Luís Cláudio Figueiredo
Transferências, contratransferências e outras coisinhas mais ou Esquizoidia e narcisismo na clínica psicanalítica contemporânea ou A chamada pulsão de morte1 Para Chaim Samuel Katz e Flávio José de Lima Neces
1 8 8 5 . p >
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t s b i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s l o u n p a
>58
Os três títulos colocados como alternativas para o presente trabalho correspondem aos três aspectos focalizados. Em primeiro lugar, partindo-se da experiência clínica, sugerese uma concepção das “relações terapêuticas” em que se articulam diversas modalidades ou dimensões do vínculo: a transferência, a identificação projetiva e o enactment . Em seguida, propõe-se uma correlação entre as formas dominantes do vínculo e os adoecimentos psíquicos – o das psiconeuroses (neuroses de transferência), o dos adoecimentos narcísicos e o dos adoecimentos esquizóides –, acentuando-se a relevância destes dois últimos para a clínica contemporânea. Finalmente, a esquizoidia e o narcisismo são considerados no plano metapsicológico como expressões da compulsão à repetição comandada pela chamada pulsão de morte que é, ela mesma, revisitada e diferenciada em seus diversos aspectos: o do desligamento e auto-extinção, o da constituição e preservação do próprio in extremis e o da procura reiterada de um objeto primordial. > Palavras-chave: Esquizoidia, narcisismo, transferência, identificação projetiva, enactment , pulsão de morte. 1> As idéias apresentadas neste trabalho foram sendo elaboradas ao longo de diversas oportunidades durante o ano de 2002: na palestra de encerramento da Jornada da Formação Freudiana (junho, Rio de Janeiro), no VI Congresso de Psicopatologia Fundamental (setembro, Recife) e na palestra de abertura da jornada do do Círculo Psicanalítico de Minas Gerais (setembro, Belo Horizonte). A presente versão é inédita e se beneficiou dos comentários, críticas críticas e revisões efetuadas gentilmente por Elisa Ulhoa Cintra, Miriam Miriam Uchitel e Zeferino Rocha, a quem agradeço; Pedro Henrique Bernardes Rondon colocou à nossa disposição toda a sua capacidade de leitor e editor criterioso, pelo que sou particularmente agradecido. A presente versão contou, finalmente, com a leitura, sugestões e críticas de Elisa Ulhoa Cintra, Charles Lang, Mauro Meiches, Nelson Coelho Júnior, Octávio de Souza, Paulo Carvalho Ribeiro, Pedro de Santi, Sidnei Cazeto e Vera Lúcia Blum, reunidos para a discussão do trabalho em novembro de 2002.
The three titles chosen to name this present paper correspond to its main subjects. First, I suggest that therapeutic relationships include different forms of linking: transference, projective identification, and enactment. Secondly, I refer to a relationship between predominant predominant forms of linking and different forms of psychic pathologies: psychoneuroses (transference neuroses), narcissistic disorders, and schizoid diseases. Thirdly, schizoid and narcissistic disorders are considered expressions of the repetition compulsion ruled by the so-called death drive. The theory of the death drive is discussed in order to reveal its various facets, which include unbinding and self-extinction, constitution, self-preservation and the recurrent search for a primary object. > Key words: Schizoid disorders, narcissistic disorders, transference, projective identification, enactment, death instinct.
... o modo como o psicanalista se coloca diante-de (Gegen) também constitui a possibilidade do psicanalisar.
transferências do paciente e, nesta exata medida, um aspecto essencial da dinâmica do trabalho analítico – embora seja (Formação Freudiana, 2002) também uma fonte de impasses – há uma condição de possibilidade do psicanalisar O termo “contratransferência” refere-se a – qualquer que seja a modalidade do trauma dimensão fundamental do modo do balho clínico em curso – que se configuanalista colocar-se diante – ou, melho melhorr ra como uma contratransferência primor- dizendo, deixar-se colocar diante – do dial , um deixar-se colocar diante do sofri- analisando e ser por ele afetado. Embora, mento mento antes antes mesmo de se saber do que e no nosso entendimento, o termo não de quem se trata . Esta contratransferêncontemple todas as possibilidades con- cia primordial corresponde justamente à ceituais necessárias para pensarmos as disponibilidade humana para funcionar diversas posições do analista em um pro- como suporte de transferências e de oucesso terapêutico, ele não pode, como se tras modalidades de demandas afetivas e verá logo mais, ser descartado em uma comportamentais profundas e primitivas, compreensão do psicanalisar. Contudo, vindo a ser um deixar-se afetar e interpe- infelizmente, este termo também pode lar pelo sofrimento alheio no que tem de nos levar a um equívoco, o de supor que desmesurado e mesmo de incomensurá- a posição do analista é apenas da ordem vel, não só desconhecido como incom- de uma resposta e de uma reação às preen preensível sível . Todo o psicanalisar, no que transferênciass de que é efetivamente alvo implica lidar com as transferências – e as transferência por parte do analisando. outras coisinhas mais, que emergem e Tentarei desenvolver neste trabalho a hi- podem ser tratadas nestes processos – pótese de que, aquém das contra- dependem, portanto, desta contratranstransferências no sentido estrito, que são ferência primordial. O cultivo desta dispoefetivamente respostas do analista às sição subjetiva, provavelmente, é um as-
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>59
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t s b i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s l o u n p a
>60
pecto essencial na formação do analista, e sua preservação ao longo do tratamento é também um dos elementos fundamentais de uma cura. Lembremo-nos, a propósito, de Donald Winnicott (1962) dizendo que seus objetivos ao começar uma análise são manter-se vivo, acordado e bem. Creio que ele está se referindo, com outras palavras, ao que estamos chamando de contratransferência primordial. Quanto à natureza e origens desta contratransferência primordial, cabem algumas considerações. Assim como podemos supor (seguindo Ferenczi, 1909) que uma propensão ao estabelecimento de relações transferenciais faça parte do psiquismo humano em sua universalidade (sendo apenas mais acentuada entre os neuróticos), sugerimos que também seja universal e básica a nossa disposição a servir como supor- te para as transferências alheias , como destinatário e depositário de seus afetos e como coadjuvante de suas encenações . Sugerimos, mais ainda, que esta disponibilidade esteja nas raízes de todos os processos de singularização. Vale dizer, é algo que já está presente em um recém-nascido e é um dos aspectos da nossa condição humana de desamparo, o que tanto acarreta uma vulnerabilidade extrema a toda sorte de abusos e traumatismos como, em contrapartida, é a base da constituição do psiquismo. Encontramos em alguns filósofos e psicanalistas algumas idéias aparentadas. O filósofo Henry Maldiney (1991), por exemplo, nos fala da transpassibilidade – uma afetação pelo impossível, pelo que está fora do campo do que pode ser representado e interpretado. Embora ele trabalhe quase sempre a partir da experiência estética (mas também das situações extre-
mas da loucura), sua suposição, que aqui fazemos nossa, é a de que é preciso admitir um nível de afetação pelo outro anterior à entrada deste outro em nosso mundo, onde ele se configura e pode ser nomeado. A contratransferência primordial de que estamos falando teria algo desta qualidade. Uma segunda referência filosófica nos vem de Emmanuel Lévinas (1974), que nos aponta para uma passividade radical na base da constituição subjetiva. Esta passividade, anterior à própria separação entre passividade e atividade, coloca no outro e nos seus impactos a origem an-árquica do sujeito, sendo que a noção de an- arquia deve ser entendida na estrita oposição à de aut-arquia , propriedade do que tem em si mesmo seus princípios. Não só dependo do outro para vir-a-ser eu, como venho-a-ser como resposta a e res- ponsabilidade pelo outro, este que me interpela desde sua própria condição de mortal e padecente. Nossa contratransferência primordial não se confunde, mas se aproxima a esta concepção levinassiana, presente, por sinal, na teoria da sedução generalizada de Jean Laplanche, com a ressalva importante que o outro em Laplanche padece não tanto de sua mortalidade como de sua condição de sujeito afetado pela própria sexualidade inconsciente e cindido. De qualquer forma, mantém-se a hipótese de que, antes de mais nada, um bebê é o suporte para as transferências de seus pais, não apenas um objeto de seus cuidados desinteressados, e de que é a partir desta condição que uma subjetividade se organiza, na forma de uma resposta à transferência. Assim, a idéia de contratransferência primordial pode ser mais facilmente inscrita no campo da teo-
ria psicanalítica como um aspecto atinente à constituição do psiquismo do sujeito. Rigorosamente falando, a contratransferência primordial é não só a condição do psicanalisar, mas do vir-a-ser sujeito, do existir como subjetividade. Em contrapartida, pode estar na origem dos mais terríveis sofrimentos psíquicos, bem como, efetivamente, está na base dos sofrimentos que fazem parte inevitável da constituição e funcionamento do psiquismo. No entanto, no campo da clínica da psicanálise, coube a Harold Searles em um de seus mais instigantes trabalhos (Searles, 1973) nos propor a hipótese ousada de que ... entre as forças inatas mais poderosas que empurram o homem na direção de seus semelhantes, há, desde os primeiros anos e mesmo desde os primeiros meses de vida, a tendência essencialmente psicoterapêutica.
