CONCEITOS CONCEITOS CENTRAIS, HIPÓTESES E IDÉIAS DO AUTOR AUTOR SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO ESTIGMA. Périsson Périsson Dantas do Nascimen Nascimento to
Nota de traba!o "# Or$%$&a' (a$o ) *+ Re$-ado e( /&!o ) *+. Goffman vai iniciar seu texto dando um breve histórico sobre a origem do termo. Estigma, para os gregos, significava um sinal corporal com o qual se procurava evidenciar alguma coisa de mau ou extraordinário sobre o status social de uma pessoa. Assim podia se identificar criminosos e escravos, pessoas consideradas como poluídas, que deveriam ser evitadas em lugares públicos. Atualmente, nos estudos relacionados a patologia social, o caráter físico do estig estigma ma perde perde a sua sua fora fora,, dand dandoo luga lugarr a uma uma rela rela! !oo inse inseri rida da no imagi maginá nári rioo e na represe representa nta!o !o social social,, deli deline neada ada pelo pelo olhar olhar inter interpret pretati ativo vo da socied sociedade ade acerca acerca da sua realidade. "u se#a, no mundo moderno, o estigma continua a sinali$ar o caráter mal%fico de determinadas pessoas na sociedade, mas as quest&es est!o voltadas para a exclus!o social das popu popula la&es &es'tab 'tabuu (na nomenc nomencla latur turaa da teoria teoria freudi freudian anaa para para defin definir ir as categor categorias ias diferentes, fora dos limites dos padr&es )normais*, de caráter simultaneamente sagrado e impuro+ em termos econmicos, sociais, culturais, diminuindo assim as suas chances de vida e pro#etando diretamente nelas a culpa de todas as ma$elas decorrentes das contradi&es inerentes da organi$a!o social. social. " tipo tipo de estigma que nos propomos abordar % o atribuído a culp culpas as de carát caráter er indi indivi vidu dual al,, perce percebi bida dass como como vo vont ntad adee frac fraca, a, paix paix&e &ess tirtir-ni nica cas, s, desonestidade, maus valores, falhas na educa!o. " bairro de !e /uísa pode nos servir como um referencial para uma reflex!o da problemática abordada, no sentido que as gangues formadas por adolescentes lá residentes, ob#eto comum da pesquisa do nosso pro#eto integrado, podem ser apontadas pela sociedade como causa direta da viol0ncia viol0ncia e baderna do cotidiano natalense. A gangue possui um estigma n!o materiali$ado, materiali$ado, % uma constru!o constru!o do ideal ideal social, social, enquadrada enquadrada em uma racional racionali$a i$a!o !o (sintom (sintomaa social+ social+ que a socie sociedad dadee elabo elabora ra para lhe lhe atribu atribuir ir a culpa culpa de toda uma uma ma$el ma$elaa socia social. l. Essa Essa últim últimaa característica está bastante enquadrada na pesquisa sobre as gangues enquanto sintoma social, desenvolvida po /i%ge 1cha, na qual 2i$e3 vai analisar o discurso social de culpa das ma$elas da comunidade devido a presena das popula&es marginali$adas, sendo estas um cano de escape e fuga das próprias contradi&es e conflitos inerentes a qualquer sociedade. 4essa perspectiva, surge a necessidade do entendimento da seguinte quest!o5 de que maneira surge o estigma, como fator interferente na percep!o real dos su#eitos que est!o a nossa volta6 Em qualquer membro inserido nos moldes de uma sociedade cosmopolita, existe a tend0ncia de ter como referencial a sua subdivis!o em categorias (ou ambientes sociais, compostos de indivíduos que possuem uma s%rie de atributos comuns e naturais, e comportamentos previsíveis de rela!o social fatores constituintes do que Goffman chama de identidade social + para a defini!o de identidade de uma pessoa nas rotinas de rela!o social. Assim, a sociedade determina um ideal de )normalidade* entre as pessoas, que serve como fundo de toda a percep!o social de qualquer indivíduo, resultando uma interfer0ncia t!o automátic automáticaa e internal internali$a i$ada da pelo discurso discurso da sociedade, sociedade, impregnada impregnada de uma s%rie s%rie de pr%concep&es e expectativas normativas de atributos (qualidades, padr&es+ que devem ser preenchidos no processo de intera!o, que n!o nos damos conta. Essa caracteri$a!o efetiva, esperada de um indivíduo, % o que podemos chamar de identidade social virtual , ou se#a, o que o indivíduo deve ser, de acordo com as nossas expectativas7 podendo entrar em contraste com o que o indivíduo prova ter como
