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JOSÉ ARISTIDES DA SILVA GAMITO (ORG.)
PEQUENO MANUAL DE GRAMÁTICA E VOCABULÁRIO DA LÍNGUA PURI
CONCEIÇÃO DE IPANEMA – MG MG 2016
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DADOS PARA CITAÇÃO BIBLIOGRÁFICA: GAMITO, José Aristides da Silva. Pequeno Manual de Gramática e
Vocabulário da Língua Puri. Conceição de Ipanema: Edição Digital, 2016.
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SUMÁRIO
Introdução .......................................................... ..........................................................................5 ................5 Capítulo I: Os elementos gramaticais da língua puri ............6 Capítulo II: A reconstituição gramatical e léxica ................12 Vocabulário Português-Puri ...............................................18
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INTRODUÇÃO A língua puri é um língua indígena extinta do tronco macro-jê e com escassa documentação, falada pelos puris, um grupo indígena homônimo que habitava no século XIX os estados brasileiros do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Sudeste de Minas Gerais. A língua puri era falada nos vales do Itabapoana, médio Paraíba do Sul e nas serras da Mantiqueira e das Frecheiras, entre os rios Pomba e Muriaé. Dividia-se em três sub-grupos: sabonan, uambori e xamixuna. A sua extinção se deu no século XVIII. Existem vocabulários, porém, não há textos documentados para que se possa conhecer sua gramática. No texto presente organizo algum material encontrado sobre o puri numa tentativa rudimentar de deduções seus princípios gramaticais. A principal fonte de documentação do puri encontra-se atualmente perdida. Diz-se de um catecismo bilíngue elaborado pelo padre Francisco das Chagas Lima (1757- 1832) que catequizou esses índios quando foi pároco de Queluz, na divisa entre os estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Tem-se a notícia de tal documentação através de seu sucessor padre Manuel Eufrázio de Oliveira. Este mencionou a existência do catecismo puri e o teria enviando ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Portanto, o conhecimento dessa língua ficou prejudicado pela falta de documentação. Restam apenas algumas listas de palavras. Karl Friedrich Philipp von Martius e Wilhelm Ludwig Von Eschwege coletaram palavras de línguas da família puri. Uma das listas é do próprio puri. Em 1885, o engenheiro Alberto de Noronha Torrezão ouviu dois remanescentes dos puris, Manoel José Pereira e Antônio Francisco Pereira, e anotou algumas palavras da língua, uma amostra escassa, mas valiosa dessa língua desconhecida: Em 1889, foi publicado o Vocabulário Puri, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. As palavras colhidas por esse engenheiro em Abre Campo é um dos poucos registros de como os puris falavam.
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CAPÍTULO I OS ELEMENTOS GRAMATICAIS DA LÍNGUA PURI 1.1. Ortografia de Loukotka A ortografia adota neste trabalho é calcada na reconstituição feita por Loukotka (1937) para fonologia puri. Portanto, é aproximativa, não possui exatidão. Procurei segui-la neste trabalho com leves alterações:
Vogais: a, á, e, é, i, í, o, ó, ö, u, ü. Consoantes: b, tx, dj, g, h, k, l, m, n, ñ, ng, p, r, t, th, ts, v, x, y. O autor acha provável que o acento tônico recai sobre a penúltima sílaba e em certos casos sobre a última. A letra l soaria como o ll espanhol (lh). O th seria aspirado. O dj considero sua pronúncia como o j inglês e o h aspirado. Usaremos o y e w para representar as semivogais i e u em situações que supomos que existissem.
1.2. Sintaxe Ao analisarmos as escassas frases existentes da língua puri, percebemos a seguinte ordem na construção das frases: Sujeito + objeto + verbo. Exemplos: – Acenda Acenda o fogo! (Objeto + verbo). Poté kandu – – O O fogo apagou. (Sujeito + verbo). Poté ndran – – Quebro Quebro a cabeça com um pau (Objeto +sujeito + verbo). Gué á mopo – Quero beber cachaça (Sujeito + objeto + verbo). Ah kandjana muya – – Quero Vá buscar água para eu beber. (Objeto + verbo). Ñaman muya mambaba – – Vá
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a) O verbo aparece muito no final da frase. b) Quando se qualifica um substantivo, o adjetivo fica depois do verbo. Ex.: pexora hé saima - a lua é clara (Coroado). c) Os pronomes acompanham os verbos. Ex.: á rumbáo - eu bebo (puri). d) A relação genitiva é posta na ordem possuidor + objeto possuído. Exemplo: – Carro Carro de boi. Tapira pé – boi / pé – carro (ou idéia equivalente). Tapira – boi – carro e) O adjetivo segue o substantivo - muñaná prétón (água (água quente). - puri. f)
Observe as construções das frases nesses exemplos coletados por
Torrezão (1889): (1889): Acenda o fogo - poté kandu. Água está fervendo - muñãmá prétôn. Cala a boca - kandl'ô. Eu fui-me embora - Á mámûm Eu moro aqui - Á leká! Fogo apagou - poté ndran. O tempo está ruim – ruim – opwêráxka. Quebro-te a cabeça com um pau - gwê á mopô! Quero beber cachaça - Á kandjana muyá (Á kandjana rumbáo). Vá-se embora - má-ndom' Vou-me embora - Á ndômo!
1.3. Gênero Conforme Loukotka (1937) observa, o gênero na família linguística se fazia provavelmente pelo acréscimo de palavras como bué (fêmea) e kuéne (macho). Estes termos são observados na língua coroado: veado (fêmea). Tapira-kuéna – touro. – veado – touro. Yarumené-bué –
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1.4. Os Pronomes Pessoais Eu – Á, ga.
pañiké - na língua coroado Nós – pañiké
teké, dié. Você – teké,
Vós – tiké-teka - na língua coroado
magikana. Ele – magikana.
eles. Ya – eles.
Da língua puri, encontramos registro de apenas um pronome possessivo:
Meu - á, ei. 1.5. Os Pronomes Demonstrativos Não há registros na língua puri, o mais próximo que encontramos são da língua coroado, como relacionou Loutkotka (1937):
Aquele - tehon.
Aqueles - nowa-hon.
Aquela - pandi háu ná.
Este aqui - imahan.
1.6. Os Adjetivos Quantitativos Exemplos encontrados somente na língua coroado:
Todo - erekéma. Nenhum - kondé-hi. 1.7. Os Adjetivos Numerais A maior parte dos registros é da língua coroado:
1 - Omi.
5 - Xaprétxi (Coroado).
2 - Kuriri.
7 - Popauán (Coroado).
3 - Pátapakon (Coroado).
10 - Xaperé day (Coroado).
4 - Patapante (Coroado).
11 - Paúan (Coroado).
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1.8. Os Advérbios miti. Hoje – miti.
grana (Coroado). Lá – grana
oerá. Amanhã – oerá.
kré (Coroado). Um pouco – kré
txari (Coroado). Ontem – txari
tá. Sim – tá.
kará (Coroado). Aqui – kará
ne; kon. Não – ne;
1.9. Os Verbos Ser: Eu sou: Hon ; Tu és: gahé; Ele é: hi, hé . (Coroado).
Ter: Eu tenho: papa (Koropó); (Koropó); Tu tens - pa, para (Coroado); (Coroado); Ele tem - páma (Coroado). (Coroado). Segundo Loukotka (1937), parece que ti é utilizado para fazer perguntas. Em puri, existia a partícula ne para as frases negativas. Ménétriès registrou duas expressões que contém ne: Ga né – – Eu Eu não; Ga ne Eu não entendo o que é (LEMOS, 2012). kogá ta ká – Eu
Kon como uma partícula negativa também. Ménétriès registra bom como brittá e e mau como brittá kon (não (não bom); quente como brittu e e frio como (não frio). E aparece na expressão negativa djere u kon . brittu kon (não Relação de verbos puri:
Achar – yá. yá.
Beber – tx’ – tx’ mbá. mbá.
Amar – tamathí. tamathí.
Cair – duthána. duthána.
Andar – kehmún.
Cantar – ndlóno. ndlóno.
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kómau. Chamar – kómau.
koyá Falar – koyá
ñamaku-ú. Chover – ñamaku-ú.
poté gatxin. Acender – poté
maxé. Comer – maxé.
mpá. Beber – mpá.
kambóna. Conversar – kambóna.
yamantá mbá. Mamar – yamantá
kosebundana. Dançar – kosebundana.
tximurun. Morder – tximurun.
tara (dormir). Deitar – tara
1.10. As posposições Fora - má. Além - toxéta (Coroado). Dentro - dáern (Coroado). Antes - andó (Coroado) 1.11. Relação de sufixos Foram observados os seguintes sufixos no coroado:
- MA: Sentido pejorativo - Coroado. Paralítico - darra pé -ma. - alegria. - TEN: Significa bom. Coroado. retikani-ten -
- KON: Significa não. Puri. Faz uma função de sufixo privativo. Brittá kon – mau (não bom).
1.12. Textos Puris Segue texto de uma canção puri anotada por Edouard Ménétriés (LEMOS, 2012):
Bora tu hé, amnó marú hé, O gavião arrancou da árvore a madeira,
Agna ambó té marú xé, O gavião serve da madeira para comer,
Romanu tu hé romanu alau gwé hé. Arranca as batatas com a madeira.
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Na internet, encontra-se disponível em áudio uma canção puri (https://www.youtube.com/watch?v=d7r1s7Kbm7Q https://www.youtube.com/watch?v=d7r1s7Kbm7Q)):
Ho hu búguri / i tanaji / Gua xantiê xantiê guaxantiê Os botocudos foram vencidos
Há há kanjana /Ma txinebá Quero comer, beber e dançar
REFERÊNCIAS LOUKOTKA, Čestmír. La familia linguística coroado . In: Journal de la Société des Américanistes. Tome 29 n°1, 1937. pp.157-214. NETO, Ambrósio Pereira da. Revisão da classificação da família linguística puri . Brasília, 2007. RAMIREZ, Henri; VEGINI, Valdir e FRANÇA, Maria Cristina Victorino. Koropó, puri, kamakã e outras línguas do Leste brasileiro: revisão e proposta de nova classificação. LIAMES 15(2): 233-277 - Campinas, Jul./Dez. – Jul./Dez. – 2015. 2015.
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CAPÍTULO II A RECONSTITUIÇÃO GRAMATICAL E LÉXICA DA LÍNGUA PURI 2.1. O problema da revitalização da língua As informações léxicas e gramaticais do puri são tão escassas que tornam uma proposta de utilização dessa língua quase nula. Porém, seria possível revitalizá-la somente através de empréstimos e comparações tomando como referência as demais línguas da família ou de outras do tronco macro-jê que sejam próximas. As línguas próximas poderiam se tornar fontes de palavras não registradas da língua puri, principalmente, do coroado. Exemplo: Igreja
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tupan guára (Composição lexical com palavras puris tomando uma palavra coroado como referência). Conforme mostrou Loukotka (1937), a família puri tem afinidades com as línguas maxakali, krenak, kaingang. Para reconstituirmos a língua puri, poderíamos estabelecer como fonte para termos e estruturas não registradas essas línguas. Portanto, poderíamos redigir textos hipotéticos preenchendo as lacunas com empréstimos. Como resultado nós não teríamos um texto genuinamente puri, mas teríamos o espírito puri compartilhado com os parentes jês.
2.2. Critérios e convenções para revitalização da língua Empregamos o termo revitalização, porém, um caso puri vai além de voltar a usar a língua. Para revitalizar esse idioma seria necessário reconstituir e criar parte de sua estrutura gramatical, de seu léxico que não foram registradas. Seguem convenções necessárias para a utilização de uma língua neopuri”: “neopuri”
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a) É preciso estabelecer uma ortografia simplificada e mais próxima dos brasileiros. A escrita utilizada pelos anotadores dos vocabulários puris é imprecisa e inconstante. b) Com base no trabalho de Loukotka (1937), estabeleceríamos a seguinte ordem para matrizes de termos para empréstimos: 1ª Coroado; 2ª Koropó; 3ª Maxacali; 4ª Krenak; 5ª Kaingang. c) A língua coroado por ter uma relação dialetal com o puri seria fonte principal de empréstimos para reconstituir a fala puri. d) A conjugação verbal seria realizada utilizando os pronomes pessoais para designar o sentido número-pessoal. O tempo pode ser determinado por advérbios. Exemplo de reconstituição/simulação do verbo falar:
Eu falo: Á koyá. Tu falas: Teké koyá.
Nós falamos: Pañiké koyá. Vós falais: Tiké-teka koyá .
Ele fala: Man koyá.
Eles falam: Ya koyá.
O passado poderia ser feito com o auxílio do advérbio coroado txari (ontem) – (ontem) – Á txari koyá (eu falei). E o futuro com o auxílio de oerá (amanhã) – (amanhã) – (eu falarei). Quanto à necessidade de determinar se é ele ou ela, Á oerá koyá (eu poderíamos recorrer à seguinte construção: Mangikana-bué (ela) e ya-bué (elas). O termo coroado bué significa “fêmea”. “fêmea”. A partícula ga parece fazer parte do imperativo. e) Podemos determinar o gênero com kuéna (macho) e bué (fêmea) que são termos coroados determinantes de gênero. A outra opção seria utilizar os próprios termos puris kuema e e boema . f) O número poderia ser determinado pela palavra prika (muito) (muito) como sufixo ou simplesmente posto como adjetivo. Muitos bois – bois – tapira-prika . g) A partícula ti poderá poderá ser utilizada para perguntar, dar ênfase à questão. E o advérbio ne ou kon (não) será utilizada para construir frases negativas. h) Os numerais podem ser compostos por combinações como ocorreu na língua guarani paraguaio, partindo, dos registros puri que são satisfatórios. i) Para os pronomes possessivos poderíamos utilizar o sufixo koropó –
yuñún. Por exemplo, dié-yuñún – teu; mangikana-yuñún – seu.
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2.3. Proposta de preenchimento das lacunas da gramática puri 2.3.1.
Substantivo
(macho) e bué (fêmea) que Gênero. Podemos determinar o gênero com kuéna (macho) são termos coroados determinantes de gênero. (muito) como Número. O número poderia ser determinado pela palavra prika (muito) sufixo ou simplesmente posto como adjetivo. Muitos bois – bois – tapira-prika .
2.3.2.
Adjetivos
O adjetivo segue o substantivo. Essa estruturação pode ser verificar tanto em puri quanto em coroado.
3. Verbos Conjugação. A conjugação verbal seria realizada utilizando os pronomes pessoais para designar o sentido número-pessoal. O tempo pode ser determinado por advérbios.
Tempo. O passado poderia ser feito com o auxílio do advérbio coroado txari (ontem) – (ontem) – Á txari koyá (eu falei). E o futuro com o auxílio de oerá (amanhã) – (amanhã) – (eu falarei). Quanto à necessidade de determinar se é ele ou ela, Á oerá koyá (eu poderíamos recorrer à seguinte construção: Mangikana-bué (ela) e ya-bué (elas). O termo coroado bué significa “fêmea”. A partícula ga parece fazer parte do imperativo. PRESENTE
PRETÉRITO
Eu falo: Á koyá.
Eu falo: Á txari koyá.
Tu falas: Teké koyá.
Tu falas: Teké txari koyá. Ele fala: Man txari koyá. Nós falamos: Pañiké txari koyá. Vós falais: Tiké-teka
Ele fala: Man koyá. Nós falamos: Pañiké koyá. Vós falais: Tiké-teka
FUTURO
Eu falo: Á oerá koyá. Tu falas: Teké oerá koyá. Ele fala: Man oerá koyá. Nós falamos: Pañiké oerá koyá. Vós falais: Tiké-
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koyá . Eles falam: Yá koyá.
txari koyá . teka oerá koyá . Eles falam: Yá txari Eles falam: Yá oerá koyá. koyá.