Se pensarmos em termos winnicottianos, seria como um concern pré-original , uma espécie de preocupação com o outro anterior à própria constituição do aparelho mental do indivíduo, anterior, portanto, à configuração de um próprio . Recordemos que Lévinas nos remete ao âmbito do pré-original como sendo o do que expõe uma subjetividade a outra antes mesmo de haver um sujeito, antes mesmo de que se tenha constituído um Eu, com seus atos, suas intenções e suas defesas. O préoriginal é a exposição traumática à alteridade, um começo de mim antes de Eu ter começado, e essa nos parece ser uma dimensão decisiva do que estamos denominando de contratransferência primordial. Como se verá adiante, não é necessário
nem conveniente interpretar estes cuidados como emanando de alguma boa vontade intrínseca ao ser humano. Não se trata de samaritanismo, mas de sobrevivência em uma condição de desamparo em que a dependência em relação ao ambiente é extrema e em que a manutenção dos “objetos” em bom estado e em bom funcionamento é essencial ao indivíduo. Para Searles, os abusos pelos pais desta função contratransferencial primária dos filhos2 e, principalmente, a incapacidade daqueles reconhecerem, admitirem e aceitarem a condição de serem “cuidados por seus bebês” – o que pode incluir tanto a educação como a cura de males físicos e mentais – figuram entre as mais importantes causas dos adoecimentos psíquicos. Há pais e mães, aliás, que reúnem os dois aspectos: exigem tudo dos filhos em termos de cuidados, mesmo quando são bebês, mas se mostram não educáveis e incuráveis. É o caso da “mãe morta” – vale dizer, deprimida – de que nos fala Green (1983). Trata-se, então, de uma forma ou de outra, de uma recusa ou invalidação destas “tendências psicoterapêuticas”, que ficarão insatisfeitas, o que alimenta o ódio, a inveja e a rivalidade nos filhos. Ou seja, nestes casos, a abertura à alteridade da contratransferência primordial foi de alguma forma atacada e destruída ou teve de ser objeto de algum contra-investimento, seja pelo recalque, seja por outros mecanismos de defesa mais primitivos e radicais. Assim sendo, reunindo as propostas de Searles às de Winnicott, poderíamos supor que para estes indivíduos estaria dificultado ou in-
2> Por exemplo, mães narcisistas que atrelam seus bebês e filhos pequenos à própria necessidade de serem “cuidadas” por eles, explorando a propensão daqueles tratarem a psicose de suas mães.
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>61
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t s b i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s l o u n p a
>62
terditado o acesso ao concern que é próprio da passagem da posição esquizoparanóide para a posição depressiva, ou, em termos winnicottianos, a passagem do amor voraz e cruel (ruthless love ) para a preocupação (concern ) e para a verdadeira capacidade de reparação. No seu lugar, as “tendências psicoterapêuticas” precoces ou não operariam (interditadas pelo ódio e pela inveja), ou operariam muito intensificadas assumindo a forma de reparações maníacas, pela via das formações reativas. Nos dois casos estariam comprometendo bastante a possibilidade do paciente, ele mesmo, ser cuidado pelo analista que, por seu turno, se sentirá ameaçado em sua posição. Voltemos agora a nosso tema. Os maiores problemas na condução de um processo terapêutico surgem justamente quando algo da contratransferência primordial do analista parece ser atacado, na situação de análise, pelos chamados “pacientes difíceis”, indivíduos que, provavelmente, tiveram eles mesmos sérios problemas em sua constituição subjetiva no que concerne os abusos e desperdícios de sua contratransferência primordial. Quando isso ocorre, tais pacientes exigirão do terapeuta uma determinação e uma habilidade excepcionais para se preservar em suas reservas anímicas. Nos casos da análise padrão, mesmo que aí também ne-
nhum analisando seja propriamente “fácil”, o trabalho analítico, desde que bem conduzido, tende a alimentar e a enriquecer a contratransferência primordial, ou seja, ele enriquece e consolida a posição do analista. Como afirma jocosamente Robert Caper em um texto que utilizaremos adiante, “uma das peculiaridades do trabalho de análise é que se o analista o fizer bem-feito, mesmo que o paciente não melhore, o analista melhorará” (Caper, 1995, p. 74). Creio que esta “melhora” do analista corresponda à possibilidade que uma psicanálise lhe oferece de elaboração e enriquecimento da sua contratransferência primordial, o que é proporcionado pela condução de uma análise padrão e que se torna tão mais espinhoso (ou quase impossível) quanto mais perturbado for o paciente.3 Mas antes de chegarmos a esta tese, cabe refazer um certo trajeto bem conhecido de todos. Tentaremos fazê-lo da forma mais rápida e simples possível. Um pouco de história Relembremos com a maior brevidade os passos decisivos da descoberta freudiana que vão desde a percepção da transferência como uma “falsa conexão” e como um problema a ser enfrentado e contornado na relação do paciente com o médico, até a aceitação da transferência como o ob-
3> Deve ficar claro para o leitor que, ao colocar “melhora” entre aspas e ao acentuar o caráter jocoso da frase de Caper, não se está sugerindo que a evolução clínica do paciente não importa, desde que o analista se sinta satisfeito com o trabalho que realizou. Apenas se diz que em uma análise padrão a contratransferência primordial não é atacada como ocorre em uma análise difícil; ao contrário, pode ser desenvolvida. Mas se isso ocorrer, naturalmente, o analista ficará mais, e não menos, sensível ao sofrimento do analisando. Vale dizer, é o contrário do que resultaria de um fortalecimento do narcisismo patológico do terapeuta. Aqui, o que se sugere é que o analista seja capaz de se manter na posição de analista apesar da ferida narcísica que sofre em decorrência da continuidade do sofrimento de seu paciente e da sua própria incapacidade de salvá-lo deste sofrimento.
jeto essencial da análise (Freud,1912, 1914, 1915, 1916-17). Embora a tendência a “viver” e atuar, em vez de recordar, sempre vá ser também entendida como um fenômeno de resistência – um dispositivo para evitar o sofrimento psíquico e o contato com as experiências precoces de maior conflito – percebe-se que, além dos limites do que pode ser lembrado, está o passado que só poderá de fato comparecer na análise sob a forma de uma revivência e de uma atuação , seja ela fora do setting analítico – acting out – ou dentro dele – acting in . Ao menos no contexto do setting (mas também, em grande medida, fora dele, como será enfatizado por Melanie Klein [1952] e seus seguidores), os sentimentos, as emoções, idéias e atuações do paciente terão como alvo a figura do analista ou, mais propriamente, a figura do analista tal como constituí- da na transferência . A reserva do analista, sua discrição e sua “neutralidade” têm, entre outras funções, a de proporcionar as condições para que se estabeleçam ao longo do tratamento estas montagens transferenciais, conforme os recursos e possibilidades de cada analisando. Tanto os impulsos, como as representações e os afetos (amores, ódios, angústias...), como as defesas que organizam a dimensão do infantil no psiquismo do analisando serão mobilizados, acionados e irão se expressar de forma mais ou menos óbvia e direta na relação com o analista que irá ser configurado segundo os modelos das figuras mais significativas do passado afetivo do paciente.
Ao longo dos anos da prática clínica freudiana, mais importantes que as recordações e as narrativas acerca do passado, o que foi se impondo como objeto privilegiado de observação e análise são estas reedições dos velhos padrões impulsivos, e defensivos, tanto no âmbito dos afetos como no das representações. Além dos limites do rememorável, impõe-se, assim, o que se repete na relação com o analista e se apresenta como objeto vivo e atual de análise e de elaboração. No entanto, além mesmo destas repetições que assumem as formas de reedições, emergem as repetições ainda mais radicais, as que se produzem além do princípio de prazer e sob o império da chamada “pulsão de morte”, nome que dissimula o fato de que estas repetições correspondem ao mais pulsional das pulsões, à pulsionalidade propriamente dita em seu estado bruto de desligamento e em sua urgência à descarga (Freud, 1920). 4 Embora o próprio Freud inclua as repetições transferenciais entre as manifestações da pulsão de morte, talvez, por razões que se irão expor adiante, não devêssemos incluir estas repetições no conceito de “transferência”, embora, sem dúvida, elas incidam sobre os processos re lacionais em uma análise e de alguma forma se originem na história passada do indivíduo. Mais precisamente, se originam nas fraturas irremediáveis, nos impasses e nos fracassos desta história, se originem no que mais tarde denominarei de malogros na procura e no encontro de objetos primordiais. Ou seja, talvez pudésse-
4> Sobre a conveniência de se incluir a tendência à descarga como uma qualidade essencial da chamada “pulsão de morte”, ver-se-á adiante (As desordens de caráter...) que isto só é parcialmente verdadeiro.
