UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS – UNASUS
ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS DA COERÇÃO À COESÃO
Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
FLORIANÓPOLIS UFSC 2014
GOVERNO FEDERAL Presidência da República Minisério da Saúde Secrearia de Gesão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) Direoria do Deparameno de Gesão a Educação na Saúde Secrearia Execuiva da Universidade Abero do SUS UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reiora Roselane Neckel Vice-Reiora Vice-Reiora Lúcia Helena Pacheco Pró-Reior de Exensão Edison da Rosa CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Torres de Freias Direor Sérgio Fernando Torres Vice-Direora Vice-Direora Isabela de Carlos Back Giuliano Chefe do Deparameno de Saúde Pública Alcides Milon da Silva Coordenadora do Curso Fáima Büchele GRUPO GESTOR Anonio Fernando Boing Elza Berger Salema Coelho Kenya Kenya Schmid Reibniz Sheila Rubia Lindner Rosangela Goular
EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE Alexandre Medeiros de Figueiredo Ana Carolina da Conceição Daniel Márcio Pinheiro de Lima Felipe Farias da Silva Graziella Barbosa Barreiros Jaqueline Tavares de Assis Mauro Pioli Rehbein Mônica Diniz Durães Parícia Sanana Sanos Pollyanna Fausa Pimenel de Medeiros Robero Tykanori Kinoshia
GOVERNO FEDERAL Presidência da República Minisério da Saúde Secrearia de Gesão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES) Direoria do Deparameno de Gesão a Educação na Saúde Secrearia Execuiva da Universidade Abero do SUS UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reiora Roselane Neckel Vice-Reiora Vice-Reiora Lúcia Helena Pacheco Pró-Reior de Exensão Edison da Rosa CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE Torres de Freias Direor Sérgio Fernando Torres Vice-Direora Vice-Direora Isabela de Carlos Back Giuliano Chefe do Deparameno de Saúde Pública Alcides Milon da Silva Coordenadora do Curso Fáima Büchele GRUPO GESTOR Anonio Fernando Boing Elza Berger Salema Coelho Kenya Kenya Schmid Reibniz Sheila Rubia Lindner Rosangela Goular
EQUIPE TÉCNICA DO MINISTÉRIO DA SAÚDE Alexandre Medeiros de Figueiredo Ana Carolina da Conceição Daniel Márcio Pinheiro de Lima Felipe Farias da Silva Graziella Barbosa Barreiros Jaqueline Tavares de Assis Mauro Pioli Rehbein Mônica Diniz Durães Parícia Sanana Sanos Pollyanna Fausa Pimenel de Medeiros Robero Tykanori Kinoshia
EQUIPE TÉCNICA DA UFSC Douglas Kovaleski Kovaleski Faima Büchele Mara Verdi Rodrigo Oávio Moreti Pires Waler Waler Ferreira de Oliveira Oliveira
ORGANIZAÇÃO DO MÓDULO Waler Waler Ferreira de Oliveira Oliveira Francisco Job Neo
AUTORIA Marcelo Cruz (unidade 1) Décio Alves (unidade 2)
REVISOR INTERNO André Rosio Marquad
REVISORAS FINAIS Graziella Barbosa Barreiros Jaqueline Tavares de Assis Marcia Aparecida Ferreira de Oliveira
COORDENAÇÃO DE TUTORIA Fernanda Marinhago
GESTÃO DE MÍDIAS Marcelo Capillé
EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL Coordenação Geral da Equipe Marialice de Moraes Coordenação de Produção de Maerial Andreia Mara Fiala Design Insrucional Maser Jimena de Mello Heredia Design Insrucional Agnes Sanfelici Design Gráfico Fabrício Sawczen Volkmann Paschoal Design de Capa Rafaella Volkmann S awczen Projeo Ediorial Fabrício Sawczen REVISÃO Revisão Orográfica Flávia Goular Revisão ABNT Jéssica Naália de Souza dos Sanos
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS – UNASUS
M S C RAPS
FLORIANÓPOLIS UFSC 2014
Caalogação elaborada na fone C957s
Universidade Federal de Sana Caarina. Cenro de Ciências da Saúde. Curso de Aualização em Álcool e Ouras Drogas, da Coerção à Coesão. Singularidades no cuidado da RAPS [Recurso elerônico] / Universidade Federal de sana Caarina; Waler Ferreira de Oliveira; Francisco Job Neo [orgs.]. - Florianópolis : Deparameno de Saúde Pública/UFSC, 20 14. 76 p.: il.,grafs. Modo de acesso: hps://unasus.ufsc.br/alcooleourasdrogas/ Coneúdo do módulo: Manejo de crise. – A consrução do cuidado inegral em rede às pessoas em vulnerabilidades pelo consumo de subsâncias psicoaivas. Inclui bibliografia ISBN: 1. Saúde menal. 2. Saúde pública. 3. Políicas públicas. 4. Sisema Único de Saúde. 5. Educação a disância. I. UFSC. II. Oliveira, Waler Ferreira de. III. Job Neo, Francisco. IV. Cruz, Marcelo Sanos. V. Alves, Décio. VI. Tíulo. CDU 616.89
A M Caro aluno! Chegamos ao úlimo módulo dese curso. Nos módulos aneriores, você conheceu um pouco sobre a hisória do uso de psicoaivos e as suas implicações, assim como as represenações sociais do usuário de drogas. Também esudou sobre a poliica de saúde menal e os direios dos usuários. Você conheceu sobreudo como é proposo o cuidado na Rede de Aenção Psicossocial e como a rede se organiza no rabalho com pessoas em sofrimeno decorrene do uso de drogas, aprendendo conceios balizadores, ais como: erriório, acolhimeno, escua, vínculo, PTS, enre ouros. Para finalizar, nese módulo, nosso objeivo é aprender a lidar com siuações que envolvem o manejo de siuações (sinais e sinomas) no aendimeno à crise de pessoas que usam drogas, numa perspeciva de Rede e de equipe inerdisciplinar e siuações limie que ocorrem no coidiano dos rabalhos nas RAPS de odo o Brasil. Para ano, indicamos como operar o cuidado inegral nas pessoas em siuações de vulnerabilidade por álcool ou ouras drogas, na lógica da rede inerseorial. Esas unidades são fruo do rabalho não apenas de algumas semanas, mas de vários anos de esudo, pesquisa e rabalho dos auores e organizadores dese módulo. Não é um módulo fácil, como não é fácil o rabalho nesses conexos. Nesse senido, aponam-se esraégias para enender e rabalhar com algumas siuações imporanes no conexo clínico com usuários de álcool e ouras drogas. Ao longo dese esudo, esperamos que você possa refleir sobre as proposas de cuidado apresenadas idenificar poencialidades e esraégias de rabalho na sua equipe. Por fim, propomos que você exercie a reflexão comparaiva de suas vivências e a sua ação nas condições próprias de seu erriório (aiude). Bom rabalho! Walter Ferreira de Oliveira Francisco Job Neto
O M Apresenar aspecos do manejo de sinais e sinomas no aendimeno às siuações de crise que envolve uso de álcool e ouras drogas. Problemaizar, por meio de casos e siuações do coidiano do rabalho e numa perspeciva de Rede, inervenções e procedimenos da clínica AD, incluindo aenção às pessoas com problemas com a lei e siuações limies, como: manejo de pessoas inoxicadas no serviço; ráfico no serviço; uso de drogas no serviço, enre ouras.
C H 15 horas.
S U������ � – M����� �� ����� ..................................�� �.�. Sinais e sintomas no atendimento à crise de pessoas que usam drogas.................................................................................................. �� �.�.�. Inoxicação ..............................................................................................................�� �.�.�. Absinência ............................................................................................................�� �.�.�. Comorbidades .......................................................................................................�� �.�.�. Ineração de drogas com medicações ...........................................................�� �.�.�. Dificuldades de Relacionameno ...................................................................��
�.�. Manejo da Intoxicação e abstinência ...............................................�� �.�.� Manejo dos quadros de inoxicação ..............................................................�� �.�.�. Manejo dos quadros de absinência ............................................................��
�.�. Resumo da Unidade.................................................................................�� �.�. Leituras complementares....................................................................... ��
U������ � – A ���������� �� ������� �������� �� ���� �� ������� �� ���������������� ���� ������� �� ����������� ����������� ......................................... �� �.�. Introdução - Tão longe, tão perto.... ....................................................�� �.�. Contexto I...................................................................................................�� �.�. Contexto II .................................................................................................�� �.�. Resumo da Unidade ................................................................................�� �.�. Leituras complementares......................................................................��
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Manejo de crise
Manejo de crise
U � – M Ao final dessa unidade você será capaz de: •
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reconhecer, numa perspeciva de Rede e de equipe inerdisciplinar, as siuações limie de crise, comuns ao coidiano do rabalho na RAPS, no campo de álcool e drogas (AD); idenificar sinais e sinomas de quadros de inoxicação, absinência, risco de suicídio, inerações de drogas com medicações e dificuldades no relacionameno; e manejar os sinais e sinomas no aendimeno às crise de pessoas que usam drogas.
�.�. S Nesa unidade, vamos rabalhar o manejo de sinais e sinomas nos aendimenos às crises em saúde menal associadas ao uso de álcool e ouras drogas. Em primeiro lugar, é necessário circunscrevermos o conceio de crise em um aspeco amplo. Assim, é muio imporane lembrarmos que a crise é muio mais que a agiação psicomoora, a inoxicação aguda, a absinência, enre ouros quadros. Como sabemos, a crise se esende para muio além desses momenos de agudização dos sinomas. A crise é o momeno do sofrimeno inenso, a necessidade maior de apoio e supore, quando se inensifica a desorganização e o sujeio esá mais fragilizado para “negociar a vida coidiana”. Não é necessariamene breve e não é superada só por meio da eliminação dos sinomas. Todavia, é igualmene o momeno do sujeio exernar o que lhe faz sofrer e descobrir seus caminhos de saída e de reconsrução. De posse das informações e impressões que os momenos de crise oferecem, a pessoa em cuidado e o cuidador podem reconsruir rajeos e gerar Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
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possibilidades. É fundamenal lembrar a riqueza desse momeno, evidenciando seu poencial de ransformação e valorização, que envolve um cuidado longiudinal, em rede e no erriório. O cuidado em saúde menal assume o propósio e a responsabilidade de aricular os diferenes aores e insiuições para a criação e o acompanhameno dos projeos erapêuicos de cada usuário, em sua singularidade. Da mesma forma, como já vimos, é imprescindível lembrarmos que os serviços de base comuniária, especialmene os CAPSs, foram pensados e criados para susenar o cuidado às pessoas em grave sofrimeno menal e dar supore aos momenos de crise como esraégia para eviar inernações desnecessárias. Em ouras palavras, é fundamenal qualificarmos nossa capacidade de cuidarmos de pessoas em siuações de crise, se quisermos cumprir efeivamene nossa função saniária.
A aenção às siuações de crise e urgência em saúde menal é um aspeco fundamenal no cuidado na Rede de Aenção Psicossocial. É imporane que você possa se apropriar com maior profundidade da aenção às siuações de crise em saúde menal, considerando siuações mais prevalenes, principais abordagens e possibilidades de manejo, bem como os desafios para o aendimeno nas Redes de Aenção em Saúde.
A consrução conjuna de novas formas de cuidado na aenção às crises em saúde menal ocupa posição esraégica na consolidação dessa proposa. Nesa unidade, nos dedicaremos a enender alguns aspecos do manejo de sinais e sinomas do aendimeno às siuações de crise que envolvem o uso de álcool e ouras drogas. São eles:
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inoxicação; absinência; comorbidades; e dificuldades no relacionameno inerpessoal.
