico, que pode até fazer com que os sintomas piorem, alguns parecem anormalmente sensíveis aos efeitos colaterais dos medicamentos.
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Fonte: psicologafabiola.com.br
A intensidade e a persistência dos sintomas podem refletir um forte desejo de serem tratadas, os sintomas podem ajudar as pessoas a evitarem responsabilidades, mas também podem impedi-las de aproveitarem atividades, e atuar como uma punição, sugerindo que podem ter sentimentos subjacentes de inutilidade e culpa. Os sintomas podem diminuir ou piorar, mas os sintomas persistem e raramente aliviam completamente por qualquer período. Ataqu es d e suo r g eralm ente à noi te: O acúmulo de ansiedade gerada ao longo
do dia, quando não administrado no momento que ocorre, acaba se apresentando no período noturno, justamente no momento reservado para o descanso e para o sono reparador, preocupação, medo e nervosismo que aparecem na hora de dormir são experiências comuns de quem sofre de ansiedade noturna, assim como a dificuldade em pegar no sono, mesmo com esgotamento físico e despertares súbitos. Insegurança em relação ao futuro e antecipação de acontecimentos ruins são fatores comuns que dificultam o desligamento dos problemas do dia a dia e atrapalham o relaxamento do corpo e da mente, fundamental para o sono. Sem conseguir dormir, portanto, a pessoa fica tensa, nervosa e entra em um ciclo vicioso de ansiedade que impede o descanso . Ir para a cama somente quando o sono chegar, dar preferência a alimentos leves no jantar, praticar técnicas de meditação e respiração profunda antes de se deitar são medidas simples que ajudam a driblar a ansiedade noturna. É importante ainda manter 37
uma rotina regular de sono, com horários específicos, manter o quarto escuro, silencioso e livre de distrações, assim como evitar levar para a cama computador e celular, que podem aumentar a ansiedade e comprometer o descanso por causa da iluminação artificial dos aparelhos. A ansiedade noturna pode aparecer quando existe algum distúrbio do sono e o medo pode dominar a pessoa, quando ela dorme e acorda muitas vezes a noite e não consegue chegar aos estágios profundos do sono. Outra causa é a dificuldade de concentração nas atividades durante o dia e a noite o organismo da pessoa tem dificuldade de entrar em um estado de relaxamento. Ataqu es de tr emo res e calafri os: É importante saber que os sintomas da
Ansiedade são causados principalmente pelo medo, o medo ativa no corpo um sistema de luta ou fuga, e nesse estado o corpo se prepara para executar uma ação, o corpo é tão inteligente que ele se prepara para combater aquilo que está te causando perigo. Porém esse mecanismo é entendido de forma errada por algumas pessoas, e isso acaba gerando o medo e desencadeando todos os sintomas da Ansiedade e da síndrome do pânico, nesse ponto é onde a Ansiedade sai fora do controle. Como você pode observar no ciclo da Ansiedade abaixo:
Fonte:crisedeansiedade.com
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Exemplo da imagem: um pensamento, uma imagem, um som ou até um
objeto vai te causar medo (muitas vezes um medo desproporcional, como o medo de uma barata por exemplo)
Então o corpo ativa o sistema de luta ou fuga, esse sistema por sua vez causa alguns sintomas no nosso corpo, pois o corpo está se preparando para a batalha
Então vem o pensamento de medo, será que eu vou morrer? O que eu vou fazer?
Então começa o Ataque de pânico.
Ataqu es de fome devor ador a: A ansiedade e o apetite têm uma ligação
incomum, cada pessoa reage de maneira diferente quando tem ansiedade, mas muitas pessoas descobrem que a ansiedade é causadora de problemas de apetite que afetam não apenas a maneira como nós comemos, mas também a maneira que saboreamos a comida.
O transtorno alimentar nunca é um sintoma isolado, de fato, a maioria das pessoas não se dão conta de que tem algum problema de apetite. Elas simplesmente assumem que estão comendo de forma diferente enquanto tentam lidar com outros sintomas da ansiedade. Comer mais: algumas pessoas passam a ter um apetite maior quando tem
ansiedade. Comer menos : outras pessoas sentem muito menos fome e sede quando estão
ansiosas. Apetite não deve ser confundida com digestão a ansiedade também causa problemas de digestão, mas isso geralmente tem outros fatores como motivo, algumas pessoas vão direto para a comida quando estão estressadas e ansiosas. Embora não esteja claro o que desenvolve esse problema, o motivo é bem conhecido, quando algumas pessoas comem (não é todo mundo), elas têm a experiência de uma descarga de neurotransmissores positivos, químicas cerebrais relacionadas ao prazer e bem-estar. Comer bastante se torna um mecanismo de escape, assim sempre que estas pessoas ficam ansiosas ou estressadas, elas sentem fome, eventualmente, a 39
ideia de comer quando está estressado vai se condicionando, seu corpo treina ele mesmo a desejar comida quando está sofrendo de ansiedade, quando isso acontece, você pode até mesmo não mais se sentir bem depois de comer muito, porém, a associação vai continuar, e você vai continuar a sentir fome quando tiver ansiedade. O porquê de as pessoas comerem menos é pouco claro, mas certamente é um sintoma comum da ansiedade. As teorias mais fortes apontam que a razão da ansiedade reduzir a fome em algumas pessoas é porque os excessos de ácidos estomacais simplesmente criam a sensação de saciedade por mais tempo, e as químicas que sinalizam fome não chegam até o cérebro. Mais do que provavelmente não é simples assim, a serotonina, um neurotransmissor que regula o humor, tem um papel importante tanto na ansiedade quanto na sensação de fome, como as pessoas com ansiedade geralmente tem problema de desequilíbrio de serotonina, é possível que isso seja uma das razões para muitas pessoas não sentirem fome durante momentos de ansiedade. Também é improvável ser apenas serotonina, diferentes hormônios e neurotransmissores estão relacionados à ansiedade, digestão e fome, e todos eles podem estar dizendo ao seu cérebro que você não precisa comer mesmo tendo fome. Finalmente, umas combinações de outros fatores mentais estão acontecendo também. Muitas pessoas com ansiedade simplesmente estão com muita coisa na cabeça para pensar em comer, e se você não alimentar seu corpo quando está com fome, seu corpo para de dizer que está com fome. Além do mais, algumas pessoas sentem náusea quando estão com ansiedade alta, e isso pode fazer com que a fome seja associada a algo negativo. Diarreia sobrevindo em forma de ataques: É impossível negar os efeitos da
ansiedade no sistema gastrointestinal do corpo, um dos aspectos mais interessantes da diarreia é que ela pode na verdade ser um sinal de que você está sofrendo de ansiedade, e não apenas um sintoma daquela ansiedade. As pessoas muitas vezes têm diarreia sem explicação, mas geralmente é causada por estresse de longo prazo que indicam um problema de ansiedade, muitas das causas exatas da ansiedade e seus sintomas ainda estão sendo descobertas. 40
Mas a principal razão para a ansiedade causar diarreia é por causa da forma como o corpo reage ao sistema de luta ou fuga.
Fonte: ansiedadepanico.com
A ansiedade é a ativação da reação luta ou fuga, quando nenhum perigo está presente esse estresse causa uma descarga de adrenalina que redistribui o fluxo de sangue e de água, essa redistribuição significa que seu sistema gastrointestinal não está filtrando a água corretamente, levando a diarreia seu corpo também diminui a digestão dos alimentos, contribui para a diarreia. Existem outros fatores em jogo também por exemplo, o estresse e ansiedade vai colocar uma quantidade considerada de estresse físico no seu estômago e outros órgãos, e essa pressão pode levar a um mau processamento dos alimentos ingeridos. Tudo isso pode levar a diarreia, bem como outros problemas gastrointestinais como a síndrome do intestino irritável quem sofre de ansiedade persistente pode ter diarreia a qualquer momento .