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>63
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t s b i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s l o u n p a
>64
mos reservar o conceito de “transferência” para as repetições que se mostram sob a forma de reedições dos padrões infantis e inconscientes – libidinais ou agressivos – que, em uma relação terapêutica, constituem o analista segundo os modelos do passado e no âmbito de operação do princípio de prazer e do princípio de realidade. Em contrapartida, procuraríamos outros nomes para as repetições movidas pela pulsionalidade em estado puro, em um regime de funcionamento que permanece além (aquém) do princípio de prazer. São processos que ainda não contam com um aparelho psíquico suficientemente estruturado para que nele vigore o princípio de prazer, ou que foi reduzido, pelo efeito, por exemplo, do trauma a um modo muito mais primitivo de operação que o de um psiquismo bem constituído, como o do neurótico. Repetições desta natureza são, justamente, as que atacam e põem à prova a contratransferência primordial do analista. Mas esta distinção entre repetições transferenciais e repetições de outra ordem pode ser ajudada pelo recurso a algumas idéias de Ferenczi. Em um de seus primeiros e mais elucidativos textos – “Transferência e introjeção”, de 1909 – Ferenczi apresenta a tese de que o processo de introjeção em sua universalidade inclui a transferência, também ela universal, porém mais ativa e imperiosa nos neuróticos. A introjeção é o processo pelo qual os objetos do mundo são incluídos nas esferas de interesses do eu como alvos substitutos de impulsos e afetos. Quando o recalcamento incide sobre as experiências mais primitivas e intensas de prazer, seus objetos são remetidos ao inconsciente e cria-se uma quantidade de energia livre que precisa buscar novos alvos, procu-
rando novos objetos que possam ocupar os lugares dos que foram vítimas do recalque. Aí se originam, entre outros, os processos de criação de novos objetos e de sublimação. Vale aqui uma pequena digressão. Quanto mais intenso, radical e ”neurotizante” o processo de recalcamento, maior a propensão a transferir, vale dizer, mais o processo normal de introjeção será acionado como forma de dirigir e procurar satisfazer pela via das reedições dos objetos arcaicos a energia libidinal (ou agressiva) sobrante e livre. Nestes casos, não só o indivíduo está efetivamente privado de inúmeras possibilidades de satisfação legítima para a expressão de seus impulsos e desejos, barrados pelo excesso de repressão, como boa parte do mundo será constituída como objeto de transferência, o que acarreta uma sobrecarga de afetos e fantasias em objetos que seriam mais bem considerados em suas propriedades meramente pragmáticas. Há, portanto, um duplo prejuízo, em termos de vida afetiva e sexual e em termos de adaptabilidade. Mas retornando ao fio da meada, nos processos de constituição psíquica normais e neuróticos novos objetos de amor e de ódio são criados – e introjetados – à medida das necessidades impostas pelo recalcamento a uma mente que já funciona sob o regime do princípio de prazer e de sua forma modificada, como princípio de realidade. Nesta medida, os novos objetos, embora moldados pelos velhos padrões, são reconhecidos em sua relativa diferença e especificidade, como partes de uma realidade atual e presente. Eles são novos e velhos objetos simultaneamente.
Ao longo de seus trabalhos iniciais sobre questões da técnica, Ferenczi enfatizará a importância desta propensão à introjeção e à transferência no tratamento psicanalítico da neurose. É ela que confere ao analista o grande poder de intervir no psiquismo do paciente “desde dentro”, ou seja, como um objeto incluído em suas esferas de interesses passionais e alvo de amores e ódios primitivos. Em acréscimo, é o que se reedita na relação com o analista que poderá ser observado e analisado como uma presentificação daquele passado que está na origem do adoecimento neurótico e inscrito em sua dinâmica. No entanto, Ferenczi (1924, 1928, 1930) também percebe que a importância da atualidade da relação com o analista em muitos casos transcende o âmbito das reedições no sentido estrito. Os movimentos repetitivos podem então nos remeter a momentos da história passada que foram marcados por acontecimentos traumáticos ocorridos fora do âmbito do sentido e das fantasias de desejo e que nada devem ao processo de recalcamento no sentido próprio do termo. É o que o vai levar às propostas de elasticidade da técnica, de “relaxamento” ou “indulgência” – o “deixar rolar” do Nachgiebigkeit – e à neo-catarse como tentativas de acessar estes recantos profundos e mudos do psiquismo traumatizado. É assim que ele instaura a tradição clínica que elabora o conceito de “regressão terapêutica” que terá em Balint e em Winnicott seus maiores expoentes. Vale dizer, quanto mais o analista deve se haver com pacientes portadores do que, mais tarde o discípulo Balint (1968) denominará de “falha básica”, mais o trabalho de recuperação das lembranças recalcadas pela via
das associações livres, relatos de sonhos e interpretações cede espaço à atualização das experiências precoces na relação analítica, uma atualização que deve mais à compulsão à repetição do que à procura substitutiva do prazer interditado pelo recalque. Pacientes que repetem principalmente desta forma, ao contrário dos neuróticos, não sofrem de uma doença introjetiva, incrementando de modo ilimitado a propensão normal à introjeção e a procura de soluções de compromisso sintomáticas. Ao contrário, embora possam estabelecer relações aparentemente muito intensas e passionais, e exigentes com o analista, têm uma dificuldade enorme em introjetar novos objetos de amor e de ódio. Ou bem neles se desenvolve um adoecimento projetivo – em que predominam fortes traços paranóides – ou bem o processo de introjeção é interrompido e convertido no que alguns autores (Abraham e Torok, 1987) vieram a chamar de “fantasia de incorporação”. De qualquer forma, o analista é destituído do poder que o paciente neurótico normalmente lhe confere na transferência em sentido estrito. Derivações do pensamento clínico sobre a transferência e seus impasses Na história do pensamento sobre a técnica, a análise da transferência veio a se tornar uma prática sistemática e decisiva nas elaborações de James Strachey, mais precisamente, no seu texto “The nature of the therapeutic action of the PsychoAnalysis” de 1933-34. Para estas formulações, Strachey valia-se de seu bom conhecimento das obras de Freud e Ferenczi e de sua apreciação positiva da obra de
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>65
Melanie Klein, ainda incipiente mas já muito inovadora no final da década de 1920. Um conceito sugerido por Strachey me parece particularmente esclarecedor para compreendermos a transferência na relação terapêutica e fora dela. Segundo ele, o analista na transferência tem o estatuto de um “objeto externo da fantasia”. Uma forma de entendermos o alcance da proposta é relacionando-a à idéia winnicottiana de paradoxo quando aplicada ao objeto transicional. Este tanto é um elemento da fantasia na área da onipotência, como algo que já incorpora a condição de um objeto “não-eu”. Winnicott (1962) o afirma claramente: o analista é tanto um objeto subjetivo como um suporte do princípio de realidade, convertendo-se em uma espécie de objeto transicional. Nesta medida, se entrelaçam sem grandes dificuldades para nossa compreensão as experiências de transferência, o brincar, o ato criativo e o relato do sonho, pois todos transitam neste espaço sui generis em que o subjetivo e o objetivo se acoplam sem coincidir, gerando uma realidade de nova espécie. Nesta realidade, os objetos são ao mesmo tempo inventados s o e descobertos e este é justamente o esta g i t tuto do analista na transferência. A reali r a dade assim constituída é essencialmente o lugar em que transcorre a análise pa e s i l drão no tratamento da neurose. Vale as á n sinalar que é neste espaço que se pode a c i s 3 constituir o uso da linguagem qu a p 0 e 0 linguagem pois os símbolos são justamen d 2 / . a r te o que pode mediar o subjetivo e o ob t s b i a v , jetivo, incorporando dimensões de am e 8 r 6 1 bos, mas sem se confundir com nenhum . l n a , I destes pólos. n V o X É nesta realidade precária e heterogênea i s l o u n do espaço da transferência que vigora p a >66 >
>
uma dimensão da temporalidade complexa e não- consistente marcada pela coincidência e não coincidência simultâneas entre o passado subjetivo do indivíduo e a atualidade das suas relações de objeto, criando o presente fraturado em que se pode verificar uma propensão para o acontecimento . Neste espaço, tanto o passado irrompe no atual, como o presente pode incidir sobre o passado, des- concertando -o e ressignificando-o. Há um verdadeiro acontecimento quando a trama do tempo domesticado, linear e progressivo é desfeita e rompida e este rompimento é tão mais provável quanto mais aquela trama já traz em si mesma as marcas de uma desconstrução. É bem isso o que se passa quando se instalam e cultivam as transferências, quando se ampliam os horizontes para as relações transferenciais com sua ambigüidade e não-consistência características. É a partir destas condições que se pode entender a dinâmica e a eficácia das “interpretações mutativas”, outro conceito fundamental do autor. Segundo Strachey, quando se dá a projeção sobre o analista do superego arcaico do paciente, (protetor/sedutor e persecutório), criam-se as condições para o exercício de seu poder, seja na forma de sugestão, seja na de análise. Uma interpretação mutativa é a que efetua o golpe da discriminação entre o analista fantasiado e o novo objeto que ele pode vir a ser e, em parte, já está sendo, propiciando a introjeção do analista como superego normal e brando (realista), um superego em “mangas de camisa”. Alguns autores (por exemplo, Caper, 1995), seguindo nesta direção, chegam a sugerir que a meta da análise seria, eventualmente, a abolição do superego, e não
apenas seu abrandamento, bem como, é claro, o esclarecimento dos mecanismos e origens históricas da neurose, objetivo já bem explicitado por Strachey. Não entrarei no mérito do que diz Strachey sobre as outras formas de interpretação – não-mutativas – pois elas não têm a transferência como objeto, embora tenham sua força e eficácia nela baseada. Importa, porém, ressaltar que interpretações mutativas para Strachey não ocorrem contínua e freqüentemente, sendo que o seu foco e a sua oportunidade são dados pelo ponto de emergência da angústia do paciente na relação transferencial. Ora, este ponto de emergência da angústia deve ser acessado com acuidade pelo analista e nisso o que mais importa é sua sensibilidade contratransferencial. Assim sendo, uma inspeção cuidadosa do campo contratransferencial é indispensável para a detecção do quando e do como propiciar uma interpretação mutativa. Em contraposição, é exatamente isso que pode acarretar as maiores dificuldades para a elaboração e oferta de interpretações mutativas. R. Caper (1995) mostra que, no jogo transferencial-contratransferencial, se o paciente deve projetar seu superego sobre o analista, este, por seu turno, caso introjete o superego arcaico do paciente e tenha seu próprio superego arcaico ativado (processos que são em parte inevitáveis), permitirá que se constituam fusões superegóicas, conluios e resistências contratransferenciais que interditarão as interpretações destinadas a desfazer o conluio. O conceito de “grupo de suposto básico”, elaborado por Bion (1961), e os processos analisados por Freud (1921) no seu exame da psicologia das massas ajudam Caper a esclarecer o