Para iniciar a nossa discussão, vamos primeiro conceiuar as subsâncias psicoaivas conforme o efeio que elas causam no Sisema Nervoso Cenral. De acordo com essa classificação, emos as chamadas drogas depressoras da Aividade do Sisema Nervoso Cenral, esimulanes da Aividade do Sisema Nervoso Cenral e perurbadoras da Aividade do Sisema Nervoso Cenral. No grupo das drogas depressoras esão incluídas as subsâncias que diminuem a aividade de nosso cérebro, ou seja, deprimem seu funcionameno. Isso significa dizer que a pessoa que faz uso desse ipo de droga fica “desligada”, “devagar”, desineressada pelas coisas. No segundo grupo, o das drogas esimulanes, esão aquelas que auam aumenando a aividade de nosso cérebro. Ou seja, esimulam o funcionameno fazendo com que o usuário fique “ligado”, “elérico”, sem sono. Por fim, no grupo das drogas perurbadoras esão as subsâncias que agem modificando qualiaivamene a aividade de nosso cérebro – ou seja, o cérebro passa a funcionar fora de seu normal (CEBRID, 2011). No quadro abaixo você enconra as subsâncias depressoras, esimulanes e perurbadoras mais conhecidas:
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Quadro 1 – Classificação das Subsâncias Psicoaivas
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Drogas depressoras do sisema nervoso cenral
Bebidas Alcoólicas Solvenes ou Inalanes Tranquilizanes ou Ansiolíicos Calmanes e Sedaivos Opiáceos e Opioides
Drogas esimulanes do sisema nervoso cenral
Anfeaminas Cocaína Crack Nicoina (do Tabaco)
Drogas perurbadoras do sisema nervoso cenral
De origem naural (reino vegeal e reino funghi) Mescalina (do caco mexicano). THC (da maconha). Psilocibina (de ceros cogumelos). DMT (Ayahuasca, Sano Daime, Vegeal, Jurema) Lírio (rombeeira, zabumba ou saia-branca). De origem sinéica LSD-25. Êxase.
Fone: Quadro consruído a parir das informações disponíveis no Livreo Informaivo sobre Drogas Psicorópicas , publicado pelo CEBRID (2011). Esa publicação pode ser acessada aravés do link: htp://www.cebrid.epm.br/index.php
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A seguir, vamos apresenar de forma mais aprofundada cada um desses sinais e sinomas, os quais podem esar presenes no aendimeno às crises relacionadas ao uso de álcool e ouras drogas.
1.1.1. Intoxicação Segundo a décima edição da Classificação Inernacional das Doenças (OMS, 1993), Inoxicação é o “esado consequene ao uso de uma subsância psicoaiva”. Esse esado inclui “perurbações da consciência, das faculdades cogniivas, da percepção, do afeo ou do comporameno, ou de ouras funções e resposas psicofisiológicas”. Dio de oura forma, pode-se dizer que inoxicação é o quadro de alerações do comporameno, do esado menal e físico de uma pessoa que esá sob efeio de uma droga. Cada droga em um quadro de inoxicação ípico. Mas há variações que podem ser relacionadas à dose, padrão (velocidade e frequência) da ingesão, forma de adminisração, pureza ou misura com ouras subsâncias. Faores do indivíduo ambém podem modificar o quadro da inoxicação. Seu esado emocional, esado de saúde, o conexo de uso e o meabolismo da droga podem modificar o efeio da subsância e o padrão de sinomas apresenados. A dinâmica da droga no corpo inclui a sua axa de absorção, disribuição da subsância pelo corpo e para o cérebro, meabolização (forma do corpo eliminar a droga do organismo) e é diferene de pessoa para pessoa. Conhecer o quadro da inoxicação de cada ipo de droga usada abusivamene no Brasil pode ajudá-lo a idenificar qual a causa de deerminada siuação de crise. As lisas de sinomas de inoxicação e absinência apresenadas nese capíulo observam, de modo geral, a evolução progressiva da gravidade dos quadros.
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Intoxicação por álcool
São sinais de inoxicação por álcool: •
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fala arrasada, incoerência, marcha insável; fala confusa ou arrasada, incoordenação moora, marcha insável, rubor facial; desinibição de impulsos agressivos ou sexuais, insabilidade do humor; prejuízo do julgameno, da aenção e da memória; sonolência; e em alas doses, depressão respiraória, arrimias cardíacas, convulsões, coma e more.
Convulsões podem ser causadas pela absinência do álcool, por hipoglicemia, por alerações dos elerólios do sangue, por epilepsias e por raumas cerebrais (JOHNSON, 2009).
Caso haja confusão menal ou oura aleração neurológica, invesigue ouras causas, como raumas e infecções. Eses quadros são muio comuns enre pessoas com pro blemas com álcool e podem ser negligenciados quando o profissional que aende pensa que a confusão menal é causada apenas pela inoxicação com álcool.
Apesar de pouco frequenes, as infecções graves, como meningies e sepicemias, podem produzir quadros de febre e confusão menal que se confundem com alguns quadros de inoxicação grave. Ambos deverão ser manejados em ambienes capazes de oferecer o supore vial e realizar a invesigação diagnósica complea.
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O álcool inibe a secreção do hormônio anidiuréico. Como resulado, o indivíduo sob efeio do álcool urina muio e pode ficar desidraado. A re-hidraação pode ser necessária. Caso seja adminisrada glicose, adminisrar juno a Tiamina (viamina B1), de modo a eviar o princípio de uma síndrome de Wernicke-Korsakoff (JOHNSON, 2009). A deficiência de Tiamina, comum no uso crônico do álcool, provoca um risco de desenvolvimeno de síndrome de Wernicke-Korsakoff. A Síndrome de Wernicke-Korsakoff se apresena com incoordenação da marcha, alerações dos movimenos dos olhos, confusão menal (síndrome de Wernicke) e amnésia (síndrome de Korsakoff) (JOHNSON, 2009). É imporane lembrar que a Síndrome de Korsakoff é irreversível e pode ser prevenida pela adminisração da Tiamina. Assim sendo, mesmo quando não há adminisração de glicose, é imporane adminisrar Tiamina como esraégia de prevenção da síndrome de Wernicke-Korsakoff, principalmene em pacienes com quadro de dependência grave com indícios de má nurição. Link Aprofundar seus conhecimentos sobre a síndrome de Wenicke-Lorsakoff é importante para o reconhecimento de possíveis intoxicações. Leia os textos disponíveis nos links a seguir para saber mais a respeito: hp://www.bestbets.org/bets/bet. php?id=1979 e hp://www.nice.org.uk/nicemedia/ live/12995/48989/48989.pdf .
Além disso, a adminisração de glicose em indivíduos que fazem uso crônico do álcool e que sofrem de deficiência de iamina ambém pode desencadear alerações cardíacas poencialmene graves. Já a ceo-acidose alcoólica se manifesa por aquicardia, dor abdominal e vômios. Ela pode aconecer quando o paciene dependene do álcool inerrompe o uso subiamene ou quando esá inoxicado, de-
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sidraado ou com vômios. O raameno é com a adminisração de glicose (JOHNSON, 2009). Pessoas com abuso crônico do álcool podem er deficiência de magnésio, o que pode precipiar Acidene Vascular Cerebral e ouros pro blemas neurológicos. Enre as complicações frequenes enre dependenes de álcool esão as crises convulsivas. Assim, o magnésio deve ser reposo se a dosagem no sangue esiver baixa (JOHNSON, 2009). Intoxicação por benzodiazepínicos
Benzodiazepínicos são medicamenos uilizados para raameno da ansiedade ou da insônia (NATASY; MARQUES; RIBEIRO, 2008). A ingesão dos benzodiazepínicos em dosagem maior que o usual, em geral, provoca sonolência inensa e indução do sono. Por isso, muias vezes os sinais e sinomas da inoxicação pelo benzodiazepínico não são presenciados pelos profissionais porque o paciene adormece anes de apresená-los. No enano, caso o paciene não durma, ele pode apresenar um quadro basane parecido com a inoxicação pelo álcool, como descrio a seguir. Diferenemene do quadro de inoxicação pelo álcool, na inoxicação pelo benzodiazepínico não há rubor facial nem hálio alcoólico. São sinais de intoxicação por benzodiazepínicos: •
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fala confusa ou arrasada, incoordenação moora, marcha insável; desinibição de impulsos agressivos ou sexuais, insabilidade do humor; prejuízo do julgameno, da aenção e da memória; sonolência; e em alas doses, depressão respiraória, arrimias cardíacas, convulsões, coma e more.
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Intoxicação por opioides
Opioides (ou opiáceos) são subsâncias derivadas naurais ou sinéicas do ópio. São usadas para raameno da dor, como anesésicos ou evenualmene para o raameno da osse. Link Como o uso abusivo de opioides no Brasil é menos comum do que nos Estados Unidos e na Europa, muitos profissionais que atendem pessoas com problemas com drogas nunca viram quadros de intoxicação ou abstinência. Como exemplos, podemos citar os filmes “Além do Limite” (em inglês chama-se Trainspoing), disponível em hp://youtu.be/QtIzQKEgV9E, ou “Ray” (sobre a história do músico Ray Charles).
São sinais de inoxicação por opioides: •
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euforia, seguida de apaia, depressão; lenificação moora, sonolência, fala arrasada; sensação de calor, rubor facial, coceira; diminuição ou abolição da dor; diminuição dos reflexos; prejuízo do julgameno, da aenção e da memória; consrição das pupilas (ficam bem pequenas), consipação inesinal; e em alas doses, depressão respiraória, hipoensão, arrimias cardíacas, convulsões, coma e more.
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Intoxicação por inalantes
Subsâncias sólidas, líquidas ou pasosas que se difundem no ar e podem ser inaladas, aingindo a correne sanguínea aravés dos pulmões e em seguida o cérebro. Como exemplos, emos a cola de sapaeiro, os solvenes e a lança-perfume (ABP, 2012). No caso da inoxicação por inalanes, observa-se um quadro semelhane ao descrio na inoxicação por álcool. São sinais de inoxicação por inalanes: •
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diminuição do apeie; fala confusa ou arrasada, incoordenação moora, marcha insável; desinibição de impulsos agressivos ou sexuais, insabilidade do humor; prejuízo do julgameno, da aenção e da memória; sonolência; verigem, oneiras, alerações da sensopercepção, zumbido nos ouvidos; irriação ocular, irriação das mucosas do nariz e da boca; e náuseas e vômios. em alas doses, depressão respiraória, arrimias cardíacas, convulsões, coma e more.
Intoxicação por estimulantes: cocaína (inclusive o crack) e anfetaminas (inclusive o ecstasy)
O quadro de inoxicação pelos esimulanes do sisema nervoso cenral como a cocaína, inclusive fumada sob forma de crack, é parecido com o da inoxicação pelas anfeaminas, incluindo o ecsasy. A principal diferença dos quadros de inoxicação pelos diferenes esimulanes é no empo de surgimeno e de desaparecimeno dos sinais e
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sinomas. Assim, alguns desses esimulanes provocam um quadro de início e érmino muio mais rápido do ouros. É o caso da comparação do quadro de inoxicação de diferenes formas de adminisração de cocaína, em pó inalado, injeado ou fumado sob forma de crack. As formas fumada (crack) e injeada êm um início e érmino de ação muio mais rápidos e inensos do que a forma inalada (RIBEIRO; ROMANO; MARQUES, 2013). O ecsasy em uma inoxicação de maior duração, que dura de 4 a 6 horas (MARQUES, 2002), e as anfeaminas usadas para emagrecer (anfepramona, fenproporex ec.) mais ainda, durando 12 horas ou mais. São sinais de intoxicação por esmulantes: •
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euforia, grandiosidade (senir-se poderoso); hipervigilância, irriabilidade; insônia, aumeno da energia, diminuição do apeie; aceleração do pensameno e da fala; agiação psicomoora, prejuízo do julgameno; aquicardia; aumeno da emperaura (hiperermia); sudorese, calafrios, dilaação das pupilas; alucinações ou ilusões visuais e áeis; ideias paranoides (senir-se perseguido ou prejudicado); convulsões; aumeno da pressão arerial, arrimias cardíacas e more.