Algumas pessoas têm diarreia diariamente, enquanto outras simplesmente aumentam a probabilidade de ter diarreia ao comer alimentos que o corpo já tem dificuldade para processar, problemas de digestão também são muito comuns em quem sofre de síndrome do pânico. Os ataques de pânico podem ser tão graves que colocam uma quantia considerável de pressão sobre o corpo de uma vez, consequentemente colocando também uma grande pressão no seu sistema gastrointestinal, não existe na verdade um momento certo ou errado para ter diarreia, mas geralmente a diarreia é mais comum durante episódios de ansiedade. 41
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PSICOSE
Lacan (1955- 1956/2008) afirma que, na psicose, “tudo o que é recusado na ordem simbólica, no sentido da Verwerfung, reaparece no real” (p. 22). Para o autor, o sintoma
delirante seria uma resposta inédita do sujeito diante dos impasses que retornam no real. O delírio se caracteriza pela proliferação de elementos imaginários, esboçando uma tentativa de mediação alternativa à significação fálica. A primazia do simbólico, uma vez instituída, reestrutura o registro imaginário substituindo as relações imaginárias, nas quais a agressividade e a rivalidade com o outro semelhante são pregnantes, por relações simbólicas articuladas aos ideais e referidas à lei do grande outro que, como vimos, pode ser ordenado pela metáfora paterna. Lacan (1958/1998) esquematiza o entrecruzamento entre o imaginário e o simbólico na experiência analítica no denominado Esquema L, constituído por dois eixos: um referente à função imaginária do eu (moi) no eixo chamado a-a, que se interpõe como obstáculo ao outro eixo, o do discurso inconsciente atrelado à função simbólica do grande outro. A fala se fundamenta no Outro ao qual o sujeito se endereça de fato. A experiência analítica tenderia a pôr em relevo a figura deste Outro a quem o sujeito se dirige mesmo sem o saber, para além das relações imaginárias com a pessoa do analista. Desse modo, espera-se que, progressivamente, o sujeito venha a assumir seu lugar nessa relação. Não obstante, para que este arranjo possa ser alcançado é preciso que a inscrição do significante do Nome-do-Pai e da significação fálica no declínio do complexo de Édipo tenha sido exitosa. No psicótico esta função é inoperante, ocorrendo a predominância das relações imaginárias. A ênfase freudiana da função do delírio como tentativa de cura e como remendo na relação do sujeito com a realidade é elucidada deste prisma em que o delírio representa o mundo imaginário em estado desenvolvido. É por essa via que o psicótico tenta esboçar alguma integração simbólica. Desse modo, a base teórica para explicação da psicose, sobretudo em Schreber, é a catástrofe crescente no registro imaginário em consequência da foraclusão da
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metáfora paterna, é uma tentativa de cura, por possibilitar que significante e significado se estabeleçam na metáfora delirante. Arrivé (2001) aponta a dificuldade em conciliar estas duas hipóteses: como a omissão da metáfora paterna poderia constituir uma metáfora delirante? Sobre esta questão, cabe ressaltar que nem todo psicótico consegue organizar-se através de uma ficção delirante tão sofisticada quanto a de Schreber. O delírio será sempre uma metáfora frágil simbolicamente, embora, assim como o sintoma neurótico, seja uma solução para um conflito psíquico. O que se avista no processo de elaboração de um sistema delirante é uma tentativa de reconstrução por meio do qual o psicótico, sem o suporte da significação fálica para lidar com a estrutura da linguagem, ensaia alguma produção de sentido que o sustente psiquicamente. Na clínica proposta por Lacan, o analista se ocupa de assegurar e acompanhar o frágil equilíbrio delirante do psicótico, ao invés de escavar determinações inconscientes na esfera da suposição de saber, favorecendo no lugar disso a consolidação de uma rede de sentidos capaz de protegê-lo de ser tragado pelo furo do real, sempre iminente. Miller (2003) distingue o uso comum do termo delírio, em seu sentido patológico, do delírio normal. Ambos são ficções sociais e podem, por isso, ser qualificados dessa maneira. Segundo o autor, são montagens que resolvem problemas colocados pelo aparelho psíquico. O diferencial dos delírios psicóticos é que “eles são obrigados a fazer esforços
totalmente desmedidos para resolver problemas que, para o normal ou o neurótico, são resolvidos, pelos discursos estabelecidos” (Miller, 2003, p. 15).
Freud explicitou que as neuroses são indicativas de uma formação de compromisso na ordem simbólica em termos de significante e significado. O recalcado é mascarado, acessível apenas pela atividade de decifração. Ainda que de forma encoberta, o neurótico testemunha a existência do inconsciente como o lugar do discurso do Outro. Como vimos, este Outro, embora desconhecido, determina o sujeito, na medida em que este recebe dele mensagens de forma invertida.
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Essa é a condição para que o sujeito se constitua como sujeito do significante. Não obstante, os fenômenos elementares da psicose se estabelecem em um registro distinto. Lacan (1956-1957/2008) enfatiza que “na fala delirante, o Outro está verdadeiramente excluído, não há verdade atrás” (p. 67).
O Outro desempenha uma função distinta na experiência psicótica. Não é recalcado, nem é aquele cuja fala é recebida pelo sujeito de forma invertida, mas situase no nível de um semelhante, do reflexo especular, no circuito imaginário, a- a’, através das vozes e das alucinações. Estes fenômenos são emissões provenientes do Outro, contendo assim os elementos essenciais do código compartilhado empregados em um neocódigo. É o que demonstram as vozes que proferem a língua fundamental (Grundprache) para Schreber. Embora o delírio possa ser compreendido como uma tentativa de restituir essa função, ele é composto pelo significante nu, desarticulado da cadeia significante e desprovido dos desdobramentos da significação. Por essa razão, Schreber é um escritor, mas não é um poeta (Fink, 1997). Na psicose, o que é rejeitado no simbólico reaparece no real. As articulações possíveis são oriundas da crescente valorização do imaginário. A função significante emerge sem máscaras, o inconsciente mostra-se a céu aberto, ao mesmo tempo, possui um caráter congelado, que não permite mobilizações nem metaforizações, que só poderiam advir pela inscrição do sujeito na lógica fálica. O termo psicose é definido como a incapacidade de distinguir entre a experiência subjetiva e a realidade externa, ou seja, existe uma perda de contato com a realidade. Exemplificando, todos nós poderemos pensar que determinada pessoa nos quer prejudicar (por exemplo um vizinho que não gosta de nós, um chefe ou um professor que insistem em nos criticar), mas ao mesmo tempo que pensamos isto vem-nos à cabeça a dúvida, perguntamo-nos se não será uma sensação só nossa, será que nos querem mesmo prejudicar? Isto só é possível porque distinguimos o nosso mundo do mundo exterior, na psicose este processo está perturbado, uma pessoa psicótica não põe em dúvida as suas crenças por mais estranhas que pareçam aos outros, pode pensar que o vizinho está a fazer magia negra para o matar, sentir que existe uma conspiração do governo que 44
envolve o seu professor ou o seu chefe, por mais que isso seja posto em causa pelos outros ele não duvida e organiza as suas ações em função disto , isto acontece porque o que ele pensa corresponde à realidade, não é feita a distinção do subjetivo e da realidade externa. A psicose é um estado incompreensível para quem está “de fora” é, de todo,
impossível perceber o modo de pensar de alguém psicótico, tudo é estranho e nada faz sentido. Os sintomas mais comuns de psicose são: Delírio: convicção falsa e inabalável, fora do contexto social e cultural do doente,
de origem mórbida, não sendo possível modificar através da demonstração do real. Aluc in ações : Experiências perceptivas (sensações) tomadas por reais na
ausência de estímulo externo correspondente. Para o doente é impossível distinguir as alucinações das verdadeiras percepções. Podem ser auditivas (vozes), visuais (pessoas, vultos, imagens), sensitivas (toques, calor), olfativas (cheiros) e gustativas (sabores). Para além destes sintomas é frequente observar-se, comportamentos estranhos que podem ser causados pelos delírios (ex: entrar numa loja e vasculhar todos os recantos à procura de microfones) e pelas alucinações. (Ex: as vozes obrigam-no a andar sempre com as mãos na cabeça), isolamento social - a maioria destes doentes acaba por se isolar, deixar de estar com os amigos, etc. Desconfiança eles fazem parte de uma conspiração ou que o querem matar; alterações de personalidade, por exemplo, determinada pessoa muito extrovertida, conversadora, pode ficar muito virada para dentro, deixar de socializar; alterações do humor; desorganização, fazer “coisas sem sentido” ou pensar de forma não lógica. O termo psicose refere-se a um conjunto de sintomas, em que o principal organizador é a perda de contato com a realidade. Múltiplas doenças e perturbações podem apresentar-se como psicose, estas são as mais frequentes:
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Fonte: istoe.com.br
4.1 Esquizofrenia:
É uma doença crónica, que afeta cerca de 1% da população, apresenta múltiplos sintomas psicóticos. Esquizofrenia é uma doença psiquiátrica caracterizada por alterações no funcionamento da mente que provoca distúrbios do pensamento e das emoções, mudanças no comportamento, além de perda noção da realidade e do juízo crítico. Apesar de ser mais comum entre os 15 e 35 anos, a esquizofrenia pode surgir em qualquer idade, e costuma se manifestar através tipos diferentes, como paranoide, catatônica, herbefrênica ou indiferenciada, por exemplo, que apresentam sintomas que variam desde alucinações, ilusões, comportamento antissocial, perda da motivação ou alterações da memória. E apesar de não ter cura, pode ser bem controlada com medicamentos antipsicóticos, como Risperidona, Quetiapina ou Clozapina, por exemplo, orientados pelo psiquiatra, além de outras terapias, como psicoterapia e terapia ocupacional, como forma de ajudar o paciente a se reabilitar e reintegrar à família e à sociedade. Principais sintomas:
Anormalidades
na
forma
de
se
movimentar,
com
movimentos
descoordenados e involuntários, além do catatonismo, caracterizado pela falta de movimentação, presença de movimentos repetidos, olhar fixo, caretas, eco da fala ou ficar mudo, por exemplo. 46
Alterações
do
comportamento,
podendo
haver
surtos
psicóticos, agressividade, agitação e risco de suicídio.
Falta de atenção e concentração.
Alterações na memória e dificuldades no aprendizado.