que se passa no campo das transferências e contratransferências quando o analista se deixa capturar pelo que poderia ser um jogo ou um sonho compartilhado, mas que, neste momento, muda de status e se converte em uma realidade alucinada pela dupla e a ser defendida pelo paciente e pelo analista com o recurso a mecanismos de defesa neuróticos e psicóticos. Recordemos que em um grupo de suposto básico, ao contrário do que ocorre em um grupo de trabalho, os membros se reúnem exclusivamente para manter o grupo e defendê-lo das forças externas ou internas de dissolução. Nada mais antagônico a essa modalidade de funcionamento grupal (ou dual) do que o efeito analítico e desconstrutivo que se espera das interpretações mutativas. Assim sendo, é a própr ia con dição essencial da relação terapêutica, aquilo mesmo que a torna apta à análise da neurose, o que vem a ser a fonte dos maiores riscos de que o processo analítico se interrompa. Isso ocorre quando analista e paciente se unem para a defesa e manutenção de um conluio que tem, por sinal, um caráter mais psicótico do que neurótico, mesmo que analista e analisando sejam predominantemente neuróticos. Um outro passo notável, mas igualmente perigoso, no desenvolvimento do pensamento clínico e técnico sobre a transferência deu-se com a proposta de Melanie Klein de tomar a transferência como situação to- tal (Klein, 1952), conceito desenvolvido posteriormente por Betty Joseph em 1985. Na tradição kleiniana, realmente, pensase a transferência como implicando a transferência de emoções, defesas e relações objetais do passado para o presente em um sentido bastante amplo. A pre-
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>67
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t s b i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s l o u n p a
>68
missa é a de que tudo que se traz para uma sessão e tudo que nela emerge tem a relação com o analista como causa e como eixo. Mais ainda, mesmo o que se passa fora de um setting analítico, ao longo de uma psicanálise, pode ser interpretado como referido à relação transferencial e assim interpretado. A esta ampliação do conceito de transferência correspondeu, por iniciativa de Paula Heimann (1950), uma ampliação e uma ênfase no conceito de contratransferência: ele deixa oficialmente de ser apenas um obstáculo e uma ameaça para ser reconhecido como condição, objeto e instrumento da análise. O que penso, porém, é que esta ampliação conceitual do par “transferência-contratransferência”, ao lado de seus efeitos positivos, que foram o de dar uma maior acuidade à escuta analítica e um maior alcance ao campo das interpretações mutativas, implicou também algumas imprecisões. A mais importante delas foi a de reunir sob um mesmo conceito os processos estritamente transferenciais no sentido freudo-ferencziano e os estudados e nomeados por Melanie Klein e seus seguidores como identificação projetiva (Klein, 1946, 1955) No primeiro caso, o recalcamento gera as condições mais propícias à formação de laços transferenciais, bem como às introjeções. No segundo, intervêm mecanismos de defesa mais primitivos, como a cisão, a idealização e a identificação projetiva, entre outros, que precedem ou colocam o recalcamento em segundo plano. A identificação projetiva é, em primeiro lugar, embora não se es-
gote necessariamente nisso, uma fantasia por intermédio da qual partes do psiquismo do paciente são expelidas e colocadas sobre e dentro de seus objetos. Isso pode ocorrer seja para colocar para fora as partes más e insuportáveis, seja, ao contrário, para colocar para fora as partes boas e ameaçadas de destruição no interior de um psiquismo muito perturbado pelo ódio, a inveja e a culpa. Em ambos os casos, forma-se uma confusão entre o su je it o e se us ob je to s de id en ti fi caçã o projetiva, com os quais o indivíduo estabelece relações narcisistas muito primitivas e resistentes à análise. Além de suas funções defensivas, porém, a partir de Rosenfeld (1971) e de Bion (1962) foi se tornando consensual o reconhecimento de uma função comunicativa na identificação projetiva. Além de ser uma fantasia e um mecanismo de defesa, ela passa a ser vista como um processo que mobiliza efetivamente os afetos do “objeto”, principalmente quando este objeto é um ser humano.5 Nestes casos, dá-se uma comunicação afetiva e inconsciente muito intensa e imediata entre o sujeito e o objeto que, a rigor, se mantêm narcisicamente entrelaçados. A distinção entre os processos estudados por Freud e Ferenczi e os estudados pelos kleinianos foi bem explicitada por Kernberg (1998) quando contrapõe, por exemplo, a projeção em Freud à identificação projetiva em Melanie Klein. Diz ele: Clinicamente, a projeção importa em atribuir a outro algo que está profundamente reprimido... A repressão opera e a projeção a complementa. No caso da identificação projetiva, há
5> Vale recordar, contudo, que pode ser um animal e mesmo um aspecto do ambiente inanimado, casos em que a identificação projetiva tem apenas o status de uma fantasia e só comporta a dimensão defensiva.
uma combinação primitiva de projeção, manutenção da empatia com o que é projetado, a necessidade de controlar o objeto e uma tendência inconsciente para induzir o que é pro jeta do sobre o outr o ou dent ro dele ... E isso parece indicar, a meu ver, uma ausência de repressão madura. (p. 21)
Uma distinção desta natureza também está na base da diferença estabelecida por Bion (1965) entre as transformações em movimentos rígidos e as transforma- ções projetivas . No primeiro caso, os padrões do passado recalcado modelam as transformações operadas pelo paciente sobre o material oferecido pelas suas relações atuais com o analista, configurando assim, de forma padronizada e regular seu campo de experiências e relações de objeto. No segundo, as transformações envolvem a projeção de afetos que o psiquismo do paciente não pode conter, controlar e muito menos simbolizar e pensar sobre a relação com o analista e sobre ele, sobre o setting e mesmo sobre os seus arredores. Trata-se de um psiquismo cuja capacidade de pensar e simbolizar está na verdade profundamente atrofiada. Em conseqüência, sua capacidade de configurar objetos e diferenciá-los está pouco desenvolvida e por isso há como que um esparrame de afetos sobre o analista, sobre tudo que o cerca e tudo com que ele pode ser associado, de forma indistinta. É claro que em uma relação transferencial podem emergir aspectos marcados pelas transformações projetivas sem que, no entanto, perca sentido a distinção proposta por Bion. Transformações em movimentos rígidos são características de funcionamentos predominantemente neuróticos, enquanto as transformações pro jetivas e, mais ainda, as transformações
em alucinose, de que falaremos adiante, são características de funcionamentos predominantemente psicóticos e borderline . Uma outra dimensão do fenômeno transferencial, que veio mais tarde a ser reconhecida em termos mais condizentes com sua especificidade, é a que envolve o desempenho de papéis pelo analista e pelo paciente. Até onde sei, foi em um belo texto sobre a técnica ainda no final da década de 1920 que a psicanalista inglesa Ella Sharpe (1930) pela primeira vez acentuou o fato de que, na transferência, o paciente oferece e exige papéis (roles ) a serem desempenhados pelo analista em processos de encenação tanto nos planos da realidade como na fantasia, mesclando passado e presente. Na década de 1970 Joseph Sandler (1976) chamou a atenção para esta dimensão comportamental da transferência: a do role enactment do paciente e a da role responsiveness requerida ao analista. Mesmo que este não chegue efetivamente a responder e a contracenar, a disponibilidade afetiva para captar e, eventualmente, responder de forma incipiente às encenações do paciente, seriam condições para o processo de análise caminhar. A role responsiveness seria uma dimensão importante da sensibilidade contratransferencial que, desde que bem utilizada e controlada, se converteria em um instrumento importante na condução de uma análise. Diga-se de passagem que também na tradição kleiniana esta dimensão de role enactment veio a ser reconhecida como um dos aspectos da identificação projetiva sempre que esta consegue efetivamente induzir no receptor (o analista, sujeito a contra-identificações projetivas)
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>69
os afetos, a postura e os comportamentos correspondentes e complementares. No entanto, predomina a convicção entre os kleinianos de que a identificação projetiva pode estar ocorrendo sem que se manifestem estas dimensões de enactment , o que corrobora a pertinência da distinção que estamos estabelecendo. É claro, por exemplo, que se o objeto da identificação projetiva for um animal de estimação ou uma parte inanimada do ambiente, ou, no caso de um humano, se este não se sentir de fato invadido pela fantasia do paciente, nem por isso vamos dizer que a identificação projetiva está ausente ou atenuada. Isto implica reconhecer que a tendência a atuar a fantasia projetada ou a responder a ela pode ser freqüente, mas não é essencial na caracterização da identificação projetiva (Bell, 2001). A partir destes textos freudianos e kleinianos que nos chamaram a atenção para as encenações, e com base na obra de alguns autores americanos provenientes da tradição de uma interactional psycho- analysis , a literatura sobre enactment cresceu muito nas últimas décadas (cf. Jacobs, 1991; Elman e Moskowitz, 1998). Novamente aqui, porém, tal como ocor s o rera com a literatura sobre transferência g i t e sobre identificação projetiva, os ganhos r a em termos de acuidade na escuta da transferência foram pagos com alguma e s i l imprecisão. Os conceitos de “transferên á n cia” e de “identificação projetiva” em parte a c i s 3 enriqueceram-se, mas em parte perde p 0 e 0 ram seus contornos com a introdução e d 2 / . a r com o uso irrestrito do conceito de t s b i a v , enactment que, em alguns autores, tende e 8 r 6 1 a confundir-se no plano conceitual com . l n a , I o de transferência e mesmo a subsumir a n V o X identificação projetiva. Embora, como se i s l o u n verá adiante, estes diversos processos p a >70 >
>
costumem combinar-se nas situações da clínica, acreditamos que a manutenção das diferenças conceituais pode nos ser muito vantajosa. Repondo a questão: Uma proposta para a discriminação entre tipos e/ ou dimensões da “relação terapêutica” 1) Proponho que se reserve o conceito de “transferência” ou “transformação em movimento rígido”, e, correlativamente, o de “contratransferência”, às situações em que, efetivamente, o analista constitui-se para o paciente e por ele como objeto ex- terno da fantasia. Algumas dimensões ou características desta relação podem ser realçadas. Nela experimenta-se, de parte a parte, a linguagem como linguagem e abre-se, portanto, um espaço de sonho e um campo de jogo em que são possíveis as associações livres, as interpretações, mutativas ou não, os insights , os acontecimentos, as ressignificações e ressubjetivações etc. Apesar dos movimentos de repetição tenderem à rigidez, há aqui um potencial de criação e os “jogos de palavras”, nas relações transferenciais-contratransferenciais e nas interpretações que daí emergem, contém um poder de renovação e transformação (cf. Rocha, 2002, acerca da dimensão criativa da transferência). É claro que os pacientes difíceis também são falantes. No entanto, como se verá mais tarde, o uso que fazem das palavras pode ser bem peculiar. As situações em que predominam a transferência e a fala como fala são aquelas em que se desenrola uma análise padrão – com os “pacientes fáceis” – e em que a contratransferência primordial constitutiva do psicanalisar é continuamente realimentada.