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Intoxicação por maconha
Além da maconha, feia com pares da plana seca fumada em cigarros (os chamados “baseados”), o skunk e o haxixe são formas de fumar as subsâncias da plana. O skunk e o haxixe êm as mesmas subsâncias da maconha fumada em ”baseados”, mas em maior concenração. Assim, o quadro de inoxicação pelo skunk e o haxixe é o mesmo da maconha, mas, por possuírem maior concenração, provocam os sinais e sinomas mais inensos mesmo em menores quanidades. Quando a maconha é ingerida, por exemplo, na forma de bolos e ouros alimenos, a dinâmica da droga no organismo é basane diferene da forma fumada e aumena o risco de inoxicações desagradáveis e problemáicas pela demora no início dos sinomas e maior risco de superdosagem. São sinais de inoxicação por maconha: •
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euforia, ansiedade, reraimeno social; sensação de lenificação do empo, observação da própria inoxicação; ilusões e ouras modificações da percepção; prejuízo do julgameno, perda da memória de curo prazo; desconfiança ou pensamenos de senir-se perseguido; e conjunivas congesas (olhos vermelhos), boca seca, aquicardia, aumeno do apeie.
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Intoxicação por ácido lisérgico (LSD) e outros perturbadores do Sistema Nervoso Central
O LSD, ambém chamado de ácido ou doce, em sido usado no Brasil, principalmene em fesas ou raves. Chás de cogumelos, cacos e ouras planas ambém são usados por seus efeios de aleração na consciência. No Brasil desaca-se o uso religioso ou riualísico do chá ayahuasca1. São sinais de inoxicação por perurbadores do Sisema Nervoso Cenral: •
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prejuízo do julgameno; alerações da percepção (da inensidade, ilusões, alucinações); despersonalização, desrealização, ideias de referência, ideias paranoides; aumeno da inensidade das emoções, ansiedade, depressão; dilaação das pupilas, visão urva, sudorese, remores; “flash back” (reorno passageiro do mesmo quadro horas ou dias depois); e na caso da Ayahuasca, além dos sinais descrios, ainda ocorrem náuseas, vômios e diarreia.
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1 Originalmente, a ayahuasca é utilizada por numerosos grupos indígenas da região amazônica que fazem uso da bebida para fins medicinais e espirituais. Contudo, a bebida ficou conhecida a partir de sua difusão nos centros urbanos brasileiros pelas denominadas religiões ayauasqueiras, sendo as mais populares o Santo Daime e a União do Vegetal. O uso da bebida foi aprovado pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD), vinculado à Secretaria Nacional de Políticas Pú blicas sobre Drogas (SENAD) do Ministério da Justiça (MJ). A Resolução autoriza o uso religioso e ritualístico da be bida e proíbe sua utilização com fins comerciais, turísticos e terapêuticos, conforme evidencia matéria publicada no Diário Oficial da União de 26/01/2010 (Seção 1, páginas 58 a 60). Entre seus efeitos, destacam-se estimulação cardiovascular, aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, sensações de estimulação visual ou auditiva, introspecção psicológica e forte sentimentos emocionais. Usuários relatam desconfortos gastrointestinais, náuseas, vômitos, sensações de estimulação visual ou auditiva, sinestesia, introspecção psicológica e forte sentimentos emocionais, que vão desde tristeza ocasional ou medo até a exaltação e conforto espiritual (SHANON, 2002).
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1.1.2. Abstinência A inerrupção súbia ou fore diminuição do consumo de uma droga que a pessoa usava abusivamene pode precipiar uma reação como vonade inensa de usar a droga e sinomas de desconforo que são específicos para cada ipo de droga. Abstinência de álcool
A absinência do álcool pode ser compreendida assim: o álcool é um depressor do sisema nervoso cenral. Quando a pessoa ingere bebida alcoólica, principalmene depois de algumas horas ou quando ingerido em maior quanidade, o efeio do álcool é ornar a pessoa sonolena, reagindo de forma mais lena aos esímulos. Por ouro lado, o uso crônico do álcool progressivamene provoca uma adapação do cérebro ornando-o mais exciável, ou seja, o indivíduo passa a reagir de forma inensa a esímulos menores. Mas como a pessoa coninua bebendo, o álcool aplaca esa reação aos esímulos. Quando o uso do álcool é inerrompido abrupamene, ocorre um reboe de exciabilidade, que se manifesa pelos sinomas da absinência (JANE, 2010). Quer dizer, a pessoa que esava em um esado crônico de exciabilidade aplacado pelo álcool passa a reagir de forma muio inensa aos esímulos porque não em o efeio do álcool para aplacar. Essa reação inensa aos esímulos se manifesa pelos vários sinomas da absinência. Quando ocorre um quadro grave de absinência do álcool, pode surgir o quadro de delirium remens que, se não raado, em uma moralidade de aé 15% (SACHSE, 2000). A absinência do álcool começa depois de 8 horas após o úlimo uso e aumena progressivamene, aingindo o pico de inensidade em 2 a 4 dias.
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Quadro 2 - Sinais e sinomas de absinência do álcool
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Síndrome de Absinência do Álcool
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Delirium Tremens 48-72
Tremores Sudorese Náuseas Vômios Dor de cabeça
Hiperensão Taquicardia Taquipneia Tremores
Agiação Ansiedade Irriabilidade Sonolência ou insônia Mal esar, fraqueza Transornos audiivos Transornos áeis Transornos visuais
Alucinações Confusão Delirium Desorienação Grave Prejuízo da aenção Convulsões Coma
Fone: Adapado de McKinley (2005).
A seguir descrevemos os quadros de absinência de ouros depressores e esimulanes. Também apresenam grande exciabilidade. Abstinência de benzodiazepínicos
Sinais e sinomas: •
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remores, hiperreflexia (reflexos exacerbados); sudorese, palpiações, leargia; náuseas, vômios, anorexia; sinomas gripais, cefaleia, dores musculares;
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insônia, pesadelos; irriabilidade, depressão; dificuldade de concenração e da memória; inquieação, agiação; despersonalização,desrealização; convulsões, alucinações, delirium.
Abstinência de opioides
Sinais e sinomas: •
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fissura para usar o opioide; ansiedade, agiação, irriabilidade, depressão; anorexia, insônia, bocejar frequene; febre, nariz escorrendo, lacrimejameno; náuseas, vômios, diarreia, dor muscular, “dor nos ossos”; pelos arrepiados, bocejos, remores, cãibras abdominais; dilaação das pupilas; aumeno dos reflexos, aceleração da respiração, sudorese, hiperermia; aquicardia, hiperensão arerial; e convulsões.
Abstinência de inalantes
Sinais e sinomas: •
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sonolência; cansaço; náusea; Marcelo Santos Cruz
Manejo de crise •
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sonhos vívidos; aumeno do apeie; e convulsões.
Abstinência de estimulantes (cocaína, crack e anfetaminas)
Os sinomas da absinência dos esimulanes são semelhanes, sejam eles a cocaína (inclusive o crack) e as anfeaminas (inclusive o ecsasy), diferindo principalmene no empo de aparecimeno e érmino. O início e o érmino é mais rápido para o crack, a cocaína e o ecsasy e mais demorado para as demais anfeaminas. Quano mais rápido o início e final do efeio (como no caso do crack), mais inensos os sinomas de absinência (CRUZ, 1996; RIBEIRO; ROMANO; MARQUES, 2013; MARQUES, 2002). Os sinais e sinomas da absinência de esimulanes são: •
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fissura por usar o esimulane; depressão, ansiedade, irriabilidade; anedonia (fala de ineresse ou prazer); fadiga, exausão; insônia ou sonolência, pesadelos; agiação psicomoora; e aumeno do apeie.
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Unidade 1
1.1.3. Comorbidades Além dos quadros de inoxicação e absinência, ouros problemas de saúde ambém podem se manifesar em uma siuação de crise relacionada ao uso de álcool e ouras drogas. Esses quadros são chamados de comorbidades e podem ser de psiquiáricas ou clínicas. Comorbidades Psiquiátricas
Quadros de Esquizofrenia, Transornos do Humor (como o Transorno Bipolar e a Depressão Maior), quadros de Ansiedade ou Transornos de Personalidade são comorbidades frequenes enre pessoas que êm problemas com drogas (ALVES; KESSLER; RATTO, 2004). Esses quadros podem ser causa de siuações de crise. Elas podem ocorrer, por exemplo, por agudização de um quadro de esquizofrenia ou surgimeno de um quadro maníaco ou depressivo. A desesabilização desses quadros com o surgimeno de delírio, alucinações, agiação, irriabilidade ou ideias de suicídio podem levar o paciene ou seus familiares a procurarem o serviço.
O uso de drogas ou a sua inerrupção produzem sinomas que podem se confundir com os das comorbidades. Tam bém nesses casos, a colea de informações pela hisória e exame psíquico pode esclarecer qual o diagnósico do real moivo da crise.
Como dicas para orienar a diferenciação enre um quadro provocado por uma droga, seja inoxicação ou absinência, e uma comorbidade psiquiárica, sugerimos enar idenificar:
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Marcelo Santos Cruz
Manejo de crise
A relação de empo enre o uso da droga e os sinomas •
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Os sinomas já exisiam anes do início do uso (ou da inerrupção do uso) da droga? Os sinomas persisem por mais de um mês após a inerrupção? Os sinomas ressurgem durane absinência susenada?
Qualidade dos sinomas •
Os sinomas apresenados NÃO esão enre os provocados pela inoxicação ou inerrupção da droga que o paciene usa?
Inensidade dos sinomas •
Os sinomas apresenados são exageradamene mais inensos do que os provocados pela inoxicação ou inerrupção da droga que o paciene usa?
Hisória Familiar •
A família em ouras pessoas com hisória de ransornos menais semelhanes aos apresenados pelo paciene?
Cada resposa posiiva às pergunas acima aumena a chance de que se rae de uma comorbidade, e não de sinomas provocados apenas pela droga (ou sua inerrupção). Comorbidades Clínicas
Além das comorbidades psiquiáricas, pessoas que usam drogas am bém êm maior chance de er doenças físicas (CRUZ; FELICÍSSIMO, 2008). Isso aconece porque o uso de drogas pode provocar essas doenças ou por redução do cuidado com a saúde.
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Unidade 1
Algumas comorbidades clínicas aingem o cérebro e podem se manifesar por alerações do funcionameno menal e do comporameno, que ambém podem se confundir com os quadros de inoxicação e absinência. No quadro a seguir, mosramos exemplos de siuações de crise associadas a comorbidades clínicas, as quais podem surgir em pessoas que usam drogas Quadro 3 - Exemplos de siuações de crise associadas a comorbidades clínicas
Doenças do rao gasroinesinal (sangrameno de varizes esofagianas, úlceras gásricas ec.) Exemplos de comorbidades clínicas que podem provocar siuações de crise mesmo sem aleração do funcionameno menal e do comporameno
Doenças do aparelho cardiovascular (crise hiperensiva, arrimias, isquemia miocárdica) Doenças do aparelho respiraório Crises convulsivas Lesões raumáicas AIDS
Exemplos de comorbidades clínicas comuns enre pessoas que fazem uso de drogas causando aleração do funcionameno menal e do comporameno
Ouras doenças infecciosas graves ou do SNC Encefalopaia hepáica (causada por falência do fígado) Traumaismo craniano Encefalopaia de Wernicke Acidene Vascular Cerebral
Fone: próprio dos auores.
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Manejo de crise
As comorbidades clínicas podem exigir exames e raameno médico apropriado. Sempre que houver dúvida e nos casos agudos, moderados e graves, o paciene deve receber aendimeno médico no seu serviço ou no serviço da rede que é referência clínica para o seu serviço.