Quais são os tip os: A esquizofrenia pode ser classificada em diferentes tipos, de
acordo com os principais sintomas que a pessoa apresenta, os principais tipos são: Esquizofrenia paranoide: É o tipo mais comum, em que predominam os delírios
e alucinações, principalmente o ouvir vozes, sendo também comum alterações do comportamento, como agitação, inquietação. Esquizofrenia Catatônica: É caracterizada pela presença do catatonismo, em
que a pessoa não reage de forma correta ao ambiente, havendo movimentos lentos ou paralisia do corpo, em que se pode permanecer na mesma posição por horas a dias, fala lentificada ou não falar, repetição de palavras ou frases que alguém acabou de dizer, como também a repetição de movimentos bizarros, realização de caretas ou olhar fixo. É um tipo menos comum de esquizofrenia, e de tratamento mais difícil, havendo risco de complicações como desnutrição ou autoagressão, por exemplo. Esquizofrenia Herbefrênica ou Desorganizada: Predomina o pensamento
desorganizado, com falas sem sentido e fora do contexto, além de ser comum a presença de sintomas negativos, como desinteresse, isolamento social e perda da capacidade de realizar atividades do dia-a-dia. Esquizofrenia Indiferenciada: Surge quando há sintomas de esquizofrenia,
entretanto, a pessoa não se encaixa nos tipos citados. Esquizofrenia Residual: É uma forma crônica da doença. Acontece quando os
critérios para esquizofrenia ocorreram no passado, mas não estão ativos atualmente, entretanto, ainda persistem sintomas negativos como lentificação, isolamento social, falta de iniciativa ou afeição, expressão facial diminuída ou falta de autocuidado, por exemplo. Esquizofrenia infantil: A esquizofrenia infantil é chamada de esquizofrenia
precoce, já que não é comum surgir em crianças, ela se apresenta com os mesmos sintomas e mesmos tipos que a esquizofrenia no adulto, entretanto, costuma ter um início mais gradual, muitas vezes difícil de delimitar quando surgiu.
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É mais comum haver alterações do pensamento, com ideias desorganizadas, delírios, alucinações e difícil contato social. O tratamento é feito com o psiquiatra infantil, com uso de medicamentos, como Haloperidol, Risperidona ou Olanzapina, por exemplo, sendo também importante a realização de psicoterapia, terapia ocupacional e orientação familiar. A causa exata do que provoca a esquizofrenia ainda é desconhecida, no entanto, sabe-se que o seu desenvolvimento é influenciado tanto pela genética, já que há maior risco dentro de uma mesma família, como por fatores ambientais, que podem incluir uso de drogas como a maconha, infecções virais, pais com idade avançada no momento da gravidez, desnutrição durante a gravidez, complicações no parto, experiências psicológicas negativas ou sofrer abuso físico ou sexual. O tratamento da esquizofrenia é orientado pelo psiquiatra, com medicamentos antipsicóticos, como Risperidona, Quetiapina, Olanzapina ou Clozapina, por exemplo, que ajudam a controlar principalmente os sintomas positivos, como alucinações, delírios ou alterações do comportamento. Além disso, é necessária a realização de psicoterapia e terapia ocupacional, como forma de contribuir para uma melhor reabilitação e reintegração do paciente ao convívio social. A orientação à família e o acompanhamento por equipes de apoio social e comunitárias também são medidas importantes para melhorar a eficácia do tratamento. 5
DEPRESSÃO
Em casos graves de depressão é possível apresentar sintomas psicóticos (ex: ouvir vozes que dizem que a pessoa é um fracasso; ter um delírio em que a pessoa acha que já morreu); A depressão é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. Pessoas que sofrem com distúrbios de depressão apresentam uma tristeza profunda, perda de interesse generalizado, falta de ânimo, de apetite, ausência de prazer e oscilações de humor que podem culminar em pensamentos suicidas. Há uma grande diferença entre tristeza e depressão, a tristeza pode ocorrer desencadeada por algum fato do cotidiano, onde a pessoa realmente sofre com aquilo 48
até assimilar o que está acontecendo e geralmente não dura mais do que quinze a vinte dias, já a depressão se instala e se não for tratada pode piorar e passar por três estágios, leve, moderada e grave, o suicídio e depressão são muito relacionados, contudo, nem todas as pessoas que apresentam um transtorno depressivo têm o risco de cometer suicídio. Geralmente a pessoa pode apresentar dois ou mais dos seguintes sintomas: apatia, falta de motivação, medos que antes não existiam, dificuldade de concentração, perda ou aumento de apetite, alto grau de pessimismo, ansiedade, angústia, falta de vontade em fazer atividades antes prazerosas, sensação de vazio, irritabilidade, dentre vários outros. A dep ress ão é uma doenç a mul ticausal e bastante complexa. Vários são os fatores qu e podem agravá-la a ponto de levar uma pessoa a tirar a própr ia vida:
A dificuldade ou recusa em buscar ajuda ou tratamento: a doença vai tendo uma evolução progressiva levando o indivíduo à total falta de energia
Doenças orgânicas: Parkinson, algumas doenças reumáticas, alguns tipos de tumores, entre outras doenças, podem produzir como consequências físicas e psíquicas um estado depressivo muito intenso.
Situações de perda muito intensas, que produzam uma verdadeira ruptura de valores do indivíduo. É como se ele perdesse (ou fosse perder) tudo que significa ou dá sentido à sua vida. Não tendo outros valores para continuar vivendo, tira sua vida.
Tipos: existem diversos tipos de distúrbios de depressão, os mais comuns são: Episódio depressivo: Um episódio depressivo costuma ser classificado como um
período de tempo em que a pessoa apresenta uma alteração em seu comportamento, passando por um episódio depressivo apresenta sintomas da síndrome depressiva, como: humor deprimido, falta de energia, Falta de iniciativa e vontade. Estes quadros tendem a ter uma duração mais curta, de até seis meses, sem uma intensificação dos sintomas. Transtorno depressivo maior: Se uma pessoa começa a ter quadros
depressivos recorrentes ou mantém os sintomas de depressão por mais de seis meses 49
com uma intensificação do quadro, pode-se considerar que ela esteja passando por um transtorno depressivo maior. Normalmente o transtorno depressivo maior é um quadro mais grave e também tem grande relação com a herança genética. Nele há uma mudança química no funcionamento do cérebro, que pode ser desencadeada por uma causa física ou emocional. Depressão bi polar: As fases de depressão dentro do transtorno bipolar também
são consideradas um subtipo de depressão. Os sintomas apresentados na fase de depressão são os mesmos de um episódio depressivo. Já nas fases de euforia, o paciente pode apresentar sintomas como: agitação, ocupação com diversas atividades, obsessão com determinados assuntos, aumento de impulsividade. Distimia: É uma forma crônica de depressão, porém menos grave do que a forma
mais conhecida da doença. Com a distimia, os sintomas de depressão podem durar um longo período de tempo - muitas vezes, dois anos ou mais. O paciente com distimia pode perder o interesse nas atividades diárias normais, se sentir sem esperança, ter baixa produtividade, baixa autoestima e um sentimento geral de inadequação. As pessoas com distimia são consideradas excessivamente críticas, que estão constantemente reclamando e são incapazes de se divertir. Depressão atípica: Normalmente os quadros de depressão costumam ser
melancólicos, em que o paciente apresenta principalmente tristeza e pensamentos de morte, desesperança e inutilidade. A depressão pode ser atípica quando há predomínio de falta de energia, cansaço, aumento excessivo de sono e o humor apático. Depressão sazonal: O maior exemplo de depressão sazonal são os episódios de
tristeza relacionados ao inverno, que ocorrem devido à baixa exposição à luz solar. Existem outros tipos de depressões sazonais, ligadas às épocas do ano, por exemplo, durante as festas de final de ano onde os níveis de estresse acabam aumentando. Fique atento com períodos de tristeza de desânimo que acontecem em períodos épocas específicas - sempre que está frio ou sempre próximo de uma data específica, por exemplo. Depressão pós-parto: A ocorre logo após o parto. Os sintomas incluem tristeza
e desesperança. Muitas novas mães experimentam alterações de humor e crises de 50
choro após o parto, que se desvanecem rapidamente. Elas acontecem principalmente devido às alterações hormonais decorrentes do término da gravidez. No entanto, algumas mães experimentam esses sintomas com mais intensidade, dando origem à depressão pós-parto. Depressão ps icótica: A depressão psicótica alia os sintomas de tristeza a outros
menos típicos, como delírios e alucinações. Este é considerado um tipo de depressão grave, mas costuma ser raro. No entanto, qualquer pessoa pode desenvolvê-lo, e não só quem tem histórico de psicoses na família. A depressão é na realidade uma ampla família de doenças, por isso denominada Síndrome. Há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. Outros processos que ocorrem dentro das células nervosas também estão envolvidos. Doença bipolar: Tanto na depressão, como na fase de mania é possível estar
psicótico. O Transtorno Afetivo Bipolar, também conhecido como transtorno bipolar ou depressão maníaca, é uma doença mental grave caracterizada por alterações extremas do humor, configurando episódios de mania e depressão. No contexto psiquiátrico, mania significa um estado de humor exaltado, no qual a pessoa se sente muito bem independente do que acontece ao seu redor. Com crises repetidas de depressão e mania: Qualquer dos dois tipos de crise
pode predominar numa mesma pessoa sendo a sua frequência bastante variável. Estas crises podem ser graves, moderadas ou leves e apresentam um impacto importante nas sensações, emoções, ideias e comportamento da pessoa afetada, com perda significativa de qualidade de vida e de autonomia. Estas flutuações de humor, energia e de níveis de atividade interferem com todas as tarefas quotidianas. A doença bipolar é diferente das normais flutuações nas emoções e humor que ocorrem ao longo do tempo. Nesta doença os sintomas são mais graves, prejudicam o relacionamento, o desempenho escolar e no trabalho e podem conduzir ao suicídio.