2) Já quando dominam, de parte do pacien- fera do discurso (cf. Ogden, 1998 e Figueite, as identificações projetivas ou trans- redo, 1998), bem como de toda a presenformações projetivas, do lado do analis- ça do paciente em termos de expressões ta esperaríamos encontrar identificações faciais e corporais, são elementos decisiintrojetivas, continência e capacidade de vos nas operações das identificações prorêverie, vale dizer, metabolização simbó- jetivas e na sua recepção. Estas dimenlica. Há, porém, é claro, a possibilidade sões conseguem “transmitir” e provocar das identificações projetivas produzirem afetos de uma forma muito direta, instano analista contra-identificações projeti- lando estados subjetivos nos eventuais vas, processo no qual o analista se defen- receptores cujas causas e razões dificilde devolvendo as projeções que lhe fo- mente podem ser postas em palavras, ram endereçadas em estado bruto ou en- mesmo quando estão originalmente assoviando as suas próprias sobre o paciente. ciadas à fala. Nas relações marcadas pela forte incidên- Como objeto da fantasia, a diferença do cia de identificações projetivas, o analis- analista em relação ao paciente é negada ta não se institui como objeto externo da e ele comparece como objeto narcísico fantasia , mas pura e simplesmente como (um self - objeto nos termos de Kohut) objeto da fantasia , destinatário e deposi- sendo, em uma certa medida, vítima de tário de afetos sem mediação simbólica. O uma verdadeira “desobjetalização”, tal que se observa predominantemente nes- como sugere Green (2002), o que retomates casos são as atuações, as evacuações, remos adiante. Quaisquer que sejam as as alucinações e os delírios que caracte- funções da identificação projetiva, seja na rizam as transformações projetivas e, em ordem das defesas, seja no plano das coestados mais radicais de psicotização, as municações, o que foi tão acentuado por transformações em alucinose em que a Bion, a sua função primordial, conforme realidade é construída na medida das ne- sublinha Betty Joseph (1987), 6 é a de necessidades do paciente de forma a que gar a separação, vale dizer, é uma recusa este não chegue nem a experimentar a radical da diferença, o que efetivamente diferença, a falta e a frustração. Nesta se observa tanto nos pacientes francamedida, as falas não são linguagem como mente psicóticos como na “psicose branlinguagem, mas meios de efetuação des- ca” dos chamados pacientes concretos. tas operações de defesa, eventualmente (cf. Bass, 2000). de comunicação, muito mais primitivas. Nesta medida, quando prevalece a idenAs palavras não representam, elas são tificação projetiva como defesa e como partes da vida psíquica e afetiva, são coi- forma de comunicação, ou seja, quando sas. Por isso, aspectos não-verbais da fala ocorre a identificação projetiva maciça e da voz, como timbre, entonação, melo- nos pacientes narcisistas, verifica-se tamdia, ritmo, colorido semântico, estrutura bém uma ausência de transferência stric- gramatical, estilo retórico, clima e atmos- to sensu , o que confirma, em última aná6> “Na raiz mais primitiva da identificação projetiva está a tentativa de retornar ao objeto – tornar-se como que indiferenciado e sem mente para evitar toda a dor psíquica” (Joseph, 1987, p. 178).
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>71
lise, a posição de Freud. Cabe assinalar que muitos analistas kleinianos vieram a admitir o fato de que “interpretações da transferência” com pacientes muito narcisistas são contraproducentes e ineficazes, irritando-os e não produzindo transformações terapêuticas. Provavelmente, isso ocorre porque nestes casos, a rigor, não estamos lidando com relações transferenciais, transformações em movimentos rígidos, mas sim com transformações projetivas e identificações projetivas maciças ou transformações em alucinose. “Interpretações da transferência”, portanto, não seriam apenas pouco oportunas nestas circunstâncias, mas, de fato, um equívoco técnico decorrente de uma falha na conceituação do que se passa na relação terapêutica. Se empreendermos aqui um breve retorno a Ferenczi (1909) assumindo que a primeira relação objetal já implica uma transferência – no caso, a transferência da experiência auto-erótica sobre o primeiro objeto de amor e de ódio –, poderíamos sugerir que estes pacientes ainda estão contínua e repetidamente tentando a passagem do auto-erotismo ao amor s o objetal e nela fracassando. Para tratá-los, g i t o analista deve ser capaz de assisti-los no r a que pode ser concebido como a procura primordial de um objeto apto a propiciar e s i l a transição oferecendo ao paciente o á n apoio (holding ) e um aparelho para a me a c i s 3 tabolização – ou simbolização – de suas p 0 e 0 sensações e impulsos. Creio que todas as d 2 / . a r considerações de Kohut (por exemplo, t s b i a v , Kohut 1968) sobre as chamadas “transfe e 8 r 6 1 rências narcisistas” (termo que teríamos . l n a , I preferido evitar para não criar confusão) n V o X com self -objetos especulares e idealizados i s l o n podem nos ser muito úteis no acompa u p a >72 >
>
nhamento destes casos, bem como, é claro, os conceitos de “continência” e de “rêverie” criados por Bion para descrever esta instalação primária de um “aparelho para pensar”. 3) Finalmente, quando predominam os “enactments ”, espera-se e requer-se do analista alguma disponibilidade para os counterenactments , mesmo que toda a prudência seja necessária e, quase sempre, insuficiente, para lidar com estas situações. Nestes casos também, o analista não é constituído como objeto externo da fantasia em um espaço de jogo, mas existe como objeto externo com o qual uma parte do paciente “interage” continuamente nos planos inconsciente e consciente para produzir efeitos e manter distâncias (controlar), sem mediação simbólica. Aqui, novamente, o recurso à fala – e há pa ci en te s qu e ab us am do s enactments e são extremamente bem articulados no plano verbal, como tantos pacientes falso self – não deve nos enganar quanto ao nível de funcionamento psíquico do indivíduo. As encenações contínuas e a exigência de contra-encenações são características dos pacientes esquizóides afetados pela falha básica (Balint), portadores do falso self (Winnicott), traumatizados e vítimas do que Shengold (1999) chamou de soul murder . A capacidade de sonhar e brincar está seriamente afetada, pois não se constituiu um espaço potencial no qual o subjetivo e o objetivo, o eu e os outros possam se encontrar e se incorporar, paradoxalmente, a objetos transicionais. Igualmente, o uso das formas mais primitivas da comunicação emocional está interditado. Isso não significa uma ausência de vida interior, de vida de fantasia. Ao
contrário, ela pode existir e ser muito poderosa, mas forma um sistema fechado e excludente, o que nos remete a Fairbairn (1958) e seu conceito de closed system, um aparelho cujo funcionamento deixa de fora os objetos do mundo real e compartilhado. Os objetos deste mundo exterior precisam ser mantidos sob controle e as encenações que impõem ao analista um papel e nele o tentam fixar, cumprem bem este objetivo. O que, contudo, precisa ser continuamente reconhecido pelo analista é que estas encenações de presença, em que o paciente ocupa uma porção muito efetiva na “realidade” e chama o analista para ela de forma imperiosa e controladora, (ou seja, encenando-se aí formas excessivas de presentificação), escondem uma real ausência afetiva: trata-se da quase total inacessibilidade do mundo interno das fantasias e afetos nos pacientes “fora de alcance” (cf. Joseph, 1975). Há uma cisão entre a parte presente na encenação e a ausente – afetos enclausurados na fantasia e em estado de congelamento (Winnicott) – em vez de, como ocorre na transferência, ausência e presença se sobreporem e coincidirem sem coincidên- cia , ou seja, ao modo de um paradoxo. Apenas como exemplo: um paciente esquizóide quando está particularmente retraído chega à sessão e, em um arremedo do que seria uma sessão de análise (uma encenação de “análise”), conta-me uma seqüência de sonhos. Ele os apresenta como totalmente enigmáticos e não consegue oferecer nem uma única associação, como a me dizer que sua vida interior é muito densa a ponto de ser impenetrável. No entanto, e isto é o que transcorre no plano inconsciente do