1.1.4. Interação de drogas com medicações Paciene com ransornos menais ou clínicos frequenemene esão em raameno com medicamenos e alguns deles podem ineragir com drogas, aumenando os riscos de inoxicação ou efeios colaerais (PRYBYS, 2004). Por exemplo, medicações usadas no raameno da depressão e/ou da ansiedade (chamados de inibidores de recapação de seroonina) e drogas como a cocaína e o ecsasy podem ineragir e produzir um quadro grave chamado síndrome seroonérgica. Ouro exemplo é o aumeno do risco de inoxicação grave por anfeaminas ou ecsasy em pacienes em raameno com rionavir que é um medicameno para AIDS. Além disso, o uso de múliplas drogas pode provocar quadros de maior gravidade pelo efeio somado das subsâncias consumidas. O uso crônico das drogas ambém aumena a gravidade dos quadros. Iso ocorre pela fragilização progressiva do cérebro e do resane do corpo que o uso crônico das drogas provoca.
Em resumo, como pessoas que usam drogas frequenemene ambém êm ou desenvolvem ouros problemas de saúde menal ou física (comorbidades), ese é ouro moivo pelo qual você deve conar sempre com sua equipe mulidisciplinar e com a rede de serviços em que esá inserida a sua unidade.
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Unidade 1
1.1.5. Dificuldades de Relacionamento Dificuldades emocionais e de relacionameno são as maiores moivações em muias siuações de crise, cujos conflios geram ansiedade, irriabilidade, agressividade ou risco de suicídio. O acolhimeno e o reassegurameno são frequenemene necessários. A compreensão da dinâmica e o rabalho em equipe mulidisciplinar (equipe consiuída por profissionais de múliplas formações, como médicos, enfermeiros, psicólogos, assisenes sociais ec.) supervisionada (ou seja, que se reúnem periodicamene com um supervisor para discuir os casos clínicos em aendimeno na unidade) são muio imporanes e resoluivos. Mas é imporane não esquecer a possibilidade de coexisirem os diagnósicos descrios aneriormene (inoxicação, absinência e comorbidades). Risco e ocorrência de agressividade
Uma das siuações mais desafiadoras para quem aende pessoas em sofrimeno associado ao uso de drogas é aquela em que o paciene é agressivo e ameaçador. Mais difícil ainda se esse paciene esá armado. Veja o caso de Carlos: Quando um novo médico iniciou o aendimeno de Carlos, ese lhe conou que usa cocaína há muios anos e volou a andar armado. Disse que anda armado para se defender de pessoas que o difamam na rua e o ameaçam pela inerne. Considerando os sinais e sinomas apresenados nesa unidade, quais hipóeses você levanaria? Provavelmene, levanaríamos as hipóeses de inoxicação pela cocaína e esquizofrenia, que podem provocar alucinações e delírios de perseguição. A mudança de médico pode ser uma faor de desesabilização, gerando insegurança e desconfiança.
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Manejo de crise
Uma causa possível de dificuldade de relacionameno com pessoas que usam os serviços e que pode levar a ameaças e agressividade é aquela em que o paciene (ou seu familiar) não em clareza ou imagina que pode se beneficiar de coisas que de fao não são oferecidas pela insiuição ou pelos profissionais. Confusões desse ipo vão desde imaginar que benefícios sociais podem ser conseguidos incondicionalmene, basando a “boa vonade” dos profissionais, aé o envolvimeno afeivo e sexual com os membros da equipe. Sobre benefícios sociais, nem sempre os pacienes sabem o que é ca bível e direio seu e o que pode não ser aplicável no seu caso. Muios inclusive demandam declarações e ajuda para aposenadoria, vales e aesados de oda a ordem, os quais nem sempre são possíveis. Assédio sexual de profissionais e ouros pacienes ou razer drogas ou armas para denro do serviço ambém podem ser siuações difíceis de serem conornadas. A explicação clara para odos que iniciam o raameno sobre o que é e o que não é aceiável, é uma das formas de prevenir e minimizar essas siuações. Para que isso seja possível, é necessário que a equipe discua aneriormene o que pode oferecer quais os limies e quais as sanções cabíveis para as siuações em que os limies não forem respeiados. Uma equipe, por exemplo, pode decidir comunicar a odos os pacienes no início do seu raameno que ele não pode razer armas ou drogas para a insiuição. Aos explicar os limies, a equipe não deve se senir consrangida nem senir que esá consrangendo os pacienes. Também não deve achar que não há necessidade de expliciar o que odos “deviam saber”. O imporane é lembrar que os limies (e quando necessárias, as sanções) são para o benefício e segurança de odos. Alguns serviços, principalmene os que envolvem inernação ou acolhimeno, uilizam “conraos” verbais ou por escrio, nos quais esses limies e sanções são expliciados com a concordância do paciene. Frequenemene a agressividade é uma enaiva por pare do pacien-
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Unidade 1
e de esabelecer conrole em um conexo em que esá se senindo com medo. Em casos como esses, uma aiude firme, reasseguradora, em equipe e feia pelo profissional que em mais vínculo com o paciene cosuma er os melhores resulados. Nos casos em que pacienes se mosrem francamene ameaçadores ou porem armas, é imporane não enar resolver udo sozinho. Pedir ajuda aos colegas e mosrar que a insiuição esá ao seu lado é fundamenal. Nos casos mais graves, os profissionais da segurança e os bombeiros, reinados para resolver siuações desse ipo, devem ser acionados. Os bombeiros, por exemplo, são reinados para realizar a conenção de pacienes muio agressivos e desconrolados com écnicas que minimizam os riscos. Resumindo, ponuamos algumas dicas para eviar e lidar com siuações de agressividade e ameaças físicas: •
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expliciar o que é oferecido e o que não é pelo profissional e pela insiuição; expliciar limies e sansões; definir conrao; e rabalhar em colaboração (família, colegas, insiuição).
Risco de suicídio
Enre as siuações graves de crise que podem ocorrer enre pessoas que usam drogas, enconra-se o risco de suicídio.
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Manejo de crise
Link Para ampliar os seus conhecimentos sobre o manejo do risco de suicídio, é importante que você leia o Manual de Prevenção do Suicídio do Ministério da Saúde. Disponível em:
Enre caraerísicas de pessoas que êm risco de comporameno de suicídio incluem-se: •
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comporameno reraído, inabilidade para se relacionar com a família e amigos, pouca rede social; doença psiquiárica; alcoolismo; ansiedade ou pânico; mudança na personalidade, irriabilidade, pessimismo, depressão ou apaia; mudança no hábio alimenar e de sono; enaiva de suicídio anerior; odiar-se, senimeno de culpa, de se senir sem valor ou com vergonha; uma perda recene imporane – more, divórcio, separação ec.; hisória familiar de suicídio; desejo súbio de concluir os afazeres pessoais, organizar documenos, escrever um esameno ec.; senimenos de solidão, impoência, desesperança; caras de despedida; doença física crônica, limiane ou dolorosa; menção repeida de more ou suicídio (BRASIL, 2013).
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Unidade 1
Na abordagem da pessoa que usa drogas com comporameno que sugira risco de suicídio, é imporane indagar sobre pensamenos, planos e meios para comeer suicídio. Lembre-se sempre que pergunar não aumena o risco, pelo conrário. Além disso, deve-se oferecer apoio emocional e rabalhar os senimenos suicidas. Isso pode ser feio ouvindo o paciene sobre o que o esá incomodando e desacando seus ponos posiivos. Esa é uma siuação em que sempre se deve conar com a equipe muliprofissional para ajudar no aendimeno. Caso não haja melhora ou na suspeia de risco moderado, proponha uma espécie de conrao ao paciene. Esse conrao em a finalidade de ganhar empo aé que as medidas omadas deem resulado. O conrao deve incluir um compromisso de que a pessoa não vai enar suicídio sem conaar a equipe de saúde e que não vai fazê-lo por um período combinado. Além disso, peça auorização do paciene para enrar em conao com seus familiares ou amigos e esclarecer aos familiares ou amigos sobre o risco e as medidas de prevenção. Nos casos de risco maior, não deixar a pessoa sozinha, impedir acesso aos meios (medicações, facas, armas ec.), rediscuir o conrao e o encaminhameno para serviço de emergência acompanhado ou em ambulância. Lem brar que esar sob efeio de álcool ou oura droga aumena o risco.
�.�. M I Siuações de crise exigem do profissional e da equipe ações coordenadas e de acordo com o quadro apresenado pelo usuário. Os profissionais poderão lançar mão de diferenes ações e esraégias para conseguir lidar com quadros de inoxicação e absinência.
1.2.1 Manejo dos quadros de intoxicação Na abordagem dos quadros de inoxicação, pode ser necessário o uso de medicações que inerrompam o efeio da droga. São os chamados medicamenos anagonisas. Muias vezes é necessário ambém o raameno de alerações do funcionameno de ouros sisemas orgânicos 36
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Manejo de crise
alerados pela inoxicação. inoxicação. Podemos, enão, resumir o raameno das inoxicações inoxicações assim: •
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raameno das condições ameaçadoras à vida; supore clínico; exames laboraoriais; uso de anagonisas; supore psicossocial; e abordagem e encaminhameno para raameno de abuso ou dependência.
Descrevemos adiane a abordagem específica da inoxicação de cada ipo de droga. Manejo da intoxicação por álcool
Na maioria dos casos, a observação cuidadosa, o apoio e reassegurameno e a prevenção de danos secundários (como acidenes) são suficienes enquano o paciene nauralmene meaboliza (elimina) o álcool (MARQUE; RIBEIRO, 2002; JOHNSON, 2009; BLUMENTHAL e al., 2008). No quadro a seguir você pode visualizar alguns ipos de abordagem de acordo com os sinais apresenados pelo usuário.
Para um paciene que chega apresenando crises convulsivas, é mandaório insalar caeer nasal com oxigênio e puncionar uma veia. Assim, podemos adminisrar o soro glicofisiológico e as medicações necessárias para o conrole das convulsões.
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Unidade 1
Quadro 4 - Sinomas da inoxicação pelo álcool e abordagem de acordo com os sinais apresenados
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O����� ������ �� ���������
Quadro leve a moderado Euforia, fala arrasada, desinibição, sonolência
Reassegurameno Moniorização dos sinais viais
Sonolência inensa
Moniorização dos sinais viais Moniorização das vias aéreas Cuidado com a aspiração de vômio (eviar decúbio dorsal)
Desidraação
Reposição venosa de líquidos
Hipoglicemia
Reposição venosa de glicose precedida de Tiamina inramuscular
Alerações Alerações de eleróli elerólios os (Na, (Na, K, Mg)
Reposição de elerólios
Piora da confusão menal, rebaixameno do nível de consciência
Emergência médica
Fone: Fone: Adapado de Marques; Ribeiro, 2002; Johnson, 2009; Blumenhal e al., 2008
Manejo da intoxicação por Benzodiazepínicos e Inalantes
Cuidados semelhanes aos uilizados no manejo da inoxicação pelo álcool são indicados no manejo da inoxicação ano pelos benzodiazepínicos quano pelos inalanes. Como odas essas drogas são depressores do sisema nervoso cenral, o cuidado maior deve ser com a depressão respiraória que pode levar à more. Assim, o moniorameno das vias aéreas e da respiração é indispensável. No caso da inoxicação pelos benzodiazepínicos, o uso do anagonisa Flumazenil pode ser indicado, mas é conroverso, pois há o risco de indução de crises convulsivas. Weinbroun e al. (1996) não observaram crises convulsivas com um esquema de adminisração de Flumazenil 0,1 mg inravenoso a cada 30 segundos aé o paciene sair do orpor 38
Marcelo Santos Cruz
Manejo de crise
ou coma ou aé uma dose máxima de 2,5 mg. Caso não enha havido resposa com essa dose, rever o diagnósico. Como o Benzodiazepínico que moivou a inoxicação pode er uma meia vida longa, o paciene pode volar a ficar orporoso ou volar ao coma após alguns minuos depois de responder favorav favoravelmene elmene ao Flumazenil. Nesse caso, esses auores sugerem adminisrar o Flumazenil em infusão venosa conínua de 0,3 a 0,7 mg por hora. A desidraação, desidraação, as alerações de elerólios e a hipoglicemia que ocorrem com frequência na inoxicação pelo álcool não são frequenes na inoxicação pelos benzodiazepínicos nem por inalanes. Mesmo assim, deve-se colher amosras de sangue e urina para o exame oxicológico, pois nos casos de enaiva de suicídio, o paciene pode er ingerido ouras subsâncias além do benzodiazepínico idenificado. O quadro a seguir resume as medidas necessárias. Quadro 5 - Sinomas e abordagem da inoxicação pelos benzodiazepínicos e por inalanes e abordagem de acordo com os sinais apresenados
S������� ������
O����� ������ �� ��������� Benzodiazepínicos
Sedação
Moniorameno de vias aéreas, respiração e cardíaca
Amnesia
Supore e reassegurameno
Depr Depress essão ão res respi pira raó óri riaa
Moni Monio ora ramen meno o de de vias vias aér aérea eas, s, res respi pira raçã çãoo e cardíaca
Coma
Supore. Recuperação esponânea, mas moniorar respiração
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Inalanes Hipóxia
Oxigênio
Toneira, confusão menal
Supore e reassegurameno
Arrimia cardíaca
Cuidado em serviço clínico de emergência com aniarrímicos
Taquiarrimia
Beabloqueador, se necessário
Insuficiência Renal/ Hepáica
Moniorameno de uréia, creainina, ransaminases
Fone: Adapado de Broderick (2003).
Manejo da intoxicação por opioides
Também são depressores do sisema nervoso cenral e o risco de more por parada respiraória é grave na inoxicação pelos opioides. Por isso, são reforçados os cuidados com as vias aéreas, respiração e risco de aspiração de vômios. Hipoensão, edema pulmonar e convulsões são complicações clínicas da inoxicação por opioides que ambém são ameaçadoras à vida e necessiam raameno médico específico. Além disso, pode ser necessária a adminisração do anagonisa naloxona. Baleri e al. (2004) descrevem a adminisração de naloxona: 0,8 mg inravenosa, reavalição em 15 minuos. Caso o paciene não acorde, minisrar mais 1,6 mg. Se em mais 15 min o paciene não responder, usar 3,2 mg. Se mesmo assim não houver resposa como dilaação das pupilas, agiação, melhora do nível de consciência e da respiração, reavaliar o diagnósico. Lembre-se que a meabolização (eliminação) do anagonisa (naloxona) pode ser bem mais rápida do que a do opioide que o paciene fez uso. Com isso, o paciene pode melhorar com a naloxona e minuos depois volar a ficar orporoso. Por isso, é necessário maner a vigilância das vias aéreas e respiração, mesmo com a melhora com a naloxona. 40
Marcelo Santos Cruz
Manejo de crise
Manejo da intoxicação por estimulantes (cocaína, crack e anfetaminas)
Não exisem anagonisas específicos para a inoxicação pelos esimulanes. Assim, a abordagem da inoxicação pelos esimulanes deve seguir a orienação geral do quadro abaixo. Nos casos leves a moderados, o reassegurameno pode ser suficiene enquano a droga é eliminada pelo organismo. Nos casos graves, há necessidade de raameno médico. Além disso, a avaliação do quadro de cada paciene pode indicar a necessidade de raameno de alerações específicas, como as descrias no quadro abaixo, em unidades de urgência e emergências. Quadro 6 - Sinomas e abordagem da inoxicação por esimulanes e abordagem de acordo com os sinais apresenados
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O����� ������ �� ��������� Cocaína, inclusive crack
Hiperensão, aquicardia
Ani-hiperesivos, Niroprussiao de sódio (Nipride), benzodiazepínicos, moniorameno de ECG
Hiperermia
Compressas frias, venilação
Convulsões
Benzodiazepínicos
Rabdomiólise
Moniorização da hemoglobina do soro e da urina, hidraação, maniol
Espasmo coronariano
Moniorameno de ECG, diliazen, niraos
Anfeaminas incluindo Ecsasy Hiperensão
Benzodiazepínicos, Moniorameno de ECG
Hiperermia
Hidraação para baixar a emperaura, venilação
Agiação, Convulsões
Benzodiazepínicos
Desidraação, Sudorese
Hidraação, elerólios
Fone: Adapado de Broderick (2003).
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Unidade 1
Manejo da intoxicação por maconha e derivados
Na maioria das vezes, ranquilizar o paciene é suficiene. Sinomas específicos podem necessiar cuidados apropriados como no quadro abaixo. Quadro 7 - Sinomas e abordagem da inoxicação por maconha e ouros derivados da canna bis e abordagem de acordo com os sinais apresenados
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Maconha (e ouros derivados da cannabis como haxixe, skunk) Sinomas de pânico (ansiedade, sensação de more iminene, aquicardia, sudorese ec.)
Supore e reassegurameno. Benzodiazepínicos nos quadros mais graves
Sinomas paranoides como suspeição e ilusões ameaçadoras
Supore e reassegurameno
Fone: Adapado de Broderick (2003).
Manejo da intoxicação por LSD e outros perturbadores do Sistema Nervoso Central
No caso da inoxicação pelos perurbadores do SNC (inclusive o LSD), o maior risco é o prejuízo do auo-cuidado, com a pessoa se expondo a siuações perigosas. De uma forma geral, o ambiene ranquilo e o reassegurameno são suficienes, pois a droga é progressivamene eliminada do organismo e, em algumas horas, cessa a inoxicação. No enano, em alguns casos, pode haver necessidade de raameno de sinomas específicos. Por exemplo, caso os sinomas psicóicos (delírios, alucinações e agiação) da inoxicação pelo LSD ou ouros alucinógenos persisirem, se forem muio assusadores para a pessoa inoxicada, ou caso ela se coloque em risco ou se orne ameaçadora, medicações ani-psicóicas podem ser indicadas da mesma forma que em ouros quadros psicóicos. O esquema Haloperidol 5 mg e Promeazina 25 mg inramuscular é eficiene e com baixo risco.
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Manejo de crise
1.2.2. Manejo dos quadros de abstinência Os quadros de absinência incluem inensa vonade de uilizar a droga e sinomas que podem ser foremene desagradáveis. No caso dos depressores do sisema nervoso cenral (álcool, benzodiazepínicos, opioides e inalanes), a absinência pode vir acompanhada de alerações orgânicas graves e aé ameaçadoras da vida. O manejo visa reverer as condições ameaçadoras à vida, diminuir os sinomas desagradáveis e diminuir a fissura pela droga. Para aingir esses objeivos, em alguns casos, exisem medicações que agem de forma semelhane à droga inerrompida. São os chamados agonisas. Assim, podemos resumir o manejo dos quadros de absinência da seguine forma: •
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raameno das condições ameaçadoras à vida; supore clínico; exames laboraoriais; uso de agonisas; supore psicossocial; abordagem e encaminhameno para raameno de abuso ou dependência.
Manejo da abstinência do álcool
É imporane moniorar a progressão e gravidade, usando uma escala de absinência do álcool, e implemenar erapia dirigida para os sinomas e sinais objeivos apresenados em cada caso (JOHNSON, 2009; MARQUES; RIBEIRO, 2002). O moniorameno pode ser feio por meio da escala CIWA-Ar adapada (LARANJEIRA e al., 2000). A abordagem dirigida aos sinomas é a melhor forma de minimizar a sedação excessiva (CRUMPLER; ROSS, 2005). Ou seja, o raameno com a adminisração de medicações deve ser feio com base nos sinomas apresenados por cada paciene e não em um esquema pré-definido. Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
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Unidade 1
As convulsões da absinência do álcool podem ser raadas e prevenidas com benzodiazepínicos e com a correção das ouras alerações que exisirem, como por exemplo, a hipoglicemia , a deficiência de iamina, e o raameno adequado de uma possível (e frequene) epilepsia subjacene. Assim, no caso do álcool, os benzodiazepínicos são os agonisas indicados. Seu uso pode eviar e raar ambém a progressão para o quadro de delirium tremens. A dose do benzodiazepínico indicado (diazepan, clordiazepóxido ou lorazepan) deve ser definida pela gravidade do quadro de absinência (MARQUES; RIBEIRO, 2002). Mas no raameno da absinência do álcool, o objeivo é o alívio dos seus sinomas com o mínimo de sedação possível, e com a reirada dos benzodiazepínicos de forma gradual em curo espaço de empo (semanas). A reirada é imporane para eviar a possibilidade de abuso ou dependência dos benzodiazepínicos. Pessoas que fazem uso crônico do álcool frequenemene desenvolvem diabees devido à pancreaie alcoólica crônica. A reposição de glicose só deve ser feia se os exames mosrarem hipoglicemia. A Tiamina 200 mg inramuscular sempre deve ser adminisrada anes da reposição da glicose. Como alerações de ouros sisemas orgânicos podem aconecer na absinência do álcool, incluindo arrimias cardíacas, alerações da pressão arerial e de elerólios, seu raameno deve ser orienado pelo exame clínico e laboraorial. Manejo da abstinência de benzodiazepínicos
O raameno da absinência de benzodiazepínicos pode necessiar a adminisração de ouro benzodiazepínico de meia-vida mais longa, que nese caso é usado como agonisa. A indicação do uso deses agonisas é a prevenção e raameno dos sinomas da absinência e principalmene dos quadros de crises convulsivas (NATASY; MARQUES; RIBEIRO, 2008).
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Manejo de crise
Manejo da abstinência de opioides
No caso da absinência de opioides, os agonisas usados são a meadona e a buprenorfina. Como essas drogas ambém provocam dependência, sua adminisração deve ser realizada com o paciene inernado ou em serviço especializado que possa minisrar a droga diariamene de forma ambulaorial (BALTERI e al., 2004). Manejo da abstinência de inalantes
Nos casos em que há risco de crises convulsivas, os benzodiazepínicos são indicados. Manejo da abstinência Cocaína (inclusive o crack) e Anfetaminas (inclusive o ecstasy)
Não exisem agonisas para os esimulanes do sisema nervoso cenral aprovados para o raameno da sua absinência. Sendo assim, o raameno da absinência deve ser dirigido aos sinomas apresenados, seguindo a mesma orienação do raameno de urgência dos mesmos sinomas em ouros ransornos menais. Enre pessoas que fazem uso de maconha, LSD ou ouros alucinógenos, quando há necessidade de aendimeno de emergência, o quadro moivador do aendimeno pode ser relacionado às comorbidades, e não propriamene à absinência da subsância.
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Unidade 1
�.�. R U Dedicamo-nos nesa unidade ao esudo do manejo de sinais e sinomas no aendimeno à crise de pessoas que usam drogas. Esse manejo nem sempre é fácil e às vezes pode envolver siuações de risco para o usuário. É imporane salienar que essas quesões são urgências que fazem pare do aendimeno de usuários de drogas e demandam uma auação em rede e no erriório que seja ariculada com as necessidades da pessoa. Assim, as inoxicações, absinência e comorbidades fazem pare do coidiano dos serviços. O rabalho em rede comuniária e inerseorial, considerando especialmene, aenção básica em saúde (NASF, Cenros de Convivência e Culura), aenção especializada (Cenros de Aenção Psicossocial, nas suas diferenes modalidades), aenção às urgências e emergências (SAMU 192, Unidades de Prono Aendimeno, Emergências Hospialares) e aenção hospialar (Leios de Saúde Menal em Hospiais Gerais), (BRASIL, 2011), são fundamenais para o manejo dessas siuações. Na próxima unidade, rabalharemos casos do coidiano dos serviços, nos quais você poderá exerciar as possi bilidades de ariculação enre os vários ponos de aenção da rede no cuidado aos usuários.
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Marcelo Santos Cruz
Manejo de crise
�.�. L BRASIL. Minisério da Saúde. Secrearia de Aenção à Saúde. Deparameno de Ações Programáicas Esraégicas. Área Técnica de Saúde Menal. Manual de Prevenção do Suicídio do Minisério da Saúde, Disponível em: Acesso em: 20 dez. 2013 CLAUDINO A.D; GONÇALVES E. Siuações relacionadas ao uso de subsâncias na emergência psiquiárica. In: SILVEIRA D.X; MOREIRA F.G. Panorama aual de drogas e dependências. São Paulo: Aheneu; 1ª ed. 2006. p. 192-195.
Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
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02
A construção do cuidado integral em rede às pessoas em vulnerabilidade pelo consumo de subtâncias psicoativas
A construção do cuidado integral em rede às pessoas em vulnerabilidade pelo consumo de substâncias psicoativas
U � – A Ao final dessa unidade você será capaz de: •
manejar as siuações de crise que possivelmene ocorram no coidiano de rabalho na RAPS, para o cuidado em siuações de conflio com a lei e/ou vulnerabilidades referenes no campo de AD.
�.�. I - T , .... “Maria, Maria é um dom, uma certa magia, uma força que nos alerta. Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta... ... Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho, sempre! Quem traz na pele essa marca, possui a estranha mania de ter fé na vida!”
Milon Nascimeno
Nesa alura do campeonao, você deve esar se pergunando como aricular odos os conceios e esraégias adquiridos ao longo do curso com a práica do cuidado direamene no seu erriório. Bem, a legislação vigene - porarias, decreos, normas écnicas e ouros - é um excelene insrumeno de aplicabilidade e implanação das políicas, pois permie um parâmero mais concreo na elaboração do cuidado preendido, sem perder de visa as conquisas aneriormene alcançadas. Enão, vamos recordar algumas delas?
Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
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Unidade 1
A consrução de Redes de Cuidado Inegrais de base comuniária (Sisemas Locais de Saúde-SILOS) se consiui como principal desafio esraégico para a América Laina para a superação do modelo de Aenção hospialocênrico, endo na Declaração de Caracas, publicada em 1990, seu principal documeno-guia. Link Conheça melhor a Declaração de Caracas, documento que marca as reformas na atenção à saúde mental nas Américas. Disponível em: hp://bvsms.saude.gov.br/ bvs/publicacoes/declaracao_caracas.pdf
No Brasil, a Lei Federal n. 8080/1990, que regulamena a implanação do Sisema Único de Saúde, já aponava em seu arigo 2º,§1º que “[...]o dever do Esado de garanir a saúde consise na formação e execução de políicas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de ouros agravos e no esabelecimeno de condições que assegurem: acesso igualiário e universal às ações e serviços para a sua promoção, proeção e recuperação.” Na legislação mais recene, podemos ciar as Leis Federais n. 10.216/2001, que dispõe sobre a aenção aos poradores de sofrimeno menal, n. 12.594/2012, que insiui o SINASE- Sisema Nacional de Aendimeno Sócio Educaivo, e o Decreo Federal n. 7.179/2010, Plano Inegrado de Enfrenameno ao Crack e ouras drogas, odos aponando como principais ferramenas para fomenar o cuidado inerdisciplinar e a consrução da rede inerseorial. Nese, o ar.1º,§ 1, esabelece que as ações “[...] deverão ser execuadas de forma descenralizada e inegrada, por meio da conjugação de esforços [...] observadas a inerseorialidade a inerdisciplinariedade, a inegralidade...” e, §2º “O Plano Crack [...] em como fundameno a inegração e ariculação permanene enre as políicas e ações de Saúde, Assisência Social, Segurança Pública, Educação [...] e ouros”.
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Décio Alves
A construção do cuidado integral em rede às pessoas em vulnerabilidade pelo consumo de substâncias psicoativas
Mas, exaamene, o que é isso? Segundo a Poraria n. 4.279/2010, do Minisério da Saúde “[...] A Rede de Aenção à Saúde é definida como arranjos organizaivos de ações e serviços de saúde, de diferenes densidades ecnológicas, que inegradas por meio de sisemas de apoio écnico, logísico e de gesão, buscam garanir a inegralidade do cuidado.” E, de acordo com a Poraria n. 3.088/2011, que define a Rede de Aenção Psicossocial, a “[...] ênfase é nos serviços de base comuniária, caracerizados pela plasicidade de se adequar às necessidades dos usuários e familiares e, não o conrário.” No coidiano dos ponos de aenção, ano da RAS quano da RAPS, inúmeras são as siuações que desafiam os rabalhadores a oferarem cuidados para muio além do esabelecido em proocolos previamene definidos. Quando o cuidado envolve necessidades decorrenes do consumo ou dependência de Subsâncias Psicoaivas (SPA), esamos (nós, rabalhadores) por demais impregnados pelos nossos valores próprios e pela limiação da ideia do cuidado se focar na absinência do consumo das SPA como o principal, se não o único, princípio a ser perseguido. Sem abrir mão desse objeivo, nossa arefa saniária ambém compreende a redução de riscos e agravos a que se submeem as populações vulneráveis em função de seu consumo de SPA. Nesse conexo, de acordo com o que discuimos na unidade anerior, as práicas de redução de danos são ferramenas esraégicas. Elas devem ser incorporadas pelos rabalhadores da RAS e da RAPS no coidiano da ofera do cuidado desas redes e das redes inerseoriais. Essa arefa se orna ainda mais complexa pelo fao de que algumas das SPA são ilegais, o que dificula a nossa abordagem e ofera de cuidado, muias vezes deerminada pela jusiça e sem apelo juno aos sujeios do cuidado. Muios deles não querem, não podem ou não conseguem parar de usá-las. Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
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Unidade 1
Consequências direas desse conexo dificulam - e muio - o manejo dos casos no coidiano dos serviços. Usuários que vão para raameno sob efeio de SPA, que as poram durane o cuidado, que esabelecem pequeno comércio de drogas enre os usuários, que esimulam ouros a consumir SPA são, em geral, submeidos à “norma inerna” desses serviços e desligados do raameno por erem infringido esas normas. Reflexão Mas será que é esse o caminho mais adequado para lidar com essas situações?
Devemos lembrar que os CAPS AD foram criados pra cuidar inegralmene dos casos graves em decorrência do consumo de SPA. Ou seja, exaamene os descrios acima que, muias vezes, são os primeiros a serem “expulsos” do serviço por “ala adminisraiva”. A sugesão para odos esses casos esá sempre na conraualidade, ou seja, na revisão do acordo esabelecido no PTS para níveis que sejam possíveis de serem bancados pelo usuário, sem expulsá-lo do serviço. Nunca é demais lembrar que, frequenemene, a “falha” do conrao pacuado esá ceramene no próprio processo de pacuação, quando a equipe pacua fragilmene com o usuário, invesindo pouco na consrução de senido, comunicando grades fixas de aividades, padronizando o cuidado. Nessa dinâmica, o usuário “assina” um conrao que não faz senido para ele, quando, não raro, não em nem disposição, nem condições de cumpri-lo. Ouras siuações-problema se apresenam quando os sujeios esão privados de liberdade e são levados para raameno algemados e com escola policial, o que acarrea em grave risco para o conjuno de usuários em cuidado nos CAPS AD, dada a naureza da sua presença, como já aponado. 52
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A construção do cuidado integral em rede às pessoas em vulnerabilidade pelo consumo de substâncias psicoativas
Também nesses casos, é fundamenal uma aiude coesa da equipe juno aos órgãos de segurança sobre a naureza dos procedimenos a serem oferados e a imporância da reirada das algemas para ano. Assim como do direio do sujeio em raameno ao sigilo erapêuico dos coneúdos a serem apresenados ao erapeua. Como vimos aneriormene, as Inernações Compulsórias recenemene ambém se ornaram um grande problema para os serviços, dada a carência de leios para esse fim na RAS e a inversão da lógica do cuidado quando colocam a ação judiciária (e não a saniária) em ela, sem consiuir disposiivos que sejam adequados para esse fim. Para exemplificar muias das quesões levanadas acima, apresenaremos rês casos, um em acompanhameno pela equipe do CAPS AD de Jaraguá do Sul/SC e dois deles acompanhados e descrios pelas equipes do Consulório na Rua e da Unidade de Acolhimeno (República Terapêuica) infano-juvenil de São Bernardo do Campo/SP. Opamos por maner a escria discursiva das equipes com o objeivo de produzir imanência, proximidade e idenidade enre você, esudane e rabalhador de saúde menal e as equipes que aqui descrevem seu rabalho. Sendo assim, lembramos que ese módulo foi escrio por muias mãos que operam coidianamene o cuidado nos seus erriórios de abrangência, sendo em si um exemplo de produção coleiva e inerdisciplinar.
�.�. C I O Município de 143.000 habianes (IBGE, 2010) cona com uma Rede de Aenção Psicossocial composa por 1 CAPS II, 1 Ambulaório de Saúde Menal Infanil (ASMi), 1 equipe de Mariciameno (S.Menal) e 1 CAPS AD II, consruídos ao longo dos úlimos 06 anos.
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Unidade 1
Maria Rosa
Maria Rosa, 36 anos, procurou o CAPS AD em 10/02/12, junamene com o companheiro, pois procurava um auxílio para “sair do buraco” (sic), e principalmene, resgaar a confiança das pessoas. Relaou fazer uso de crack há cinco meses e consumir aproximadamene 1g da droga aos finais de semana, padrão de consumo que persise aé hoje, embora com períodos de maior e menor consumo. Na daa, sua família desconhecia seu uso de crack, e ela negava qualquer prejuízo profissional decorrene do consumo, embora reconhecesse os prejuízos financeiros e morais. Alguns dias depois, sua mãe procurou o CAPS AD, muio preocupada por er descobero que a filha uilizava drogas e apresenava comporamenos como ameaças de more e chanagens para conseguir dinheiro da mãe. Na daa, foi orienada a procurar o Conselho Tuelar, pela siuação de vulnerabilidade em que se enconravam os filhos de Maria. Enreano, aé maio de 2012, Maria Rosa frequenou esporadicamene o CAPS AD, principalmene aravés de aendimenos individuais, com vários profissionais do serviço. Em abril de 2012, iniciou acompanhameno médico psiquiárico naquele pono de aenção, embora não enha aderido ao raameno farmacoerápico. Durane o período, sua família consanemene procurou o serviço se queixando do esado e siuação da paciene, além de relaar siuações de vulnerabilidade, ano dela, quano de seus filhos. Dois dos filhos foram residir com o pai, em ouro município, por indicação do Conselho Tuelar. Foi quando ela eve conhecimeno de que esava grávida novamene. Porém, ela apresenou resisência em iniciar o acompanhameno pré-naal, o qual consisia na principal orienação de raameno das insiuições que a acompanhavam no período.
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A construção do cuidado integral em rede às pessoas em vulnerabilidade pelo consumo de substâncias psicoativas
Boa Prática Entre junho de 2012 a dezembro de 2012 a situação de Maria Rosa foi acompanhada por meio de matriciamento (ACS), visitas domiciliares e reuniões entre os serviços ESF, Conselho Tutelar, Ambulatório de Saúde Mental Infantil e CAPS AD, sempre na tentativa de que ela pudesse sustentar o cuidado consigo e com os filhos.
No início de 2013 reornou ao CAPS AD com visas a iniciar um novo plano erapêuico, onde em apresenado frequência irregular, com seguidas falas nos agendamenos realizados, sendo que a Visia Domiciliar passou a ser a esraégia para o seu acompanhameno. Tem apresenando dificuldade na organização da dinâmica familiar, principalmene após o companheiro enrar em regime de privação de li berdade juno ao Presídio local, sendo que se ausena seguidamene, deixando os filhos sob a guarda dos demais familiares. Recenemene foi inernada em hospial, onde permaneceu por cerca de 30 dias, endo ala em 10/05/13. Na mesma daa, a usuária ausenou-se de casa sem jusificaiva, reornando apenas no dia 12/05/13. Na manhã de 13/05/13, a usuária foi enconrada no banheiro de casa com quadro de violência auo infligida, sendo que o CAPS AD e a ESF foram acionados para condua quano à siuação. Após ariculação enre os serviços, o SAMU foi acionado, conduzindo a usuária aé o Hospial. Em 14/05, em função da siuação de vulnerabilidade apresenada pela usuária, a mesma foi conduzida por enfermeiro do CAPS AD aé o Hospial e Maernidade, onde se enconra inernada desde enão. O núcleo familiar da usuária é composo pelos filhos de 17, 10, 08 anos e 05 meses, além do companheiro de 26 anos. A família exensa é composa pela avó, mãe, 05 irmãos e ios da usuária, sendo que a maioria deles reside em erreno comum. Sua irmã é acompanhada no CAPS II (desde 2010 – ransorno de humor) e seu filho de 10 anos, no ASMi, desde 2008. Seu companheiro ambém já eseve em acompanhameno no CAPS AD (desde 2012 – uso de crack). Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
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Unidade 1
O Conselho Tuelar e o Minisério Público acompanham a siuação da família supraciada por cona de várias queixas oriundas da escola, vizinhos e ACS. Seus filhos foram rocados de escola por cona de conflios e seguidas ausências. A filha recém-nascida enconra-se sob a guarda da avó maerna aualmene. Desafios da aenção à usuária e Núcleo Familiar: •
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•
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desisência da usuária em comparecer ao CAPS AD; dificuldade da usuária na organização da dinâmica familiar, principalmene na responsabilização com o cuidado dos filhos; redução do conflio familiar ao uso de droga da usuária por pare de familiares e insiuições envolvidas.