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Apesar de tudo, trata-se de uma doença que pode ser tratada e que é compatível com uma vida longa e produtiva, com frequência, a doença bipolar inicia-se na adolescência ou na fase de adulto jovem, metade dos casos manifesta-se pela primeira vez antes dos 25 anos de idade, contudo, esta doença pode começar mais cedo ou em fases mais tardias da vida. Estima-se que cerca de 1% da população sofra desta doença, numa percentagem idêntica em ambos os sexos, a causa desta doença ainda não está plenamente estudada. Parecem existir fatores genéticos e biológicos, mas o tipo de personalidade e as experiências
estressantes
desempenham
também
um
papel
relevante
no
desencadeamento das crises. Na doença bipolar encontram-se sintomas de mania e de depressão, o principal sintoma da mania é um estado de humor elevado e expansivo, que tanto pode ser eufórico como irritável. Nas fases iniciais da crise a pessoa pode sentir-se mais alegre, sociável, ativa, faladora, autoconfiante, inteligente e criativa, as crises têm uma duração muito variável, podendo o doente estar em fase maníaca ou depressiva durante horas, dias ou meses os períodos de estabilidade entre as crises podem durar dias, meses ou anos. A doença bipolar nem sempre é fácil de detectar no seu início porque os sintomas podem parecer estar isolados uns dos outros sem fazerem parte de uma mesma condição clínica. Por vezes, o diagnóstico só acontece ao fim de muitos anos, o que atrasa o tratamento. O diagnóstico desta doença baseia-se no exame médico, no qual uma entrevista devidamente orientada é fundamental, e em alguns exames laboratoriais, importantes para excluir outras doenças. O apoio psicológico individual e familiar é um complemento importante para o tratamento. Os medicamentos estabilizadores do humor conseguem, de facto, controlar a doença, diminuindo a probabilidade de recaídas, tanto das crises de depressão como de mania.
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Fonte: infoescola.com
Abus o de dr og as: A causa mais frequente de psicose durante a adolescência é
o abuso de drogas. Doenças orgânicas: Como tumores, encefalites ou determinadas alterações
hormonais. Doenças Neurológic as: Como por exempl o “derrames”, tumores cerebrais. Demência: A demência é um conjunto de sintomas que pode ser causada por
várias doenças. Pessoas com demência podem apresentar psicose. Demência se refere a um quadro em que ocorre a perda das nossas funções mentais, como memória, raciocínio, capacidade de planejamento, linguagem, habilidades manuais, etc. A causa mais comum de demência é a doença de Alzheimer. Abstinên ci a álc oo l: Pessoas com alcoolismo crónico, ao deixarem de beber
repentinamente podem ter sintomatologia psicótica. Epilepsia: A epilepsia é uma doença do sistema nervoso central onde ocorrem
intensas descargas elétricas que não podem ser controladas pela própria pessoa, causando sintomas como movimentos descontrolados do corpo e mordida da língua, por exemplo. Esta doença neurológica não tem cura, mas pode ser controlada com os medicamentos indicados pelo neurologista, como Carbamazepina ou Oxcarbazepina. Na maioria dos casos, quem tem epilepsia pode ter uma vida normal, porém deverá realizar o tratamento por toda a vida para evitar as crises, qualquer pessoa pode ter uma crise 53
epilética em algum momento da vida que pode ser causada por um traumatismo craniano, doenças como meningite ou consumo excessivo de álcool, por exemplo. E nestes casos ao controlar a causa os episódios de epilepsia desaparecem completamente. Sintomas da epilepsia: Os sintomas mais comuns de uma crise epilética são:
Perda de consciência, contrações dos músculos, mordida da língua, incontinência urinária, confusão mental, as crises convulsivas normalmente duram de 30 segundos a 5 minutos, porém existem casos em que podem permanecer por até meia hora e nessas situações pode haver uma lesão cerebral com danos irreversíveis. O diagnóstico da epilepsia é feito com a descrição detalhada dos sintomas apresentados durante um episódio de epilepsia e é confirmado através de exames como:
Eletroencefalograma: que avalia a atividade cerebral.
Exame de sangue: para avaliar os níveis de açúcar, cálcio e sódio, porque quando os seus valores são muito baixos podem levar a crises de epilepsia.
Eletrocardiograma: para verificar se a causa da epilepsia é provocada por
problemas do coração.
Tomografia ou ressonância magnética: para verificar se a epilepsia é provocada por um câncer ou AVC.
Punção lombar: para verificar se é causada por uma infecção cerebral.
Estes exames devem ser realizados, preferencialmente, no momento da crise epilética porque quando realizados fora da crise, podem não evidenciar nenhuma alteração cerebral. A epilepsi a po de afetar indi víduo s de qu alq uer idade, incluindo beb ês ou idosos e pode ser causada por vários fatores como:
Doenças neurológicas, como Alzheimer ou Acidente Vascular Cerebral.
Presença de síndromes neurológicas como Síndrome de West ou Síndrome Lennox- Gastaud.
Doenças infecciosas como a meningite, encefalite ou neurocisticercose.
O tratamento da epilepsia é feito com a toma de anticonvulsivantes por toda a vida indicados
pelo
neurologista,
como
Fenobarbital,
Valproato,
Clonazepam
e
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Carbamazepina, pois estes medicamentos ajudam o indivíduo a controlar a atividade cerebral. Muitas vezes, as pessoas que sofrem de psicose não reconhecem que estão doentes, existem riscos próprios à psicose, por exemplo, o doente pode matar-se porque as vozes lhe disseram para fazer isso ou pode atirar-se de uma janela porque acha que pode voar. Uma pessoa que tem uma doença psicótica irá necessitar de assistência especializada, é necessário fazer o despiste de patologias orgânicas. Assim sendo, num primeiro episódio de psicose o seu médico irá pedir-lhe análises, exames de imagem e/ou um eletroencefalograma. O tratamento envolve medicação anti-psicótica, apoio psicossocial, apoio familiar e educação para a doença. Com apoio adequado a maioria das pessoas que desenvolve uma psicose irá recuperar. Tipos de psicoses
Psicose induzida por drogas, como álcool, maconha, cocaína
Psicose orgânica, causada por lesão cerebral ou enfermidade física que altere o funcionamento do cérebro.
Psicose reativa breve, em que os sintomas aparecem em resposta a um evento muito estressante.
Esquizofrenia, a mais comum das psicoses, de causa ainda não totalmente esclarecida.
Transtorno bipolar, antes chamada de psicose maníaco-depressiva, em que há alternância de mania (momentos de exagerada euforia) com depressão.
Transtorno esquizoafetivo, em que a pessoa tem alterações como no bipolar e no esquizofrênico, mas não se enquadra em nenhum dos dois diagnósticos.
Os principais sinais e sintomas de uma doença psicótica são:
Pensamento confuso, com falta de conexão entre as ideias, por isso as frases emitidas podem não ter sentido. Nesses casos, o indivíduo também pode encontrar dificuldades para se concentrar e ter problemas de memória 55
recente. O pensamento e a fala podem estar muito rápidos ou muito lentos, dependendo do quadro clínico.
Crenças ou ideias esdrúxulas, não baseadas na realidade, incorrigíveis pela argumentação, os chamados “delírios”.
Alucinações, que são percepções falsas da realidade, como ouvir vozes, ver coisas ou sentir cheiros inexistentes ou, ainda, experimentar falsas sensações táteis desagradáveis.
Transformações nos sentimentos, sem nenhum motivo aparente.
Mudança no comportamento usual da pessoa.
Mudança no comportamento usual da pessoa.
O diagnóstico de psicose geralmente é feito pelo psiquiatra por meio de observações clínicas que incluem a história de vida e de saúde do indivíduo, seu quadro psicopatológico e de doenças, a depender do caso, essas observações podem levar meses até chegar a um diagnóstico correto, feito com base na psicopatologia clínica e teórica. As principais características clínicas definidoras das psicoses são: os pensamentos psicóticos são psicologicamente incompreensíveis, apresentam vivências bizarras que não fazem parte do repertório de experiências comuns, como delírios, alucinações, alterações da consciência do eu e não existência de alterações primárias na esfera cognitiva, a memória e o nível de consciência não estão prejudicados. O tratamento da psicose depende da causa e do tipo de alteração, às vezes, a internação em hospital pode ser necessária, principalmente se o paciente representar riscos para a segurança de outras pessoas ou dele próprio. Alguns medicamentos antipsicóticos podem ajudar a controlar alguns sintomas, como alucinações e delírios. Essas drogas também podem ajudar a estabilizar os padrões de humor, de comportamento e de pensamento do paciente.
