Universidade Federal de São João del-Rei Curso de Comunicação Social - Jornalismo Pesquisa em Comunicação e Jornalismo - 2017/1 Aluna: Andreza Andreza Maria de Cácia Cácia Resenha para base do TCC. PERUZZO, Cicilia M. Krohling. Mídia regional e l ocal: aspectos conceituais e tendências. Comunicação tendências. Comunicação & Sociedade. São Bernardo do Campo: Póscom-Umesp, a. 26, n. 43, p. 67-84, 1o. sem. 2005.
O conceito de comunicação regional e local é um dos segmentos existentes no ramo jornalístico. Algumas vezes é tratado como inferior às grandes empresas de comunicação, comunicação, mas sem ele essas empresas não teriam a repercussão que têm. Cicília Peruzzo dedica parte de seus estudos ao entendimento dessa comunicação, dita como local e comunitária. Em “Mídia regional e local: aspectos conceituais e tendências” (2005) a autora discorre sobre o histórico desse segmento da comunicação, cita as especificidades existentes na questão local/regional/comunitária e analisa as formas do fazer jornalísticos fora dos grandes centros. Para a autora, a comunicação local é pioneira. “Mídia local existe desde que surgiram os meios de comunicação de massa” (p.69). Isso diz respeito ao s fatos cotidianos das cidades, no interior, no mundo. As sociedades precisam se comunicar, e com isso surgem formas de interação social, de comunicação. A comunicação local está diretamente ligada à movimentos sociais, feita de forma mais “informal”. Os estudos sobre comunicação local e regional são recentes. Na Europa, por exemplo, os primeiros estudos são de 1980 e 1990. Já no Brasil, interesse pela área surge no final de 1990. Há,
segundo
Peruzzo,
contextos
e
importâncias
necessárias
para
que
a
comunicação local e regional exista. Ela cita, na Europa, (p.70) casos de comunidades que desenvolveram suas próprias forma de se comunicar a partir de suas especificidades. No Brasil, “a centralização da produção de mensagens nos grandes a centralização da produção produção de mensagens nos grandes” é uma herança da ditadura militar, que alavancou a vinda da TV para o país, assim como a popularização do rádio” (p.71). A chegada do radio e a televisão possibilitaram que as comunidades comunidades soubessem o que acontecia. Com a capacidade de chegar a longas distâncias, os dois meios poderiam levar acontecimentos de uma comunidade à outras, diferente dos jornais impressos, que muitas vezes se limitavam à apenas a comunidade que pertencia. Com a televisão, o “videoteipe permitiu a circulação circ ulação de fitas gravadas e a transmissão de programas em nível nacional” (p.70). Isso identificou o início das transmissões nacionais, apesar de que o conceito só chegou em “1969, com a instalação da rede de microondas da Empresa Brasileira de Telecomunicações Telecomunicações (Embratel)” (p.70).
A globalização é um dos fatores para os quais essas redes nacionais existirem. Com a economia sendo globalizada, “popular”, pensou -se que a comunicação local fosse ser extinta, e logo depois esse local foi muito valorizado, sendo enaltecido em programas de afiliadas das grandes empresas. As produções locais e regionais, de acordo com autora, nunca estiveram ausentes, o problema é o pouco espaço que é oferecido para sua circulação, principalmente na TV. “A Rede Globo, por exemplo, tem duas e meia horas diárias de noticiários locais (...), além de uns poucos horários aos sábados e domingos” (p.71). Nos grandes jornais impressos, de circulação nacional, Peruzzo percebe que algumas notícias apresentadas são de cunho local, pois se tratam das cidades onde os jornais possuem sua sede, além, também, dos anúncios publicitários, que fazem parte de uma região a qual o jornal está presente. A utilização de anúncios nos jornais fez com que a grande mídia se interessasse pela comunicação local e regional, visando o comércio dessas localidades, que carece de divulgação de seus produtos. Unindo o interesse econômico e necessidade de propagação da informação local e regional, empresas de comunicação se alocaram em cidades interioranas a fim de aumentar a circulação de informação e anúncios, dando, de certa forma, voz às comunidades. Peruzzo cita as Empresas Pioneiras de Televisão (EPTV) e a TV Tem, em São Paulo, como duas precursoras da regionalização