enactment , ele me atribui e me fixa na posição do “analista decifrador de sonhos”, o que é, por sinal, uma posição de antemão fadada ao fracasso neste caso, inclusive porque não se trata efetivamente de análise o que ele está me propondo. E neste jogo de esconde-esconde pode decorrer toda uma sessão, ou mesmo fases inteiras do trabalho terapêutico, que não avança, mas também não se interrompe, ao menos na aparência. Enquanto o paciente narcisista nega a diferença e a separação, o esquizóide aceita a diferença, levada inclusive a extremos, para controlar o diferente e, também assim, proteger-se de uma verdadeira separação; em acréscimo, nesta modalidade de recusa da separação, recusa-se simultaneamente a fusão com os objetos. Estes ficam sob controle, mas como externos, sem se confundirem com os objetos internos maus, sedutores e persecutórios, que continuam povoando a agitando a mente do paciente esquizóide. Se diante do paciente que abusa de identificações projetivas, a dificuldade para o analista é a de ter alguma eficácia como objeto externo diferenciado, aqui a dificuldade é a de ocupar alguma posição como objeto interno no âmbito da fantasia, na área de onipotência. Daí a necessidade tão bem percebida e teorizada por Winnicott de reconhecer nestes casos os limites da interpretação. É certo que também as fantasias atuadas dos pacientes narcisistas requerem uma interpretação de novo tipo, muito mais apta a conter e a simbolizar os afetos do que propriamente ter acesso ao recalcado e a interpretálo, trazendo-o à consciência. Nos casos dos pacientes esquizóides, porém, os limites da fala interpretativa podem ser maio-
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>73
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t s b i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s l o u n p a
>74
res, pois não faz sentido a tarefa de interpretar comportamentos dissociados de fantasias e afetos congelados. No entanto, creio que as interpretações podem ocorrer com a função de holding verbal, a serviço do manejo da regressão e da instalação da confiança como passos preliminares para o descongelamento afetivo, para a superação das cisões e dissociações, para o contato com o mundo dos afetos e das fantasias na regressão e para a instalação subseqüente da capacidade do sonho e do espaço de jogo. 4) Tudo o que foi dito até aqui, espero, deve ter indicado a importância que atribuo aos processos de identificação projetiva e de “enactment ” na clínica contemporânea, e o valor diagnóstico destas modalidades de comunicação e relação terapêutica. Retomando brevemente, identifico um pólo de adoecimento esquizóide com a ênfase nas separações, cisões e dissociações, com o objetivo de manutenção da onipotência infantil pela via da auto-sufi- ciência , gerando freqüentemente os casos de pseudomaturidade. O que se observa em geral são estados de retraimento, rigidez, intolerância (disfarçada, muitas vezes, em boa educação e polidez), senso de futilidade e tédio e, muitas vezes, uma depressão de caráter autoprotetivo, uma espécie de auto-anestesiamento. Trata-se, em poucas palavras, de um aparelho psíquico excessivamente fechado tanto para as comunicações com o mundo externo, com a alteridade externa, como, igualmente, para as comunicações entre suas partes dissociadas. O inconsciente parece emudecido. São casos em que o processo de introjeção foi obstruído, em que a incorporação traumática dos maus obje-
tos “entupiu” os canais de comunicação, casos, portanto, em que, como nos aponta Bion (1959), as formas brandas, normais e saudáveis do contato afetivo pela via das identificações projetivas foram invalidadas. Este fechamento é, portanto, de natureza quase exclusivamente defensiva: muito pouco de Eros está operando. No outro pólo, temos o adoecimento narcísico com a ênfase na unidade, na negação da diferença, na ausência de limites, na ausência de barreiras, com o objetivo de manutenção da onipotência infantil pela via da imersão fusional. O que observamos em geral é a voracidade e a impaciência (em relação ao self -objeto especular e ao idealizado), a projeção paranóide desenfreada, a fúria destrutiva como reação às feridas narcísicas e, diante dos fracassos e perdas irremediáveis, a melancolia. Nestes casos, é como se o aparelho psíquico não se houvesse “fechado” e constituído em termos de barreiras de contato capazes de produzir tanto diferenças como, também, mediações e trocas. Aqui cabe uma pequena observação lateral: dada a proliferação atual do discurso acerca e dos procedimentos de controle da chamada “depressão”, acho relevante chamar a atenção para as diferenças entre, de um lado, a depressão narcísica e melancólica e, de outro, a depressão esquizóide, a do tédio e da auto-anestesia. Creio que esta distinção deveria ser mais considerada, inclusive em termos medicamentosos, pois venho observando que os efeitos dos chamados antidepressivos talvez variem em função da qualidade e da natureza da “depressão” a ser tratada. Finalmente, como venho sugerindo em diversos trabalhos (cf. Figueiredo, 2000), na interseção dos adoecimentos narcisis-
tas e esquizóides, encontramos o pacien- repetição, (Green, 2002), embora não sete borderline , com suas angústias e defe- jam as únicas, como será sugerido adiante. sas características e, principalmente, com Chegando a este ponto de nossa trajetóas oscilações abruptas entre os pólos esqui- ria, podemos ensaiar uma compreensão zóide e narcisista . Vale considerar, também, multifacetada destas manifestações da que estas oscilações podem ser tão rápi- compulsão à repetição. das e freqüentes que o analista se verá qua- Sugerimos como primeira hipótese que a se que simultaneamente engolfado e ex- repetição, tanto nas identificações projecluído diante da vida mental do paciente. tivas maciças como nos enactments contínuos, corresponde a manifestações da chamada “pulsão de morte”, isto é, da pulAs desordens do caráter são em busca de descarga a qualquer (patologias do self ) e três hipóteses preço por não ter encontrado nos obje- sobre a chamada pulsão de morte O campo acima circunscrito é, grosso tos primários o apoio (holding) e a con- modo, o das desordens do caráter no tinência para o exercício das operações qual as psicopatologias dispõem do cor- mais básicas de mediação, ligação e sepa- po, seus comportamentos e processos, ração . Estas operações, efetuadas no inídos afetos e da linguagem de formas dis- cio da vida pelos “objetos” que se distintas do que se costuma encontrar nas põem a integrar os circuitos pulsionais, psiconeuroses. Nestes distúrbios, o sím- são as que permitem o efetivo desenvolbolo como mediador inter e intrapsíqui- vimento das funções simbólicas e da linco – mediando entre corpo e mente, en- guagem. Mais tarde, quando estas mestre afetos e sentido e entre um e outro , mas funções estiverem internalizadas, a vale dizer, o símbolo como instrumento dependência primária em relação aos obda Bindung em todas as suas dimensões, jetos poderá ser atenuada sem que o psiestá em crise. Como se disse antes, não é quismo se veja lançado no modo de funa condição de falante que garante que é cionamento mental que opera além do de linguagem que se trata quando um pa- princípio de prazer. Isso é o que teria ficiente abre a boca. Isso quer dizer tam- cado faltando nos pacientes com adoecibém que nem sempre é a transferência mentos narcisistas e esquizóides significano sentido estrito que teremos como ob- tivos. Neles, encontramos, por assim di jeto de análise e manejo. A crise da media- zer, a pulsionalidade ela mesma afloranção simbólica, a crise da capacidade de do, sempre lembrando que a chamada ligação, seja na formação de laços sociais, “pulsão de morte” já era identificada por seja na constituição de um aparelho psí- Freud como o que de mais pulsional há na quico capaz de mediação interna, de liga- pulsão. O que estamos sugerindo é que ção e diferenciação é o que vai caracte- esta pulsionalidade só se manifesta de rizar a operação do psiquismo em um re- forma nua e crua (sem ligação e sem regime além ou aquém do princípio de pra- presentação possível), quando a pulsão zer em que as funções de desligamento e não encontra em seus objetos a capacidadesobjetalização operam com todo vigor de de exercerem as funções primárias e são as mais evidentes na compulsão à que são as bases de todos os processos
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>75