Décio Alves
A construção do cuidado integral em rede às pessoas em vulnerabilidade pelo consumo de substâncias psicoativas
Reflexão Baseado nesse texto, perceba que a preocupação da equipe de referência é com o caso como um todo, não focando apenas o consumo de crack, mas oferecendo o suporte institucional possível, “costurado” cotidianamente com os outros parceiros da rede. Busque nesse caso todas as situações em que o vínculo foi mantido pela intervenção conjunta da equipe. Faça uma correlação com situações semelhantes pelas quais você tenha passado, buscando as razões do êxito ou fracasso das intervenções. Com relação aos casos que lhe ocorrerem, tente tam bém responder questões como: • Nas situações em questão os parceiros possíveis fo ram acionados? • Foram sustentados espaços de escuta do(a) usuário(a)? • Ele(a), de fato, participou do processo de decisão e
construção de seu projeto terapêutico? Havia preocupação de construir sentido para o(a) usuário(a) permanecer no processo de cuidar que a equipe propunha? • Houve investimento em mediação de conitos no
contexto de vida do usuário(a)? • Os pontos de atenção envolvidos sustentaram os es-
paços institucionais de encontro para a construção da co-gestão dos casos?
�.�. C II O município implanou enre 2010 e 2012 uma Rede de Aenção Psicossocial para aenção à pessoas com necessidades decorrenes do consumo de álcool, crack e ouras drogas composa de: •
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1 CAPS AD III –Adulo; 1 CAPS AD III Infano-Juvenil; 2 Unidades de Acolhimeno – Naquele município, denominadas Repúblicas Terapêuicas (U.A.) - adulo e infano-juvenil e; 1 Consulório na Rua.
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Unidade 1
Iniciou ambém a desinoxicação de casos graves nas 9 Unidades de Prono Aendimeno (UPAS) e reesruurou seu Conselho Municipal de Políicas sobre Drogas (COMAD), a parir da perspeciva da Saúde Pública. Um erriório grande e populoso (850.000 habianes), cuja gesão municipal assumiu o fundamenal desafio do cuidar em liberdade. O território é real, feito de calçadas irregulares e pedras soltas que dificultam a caminhada. Nada mais real que o asfalto do dia a dia, onde essas histórias, retratos de vida, se desenrolam. Vidas Marias. Quando os olhares das equipes se voltam para o território encontramos tantas Vidas Marias que se contorcem sob essa “dose mais forte lenta” que, para aguentarem, dão outras respostas, no quase limite entre a vida e a morte. (Entrevista com Ana Lúcia Ferraz Amstalden, Gerente dos Serviços de Base Comunitária/Departamento de Saúde Mental (2011/2013)
Maria Luz
Na daa de 26 de abril de 2011, a equipe do Consulório na Rua, em rabalho de campo numa praça, enconra com Maria Luz, que raz um hisórico de abandono, violência familiar e apresena um quadro de alcoolismo. Boa Prática Dentro das possibilidades frisamos a redução de danos em um período de um ano e meio, possibilitando cuidados a saúde dentro da rede. Tendo como princípio o respeito à sua natureza (ou condição) humana, convivemos com seus deslizes, abusos e falhas, que implicaram em desequilíbrios, dramas, conitos e angústias. Trabalhamos sempre a
partir de sua liberdade de escolha e ofertando laços sociais e apoio institucional, dentro do viés da redução de danos.
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A construção do cuidado integral em rede às pessoas em vulnerabilidade pelo consumo de substâncias psicoativas
No aspeco social, buscamos com ela sua documenação e benefícios do governo e junamene com a equipe da Secrearia de Desenvolvimeno Social e Cidadania (SEDESC) resolvemos fazer uma busca aiva a fim de resgaar os laços familiares que esariam em oura cidade. Seus familiares foram enconrados, mas, aé ese momeno, não se dispuseram a recebê-la. A consrução dessa aproximação coninua sendo rabalhada. A família apresena muia resisência com relação à usuária. Na avaliação clinica, Maria Luz referiu er ido Acidene Vascular Encefálico em 2006. A parir desse episódio, ela foi cadasrada e passou a receber o Benefício de Presação Coninuada (BPC/MDS). Esando vinculada ao Consulório na Rua, foi encaminhada para fazer uma baeria de exames, no Cenro de Especialidades I, onde diagnosicamos DST. Seu raameno foi conduzido pela própria equipe. Em odas as abordagens, sempre possibiliamos acesso às enrevisas de acolhimeno do CAPS AD III, oferadas para usuários com necessidades/demandas decorrenes do consumo de subsâncias psicoaivas (SPA) e que manifesam ineresse em aderir ao raameno. No processo de cuidado, o acolhimeno de Maria Luz se deu no CAPS III (Transornos Menais), por escolha dela, pois se senia acolhida e gosava de esar no espaço, criando laços sociais. Os segmenos específicos foram desenvolvidos pela equipe do CAPS AD III, assim como seu Projeo Terapêuico Singular que incluía a alernaiva de morar, durane um período, na Unidade de Acolhimeno (república erapêuica). Durane o processo de rabalho e acompanhameno da equipe do Consulório na Rua e da equipe do CAPS AD, ela apresenou várias siuações limie (crises), que a levaram a abandonar os serviços diversas vezes. Nessa perspeciva, sempre foi acolhida de pora abera para a coninuidade do raameno quando assim desejava. Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
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Unidade 1
Maria ambém praica conduas prevenivas referenes aos cuidados a saúde, prescrias no modelo RD. Nese momeno, frequena o CAPS AD, mora na República Terapêuica (Unidade de Acolhimeno), criando auonomia e ela própria cuidando de sua saúde. Ela vem se reesruurando social e economicamene. A auação em conjuno com os diversos disposiivos da rede de proeção e cuidados foralecem a consrução de novos laços sociais. Ainda que, em alguns momenos, busque ouras alernaivas, como sair com namorado, ir à praça, beber, ela obeve auorregulação e reorna ao serviço sempre que sene esse desejo. De nossa pare, sempre esaremos por lá, seja na rua, no erriório ou na pone e faremos o elo enre os diversos disposiivos insiucionais que possam vir a ser acionados, desde que isso faça senido para Maria Luz. Link Não deixe de assistir ao vídeo Consultório de rua de São Bernardo, importante para compreendermos o papel desse tipo de serviço para o manejo das situações de crise. Disponível em: hp://youtu.be/-QByKpPi-dU
Agora que você assisiu ao vídeo, convidamos você à reflexão. Reflexão Pense nesta afirmação: o foco do cuidado não está na abstinência, e sim no sujeito. Quanto isso é tido como verdade nas intervenções que sua equipe realiza no território?
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Décio Alves
A construção do cuidado integral em rede às pessoas em vulnerabilidade pelo consumo de substâncias psicoativas
Mariana e Mariângela
D. Joana, hoje mãe das gêmeas Mariana e Mariângela, vivia com os pais e irmãos. Após o falecimeno da sua mãe, o pai aprofundou o uso de álcool e ela foi levada para uma insiuição religiosa (espécie de orfanao), onde passou pare da infância e adolescência. Evadiu do local e logo se casou e passou a vida enando er uma família, segundo afirmação da própria Joana. Ao longo dos anos D. Joana eve 8 filhos, sendo que há a possibilidade de duas ouras crianças erem sido encaminhadas para adoção. As informações que obivemos, no primeiro momeno, referenes à família eram que: D. Joana enconrava-se usando muio álcool, deixando os oio filhos sem cuidados e, por vezes levou as crianças para bares, faciliando-lhes o uso de álcool. Com denúncia no conselho uelar, a guarda das crianças foi reirada da mãe e ransferida ao Esado, na figura de uma insiuição de proeção às crianças e adolescenes. D. Joana verbalizou inúmeras vezes que a polícia foi aé a sua casa e reirou seus filhos. Os seis maiores foram para abrigos e os dois menores foram levados para a casa do pai biológico, que é o responsável por eles aé o momeno. As crianças permaneceram abrigadas por vola de 10 anos, Mariana e Mariângela, dos 5 aos 15. Com conao com a mãe, enre idas e vindas de visias domiciliares e férias em família, vivendo períodos inconsanes de aproximação e disanciameno de Joana. Durane a permanência no abrigo, ambas iniciaram o uso de drogas, principalmene cocaína, crack e álcool. Também se envolveram em siuações de exploração sexual, pequenos furos e ráfico de drogas. Mariana (de 08 de abril de 2011 à 19 de maio 2012) e Mariângela ( de 08 de abril 2011 à 18 de ouubro 2011) foram encaminhadas para a repú blica erapêuica (Unidade de Acolhimeno), por necessidade jurídica
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Unidade 1
de serem desvinculadas do abrigo. Ocorreu que esavam acolhidas há 10 anos e, segundo a nova lei (Lei n. 12.010/2009), as crianças devem permanecer pelo empo máximo de 2 anos abrigadas e serem encaminhadas de novo ao lar, ou à nova família. E em combinação com o acompanhameno necessário ao raameno do uso de drogas. Mariana eve a possibilidade de um diagnósico de Síndrome Eílico Feal, mas sem confirmação, pois a mãe nunca afirmou er feio uso de álcool durane a gesação. No enano, segundo avaliação de psicólogo no CAPS ADI, havia essa hipóese. Mariana chegou à república com indicação de Presação de Serviço Comuniário, por er danificado parimônio público do abrigo (que brou um vidro da janela). De acordo com as normas do abrigo, quando maeriais são danificados pelas crianças e adolescenes inencionalmene, esses episódios devem resular em aberura de boleim de ocorrência e encaminhamenos aos râmies legais. Sendo assim, Mariana eve que presar 3 meses de serviço comuniário, paricipando de palesras, cursos, oficinas de carões de naal e visias em asilos. Nesse período, exerceu uma pare da medida no CAPS ADi, auando como recepcionisa e esagiária nesa unidade, com excelene desempenho. A adolescene era acompanhada pelos educadores da República Terapêuica aé os locais das aividades, com horário variável enre 4 ou 8 horas. Mariana cumpriu odo o serviço comuniário sem maiores problemas. As adolescenes chegaram à República Terapêuica fazendo uso de remédios muio fores (Serralina, Risperidona, Clorpromazina e Fluoxeina). Remédios que, por vezes, as deixavam muio lenificadas e que foram sendo reduzidos aos poucos, durane o raameno. Mariângela permaneceu na República enre idas e vindas, mas sem er em perspeciva volar para a casa da mãe. Na realidade, ela vislumbrava consiuir sua própria família. Por relacionar-se com um homem mais velho cerca de dois anos, no seu aniversário de 16 anos, foi 62
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enconrar-se com esse rapaz, numa saída não auorizada e decidiu por não volar mais. Casou-se e eve um filho, agora com mais ou menos 1 ano de idade. Mariângela reservou um quaro na casa onde reside com o marido e o filho para sua irmã Mariana. Enreano, Mariana não quis ficar, preferindo morar com a mãe, no primeiro momeno. Mariana aderiu ao raameno e permaneceu na República. Boa Prática Em nossas reuniões de equipe, estudando este caso e, ponderando que precisaríamos potencializar nossas ações, surgiu a iniciativa de convidar outros atores da rede de cuidados para uma reexão, parceiros como
CREAS, CRAS, Conselho Tutelar, fundação criança, fundação casa, educação e todos que tivessem desejo de participar desta discussão. Assim nasceu o grupo ampliado pela infância e adolescência “GAIA”.
