Livro do Professor
a r u t a r e t i L Volume 5
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)
A474 Alves, Roberta Hernandes. Literatura : ensino médio / Roberta Hernandes Alves ; ilustrações Daniel Klein, DKO Estúdio, Mariana Coan – Curitiba : Positivo, 2015. v. 5 : il. Sistema Positivo de Ensino ISBN 978-85-467-0207-7 (Livro do aluno) ISBN 978-85-467-0208-4 (Livro do professor) 1. Literatura. 2. Ensino médio – Currículos. I. Klein, Daniel. II. DKO Estúdio. III. Coan, Mariana. IV. Título. CDD 373.33 ©Editora Positivo Ltda., 2015
Presidente: Ruben Formighieri Diretor-Geral: Emerson Walter dos Santos Diretor Editorial: Joseph Razouk Junior Gerente Editorial: Júlio Röcker Neto Gerente de Arte e Iconografia: Cláudio Espósito Godoy Autoria: Roberta Hernandes Alves Supervisão Editorial: Jeferson Freitas Edição de Conteúdo: Enilda Pacheco (Coord.) e Floresval Nunes Moreira Junior Edição de Te Texto xto: Juliana Milani Revisão: Fernanda Marques Rodrigues, Priscila Rando Bolcato e Mariana Bordignon Supervisão de Arte: Elvira Fogaça Cilka Edição de Arte: Joice Cristina da Cruz Projeto Gráfico: YAN Comunicação Comunicação Ícones: ©Shutterstock/ericlefrancais, ©Shutterstock/Goritza, ©Shutterstock/Lightspring, ©Shutterstock/Chalermpol, ©Shutterstock/ Macrovector,, ©Shutterstock/Jojje, ©Shutterstock/Archiwiz, ©Shutterstock/PerseoMedusa e ©S hutterstock/Thomas Bethge Macrovector Imagens de abertura: National Portrait Gallery, Londres, Inglaterra/PHILLIPS, Thomas. Lord Byron com roupas albanesas. 1835. e ©Shutterstock/Odua Images Editoração: Flávia Vianna Ilustrações: Daniel Klein, DKO Estúdio e Mariana Coan Pesquisa Iconográfica: Janine Perucci (Supervisão), Vitor Yago Yago Argus e Carla Andrequetto Engenharia de Produto: Solange Szabelski Druszcz Produção Editora Positivo Ltda. Rua Major Heitor Guimarães, 174 – Seminário 80440-120 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3312-3500 Site : www.editorapositivo.com.br Impressão e acabamento Gráfica e Editora Posigraf Ltda. Rua Senador Accioly Filho, 431/500 – CIC 81310-000 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3212-5451 E-mail :
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Romantismo Romantis mo europeu ................. ................................ ............... 4 Contexto histórico do Romantismo ....................................................... ................................................................. ..........
Revolução Francesa............... ................................ .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .............................. ............. Revolução Industrial ................ ................................. .................................. .................................. .................................. ................................. ................................. ........................... ..........
Romantismo: múltiplas origens.................................................................. origens...................................................................... .... ........................................................................................... .............................. Spleen byroniano ............................................................. Romantismo e romântico ........................................................... ............................................................................... .................... Romantismo de autoria feminina ...................................................... ................................................................... .............
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Romantismo Romantis mo em Por ortugal tugal................ .......................... .......... 29 Contexto histórico do Romantismo português ............................................... 31
Revolução Revolução do Porto ............... ................................ .................................. .................................. ................................. ................................. .................................. .............................. .............
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Gerações do Romantismo português ....................................................... .............................................................. ....... 33 Resgate histórico do Romantismo português ................................................. 36
Autores ................ ................................ ................................. .................................. .................................. .................................. .................................. .................................. .............................. .............
Folhetim romântico português ............................................................. ....................................................................... .......... 41 Transição para o Realismo ............................................................. .............................................................................. ................. 44 Manifestações românticas na África colonizada por Portugal ......................... 46
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09 u e p o r u e o R oman tism
©Shutterstock/panbazil
tida too de par ti Pon t
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1. Se você fosse dar um título representativo para essa imagem, qual seria? 2. Quais das expressões a seguir você atribui à cena da foto? Por quê? Romantismo
Tristeza
Individualismo
Bucolismo
Desilusão
Tédio
Fuga da realidade
Negativismo
3. Se você fosse pensar em uma cena romântica, como ela seria? Que elementos teria?
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Objetivos da unidade:
compreender contextualmente o movimento ro rom romântico; m nt ntic ico; o; relacionar o contexto sócio-histórico do séculoo XXIX IX àss m mudanças udan as trazidas trazidas pela ela lliteratura iteratura romântica; rom ntica identificar as principais marcas da literatura romântica; distinguir os conceitos Romantismo e romântico.
L endo a lit er at ur a Leia um poema do poeta português Almeida Garrett.
Bela d’Amor
Pois essa luz cintilante Que brilha no teu semblantee Donde lhe vem o ‘splendor? Não sentes no peito a chamaa Que aos meus suspiros se inflama flama E toda reluz de amor?
. l a t i g i d m e g a l o C . 5 1 0 2 . n a o C a n a i r a M
Pois a celeste fragrância Que te sentes exalar, Pois, dize, a ingênua elegância cia Com que te vês ondular Como se baloiça a flor Na Primavera em verdor, Dize, dize: a natureza Pode dar tal gentileza? Quem ta deu senão amor? Vê-te a esse espelho, Vê-te espelho, querid querida, a, Ai!, vê-te vê-te por por tua vida, E diz se há no céu estrela, Diz-me se há no prado flor Que Deus fizesse tão bela Como te faz meu amor. GARRETT, Almeida. Bela d’Amor. In: ______. Folhas caídas. Disponível em:
. df>. Acesso em: 23 abr. 2015.
1. Na primeira estrofe, ao se dirigir a sua amada, o eu lírico menciona uma característica que reconhece nela. Qual é
essa característica? No semblante da amada brilha uma luz cintilante.
‘splendor: forma da palavra “esplendor”, que significa brilho, ‘splendor: forma luminosidade intensa.
baloiça: movimenta-se baloiça: movimenta-se de um lado para outro, balança.
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2. Ainda na primeira estrofe, o eu lírico pergunta à amada se ela não sente inflamar uma chama em seu peito. O que
seria essa “chama”? A “chama” a que se refere o eu lírico pode pode ser relacionada ao sentimento sentimento amoroso. O eu lírico lírico pergunta se os seus suspiros não são capazes de despertar amor em sua amada.
3. Na segunda estrofe, o que é comparado ao balançar de uma u ma flor na primavera? O eu lírico compara o andar (ondular) ingênuo e elegante da amada ao balançar (baloiçar) de uma flor na primavera.
4. O que faz com que a amada se mova com “ingênua elegância”? Justifique sua resposta indicando versos do poema. O amor. No verso “Quem ta deu senão amor?”, o eu lírico pergunta quem deu “gentileza” ao “ondular” da amada, senão o amor amor..
5. Na terceira estrofe, quem é o responsável por tornar a mulher amada mais bela do que as estrelas do céu e do que
as flores no prado? O amor que o eu lírico sente por ela a torna mais bela que as estrelas e que as flores.
6. É possível compreender o sentimento amoroso de diversas maneiras. Leia as propostas a seguir e selecione a que
você considerar que melhor se aplica ao amor representado no poema. Justifique sua escolha. ( ) Amor é a busca do sujeito por algo que lhe falta. ( ) O amor e a paixão são sentimentos e emoções que se contrapõem ao racionalismo e à objetividade. ( ) O amor é um sentimento que faz com que as as pessoas ultrapassem seus limites. ( ) O amor pode nos fazer idealizar idealizar o ser amado. Pessoal. Espera-se que os alunos identifiquem algumas noções gerais sobre o sentimento amoroso que serão trabalhadas no contexto da estética romântica.
7. Na última estrofe, há uma comparação implícita. Qual é essa comparação? De que maneira essa comparação idealiza
o ser amado? O eu lírico compara a beleza da amada com a beleza das flores f lores no prado. Essa comparação, de certa forma, idealiza o ser amado, pois o eu lírico diz que sua beleza é ainda maior do que a beleza das flores criadas por Deus.
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Aconte Ac ontecia cia 2 Orientações sobre conteúdos históricos.
Contexto histórico do Romantismo O Romantismo foi uma estética que surgiu no final do século XVIII e, durante o século XIX, espalhou-se por diversas partes do mundo. Inseriu-se no contexto de uma série de transformações, desencadeadas pela Revolução Francesa e pela Revolução Industrial , que deram início a uma mudança profunda na visão de mundo predominante até então.
