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ALTERIDADES
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MU D A N Ç A S E
O P A C ID ID A D E S D A C O M U N I C A Ç Ã O N O NOVO SÉCULO
JESÚS MARTÍN-BARBERO
Não N ão é po poss ssív ível el pe pens nsar ar,, ho hoje je,, os proc pr oces esso sos, s, os m eios ei os e as p ráti rá tica cass de comunicação comunicação sem assumir assu mir a aberta aber ta e extrem ext remaa tens tensão ão entre entr e o sucedido suced ido no 11 de setembro setembro em Nova Iorque Iorqu e e o que representou o Fórum Social Mundial Mu ndial de Porto Alegre. O curso que o mundo tomou depois dos acontecimentos da terça-feira terça-feira negra 11S introduziu processos que ameaçam am eaçam ainda mais o já escur escuroo horizonte horizonte dos povos latino-americanos. Empurradas Em purradas à recessão eco nômica nômica e à ingovemabilidade política pela implacável lógica da globalização neoliberal, nossas nações sofrem, ainda mais agora, os efeitos da mais arcai ca peste peste do medo que fundamentaliza fundam entaliza a segurança, transformando transforman do as frontei fron tei ras e as vias de comunicação — terrestres e aéreas, aéreas, físicas e virtuais virtuais — em lugar lugares es de legitimação legitimação da desconfiança como com o método, m étodo, e a violação dos direi d irei tos à privacidade e à liberdade como comportamento oficial das "autorida des", com o conseqüente agravamento dos preconceitos raciais, dos apartheid étnicos étnicos ee- dos fanatismos fanatism os religiosos. Ao fluir tão depressa como as transações financeiras, os vírus imaginá im aginá rios rios agora ameaçam a ordem global, global, que reage, rearmando rearma ndo as fronteiras e tomando cada dia mais suspeito de ser seu inimigo o fluxo migratório das multidões que ela mesma empurra desde nossas periferias empobrecidas para pa ra os pa país íses es do prós pr óspe pero ro,, m as de desc scon once cert rtad adoo centr ce ntro. o. O ex exem empl ploo da A r gentina não pode ser mais instrutivo: à hiperinflaçã hiper inflaçãoo dos anos 19 1980 80 — que derivou derivou da destruição sistemática de suas instituições instituições políti po líticas cas e da pilha p ilha gem econômica pelas ditaduras militares — seguiu-se o neoliberalismo
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UFSM Biblioteca Bibliote ca Centra Centrall
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mais puro e duro nos anos 1990, que desmontou os últimos resíduos do Estado social e lançou o país na mais brutal depressão econômica e numa implosão do social, na qual se dissolvem "as razões de pertença de uma sociedade sociedade nacional, nacional, a idéia idéia de responsabilidade responsabilidade que, m esmo p recariam en te, tecia a trama dos muitos fios que sustentam uma comunidade" . Por outro lado, chega-nos uma exigência radical de reflexão sobre a globalização: o Fórum Social Mundial em Porto Alegre se converteu no estranho palco no qual, frente ao enganoso e excludente mundo da econo mia financeira, o mundo da política, ou melhor, a utopia política de um mundo dos cidadãos e dos povos faz sua aparição na cena global. E em que, a partir daí, daí, a comunicação passou a ter um a presença não m eramen te temática, mas, sim, articuladora, estratégica. Convergem aí, nessa outra mundialização possível, esforços que vêm das grandes reuniões dos anos 1990 1990 — Rio, Rio, Beijing Beijing — sobre os avanços d a informação e da com unicação comunitária, tanto territorial quanto virtual. Buscas e propostas que foram ali confrontad confrontadas as com as tendências tendências e recomen dações dominantes emanadas dos organi organismos smos econômicos econômicos mundiais — OMC, FMI, BM — que submetem sub metem a cultura, a comunicação e a educação à lógica globalizadora do mercado (J.Vidal Beneyto). A comunicação é proposta em Porto Alegre como lugar de uma dupla perv pe rvers ersão ão e de um a dupla du pla opor op ortu tuni nida dade de.. A p rim ri m e ira ir a p erve er ve rsão rs ão pro pr o v ém da conformação conformação de algumas algumas megacorporações globais — já são somente sete as que dominam o mercado mundial: AOL-Time Warner, Disney, Sony, New N ew s Corpo Co rporat ration ion,, Viaco Via com m e B erte er tels lsm m ann an n — , cu ja conc co nc entra en tra ção çã o ec o n ô mica se traduz traduz num poder cada dia dia mais inevitável à fusão dos dois com po nentes estratégicos, estratégicos, os veículos e os conteúdos, conteúd os, com a cons eqüente eqü ente capac ca pac i dade de controle da opinião pública mu ndial e a impo sição de m oldes e sté ticos cada dia mais "baratos". A segunda é a que os acontecimentos do "11S" introduziram, tomando passíveis de controles e ameaças as liberda des de informação informação e expressão, até o pon to de pôr em sérios riscos os mais elementares direitos civis. Mas a comunicação aparece também em Porto Alegre como lugar de duas oportunidades estratégicas: primeira, a que a digitalização abre, pos sibilitando a aposta numa linguagem comum de dados, textos, sons, ima gens, vídeos, desmontando a hegemonia racionalista do dualismo que até agora opunha o inteligível ao sensível e ao emocional, a razão à imagina 52
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ção, a ciência à arte, e também a cultura à técnica, e o livro aos meios audiovisuais; segunda: a configuração de um novo espaço público e de cidada cidadania nia,, desde as redes de movimentos sociais e de meios comunitários, como o espaço e a cidadania que o próprio Fórum Mundial tomou possí vel, sustenta e conforma. É óbvio que se trata de embriões de uma nova cidadania e de um novo espaço público, configurados por uma enorme pluralidade pluralidad e de atores e de leitura le iturass crítica cr íticass que conve co nverge rgem m para pa ra um co com m pro pr o misso misso emancipador e uma cultura política na qual a resistência resis tência é ao mesmo m esmo tempo formadora de alternativas. Neste malf m alfada adado do começo com eço de século, sécu lo, a comu co munic nicaç ação ão se ach a chaa pres pr esaa entre ent re fortes mudanças e densas opacidades que provêm da emergência de uma razão comunicacional cujos dispositivos — a fragmentação que desloca e desce de scentr ntra, a, o fluxo fluxo que comprime comprim e e globaliza, a conexão que desmat de smaterializa erializa e hibridiza hibridiza — agenciam a genciam o devir dev ir do mercado da sociedade. Frente ao consenso dialógico, do qual Habermas vê emergir a razão comunicativa com unicativa— —-desvencilhada da opacidade discursiva disc ursiva e da ambigüidade am bigüidade política polític a que introd int roduz uzem em a media me diaçã çãoo tecn te cnol ológ ógic icaa e m erca er cant ntil il —-, o qu quee estamos precisando pensar é a hegemonia comunicacional do mercado na sociedade, ou melhor, a conversão da comunicação no mais eficaz motor do deslanche deslanche e inserção das culturas — étnicas, é tnicas, nacionais naciona is ou locais — no espaço/te espaço/tempo mpo do mercado e das tecnologias. Mas, ao mesmo tempo, estamos precisando pensar pensa r o novo mapa ma pa que essa e ssass tensões tens ões dese d esenha nham m entr e ntree as muta mu ta ções tecnológicas, as explosões e implosões das identidades e as reconfigu reconfigurações rações políticas das heterogeneidades. heterogeneidade s. A comunicação comunicação começou, sem dúvida, dúvida, a ocupar ocup ar um lugar estratégico estratég ico na configuração dos novos modelos de sociedade, mas isso está sendo malinterpretado por uma tendência crescente nos estudos latino-americanos de comunicaç comunicação ão ao autismo epistêmico, que pretende isolar esses estudos das ciências sociais, construindo uma pseudo-especificidade baseada em saberes técnicos, taxonomias psicológicas e estratégias organizacionais. Não é de se estranh estr anhar ar que, desconc desc oncerta ertados dos pe pela la vastidã vas tidãoo e gravid gra vidad adee dos problemas que q ue hoje atravess atra vessam am os proces pro cessos sos e meios me ios de comunic com unicaçã ação, o, e confun con fundid didos os pelo pensamento unidimensional e funcional que passa pelo p elo conhecimento próprio do campo da comunicação, muitos aspirantes a comunicadores se sintam perdidos, mostrem-se apáticos diante da reflexão/investigação e tentados a deixarem-se seduzir por aquilo que mais bri53
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lha: lha: as fascinantes fascinantes proezas da tecnologia prometendo prometen do o reencantam reen cantamento ento de de nossas desencantadas e desgostosas vidas. O que expomos expomos a seguir não tem outra pretensão senão se não a de lutar contra o cinismo do pensamento fácil, desenhando o complexo esquema de um dos mapas mapas indispensáveis na multidimensionalidade multidimensionalid ade de seus eixos temáticos te máticos e na transversalidade transversalidade de seus planos de análises.