de ligação e, portanto, as condições para serem formas de redução da tensão – a manifestação de Eros e para a vigência sem que a desobjetalização seja a finalidos princípios de prazer e de realidade. A dade última do processo. No que pode pulsionalidade enquanto tal, a rigor, nem aparecer apenas como auto-aniquilamenliga nem desliga; as pulsões pulsam, e já é to, há um próprio que se constitui na o suficiente. São os objetos primários pura repetição do mesmo, sem que alguque, interceptando esta pulsionalidade, ma diferença possa ser admitida, pois ela podem conduzi-la às ligações ou, por sua seria experimentada como desintegração. ausência ou por suas insuficiências, po- Onde não se admite diferença, nem eu dem provocar e disparar as forças de nem outro , nem sujeito nem objeto se descarga e do desligamento. Assim sendo, constituem e o paradoxal é que seja nestendemos a concordar com Fairbairn te nível que o próprio deva se afirmar, (1958) e também com Green (2000) que uma auto-afirmação no limite, uma vida vêem na chamada “pulsão de morte” uma in extremis . espécie de malogro da procura de objeto Finalmente, vamos à terceira hipótese: se pela pulsão . É só então que a tendência à nas operações da pulsão de morte e nas descarga e à desobjetalização vem à tona. repetições que se dão além do princípio No entanto – e esta é nossa segunda hi- de prazer há, certamente, “ataque aos pótese – não se deve perder de vista o elos de ligação”, aos afetos (-L e -H ) e ao fato de que, mesmo quando, diante das conhecimento (-K ), conforme nos ensina falhas ambientais precoces, o psiquismo Bion (1959), há também aí a insistência da parece preferir o desligamento, a destrui- vida e mesmo a exacerbação daquela “tenção parcial ou total dos objetos (função dência psicoterapêutica” que Searles idendesobjetalizante) e a própria morte tificava em seus pacientes graves e que (como na “criança mal acolhida” descrita pode ser agora reconhecida em sua verpor Ferenczi [1929], que se entrega à não- dadeira natureza: é a repetição como in- vida com extrema facilidade), nas repeti- sistência (muitas vezes, desesperada) na ções ainda se encontra uma vitalidade procura de um objeto vivo e saudável e s o profunda. É o contrário do que se passa, na restauração dos objetos danificados g i t por exemplo, na síndrome do hospitalis- ou mortos . A dependência do indivíduo r a mo descrita por Spitz (1965), em que pre- em relação ao ambiente – o extremo dedomina a apatia. Portanto, a repetição é samparo do indivíduo humano (não só no e s i l também, mesmo quando reduzida à pul- início da vida, mas sempre) – é o que o á n sionalidade mais primitiva, a testemunha leva desde muito cedo a precisar cuidar a c i s 3 de uma procura de afirmação do mesmo de seus “objetos – curando-os e mesmo p 0 e 0 à revelia do outro ; pode ser entendida educando-os – para que eles possam as d 2 / . a r como “narcisismo de morte” (Green, sumir as funções decisivas na sua consti t s b i a v , 1983), mas é, ainda assim, narcisismo, tuição psíquica e física”. Bebês, e crianças e 8 r 6 1 constituição do próprio . É claro que “a ajudam os pais a serem pais e mães a se . l n a , rem mães, a segurá-los e a contê-los. O I afirmação do mesmo à revelia do outro” n V o X passa pela destruição do outro – e as desmesmo fazem os pacientes com seus tera i s l o n cargas têm também este sentido, além de peutas. Quando isso não é possível, seja u p a >76 >
>
porque se trata de objetos incuráveis e tensão, pela via da destruição das difenão educáveis, seja porque a capacidade renças e da dissolução de si e do outro, de cuidado do bebê ou do paciente não como, em vez disso , (2) uma afirmação e é reconhecida, estes se fixarão patologi- mesmo uma preservação in extremis do camente nas posições de inveja, ódio ou, próprio; e não apenas isso , como, em vez por formação reativa, de reparadores disso , (3) uma reiterada procura do objemaníacos, três grandes obstáculos ao to primordial, uma procura que passa, processo terapêutico. Por isso, como su- justamente, pela (1) destruição das difegere Searles, é preciso deixar-se curar por renças e dissolução de si e do outro, e asestes pacientes para que eles possam ser sim por diante... De sorte que o termo minimamente cuidados, pois, antes de “pulsão de morte” acaba se revelando mais nada, será apenas na condição de bem pouco adequado e muito restritivo objetos vivificados ou ressuscitados por para dar conta de tudo que está implicaeles que poderemos tratá-los. Eles nos do – ainda que de forma contraditória – ensinam e curam para que possamos nos processos de repetição compulsiva. curá-los, inclusive curá-los, eventualmen- É, aliás, a conclusão a que chegara Fete, de sua fúria curativa. Talvez possamos, renczi em uma nota recentemente descodesde este vértice, entender a desobjeta- berta. Dizia ele: “Nada além de instintos de lização como uma tentativa canhestra de vida. O instinto de morte, um erro (Pessidissolução da “objetalidade” dos objetos mista)”. para que os aspectos do ambiente capa- E as remissões a Ferenczi não são casuais zes de proporcionar holding e continên- neste momento. Foi das leituras cruzadas cia possam ser recuperados em sua di- de Além do princípio de prazer e de Tha- mensão pré-objetal, condição na qual es- lassa (Figueiredo, 1999), fecundadas pelas tas funções podem ser efetivamente observações clínicas, que pude chegar a exercidas.7 Enfim, a desobjetalização pode propor esta concepção da chamada “pulser entendida, ao menos parcialmente, são de morte”. Descobrir a vida pulsante como a destruição do objeto, no sentido nos estados de quase-morte, reconhecer estrito, destinada a reconduzi-lo à condi- nos estados-limite uma preservação paração de self objeto. doxal da vida, perceber a dialética entre Mas atenção: nossas três hipóteses não desobjetalização e restauração do “objedevem ser tomadas como alternativas to” primordial, creio eu, foi a grande lição mutuamente exclusivas, mas, ao contrário, que (intuitivamente) nos legou Ferenczi como entrelaçadas segundo a lógica da em seus últimos textos (Ferenczi, 1932-33/ suplementaridade (Figueiredo, 1999). A 1985). A clínica winnicottiana com os pacompulsão à repetição, comandada pela cientes esquizóides parece-me ser a granchamada pulsão de morte (1) reflete não de herdeira desta tradição, com sua ênfasó a tendência à descarga e ao zero de se na capacidade de sobrevivência do 7> É nesta direção que nos parece ir a interpretação de Octavio Souza sobre certos efeitos do consumo de drogas, focalizando as situações em que elas produzem um movimento regressivo nas relações objetais e favorecem o restabelecimento de formas mais primitivas de relação com o ambiente (Souza, 2002).
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>77
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t s b i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s l o u n p a
>78
analista às vicissitudes do processo que a análise deflagra e tem como responsabilidade própria sustentar quando se depara com indivíduos que até este momento se mantiveram vivos na mais absoluta precariedade, seja a do congelamento afetivo esquizóide, seja a da dissolução e da turbulência narcisista. Encontramos tanto em Ferenczi como em Winnicott um contraponto importante à ênfase na destrutividade e no ataque aos elos de ligação que tanto marcam os pensamentos de Klein e Bion. Creio que ao conceber a chamada “pulsão de morte” pelos três vértices acima mencionados, reconhecendo a dimensão da descarga, a do caráter mortífero do narcisismo, mas também a insistência da vida, abre-se um horizonte clínico muito mais promissor, sem que se caia, por outro lado, em um otimismo fácil, pois, não há dúvidas de que se trata de pacientes difíceis. Por isso, cabe aqui uma pequena observação de cautela. Esta concepção menos “pessimista” da pulsionalidade que aqui estamos elaborando, nas pegadas de Ferenczi, não nos deve iludir quanto à real dificuldade destes processos terapêuticos. O trágico em certas repetições comandadas pela chamada “pulsão de morte” é justamente o fato de que os três pólos ou direções se articulam e podem se alternar sem uma real possibilidade de transformação. Um objeto primordial, por exemplo, tão sofridamente procurado e eventualmente encontrado na figura do analista pode, logo em seguida, vir a sofrer um ataque violento seja pela via da fúria narcisista, em que se consuma a destruição, seja pela via do desprezo esquizóide, em que prevalece o motivo da auto-suficiência.
Na clínica psicanalítica contemporânea, vamos encontrar áreas reconhecidas como de ausência do pleno funcionamento dos disposit ivos simb ólicos, como no caso dos pacientes com “pensamento operatório” e psicossomáticos (cf. Smadja, 2001, que articula a tradição da escola psicossomática de Paris com a psicanálise de André Green). Talvez sejam estes exemplos radicais de esquizoidia, embora em tais pacientes pareça mesmo não haver, nem mesmo em estado de dissociação e enquistada, uma vida afetiva e de fantasia. Contudo, sugiro como hipótese a vantagem de compreendermos estes casos a partir do paradigma da esquizoidia, posto que se trata, e quanto a isso não parece haver dúvidas, de uma patologia do self . Nesta condição, que engloba os adoecimentos narcisistas e os esquizóides, penso que os psicossomáticos se aproximam muito mais da descrição do paciente esquizóide, com sua mortífera estabilidade (cf. Bromberg, 1998) do que do narcisista, com suas fúrias, dores e amores exaltados. Mas também nos deparamos, com grande freqüência na clínica contemporânea, com os “maus usos dos símbolos” nos pacientes narcisistas e esquizóides em geral. Bion (1963) com sua Grade nos ensinou a distinguir entre o grau de elaboração de um pensamento e a modalidade funcional de seu uso. Símbolos muito sofisticados podem ser usados para tarefas muito pouco nobres, como a evacuação, ou muito perniciosas nos planos intra e interpsíquico, como o controle puro e simples da mente alheia: podem ser usados para matar e para morrer, embora continuem também servindo para manter a vida nos extremos e nos limites.