Revolução Francesa Até o século XVIII, o modelo político da França era o absolutismo monárquico , isto é, ao monarca cabia um poder único e incontestável. Luís XVI, rei francês no momento em que eclodiu a revolução, era a personificação do Estado, e nele concentravam-se os três poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário). Nesse sentido, os habitantes daquele país não eram considerados cidadãos, mas sim súditos de uma figura real.
s e g a m i g k A /
m u b l A / k c o t S n i t a L
A estrutura social organizava-se em três “estados” nos quais a população se encaixava:
1.º estado – alto clero: bispo, abades e cônegos; e baixo clero: sacerdotes pobres; 2.º estado – representantes da nobreza: a que vivia no palácio junto ao rei era chamada de nobreza cortesã; a que vivia no interior do país, chamada de nobreza provincial; burgueses ricos que compravam títulos de nobreza; além de altos funcionários administrativos; 3º. estado – alta burguesia: banqueiros, empresários e grandes comerciantes; média burguesia: profissionais liberais; e pequena burguesia: artesãos e comerciantes. Essa imagem ilustra a relação entre os três estados na França absolutista: clero e nobreza sustentados pelo povo
A nobreza e o clero tinham privilégios, tais como a isenção de pagamento de impostos e o recebimento de pensões do Estado. Na base de toda essa estrutura social, havia os sans-culottes sans-culottes (sem (sem calções), que eram os trabalhadores pobres, os camponeses, os desempregados que viviam de pequenos trabalhos eventuais, os aprendizes de ofícios, totalizando aproximadamente 97% da população. Após a metade do século XVIII, a situação econômica e social da França complicou-se. A participação em conflitos como a Guerra dos Sete Anos contra a Inglaterra I nglaterra (1756-1763), (1756-1763), a ajuda aos revoltoso revoltososs norte-americanos em seu processo de independência (1776), o alto custo para sustentar a Corte e a burocracia geraram grande insatisfação popular. Surgiram, então, duas crises: a primeira no campo, em razão das péssimas colheitas nas décadas de 1770 e 1780; a segunda, financeira, com o aumento do custo de vida e com a ausência de iniciativas de modernização dos meios de produção.
Literatura
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A insatisfação das camadas burguesas e populares, incentivadas pelos ideais do Iluminismo, que pregava igualdade, liberdade e fraternidade como princípios universais, desencadeou um processo marcado por uma série de revoltas, no campo e nas cidades. Em 14 de junho de 1789, um levante tomou a Bastilha – prédio considerado símbolo do poder real. Uma assembleia nacional deu início a várias mudanças nas leis, inclusive acabando com os privilégios do 1.º 1.º e 2.º estado. A seguir, vieram outras transformações, como a alteração, para a população francesa, da condição de súditos do rei para a de cidadãos, o voto censitário, a igualdade de todos p erante a lei, o fim do dízimo, a confiscação das terras eclesiásticas, a constituição civil do clero. O sistema político com o poder centralizado no absolutismo monárquico desapareceria, dando lugar a uma monarquia constitucional, que durou de 1791 a 1792. s i r a P , e r v u o L o d u e s u M
A obra A liberda liberdade de guiando o povo , do pintor Eugène Delacroix, representa a Revolução de Junho de 1830, acontecimento que pôs fim ao reinado da dinastia de Bourbon. A imagem feminina no centro do quadro é uma alegoria da liberdade, que conduz os representantes do povo em meio à batalha rumo à vitória.
DELACROIX, Eugène. A liberdade guiando o povo. 1830. 1 óleo sobre tela, color., 260 cm × 325 cm. Museu do Louvre, Paris.
Revolução Industrial A Revolução Industrial teve início na Inglaterra, no século XVIII, com a mecanização de sistemas em diversos ramos da produção. Comparada à Idade Média, baseada no artesanato, a Revolução Industrial promoveu uma verdadeira transformação não apenas apenas na maneira como os produtos passaram a ser produzidos, produzidos, mas também no modo como eram comercializados. Os custos de produção em larga escala se tornaram menores, fato que aumentou a margem de lucro da burguesia industrial. Somado a isso, houve um aumento considerável no número de pessoas que passavam a ter acesso a produtos novos, associado ao crescimento populacional e à mudança dos padrões de vida com o surgimento de uma classe trabalhadora. Diversos fatores explicam o fato de ter sido a Inglaterra o país a liderar as transformações que desencadearam o processo de Revolução Industrial do século X VIII. Entre eles, a existência de grandes reservas de carv ão mineral, energia motriz das máquinas e das locomotivas a vapor. As reservas de minério de ferro, matéria-prima que impulsionou a construção de linhas de ferro por onde passavam os trens e as máquinas da indústria, eram igualmente fartas em terras inglesas. 3 Sugestão de leitura sobre a Revolução Industrial. A Lei dos Cercamento Cercamentoss de Terras, Terras, que transformava terras de antigos senhores feudais em pastos para ovelhas, ampliou o surgimento de mão de obra, e isso também favoreceu a Inglaterra na corrida pela hegemonia na industrialização de sua economia. Com a transformação das terras comuns, herança dos tempos medievais, em pastos para as ovelhas, uma massa de trabalhadores rurais se deslocou para as cidades à procura de emprego. Muitos
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dos hábitos de vida típicos desses antigos servos sofreram mudanças profundas em um novo contexto: jornadas de trabalho que variavam de 14 a 16 horas diárias para as mulheres, de 10 a 12 horas por dia para as crianças e de muito mais para homens; as tarefas realizadas na fábrica eram muito diferentes daquelas conhecidas no trabalho relacionado à agricultura (o conhecimento dos modos de funcionamento das máquinas, que incorporavam avanços tecnológicos em uma velocidade cada vez maior, fazia com que o trabalhador tivesse que se especializar para não perder seu emprego); o ambiente das fábricas era, muitas vezes, pouco arejado e p ouco ensolarado, favorecendo a propagação de doenças. No século XIX, a Revolução Industrial chegou até a França. Por volta de 1850, era possível observar aspectos das transformações no modo de produção também na Alemanha e, no final do século XIX, tais mudanças ocorreram na Itália e na Rússia. Nos EUA, o desenvolvimento desenvolvimento industrial só se efetivou na segunda metade do século XIX. 4 Sugestão de pesquisa. n o t l u H / r e g n i r t S / s e g a m I y t t e G
Imagem de uma fábrica típica do século XVIII: um tear mecanizado, movido a vapor
Mundo do trabalho Durante o período da Revolução Industrial, uma área que se desenvolveu de maneira extraordinária foi a Engenharia de Produção, obviamente um pouco diferente de como se configura hoje. Na época, o desenvolvimento da industrialização desencadeou a necessidade de serem pensados os processos de produção, dos quais derivaram os sistemas integrados de produção tal como os conhecemos hoje. Os engenheiros industriais (nome pelo qual os engenheiros de produção são conhecidos na América) trabalham na aplicação de conhecimentos científicos em situações práticas, produzindo objetos que contribuem para a melhoria da vida das pessoas. Esse profissional desempenha uma série de funções em um processo de trabalho, estudando problemas, planejando a execução e a criação de obras ou utensílios, verificando sua viabilidade econô mica e técnica e acompanhando sua realização.
Literatura
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iterário Olhar l t 5 Sugestão de retomada do movimento anterior ao Romantismo.
Romantismo: múltiplas origens Na segunda metade do século XVIII, a arte neoclássica, fundamentada nos princípios do racionalismo e no resgate de influências da Antiguidade Clássica, dava sinais de saturação, abrindo espaço para o surgimento de um novo movimento artístico, o Romantismo, que defendia um novo padrão estético, em grande parte oposto às ideias que estruturavam a arte neoclássica. Influenciados pelo Iluminismo e pelos ideais da Revolução Francesa, jovens escritores e artistas ar tistas começaram c omeçaram a defender uma expressão artística ar tística com as seguintes características:
imeen t too de re vim O Iluminismo f oi um mo v ideeias que in f luenciou t taan t too o vaação de id no v s Neoclassicismo quan t too o Roman t tiismo. O voolução Francesa (igualdade, ideais da Re v o f ra t teernidade e liberdade) de inspiraçã es iluminis t taa alimen t taaram as produçõ ica român t tiicas. ilosó f ica tica e f ilo tís ti ar tí
destaque e valorização das emoções como uma forma de escapar da rigidez e do convencionalismo clássicos;
liberdade de criação como um meio de ultrapassar os limites do rigor formal e do artificialismo;
exploração do sentimento amoroso como uma estratégia para a exploração do c ampo das emoções;
temas religiosos como uma crítica à racionalidade;
individualismo como um caminho para a afirmação do homem e de sua liberdade; l iberdade;
o nacionalismo e a história como contraposições à ideia de um ponto de partida universal (característica da mentalidade neoclássica, que atribuía a origem da literatura e da arte à Antiguidade greco-romana).
Diferentemente de períodos literários anteriores, o Romantismo não surgiu em um determinado lugar para depois Diferentemente espalhar-se por diversos países. Suas primeiras manifestações ocorreram na Inglaterra e na Alemanha em momentos muito próximos e por razões diferentes. 6 Contextualização histórica. Em 1760, o escritor escocês James Macpherson Mac pherson (1736-1796) começou a publicar a tradução, na forma de prosa, de poemas que ele atribuiu a um poeta bardo escocês, do século II d.C., chamado Ossian, mas, na realidade, esses escritos eram do próprio Macpherson. Tal Tal publicação obteve sucesso imediato, sendo inclusive traduzida para outros idiomas. Diferentemente do universo da literatura e das artes neoclássicas, os poemas de Macpherson (atribuídos a Ossian) instauraram o resgate de uma literatura de origem popular, expressavam sentimentos diferentes do racionalismo e do equilíbrio da poesia neoclássica e abriam espaço para o resgate de narrativas históricas, das passagens da história específica dos povos misturadas com a fantasia da criação artística. 7 Sobre a abrangência das temáticas do Romantismo. Os poemas atribuídos a Ossian buscavam ritmo e escrita simples, do ponto de vista tanto da sintaxe quanto da escolha de palavras. Essa forma de trabalhar a língua acabou definindo um padrão que favorecia a leitura por parte dos leitores que não se identificavam com a arte neoclássica, baseada em referências mitológicas greco-romanas que satisfaziam mais o gosto da corte do que o das camadas populares. popul ares. 8 Como deve ser entendida a expressão “escrita simples”.
bardo: pessoa que transmitia oralmente histórias, bardo: pessoa histórias, mitos, lendas na forma de poemas. Em muitos casos, suas histórias eram executadas por meio de recitações e cantos acompanhados por instrumentos musicais (principalmente o alaúde).