Ao sair da República, após pouco mais de um ano de permanência, Mariana foi para a casa da mãe. Lá, por meio da auação do CAPS ADI, foi feia uma pequena reforma, já que não havia encanameno e fiação para chuveiro. Haviam cômodos inuilizados por fala de poras e por cona do mal esado de conservação, havia muia umidade e falavam alguns elerodomésicos e móveis básicos, como camas, colchões, geladeira e fogão. Uma das filhas mais novas ambém foi liberada pelo juiz para reornar à casa da mãe em visias aos finais de semana, preferindo ficar com a mãe. Mas Mariana eve grandes dificuldades de adapação e reomou o uso de drogas diversas vezes. Conudo, ainda havia o quaro separado pela irmã gêmea, Mariângela, que conseguiu um emprego e precisava de alguém que a ajudasse, cuidando do bebê enquano rabalha. Enão fizeram um arranjo óimo: Mariana, que adora crianças, foi morar na casa de sua irmã gêmea Mariângela, para cuidar do sobrinho . Esão ambas sem uso de medicamenos, sem uso de drogas, esáveis e convivendo muio bem enre si. Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
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Unidade 1
Link É fundamental que você conheça experiências que permitam inspirar o cuidado das situações de crise que podem ocorrer no seu cotidiano de trabalho na RAPS. Para tanto, assista o vídeo sobre tratamento de uso de drogas na Unidade de Acolhimento Temporário (República Terapêutica Infanto-Juvenil). Disponível em: hp://youtu.be/M9Ij17O4-Fs.
Agora que você já assisiu o vídeo, volamos à nossa reflexão. Reflexão A RAPS também se entrelaça e interliga com outras redes, como a de proteção social (Fundação Criança) e a de operação de direitos (Conselho Tutelar, Promotoria e Vara da Infância e Adolescência), muitas vezes em conito de posições e de responsabilidades.
Pense em uma estratégia para identificar os pontos de convergência, os conitos e os pontos de estrangula mento e quais seriam as possibilidades de melhorar as interrelações entre cada ator.
�.�. R U Nessa unidade vimos que a aenção inegral em rede se consrói numa consane negociação enre os aores responsáveis pelo cuidado e, os sujeios suposamene beneficiários dese cuidado. Vimos ambém que a consrução do senido do cuidado ao longo da exisência dos sujeios deve ser nosso principal objeivo, muio além da ideia de que a absinência é a única mea a ser perseguida quando raamos de usuários com problemas decorrenes do abuso e/ou dependência de álcool e ouras drogas.
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A construção do cuidado integral em rede às pessoas em vulnerabilidade pelo consumo de substâncias psicoativas
�.�. L Há auores que raam do ema das drogas sobre diversas ouras óicas. Veja alguns exemplos de filme e livros cujos auores abordam a Are, a Hisória e a Culura associada ao consumo de psicoaivos: BARFLY - CONDENADOS PELO VÍCIO. Produzido por Golan-Globus Producions, The Cannon Group Inc., Zoerope Sudios. EUA: America Video, 1987. DVD (97 min.) Longa meragem - color. Legendado. Por. COOPER, David. Gramáica da Vida. 1979. PESSOA, Fernando. Opiário. Disponível em: Acesso em 20 fev. 2014 CARNEIRO, Henrique. Filros, mesinhas e ríacas: as drogas no mundo moderno. São Paulo: Xamã, 1994.
Módulo Singularidades no Cuidado da RAPS
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E Chegamos ao final do nosso úlimo módulo do Curso, cujos objeivos principais privilegiaram a ransmissão de conhecimenos para a abordagem segura de siuações de crise, e a auação em siuações de urgência e emergência, inclusive inercorrências clínicas, com pessoas que usam drogas. Esudamos casos reais aendidos em unidades da RAPS. Buscamos problemaizar, numa perspeciva de Rede e de ações inerdisciplinares, siuações-limie comuns ao coidiano do rabalho na Rede de Aenção Psicossocial, no campo de Álcool e Drogas. Ese módulo se consiui, dessa forma, como uma sínese de vários conhecimenos discuidos ao longo do curso. É uma oporunidade de reflexão sobre a aplicação do saber em um conexo de auação, uma visão, enfim, dos desafios que o profissional da saúde enfrena em ermos reais, no dia a dia de seu rabalho, frene às siuações proagonizadas pelos usuários, pelos familiares, pelos ouros membros da equipe e por ouros agenes sociais envolvidos no processo de cuidado, no nível da Aenção Psicossocial. É, porano, uma maneira de concreizarmos, de modo perinene, a discussão sobre formas de ação que se fazem necessárias e premenes. Não emos a ilusão de er esgoado essa discussão. Sabemos que quando se aprende algo descorina-se, ao mesmo empo, um novo horizone de aprendizado, mais amplo, mais abrangene, cada vez mais complexo pela adição de novas pergunas, novos elemenos, novos aores que se vão envolvendo nos quesionamenos que se expandem. Nosso objeivo não é finalizar simplesmene, mas ampliar as possibilidades de que o horizone de saberes que se revela a parir do aprendizado do curso seja olhado com mais segurança, com mais vonade de aprender, com a saisfação de sabermos que podemos saber mais. Esperamos ambém que você, esudane, enha senido que, mesmo à disância, esamos próximos, acessíveis, pois muios de nós com66
pomos a mesma Rede. E é no âmbio dessa rede que nos formamos e devemos buscar supore, buscar resposas para nossos quesionamenos e dúvidas, dialogando e nos enriquecendo muuamene, a parir de rocas que esperamos que perdurem para além daqui. É um prazer rabalhar com o conhecimeno e é um prazer poder comparilhá-lo aprendendo cada vez mais com você, colega da área da saúde que paricipa dese curso. Um grande abraço! Walter Ferreira de Oliveira Francisco Job Neto
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_______. LEI Nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012 . Insiui o Sisema Nacional de Aendimeno Socioeducaivo (Sinase), regulamena a execução das medidas socioeducaivas desinadas a adolescene que praique ao infracional; e alera as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 (Esauo da Criança e do Adolescene); 7.560, de 19 de dezembro de 1986, 7.998, de 11 de janeiro de 1990, 5.537, de 21 de novembro de 1968, 8.315, de 23 de dezembro de 1991, 8.706, de 14 de seembro de 1993, os Decreos-Leis nos 4.048, de 22 de janeiro de 1942, 8.621, de 10 de janeiro de 1946, e a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreo-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Disponível em: < htp:// www.planalo.gov.br/ccivil_03/_ao2011-2014/2012/lei/l12594.hm > Acesso em: 10 dez. 2013 BRODERICK M. Spoting drug use. RN.v.66, n.9. Sep 2003, p.48-53. CRUMPLER, J.; ROSS, A. Developmen of an alcohol wihdrawal proocol: a qualiy of care iniiaive. Journal of Nursing Care Qualiy. v.20, n. 4, 2005, p.297–301. CRUZ M.S. Absinência de Cocaína: Um Esudo de Caracerísicas Psicopaológicas em Dependenes que Procuram Traameno. Disseração de Mesrado apresenada ao Insiuo de Psiquiaria da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: 1996, p. 50-75. CRUZ M.S; FELICÍSSIMO M. Problemas médicos, psicológicos e sociais associados ao uso abusivo de álcool e ouras drogas. In SUPERA. Brasília: Secrearia Nacional de Políicas sobre Drogas, 2008. NATASY, H.; MARQUES, A. C. P. R.; RIBEIRO, M. Benzodiazepínicos: abuso e dependência. Usuários de subsâncias psicoaivas: abordagem, diagnósico e raameno. São Paulo: Conselho Regional de Medicina do Esado de São Paulo, Fev 2008. Disponível em: Acesso em: 29 Mai. 2013.
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M Waler Ferreira de Oliveira (Organizador) Professor da Universidade Federal de Sana Caarina (UFSC), coordenador do Mesrado Profissional em Saúde Menal e Aenção Psicossocial da UFSC, Líder do Grupo de Pesquisas em Políicas de Saúde/ Saúde Menal (GPPS), parecerisa de várias revisas cieníficas. Graduado em Medicina pela Escola de Medicina e Cirurgia, da Federação das Escolas Federais Isoladas do Esado do Rio de Janeiro - FEFIERJ, aual Universidade Federal do Esado do Rio de Janeiro - UniRio (1976), Mesrado em Public Healh - MPH, Universiy of Minnesoa (1989) e Docor of Philosophy (Ph.D.), Social and Philosophical Foundaions of Educaion Program - Universiy of Minnesoa (1994). Presidene da Associação Brasileira de Saúde Menal - Abrasme 2009-2010 e mem bro da aual Direoria 2011-12. Edior cienífico da revisa Cadernos Brasileiros de Saúde Menal. Membro do GT sobre Hospiais de Cusódia da Procuradoria Federal de Direios do Cidadão. Coordenador do GT em Desinsiucionalizaçao do Conselho Esadual de Saúde do Esado de Sana Caarina. Conselheiro de Saúde de Florianópolis, mem bro eleio da Câmara Técnica e membro da Comissão de Saúde Menal do Conselho Municipal de Saúde de Florianópolis; Coordenador dos projeos de exensão Humanizare e Terapeuas da Alegria - UFSC. Endereço do currículo na plaaforma lates: htp://lates.cnpq.br/7164075918880484
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Francisco Job Neo (Organizador) Possui graduação em Medicina pela Universidade de São Paulo (1992), especialização em Diploma Superior de Pediaria Tropical pela Escuela Nacional de Sanidad (2005), mesrado em Salud Pública pela Escuela Nacional de Sanidad (2006) e residência-medica pelo Insiuo da Criança do Hospial das Clínicas da Universidade de São Paulo (1996). Aualmene é consulor do Minisério da Saúde. Endereço do currículo na plaaforma lates: htp://lates.cnpq.br/6199697836186159
Marcelo Sanos Cruz (Auor Unidade 1) Médico, graduado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Esado do Rio de Janeiro (1980), mesrado em Psiquiaria, Psicanálise e Saúde Menal pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1996) e douorado em Psiquiaria, Psicanálise e Saúde Menal pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001). Aualmene é médico do Insiuo de Psiquiaria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ), onde coordena o Programa de Esudos e Assisência ao Uso Indevido de Drogas (PROJAD). É Vice-Presidene da Associação Brasileira Mulidisciplinar de Esudos sobre Drogas - ABRAMD. Coordena desde 2002 o Curso de Especialização em Assisência a Usuários de Álcool e Ouras Drogas do IPUB/UFRJ. Coordena o Cenro de Referência do PROJAD/SENAD. Tem experiência como consulor do Minisério da Saúde e Secrearia Nacional de Políicas sobre Drogas (SENAD) e de pesquisa com ênfase nos emas: álcool, drogas, dependência e raameno. Faz pare do Conselho Ediorial Nacional do Jornal Brasileiro de Psiquiaria e do Conselho de Éica em Pesquisa do IPUB/UFRJ. Parecerisa de alguns periódicos cieníficos. Endereço de currículo Lates: htp://lates.cnpq.br/3536956625860134 74
Décio Alves (Auor Unidade 2) Psicólogo, especialisa em Gesão de Saúde (FMABC). Vem rabalhando desde 1989 nas Redes de Aenção Psicossociais de Sanos/SP (1989-2006), Sano André/SP (1997-2008) e São Bernardo do Campo/ SP (2009-2013) como écnico, gesor e formador de rabalhadores de Saúde Pública. Endereço de currículo Lates: htp://lates.cnpq.br/1559794197170629
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