Quanto à incidência na contemporaneidade destas patologias do self , marcadas pelo não-encontro dos objetos em suas funções básicas – mais do que pela perda dos objetos de satisfação, o que é o característico das neuroses – cabem alguns assinalamentos, de forma apenas sugestiva. Sugerimos que se considere a precariedade dos modos que a sociedade, as instituições e a família oferecem hoje em dia para proporcionar aos indivíduos este milagroso encontro da pulsão com os objetos primordiais, capazes de holding e continência. Em contrapartida, a proliferação de “objetos” excitantes e calmantes (entre os quais, mas não só, as drogas) dá o testemunho pelo avesso da ausência a que estamos aludindo. Tratase de um universo cultural cada vez mais repleto de estímulos e cada vez menos apto a fazer ligação, efetuar separações, mediar e dar sentido (cf. Figueiredo, 2001), cada vez mais repleto de sexo e violência, por exemplo, e menos regido por Eros. Uma cultura do traumático. Finalizando Depois desta breve tentativa de discriminar as modalidades de relações terapêuticas em que corpo, afeto e linguagem ocupam posições muito diferentes, convém reafirmar o fato, tão facilmente observado na clínica, de que as identificações projetivas e os enactments podem ser entendidos como dimensões colaterais da transferência. É sempre bom que o analista cultive sua escuta e monitore suas intervenções levando em conta este conjunto de falas, afetos e manifestações corporais. Mas é preciso ir além: quando as identificações projetivas e os enactments assumem uma certa proeminência, eles po-
dem funcionar como obstruções à transferência stricto sensu . Seja quando as dimensões colaterais são muito fortes, gerando o que muitas vezes entendemos como “transferências intensas” – com a projeção de superego arcaico sobre o analista em neuroses de transferência graves – seja quando as identificações projetivas são maciças em pacientes narcisistas e os enactments são contínuos em pacientes esquizóides, ou ainda, o que é a situação mais difícil, quando identificações projetivas e enactments mostram-se alternados ou simultâneos em pacientes borderline , em todos estes casos verificamos e sentimos na pele e na alma os ata- ques à função analítica , sendo a psicanálise, afinal de contas, uma talking cure . É bem possível que nestas ocasiões o analista sinta-se como uma vítima, ele mesmo, de um soul murder . Sofremos como que ataques às reservas (Figueiredo, 2000a), à mente própria do analista (Caper, 1997), ou à sua linguagem (Fédida, 1992). Retomando o que dissemos na abertura, podemos sugerir que são, antes de mais nada, ameaças à contratransferência primordial: dificuldades imensas para a preservação e reposição da contratransferência primordial que pode, neste momento, ser concebida como uma “reserva de alma”. Nesta reserva de alma residem nossas teorias, nossos desejos, nossa capacidade de pensar, falar, simbolizar e sonhar. Mas aí reside, fundamentalmente, nossa capacidade de ser afetado e interpelado pelo sofrimento. É, portanto, o que de mais precioso podemos oferecer e, como disse Caper, se conseguirmos preservar e oferecer esta condição em meio às vicissitudes e tempestades de uma análise difícil, mesmo
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>79
que o paciente não melhore, não teremos existido em vão. Creio que se formos capazes de reconhecer o triplo sentido disto que, em um primeiro momento, sentimos como puro ataque, estaremos certamente mais capacitados a este trabalho. Assim, ao menos, é o que venho experimentando em minha atividade clínica e que, de uma forma certamente ainda muito tosca e carente de maiores desenvolvimentos, procurei transmitir a vocês como matéria para pensar. Referências
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t s b i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s l o u n p a
>80
ABRAHAM, N e Torok, M. (1987). A casca e o nú- cleo . São Paulo: Escuta, 1995. BALINT, M. (1968). A falha básica. Aspectos te- rapêuticos da regressão . Porto Alegre: Artes Médicas, 1993. BASS , A. Difference and disavowal . Stanford: Stanford University Press, 2000. BELL, D. Projective identification. In: Bronstein, C. (Ed.). Kleinian Theory . A contemporary perspective . London: Brunner-Routledge, 2001. BION, W. R. (1959). Attacks on linking. Second Thoughts . London: Jason Aronson, 1967. _____ (1961). Experiências com grupos . Rio de Janeiro: Imago, 1975. _____ Learning from experience . London: Jason Aronson, 1962. _____ (1963). Elements of psycho-analysis . London: Jason Aronson, 1985. _____ Transformations . London: Jason Aronson, 1965. BROMBERG, P. M. The schizoid patient. Standing in the spaces . Essays on clinical process, trauma & dissociation . Hillsdale, NJ.: The Analytic Press, 1998. CAPER, R. (1995). Sobre a dificuldade de fazer uma interpretação mutativa. In: Tendo mente própria . Rio de Janeiro: Imago, 2002. _____ (1997). Tendo mente própria. In: Ten- do mente própria . Op. cit. ELLMAN, S. J. e MOSKOWITZ, M. Enactment. Toward a
new approach to the therapeutic relation- ship . New York: Jason Aronson, 1998. FAIRBAIRN, W. R. D. (1958). On the nature and aims of Psychoanalysis. In: From instinct to self. Selected papers of W.R.D Fairbairn. London: Jason Aronson, 1994. FÉDIDA, P. Nome, figura e memória. A linguagem na situação analítica . São Paulo: Escuta, 1992. FERENCZI, S. (1909). Transferência e introjeção. In: Obras completas – I. São Paulo: Martins Fontes, 1991. _____ (1924). Perspectivas da técnica em psicanálise. In: Obras Completas – III . São Paulo: Martins Fontes, 1993. _____ (1928). A elasticidade da técnica. In: Obras Completas – IV . São Paulo: Martins Fontes, 1992. _____ (1929). A criança mal-acolhida e sua pulsão de morte. In: Obras Completas – IV . Op. cit. _____ (1932-33/1985). Diário Clínico . São Paulo: Martins Fontes, 1990. FIGUEIREDO, L. C. A complexa noção de voz. Revista Brasileira de Psicanálise , 32, p. 605, 1998. _____ Palavras cruzadas entre Freud e Fe- renczi . São Paulo: Escuta, 1999. _____ O caso-limite e as sabotagens do prazer. Revista Latinoamericana de Psicopa- tologia Fundamental , v.III, n. 2, p. 61-87, jun/2000. _____ Presença, implicação e reserva. In: FIGUEIREDO, L.C. e COELHO JÚNIOR, N. Ética e téc- nica em psicanálise . São Paulo: Escuta, 2000a. _____ Modernidade, trauma e dissociação. In: BEZERRA JÚNIOR, B. e P LASTINO, C.A. (org.). Corpo, afeto e linguagem . Rio de Janeiro: Contra Capa, 2001, p. 219-43. FREUD , S. (1912). Sobre la dinâmica de la transferencia. Obras Completas . Buenos Aires: Amorrortu, 1976. v. XII. _____ (1914). Recordar, repetir y elaborar. O.C . Op. cit. v. XII. _____ (1915). Puntualizaciones sobre el amor de transferencia. O. C . Op. cit. v. XII.
_____ (1916-7). 27 a Conferencia. La transferencia. O. C . Op. cit. v. XVI. _____ (1920). Mas allá del principio de placer. O. C . Op. cit. v. XVIII _____ (1 921) . Ps ic ol ogía de las masas y análisis del yo. O. C.. Op. cit. v. XVIII. GREEN, A. Narcissisme de vie, narcissisme de mort . Paris: Minuit, 1983. _____ Time in psychoanalysis . London: Free Association, 2002. HEIMANN, P. (1950). On countertransference. Int. J. Psych-Anal ., 31, 81-84, 1950. J ACOBS , T. J. (1991). The use of the self. Countertransference and communication in the analytic situation . Madison: International University Press. JOSEPH, B (1975). The patient who is difficult to reach. Psychic equilibrium and psychic change . London: Routledge, 1989. _____ (1985). Transferência: a situação total . Spillius, E.B. (ed). Melanie Klein hoje – Vol. 2 . Rio de Janeiro: Imago, 1990. _____ (1987). Projective identification: some clinical aspects. Psychic equilibrium and psychic change . London: Routledge, 1989. KERNBERG, O. (1998). Fairbairn’s contribution. An interview of Otto Kernberg. In: S KOLKNIC e SCHARFF (eds). Fairbairn then and now . New York: The Analytic Press, 1998. K LEIN, M. (1946). Notes on some schizoid mechanisms. The Writings of Melanie Klein – III . London: The Free Press, 1975. _____ (1952). The origins of transference. The Writings of Melanie Klein – III . Op. cit. _____ (1955). On identification. The Writings of Melanie Klein – III . Op. cit. KOHUT, H. (1968). O tratamento psicanalítico das perturbações narcísicas. Self e narcisismo . Rio de Janeiro: Zahar, 1984. LÉVINAS , E. Autrement qu’être ou Au-delá de l’essence . Paris: Grasset, 1974. MALDINEY , M. De la transpassibilité. Penser l’homme et la folie . Grenoble: Jerome Millon, 1991. OGDEN, T. Uma questão de voz na poesia e na psicanálise. Revista Brasileira de
Psicanálise , 32, p. 585, 1998. ROCHA, Z. Transferência e criatividade. Texto apresentado na XVIII Jornada do Círculo Psicanalítico de Pernambuco, 2002. ROSENFELD, H. (1971). Uma contribuição à psicopatologia dos estados psicóticos: a importância da identificação projetiva na estrutura do ego e nas relações de objeto do paciente psicótico. S PILLIUS, E.B. (ed) Melanie Klein hoje, Vol I. Rio de Janeiro: Imago, 1991. SANDLER, J. (1976). Countertransference and roleresponsiveness. In: E LLMAN, S. J. e MOSKOWITZ , M. Enactment. Toward a new approach to the therapeutic relationship . New York: Jason Aronson, 1998. SEARLES, H. (1973). Le patient, thérapeute de son analyste. Le contre-tranfert . Paris: Gallimard, 1981. SHARPE, E. (1930). Papers on technique. B RIERLEY, Marjorie (Ed). Collected papers on psy cho-ana lysis . London: The Hogarth Press, 1950. SHENGOLD, L. Soul murder revisited . New Haven: Yale University, 1999. S MADJA , C. La vie operatoire. Études psychanalytiques . Paris: PUF, 2001. SOUZA, O. Aspectos clínicos e metapsicológicos do uso de drogas. In: P LASTINO, C.A. (org.). Transgressões . Rio de Janeiro: Contra Capa, 2002, p. 93-102. SPITZ, R. (1965). O primeiro ano de vida . São Paulo: Martins Fontes, 1993. S TRACHEY , J. (1933-4). The nature of the therapeutic action of the psycho-analysis. Inter. J. Psy-Anal , 1934. WINNICOTT , D. W. (1962). The aims of psychoanalytical treatment. The maturational process and the facilitating environment. London: The Hogarth Press, 1965.
Artigo recebido em dezembro/2002 Aprovado para publicação em março/2003
s o g i t r a >
e s i l á n a c i s 3 p 0 e 0 d 2 / . a r t b s i a v , e 8 r 6 1 > . l n a , I n V o X i s o l u n p a
>81