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l i e u R , n o s i a m l a M e d u a e t â h C u d l a n o i c a N u e s u M
A cena representa dois planos: um iluminado, ocupado pelo bardo Ossian, e outro obscurecido, de onde provêm os franceses. A obra simboliza a passagem de uma manifestação artística em decadência (Neoclassicismo) para outra (Romantismo).
GIRODET DE ROUCY ROUCY-TRIOSON, -TRIOSON, Anne-Louis. Ossian recebendo os fantasmas dos heróis franceses. 1802. 1 óleo sobre tela, color., 192 cm × 184 cm. Museu Nacional du Château de Malmaison, Rueil.
Paralelamente, a Alemanha também vivenciava um momento de transição. De um lado, havia um movimento chamado Aufklär Aufklärung ung (“filosofia (“filosofia das luzes”), nascido sob a influência da filosofia empirista (do inglês John Locke), racionalista (do francês René Descartes) e da ciência (de Isaac Newton). Todos Todos esses pensadores defendiam o uso da razão como condição básica para a transformação do mundo e da sociedade. De outro lado, um movimento de afirmação dos valores da cultura alemã rebatia a influência estrangeira no modo de compreender a realidade local. Esse movimento foi denominado de Sturm und Drang, que pode ser traduzido por Tempestade e Ímpeto , e era liderado por jovens escritores interessados em romper com as ideias típicas do pensamento e da estética neoclássicos que vigoravam no país:
combate às regras e à separação de gêneros literários (gostariam de escrever textos que não se limitassem a regras rigidamente estabelecidas de temas, metrificação de versos, composição das estrofes, etc.);
defesa da escrita de uma poesia livre de regras preestabelecidas, no que diz respeito à forma e aos temas, com um apelo irracional, que pudesse expressar sentimentos de cunho melancólico , as “doenças da alma”; uma literatura sentimental , ou seja, uma produção literária antirracioanti- Aufklärung.. nalista, anti- Aufklärung
Uma das obras mais importantes que simbolizava os ideais do Sturm und Drang Drang foi Os sofrimentos do jovem Werther . Escrita por Johann Wolfgang von Goethe e publicada em 1774, essa narrativa, que é considerada por muitos um dos mais importantes clássicos da literatura de todos os tempos, conta a história de um rapaz chamado Werther que se apaixona desesperadamente por Charlotte, noiva de Albert, mas esta não corresponde ao amor do jovem. Escrito em 1.ª pessoa e na forma de cartas, esse romance apresenta a figura do amor irrealizado que serviu de modelo para inúmeros textos literários posteriormente escritos. 9 Sugestão de leitura.
daa alma: uma me t táá f ora assodoenças d morosa, da am ciada à t trris t teeza da desilusão a tida, da solidão, e t tcc. par ti
ivaas de ia,, com as narra t tiv naa Idade Média igeem n Apesar de t teer sua orig ix ot e (1605), de Cer vaalaria, e t teer com a publicação de D. Qu ca v Roomanes, f oi duran t tee o R vaan t tees, uma de s suuas melhores realizaçõ v itas oliliddou. Publicado mu ta t tiismo que o gênero romance se cons tonn, f olhas impressas que veezes em f olhe t tiins (do f rancês f euilleto v viis t taas), o romance f oi um viinham en t trremeadas em j joornais e re v v tir de f ins itera t tuura, a par ti veeis pela popularização da l te dos responsá v la.. grrande escala i tores em g dee le to VIIII, e pela f ormação d do s sééculo X V
Literatura
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k r o Y a v o N , e t r A e d u e s u M n a t i l o p o r t e M
Nessa obra, podem-se observar algumas das marcas da estética relacionada ao movimento Sturm und Drang : uma representação da natureza retorcida e disforme (em oposição à paisagem equilibrada do Neoclassicismo), o ambiente noturno (contrário à luminosidade racionalista) e o tema corriqueiro da conversa entre dois homens (que não se remete a um espaço do campo árcade). FRIEDRICH, Caspar David. Dois homens contemplando a lua. [entre 1825 e 1830]. 1 óleo sobre tela, color., 34,9 cm × 43,8 cm. Metropolitan Museu de Arte, Nova Iorque.
Sugestão de atividades: questões de 1 a 8 da seção Hora de estudo.
Ativida A tividades des 10 Orientações.
1. Leia um trecho da narrativa escrita por Charles Dickens, renomado escritor do Romantismo inglês, intitulada Horácio Sparkins .
O Sr. Malderton era um homem cujo campo de ideias estava limitado ao Lloyd’s, à Bolsa, à Indian House e ao banco. Algumas especulações bem-sucedidas levaram-no de uma situação de obscuridade e relativa pobreza a um estado de abastança. Como tantas vezes acontece em tais casos, suas ideias e as de sua família foram-se exaltando em extremo, ao passo que lhe crescia a fortuna; todos afetavam elegância, bom gosto, e outras tolices, imitando os seus superiores, e tinha um horror muito decidido e característico a tudo quanto pudesse eventualmente ser considerado baixo. Era hospitaleiro por ostentação, liberal por ignorância, e cheio de preconceitos por presunção. O egoísmo e o amor à exibição faziam-no manter mesa excelente; a conveniência e o amor às coisas boas desta vida asseguravam-lhe grande número número de convivas. Gostava de ter à mesa homens hábeis ou que considerava tais, pois eram grande tema para conversação, mas nunca pode suportar aqueles a quem chamava “camaradas espertos”. Provavelmente conseguiu comunicar este sentimento a seus filhos, que nesse ponto não causavam menor inquietação ao responsável progenitor. A família tinha a ambição de travar conhecimentos e relações em qualquer esfera social superior à sua; e uma das consequências necessárias de tal dese jo, facil facilitada itada pela extr extrema ema igno ignorânc rância ia em que estav estavam am de tudo quanto ficava além de seu estreito círculo, era que toda pessoa que pretendia conhecer gente da alta sociedade tinha seguro passaporte para a mesa de Oak Logde, Camberwell. DICKENS, Charles. Horácio Sparkins. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda; Holanda;RÓNAI, RÓNAI,Paulo. Paulo. Antologia do conto mundial III: o Romantismo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 156. (Mar de histórias).
Lloyd’s: refere-se ao Lloyd’s of London, mercado de seguros situado no Lloyd’s: refere-se centro financeiro de Londres; foi fundado em 1688. presunção: opinião presunção: opinião excessivamen excessivamente te boa sobre si mesmo.
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manter mesa: oferecer mesa: oferecer jantares. Oak Logde, Camberwell: localidade Camberwell: localidade em que, na narrativa, vivem o Sr.. Malderton e sua família. Sr
. l a t i g i D . 5 1 0 2 . o i d t ú s E O K D
. l a it gi D . 5 1 0 2 . ni el K l ei n a D
Charles Dickens nasceu em Portsmouth, na Inglaterra, em 1812. Educou-se por seus próprios meios, trabalhando desde pequeno até conseguir um emprego de repórter em um jornal. Ainda hoje é considerado um dos escritores mais populares da língua inglesa. Morreu em 1870. a) “O Sr. Malderton era um homem cujo campo de ideias estava limitado ao Lloyd’s, à Bolsa, à Indian House e ao
banco”. O que o narrador quis dizer com essa afirmação? Ao afirmar que o “campo das ideias” ideias” do Sr. Malderton se limitava às instituições instituições comerciais e financeiras, o narrador chama a atenção para os valores éticos e morais desse personagem, que se voltam fundamentalmente ao enriquecimento e ao poder econômico.
b) Que acontecimento interferiu nas transformações do modo de ver o mundo do Sr. Malderton e sua família? O acúmulo de riqueza fez com que o personagem e sua família começassem a dar mais valor para a ostentação.
2. Leia o que o crítico de literatura Luiz Roncari diz sobre o contexto em que se deu o Romantismo. Depois, responda às
questões propostas. A Revolução Industrial e a Revolução Revolução Francesa, com todas as suas consequências, mudaram mudaram o mundo. Puseram abaixo o que passou a ser chamado de Antigo Regime (absolutismo monárquico, sociedade aristocrática e estamental, visão religiosa do mundo e mercantilismo) e começaram a reordenar o mundo a partir de novos valores, burgueses e capitalistas. O Romantismo se localiza justamente no ponto de trânsito de um mundo para outro, no momento de consolidação dos valores burgueses dominantes. [...] o Romantismo é crítico desses valores e, como alternativa ou ponto de apoio para o desvendamento da vida mesquinha que se impunha, idealizou um passado, já perdido, onde a vida do homem podia realizar-se realizar -se mais integralmente. Isso ele fez principalmente com a Idade Média. Desse modo, o poeta romântico é antes de tudo um inconformista, alguém que lamenta [...] o mundo histórico em que vive, isto é, o mundo burguês, onde tudo é medido pelo que vale em moeda: os tecidos, os legumes, o trabalho, as ideias, os afetos, o amor. RONCARI, Luiz. Literatura brasileira: dos primeiros cronistas aos últimos românticos. São Paulo: Edusp, 1995. p. 301.
a) Segundo o texto, que valores burgueses modificaram o modo de ser típico do Antigo Regime? Valores relacionados relacionados ao capitalismo, à medida de tudo por seu valor em em dinheiro (moeda), inclusive as ideias, os afetos e o amor. amor.
b) O Antigo Regime, tal como é descrito no texto, pode ser associado a qual estética? O Antigo Regime pode ser associado à estética neoclássica que antecedeu o Romantismo, estética essa defensora dos valores da sociedade aristocrática.
estamental: característica de uma sociedade com rígida divisão de camadas sociais com pouca mobilidade entre elas, isto é, com poucas chances estamental: característica de uma pessoa subir ou ascender socialmente.
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iterário Olhar l t 11 Sugestão de atividade.
Spleen byroniano byroniano Após um período de consolidação, a literatura romântica produziu uma vertente de textos que explorou aspectos da subjetividade e do mistério como nunca antes na História da Arte. O apego à realidade é deixado de lado e os escritores passam a mergulhar na profundidade de suas impressões sobre o mundo que os cerca, produzindo textos em que o eu lírico se torna o centro das atenções e das preocupações, tendo como características individualismo, negativismo, dúvida, desilusão, tédio e sentimentos relacionados à fuga da realidade. Esse conjunto de sentimentos,, entendidos como marcas principais de uma parte considerável da poesia romântica, ficou conhecido sentimentos como o mal do século . Essa radicalização não apenas se voltava contra o racionalismo presente na literatura e na arte que precedeu o Romantismo, mas também pode ser entendida como uma revolta contra as condições do próprio mundo burguês, considerado reflexo de uma ideologia que submetia o homem ao dinheiro. O poeta romântico se torna, então, um outsider , isto é, alguém que se coloca fora do sistema de exploração do homem pelo homem. Essa radicalização da estética romântica deu início a uma espécie de ultrarromantismo (um romantismo exacerbado), cujos temas recorrentes foram a idealização da infância, a representação das mulheres virgens sonhadas em um estado pleno de pureza e a exaltação da morte. A esse estado de melancolia permanente deu-se o nome de spleen, que em inglês significa baço, o órgão do corpo humano que, segundo os gregos, é responsável pela produção da bílis negra, substância que determina o comportamento dos homens melancólicos. A literatura, antes voltada para a exaltação da natureza equilibrada e para a representação da beleza, torna-se uma expressão da crise existencial pela qual passa o homem da mudança do século XVIII para o XIX. Um profundo sentimento de desânimo, isolamento, angústia e tédio existencial torna-se o traço que se repete em inúmeros textos.
a r r e t a l g n I , s e r d n o L , y r e l l a G t i a r t r o P l a n o i t a N
Nesse sentido, há que se destacar a influência direta da obra do escritor inglês George Gordon Byron, ou Lord Byron, nascido em 1788 e morto em 1824. Ele desenvolve uma poesia caracterizada não só pelo pessimismo e pela recusa dos valores da sociedade inglesa de então como também pelo comportamento declaradamente rebelde e avesso às convenções sociais. Cínico, extravagante, Byron foi muito criticado pelas atitudes imorais e pela aversão aos parâmetros religiosos aceitos e serviu de modelo para os artistas românticos. Sugestão de atividades: questões de 9 a 14 da seção Hora de estudo. Nessa pintura, Lord Byron é representado com vestimenta albanesa, modo pouco convencionall para a época e convenciona para a sociedade em que vivia
PHILLIPS, Thomas. Lord Byron com roupas albanesas. 1835. 1 óleo sobre tela, color., 76,5 cm × 63,9 cm. National Portrait Gallery, Gallery, Londres, Inglaterra.
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Volume 5
Ativida A tividades des 12 Orientações.
1. Leia um poema de Lord Byron e responda às questões
propostas. Versos inscritos numa taça feita de um crânio Não, não te assustes: não fugiu o meu espírito Vêê em mim V mim um crânio crânio,, o único único que existe Do qual, muito ao contrário de uma fronte viva, Tudo aquilo que flui jamais é triste.
Vivi, amei, bebi, bebi, tal tal como tu; morri; morri; Que renuncie a terra aos ossos meus Enche! Não podes injuriar-me; tem o verme Lábios mais repugnantes do que os olhos teus. Antes do que nutrir a geração geração dos dos vermes, vermes, Melhor conter a uva espumejante; Melhor é como taça distribuir o néctar Dos deuses, que a ração da larva rastejante. Onde outrora brilhou, talvez, minha razão, Para ajudar os outros brilhe agora eu; Substituto haverá mais nobre que o vinho Se o nosso cérebro já se perdeu? Bebe enquanto puderes; quando tu e os teus Já tiverde tiverdess partido, partido, uma uma outra outra gente gente Possa te redimir da terra que abraçar-te, E festeje com o morto e a própria rima tente. E por que não? Se as frontes geram tal tristeza Atravéss da existênci Atravé existênciaa – curto curto dia dia –, Redimidas dos vermes e da argila Ao menos menos possam possam ter alguma serven serventia. tia.
a) Na primeira estrofe, o eu lírico afirma existir uma
diferença entre a fronte (face) e o crânio. Que diferença é essa? A diferença é que, ao ao contrário do rosto, o crânio jamais terá uma expressão de tristeza, ou seja, é sempre igual em qualquer acontecimento.
b) Na segunda estrofe, há uma tensão entre vida e
morte. Que termos, presentes nesse trecho do poema, podem ser associados a cada um desses estados? À vida, o ritual de de beber, beber, amar e viver; à morte, o verme (que devora os corpos dos mortos).
c) Na penúltima estrofe, há uma indicação de que se
deve aproveitar a vida, pois tudo acaba em morte.
Qual é o verso presente nessa estrofe que sintetiza essa ideia? “Bebe enquanto puderes”.
BYRON, Lord. Versos inscritos numa taça feita de um crânio. In: ______. Poemas. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Hedra, 2011.
fronte: cabeça. fronte: cabeça. injuriar-me: insultar-me, injuriar-me: insultar-me, ofender-me. outrora: antigamente. outrora: antigamente. redimir: fazer redimir: fazer a reparação de um erro.
Qual é o significado da referência a “outra gente” feita pelo eu lírico? A “outra gente” diz respeito às gerações que se sucedesucederão à do leitor.
Literatura
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2. Leia um trecho de uma narrativa de suspense intitulada “O poço e o pêndulo”, escrita por Edgar Allan Poe. Conside-
rado o pai desse gênero literário, Poe escreveu durante o período romântico, incorporando em suas obras algumas características do Romantismo, tais como o macabro, a fuga da realidade e o subjetivismo. Eu estava extenuado, extenuado até a morte, por aquela longa agonia. E quando eles, afinal, me desacorrentaram e me foi permitido sentar, senti que ia perdendo os sentidos. A sentença, a terrível sentença de morte, foi a última frase distintamente acentuada que me chegou aos ouvidos. Depois disso, o som das vozes dos inquisidores pareceu mergulhar num zumbido fantástico e vago. Trazia-me à alma a ideia de rotação, talvez por se associar, na imaginação, com a mó de uma roda de moinho. Mas isso durou apenas pouco tempo, pois logo nada mais ouvi. Contudo, durante algum tempo eu via... porém com que terrível exagero! Eu via os lábios dos juízes vestidos de preto. Pareciam-me brancos, mais brancos do que as folhas de papel sobre as quais estou traçando essas palavras, e grotescamente delgados; mais adelgaçados ainda pela intensidade de sua expressão de firmeza, de imutável resolução, de rigoroso desprezo pela dor humana. Eu vi os decretos do que, para mim, representava o Destino saírem ainda daqueles lábios. Vi-os torcerem-se, com uma frase letal. Vi-os articularem as sílabas do meu nome, e estremecia por não ouvir nenhum som em seguida. Via, também, durante alguns minutos de delirante horror, a ondulação leve e quase q uase imperceptível dos panejamentos negros que cobriam as paredes da sala. E, depois, meu olhar caiu sobre s obre as sete grandes tochas em cima da mesa. A princípio, elas tomaram o aspecto da Caridade e pareciam anjos brancos e esbeltos que me deviam salvar; mas depois, repentinamente, inundou-me o espírito uma náusea mais mortal e senti todas as fibras de meu corpo vibrarem como se tivesse tocado o fio de uma pilha galvânica, enquanto os vultos angélicos se tornavam espectros insignificantes com cabeças de chama, e via bem que deles não teria socorro. E então introduziu-se-me na imaginação, como rica nota musical, a ideia do tranquilo repouso que deveria haver na sepultura. Essa ideia chegou doce e furtivamente, e parece ter-se passado muito tempo até que pudesse ser completamente percebida. Mas, no momento mesmo em que meu espírito começava, enfim, a sentir propriamente e a acarinhar essa ideia, os vultos dos juízes desapareceram, como por mágica, de minha frente; as altas tochas se foram reduzindo a nada; suas chamas se extinguiram por completo; o negror das trevas sobreveio. Todas as sensações pareceram dar um louco e precipitado mergulho, como se a alma se afundasse no Hades. E o universo não foi mais do que noite, silêncio e imobilidade. [...] POE, Edgar Allan. O poço e o pêndulo. In: ______. Edgar Allan Poe: ficção completa, poesia & ensaios. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986. p. 301-302.
extenuado: cansado, exausto. extenuado: cansado, inquisidores: aqueles inquisidores: aqueles que fazem perguntas em um julgamento. mó: pedra mó: pedra de um moinho. delgados: finos. delgados: finos. letal: mortal. letal: mortal.
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o
panejamentos: coberto com panos. panejamentos: coberto Caridade: segundo Caridade: segundo a religião católica, uma das três virtudes teologais (juntamente com a Fé e a Esperança); é uma das graças que devem motivar as atitudes dos cristãos.
pilha galvânica: é galvânica: é um dispositivo que transforma energia química em elétrica. sobreveio: algo sobreveio: algo que acontece logo após algum evento. Hades: o Hades: o Mundo dos Mortos, Mor tos, segundo a mitologia grega.
. l a t i g i D . 5 1 0 2 . o i d ú t s E O K D
a) Em que situação se encontra o narrador-personagem do texto? O narrador se vê no interior de um cômodo em que é possível ouvir alguns . l a t i g i D . 5 1 0 2 . n i e l K l e i n a D
sons, entre os quais as vozes de seus inquisidores e zumbidos imprecisos que se tornam silenciosos depois.
b) Quais foram as imagens vistas pelo narrador-personagem? O narrador-personagem viu panejamentos negros que cobriam as paredes, tochas e uma mesa.
c) O modo como é narrado o texto sugere ao leitor que sentimento/
sensação? O texto evoca no leitor uma sensação de apreensão, de expectativa diante do que vai acontecer.
d) O texto lido pode ser classificado como uma narrativa de suspense.
Quais elementos relacionados a esse gênero podem ser notados nessa narrativa?
Edgar Allan Poe nasceu em Boston, nos Estados Unidos, em 1809. É considerado pela crítica como um dos mais importantes escritores do século XIX. É conhecido por textos que exploram o mistério, o insólito e o macabro. Foi o inventor da narrativa policial e um dos pais da ficção científica. Morreu em 1849.
Pessoal. Sugestão: o cenário em que o narrador se encontra, a presença diante dos juízes e a imagem das trevas, do silêncio e da imobilidade ajudam a compor a sensação de suspense. O objetivo dessa questão é verificar o repertório dos alunos em relação ao gênero narrativa de suspense (provavelmente já trabalhado em séries anteriores) e que aparece em um texto não contemporâneo.
e) Selecione, das opções a seguir, a que melhor descreve a diferença primordial entre o texto de Edgar Allan Poe e
um texto típico da estética neoclássica. Justifique sua escolha. ( ) A presença de um narrador contando a história. ( X ) A visão da cena centrada na perspectiva subjetiva do narrador-personagem. narrador-personagem. ( ) A indicação de que uma punição de morte será dada pelos inquisidores.
É importante os alunos perceberem que o foco narrativo explora as sensações e os medos do personagem como uma estratégia de envolvimento do leitor leitor..
f) Indique pelo menos um aspecto que aproxime o texto de Poe ao spleen byroniano. Justifique sua escolha. Pessoal. Sugestões: crise existencial e fuga da realidade.
Diá iálo loggo com a t r ra dição Romantismo e romântico Para aqueles que iniciam seus estudos sobre a literatura, é comum certo estranhamento ao se deparar com o termo “romântica”” quer dizer que, em alguma romântico. Nos estudos literários e artísticos em geral, afirmar que uma obra é “romântica medida, ela se relaciona ao Romantismo, movimento estético iniciado em fins do século XVIII e que se estendeu para vários lugares do mundo até meados do século XIX. Nos dias de hoje, porém, dizer que uma obra ficcional qualquer (um filme, uma canção, um poema, um romance) é romântica significa afirmar que ela contém um forte sentido emocional e amoroso, e esse uso ultrapassou os limites específicos das artes e da literatura. Há casos em que se diz que um gesto, uma frase, um olhar, um modo de ver a vida podem evidenciar uma perspectiva romântica da existência, típica dos seres apaixonados. Talvez Talvez isso aconteça porque a temática do amor e do sofrimento amoroso foi um legado de uma parte da estética romântica .
Literatura
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Grande parte da produção do Romantismo, que foi incorporada pelo gosto popular dos séculos XIX e XX, era voltada para a exploração de elementos estéticos vinculados à temática amorosa. As publicações de capítulos de romances em jornais que circulavam nas cidades desde a primeira metade do século XIX ajudaram a popularizar pop ularizar as narrativas cujo tema central era o conflito de situações amorosas, a ponto de, para o público leitor, a estética romântica ser quase um sinônimo de “história de amor” amor ”. No entanto, deve-se considerar que o Romantismo não se limitou à criação de histórias de cunho amoroso. Outras problemáticas importantes estão igualmente presentes tanto nas criações quanto nas preocupações sociais, políticas e ideológicas dos artistas e escritores. Mas não há como negar que o diálogo contemporâneo com a arte e a literatura do Romantismo se faz, em grande medida, pelo v alor que é atribuído às experiências amorosas. 13 Sugestão para discussão.
iterário Olhar l t
Romantismo de autoria feminina A presença de escritoras produzindo textos foi outro aspecto que distinguiu a literatura do Romantismo daquela produzida em momentos anteriores. Com a ampliação da imprensa escrita nos grandes centros urbanos, desde fins do século XVIII, surgiram periódicos voltados especificamente para o público púb lico feminino. O interesse em produzir conteúdos voltados especialmente para as mulheres revela que, naquele período, as mulheres começavam a ocupar uma posição social diferente daquelas que ocupavam até então. Um dos indicadores de mudança na condição das mulheres é a ampliação do número de leitoras com acesso não apenas aos jornais, mas também a livros, pelo fato de muitas mulheres terem aprendido a ler e a escrever. O contato com o texto literário era “recomendado”, o que fez com que aumentasse o interesse pela escrita de obras voltadas para elas. O papel da mulher no contexto da literatura do Romantismo, contudo, não se limitou à condição de consumidora de livros. Devem-se destacar os avanços na participação da mulher no que se refere à produção escrita de romance, teatro e poesia românticos a ponto de, em muitos casos, essas produções terem se tornado alguns dos exemplos importantes da literatura desse período. A escrita literária feminina não foi um acontecimento iniciado no Romantismo. Mulheres produziram literatura em momentos anteriores à estética romântica, muitas delas inclusive atingiram grande prestígio entre leitores, como Madame de Lafayette (1634-1693), escritora que
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Volume 5
14 Sugestão de pesquisa.
frequentou os salões da nobreza e do Palácio Real na França, retirando daí os assuntos para seus textos; ainda anteriormente, a poetisa grega Safo, que viveu no século VII a.C.; e sóror Mariana do Alcoforado, a quem são atribuídas as Cartas portuguesas, portuguesas, publicadas na França, em 1669. Mas é apenas no período do Romantismo que a escrita feminina alcança uma importância efetiva no conjunto da produção literária como um todo. Entre as escritoras, destacam-se Mary Wollstonecraft (filósofa, escritora e defensora dos direitos da mulher), sua filha Mary Shelley (conhecida por seu romance Frankenstein Frankenstein),), as irmãs Charlotte e Emily Brontë (escritoras de obras como Jane como Jane Eyre e Eyre e O morro dos ventos uivantes, uivantes , respectivamente), Jane Austen (autora de Orgulho e preconceit preconceitoo ), George Eliot (escritora do romance Adam Bede Bede),), todas responsáveis por obras fundamentais no período. Um dos aspectos que deve ser considerado é o fato de que as autoras desse período não se limitaram à construção de um discurso feminino que fosse um simples espelho da ideologia hegemônica do capitalismo burguês. Ou seja, elas não se resignaram a uma escrita de ficção que exaltasse um modelo idealizado da família patriarcal, que destacava a figura masculina como centro das relações políticas, econômicas, sociais e culturais. O que se pode ler em seus textos é justamente ju stamente o contrário: elas representaram, com as histórias que criaram, a condição da mulher que se transformava juntamente com as mudanças que ocorriam na própria sociedade em que se inseriam. Essa escrita ampliava o conhecimento de uma mulher diferente que surgia com a ascensão do capitalismo, sua subjetividade e suas crenças.
No início do século XX, a escritora inglesa Virginia Woolf, que escreveu romances importantes como Rumo ao farol e e Mrs. Dalloway , produziu ensaios significativos sobre a condição feminina. Ela atribuiu a demora do aparecimento mais sistemático da escrita literária feminina à situação de dependência dos homens (pais, maridos e tutores) em que viviam as mulheres. Segundo Woolf, Woolf, à medida que as mulheres passam a ter acesso à educação e se tornam progressivamente mais independentes financeiramente, passam também a escrever literatura mais significativa, com base em suas próSugestão de atividades: questões 15 e 16 da seção Hora de estudo. prias experiências e vivências pessoais.
Ativida A tividades des 15 Orientações e gabaritos.
1. Leia a tirinha abaixo. s e l a s n o G o d n a n r e F e d a e s u á N l e u q i N ©
GONSALES, Fernando. Níquel Náusea. Disponível em: . . Acesso em: 4 jan. 2015.
a) A tirinha apresenta uma abordagem cômica sobre o relacionamento amoroso. Qual é? b) Observe a postura de cada um dos personagens na tira e o ambiente em que se encontram. Para você, de que
forma esses elementos podem ser associados à tradição amorosa herdada da estética romântica? Por quê? c) Como se caracteriza a visão sobre o amor exposta na tira? 2. Leia um trecho do romance Orgulho e preconceito , de Jane Austen. Trata-se de uma história que acontece na vira-
da para o século XIX envolvendo famílias proprietárias de terras no interior da Inglaterra. A família Bennet, sr. e sra. Bennet e suas cinco filhas – Jane, Elizabeth (Lizzy), Mary, Catherine Catherine (Kitty) e Lydia –, sustenta-se economicamente em sua propriedade chamada Longbourn, que está, contudo, destinada a ser herdada pelo primo do sr. Bennet por questões legais típicas da transmissão da posse de terras (as mulheres não tinham, segundo as leis inglesas, direito de propriedade; como o sr sr.. Bennet tinha somente filhas, seu parente homem mais próximo deveria herdar seu patrimônio). Por essa razão, a sra. Bennet empenha-se em casar suas filhas antes da morte do marido. Apesar dos esforços de sua mãe, Elizabeth, a personagem principal da narrativa, não pretende se casar se não for movida por um amor verdadeiro. Os bens do sr. Bennet consistiam quase inteiramente numa propriedade que lhe rendia duas mil libras por ano e que, que, infelizmente para as filhas, seria transferida, t ransferida, na falta de herdeiros de sexo masculino, para um parente distante; e a fortuna da mãe, embora mais do que suficiente para sua sobrevivência, mal poderia suprir a falta dos recursos paternos. O pai da sra. Bennet havia sido advogado em Meryton e lhe deixara quatro mil libras. A sra. Bennet tinha uma uma irmã casada com o sr. Phillips, que trabalhara com o sogro sogro e o sucedera nos nos negócios, e um irmão instalado em Londres, funcionário de uma respeitável empresa comercial. Literatura
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A aldeia de Longbourn ficava apenas uma milha de Meryton, uma distância bastante conveniente para as moças, que em geral se sentiam tentadas a ir até lá três ou quatro vezes por semana, a fim de visitar a tia e uma chapelaria que ficava bem no caminho. As duas mais jovens, Catherine e Lydia, eram as visitantes mais assíduas; suas mentes eram mais ociosas do que as das irmãs e, quando nada melhor surgia, uma ida a Meryton era necessária para ocupar as horas matinais e fornecer conversas para a tarde; por mais desprovido de novidades que possa em geral ser o campo, as duas sempre conseguiam obter algo com a tia. No momento aliás, estavam ambas bem supridas de notícias e alegria com a recente chegada de um regimento militar aos arredores, que ali deveria permanecer por todo o inverno, sendo Meryton o quartel-general. As visitas à sra. Phillips eram agora fonte fonte das mais interessantes interessantes informações. informações. Cada novo novo dia acrescentava algo a respeito dos nomes e conexões dos oficiais. O alojamento não era mais segredo e aos poucos começaram a conhecer os próprios oficiais. O sr. Phillips frequentava todas as casas, e isso abriu para as sobrinhas um manancial de felicidade até então desconhecido. Seu único assunto eram os oficiais; e a grande fortuna do sr. Bingley, Bingley, cuja menção tanto entusiasmava a mãe, nada valia a seus olhos quando comparada ao uniforme de um alferes. Depois de ouvir, numa manhã, o entusiasmo das filhas fil has a respeito do tema, o sr. Bennet falou com frieza: — De tudo o que posso deduzir por sua maneira de falar, vocês devem ser as duas moças mais tolas do país. Eu já suspeitava disso há algum tempo, mas agora estou convencido. Catherine ficou desconcertada e nada respondeu, mas Lydia, com total indiferença, continuou a manifestar admiração pelo capitão Carter e esperança de vê-lo ao longo do dia, pois ele iria para Londres na manhã seguinte. — Fico pasma, meu caro — disse a sra. Bennet — com sua pronta disposição para considerar tolas as próprias filhas. Se eu quisesse pensar de forma ofensiva a respeito das filhas de alguém, não seria das minhas. — Se minhas filhas são tolas, espero ter sempre consciência do fato. — Sim... mas acontece que são todas muito inteligentes.
. l a t i g i D . 5 1 0 2 . o i d ú t s E O K D
milha: medida de distância que equivale a 1 609 metros. milha: medida assíduas: que assíduas: que não faltam. supridas: completas, supridas: completas, preenchidas.
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Volume 5
manancial: fonte. manancial: fonte. alferes: o alferes: o menos graduado dos oficiais. desconcertada: desorientada, desconcertada: desorientada, desnorteada.
— Este é o único ponto, felicito-me, a respeito do qual não concordamos. Eu esperava que nossos sentimentos coincidissem em todos os detalhes, mas devo a partir de agora discordar da senhora quanto a considerar nossas duas filhas mais moças extraordinariamente tolas. — Meu caro sr. Bennet, o senhor não pode esperar que meninas como elas tenham o bom-senso dos pais. Quando chegarem a nossa idade, é provável que não pensem em oficiais mais do que nós dois pensamos. Lembro-me da época em que eu também apreciava muito uma túnica vermelha... e, na verdade, ainda aprecio. E se um esperto jovem coronel, com cinco ou seis mil de renda anual, vier desejar uma de minhas meninas, eu não lhe direi não. E o coronel Forster pareceu-me muito distinto em seu uniforme, na outra noite, em casa de Sir Willians. — Mamãe — exclamou Lydia —, minha tia diz que o coronel Forster e o capitão Carter não visitam tant anto a sra. Watson quanto faziam logo que chegaram; ela agora os vê com frequência na livraria dos Clarke. A sra. Bennet foi impedida de responder pela entrada do mensageiro com um bilhete para a srta. Bennet; vinha de Netherfield, e o criado esperava resposta. Os olhos da sra. Bennet brilhavam de prazer e ela exclamava com entusiasmo, enquanto a filha lia: — Então, Jane, de quem é? Do que se trata? O que diz? Então, Jane, apresse-se e nos conte, rápido, querida. AUSTEN, Jane. Jane. Orgulho e preconceito. Porto Alegre: LP&M, 2014. p. 43-45.
a) Das filhas do casal Bennet, duas aparecem com
c) Observe o diálogo entre o sr. e a sra. Bennet. Há
mais intensidade no trecho: Lydia e Catherine. Descreva cada uma delas.
na construção dessas falas o uso de uma figura de linguagem em destaque. Qual é essa figura?
Catherine parece ser mais introvertida, sentindo dificuldade
A figura em destaque é a ironia: ironia: o casal se provoca, tratando
em rebater a crítica feita por seu pai a respeito das atitudes
um ao outro com uma polidez superficialmente irônica, mas
dela e da irmã em flertar com os oficiais. Lydia, por sua vez,
desejando esvaziar o argumento alheio.
pouco se importa com as observações do pai ao insistir em falar sobre a esperança em reencontrar o capitão Carter novamente.
b) O sr. e a sra. Bennet discordam em relação à con-
duta de Catherine e Lydia quanto a mostrarem-se disponíveis demais para os oficiais do regimento militar que se encontram nas imediações de Meryton. O que essa diferença de opinião revela sobre a condição feminina na sociedade inglesa no período do Romantismo?
d) A escrita feminina no Romantismo possibilita que o
leitor observe como se estrutura a ordem de poder e quais os papéis sociais estabelecidos para homens e mulheres de um ponto de vista novo, deslocado da visão masculina dominante até aquele momento. Tendo essa afirmação como ponto de partida, que diferenças e semelhanças são possíveis de estabelecer entre os lugares sociais de homens e mulheres na sociedade retratada em Orgulho e preconceito e e no mundo atual? Pessoal.
Revela qual era, no geral, a expectativa de realização pessoal de uma jovem de condição econômica mediana no início do século XIX: casar-se com alguém com remuneração e prestígio social suficientes para sustentá-la. A fala do sr. Bennet foge à regra, ao menos em parte, por não c oncordar com o fato de as filhas ficarem às voltas com os oficiais.
oficiais: soldados oficiais: soldados com certa cer ta graduação.
Literatura
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Organiz e as ideias 16 Orientações sobre a estratégia adotada para esta s eção.
Localize, selecione e associe conteúdos importantes desenvolvidos neste capítulo para elaborar quatro mapas mentais do tipo “teia de aranha”. aranha”. Eles serão organizados colocando-se c olocando-se o conceito central c entral ou conceito gerador (que nesse caso corresponderá ao título das seções Acontecia e Olhar literário) no meio do esquema. Os demais conceitos vão se relacionando a esse eixo central, ocupando lugares mais próximos ou mais afastados do centro de acordo com sua escolha na organização das ideias. Você poderá, se julgar necessário, acrescentar mais círculos (conteúdos) em volta do círculo central de acordo com aquilo que você considerar importante ser representado no esquema. O primeiro dos quatro esquemas apresentará algumas partes preenchidas para que você possa utilizá-las como modelo.
Esquema 1 – Romantismo: contexto Classe trabalhadora Absolutismo monárquico
O Romantismo e as revoluções Revolução Industrial Revolução Francesa
Esquema 2 – Romantismo: múltiplas origens
Narrativas históricas
Tempestade Tempe stade e Ímpeto Inglaterra
Origens do Romantismo
"Doença da alma"
Alemanha
Memória do povo
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Volume 5
Esquema 3 – Spleen byroniano
Subjetividade
Egocentrismo
Exaltação da morte
Tédio existencial
Marcas da literatura romântica
Negativismo
Fuga da realidade
Individualismo
Mistério
Esquema 4 – Romantismo de autoria feminina Periódicos voltados para o público feminino
Não se resignaram a uma escrita de ficção que exaltasse um modelo idealizado da família patriarcal.
Romantismo: escrita de mulheres
Condição da mulher que se transformava
Ampliação no número de leitoras leitoras
Escrita de romance, teatro e poesia românticos
Literatura
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Hor a de est udo A resolução das questões discursivas desta seção deve ser f eita no caderno.
1. (IFSP) Leia o poema de Francisco Otaviano.
Ilusões da Vida Quem passou pela vida em branca nuvem, E em plácido repouso adormeceu; Quem não sentiu o frio da desgraça, Quem passou pela vida e não sofreu; Foi espectro de homem, não foi homem, Só passou pela vida, não viveu. (SECCHIN, Antonio Carlos. Roteiro da poesia brasileira – Romantismo. São Paulo: Global, 2007.)
Este poema pertence à estética romântica porque a) sugere que o leitor, para ser feliz, viva alienado e distante da realidade. b) são explícitas as referências a alguns cânones do Catolicismo. c) expõe os problemas sociais que afetavam a sociedade da época. d) nele se percebe a vassalagem amorosa, isto é, a submissão do homem em relação à mulher. X e) sugere que é importante viver, de forma intensa e profunda, as experiências da existência humana. hu mana. 2. (UFSM – RS) A literatura romântica é conhecida por
representar as doenças da alma. O poeta romântico não tenta controlar, esconder seus sentimentos, como fazia o poeta clássico. Ao contrário, ele confessa seus conflitos mais íntimos. Por isso, predominam no Romantismo o desespero, a aflição, a instabilidade, a sensação de desamparo que leva a maioria dos poetas a pensar na morte, como acontece no fragmento do poema “Mocidade e morte”, de Castro Alves: E eu sei que vou morrer... dentro em meu peito Um mal terrível me devora a vida: Triste Ahasverus, que no fim da estrada, Só tem por braços uma cruz erguida. Sou o cipreste, qu’inda mesmo flórido, Sombra de morte no ramal encerra! Vivo – que vaga vaga sobre sobre o chão da morte, morte, Morto – entre os vivos a vagar na terra. Ahasverus: Jesus o teria amaldiçoado, condenando-o Ahasverus: Jesus condenando-o a vagar pelo mundo sem nunca morrer.
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Volume 5
17 Orientações e gabaritos.
Qual o estado sentimental do sujeito lírico nessa estrofe? a) Sente-se muito próximo da morte, devido aos males
causados por uma grave doença física. b) Deseja a morte, pois só na eternidade seria capaz
de encontrar a paz do espírito. X c)
Sente-se muito próximo da morte, devido à tristeza profunda que lhe devora a alma.
d) Sente-se totalmente morto, pois não lhe resta ne-
nhum sinal de vida. e) Sente-se muito próximo da morte, pois não é capaz
de lutar pela vida. 3. (UFG – GO) Leia o fragmento do poema apresentado a
seguir. SPLEEN E CHARUTOS I SOLIDÃO […] As árvores árvores prateia prateiam-se m-se na praia praia,, Qual de uma fada os mágicos retiros... Ó lua, as doces brisas que sussurram Coam dos lábios teus como suspiros! Falando ao coração que nota aérea Deste céu, destas águas se desata? Canta assim algum gênio adormecido Das ondas moças no lençol de prata? Minh’alma tenebrosa se entristece, É muda como sala mortuária... Deito-me só e triste, sem ter fome Vejo V ejo na mesa a ceia solitár solitária. ia. Ó lua, ó lua bela dos amores, Se tu és moça e tens um peito amigo, Não me deixes assim dormir solteiro, À meia-noite meia-noite vem cear cear comigo! comigo! AZEVEDO, Álvares Álvares de. Lira Lira dos vinte anos. In: ______. ______. Obra completa. Organização de Alexei Bueno. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,, 2000. p. 232. Aguilar 232.
Fenômeno recorrente na estética romântica, o processo de adjetivação permite ao eu lírico, no poema transcrito, a) intensificar sua tristeza, ressaltando uma perspecti-
va pessimista da vida. X b) demarcar sua individualidade, expressando seu es-
tado de espírito. c) detalhar suas intenções amorosas, nomeando seus
sentimentos. d) descrever as coisas circundantes, apresentando
uma visão objetiva da realidade. e) revelar um sentimento platônico, enumerando as
qualidades da amada. 4. (UFRJ)
Happy end (Cacaso)
O meu amor e eu nascemos um para o outro agora só falta quem nos apresente.
O texto “Happy end ” – cujo título (“final feliz”) faz uso de um lugar-comum dos filmes de amor – constrói-se na relação entre desejo e realidade, e pode ser considerado uma paródia de certo imaginário romântico. Justifique a afirmativa, levando em conta elementos textuais.
Texto para as questões de 5 a 8: No princípio do mês de abril de 1813, houve um domingo cuja manhã prometia um desses dias radiosos em que os parisienses veem, pela primeira vez no ano, as ruas sem lama e o céu sem nuvens. Pouco antes do meio-dia, uma carruagem puxada por dois fogosos cavalos desembocava na rua de Rivoli pela rua Castiglione e parava por detrás de várias outras, estacionadas junto da grade novamente aberta ao centro do terraço dos Feuillants. A
fogosos: impetuosos. fogosos: impetuosos. terraço: plataforma. terraço: plataforma. depôs: colocou. depôs: colocou.
veloz carruagem era dirigida por um homem de aspecto preocupado e doentio; seus grisalhos cabelos mal lhe cobriam o crânio amarelado e tornavam-no precocemente velho; entregou as rédeas ao lacaio que, a cavalo, seguia a carruagem, e desceu para tomar nos braços uma jovem, cuja beleza atraiu a atenção dos ociosos que passavam no terraço. Ao se por de pé para fora da carruagem, a delicada mulher deixou-se completamente agarrar pela criatura e passou os braços em volta do pescoço de seu guia, que a depôs no passeio sem amarrotar a guarnição de seu vestido de repes verde. [...] Esse domingo era o décimo terceiro do ano de 1813. Dois dias depois, Napoleão partia para aquela fatal campanha, durante a qual ia perder sucessivamente Bèssieres e Duroc, ganhar as memoráveis batalhas de Lutzen e de Bautzen, ver-se traído pela Áustria, Saxônia, Baviera, por Bernadotte, e disputar a terrível batalha de Leipzig. A magnífica parada comandada pelo imperador devia ser a última daquelas que excitaram por tanto tempo a admiração dos parisienses e dos estrangeiros. A vetusta guarda ia executar pela última vez as sábias manobras, cuja pompa e precisão maravilhavam, algumas vezes, até mesmo esse gigante, que se preparava então para o seu duelo com a Europa. Um sentimento triste levava às Tulherias uma população brilhante e curiosa. Cada um parecia adivinhar o futuro, e talvez pressentia que mais de uma vez a imaginação teria que retraçar o quadro dessa cena, quando esses tempos heroicos da França adquirissem, como hoje, cores quase fabulosas. BALZAC, Honoré de. A mulher de trinta anos. São Paulo: Clube do livro, 1988. p. 5-7.
5. Nessa passagem do romance, o narrador faz referência
ao tempo por meio de duas du as maneiras diferentes. A que tempo cada um dos parágrafos está relacionado?
passeio: calçada. passeio: calçada. guarnição: enfeite guarnição: enfeite de um vestido. repes: tipo repes: tipo de tecido.
parada: desfile. parada: desfile. vetusta: antiga. vetusta: antiga.
Literatura
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6. Releia os dois trechos destacados:
X ) O tema da dominação do cavalo se remete a um ( X confronto típico do Romantismo: o domínio da força irracional da natureza pelo homem.
I. “No princípio do mês de abril de 1813, houve um domingo cuja manhã prometia um desses dias radiosos em que os parisienses veem, pela primeira vez no ano, as ruas sem lama e o céu sem nuvens.” II. “Esse domingo era o décimo terceiro do ano de 1813.”
( X X ) A paisagem na tela pode ser observada de forma nítida: apresenta marcas de uma paisagem campestre, com montanhas e uma ampla área em que homens tentam dominar o cavalo.
Qual das referências temporais apresenta exatidão? Que elemento o narrador utiliza para tornar essa passagem da história precisa?
( ) O campo, tal como está composto, apresenta características da arte neoclássica, principalmente o quesito harmonia entre as partes.
7. Pela descrição dos personagens no primeiro parágrafo,
X ) A resistência do animal pode ser vista como uma ( X metáfora da luta pela liberdade.
como é possível caracterizá-los no que diz respeito à classe social a que pertencem?