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PERVERSÃO
A partir de 1919, Freud começou a relacionar perversão e Édipo nos textos (Uma criança é espancada: contribuição ao estudo da origem das perversões), a dissolução do complexo de Édipo, e a organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade”. Nesses textos, ele procura responder à questão da perversão a partir da
articulação entre o complexo de Édipo e o complexo de castração, o que proporciona um avanço considerável na solidificação dos seus estudos. No entanto, é Lacan quem inaugura uma psicanálise na qual a perversão se coloca como um paradigma estrutural, mesmo que essa noção não admita uma só interpretação, trazendo o conceito de estrutura como um “ conjunto de elementos que se constituem na
relação, que são exclusivamente interdependentes e que se regem por determinados leis que fazem parte de uma constituição inter na”. Lacan remonta o complexo de Édipo como uma estrutura intersubjetiva que produz efeitos de representação nos personagens que a integram, evidenciados pela localização que cada um norteia em função do falo. Conforme Andrade (1992), a dinâmica edipiana se desenvolve movida pela dialética do ser e do ter, segundo a qual o sujeito parte de uma posição onde ele é identificado ao falo da mãe para uma outra posição, onde ele, tendo renunciado está identificação pela aceitação da castração simbólica, tende a identificar – se seja aquela que é suposto ter o falo (pai), seja aquela que é suposta não o ter (mãe). Esta operação se atualiza graças a um processo de simbolização inaugural metáfora do Nome-do-Pai. Essa metáfora lacaniana contextualizada em um foco cristão mostra que o Nomedo-Pai é o significante que substitui a simbolização do sujeito na presença ou ausência da mãe. Concomitante, ao analisar a obra de Freud, podemos destrinchar a participação do pai numa constituição da realidade psíquica, o que é uma encruzilhada estrutural do sujeito. Lacan então tomou como base esse legado freudiano e acrescentou o Nome-doPai como um elemento significante, além de agora apresentar o Falo na constituição
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edipiana, já que é impossível tratar – se de estrutura psíquica sem agregar a questão fálica. De acordo com Andrade (1992), uma criança, especialmente na primeira infância, se apresenta em sua coleção de reflexos como sendo o único objeto de desejo da mãe. Logo essa criança exerce uma reciprocidade muito grande para com seus cuidados maternos. A mãe é a detentora do poder, ela é capaz de suprir todas as carências do infanto. Nesse cenário, o gozo, na maioria das vezes, é propiciado de forma natural e intensa, ele mescla além de necessidades orgânicas, um prazer determinante em suas relações de afeto. Por se apresentar de forma tão sobressalente, a mãe vem a ocupar o lugar do Outro simbólico na estrutura psíquica da criança, que já reconhece o poder de gozo e a onipotência da mãe. Dessa forma, o desejo da criança será então o desejo do Outro. O Outro, aqui representado pela mãe, é o ditador desse desejo infantil, e quando a criança se percebe desse fato, além de visualizar que a mãe possui outro desejo que não mais a sua vontade, acaba entrando em grande conflito de identidade, visto que agora a figura paterna é o alvo da mãe, é nesse tocante que se avaliam as frustrações e angústias da criança, que pode então procurar novas formas de desejo do Outro, vivenciando então a castração. O pai simbólico é um rival, e isso pode representar uma intensa perturbação no filho que precisa da mãe para resignificar seus objetos de desejo. Andrade (1992) fala que, não obstante, se por algum contratempo esse estado de perturbação e angústia é anulado ou danificado, a dinâmica edipiana tente a se cristalizar numa forma peculiar de economia de desejo, formando assim uma estrutura perversa. O indivíduo na perversão se fecha numa representação que não pôde atribuir um significado ao que não estava presente, ao que não identificou e assim se impossibilita ,
de entender a castração. E essa ineficácia traz confusão na descoberta do desejo no infanto. Em suma, o perverso despeja na castração a resposta para a falta do pênis da mãe, e esse processo de castrar na visão da criança foi realizado pelo pai, que forçou essa união com a sua mulher (mãe) e demonstrou assim todo o seu poderio.
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A perversão como modo de funcionamento psíquico, advém da negação da distinção dos sexos, que remete para a problemática da castração, e consequente clivagem do ego, resultando num evitamento da castração, na qual a condição de organização genital não se torna capaz de enfrentar a realidade, provocando assim uma angústia, a de castração, que é contida pela negação da diferença de sexos, nomeadamente do sexo feminino e a ameaça que este representa para o sujeito perverso (Harrati et al., 2006). Os indivíduos com organizações de personalidade perversa mostram-se passíveis de regressão, desenvolveram um édipo, ainda que arcaico, apresentam conflitos préedipianos, comportamentos que demonstram um self estruturado e representações de objeto (Meyer, 2011). O funcionamento perverso caracteriza-se pelas fixações pulsionais em zonas erógenas, resultado da falta de integração do ego em função da falha narcísica, que vai dar origem à má formação do superego (Harrati et al., 2006). O sujeito perverso não conseguiu reparar o seu narcisismo, não interiorizou o objeto total, sendo que o único modo de obtenção de prazer se encontra ligado a um objeto parcial, a uma pulsão parcial, o que faz com que tenha de recorrer a objetos e zonas específicas para se compensar psiquicamente (Bergeret, 2000; Harrati et al., 2006). De outra forma, sendo o narcisismo uma falha no sentimento de continuidade indenitária e uma ameaça ao despoletar depressivo, remete para angústias que se constituem demasiadamente intensas, e para a desintegração da representação do ego, logo o recurso à sexualidade é uma defesa perante a falha narcísica originária da ausência de imagens parentais securizantes presentes no mundo psíquico (Chagnon, 2004). Segundo Meyer (2011) o superego não é considerado uma instância malformada, mas sim uma força maior no que respeita à sua estrutura e funções, são as experiências traumáticas e consequentes dinâmicas pré-edipianas que conferem características mais primitivas às perversões. O desenvolvimento desta organização psíquica, com início na infância devido às lutas em volta da integridade do ego (Meyer, 2011), pode remeter para duas origens, a 59
paternal ou a maternal, i.e., ou a figura paternal falha na sua função ou a transmite inapropriadamente, ou a figura maternal falha na sua função de separação mãe-bebé (Razon, 2002). Desta forma, a origem do modo de funcionamento perverso desenvolvesse a partir de uma fase específica de constituição do objeto, na qual é mantida uma ilusão defensiva de poder pela falha narcísica criada, que por sua vez é compensada por relações de domínio, pelo desejo de controlar e anular o objeto (Harrati et al., 2006). As organizações perversas desenvolvem-se perante a tensão nas relações parentais, a exposição a ansiedades e perdas que originam uma intensificação da sexualidade com tendência às suas formas agressivas (Meyer, 2011). O sujeito possuidor de uma organização de personalidade perversa substitui as relações interpessoais por relações de adição, é fantasiado um cenário e elegido um objeto, nos quais se vão manifestar os comportamentos compulsivos do sujeito pela busca de satisfação na exteriorização de pulsões agressivas e desejos de grandeza idealizados (Richards, 2003 cit por Santos T. A., 2007). Surge aqui o fetiche, uma relação estabelecida com as imagos parentais, que é utilizado como forma de proteção contra o objeto que apresenta uma dualidade, visto como bom e mau objeto, o protetor e o que leva à destruição (Santos T. A., 2007). Através de uma perspectiva psicanalítica, o fetiche representa o falo feminino, uma perda que o perverso se impossibilita de aceitar, e o significado que possui, seja aplicado ou não ao sexo, é o de desejo sobre algo como modo de satisfação, de compensação (Santos R. M., 2007). Por outro lado, esta relação objetal pode ser marcada pelo desejo de aniquilação, humilhação ou degradação do objeto, o que vai permitir ao sujeito retribuir aquilo a que foi submetido (Santos & Ceccarelli, 2009). Através de materiais clínicos como o Rorschach, é passível a demonstração que as fantasias destes sujeitos perante o objeto possam ser dirigidas tanto com base no amor como na agressividade (Meyer, 2011). O primeiro a contribuir para o conhecimento das perversões foi Freud através da teoria da sexualidade infantil. Este afirmou que existe uma pulsão sexual durante a
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infância, na qual a criança apresenta características perversas que são integrantes no seu normal desenvolvimento (Jeammet et al., 2003). Desta forma, a perversão constitui um funcionamento psíquico desviante, originário de uma inibição e dissociação do desenvolvimento sexual e no qual resultam comportamentos perversos e modos de satisfação sexual à margem do considerado normal numa fase adulta, derivado das regressões à fase infantil de perversidade (Jeammet et al., 2003). Freud salientou ainda a flutuação periódica entre o objeto normal e o objeto invertido, processo este que faz com que a perversão seja uma das possíveis vicissitudes da pulsão, com regressão ou fixação a um estágio libidinal anterior (Santos & Ceccarelli, 2009; Danan, 2002). Tendo a perversão como mecanismo essencial a negação da castração, o perverso não inscreve imaginariamente a veracidade da castração, mantendo-a como incerta, embora conscientemente saiba que existem diferenças, não é possuidor de uma função simbólica (Santos & Ceccarelli, 2009). Melanie Klein, no seguimento da teoria freudiana, abordou as perversões através dos mecanismos de regressão, fixação e clivagem, a regressão é uma fase pré-edipiana bastante arcaica, a fixação a fantasmas sádico-orais e anais precoces que remetem para um objeto edipiano gerador de sentimento de culpabilidade e angústia, e a clivagem originária da negação da separação entre o objeto idealizado e o objeto frustrante (Jeammet et al., 2003). Esta angústia gerada pela relação objetal, é ultrapassada pelo sujeito através do desenvolvimento de sentimentos de omnipotência como forma de lidar com as ambivalências do meio (Jeammet et al., 2003). Bergeret (2000) refere-se à perversão enquanto carácter perverso e define-o como um modo de funcionamento apoiado numa organização mental perversa. Esta, corresponde ao que até agora foi descrito como perversão, caracteriza-se por ser narcísico fálica, na qual existe a recusa do sexo feminino, a problemática da castração, mas o sujeito consegue manter uma relação amorosa sem apresentar sintomas perversos na sua relação com a característica “perversidade”, ao que o autor
designa por perversos de carácter (Bergeret, 2000).
