Vendo Feituras Feituras de Santo! Observação: As Observação: As palavras que estão com essa cor cor + + os termos da tabela 1tem 1tem o seu significado no Glossário ao final do texto.
I - Introdução
O tema desse nosso artigo, já sabemos, causará polêmica e oposições op osições muito fortes, no entanto, se faz necessário que ele seja colocado. No objetivo desse blog, deixamos claro, que realizaríamos um trabalho independente, sem nos prendermos a tabus, dogmas, mistérios, mitos ou erós (segredos). Em pleno séc. XXI, não é mais possível, que na Umbanda existam assuntos proibidos, temas inquestionáveis, mitos, lendas e certas práticas que, se corretamente fundamentadas na sua origem, são p erpetuadas e disseminadas de forma errada atendendo aos interesses de poucos. Todo umbandista é um livrepensador e é exatamente na prática dessa liberdade, que cabe ao adepto realizar o desenvolvimento dos seus conhecimentos, o estudo permanente da religião, as reflexões sobre todos os assuntos espirituais, o pleno exercício racional da sua fé, uma auto-análise sincera e uma crítica responsável. Sim, é necessário que o filho-de-fé, filho-de-f é, exerça o seu direito a crítica. A Umbanda precisa, que o movimento umbandista, cada vez mais, dentro do plano traçado por sua hierarquia superior, contribua para evolução planetária e para que isso seja alcançado muita coisa precisa ser mudada. Não se conquista evolução sem mudança e toda mudança exige respeito ao passado, p assado, modificação no presente e que se agregue algo novo para o futuro. A Umbanda é uma religião dinâmica, transformadora e não estática, parada no tempo e no espaço. Isso significa dizer, que na Umbanda, tudo se modifica continuamente, o novo quando não substitui, transforma o velho ou renova o que já existe. O movimento umbandista, não é um universo religioso acabado, pronto e perfeito, ele está em constante ebulição, como a sua própria denominação revela, em pleno movimento, em constante modificação, ou seja sofrendo um processo de mudança permanente. Por isso, deve ser diariamente trabalhado, completamente estudado e continuamente criticado, para cumprirmos as metas traçadas pelo mundo espiritual. E quem deve fazer esse trabalho, senão os umbandistas, que são os principais colaboradores e participantes dessa Obra Divina. Entretanto, somente se consegue criticar algo, quando se pratica mesmo que inconsciente, o exercício da dúvida. Esse exercício é um método, que consiste em questionar a veracidade de
algo, chegando totalmente a sua negação e depois construir, através do raciocínio lógico, da pesquisa e do uso da razão, a certeza e a verdade novamente. É, totalmente, consciente desse meu direito de refletir, pensar e estudar a Umbanda, que apresento esse estudo sobre o processo de iniciação (feitura de santo), dentro do movimento umbandista, mais particularmente na Escola ou Culto Omolocô e diretamente sobre a minha experiência como inciado. A necessidade de obter, por mim mesmo, a constatação de tais ensinamentos, começou a surgir na minha frente, logo depois da p ublicação do meu livro "Umbanda Omolocô - Liturgia, Rito e Convergência C onvergência na visão de um adepto" publicado pela Ed. Ícone em 2002. Os estudos que realizei sobre o Culto Omolocô e o aprofundamento nas doutrinas de outras escolas do movimento umbandista, ampliaram a minha visão e me permitiram chegar a uma série de deduções, que apresento para apreciação de todos. Em suma, coloquei em dúvida os ensinamentos a mim ministrados e fui a busca de obter as c ertezas de suas veracidades, caso contrário, de descobrir o fundamento exato. Posto isso, não pretendo que ninguém adote o meu posicionamento, ou acredite no que será exposto aqui, mas acho extremamente necessário apresentar um novo ângulo, sobre algo que mexe e transforma completamente a vida espiritual de tantos adeptos. Quem tiver ouvidos para escutar e olhos para enxergar, que tirem suas próprias conclusões. II - Considerações Gerais sobre Iniciação Desde as Escolas de Mistérios do Mistérios do antigo Egito, que um processo de Iniciação significa um conjunto de rituais, que não tem outro objetivo, senão o de causar um impacto espiritual na alma, na mente, no coração e no corpo físico do iniciante. Esse impacto visa a permitir que determinadas leis espirituais, deixem de existir apenas no nível consciente do iniciante (fase do "eu acredito"), se tornando parte do seu nível inconsciente (fase do "eu vivencio plenamente"). Para isso, todo ritual de iniciação trabalha os níveis psíquicos (espirituais), psicológicos (mentais), emocionais (intuitivos) e físico (material) do neófito (aquele que está se candidatando a uma iniciação). No Egito antigo e em muitos processos iniciáticos no decorrer do tempo, o candidato passava por provas dividas em três etapas: provas físicas, nas quais se testavam a sua resistência e coragem; as provas morais, nas quais eram testados o seu caráter, valores morais e integridade; e as provas espirituais, em que se faziam testes para verificar a sua capacidade de contato com o mundo espiritual, seus dons e poderes.