I. A mediação mediação tecnológica tecnológica do conhecimento conhecimento na produção produção social "O que está mudando não é o tipo de atividades nas quais participa a humanidade, mas, sim, sim, sua capacidade de utilizar como forç fo rça a produtiva o que distingue a nossa espécie como rareza biológica, sua capacidade de proces pro cessar sar símbolos". símb olos". Manuel Castells
Dois processos estão estão transformand transformando o radicalmente radicalm ente o lugar luga r da cultura em em nossas sociedades: a revitalização das identidades e a revolução das tecnicidades. tecnicidades. Os processos de globalização econômica econô mica e informacional informac ional estão es tão reavivando a questão das identidades culturais — étnicas, raciais, locais, regionais regionais — até o ponto de convertê-las convertê-las em dimensão protagônica de muitos dos mais ferozes ferozes e complexos conflitos internacionais dos últimos anos, ao mesmo tempo que essas mesmas identidades, mais as de gênero e as de idade, idade, estão reconfigurando a força e o sentido dos laços sociais, e as pos p os sibilidades de convivência no nacional e ainda no local. Por sua vez, o que a revolução tecnológica introduz em nossas socie dades não é tanto uma quantidade inusitada de novas máquinas, mas, sim, sim, um novo novo modo de relação relação entre os processos processos simbólico sim bólicos— s— que consti tuem o cultural cultural — e as formas formas de produção e distribuição distribui ção dos bens ben s e servi se rvi ços: ços: um novo modo modo de produzir, produzir, confusamente confusamen te associado associad o a um novo no vo modo m odo de comunicar, transforma o conhecimento numa força produtiva direta. O lugar da cultura na sociedade muda quando a mediação tecnológica (J. Echeverría) da comunicação deixa de ser meramente instrumental para espessar-s espessar-se, e, condensar-se e converter-se converter-se em estrutural: a tecnologia tecnolo gia rem e te, hoje, não a alguns aparelhos, mas, sim, a novos modos de percepção e de linguagem, linguagem, a novas sensibilidades e escritas. escritas. Radicalizand Ra dicalizando o a experiên exp eriên cia de desenraizamento produzida pela modernidade, a tecnologia deslocaliza os saberes, modificando tanto o estatuto cognitivo quanto o institucional institucional das condições do saber e as figuras da razão r azão (Gh. Chartron, A.
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Reneaud) Reneaud),, o que está conduzindo a um forte forte apagamento apagam ento de fronteiras en tre razão e imaginação, saber sa ber e informaç informação, ão, natureza natu reza e artifício, arte e ciên cia, saber experiente e experiência profana. Ao mesmo tempo, enfrentamos uma perversão do sentido de demandas sociocult socioculturai uraiss que encontram de algum modo m odo expressão nas mídias, median te a qual se deslegitima qualquer questionamento de uma ordem social à qual só o mercado e as tecnologias permitiríam dar forma. Esta concepção hegemônica nos submerge numa crescente onda de fatalismo tecnológico diante diante do qual se toma mais necessário do que nunca manter man ter epistemológica e politicamente a estratégica tensão entre as mediações históricas que dão sentido e alcance social às mídias e ao papel de mediadores que eles estão realizando hoje. Sem esse mínimo de distância — ou negatividade, como diriam diriam os os de Frankfurt — é-nos impossível o pensamento pensamen to critico. 1.
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Peculiaridades latino-americanas latino-ame ricanas da sociedade socied ade do conheciment conh ecimento o
Nossas Nossa s sociedades socieda des são, ao mesmo mesm o tempo, temp o, "socied "soc iedade adess do desco des conh nhec eci i mento”, isto é, do não reconhecimento da pluralidade de saberes e concor rências culturais que, sendo compartilhadas pelas maiorias populares ou as minorias indígenas ou regionais, não estão sendo incorporadas/integradas como tais nem aos mapas da sociedade nem sequer aos de seus sistemas educativos educativos.. Mas a subordinação dos saberes orais e visuais à ordem habitu habi tu al sofre atualmente uma erosão crescente e imprevista que se origina nos novos modos de produção e circulação de saberes e de novas escritas que emergem através das novas tecnicidades, especialmente do computador e
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da Internet. Com raras exceções, no entanto, nossas universidades continuam sem se inteir inteirar ar das das estratégicas relações entre aqueles saberes e estas tecnologias (J. A. Bragança e M. T. Cruz), do mesmo modo que desconhecem a com plexidade de relações relaçõ es que são trançadas tranç adas hoje entre as mudan mu danças ças do saber na sociedade do conhecimento e as mudanças do trabalho na sociedade de mercado, o que limita seu papel para analisar tendências — que põem o mercado mercado e o desenvolvimento tecnológico tecnológ ico na globalização socioeconômica socioecon ômica e na mundialização da cultura — para ver como se adapta a elas, sem o menor esforço nem projeto de assumir como tarefa própria, estrutural e estratégica, hoje mais do que nunca, a de formular e desenhar projetos 55
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sociais, a de pensar alternativas ao modelo hegemônico do mercado e da comunicação. Por outro outro lado, lado, a noção de sociedade da informação prop agada em nossos países, de uma forte cumplicidad cumpli cidadee discursiv discur sivaa com a modern mod erniza ização ção neolib ne olibera eral, l, racionalizadora racionalizadora do mercado como único princípio o rganizador da sociedade em seu conjunto, segundo o qual, esgotado o motor da luta de classes, a história história teria encontrado encontrado sua troca nos avatares da informação. A centralidade que as tecnologias ocupam nessa concepção da sociedade toma-se despro porciona porc ionall e paradoxal para doxal em países paí ses nos quais qua is o crescim cre scim ento en to da desig de sigual ualdad dadee atomiza atomiza as sociedade sociedades, s, deteriorando seus dispositivos de comunicação, comunica ção, isto é, de coesão cultural e política: f,Desgastadas as representações simbólicas, não conseguimos conseguimos nos fazer uma imagem im agem do país que qu e queremos, e, portanto, a política não consegue fixar o mmo das mudanças em marcha”. Daí o aumento da brecha e a desmoralização coletiva: nossos povos pode po dem m assim ass imila ilarr com co m certa ce rta facilid fac ilidad adee as imag im agen enss da m oder od erni niza zaçã ção o que qu e as mudanças tecnológicas propõem, mas é em outro ritmo, bem mais lento e doloroso, doloroso, que podem recom por seus sistemas de valores, de norm as éticas e virtudes cívicas.
2. Aparição de um meio educacional difuso e descentrado descentra do Vivemos num ambiente de informação que recobre e mistura vários sa beres ber es e formas muito muit o diversas dive rsas de aprender apr ender,, ao mesm m esmo o tempo tem po que se encon enc ontra tra fortemente fortemente descentrado descentrado em relação ao sistema educativo que ainda a inda nos rege, organizado organizado em tomo da escola e do livro. livro. Desde os mosteiros m edievais até as escolas de hoje, o saber conservou esse duplo caráter de ser ao mesmo tempo centralizado centralizado e personificado personificado em figuras sociais determinadas. D aí que uma transformação transformação nos modos de circulação do saber (J. Rifkin, H. Fischer), como a que estamos estamos vivendo, é outra das mais profundas tr ansformações que uma sociedade sociedade pode sofre sofrer. r. Pois é disperso e fragmentado fragm entado como o saber sab er pode circular fora dos lugares sagrados que antes o detinham e das figuras sociais que ó administravam. A escola está deixando de ser o único lugar de legitimação do saber, já que há uma variedade de saberes que circulam por outros canais, difusos e descentralizados. A diversificação e a difusão do saber, saber, fora da escola, escola, são dois dos desafios mais fortes que o mundo mun do da d a co municação municação propõe ao sistema educativo. educativo. Saberes-mosaico, como co mo os cham ou
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A. Moles, Moles, por serem feitos de pedaços, de fragmentos, que, no entanto, não impedem impedem os jovens jove ns de ter, com freqüência, um conhecimento mais atualiza do em física física ou em geografia do que seu próprio professor; o que está acarre tando na escola, não uma abertura a esses novos saberes, mas, sim, uma posição posição defensiva, defensiva, e a construção de uma idéia negativa negativ a e moralista de tudo que a questiona em profundidade, desde o ecossistema comunicativo das mídias e das tecnologias de comunicação e informação. Por um lado, os novos saberes remetem a novas figuras de razão que nos interpelam desde a tecnicidade. Com o computador estamos não em frente a uma máquina com a qual se produzem objetos, mas, sim, diante de um novo novo tipo de tecnicidade, tecnicidade, que possibilita possibilit a o processamento de informa inform a ções ções e cuja matéria-prima são abstrações e símbolos. O que inaugura uma um a nova fusão de cérebro e informação que substitui a tradicional relação do corpo com a máquina. Por outro lado, as redes informáticas, ao transformarem nossa relação com o espaço e com o lugar, mobilizam figuras de um saber que escapa à razão dualista com a qual estamos habituados a pensar a técnica (F. Broncano), pois se trata de movimentos que são ao mesmo tempo de integração e de exclusão, de desterritorialização e relocalização, nicho no qual qual interagem e se misturam lógicas e temporalidades tão diversas como as que entrelaçam no hipertexto as sonoridades do relato oral com as intertextualidades da escrita e as intermediações do audiovisual. Um dos mais mais claros claros sinais da profundidade da mudança mu dança nas relações entre cultura, tecnologia e comunicação encontra-se na reintegração cultural da dimen são separada e desvalorizada pela racionalidade dominante no Ocidente desde a invenção da escrita e do discurso lógico, isto é, a do mundo dos sons e das imagens relegado ao âmbito das emoções e das expressões. Ao trabalhar interativamente com sons, imagens e textos escritos, o hipertexto hibridiza a densidade simbólica com a abstração numérica, fazendo com que se reencontrem as duas, até agora "opostas", partes do cérebro (F. Varela, E. Thompson e E. Rosch). Daí que o número está passando de mediad me diador or univers univ ersal al do saber sab er a mediaçã med iação o técnic téc nicaa do fazer faz er estético, o que por sua vez revela a passagem da primazia sensório-motriz à sensório-simbólica.
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3. Mudanças nos mapas trabalhistas e profissionais profission ais Ainda que nossas universidades pareçam não se inteirar, está em mar cha uma transformação profunda do mapa "moderno" das profissões e da emergência emergência de de um outro mapa cada vez mais próximo da configuração dos novos ofícios exigidos por novas formas do produzir, do comunicar e do gerir, relacionados tanto às novas destrezas mentais que a alfabetização introduz introduz no mundo do trabalho trabalho quanto aos novos modelos mo delos empresariais, em presariais, i I
Estamos, Estamos, em primeiro lugar, lugar, diante de um novo estatuto social do trabalhador (R. (R. Sennett, U. Beck) que se, de um lado, implica imp lica a passage pass agem m de um trabalho trabalho caracteriz caracterizado ado pela execução mecânica de tarefas rep etitivas a um trabalho trabalho com um componente componente maior de iniciativa por parte do empregado, empregad o,
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por outro outr o lado, ao deslo d eslocar car o exercíc ex ercício io da d a predo pre domi minân nância cia da mão m ão par p araa a do cérebro, cérebro, mediante mediante novos modos do fazer que exigem um saber-fazer, saber-fazer, pres pre s supõe supõe uma demonstração demonstração de destrezas com um componente mental maior. maior. Isto, contudo, não significa a liberação da iniciativa do trabalhador, de sua capacidade de inovação e criatividade, mas, sim, seu controle pela lógica da rentabilidade empresarial que a sujeita, a todo momento, à "avaliação dos resultados", ao mesmo tempo que essa chamada flexibilidade oculta sua verdadeira realidade: a precarização do emprego em termos da dura ção do contrato contrato de trabalho trabalho,, bem como dos benefícios em saúde, previdê n cia, educação, férias, etc. Submetido Submetido à dura lógica da competitividade, competitividade, o trabalho sofre uma um a forte retração retração e até o desapareciment desaparecimento o do vínculo societário societário — espacial e temtem -
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poral — entre o trabalhador trabalhad or e a empresa, afetando profunda pro fundament mentee a estabilidade psíquica do trabalhador: ao deixar de ser um âmbito-chave de co-
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municação social, social, do reconhecimento reconhecim ento social de si mesmo, mesm o, o trabalho traba lho perde perd e também sua capacidade de ser um lugar central de significação signific ação do viver viv er pessoal, do sentido da vida vid a (C. Dubar). E ao mesm m esmo o temp te mpo o m uda ud a tamb ta mbém ém a figura figura do profissiona profissional, l, convertida no lugar de expressão da nova comple xidade de relações entre as mudanças do saber na sociedade de conheci mento e as mudanças do trabalho numa sociedade de mercado. A nova figura remete, em primeiro lugar, aos grupos/projeto, grupos/projeto , os "círculos "círculo s de quali qu ali dade" nos quais cada indivíduo compete com os outros indivíduos do gru po, e cada grupo gr upo compete compe te com outros outr os grupos, grup os, não só fora, como com o também tam bém dentro da mesma empresa.
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As condições de competitividade entre todos se traduzem em fragmen tação, tanto do ofício quanto das comunidades de ofício. Os novos mode los de empresa tomam, assim, impossível o longo prazo, tanto no sentido do pertencer a uma coletividade coletivid ade empresarial quanto no da carreira profissi pro fissi onal. Também o nível salarial tem cada vez menos a ver com os anos de trabalho na empresa: hoje profissionais que levam muitos anos numa em presa são substit sub stituído uídoss po p o r jove jo vens ns recém rec ém-f -for orma mado doss que, além alé m do mais, ma is, co co meçam a trabalhar ganhando o dobro do salário dos antigos. O novo profissional profissional é um indivíduo disposto disposto à perman ente reconversão de si si mesmo, e isso num momento mo mento em que tudo na sociedad e faz do indiví indiv í duo um sujeito inseguro, cheio de incerteza, com ten dências muito fortes à depressão, ao estresse afetivo e mental. E divorciado do longo prazo que implicava implicava a vida profissional, e da longa duração da d a solidariedade laborai, não só o valor mas também o sentido do trabalho profissional passa a se vincular a uma criatividade e a uma flexibilidad e atadas à lógica lóg ica mercantil da competitividade que enlaça confusamente saber e rentabilidade.
n . Â explosão explosão das identidades identidades O entendimento da identidade na sociedade contemporânea é resultado da aplicação de uma dupla perspectiva sobre questões que não se sobre põem, mas q u e aprese apr esenta ntam m tensões: tens ões: a reflex ref lexão ão sobre sob re as crises cris es das formas form as de comunicação discursiva como lugar principal da identid ade presente e a necessidade imperiosa de construir discursos de experiência que suturem os déficits de legitimação nos discursos anônimos que nos são dirigidos (José Miguel Marinas). Em suas dimensões tecnoeconômicas, a globalização põe em marcha um processo de interconexões em nível mundial, que conecta tudo o que vale instrumentalmente — empresas, instituições, indivíduos —, ao mes mo tempo tempo que desconecta tudo o que, para essa es sa razão, não vale (Z. Bauman). Tal processo de inclusão/exclusão em escala planetária está produzindo não só reações e entrincheiramentos, mas também uma separação profun da e crescente entre a lógica do global e as dinâmicas do local, entre o espaço da economia política e os mundos de vida. A manifestação mais visível e profunda dessa separação é a presença, na experiência cotidiana das pessoas, de um sentimento compartilhado de impotência, isto é, de que
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seu trabalho, seu entorno e sua própria vida fogem aceleradamente a seu controle.
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Ao entrarem em crise as três grandes instituições da modernidade — o trabalho, trabalho, a política e a escola — que constituíam a fonte do sentido coletivo co letivo da vida, seu significado se divorcia do que o indivíduo ou a comunidade faz para se unir ao que se é: hom homem em ou mulher, negr negroo ou bra branco nco,, cristão cris tão ou muçulmano, indígena ou mestiço. A sociedade-rede não é um puro fenôme no de conexões tecnológicas, tecnológicas, mas, sim, a separação separaç ão sistêmica sistêm ica do global globa l e do local, do público-formal e do privado-real (Appadurai), mediante a fratura de seus marcos temporais de experiência e de poder: frente à elite que habita ha bita o espaço atemporal das redes e dos fluxos globais, as maiorias em nossos países habitam ha bitam o deslocado de slocado espaço/tem espaç o/tempo po local lo cal de suas su as cultura cu lturas, s, e diante dian te da da lógica lóg ica do poder glob global al se refugiam na lógica lógica do poder que produz a identida de. Estamos assim diante de uma mutação, no início de uma verdadeira mu dança de época, que nos leva a pesquisar as seguintes questões: 1. Mudanças Mudanças de profundidade profundidade na percepção e no sentido das identidades
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Se Habermas constata constata o descentramento descentram ento que sofrem as sociedades socieda des com plexa ple xass pela pel a au ausê sênc ncia ia de um umaa instâ in stânc ncia ia centr ce ntral al I—; Estad Es tado, o, Igre Ig reja ja — de regulação e de auto-expressão nas quais "até as identidades coletivas estão submetidas submetidas à oscilação oscilação no fluxo fluxo das interpretações, ajustando-se aju stando-se mais m ais à ima im a gem de uma rede frágil do que à de um centro estável de auto-reflexão” , Stuart Hall explicita a fragilização daquilo que supúnhamos fixo e a desestabilização do que críamos uno: "Um tipo novo de mudança estrutural está fragmentando as paisagens culturais de classe, c lasse, gênero, gêne ro, etnia, raça raç a e nacionalidade, naciona lidade, que no passado passa do nos tinham prop proporci orciona onado do sólidas sólida s localiza loca liza-ções como indivíduos indivíduos sociais. sociais. Transformações que estão também tam bém mudanmuda ndo nossas noss as identi ide ntida dade dess pe pesso ssoais ais"" * A mudança aponta aponta especialmente especialmente para a multiplicação multiplicação de referentes, desde aqueles com os quais o sujeito se identifica enquanto tal, pois o descentramento não o é só da sociedade, mas também dos indivíduos, que agora vivem uma integração parcial e precária das múltiplas dimensões que os conformam. O indivíduo já não é o indivisível, e qualquer unidade que se postule tem muito de "unidade imaginada". Mas isso não pode ser confundido confundido com a celebração da diferença transformada transforma da em fragmentaç fra gmentação, ão, 60
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proclamada proclam ada po porr bo boaa parte par te do discurso disc urso pó pós-m s-mod odem emoo e rentab ren tabiliz ilizada ada pelo mercad mercado. o. A celebração das identidades débeis débe is (fragmentadas) (fragm entadas) tem uma um a forte relaç relação ão com outra celebração, celebração, a da desregulação do mercado, exigida pela ideolo ideologia gia neoliberal da qual D. Harvey explicita e xplicita o paradoxo: "Quanto me me nos decisivas se tomam as barreiras espaciais, maior é a sensibilidade do capital para as diferenças do lugar e maior o incentivo para que os lugares se esforcem para se diferenciar como forma de atrair o capital". A identidade local é assim conduzida para se transformar em uma re presentação da diferen dif erença ça que a faça comercia com ercializá lizável, vel, isto é, subme sub metida tida a maquiagens que reforçam seu exotismo e a hibridações que neutralizem suas classes mais conflitivas. Que é a outra face da globalização aceleran do as operações de desenraizamento com as quais tenta inscrever as iden tidades nas lógicas dos fluxos: dispositivo de tradução de todas as diferen ças culturais para a linguagem franca do mundo tecnofinanceiro, e volàtil volàtiliza ização ção das identidades identidades para que flutuem livremente no esvaziamen esvaziamen to moral e na indiferença cultural. Até pouco tempo, falar de identidade era falar de raízes, isto é, de costumes e território, de tempo longo e de memória simbolicamente den sa. Disso Disso e somente disso estava estav a feita a identidade. M as falar fala r de identida identid a de hoje implica também — se não quisermos condená-la ao limbo de uma tradição desconectada das mutações perceptivas e expressivas do presente — falar fal ar de migr mi graç açõe õess e mobi mo bilid lidad ades, es, de redes red es e de fluxo flu xos, s, de instantaneidade e fluidez. Antropólogos ingleses expressaram essa nova conformação das identidades através da esplêndida imagem das moving roots, raízes móveis, ou melhor, de raízes em movimento. No imaginário substancialista e dualista que ainda permeia a antropologia, a sociologia e até a história, essa metáfora será inaceitável, e, no entanto, nela se vis lumbra alguma das realidades mais fecundamente desconcertantes do mundo que habitamos: qué, como afirma o antropólogo catalão Eduard Delgado, "sem raízes não se pode viver, mas muitas raízes impedem caminhar". Assim, a diversidade cultural se faz interculturalidade nos territórios e nas memórias, mas também nas redes a diversidade resiste, enfrenta e intera interage ge com a globalização, e acabará aca bará por transform trans formá-la á-la (L. K. Sosoe). E é a partir daí que hoje se projetam buscas de alternativas, comunitárias e libertárias, capazes, inclusive, de reverter o sentido majoritariamente 61
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excludente excludente que as redes redes tecnológicas têm para as maiorias, transform andoas em potencial de enriquecimento social e pessoal.
2. Globalização: Globalização: contradições entre entre identidades identid ades e fluxos Acelerando as operações de desenraizamento, a globalização tende a inscrever as identidades nas lógicas dos fluxos: dispositivo de tradução de todas as diferenças culturais para a linguagem franca do mundo tecnofinanc tecnofinanceiro eiro e volatiliz volatilização ação das identidades p ara que flutuem liv remen rem en te no esvaziamento moral e na indiferença cu ltural (N. Klein, Kle in, P. P. E. Bonin). Bonin ). A complementaridade complementaridade de movimentos em que se bas eia essa falsa tradução não pode ser mais expressiva: enquanto o movimento das imagens e das
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mercadorias vai do centro à periferia, o dos milhões de emigrantes, objeto
de exclusão, vai da periferia ao centro. Com a conseqüente reidentifícação
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— ffeqüen ffe qüenteme temente nte fundam fun dam ental en talista ista — das cultur cul turas as de orig or igem em que qu e são s ão p ro duzidas nos "enclaves étnicos” das grandes cidades dos países do norte. básica s, as as identidades identid ades j A globalização exaspera e alucina as identidades básicas, que lançam suas raízes nos tempos longos. O que vimos em Sarajevo e Kosovo é isso: uma alucinação das identidades que lutam para ser reco nhecidas, mas cujo reconhecimento só é completo quando expulsam de seu território todos os outros, fechando-se em si mesmas. Mas a exaspera ção das das identidades identidades não ocorre só do do outro lado do globo, nó s a reencon reen contra tra mos também na intolerância com que na Argentina ou no Chile são hoje excluídos pelos próprios setores operários, os migrantes provenientes da Bolívia ou do Paraguai (A. Grimson).
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Como se ao caírem as fronteiras, que durante séculos demarcaram os diversos mundos, as diferentes ideologias ideologias políticas, os diferentes dife rentes univ ersos culturai culturaiss — por ação conjunta conjunta da lógica tecnoeconômica e da pressão mi gratória
as contradições do discurso universalista, do qual o Ocidente Ocid ente
sempre se se orgulhou, orgulhou, tivessem ficado a descoberto. E então cada qual, cada país ou com c omunid unidade ade de países pa íses,, cada cad a grupo g rupo social soc ial e até at é cad c adaa ind i ndiví ivídu duo o pre p re cisarão evitar a ameaça que significa a proximidade do outro, dos outros, em todas todas suas formas formas e figuras, figuras, restabelecendo a exclusão, exc lusão, agora ag ora não mais m ais sob a forma de fronteiras, fronteiras, que seriam obstáculo ao fluxo das mercadoria me rcadoriass e das informações, informações, porém de distâncias que v oltem a colocar coloca r f, f,cada qual em seu lugar”.
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Mas o revival identitário identitário apresenta um caráter especialmente especialm ente ambíguo ambígu o e até até contraditório, contraditório, pois nele não é só a revanche revanch e de identidades negadas n egadas ou não reconhecidas que fala; também aí abre-se caminho às vozes alçadas contra co ntra velhas exclusões. exclusões. E se no início de muitos m uitos movim m ovimentos entos identitários iden titários o auto-reconhecimento é reação ao isolamento, também o é seu funciona mento como espaço de memória e solidariedade, e como lugar de refugio no qua quall os indivíduos encontram uma um a tradição moral m oral (R. Bellah). B ellah). Os nacionalismos, as xenofobias ou os fundamentalismos fundame ntalismos religiosos não n ão se esgotam esgotam no cultural, cultural, pois todos eles remetem, remetem , em períodos período s mais ou menos longos de sua história, a exclusões sociais e políticas, a desigualdades e injustiças acumuladas, sedimentadas. Mas o que galvaniza hoje as identi dades como motor de luta é inseparável da demanda de reconhecimento e de sentido. Nem um, nem outro são formuláveis em termos meramente econômi econômicos cos ou políticos, pois ambos se acham referidos ao núcleo próprio pró prio da cu cultu ltura, ra, enquanto mundo do pertencer a, e do com partilhar com. Razão pela qual q ual a identid ide ntidad adee se con consti stitu tui,i, ho hoje, je, n a ne nega gaçã çãoo mais ma is de destr strut utiv iva, a, m as também mais ativa e capaz de introduzir contradições na hegemonia da razão instrumental.
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3 . 0 caráter caráter constitutivo constitutivo das narrativas narrativas identitári identitárias as À relação da narração com a identidade é constitutiva: constitutiva: não n ão há identida de cultural que não seja contada (J. M. Marinas, H. Bhabha). Essa relação entre narratividade e reconhecimento da identidade se faz preciosamente visí visíve vell na polissemia polissemia castelhana do verbo contar, contar, quando nos referimos referim os aos direitos das culturas, tanto das minorias quanto dos povos. Pois para que a pluralidade das cultur cul turas as do mund mu ndoo seja po polit litica icam m en ente te levad lev adaa em con conta, ta, é indispensável que a diversidade de identidades nos possa ser contada. Nar rada rada em cada cada um dos idiomas e ao mesmo tempo na linguagem multimídia m ultimídia v em que hoje se realiza o movimento das traduções — do oral ao escrito, ao audiovisual, ao informático —, e nesse outro, ainda mais complexo e am bíguo: bíguo: o das aprop apr opria riaçõ ções es e das d as miscig mi scigen enaçõ ações. es. Em seu sentido mais denso e desafiante, a idéia de multiculturalidade aponta aí uma interculturalidade na qual as dinâmicas da economia e da cultura-mundo mobilizam não só a heterogeneidade dos grupos e de sua readequação às pressões globais, como também a coexistência no interior
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de uma mesma mesma sociedade de códigos e relatos muito diferentes, alterando, alterand o, assim, a experiência que até agora tínhamos de identidade. O que a globalização globalização põe em jogo jog o não é só uma circulação circ ulação maior m aior de produtos, produ tos, mas, sim, sim, uma rearticulação rearticulação profunda das relações entre culturas e entre países, paí ses, mediante uma descentralização que concentra o poder econômico e uma desterritorialização que hibridiza as culturas. Essa hibridação penetra também o campo dos relatos, pois a maioria deles sobrevive inscrita no ecossistema discursivo da mídia e colonizada pela pe la racion rac ionali alida dade de op opera erativ tivaa do disp di spos ositiv itivoo e sabe sa berr tecno tec noló lógi gico cos. s. É ne ness ssee ecossistema ecossistema e nesses dispositivos dispositivos que se realiza — faz-se faz -se e se desfaz desfa z — a diferença diferença entre entre alguns alguns gêneros cujo estatuto deixou deixo u de ser puram ente lite rário para tomar-se cultural, cultural, isto é, questão de mem ória e reconhecimen reconhe cimento, to, diante diante de alguns alguns formatos nos quais fala o sistema produtivo, as lógicas de uma comunicabilidade crescentemente subordinada à da rentabilidade. Momentos de uma negociação entre as regras de construção do texto e as concorrências concorrências do do leitor, leitor, os gêneros remetem remetem a seu reconhecimen reconhec imento to numa nu ma e por po r uma um a comunida com unidade de cultural, pois, pois , mesm me smoo enfr e nfraqu aquecid ecidos os pe pelo lo longo lon go tran tr ans s curso que os separa dos relatos arquetípicos, os gêneros conservam ainda certa densidade simbólica. Os formatos em mudança funcionam como ope radores de de uma combinatória sem conteúdo, estratégia puramente puram ente sintática. sintática. Mas a subordinação subordinação dos gêneros à lógica dos formatos remete, r emete, além das condições em que operam as indústrias culturais, ao obscurecimento de /uma tradição cujos relatos -— -— e metarrelatos metarr elatos — possibilita possi bilitam m a inserção ins erção do presen pre sente te nas n as memória mem óriass do pas p assad sadoo e no noss pro p rojet jetos os de futuro. futu ro. R ompi om pido do esse ess e impasse, impasse, a crise crise da estética estética da obra e do autor auto r encontra sua expressão mais certeira certeira na proliferação/fragmentação proliferação/fragmentação dos relatos. Com o se, extraviada sua fonte, fonte, a narração narração tivesse tivesse se estilhaçado estilhaçado em pedaços, assistimos à multipli m ultipli cação cação infinita infinita de alguns microrrelatos que são gerados gera dos em qualquer qualqu er lugar luga r e se deslocam de uns meios a outros (V. Sanchez Biosca). III. Heterogeneidades socioculturais
Se é através da imaginação que hoje o capitalismo disciplina e controla os cidadãos contemporâneos, sobretudo através dos meios de comunica ção, é também a imaginação a faculdade através da qual emergem novos padrões padr ões coletiv col etivos os de dissens diss enso, o, de op opos osiçã içãoo e qu quest estio iona nam m en ento to dos pa padr drõe õess
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impostos à vida cotidiana, através da qual vemos emergir formas sociais novas, não predatórias, como as do capital, formas construtoras de novas convivênci convivências as humanas hum anas (A. Appadurai). Assim como as identidades implodem fundamentalizando-se, também explodem reinventando-se em projetos de radical renovação da política e da sociedade toda. Refiro-me à crescente presença de estratégias tanto de exclu ex clusão são quanto, e especialmente, de conscien co nscientização tização exercidas exe rcidas no e desde desd e o âmbito da cultura (A. Appadurai). Estas últimas não só inscrevem as "políticas de identidade" dentro da política de emancipação humana, mas também reformulam a fundo o sentido próprio da política, postulando o surgimento de um novo tipo de sujeito político. Sujeito entrevisto desde que o feminismo subvertera o machismo metafísico das esquerdas com "o pessoal é po polít lítico ico", ", e qu quee no noss últi úl tim m os an anos os inco in corp rpor orou ou no m esm es m o m ov ovi i mento o sentimento de dano/vitimação e o de reconhecimento/ conscientização. Sentimento, este último, que recupera, para o processo de construção identitária, tanto aquilo que de disputa de poder passa pelo âmbito dos imaginár imaginários ios quanto aquilo que se produz na materialidade ma terialidade das relações relaçõe s so cia ciais. is. A afirmação afirmação de uma um a subjetividade fraturada e descentrada, des centrada, bem como com o a multiplicidade de identidades em luta, aparece pela primeira vez no fe mini minism smo, o, não como postulado teórico, mas, sim, com o resultado da explo exp lo raçã raçãoo da própria experiência da opressão op ressão (Ch.Mouffe). 1. Novas figuras de cidadania
As novas'figuras cidadãs remetem, de um lado, a políticas do reconhe cime ciment ntoo que, segundo Charles Taylor Taylor,, encontram enco ntram sua base na modern m odernidade idade política em e m que q ue se aloja alo ja "a idéia idé ia de qu quee o pov p ovoo co cont ntaa co com m uma um a iden id enti tida dade de anterior a alguma estruturação política" . A idéia de reconhecimento se real realiz izaa na distinção distinção entre a "honra" tradicional, com o conceito con ceito e princípio hierár hierárqui quico, co, e a "dignidade" moderna, como princípio igualitário. A identi dade não é, pois, o que é atribuído a alguém pelo fato de estar aglutinado num grupo — como na sociedade de castas -— mas, sim, a expressão da quilo quilo que dá sentido sentido e valor à vida do indivíduo. É, ao tomar-se toma r-se expressiva, expre ssiva, que a identidade depende de um sujeito individual ou coletivo, e portanto vive do reconhecimento dos outros: a identidade se constrói no diálogo e 65
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no intercâmbio, intercâmbio, já que é aí aí que indivíduos e grupos se sentem desprezad d esprezados os ou reconhecidos pelos demais.
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As identidades/cidadania identidades/cidadaniass modernas — ao contrário daquelas daqu elas que eram era m atribuídas atribuídas a partir de uma estrutura preexistente como a nobreza nobre za ou a plebe — con constr stroem oem-se -se na n a negoc neg ociaç iação ão do d o recon rec onhe heci cim m en ento to pel p elos os ou outro tros. s. P o r outr ou troo lado, o que o multiculturalismo coloca em evidência é que as instituições liberal-democráticas ficaram estreitas (Ch. Mouffe, E. Laclau) para aco lher as múltiplas figuras da diversidade cultural que tensionam e rompem nossas sociedad sociedades, es, justamente justam ente porque não cabem nessa nes sa institucionalidade. institucionalidad e. Ruptura que só pode ser suturada com uma política de extensão dos direi tos e valores valores universais universais a todos os setores da população popula ção que q ue têm vivido fora da aplicaç aplicação ão desses desses direitos, direitos, sejam mulheres mulhe res ou minorias minoria s étnicas, evangé evan gé licos ou homossexuais. Estamos em nosso pleno direito ao nos negarmos a ter que escolher entre o universalismo herdado da ilustração, que deixava de lado setores inteiros inteiros da população, população, e um diferencialismo tribal triba l que se afirma na n a exclu exc lu são racista racista e xenófoba, xenófoba, pois essa disjuntiva é mortal p ara a demo de mocracia cracia (M. Wiewiorka). Diante da cidadania ”dos modernos”, que se pensava e que se exercia acima das identidades de gênero, de etnia, de raça ou de idade, a democracia está está necessitada necessitada,, hoje, de uma um a cidadania que se encarregue das identidades identidades e das das diferenças. diferenças. Pois a dem ocracia se transform a hoje em e m pal p al co da emancipação emancipação social social e política, política, quando exige que sustentemos a ten são entre nossa identidade como indivíduos e como cidadãos, pois só a parti pa rtirr dessa des sa tensão ten são será po possí ssível vel sust su sten enta tarr co cole letiv tivam amen ente te a outra, out ra, a tens te nsão ão entre diferença e equivalência (igualdade). E sairemos, assim, da ilusória procur pro curaa de uma um a reabso rea bsorçã rçãoo da alteri alt erida dade de nu num m todo to do un unif ific icad ado, o, seja se ja este es te a nação, o partido ou a religião. Emergem então, ou passam ao primeiro plano, direitos de cidadania vinculados vinculados às diversas diversas comunidades culturais que conformam confo rmam uma u ma nação, desde a dupla perspectiva, tanto de sua construção jurídica quanto ética, isto isto é, desde desde o novo valor da diferença que articula a universalidade h uma um a na dos direitos à particularidade dos vários modos de sua percepção e de expressão. É a linha da ética da comunicação (K.O.Apel, J. Habermas, G. Vattimo) caracterizada por desenvolver-se muito menos em certezas e absolutização de valores do que em possibilidades de encontro e de luta 66
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contra a exclusão social, política e cultural, da qual são objeto, em nossos países, tanto tan to as m aior ai orias ias po pobr bres es,, qu quan anto to as m inor in oria iass étni ét nica cass ou sexu se xuais ais.. Na expe ex periê riênci nciaa de desen de senrai raiza zame mento nto qu quee vive vi vem m muit m uitos os de nos n osso soss povo po vos, s, a meio meio caminho caminho entre o universo rural rural e um mundo urbano u rbano cuja racionalidade econômica e informativa dissolve seus saberes e sua moral, desvaloriza sua memóri memóriaa e seus rituais, rituais, falar de reconhecimento implica um campo básico, duplo dup lo,, de direitos a impulsionar: impulsionar: o direito à participação particip ação quanto à capacidade capacid ade das comunidades e dos cidadãos à intervenção nas decisões que afetam seu viver, capacidade que se encontra, hoje, estreitamente relacionada a uma infor informaçã maçãoo veraz e na qual predomine o interesse comum com um sobre o do negó negó cio; e segundo, o direito à expressão nas mídias de massa e comunitárias de todas aquelas culturas e sensibilidades majoritárias ou minoritárias, através dass quais da quais passa a am pla e rica diversidade diversid ade da qual qu al são feitos nossos no ssos países. 2. Reconfigurações do público
A cada cada vez mais estreita estreita relação relação entre o público e o comunicável com unicável — já presente present e no sent se ntido ido inici ini cial al do co conc ncei eito to po polít lític icoo de p ub ublic licid idad adee n a hist hi stóó ria ri a traç traçad adaa por Habermas Habermas — realiza-se hoje decisivamente n a ambígua e mui mu i to questionada mediação das imagens que, passando das mil formas de cartazes e grafites, desemboca na televisão, é quase sempre associada, ou plenament plena mentee redu re duzi zida da a um mal ma l ine i nevi vitá táve vel,l, a um u m a incu in curá ráve vell doe d oenç nçaa da d a po p o lí lí tica tica contemporânea, a um vício proveniente proven iente da decadente decad ente demo de mocracia cracia nor no r te-americana, ou a uma concessão à barbárie destes tempos que encobrem com imagens sua falta de idéias. E não é que no uso das imagens que o mercado e a política fazem não haja um pouco de tudo isso; mas o que precisamos precisam os com co m pree pr eend nder er vai va i além a lém da de denú núnc ncia, ia, em direç dir eção ão a um a com c om pre pr e ensão do que a mediação da imagens produz socialmente, único modo de poder inter in tervir vir sobre sob re esse es se proc pr oces esso so.. Pois essa hegemonia imagética se acha associada ao fato de que hoje o ^reconhecimento recíproco" (H. Arendt) desenvolve-se especialmente no dire direit itoo a ser ser visto e ouvido, que equivale ao de existir/contar existir/co ntar socialmente, so cialmente, tanto no terreno individual quanto no coletivo, no das maiorias quanto no das minorias. Direito que nada tem a ver com o exibicionismo vedetista dos políticos em seu perverso afa de substituir sua capacidade perdida de represe representa ntarr o comum pela quantidade de tempo no vídeo. 67
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O que nas imagens se produz é, em primeiro lugar, a saída flutuante, a emergência da crise que o discurso da representação sofre desde seu pró pri p rio o inte in teri rior or (P. F lore lo ress d*Arcais). Po is se é certo ce rto que qu e a cres cr esce cent ntee pres pr esen ença ça das imagens no debate, nas campanhas e ainda na ação política espetaculariza esse mun do até confund i-lo com o da farsa, dos reinados reinados de bele be leza za ou das da s igre ig reja jass elet el etrô rôni nica cas, s, tam ta m b ém é cert ce rto o que qu e pela pe lass imag im agen enss p assa as sa um a construção visual do social, na qual essa visibilidade tom tom a o desloca men to da luta pela representação d a demanda de reconhecimento. O que os novos mo vimentos sociais e as as minorias — as etnias e as raças, as mu lhe res, os jovens ou os homossexuais — demandam não é tanto ser reapresentados, mas, sim, reconhecidos: fazerem-se visíveis socialmente em sua diferença. O que dá lugar a um modo novo de exercerem politica mente seus direitos. E, em segundo lugar, nas imagens se produz um pro fundo descen tramento d a política, política, tanto sob re o sentido da militân cia quanto do discurso partidário. Do fundamentalismo sectário que acompanhou, desde o século passado até boa parte do século XX, o exercício da militância tanto nas direitas quanto nas esquerdas, as imagens term inam com o esfriamento da política, política, aquilo que N. Lechner denom ina desativação da rigidez nos pertencimentos, pertencimentos, po ssib ss ibil ilit itan an d o fide fi deli lida dade dess m ais ai s m óvei óv eiss e cole co leti tivi vida dade dess m ais ai s aber ab ertas tas.. E no que diz respeito ao discurso, a nov a visibilidade social da política catalisa catalisa o deslocamento do discurso doutrinário, de caráter abertamente autoritá rio, em uma discursividade, se não claramente democrática, feita, pelo meno s, de certos tipos tipos de interações e intercâmbios com outros atores soci ais. E isso que evidencia a proliferação crescente de observatórios e de inspetorias cidadãs. Resu lta bastante significativa esta, esta, mais do que proxi midade fonética, articulação semântica entre a visibilidade do social, que pos p ossi sibi bili lita ta a con co n stit st itut utiv ivaa pres pr esen en ça das da s imag im agen enss na vid vi d a públ pú blic ica, a, e das da s ins in s pe tori to rias as com co m o form fo rm a atua at uall de fisc fi scal aliz izaç ação ão e inte in terv rven ençã ção o dos do s cida ci dadã dãos os.. Por outro lado, o esvaziamento de utopias que atravessa o âmbito da po p o líti lí tica ca se vê pree pr ee nc hido hi do no s últi úl tim m os anos an os p o r um acúm ac úm ulo ul o de utop ut opia iass pro p rov v enie en ient ntes es do cam ca m po da tecn te cno o logi lo giaa e da com co m unic un icaç ação ão:: "ald "a ldei eiaa glob gl obal al", ", "mundo virtual”, "ser digital”, etc. E a mais enganosa de todas, a "demo cracia direta" , atribuindo ao poder das redes informáticas a renovação da po líti lí tica ca e sup s up eran er an do rapi ra pida da m en te as "velh "ve lhas as"" form fo rm as da repr re pres esen en taçã ta ção o pel p elaa expressão viva dos cidadãos, seja votando pela Internet, desde casa, ou 68
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emitindo telematicamente sua opinião. Estamos diante da mais enganado ra das idealizações, idealizações, já que em sua celebração do imediatismo imedia tismo e da transpa tra nspa rência das redes cibernéticas o que se está minando são os fundamentos próprios próprio s ”do púb p úblic lico”, o”, isto i sto é, os proc pr ocess essos os de delib de libera eraçã ção o e de crítica crít ica,, ao mesmo tempo que se cria a ilusão de um processo sem interpretação nem hierarquia, fortalece-se a crença de que o indivíduo pode comunicar-se prescindindo prescin dindo de toda tod a mediaç med iação ão socia s ocial, l, além alé m de aum a umen entar tar a des d esco conf nfian iança ça de de qualquer qualquer figura de delegação e representação. Há, no entanto, em discursos e buscas por uma "democracia direta” via Internet, um fundo libertário que aponta para a desorientação em que vive a cidadania cidadania como resultado da ausência de densidade densid ade simbólica sim bólica e da incap aci dade dade de convocação de que padece a política polític a representativa. Fundo F undo libertário
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que que assinala assinala também també m a frustração que produz, especialmen esp ecialmente te entre as mulhe mul he res res e os jovens, jove ns, a incapacidade de representação representaç ão da diferença difere nça no discurso disc urso que denuncia a desigualdade. Desvalorizando o que a nação tem de horizonte
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cultural comum — por sua própria incapacidade de articular a heteroge heterogeneid neidade, ade, a pluralidade pluralidade de diferenças das quais está feita — , as mídias e as redes eletrônicas estão se constituindo em mediadores da trama de ima ginários que configura a identidade das cidades e das regiões, do espaço local e do bairro, veiculando, assim, a multiculturalidade que faz extrapolar os referentes tradicionais da identidade. E para os apocalípticos — que tanto abundam hoje — aí estão os usos que muitas minorias e comunidades marginalizadas fazem das tecnolog tecnologias, ias, introduzindo ruídos nas redes e distorçõ es no discurso do globa global, l, através das quais emerge a palav ra de outros, de mu itos outros tros.. E essa rev iravo lta evid enc ia nas gran des cidad es o uso das rede s
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eletrônicas para construir grupos que, virtuais em seu nascimento, acab acabam am territorializando-se, passando da conexão ao encon tro, e do encontro enco ntro à ação. aç ão.
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O uso alternativo das tecnologias e de redes rede s informáticas informáti cas (R. Kroes, S. Finquel Finquelevic evich, h, J. J. L. Molina) Mol ina) na reconstrução reconstr ução da esfera esfe ra pública passa, sem dúvi dú vi da, por profundas mudanças nos mapas mentais, nas linguagens e nos dese
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nhos de políticas, exigidos, todos eles, pelas novas formas de complexidade que que revestem as reconfigurações e hibridações hibridaç ões do público e do privado. Come Com e çand çando o pela própria complexidade complexi dade que, a esse respeito, a Internet apresenta: apr esenta: um contato privado entre interlocutores que é, ao mesmo tempo, mediado pelo
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lugar público que constitui a rede: processo que, por sua vez, introduz uma verdadeira verdadeira explosão explosão do discurso discurso público, ao mobilizar mobil izar a mais heterogênea heter ogênea quan quan tidade de comunidades, associações, tribos, que ao mesmo tempo que liberam as narrativas do político, desde as múltiplas lógicas dos mundos de vida, despotencializam o centralismo burocrático da maioria das instituições, potencializando a criatividade social no desenho desenh o da participação partici pação cidadã. As tecnologias não são neutras, pois hoje, mais do que nunc a, elas con c ons s tituem grupos de condensação e interação de interesses econômicos e polí ticos com mediações sociais e conflitos simbólicos. Mas, por isso mesmo, elas são constitutivas dos novos modos de construir opinião pública e das novas formas de cidadania, isto é, das novas condições em que se diz e se faz a política.