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A perversidade é um traço de personalidade, uma característica e uma disposição natural inconsciente que leva o sujeito a agir contra o objeto e o meio em geral (Danan, 2002). Está ligada, na maioria das vezes, a formas de perversão, mas há que ter em consideração que nem todas as perversões são sexuais e que a perversidade vai muito além das problemáticas sexuais (Mendoza, 2007). Sendo assim, a perversidade encontra-se associada à noção de mal consciente dirigido ao objeto com o objetivo de satisfazer necessidades, é independente das perversões sexuais e pode manifestar-se em várias áreas, social, relacional e profissional (Harrati et al., 2006). Considera-se a sua origem como anterior à perversão e com uma estreita relação com a psicose, devido ao mecanismo de negação utilizado perante a existência do objeto, não possuindo este qualquer valor, sendo degradado, desvalorizado e inabilitado (Husain, s.d.). É uma disposição permanente da personalidade que remete para a crueldade característica de sujeitos com organização psicopática (Jeammet et al., 2003). Segundo Bergeret (2000) torna-se necessário definir e separar os conceitos carácter perverso e perversão de carácter , como refere o autor, os perversos de perversão verdadeira funcionam psiquicamente com base no sobre investimento compensatório do falo, enquanto os perversos de carácter, atingidos pela perversidade, negam ao objeto o direito ao narcisismo próprio, não podendo este constituir a sua individualidade, que é vista como concorrencial, interesses e investimentos que não direcionados ao próprio sujeito, deve ser tudo ele e para ele, o perverso de carácter mantém os seus objetos numa relação analítica tão estrita no plano sadomasoquista e narcísico como o perverso de perversão tem necessidade de conservar o seu objeto homossexual na sua posse erótica (p.261). O perverso de carácter tem ainda uma tendência para mentir e não é realista nos seus comportamentos (Arlow, 1969 cit por Bergeret, 2000). Apesar de partilharem características, as organizações perversas com os perversos de carácter, especificamente a ausência de sofrimento e de culpabilidade (Bergeret, 2000), apresentam também grandes diferenças. Na perversidade o sujeito recorre à destrutividade, devido aos traumas arcaicos mantidos nas falhas da psique pelo seu carácter desorganizador, a clivagem e negação 62
extrema dos afetos. Aqui a angústia é de aniquilação, torna-se intrusiva e gera uma confusão que comporta aos estabelecimentos dos limites dentro/fora nas relações de objeto. A identidade é constituída através da omnipotência fálica, nas organizações perversas, os traumas são figuráveis e o mecanismo de clivagem faz balançar entre a negação ligada ao narcisismo e a depressão, sendo a manutenção e representação instável do ego restabelecida através do recurso à excitação sensorial erotizada (Chagnon, 2004). Por outro lado, David (s.d. cit por Bergeret, 2000) utiliza outro conceito, o de perversão afetiva, que se define pela relevância do ideal do ego e a inibição da pulsão, sendo esta originária de forças sexuais dissociativas, fazendo intensificar a tendência auto-centrada e a auto afetação, criando assim um movimento de fetichismo interno. 6.1 Fetich e e a Recusa da Perversão “O Fetichismo”, Freud (1927) coloca o fetiche como substituto para o pênis da
mulher (mãe), sendo a recusa (Verleugnung) dessa percepção traumática o mecanismo psíquico de defesa utilizado na perversão. A mesma está presente na constituição de qualquer psiquismo, como uma forma inicial na elaboração de mecanismos de defesa do psiquismo. De forma enfática, é durante as faltas da mãe que o falo assume a função de satisfação de desejo e o fetiche é então um substituto do pênis, um substituto fálico atribuído como símbolo pela criança à mãe. Freud apresenta o fetichismo como sendo uma espécie de modelo geral por seus elementos invariantes, sustentando-se, portanto, como uma estrutura psíquica. Fetichismo é a atribuição simbólica a pessoas, partes do corpo ou coisas de propriedades ou características que emanam de outros objetos ou indivíduos, o termo fetiche vem do francês, que por sua vez vem do português feitiço: sortilégio, artifício, o termo não poderia ser melhor escolhido, pois de certa forma, os fetichistas ficam enfeitiçados pelos objetos que os excitam (Grifo meu).
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Um fetiche é um objeto material ao qual se atribuem poderes mágicos ou sobrenaturais, positivos ou negativos. Inicialmente este conceito foi usado pelos portugueses para se referir aos objetos empregados nos cultos religiosos dos negros da África Ocidental. O termo tornou-se conhecido na Europa através do erudito francês Charles de Brosses em 1757, sendo mais tarde retomado pelos fundadores da sexologia. O conceito de fetichismo foi usado no campo da Antropologia, na Psicanálise, principalmente por Freud, e na Sociologia por Marx. Na língua portuguesa, fetichismo é um substantivo masculino, tendo no dicionário Aurélio os seguintes significados: Rubrica ocultismo, culto de objetos que se supõe representarem entidades espirituais e possuírem poderes de magia; a. Rubrica: Psicopatologia. Desvio do interesse sexual para algumas partes do corpo do parceiro, para alguma função fisiológica ou para peças de vestuário, adorno, entre outra derivação: por extensão de sentido, admiração exagerada, irrestrita, incondicional por uma pessoa ou coisa; veneração (FERREIRA, 1985). Na perspectiva psicopatológica, por analogia, foi cunhada a expressão fetichismo erótico para definir a tendência de um indivíduo, a sentir atração sexual por uma parte especial ou particularidade do corpo, ou por algum objeto a ele associado. Em Psicopatologia, fetichismo se refere à atribuição de significado erótico a roupas e objetos que, em si mesmos, não carregam tal significado, no fetichismo erótico, esses objetos perdem o papel acessório que têm na atividade sexual para se converter em pontos focais dela. Segundo Freud (1910), o fetiche é um substituto do pênis, o pênis da mulher (mãe) em que o menino outrora acreditou, e que por razões lhe são familiares, não deseja abandonar, o que sucedeu, portanto, foi que o menino se recusou a tomar conhecimento do fato de ter percebido que a mulher não tem pênis. E se isso fosse verdade, então seu próprio pênis estaria em perigo e este pênis é extremamente importante nesta infância. E o “... horror da castração ergue um
monumento a si próprio na cri ação desse substituto” (Freud, 1910).
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Então o fetiche é o substituto, contudo, ele substitui não o pênis, mas a sua falta. É nesse sentido que ele é um “monumento” à castração.