Em um ritual de iniciação, todo neófito, sai dele transformado. Deixa-se o velho e substitui-se pelo novo, ou como dizem, liberta-se de uma situação profana e vive-se a partir daí uma íntima ligação com o Sagrado. A Iniciação é um processo de harmonização com o Sagrado e o Mestre Interior que habita dentro nós e que outro não é do que a nossa essência divina. Assim, todas as ordens esotéricas (Maçonaria, Rosacruz entre outras), todas as religiões, possuem suas iniciações ricas em simbolismos, impactantes em seus rituais e repletas de liturgias representativas da sua concepção específica do Sagrado. O processo iniciático deve permitir portanto, a experiência mística, caso contrário representa apenas um ritual simbólico. Sem gerar uma vivência espiritual profunda e transformadora, se torna apenas um rito formal e que eleva o iniciante a uma condição hierárquica superior na coletividade que ele pertence. Ao se passar por uma iniciação, perante os outros (não-iniciados), passamos a pertencer a um seleto grupo, e adquirimos uma posição superior. III - A Iniciação no Culto Omolocô Como já escrevi em meu artigo "Os Filhos da Natureza estão órfãos e não sabem", o Culto Omolocô surgiu (década de 40 em diante) como uma resposta, do Tata Ti Inkice Tancredo da Silva Pinto, a tentativa de alguns umbandistas, em realizar uma aproximação com o Espiritismo e de afastamento das origens africanas, dos seus cultos e religiosidade. Para isso, Tancredo radicalizou em um caminho inverso, ou seja, aproximação com o Candomblé e os Cultos Afro brasileiros e a origem africana da Umbanda, organizando o que vulgarmente se denominou de Umbandomblé, e que eu denomino de processo de Candomblelização da Umbanda. O Tata Tancredo defendeu, de forma veemente, que essa seria a Umbanda verdadeira. Assim, o Culto Omolocô adotou de forma semelhante, mas não idêntica todos os processos e iniciação do Candomblé, ou pelo menos, se baseou em seus fundamentos para tal fim. Como uma religião que congrega em suas diversas nações a herança legítima dos cultos africanos, o Candomblé serviu de fundamentação para organização de ritos e liturgias do C ulto Omolocô. Isso é bem visível, na forma pelo qual, o Omolocô trata tudo o que se refere a Orixá em seu culto. Utilizamos as mesmas comidas-de-santo do Candomblé, as mesmas ervas, fazemos o bori frio, respeitamos o xiré, temos o roncó, realizamos feituras-de-santo, utilizamo-nos do sacrifício de animais, as vestimentas e armas dos Orixás são qua se idênticas, bolamos com o santo, o fardamento dos filhos-de-santo são semelhantes, os níveis hierárquicos são equivalentes, os símbolos e objetos consagrados são os mesmos (ex. ootá, a quartinha, a louça do santo etc.), cantamos rezas em dialeto, temos saídas de santo e entregamos o deká, entre tantas coisas em comum.
Com relação ao processo de iniciação as semelhanças continuam, embora, como já disse, a forma não seja idêntica.Temos então, no processo de iniciação do Omolocô ou feitura de santo em comparação com o Candomblé e suas nações, a seguinte tabela-resumo:
Nessa pequena tabela-resumo, podemos perceber, claramente, que o Culto Omolocô tem seus alicerces ritualísticos e litúrgicos, em relação ao seu panteão (conjunto de divindades) formado pelos Orixás, plenamente entrelaçados com o Candomblé. Ao dividir esse seu universo de atuação, com as entidades espirituais (caboclos, pretos-velhos, crianças etc.), seus simbolismos e objetos de trabalho, o Omolocô passou a ser um Candomblé de Caboclo ampliado. Tudo isso, tem um motivo de ser, no papel que a Escola Omolocô tem no movimento umbandista, completamente explicado tanto no meu livro, como no artigo já citado. O que eu considero de suma importância para minha linha de raciocínio atual é o significado e o objetivo da iniciação (feitura de santo), e a forma como ela é usada no Culto Omolocô. IV - Significado e Objetivo da Iniciação no Culto Omolocô Como no Candomblé e demais Cultos Afro-brasileiros a feitura de santo é um ritual para que o iniciado ou iaô, seja harmonizado ou consagrado ao Orixá que ele pertence. E mais, é uma via ou caminho para a ordenação sacerdotal do iniciado, assim ele manifeste seu desejo e/ou seja confirmado pelos oráculos (búzios/ifá). Caso ele não deseje e/ou não seja confirmado o seu