3. Novos regimes culturais da tecnicidade tecnicida de A verdade verdade é que a imagem não é a única coisa que mudou. O que m u dou, mais exatamente, são as condições de circulação entre o imaginário individual (por exemplo, os sonhos), o imaginário coletivo (por exemplo, o mito) e a ficção (literária ou artística). Talvez sejam as maneiras de via jar, jar , de olhar, de encontr enc ontrar-s ar-se, e, que muda mu daram ram,, o que qu e conf co nfirm irm a a hipót hip ótes esee segundo a qual a relação global dos seres humanos com o real se modifica pelo efeito de repr r eprese esenta ntaçõe çõess associ ass ociad adas as às tecn t ecnolo ologia gias, s, à glo g loba baliz lizaç ação ão e à aceleração aceleração da história (Marc (M arc Augé). A convergência da globalização e da revolução tecnológica configura um novo ecossistema de linguagens e escritas. A experiência audiovisual transtornada pela revolução digital marca, por um lado, a constituição de novas temporalidades ligadas à compressão da informação, o surgimento de novas figuras de razão que remetem ao estatuto cognitivo que a digitalização procurou na imagem, e finalmente a emergência de uma visi bilidade bili dade cultural cultu ral conver con vertida tida em palco pal co de um a decisi dec isiva va bata ba talh lhaa pol p olít ític icaa en en tre a ordem/poder da letra e as oralidades e visualidades culturais que enla e nla çam as memórias com os imaginários no palimpsesto que, ao mesmo tem po que apaga, lhes permi per mite te emerg em ergir ir impre im precis cisam amen ente te nas na s entre en trelin linha hass que escrevem o presente. Pois os imaginários da virtualidade e da velocidade dão forma, forma, imprecisa também, também, ao futuro que as redes red es do hipertexto hipe rtexto tecem .
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Destempos e desmemórias
Poucas mudanças são tão desconcertantes como as que afetam a nossa percep per cepção ção cole co letiv tivaa do tempo. tem po. En Enqu quan anto to uns un s denu de nunc ncia iam m exal ex alta tada dam m ente en te a amnésia histórica, outros ostentam a atual "explosão da memória", e ou tros indicam a complementaridade entre ambas as atitudes e movimentos. É certo também que algumas das denúncias mais apocalípticas do milenarismo escapista o retroalimentam, turvando a atmosfera cultural e intelect intelectual, ual, já por po r si confusa e obscura, impedindo-nos imped indo-nos de analisar ana lisar a estru tura das mudanças que atravessamos. Diante de escapismos e alarmismos precis pre cisamo amoss inves inv estig tigar ar noss no ssaa cont co ntra radi ditó tóri riaa perc pe rcep epçã çãoo das da s trans tra nsfo form rmaç açõe õess da temporalidade, de modo que nos permita "pensar juntos a amnésia e o 9 boom da memória" . Pois se, de um lado, as mídias de massa se transformam em "máquinas de produzir o presente" , ou seja, seja, acham-se acham -se dedicadas a fabricar esqueci mento — o que vale como notícia é o que nos conecta com o presente do que está acontecendo, o que, por sua vez, permite que o tempo em tela de qualquer qualquer acontecimento deva ser também instantâneo e equivalente, com o que que o presente convertido em atualidade atualidad e dura cada cad a vez menos men os — , que é ao que o mercado se dedica em seu conjunto, ao planificar a acelerada obsolescência dos objetos como condição de funcionamento do próprio sistema de produção; por outro lado, a febre de memória é também cres cente: desde o crescimento e expansão dos museus nas duas últimas déca das das à restauração dos velhos centros urbanos, ao sucesso da d a novela históri hist óri ca e relatos biográficos, à mod a retrô em arquitetura a rquitetura e vestidos, ao entusi en tusi asmo pelas comemorações e ao auge dos antiquários. Mas, desvelando a ação do mercado e das mídias, não fomos a fimdo, há algo algo ainda mais abaixo: abaixo: a obsolescência obsolescênc ia acelerada e o enfraqu e nfraquecimento ecimento de nossos pretextos identitários estão gerando um incontrolável desejo de passado, que qu e não nã o se esgo es gota ta na evasão eva são.. A inda in da que qu e m olda ol dado do pelo pe lo merc me rcad ado, o, esse esse desejo desejo existe e deve ser levado a sério como sintoma de um profundo profun do mal-est mal-estar ar cultural, cultural, em que se expressa exp ressa a ansiosa indigência, que q ue sentimos, se ntimos, de tempos mais longos e da materialidade de nossos corpos reclamando menos espaço e mais lugar. Tudo o que nos propõe o desafio radical que formu formulou lou Huyssens: não opor o por maniqueisticamente maniqueisticam ente a mem m emória ória e a amnésia, am nésia, mas, mas, sim, pensá-las junta s. 71
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Pois se a "febre de história" que Nietzsche denunciara no século XIX funcionava inventando tradições nacionais e imperiais, isto é, dando coe são cultur cultural al a sociedades partidas pelas convulsões da revolução revo lução industri al, nossa "febre de memória" não tem um foco político nem territorial cla ro. É expressão da necessidade de ancoragem temporária de algumas so ciedades cuja temporalidade é sacudida brutalmente pela revolução informacional informacional que dissolve dissolve as coordenadas esp aço-territoriais de no s sas vidas. vidas. E no que se se faz manifesta a transformaç transfor mação ão profunda profu nda da d a "estrutura "estru tura de temporalidade" que nos legou a modernidade: aquela que, diante da conservadora conservadora visão visão romântica, romântica, legitimou já desde o século XVIII a destrui des trui ção do passado como lastro e fez da novidade novidad e a fonte única de legitimid leg itimidade ade cultural. A experiência do progresso moderno, na qual W. Benjamin vira um tempo homogêneo e vazio, é a que G. Vattimo desvela na sociedade atual: a renovação permanente e incessante das coisas, dos produtos, das merca dorias, está "físiologicamente exigida para assegurar a pura e simples so brevivê brev ivência ncia do sistema" sistem a" (e na n a qual) q ual) "a nov n ovida idade de na nada da tem de revo re volu luci cion oná á rio nem perturbador" . E num mundo mun do no qual o futuro aparece garantido gara ntido pelos pelo s automatis auto matismos mos do sistema, siste ma, o qu quee no noss resta res ta de tempo tem po hu huma mano no é "o cuidado dos resíduos, das impressões do vivido, (pois) o que corre o risco de desaparecer é o passado como continuidade continuid ade da experiência" . Co Conti nti nuidade nuidade que não se se confunde nem com a uniformização, nem com a nostal gia, pois se trata do mínimo de horizonte histórico que toma possível o diálogo entre gerações e a leitura/tradução entre tradições. Desordens da razão
A mudança mais desconcertante para o racionalismo com o qual se iden ide n tificou a primeira modernidade talvez seja a que introduz o novo estatuto cognitivo da imagem. Desde o mito platônico da caverna, e durante sécu los, a imagem foi identificada com a aparência e a projeção subjetiva, o que a transformava em obstáculo estrutural do conhecimento. Ligada ao mundo do engano, a imagem foi, de um lado, assemelhada a instrumento de manipulação, de persuasão religiosa ou política, e de outro, expulsa do campo do conhecimento e confinada ao campo da arte. arte. Hoje H oje em dia, novas formas de articular a observação e a abstração de imagens, baseadas no 72
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processamento, digitali di gitalização zação e conversã conv ersão o de interface, inter face, não só as remove rem ovem m de seu, até agora, irremediável status de "obstáculo epistemológico", mas as converte em componente chave de um novo tipo de relação entre a si mulação e a experimentação científicas (P. Lévy). A atual atual revalorização revalorização cognitiva da imagem im agem passa paradoxalmente pela crise crise da representação tematizada tema tizada por M. Foucault Fou cault (1966) a partir par tir da trama significan significante te que as figuras e os discursos (as imagens im agens e as palavras) palav ras) tecem, t ecem, e da eficácia operatória dos modelos que tomam possível esse saber que hoje denominamos ciências humanas. E é justamente no cruzamento dos dois dispositivos apontados por Foucault — economia discursiva e operatividade lógica — que se situa a nova discursividade constitutiva da visibilidade e a nova identidade lógico-numérica da imagem. Estamos diante da emergência de uma "nova figura de razão" (A. Renaud) que exige pensar a imagem, por um lado, desde sua nova configuração sociotécnic sociotécnica— a— o computador inaugurando um tipo de tecnicidade tecnicidade que pos sibilita o processamento de informações, e cuja matéria prima são abstra ções e símbolos — e, por outro, a emergência de um novo paradigma do pensamento, que refaz refa z as relações rela ções entre a ordem ord em do discurs dis cursivo ivo (a lógica) ló gica) e do visível (a forma), da inteligibilidade e a sensibilidade. O novo estatuto cognitivo da imagem se produz a partir de sua informatização, isto é, de sua inscrição na ordem do numerável, que é a ordem do cálculo e suas mediações lógicas: número, código, modelo. Inscrição que remete, no en tanto, não só a uma economia informacional (G Chartron), mas também a uma ironia do figurativo (M. Levin, T. Lenain), nas quais a imagem deixa de ter como lastro sua errância er rância estética e sua cumplicidade cumplic idade com a sedução. O processo que aí chega entrelaça um duplo movimento. O que prosse pros se gue gue e radicaliza o projeto da d a ciência moderna mode rna (Galileu, Newton) N ewton),, de traduzir/substituir o mundo qualitativo das percepções sensíveis pela quantificação e abstração lógico-numérica, e o que reincorpora ao proces so científico científico o valor informativo informativ o do sensível e do visível. Uma nova epistème qualitativa abre a investigação à intervenção cons tituinte da imagem no processo do saber: arrancando-a da suspeita raciona racionalis lista, ta, a imagem é percebida percebid a pela nova n ova epistème como possibilidade de experimentação/simulação que potencializa a velocidade do cálculo e permite inédit iné ditos os jo j o go s de inte in terfa rface ce,, isto ist o é, arqu ar quit itetu etura rass de lingu lin guag agen ens. s. 73