O fetiche, então, se torna um símbolo de um triunfo sobre a ameaça de castração e serve de proteção contra ela, desta forma, os fetichistas tornam a mulher objeto tolerável como objeto sexual, evitando assim que eles se tornem homossexuais, pois existe uma aversão aos reais órgãos genitais femininos. A visão do corpo feminino pode ser tolerada sob a condição de que a significação de falta, vazio ou ausência seja anulada pela presença perceptível do objeto fetiche, cuja função é operar um efeito apaziguador sobre a angústia e recusar a perda. A partir daí, será exigida ao ego fetichista, uma repetição contínua dessa recusa por meio de uma atividade compulsiva que situe os objetos perceptíveis e controláveis destinados a cumprir essa função. Por este motivo, eles passam primeiro pelo contato com o objeto do fetiche para depois prosseguir com o curso da relação sexual. Uma consequência do estabelecimento do fetiche na perversão é o empobrecimento e a estereotipia, fixação que impossibilita qualquer jogo amoroso e anula o reconhecimento do outro. Em contrapartida, o fetiche é uma artimanha que parece salvar o fetichista da falta, se bem que está irremediavelmente inscrita no próprio fetiche. Não se sabe ao certo como o objeto é escolhido escolhid o para substituto, no entanto, parece que quando o fetiche é instituído ocorre certo processo, que faz lembrar a interrupção da memória na amnésia traumática. É como se o humano se interrompesse a meio caminho e, a última impressão antes do trauma fosse retida no fetiche. Assim, o pé ou o sapato devem ter preferência como objeto do fetiche, pois o menino espia os órgãos genitais de uma mulher a partir de baixo, das pernas para cima, como também são escolhidos objetos de fetiches, peças íntimas, pois estas cristalizam o momento de se despir, o último momento em que a mulher ainda é fálica. Então, através da teoria psicanalítica, especificamente em Freud, podemos entender que o homem pode experimentar um grau de desconforto que gera angústia diante do ato sexual porque o faz reviver, inconscientemente, o temor da castração,
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fazendo-o se desviar do alvo sexual normal e, incitando-o à sua substituição, desta forma, o indivíduo só obtém prazer sexual se primeiro passar por seu objeto de fetiche. Nessa perspectiva, o fetichista não consegue obter prazer sexual desvinculado do seu objeto de fetiche no qual o objeto amoroso (partes do corpo ou objetos relacionados com o corpo) funciona para o sujeito como o substituto de um falo atribuído à mulher, e cuja ausência é recusada por uma renegação (ROUDINESCO, 1994). Por outro lado, as mulheres são usadas como objetos de fetiche no momento que acreditam que usando tais roupas e sapatos, irão conquistar seu homem, o fetiche é proposto, portanto, como objeto, enquanto significante da lei. Ele é, por assim dizer, o Nome-do-Pai feito objeto, sem qualquer referência a um Outro ausente. Aí reside o seu poder e sua miséria (ANDRADE, 1992). Melhor dito, o perverso tem lei, sim. O que o diferencia é a significação que ele outorga a esta lei. 7
A HISTÓRIA HISTÓRIA DA HISTERIA HISTERIA
A palavra histeria se origina do grego histeria e tem em seu sign ificado “matriz” uma associação direta com a mulher, o termo matriz faz referência a útero e por isso foi inicialmente tido como uma condição médica exclusiva do feminino. No século IV a.C, Hipócrates descreveu a histeria como a sufocação da matriz, ou seja, o útero, que possui autonomia de um ser, desloca-se em direção ao cérebro. Isso ocorre principalmente nas mulheres que não possuem relações sexuais, o que deixaria o útero mais leve e com melhor mobilidade. Inicialmente, a história da histeria mistura-se com a da epilepsia. Foi Hipócrates quem esc esclareceu lareceu sobre a origem da epilepsia no cérebro e separou a história das duas condições médicas (Leite, 2012). A noção de histeria como algo obscuro permanece na Antiguidade, passa pela Idade Média e segue até o estudo de Charcot, a quem Freud seguiu. Freud (1888/1996) relata que na Idade Média a histeria é evidenciada através da possessão e feitiçaria, o que leva as mulheres a serem tratadas como bruxas e então serem queimadas vivas.
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Sobre esse histórico, Trillat (1991) aponta que durante os séculos a histeria provocou desconforto em poderes diversos, sendo tratada por médicos, padres e filósofos. Além do incomodo provocado pela obscuridade da histeria, a diversidade de interesses sobre suas características também proporcionou desenvolvimento do conhecimento em relação a tal condição. No final do século XIX, o estudo da histeria começa a ganhar espaço na carreira do médico neurologista francês Charcot, Cha rcot, que se tornou cada vez mais conhecido por seus feitos em relação a tal assunto. Segundo Freud (1888/1996), até aquele momento não havia ocorrido significante aprofundamento acerca do tema, pois histéricas não eram dignas de observação clínica devido à simulação e ao exagero. Freud vai dizer que a histeria está ligada a uma fixação à fase fálica. Nesta fase, ao se deparar com a percepção de que a mãe não tem falo, o mundo da criança passa a ser dividido entre fálicos e castrados, os primeiros considerados seres superiores e os segundos, inferiores. É ao passar pela resolução do complexo edípico que a criança poderá apreender a diferença entre os sexos e dividir as pessoas em homens e mulheres. A histérica, ao estar fixada nesta fase, verá o mundo dividido em fálicos e castrados. Não há possibilidade ainda de se dar conta da real diferença entre os sexos. Na fase fálica, o pênis como valor fálico é a única referência, só existe um genital. A histérica não sabe o que é ser mulher, portanto representa ser mulher, por isto muitas vezes demonstra um ar teatral, exagerado, dando a sensação de artificialidade. Ser mulher para ela é fantasiado dentro do registro que ela conhece, o fálico, assim ser mulher passaria a ser uma equivalência equivalência simbólica com ter o falo, ela não pode tolerar não ser mulher porque para ela isto significa ser castrada, então aqui a encenação histérica do que ela julga ser mulher. Assim, a feminilidade é passível de ser invejada pela mulher histérica, não qualquerr feminilidade, mas uma feminilidade fálica. qualque A solução histérica para o complexo de castração é facilizar o corpo não genital. O histérico não tem o falo, ele el e é o falo, Freud coloca o excesso excess o de adereços numa mulher
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seria uma tentativa de compensação pela sua falta de pênis, á um jogo que se passa na facilidade, em que há uma ilusão de não estar se perdendo nada. Segundo Silvia Fendrik, do ponto de vista estrutural a histeria supera o âmbito do psicopatológico para ser um modo especifico de estruturação do desejo relacionado ao édipo. Neste campo podemos entender a necessidade de um outro para quem ela dirija seu discurso e a presença do dilema entre ser e ter ou não o falo ao mesmo tempo que este é aludido por meio apenas de um parecer, através de uma identificação com o pênis, o corpo inteiro se transforma em um falo para o olhar do outro. 7.1 Parceria com Breuer
Antes mesmo de ir a Paris, Freud já havia se comunicado com Breuer e tomado conhecimento de um caso clínico seu, Anna O. Relatou a Charcot, quando esteve em Paris, os feitos de Breuer, porém o ídolo francês não demonstrou interesse. Breuer observou, no caso de Anna O., que a paciente podia ser libertada de suas perturbações da consciência quando expressava verbalmente a fantasia afetiva do momento que a dominava, pois, o sintoma estava relacionado a restos de situações afetivas não elaboradas. O sintoma desaparecia ao recordar uma situação através da hipnose e ao realizar o ato psíquico que estava reprimido, assim, esse processo dá livre curso ao afeto e o sintoma desaparece. De tal forma, o sintoma passa a ter um significado afetivo e Breuer chega a um novo método de tratamento, nomeado por ele mesmo de catarse. Tal percepção retrata a importância da expressão verbal da fantasia afetiva envolvida no sintoma para obter a cura. O método catártico consiste em dar vazão ao afeto armazenado que sustenta o sintoma em vias erradas, o efeito do método era obtido ao ab-reagir o afeto por vias normais, o princípio da catarse é dar livre curso aos afetos que não foram descarregados naturalmente, ou por uma situação traumática ou por dissociação mental.
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Freud passa a desenvolver com suas pacientes a mesma experiência e confirma que o sucesso obtido não era limitado a um único caso, aprofunda seus estudos em relação à histeria, sua etiologia e sintomas. Após a insistência de Freud, em conjunto com Breuer, publicam Estudios sobre la histeria, em 1895. A carta de Freud a Breuer de 29/06/1892, presente em evidente a iniciativa de Freud em relação à publicação, na carta, Freud apresenta todo o roteiro do texto a ser publicado. Partir da busca de Freud e Breuer sobre as causas da histeria. Afirmam que para acessar o que desencadeia a histeria, é necessário o uso da hipnose, pois não se trata de conteúdos conscientes, com a lembrança trazida à tona, é possível relacioná-la ao sintoma apresentado e assim sua resolução. É uma busca pela conexão causal, no entanto, existem casos em que a relação causal entre a situação traumática na infância e o sintoma não é estabelecida de forma tão direta, com isso, é feita uma analogia entre a neurose traumática e o fato de o ponto desencadeante da histeria estar implicado em um trauma repleto de afetos não elaborados e, assim, denominam a histeria traumática. Nesse momento fica sedimentada a ideia de que a lembrança da cena traumática não basta para eliminar o sintoma. O que realmente faz a diferença em termos de melhora do paciente é a lembrança do afeto que por sua vez está associado ao sintoma, nesse ponto, os autores revelam a importância de se traduzir em palavras o afeto envolvido no sintoma histérico. A ab-reação não é a única maneira de lidar com o afeto envolvido em um trauma psíquico, é possível associá-lo, de maneira saudável, até o seu desaparecimento. A reação a um afeto precisa ser suficiente para que ele não fique guardado provocando reminiscências. No caso dá reação ser reprimida, o afeto não é suficientemente descarregado e permanece vinculado à lembrança traumática, assim, o silêncio da reação é tomado como mortificação, literalmente traduzido por um fazer adoecer. Em Estúdios, os autores concluem que “e l histérico padeceria principalmente de reminiscências” (Freud 1895/2003, p.44), ou seja, a histeria advém de afetos não resolvidos, estrangulados ou não reagidos. 69
A partir do estudo da histeria, tornou-se necessário o desenvolvimento de uma teoria que explicasse razoavelmente o funcionamento da mente humana, o primeiro conceito fundamental evidenciado é o de inconsciente. Freud deixa clara a suspeita de que ocorrem fenômenos ocultos à consciência no desenvolvimento do sintoma, outro questionamento surge ao perceber que existe uma necessidade em se reagir a um afeto. A partir de tal inquietação, desenvolve-se o princípio da constância, que implica em o psiquismo trabalhar no sentido de manter constante sua quantidade de energia e evitar o excesso de excitamento. Freud afirma que em estúdios não tinha a intenção de esclarecer a natureza da histeria e sim de elucidar a origem dos sintomas, sua publicação retrata a importância da vida afetiva para os sintomas e a distinção entre aspectos conscientes e inconscientes do psiquismo. Apresenta também o aspecto dinâmico do psiquismo, no qual o sintoma nasce do estancamento de um afeto, e o aspecto econômico, que tem o sintoma como resultado de uma transformação de energia. Nesse momento, a importância da sexualidade na etiologia das neuroses ainda não está evidente, o momento seguinte é marcado pelo rompimento de Freud e Breuer e, em outras palavras, da transição do método catártico para o psicanalítico. 7.2 A histeria e a con versão
A histeria de conversão implica na transposição de um conflito psíquico para o corpo. Inicialmente o termo conversão foi utilizado por Freud para caracterizar a histeria como um todo. Ao escrever a Análise de uma fobia de um menino de cinco anos, em 1909, Freud diferencia histeria de conversão da histeria de angústia e também da fobia. A principal diferença reconhecida por Freud entre os dois tipos de histeria é que, na histeria de angustia, a excitação provocada pela moção de afeto é escoada para o corpo e sentida como angústia. No caso da histeria de conversão, evita-se a angústia ao converter a libido em uma parte do corpo (Leite, 2012), cabe ressaltar que a conversão é a maneira encontrada pelo psiquismo para dar conta de uma excitação a mais, impossível de ser elaborada, pelo menos no momento em que é provocada. 70
O excesso de excitação é explicado por Valas (2004) ao descrever o funcionamento do aparelho psíquico de Freud e Lacan: A tensão psíquica se eleva quando a quantidade de informação que o psiquismo recebe aumenta, para tratar dessa informação suplementar, o princípio do prazer que regula o funcionamento do aparelho psíquico mobiliza um número maior de traços mnêmicos (significantes, para Lacan) a fim de ligar essas informações (classifica-las de alguma maneira na memória do inconsciente). Essa ligação permite reduzir todo excesso de tensão que seria dolorosa e, consequentemente, prejudicial ao sujeito. Tal é sucintamente a concepção de aparelho psíquico que Freud utiliza como uma verdadeira metáfora da homeostase do próprio corpo (p.117). Tal excitação ou tensão psíquica a mais está ligada ao afeto embutido no sintoma conversivo, esse afeto, dolorido e não elaborado é, na histeria, traduzido pelo corpo como o sintoma. Assim, a conversão pode ser pensada como uma forma paradigmática da materialização do poder das ideias inconscientes sobre o corpo, do efeito plástico do ato inconsciente sobre os processos somáticos (Sarué, 2004). No entanto, é importante esclarecer que processo somático é diferente de psicossomática.
Fonte: biancabracho.blogspot.com
O termo psicossomático não fez parte da obra de Freud. Para ser considerado psicossomática é preciso que haja lesão corporal observável clinicamente. Na histeria, a lesão corporal inexiste. Nesse caso, a lesão ocorre sobre o corpo simbólico, pulsional e 71
não sobre o real do corpo (Valas, 2004, p.121). Com isso, fica claro que ocorre uma diferença fundamental a respeito do que é entendido como corpo pela psicanálise e a concepção de corpo trabalhada na medicina. 7.3 O sintoma
A sintomatologia da histeria é o que mais chama a atenção à primeira vista. Tal patologia costumava ser descrita, na época de Freud, pelo quadro sintomático de paralisias, afonias, anestesias e etc. O sintoma é o que a medicina busca sanar, é dessa forma que se obtém a cura médica, assim como o conceito de corpo, abordado anteriormente, o sintoma, manifestado nesse corpo pulsional, apresenta um lugar diferente para a psicanálise. Freud escutou suas pacientes e percebeu o sintoma histérico como algo que continha um saber inconsciente, era dotado de sentido e podia ser decifrado, foi a partir do sintoma que suas pacientes chegavam ao consultório, como é até hoje, o que continua a incentivar as pessoas a buscarem um tratamento, seja médico ou psicanalítico, é o incomodo que o sintoma provoca. Com a substituição da teoria da sedução e o reconhecimento da relevância da sexualidade infantil na etiologia das neuroses, a fantasia ganha lugar de destaque na formação do sintoma histérico, isso é evidenciado por Freud em 1906 como comentam Alonso e Fuks (2012). A fantasia passa a ocupar um papel fundamental no funcionamento psíquico, pois ela é única em cada sujeito, é o que torna a realidade psíquica algo de imenso valor não só para a histeria e psicanálise como para qualquer área que busca compreender o sujeito em sua singularidade, é essa a realidade escutada pela psicanálise. Freud (1908/2003) afirma a relação entre fantasia, pulsão e desenvolvimento do sintoma ao esquematizar nove características dos sintomas, dentre as quais chama a atenção para duas delas, a primeira se refere à afirmação que necessariamente o sintoma possui um significado sexual. E a outra característica se refere à origem do sintoma como consequência de duas moções pulsionais opostas, uma sexual e a outra que age na tentativa de inibi-la. 72
Assim, mostra a fantasia ligada à sexualidade na histeria e o sintoma também como efeito do movimento pulsional. As percepções de Freud e Lacan se complementam na compreensão do que representa o sintoma, como satisfação pulsional, para o funcionamento do psiquismo. Partindo da afirmação que o sintoma é uma via de satisfação da pulsão, Quinet (2011), faz um paralelo entre Freud e Lacan. Se para o primeiro a pulsão é o conceito limite entre o físico e o psíquico, para o outro é o conceito-limite entre o simbólico e o real, assim, no registro simbólico, a pulsão é representada no inconsciente por significantes, são os significantes representativos da pulsão que fazem o inconsciente ser estruturado como uma linguagem. ” No registro real, “é a energia que se presentifica como satisfação pulsion al ou gozo do sintoma” (p.47). O significante pode ser entendido como o que produz uma
ordem, a ordem do simbólico, o real é o que escapa à simbolização, é o resto que sobra dessa ordem impossível de ser simbolizada. Assim, o sintoma ao mesmo tempo em que está na ordem simbólica, que permite que seja elaborado, está também na ordem do impossível, é o que foge e não poderá, em parte, ser compreendido. O neurótico goza pelo sintoma, goza por ser impossível de ser elaborado. Essa é uma afirmação paradoxal, pois implica em dizer que a satisfação é obtida também pelo desprazer. Tal situação torna-se mais clara a partir da afirmação de Quinet (2011) que toda pulsão é pulsão de morte. Entende-se que a pulsão de morte tem como princípio a satisfação irrestrita, ou seja, o gozo pleno. Uma conceituação de sintoma feita por Reis (2004) ilustra bem a relação do simbólico e do real, do gozo e de sua restrição. Ele afirma que o sintoma é “uma formaç ão do inconsciente enquanto recalcado,
resultado de um conflito e uma formação de compromisso entre o gozo e a norma” (p.201), um compromisso que implica em uma relação pulsional onde uma parte tenta inibir a outra. Após a colocação sobre a economia pulsional e seu movimento decorrente, fica clara a necessidade de convivência das pulsões, mesmo que, para alguns, aparentem
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princípios opostos como de vida e morte, um funcionamento psíquico saudável consiste em uma harmonia ou fusão pulsional e o adoecimento seria o descompasso entre elas. Estar atento aos sintomas histéricos levou Freud ao questionamento do que favoreceria os histéricos a desenvolverem os sintomas de tal forma. Nesse momento, elaborou a ideia de solicitação somática. Freud a apresenta no relato do caso Dora, em Fragmento da análise de um caso de histeria (1905 [1901]/1996) e é explicado por Leite (2012) como condição de produção do sintoma histérico, pois tal solicitação é oferecida por um processo no interior de um órgão. A mesma autora completa que no caso da histeria de conversão, é a solicitação somática que indica o retorno libidinal a se satisfazer no próprio corpo, pois tal parte do corpo está repleta de sentido simbólico, esse funcionamento evidencia a articulação entre as pulsões de vida e de morte (Idem, 2012). A partir do desenvolvimento da teoria psicanalítica, Alonso e Fuks (2012) resumem o sintoma conversivo como não mais resultado de uma “descarga de afeto ou
transposição de energia resultando em uma alteração somática, mas uma economia de forças vivas em conflito de oposições e interdições” (p.150). Dessa forma, integram os
conceitos de pulsão, corpo e sintoma. Um outro ponto relevante a respeito do sintoma é a sua relação com o desejo. Garcia (2004) afirma que a conversão é caracterizada pelo desejo e que Freud, ao escutar suas pacientes, identifica que o sintoma é a manifestação de um desejo inconsciente, sendo esse desejo o avesso da manifestação somática. Assim, o sintoma para a psicanalise é algo estruturante, algo que permite o funcionamento do sujeito e não o implica em um comprometimento psíquico maior. O sintoma é uma solução que poupa o sujeito de um trabalho psíquico, a elaboração de seu sentido. A satisfação pulsional se relaciona com o aspecto sociocultural na medida em que, até certo ponto, existe uma aceitação da cultura e da sociedade para que tal satisfação ocorra de determinada forma, como ocorreu com a histeria manifestada em diversos momentos e de maneiras distintas.
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Tal satisfação é marcada pela individualidade e ocorrerá pela forma que o psiquismo de cada um sustenta em realizá-la.
Fonte: clinicadrrocha.com.br
A melhor forma de tratamento para histeria consiste em fazer psicoterapia com um psicólogo, de forma a identificar formas de lidar com o excesso de ansiedade e aprender a lidar com as próprias emoções.
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