da informação no interior dos estados de Minas Ger ais e São Paulo. As duas empresas “gradualmente vêm ampliando suas áreas de coberturas, chegando a atingir atualmente 1, juntas, cerca de 717 municípios. (p.71-72). A circulação de programas regionais não são tão massificados por questões de linha editorial das empresas de comunicação e, também, pelo curto tempo que as emissoras disponibilizam para que os conteúdos sejam exibidos. Além disso, os horários disponíveis não favorecem a audiência dos programas, o enquadramento aos padrões nacionais modalidades de discursos, expressão -, interferem na maneira que eles serão produzidos. A comunicação está sempre se atualizando, de acordo com a modernidade e as sociedades. O local e o regional ganharam mais espaço a nível nacional na década de 1990, possibilitando que novos estudos sobre o assunto pudessem ser desenvolvidos, gerando trabalhos no Brasil e América Latina. Para Peruzzo, ainda existem diversas perguntas a serem respondidas, “já que a mídia local ainda está se autoconstruindo” (p.73). A autora afirma qu e a mídia local e regional possuem seus aspectos peculiares, que podem auxiliar na identificação de cada tipo. Ela recorre à Alain Bourdin (2001) para falar sobre o conceito de fronteiras, argumentando que na comunicação esse aspecto é uma linha muito fina, pois a circulação 1
O número de municípios apresentados no artigo refere-se ao ano de 2005. Não foi pesquisado outro dado para 2017.
de informação local pode ser de interesse da região daquela localidade, e até mesmo a nível nacional, dependendo do assunto tratado na notícia. Há ainda o conceito de território, explicado pela autora. Para ela, as bases conceituais pod em ser diversas: “para lá das dimensões geográficas surge um novo tipo de território, que pode ser de base cultural, ideológica, idiomática, de circulação da informação, etc” (p.73). Ela se refere às características que determinados locais possuem, que se parecem uns com os outros. A globalização também tem papel fundamental na questão debatida por Peruzzo, um vez que a difusão de informação não está somente direcionada a um lugar, e sim impulsionada para diferentes público. Com o conceito da globalização, muitos estudiosos consideravam que as especificidades das sociedades e suas culturas seriam sufocadas, mas constatou-se o contrário, uma vez que o “local e o global fazem parte de um mesmo processo”(p.73). Segundo a autora, a mídia regional “se ancora na i nformação gerada dentro do território de pertença e de identidade de uma dada localidade ou região” (p.74). Contudo, o conteúdo informacional varia de acordo com o que a linha editorial do veículo dita. Isso quer dizer que por mais que as informações ali estejam “certas” a nível local/regional, a sombra do molde nacional estará sempre presente. Há uma constante preocupação em estar de acordo com o que a mídia nacional faz, para que o poder identitário e político-econômico exercido pela empresa não fique esquecido. Sendo assim, aquele veículo regional é mais uma “estratégia de ampliação de mercado do que por vocação regional” (p. 75). Em jornalismo, estar próximo do que será noticiado muitas vezes é bom, pois podese estar confirmando o fato. Mas a proximidade não é estar sempre perto, em medidas. O conceito de proximidade discutido no artigo é apoiado nas ideias de diversos autores. Peruzzo (p.75) explica que “quando se trata de mídia local e regional, ela se refere aos laços originados pela familiaridade e pela singularidade de uma determinada região”. A autora ressalta que, para além da comunicação privada, existem caminhos que não visam o lucro, e sim as comunidades. A comunicação comunitária tem suas próprias significações e especificidades. Nela, o protagonista da comunicação é o povo: é para ele que é feito todo o trabalho. ONG’s, doações, voluntariado são os combustíveis desses serviços, que muitas vezes têm uma equipe de funcionários pagos bem reduzida, para conseguirem manter a instituição em funcionamento. De acordo com Peruzzo, a informação que circula nesses veículos são aquelas que “encontram pouco ou nenhum espaço na grande mídia” (p.76), dando enfoque em questões que tenham relação com a comunidade a qual está inserida. A TV a cabo também foi, em 1996, uma oportunidade de levar os programas locais e regionais ao público. Sem precisar seguir uma linha editorial ou se encaixar nos modelos
nacionais de grandes empresas televisivas, os programas podem fortalecer os laços das comunidades e praticar “o exercício da cidadania a partir dos próprios cidadãos” (p.76). Os meios de comunicação locais e regionais podem, segundo a autora, levar a informação de uma forma mais pura, sem deturpações. As pessoas conseguem acompanhar as informações de forma direta e objetiva. Porém, assim como os grandes veículos, existem forças que interferem em questões de interesse político-econômico dos próprios proprietários. Assim como na mídia nacional, o jornalismo local e regional também enfrenta problemas que podem comprometer a qualidade das informações, como a manipulação de dados, ou
apresentação de somente uma parte interessada em
determinado assunto, dando um lado, somente, da história. Peruzzo cita, ainda, duas autoras que analisam jornais de diferentes localidades no Brasil para discorrer sobre o tratamento das fontes, a apuração das pautas, além do trabalho realizado em assessorias. Em pequenas redações, a reprodução de press releases é muito comum, devido à falta de mão-de-obra, além do pouco tempo para a apuração do que foi encaminhado à redação. A prioridade dada às fontes oficiais, para a autora, além das ligações políticas que os veículos de comunicação têm “vêm comprometendo a qualidade das informações em jornais de capitais e cidades do interior” (p.81). Analisando a estrutura dos pequenos jornais, percebe-se que eles possuem poucos recursos e pessoal preparado para o fazer jornalístico. Peruzzo afirma que se basear somente em fontes oficiais, “o jornalismo local deixa de explorar seu imenso potencial de trabalhar com a informação isenta e atender a todos os setores que perfilam a vida de uma “comunidade”” (p.81). Com isso, a relação de proximidade pode estar comprometida, uma vez que a informação não foi bem apurada, tendo sequelas em questões como identificação com o público, o pertencimento, e outros tanto fatores que constroem o sentido de local e regional. A autora alerta para o vício que a mídia local pode ter: tentar imitar os grandes veículos nacionais, falar sobre assuntos a nível nacional e internacional de maneira pretensiosa, ou até mesmo seguir um padrão imposto - nas TV’s, principalmente. Os veículos tendem , segundo Peruzzo, a fazer esse tipo de coisa para não bater de frente com seus interesses. Os assuntos (´política, economia, esportes, e outros modelos) que são tratados nos jornais, muitas vezes, viram um padrão seguido em todo o país. Querendo, ou não, isso já está enraizado nas redações, até mesmo nas salas de aula de universidades de comunicação. De acordo com a autora, a mídia interiorana segue o mesmo molde das capitais, “a diferença é que sua ocorrência é regional, ou local’ (p.82) e não nacional/internacional.
Não se pode cometer o equívoco de pensar que os grandes jornais não possuem um lado local/regional. De certa forma, eles tratam de assuntos ocorridos em suas cidadessede, como problemas urbanos, de trânsito, culturais. Os jornais de bairro, de acordo com autora, muitas vezes não cumprem o papel de informar, e sim de vender anúncios publicitários. Peruzzo lembra da existência de outras alternativas que não citadas no decorrer do artigo, como os canais universitários, do legislativo-j udiciário, comunitários… todos exercem o papel do “desenvolvimento comunitário e em prol da comunidade” (p.83). A autora conclui que as comunidades locais e regionais têm uma demanda muito forte em relação à difusão de informações que circundam suas relações. As pessoas dessas localidades querem se ver como fonte de informação, querem ser notícia. A mídia, por sua vez, quer ocupar esses espaços, mas depende dos interesses políticos e econômicos, que muitas vezes comprometem a essência da informação de qualidade, com isenção. O jornalismo independente seria uma saída para que os poderes políticos e econômicos não sejam tão fortes, porém, ainda existem ideologias por trás de todas essas questões, que podem contribuir para a informação de qualidade existir, mas a proximidade com as fontes pode ser maior neste caso.