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P. Virilio denomina "logística visual” a remoção que as imagens informáticas fazem dos limites e funções tradicionalmente atribuídos à discursividade e à visibilidade, à dimensão operatória (controle, cálculo e previsib prev isibilida ilidade) de),, à po potên tência cia intera int erativ tivaa (jog ( jogos os de interf int erfac ace) e) e à efic e ficác ácia ia m e tafórica (translação do dado quantitativo a uma forma perceptível: visual, sonora, táctil). A visibilidade da imagem converte-se em legibilidade (G. Lascaut), permitindo passar do estatuto de "obstáculo epistemológico" ao de mediação mediação discursiva discursiva da fluidez fluidez (fluxo) da informação e do pode p oderr virtual do mental. v Mudanças e relocalizações da letra
Assim como o computador nos coloca diante de um novo tipo de tecnicida tecnicidade, de, deparamo-nos deparamo-nos,, também, com um tipo de textualidade que não se esgota esgota no computador, computador, o texto eletrônico se desdobra desd obra numa num a multiplicidade multiplicid ade de suportes e escritas que, da televisão ao videoclipe e da multimídia aos videogames videogames, encontram uma complexa e crescente cumplicidade entre a oralidade e a visualidade dos mais ma is jovens. jove ns. É nas novas gerações que essa cumplicidade opera mais fortemente, não porque porque os jovens jove ns não saibam ler ou leiam pouco, pou co, mas, sim, porque porqu e sua leitura já não tem o livro como eixo e centro da cultura. Deste modo é a própria pró pria noç noção ão de leitura leit ura que está es tá em qu questã estão, o, ob obrig rigan ando do-n -nos os a pe pens nsar ar a desordem estética que as escritas eletrônicas e a experiência audiovisual introduzem. Pois a visualidade eletrônica passou a fazer parte constitutiva da visibilidade cultural, essa que é ao mesmo tempo meio tecnológico e novo imaginário "capaz de falar culturalmente — e não só de manipular tecnologi tecnologicament camentee —, de abrir novos espaços e tempos para pa ra uma nova n ova era do sen s ensíve sível."1 l."122 Um dos mais claros sinais da profundidade profundidad e das mutações mutaçõe s que atravess atra vessa a mos encontra-se na reintegração cultural da dimensão separada e desvalo rizada rizada pela racionalidade racionalidade dominante no Ocidente, desde a invenção da es crita e do discurso lógico, isto é, a do mundo dos sons e das imagens rele gado ao ao âmbito das das emoções e das expressões. Ao trabalhar trabalha r interativamente interativam ente com sons, imagens e textos escritos, o hipertexto (G. Landow, R. Laufer) hibridiza a densidade densidade simbólica com a abstração numérica, numé rica, fazendo faz endo as duas partes par tes do cére c érebro bro,, até a té ago agora ra "op "oposta ostas", s", reenc ree ncon ontrar trarem em-se -se..
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Daí que, de mediador universal do saber, o número esteja passando a ser ser mediação técnica técnica do fazer faz er estético, estético, o que po r sua vez revela a passagem passage m da primazia sensório-motriz à sensório-simbólica. É dessa reintegração e dess de ssee trânsit trânsitoo que fala a mudança mud ança que qu e hoje perme pe rmeia ia a arte. A aproximaçã aprox imaçãoo entr en tree experimentação tecnoló tecnológica gica e estética faz emergir, neste dese ncanta nca nta do começo começo de século, século, um novo parâmetro parâ metro de avaliação da técnica, diferen d iferen te do de sua mera instrumentalidade econômica ou de sua funcionalidade política: o de sua capa ca paci cida dade de de co comu munic nicar, ar, isto ist o é, de sign si gnifi ifica carr as m ais ai s profundas profun das trans tra nsfo form rmaç açõe õess de ép époc ocaa qu quee ex expe perim rim en enta ta n o ssa ss a soci so cied edad ade, e, e o de desviar/subverter a fatalidade destrutiva de uma revolução tecnológica prioritaria priori tariamen mente te de dedi dica cada da,, dire di reta ta ou indi in dire retam tamen ente, te, a au aum m en enta tarr o p o de deri rioo militar. A gramática de construção dos novos relatos se alimenta do za zap p pin pi n g e desemboca no hipertexto, o que implica um movimento duplo e muito di fere ferent nte, e, que a reflexão crítica tende a confundir, anulando anulan do as contradiçõe con tradiçõess que os unem. A gramática narrativa predominante dita uma clara redução dos componentes propriamente narrativos (V. Sanchez Biosca) — ausên cia cia ou enfraquecimento da trama, encurtamento encurtam ento das seqüências, seqüên cias, desarticu des articu laçã laçãoo e amálgama —, a prevalência preva lência do ritmo sobre qu alquer alqu er outro elem en to com a conseqüente perda de espessura das personagens, o pastiche das lógicas internas de um gênero com as de outros — como os da estética publ pu blici icitár tária ia ou a do v ide id e o c lip li p e — e a h e g e m o n ia d a ex expp e rim ri m e n taç ta ç ã o tecnológica, quando não a da sofisticação dos efeitos, sobre o próprio de senvolvimento senvolvimento da história. A ruptura da narração e a preeminência do fluxo de imagens que aí se produzem produze m enco en contr ntram am sua su a exp e xpre ressã ssãoo mais m ais certe ce rteira ira no za zap p pin pi n g com o qual o telespectador, ao mesmo tempo que multiplica a fragmentação da narra ção, ção, constrói constrói com seus pedaços pedaço s um outro relato, um duplo, puram ente sub jetivo, intran intr ansfe sferíve rível,l, um a ex expe periê riênc ncia ia inco in com m un unicá icáve vel.l. E starí sta ríam amos os ap apro roxi xi-mando-nos do final do percurso que W. Benjamin vislumbrou ao ler no decl de cliv ivee da narração a progressiva incapacidade incapacidad e dos homens hom ens para pa ra com parti lhar experiências. Mas esse esse movimento de ruptura e fragmentação desemb oca também na potenciação potencia ção de ou outro tro movi mo vim m en ento to,, no qu qual al o mesm me smoo B en enja jam m in ob obse serv rvou ou o surg surgim iment entoo daquela narrativa à qual qu al tendia o novo nov o sensorium da dispersão e da imagem imagem múltipla: múltipla: o da montagem mon tagem cinemato cine matográfica gráfica precursora, precursora , como com o a 75
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montagem textual do Ulisses de Joyce, da narrativa hip ertextual (P. D elany/ G Landow): "A linha de cultura se rompeu, e também com ela, a ordem temporal sucessiva. A simultaneidade e a mesclagem ganharam o jogo: os canais canais se intercambiam, intercambiam, as manifestações cultas, as popu lares e as de m as sas dialogam e não o fazem em regime de sucessão, m as, sim, sob a form a de um cruzamento que acaba por tomá-las confusas." A ruptura da ordem linear sucessiva alimenta um novo tipo de fluxo, que conecta a estrutura reticular do mundo urbano com a do texto ele trôni iü
co e do hipertexto. Na assunção de tecnicidade midiática como dimensão
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estratégica da cultura, nossa sociedade pode interagir com os novos cam
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po p o s d e e x p e r iê n c i a e m q u e h o je se p r o c e s s a m a s m u d a n ç a s :
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desterritorialização/relocalização desterritorialização/relocalização das identidades, hibridaçõ es da ciên cia e da arte, dos escritos literários, audiovisuais e digitais, a reorganização dos saberes desde os fluxos e redes, pelos quais hoje se mobilizam não só a informação, mas também o trabalho e a criatividade, o intercâmbio e a aposta em comum de projetos políticos, de pesquisas científicas e experi mentações estéticas. Nossa sociedade pode interagir tanto com as novas figuras figuras e modalidades de profissão quanto com as novas formas de partici paçã pa ção o cidad cid adãã que se abre ab rem m espe es pecia cialm lmen ente te à vida vi da local. loc al. Notas
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