destino sacerdotal, torna-se um meio para que o iniciado venha ocupar um cargo na hierarquia do terreiro e do culto. Aqui começa o resultado dos estudos que realizei, as minhas reflexões e as conclusões que cheguei sobre o sistema de iniciação por mim vivenciado. Cada ponto a seguir está dividido nas seguintes partes: Ensinamentos (conforme me foi passado), Estudos (análise e deduções que cheguei na minha busca pelo fundamento dos Ensinamentos) e Conclusão (resultado que se chega com as deduções e análises dos Estudos). V.1 - Quantidade de Órixas que devem ser feitos ENSINAMENTOS: A Iniciação somente pode ser através da feitura de santo. O filho-de-santo pode fazer um Orixá, preferencialmente dois e idealmente quatro, mas para chegar a condição sacerdotal de Pai/Mãede-Santo no Omolocô deve fazer nove Orixás. O primeiro Orixá ou Santo, como se diz, a ser feito é sempre o principal ou da frente (se for Orixá masculino é chamado de Pai e se feminino de Mãe). No caso de dois Orixás serão feitos o principal + um segundo. Nesse caso será um Orixá masculino, se o principal for Orixá feminino ou feminino, se o Orixá principal for masculino. Na feitura de quatro Orixás são feitos o principal + o segundo + outros dois. Nove são os Orixás cultuados pelo Omolocô (Nanã, Omulu, Ogum, Oxum, Iansã, Xangô, Oxossi, Yemanjá e Oxalá). O Orixá da frente ou principal é o Orixá correspondente ao dia da semana, da data de nascimento do iniciante, segundo o calendário do culto, ele determina o que você é nessa reencarnação, e é o Orixá que predomina na sua existência atual. O segundo Orixá é o correspondente direto ao Orixá principal (f ormam um par), chamado de Orixá ascendente, ele determina o que você aparenta ser ou sua imagem. Esse Orixá sempre visa o nosso equilíbrio íntimo e crescimento interno permanente. É por isso, que preferencialmente, o iniciante deve procurar fazer os dois primeiros Orixás. É o p ar que proporciona ou busca o equilíbrio do filho-de-santo. No caso da feitura de quatro Orixás a explicação é porque esse número representa a estabilidade (ex: uma cadeira fica firme no chão porque tem quatro pernas, e assim por diante), nesta visão, por exemplo, a feitura de três Orixás deixa o filho-de-santo sem estabilidade.
Já a necessidade de se fazer os nove Orixás, para poder ser sacerdote, parte do princípio que não se pode fazer o Orixá de alguém sem ter esse Orixá feito. Os nove Orixás formam o círculo ou coroa do nosso Orí em que cada Orixá possui uma respectiva casa astral (posicionamento cabalístico no alto da nossa cabeça). ESTUDO: A bem da verdade, todos nós possuímos três Orixás principais. Juntos eles formam um triângulo de forças regentes e predominantes no nosso Orí (cabeça). Por que um triângulo e não um círculo ou coroa como nos foi ensinado? O círculo surge no Omolocô, com base nos estudos cabalísticos desenvolvidos pelo Tata Ti Inkice Tancredo para alicerçar a doutrina do culto. Nesses brilhantes estudos para a época, o Tata Tancredo buscava através da numerologia, da cabala dos nomes e dos símbolos formatar todas as teorias do Omolocô para a origem e genealogia dos Orixás,a origem do universo, e a gênese e evolução humana e espiritual. O círculo ou 360 graus (cuja a numerologia 3+6+0=9), foi a base geométrica e aritmética para construção dessa cabala. Em termos de Teogonia (Estudo dos Orixás), Cosmogonia (Estudo do Universo) e do processo evolutivo do espírito essa base circular funciona perfeitamente para argumentação, já na questão da regência dos Orixás não. O triângulo é a representação correta para a principal lei que rege todo o processo evolutivo do nosso Universo. Essa Lei se chama Lei de Manifestação. Todos nós e tudo o que existe no Universo, surgiu, se mantém e sobrevive graças a essa Le i. A Lei de Manifestação é um arcano (mistério) divino que determina, que nesse nosso universo algo, somente se manifesta ou existe, se houver a ação conjunta de dois pontos (base do triângulo). Assim a ação de dois pontos gera a manifestação de um terceiro (ponta do triângulo).
O filósofo, matemático e ocultista Pitágoras (571-70 a.C.), eninava em sua Ordem iniciática que "a
primeira manifestação de algo estruturado no Universo só ocorre quando da manifestação de três ângulos - triângulo. A primeira manifestação do UM é do TRÊS, no qual está contido o DOIS. Esta é a forma como os pitagóricos explicam a Trindade, do três em UM. É pela geometria que nós pitagóricos procuramos entender o universo as coisas nele existentes, a relação entre as coisas e os eventos" .
Já Pietro Ubaldi (1886-1972), última reencarnação do apóstolo Pedro na Terra e considerado por muitos como o Profeta do IIIo. Milênio, em umas das suas principais obras A Grande Síntese (escreveu 24 inspirado por quem ele chamou apenas de "Sua Voz" - Jesus Cristo), que existe "uma Lei Única que dirige o Universo, e que o nosso Universo é trifásico e as suas fases
são: Matéria, Energia e Espírito" . Como consequência desse seu estudo são gerados os seguintes triângulos de manifestação da Lei de Deus: