MACLEOD. Murdo J. Aspectos da economia interna da América Espanhola Colonial: mão de obra; tributação; distribuição e troca. In: BETHELL, Leslie (org.) História da América Latina: América Latina Colonial, Volume 2. São Paulo: Edusp; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 1999. A economia interna na América colonial
Paulo Felipe Ferreira Tavares O propósito desta breve resenha é analisar as ideias expostas pelo historiador estadunidense(de origem escocesa) Murdo J. Macleod acerca da economia interna na América Latina Colonial. Doutor em História da América Latina pela Universidade da Flórida e professor emérito da mesma, Macleod propõe uma visão focada na autonomia das colônias americanas, tentando sair do esquema predominante até então nos estudos de história econômica na América Latina. Observar tais colônias como meras fornecedoras de matéria prima para a metrópole significa ignorar um intenso e muitas vezes autonomo movimento economico interno na América. Apesar de existir em grande escala, o comércio externo não era o único a predominar e é isso que torna o trabalho de Macleod extremamente relevante para a revitalizar a historiografia economica. Ao analisar os aspectos econômicos de uma sociedade, há em diversos momentos a necessidade de integrar esta perspectiva às diferentes dimensões, sejam elas sociais, culturais, políticas. Macleod define claramente a existência de diversos tipos de abordagens dos conquistadores. “Em sociedades estratificadas complexas, os invasores encontraram condições existentes de escravidão, servidão e mão-de-obra mão-de- obra “amarrada”. Em muitos desses casos, eles apenas removeram o vértice da pirâmide social e depois governaram por intermédio mais ou menos dos mesmos sistemas de trabalhos [...] Naquelas regiões onde a organização social era menos avançada e estratificada [...] os grupos conquistadores encontraram uma mão de obra muito mais difícil de empregar de maneira sistemática.” Portanto, a heterogeneidade dos povos nativos é um fato evidente e a forma dos conquistadores de lidar com estes povos não poderia ser de forma única, isto é, a própria natureza social, cultural e política destes povos influenciou o modo como a mão-de-obra seria utilizada e consequentemente os rumos econômicos das determinadas re giões. As relações de trabalho eram variadas, não se resumiam às Encomiendas, Encomiendas, apesar das mesmas estarem bastante presentes. E mesmo estas não existiam de forma homogênea, sendo alguns encomienderos bem encomienderos bem sucedidos, conseguindo adquirir grandes fortunas enquanto outros foram levados à falência. Os repartimientos foram outra forma de trabalho importantíssima
nas colônias. Os nativos eram deslocados para diferentes regiões para trabalharem por determinado período e função, de acordo com as necessidades dos espanhóis. Com o declínio populacional afetando severamente as Encomiendas, estas foram pouco a pouco sendo substituídas pelos repartimientos. Eram neles que se baseavam não só o trabalho nas minas como também a construção e manutenção de edifícios públicos, aquedutos e diversos outros trabalhos “compulsórios”. Existiam também em algumas regiões - principalmente fora da área central - os trabalhadores livres sob contrato, que trabalhavam em sua maioria, a mineração. A peonaje - que durante muito tempo esteve relacionada ao trabalho forçado por endividamento – ganhou nova conotação com o revisionismo da historiografia da América Latina. Talvez o tipo mais comum de peonaje tenha sido o aluguel de pequenos pedaços de terra das grandes propriedades por camponeses que pagavam uma renda ao grande proprietário, às vezes uma parcela da produção. A presença de escravos negros foi sendo cada vez mais necessária à medida que a população indígena diminuía. Macleod chama a atenção para a errônea e simplista análise de que a escravidão negra foi unicamente braçal, argumentando que muitos se tornaram escravos domésticos, foram alforriados ou exerciam funções específicas de acordo com suas habilidades e especificidades culturais. A série de tributações às quais os nativos estavam submetidos começou desde cedo e influenciou bastante a economia interna, já que por exemplo, alguns tributos eram em moedas e isso fazia com que os nativos vendessem seus produtos para adquirir o metal. Outra consequência relevante foi a criação dos nativos chamada Caja de la comunidad que era responsável pela elaboração de projetos locais, pelas finanças de determinadas vilas, etc. A comercialização e troca de produtos entre as colônias americanas era intensa, haviam as três grandes feiras comerciais – Jalapa, Portobelo e Veracruz – uma variedade de produtos: manufaturados, produtos alimentícios básicos e as grandes cidades eram centros comerciais muito ativos. As “autoridades das cidades” e os governos vice-reais buscavam exercer uma fiscalização e controle sobre a distribuição desses produtos, criando e vendendo monopólios. Macleod nos mostra que as colônias possuíam certo grau de autonomia econômica em relação à Coroa mesmo que estivesse sempre sujeito às tentativas de controle e fiscalização da mesma. O comércio interno não só existia, como era intenso e fundamental para a sobrevivência das colônias que estavam longe de ser apenas uma fonte da qual a Metrópole sugava indiscriminadamente e sim um organismo vivo e autossustentável, que mesmo frequentemente em crise e submetido à leis da Coroa, sobreviveu até a independência de forma estável o suficiente.