atributos, ou se#a, a sua identidade social real , que pode servir como referencial exato sobre o seu modo de ser no mundo. 8uando há essa discrep-ncia entre a expectativa estereotipante e a realidade, surge o estigma, acompanhado por sentimentos de descr%dito, repulsa e refer0ncias a atributos depreciativos na linguagem, para evidenciar o seu despre$o pelo diferente, fora dos padr&es. 9ale ressaltar que a contextuali$a!o aqui abordada serve como abordagem teórica do surgimento a posteriori do estigma em pessoas inseridas na sociedade, com a descoberta dos atributos negativos no processo de intera!o entre indivíduos. :om as gangues, o processo #á % mais evidente, pois o descr%dito #á está incutido neles a priori, de forma que os estereótipos consistem em uma verdade estabelecida para a defini!o do caráter desses #ovens, como violentos, desordeiros, e como diria o próprio Goffman, ao falar de comportamento desviante5 “... elas (as pessoas delinqüentes) são percebidas como incapazes de usar as oportunidades disponíveis para o progresso nos vários caminhos aprovados pela sociedade; mostram um desrespeito evidente por seus superiores; faltalhes moralidade; representam defeitos nos esquemas motivacionais da sociedade! (pg.;<<+. =retende'se com a pesquisa, analisar, atrav%s da análise do discurso
social, saber os elementos componentes do protótipo do papel social que % atribuído >s gangues. A partir da defini!o desse primeiro ob#etivo, surgem os primeiros questionamentos5 quais s!o os atributos comuns e estereotipantes a um grupo de gangues no imaginário social6 :omo a sociedade reconhece um #ovem componente de uma gangue6 8ual a sua perspectiva de rea!o6 :omo ela explica que um #ovem prefira integrar'se a uma gangue, a ter que se enquadrar nos meios oferecidos pela sociedade de satisfa!o pessoal (estudo, trabalho, música, dana, etc.+6 8ual o grau de culpabilidade que a sociedade natalense pro#eta enquanto causadores diretos da viol0ncia, enquadrando tal fator como constituinte do estereótipo do adolescente pobre e delinq?ente6 "utra hipótese bastante interessante que o autor tra$ em seu livro % a que discute a percep!o social dos estigmati$ados, com rela!o a indivíduos desviantes e sua rela!o com a sociedade )normal*5 “ "s desviantes (...) ostentam sua recusa em aceitar o
seu lugar e são temporariamente tolerados nessa rebeldia# desde que ela se restrin$a %s fronteiras ecol&gicas de sua comunidade. (...) "s desviantes sociais tamb'm fornecem modelos de vida para os normais inquietos# obtendo não s& a sua simpatia# como tamb'm adeptos! (pg. ;<@+. al abordagem está de acordo com o caráter de delimitante das
fronteiras do tabu (Breud+, decorrente da ambival0ncia dos sentimentos que o tabu tra$, pois apesar do seu caráter impuro, o portador de determinado tabu % diferente dos normais, causando um certo contágio de fascínio e dese#o de transgress!o. =retende'se, tomando como ponto de partida essa análise, observar os discursos sociais com rela!o a invas!o da sociedade pelos delinq?entes7 o perigo de influ0ncia quanto a #ovens sadios7 (ou por outro lado, analisar se a sociedade atribui o estigma da delinqu0ncia > família do adolescente, a qual possui grande )potencial contaminador*+ e o lugar onde eles deveriam estar7 al%m de aspectos como pobre$a, drogas, roubos e outros problemas associados aos #ovens delinq?entes. :om rela!o aos portadores de um estigma, uma diferencia!o % elucidada pelo autor5 os desacreditados, cu#os estigmas s!o conhecidos rapidamente, de forma evidenciada em um primeiro contato, podendo ser descoberto a posteriori ou anteriormente pela dissemina!o de sua informa!o acerca da pessoa a