( ) O uso das linhas na composição da cena reforça uma sensação no leitor da tela de que não há movimento na imagem, somente imobilidade.
8. Observe o modo como o narrador conta sobre os feitos
de Napoleão Bonaparte. Escolha, das alternativas abaixo, a que melhor analisa a posição do narrador diante dos fatos que envolvem as guerras napoleônicas. Justifique sua escolha.
( X X ) Há um contraste entre a paisagem calma e a agitação da cena de domínio do animal, explicitando o confronto próprio do Romantismo entre razão (domínio) e emoção (insubordinação do cavalo).
I. O narrador fala da campanha de Napoleão na conquista de territórios europeus de maneira distanciada, isto é, sem demonstrar seu ponto de vista. X
10. Considere estas afirmações sobre o Romantismo:
II. Há um nítido envolvimento do narrador ao contar os feitos de Napoleão, tanto as batalhas que venceu quanto aquelas nas quais não obteve êxito.
I. As primeiras primeiras manifestações do estilo romântico caracterizaram-se pela reafirmação da razão como um pressuposto da criação artística.
III. Nota-se uma postura crítica do narrador ao abordar as derrotas de Napoleão no front de de batalha, deixando transparecer que esse foi um período histórico do qual os franceses devem se envergonhar. envergonhar.
II. Muitas poesias do Romantismo apresentavam uma visão negativa, desiludida e tediosa da existência. III. A poesia romântica inglesa, em sua origem, resgatou as tradições literárias populares.
9. Observe a imagem e indique as afirmações corretas
Em relação a essas afirmativas:
relacionadas a ela. a ç n a r F , n e u o R , s e t r A s a l e B s a d u e s u M
( ) Está correta apenas I. ( ) Está correta apenas II. ( ) Estão corretas apenas I e II. ( X X ) Estão corretas apenas II e III. ( ) Todas Todas as afirmações estão corretas.
Texto para as questões de 11 a 14.
GÉRICAULT, Théodore. Captura de um cavalo bravo. 1817. 1 óleo sobre tela, color. Museu das Belas Artes, Rouen, França.
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Volume 5
Quando olho em torno de mim, sinto-me envergonhado pelos meus temores primitivos. Se tremi diante da tempestade que até agora nos acompanhou, não deveria estar lívido ante essa
guerra do vento e do mar, para dar ideia da qual as palavras “tornado” e “simum” são triviais e ineficazes? Tudo na vizinhança imediata do navio é a treva da eterna noite e o caos da água sem espuma. Mas, a cerca de uma légua para cada lado, podem ser vistos, indistintamente e a intervalos, prodigiosos montes de gelo alçando-se para o céu desolado e assemelhando-se às muralhas do universo. [...] Entrementes, o vento ainda sopra na popa do navio e, ao içarmos numerosas velas, a embarcação, por vezes, se projeta completamente fora da água! Oh, horror sobre horror! O gelo se abre de súbito para a direita e para a esquerda e rodamos vertiginosamente em imensos círculos concêntricos, espiralando em volta das margens de um gigantesco anfiteatro cujas paredes perdem o cimo nas trevas e na distância. Pouco tempo, porém, me será deixado para meditar sobre meu destino! Os círculos rapidamente se apequenam. Estamos loucamente mergulhando para as garras do turbilhão... e entre rugidos, clamores e trovões do oceano e da tempestade, o navio está oscilando... oh, meu Deus!... oscilando e afundando-se!
c) serve para distrair o leitor, desviando sua atenção
dos problemas sociais que são objetos da crítica do narrador. d) é o apogeu de uma crise existencial vivida v ivida pelo narrador,, que não se vê fazendo parte do mundo que o rador cerca. X e) corresponde de algum modo aos sentimentos e sensações vivenciados pelo narrador. 13. Releia o trecho: “Tudo “Tudo na vizinhança imediata do navio
é a treva da eterna noite e o caos da água sem espuma”. Em que medida a realidade aqui apresentada difere da natureza descrita segundo os ideais de objetividade do neoclassicismo árcade? 14. Em sua opinião, qual das obras mais se associa à des-
crição da tempestade e da oscilação da embarcação descrita no texto? Justifique sua resposta compondo um breve parágrafo que contenha seus principais argumentos. Imagem 1 s e r d n o L , y r e l l a G e t a T
POE, Edgar Allan. Manuscrito encontrado numa garrafa. In: ______. Edgar Allan Poe: ficção completa, poesia & ensaios. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986. p. 737-738.
11. Esse texto apresenta as seguintes características
ultrarromânticas: a) egocentrismo e fuga da realidade.
TURNER, William. O naufrágio. 1805. 1 óleo sobre tela, color., 170,5 cm x 241,5 cm. Tate Gallery, Londres.
Imagem 2 s e r d n o L , y r e l l a G e t a T
X b) subjetivismo e mistério.
c) desilusão e idealização da infância. d) exaltação da morte e tédio. e) dúvida e exaltação de um estado de pureza. 12. Pode-se dizer que a descrição da natureza presente no
trecho lido a) revela um mundo harmonizado em que a presença hu-
mana se torna parte de um universo estável e sublime. b) mostra o mundo como um reflexo de um narrador confuso em crise com seus valores.
TURNER, William. Tempestade de neve: barco a vapor fora do porto. 1842. 1 óleo sobre tela, color., 91 cm x 122 cm. Tate Gallery, Londres.
Literatura
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Leia a passagem do romance Orgulho e preconceito e e responda às questões. Com o humor de Elizabeth logo voltando à habitual vivacidade, ela quis que o sr. Darcy lhe contasse como se apaixonara por ela. — Como tudo começou? — perguntou ela. — Posso compreender que, depois do primeiro impulso, tudo tenha ido adiante sem problemas, mas o que despertou seus sentimentos em primeiro lugar? — Não posso determinar a hora, ou o lugar, o olhar, as palavras, em que tudo se baseou. Foi há muito tempo. Eu já estava a meio caminho antes de compreender que já tinha começado. — Minha beleza foi logo descartada e, quanto às minhas maneiras... meu comportamento consigo foi, no mínimo, quase grosseiro; e eu nunca lhe dirigi a palavra sem alguma vontade de feri-lo. Agora, seja sincero, foi minha impertinência que lhe despertou admiração? — Foi a vivacidade de seu espírito. — Pode chamar logo de impertinência. Era pouco menos do que isso. O fato é que o senhor estava cansado de cortesias, deferências, atenções intrometidas. Estava farto das mulheres todo o tempo falando, olhando e pensando apenas em busca de sua aprovação. Eu me destaquei e o interessei por ser tão diferente delas. Não fosse sua índole tão amável, teria me odiado por isso; mas, a despeito do trabalho que teve para mascará-los, seus sentimentos sempre foram nobres e justos; e, em seu coração, sempre houve desprezo com as pessoas que com tanta assiduidade o cortejavam. Pronto! Já lhe poupei o esforço da explicação e, de fato, pensando bem, começo a achá-la bastante razoável. A bem da verdade, não era do seu conhecimento qualquer das minhas virtudes... mas ninguém pensa nisso quando se apaixona. [...] — [...] e começarei agora mesmo perguntando por que tanta indecisão para esclarecer tudo. Por que tanta timidez, quando veio nos visitar, e depois, quando jantou aqui? Por que, sobretudo, quando veio, pareceu pouco se importar comigo? 28
Volume 5
— Porque sua atitude era grave e silenciosa, sem me dar qualquer encorajamento. — Mas eu estava constrangida. — E eu também. — Poderia ter conversado mais comigo, quando veio jantar jantar.. — Um homem menos emocionado poderia. [...] AUSTEN, Jane. Jane. Orgulho e preconceito. Porto Alegre: LP&M, 2014. p. 384-385.
15. Releia o trecho: “Não posso determinar a hora, ou o lugar,
o olhar, as palavras, em que tudo se baseou. Foi há muito tempo. Eu já estava a meio caminho antes de compreender que já tinha começado”. De que modo a descrição do processo amoroso nessa passagem cria uma oposição ao racionalismo que antecedeu o Romantismo? 16. A explicação dada por Elizabeth sobre o porquê/como
Darcy se apaixona por ela apresenta um elemento que não é comum ao discurso amoroso: todas as mulheres eram “corteses” demais somente para conquistar sua aprovação. Selecione a hipótese interpretativa que melhor relaciona essa passagem da história do romance às condições sociais em que ele foi escrito. X a)
O romance reproduz um procedimento da sociedade burguesa, que é a adulação dos mais ricos e poderosos por parte dos interessados em obter vantagens como componente do jogo amoroso.
b) Na fala de Elizabeth, há um rancor em ter sido ela
preterida, deixada em segundo plano por Darcy em várias ocasiões passadas. c) Quando Darcy chama a atenção para a “vivacidade
do espírito” de Elizabeth, ele certamente quer dizer que, apesar de vinda de uma família com menos posses, ela merece fazer parte das esferas socialmente mais abastadas. d) Ao recusar ser demasiadamente cortês com Darcy,
Elizabeth pode demonstrar sua revolta diante dos padrões sociais da Inglaterra do início do século XIX, fato que chamou a atenção do rapaz como uma atitude inusitada e diferente da esperada pela maioria. e) Elizabeth é uma típica heroína romântica na medida
em que apresenta um comportamento de busca daquilo que considera ser seu de direito (nesse caso, o amor de Darcy).