4. Pronomes teké, dié. Ele – man; man; magikana. Nós Pronomes Pessoais. Eu – Á, ga. Você – teké, – pañiké - na língua coroado (ESCH., 2002). Vós – tiké-teka - na língua
coroado (ESCH., 2002). Ya – eles eles (MÉN.,).
Pronomes Possessivos. Meu - á, ei. Teu – Teu – nen-yuñun; nen-yuñun; dele - Nosso- Vosso Deles. ya-moeni; Quem - ; onde – na; na; por que – Pronomes interrogativos. Que – ya-moeni; putep tu; quando – ham ham um han; quantos – xiñi. xiñi.
Pronomes demonstrativos. Aquele - tehon. Aquela - pandi háu ná. imahan. Aqueles - nowa-hon. Este aqui – imahan. Ninguém – kondé-hi. kondé-hi. Pronomes indefinidos. Ninguém –
5. Advérbios Advérbios nativos. Hoje – miti. Amanhã – oerá. Ontem – txari. Sim – tá. djere u kon. Não – djere
Advérbios de empréstimos coroados. Aqui – kará. Lá – grana. Ali – ká grana. Um pouco – kré. kré. Muito – Muito – prika. prika. Sempre – Sempre – pahin-há. pahin-há. Já – a; a; Advérbios de empréstimos maxacali . Já –
6. Posposições a) Posposições nativas. Dentro – kxé. kxé. b) Posposições de empréstimos coroados: Abaixo – naxeira; naxeira; fora – andara; andara; uera-vé; desde antes – andjó; atrás – nanguira; diante – merixó; detrás – uera-vé; iné; em – dáern, dáern, day. Longe – kuipa. kuipa. então – iné; c) Posposições de empréstimos maxacalis: E - ha; com - muntik; de - há;
depois - tehomi; em cima - pepi; perante – keppa; em volta – yimap; no kote; para, por – tu; tu; perto de – yimka. yimka. meio – kote;
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7. Conjunções a) Conjunções de empréstimos maxacalis. Até - monktu; então - kopxii; mas - pa; para que - pu; por isso - iñi; porque - tu; talvez - panhan; segundo – segundo – hino. hino.
8. Formação de neologismos Os neologismos podem utilizar a natureza gramatical do puri e do coroado para expressar ideias não existentes ou não registradas na língua. Exemplo: Musgo se dizia em coroado ambó gwé (literalmente, “cabelo de madeira”). Isso demonstra como se formava a relação genitiva e como se expressava termos novos por composição de elementos pré-existentes.
2.4. Exercício de criação de neologismos ou adaptação de empréstimos Among: sanfona. (Empréstimo do maxacali). Axok: açúcar. (Origem maxacali / adaptação fonética do português). Bondayayankué: carro. (Baseado no Max. miptutmõg – – madeira madeira mãe ir). Gahap: garrafa. (Origem maxacali / adaptação fonética do português). Gohet: governo. (Origem maxacali / adaptação fonética do português). palavras”, base coroado). Kuaytá tapera: livro. (Lit. “letras de palavras”, Miri tabritonté: oftalmologista. (Lit. “sábio do olho”) Tapera nguára: escola; biblioteca. (Lit. “casa da letra”). professor. (Lit. “sábio da letra”). Tapera tabritonté: professor. boi”, puri). Tapira nguára: curral; (Lit. “casa do boi”, Taruma guára: padaria. (Lit. “casa do pão”, pão”, coroado-puri). Tokera bondayayankué: motor. (Lit. “coração do bondayayankué (carro/ madeira mãe ir)”, adaptação semântica do maxacali). Tutak tri: psicologia. (Lit. “saber da alma”). Xapeprera Bondayayankué: pneu. (Lit. “pé do bondayayankué (carro/ madeira mãe ir)”, adaptação semântica do maxacali). maxacali). 2.5. Exercício de tradução de um texto puri reconstituído (neopuri) Antes de traduzir um texto, teríamos de pensar primeiramente o que temos de registro genuinamente puri. Depois o que podemos reconstituir
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utilizando
o
léxico,
estrutura
e
a
semântica
puri.
