O dIscurso, estrutura ou acontecimento. Helena Cristina Belda
INTRODUÇÃO
Michel Pêcheux, filósofo considerado o criador da análise do discurso em seu livro ”O discurso, da linguagem, por meio dos estrutura ou acontecimento” traz um novo olhar para o estudo da entremeios, nas entrelinhas, buscando a desconstrução e construção objetivando a compreensão de seu objeto o discurso. O autor analisa a relação entre as ciências ciências tidas como estabilizadas e aquelas que dão possibilidades a formulações equívocas , analisando assim a relação entre descrição e interpretação. Seu trabalho é focado em três aspectos : a análise da linguagem diante da estrutura, o acontecimento e a relação existente entre a descrição e a interpretação. A análise do discurso trabalha em contato com o lingüístico e com o histórico. Pêcheux ao abordar a história trabalha a interpretação dos fatos em determinado momento com o real. O autor ao iniciar seu estudo estudo parte de um enunciado “ On a gagné ” grito do povo francês após a eleição presidencial de François Mitterand , partindo de um fato histórico, o acontecimento, que dará origem a um acontecimento discursivo. A partir daí o autor trabalhará seguindo a tradição da AD , a relação entre análise como descrição e como interpretação observando como esses dois procedimentos se constituem no trabalho científico. O enunciado “ on a gagné “ é usado em comparação com outros acontecimentos aqui no caso, os esportivos . Esta analogia ao esporte pode acontecer devido à opacidade da língua que produz outros sentidos,
ou seja,
um mesmo enunciado
pode ter vários
significados em acontecimentos acontecimentos diferentes. diferentes. O pronome indefinido “on” produz diversas interpretações , quem quem ganhou? Ganhou o quê? . O verbo ganhar precisa de um sujeito sujeito que pratique uma ação , sujeito esse provido de vontade, vontade, sentimento e intenção, ou um sujeito desprovido desses atributos , que deixa que o enunciado produza significados diante diante do momento. Neste caso a memória construída se encarrega de trazer à tona as crenças da população, uma parte que acreditava nas possibilidades e outra que não. Diante disto , surge a necessidade necessidade de se estabelecer estabelecer um um discurso discurso determinado que deixa claro que a França encontra-se sob o poder poder da esquerda ou um discurso avesso avesso ao acontecimento tornando-o inexistente como se a vitória da esquerda não fosse importante para o povo francês.
CIÊNCIA, ESTRUTURA E ESCOLÁSTICA. Neste capítulo Pêcheux trata da relação existente entre a ciência , a escolástica e a estrutura. Segundo o autor as ciências ditas naturais utilizavam técnicas em busca de resultados obtidos por meio de instrumentalização dirigida a resultados pretendidos. O autor afirma que dentro destas ciências estabilizadas não cabe o enunciado “ fulano é muito “militar” no civil”, pois, acontecem aí outras interpretações, já que todo falante sabe o que fala e este espaço discursivo é atravessado por uma série de equívocos. Segundo o autor os enunciados estabilizados não aceitam múltiplas interpretações, afirmando a necessidade de estruturas semanticamente corretas tratando da dependência dos objetos no mundo e dos conhecimentos acumulados., Pêcheux baseia-se no método aristotélico de fazer ciência, a escolástica que englobava todos os ramos de estudos e buscava desenvolver categorias que estruturavam a linguagem e o pensamento para fazer delas modelo de toda sistematização. Bem como a questão do estruturalismo, havia a necessidade do estudo da ciência , as relações davam-se em espaços logicamente determinados e por meio da transparência . Com o aparecimento do positivismo, pensou-se em estudar as ciências humanas igualmente se estudava as ciências exatas, homogeneizando o real. Já com o aparecimento do marxismo, que de acordo com Pêcheux sofre um acúmulo com as questões sociais e humanas. Para Pêcheux as ciências da natureza e as ciências exatas são logicamente estabilizadas, porém, as humanas fogem a esta estabilidade, embora as estruturas se mantenham. Pêcheux afirma que um mesmo objeto não pode estar ao mesmo tempo em dois lugares diferentes, não podem ser relacionados a propriedades diferentes e tampouco um acontecimento pode ser e não ser ao mesmo tempo.Para o autor já que os enunciados só podem ter um significado, surge então a necessidade de se criar um mundo semanticamente normatizado, onde os objetos do mundo sejam distintamente separados.
LER, DESCREVER, INTERPRETAR. O estruturalismo foi uma corrente de pensadores que surgiu na década de 60 apesar da resistência do existencialismo e do marxismo. Nesta época os estudos lingüísticos seguiam as
teorias de Saussure, que passaram a ser questionadas. Neste capítulo Pêcheux fala de um “real” próprio de cada disciplina de interpretação, lógico e estabilizado que transformava os
discursos não-estáveis como os da ciências humanas. Tais discursos abriam possibilidades de interpretação na tentativa de análise da estrutura e do acontecimento, produzindo assim novas práticas de leitura entendendo que todo fato já é uma interpretação. A tríplice aliança Mars- Freud – Saussure trouxe um novo olhar com a promessa de uma revolução cultural, colocando em xeque o bio-social. O autor afirma que não se pode separar a descrição da interpretação, diferente dos estruturalistas que descreviam as formas deixando de lado a interpretação, abordando a materialidade e ignorando a história. Pêcheux afirma que descrever é inseparável de interpretar, ao descrever corremos o risco do equívoco já que todo enunciado é passível de deslizes de sentido de acordo com a formação discursiva e efeito ideológico, portanto, um enunciado pode querer dizer o que é real ou não. É importante dizer que Pêcheux considera discurso o efeito de sentido que este pode causar entre os interlocutores. Toda descrição acarreta uma interpretação de fatos que é feita por sujeitos que se incluem em grupos sociais e utilizam a memória que produzirá novas significações. Há sempre a possibilidade de se interpretar o discurso outro, como espaço virtual de leitura de tal enunciado ou de uma sequência deles. Não há como analisar um discurso sem que se considere sua estrutura e acontecimento ao qual ele se origina sem que haja separação entre descrição e interpretação já que todo discurso se dá na opacidade da língua.
PÊCHEUX, M.
estrutura ou acontecimento. 2ª edição. Campinas, SP: Pontes
Editores, 1997, 68 páginas.