qual % apresentada. As pessoas desacreditadas podem assumir duas posturas diferentes5 incorporar o estigma, assimilando o olhar social na sua imagem de si ou mostrar indiferena e nega!o quanto ao atributo estigmático. Cá os desacreditáveis s!o indivíduos conscientes de seu estigma, mas manipulam informa&es sobre si e seus atributos que comp&em a sua identidade, passando' se, muitas ve$es por pessoas normais, ou s!o aqueles que convivem bem com os normais, pois o seu estigma n!o lhes dá um sentimento de descr%dito t!o forte a ponto de merecer aten!o especial. D interessante notar, para efeito de exemplo, que, no caso das gangues de
!e /uísa, muitos de seus componentes passam uma imagem social de trabalho e honestidade, n!o reconhecida, em um primeiro momento como um delinq?ente, papel esse que % incorporado ao indivíduo durante a noite, #unto com a sua turma;5 em termos de sociedade natalense como um todo, esse indivíduo % um desacreditável, pois manipula, no seu ambiente de trabalho, e nas diferentes rela&es, o seu estigma, fator esse que n!o % mascarado na comunidade onde mora, tornando'se uma pessoa desacreditada. Em =sicologia das assas e Análise do Eu, Breud vai dar toda uma explica!o teórica sobre essa dicotomia que existe entre o homem individual e o homem em massa, que vai deixar fluir, sob essa última condi!o, todas as suas puls&es inconscientes com mais facilidade, pois a sensa!o de onipot0ncia, poder e culpa repartida entre os membros vai desencadear a express!o exaltada de sentimentos de revolta atrav%s da viol0ncia inerente ao ser humano. econhecendo uma pessoa com um determinado estigma, Goffman postula que a sociedade se porta atrav%s de quatro atitudes bastante típicas5 (;+ discrimina!o e preconceito, atrav%s da segrega!o e diminui!o das chances de vida do estigmati$ado, redu$indo as suas chances de vida7 (F+ constru&es, atrav%s de racionali$a!o, de explica&es que d0em suporte ideológico para a percep!o de inferioridade e de perigo eminente que o estigmati$ado pode tra$er, atrav%s, por ex., das diferenas entre classes sociais7 (+ listar diversas imperfei&es a partir do atributo estigmático original7 (H+ atribui!o de um sexto sentido sobrenatural para perceber a realidade, diferente dos normais. 4ovas quest&es surgem a partir daí. A sociedade sabe reconhecer um #ovem componente de uma gangue6 Ierá que os #ovens considerados )normais* ao menos sabem da exist0ncia deles na cidade de 4atal6 Algumas investidas provaram que as pessoas possuem uma total ignor-ncia frente a esses grupos, associando'os geralmente a megalópolis, como io de Caneiro, I!o =aulo, 4ova Jor3. 8uais s!o as atitudes que a sociedade toma frente a eles, considerando o modelo proposto por nosso autor6 E como a própria comunidade de !e /uísa os reconhece6 D importante ressaltar que nesse bairro existem diversos grupos de adolescentes que se unem para determinados fins específicos5 religiosos, comunitários, e outras formas de sublima!o das puls&es, que evitem a sua transgress!o ao tabu da delinqu0ncia (esses grupos foram conceituados como grupos formais+. "utra informa!o interessante % que um componente desses grupos formais pode aderir a uma gangue, e vice'versa, constituindo assim uma flexibilidade de identifica!o e pap%is bastante complexa. " que os #ovens de um grupo formal pensam das gangues6 =or que essa op!o e essa variabilidade6 =retende'se fa$er uma entrevista exploratória, para verificar esses fatores, como tamb%m analisar outros que podem surgir. Ierá escolhido um #ovem que este#a enquadrado na perspectiva social de vida )normal*.
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Essa informa!o foi obtida em uma primeira reuni!o do autor do texto para a defini!o, #untamente com toda a equipe da Kase Iociologia :línica, das primeiras metas de aproxima!o de nossa popula!o'alvo, tendo como ob#etivo central um primeiro reconhecimento da situa!o real. odo o processo teve como facilitador um morador do bairro, conhecido por todos como :hiquinho.