Em
seguida,
preencheríamos as lacunas com empréstimos coroados. Na falta deste, recorreríamos a outras fontes de línguas aparentadas.
GUERRA E TERRA
GUAXÉ GUAXÉ
Somos filhos da terra,
Pañiké guaxé xambé hon,
Irmãos do sol e da lua,
Opé petara prika tsate hon,
Homens que não querem guerra,
Kuema guaxe kon muyá
Temos força, queremos queremos
Pañiké metlon papa,
A língua dos puris!
Puri kuaytikindo muyá!
Nós trabalhamos
Pañiké tapetxi hion
E cantamos belas canções,
Pañiké gangre xuté ndlono
Nossa mãe é a água,
Pañiké-yuñún ayan ñaman hé
A terra é nosso pai
Pañiké-yuñún Pañiké-yuñún até guaxe hé
E Tupã é nossa luz!
Tupã pañiké-yuñún pote hé!
VOCABULÁRIO sol. Opé – sol. pai. Até – pai.
ter. (t. coroado). Papa – ter.
mãe. Ayan – mãe.
nós. (t. coroado). Peñiké – nós.
canção. (t. coroado). Gangre – canção.
nosso. (neol. c/ Peñiké-yuñún – nosso.
guerra, terra. Guaxé – guerra,
coroado).
é. (t. coroado). Hé – é.
lua. Petara – lua.
Hon – sou. (t. coroado).
luz. Pote – luz.
não. Kon – não.
muito Prika – muito
língua. (t. coroado). Kuyatikindo – língua.
trabalhar. (t. Tapetxi hion – trabalhar.
força Metlon – força
coroado).
querer. Muyá – querer.
filho. Xambé – filho.
cantar. Ndlono – cantar.
REFERÊNCIAS: SIL. Dicionário Maxakali-Português. Cuiabá: SIL, 2005.
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VOCABULÁRIO PORTUGUÊS-PURI PORTUGUÊS-PURI (Com adaptação ortográfica) Cortar (v.) - lintxi. Couro (s.) - popé.
A
Acender (v.) - kandú. Adoecer (v.) - kondón. putúra. Amarelo (adj.) – putúra. kémúm. Andar (v.) – kémúm. Anta (s.) – pennan. pennan. ndran. Apagar (v.) – ndran. Ascender (v.) – bogüá. bogüá. Assar (v.) – mbóri. mbóri. beroró. Azul (adj.) – beroró.
D
waxantlé. Dançar (v.) – waxantlé. Dedo (s.) - xabrera. Dentro (posp.) - kxé. Desgarrar (v.) - gabló. Deus (s.) - Dokora; (empréstimo tupi). Dia (s.) - opé. Dois (num.) – kuriri. kuriri. Dor (s.) - kuandomeé. Dormir (v.) - thára.
B
baó. Banana (s.) – baó. Barranca (s.) – ñãman-rúri. ñãman-rúri. Barriga (s.) – tiking. tiking. xurumúm. Batata (s.) – xurumúm. Beber (v.) – tx’mbá. – tx’mbá. Boca (s.) – txoré. txoré. xuté. Bom (adj.) – xuté. Braço (s.) – kokóra. kokóra. beorona. Branco (s.) – beorona.
E
Espesso (adj.) - ñimim. Espingarda (s.) - baüá. Esposa (s.) - hereya. Estrela (s.) - xúri. á. Eu (pron.) – á.
C
Cabeça (s.) - gué. ké. Cabelo (s.) – ké. Caçar (s.) - uiragar. pássaros). tembóra. Cacau (s.) – tembóra. Café (s.) – parada. parada. pretón-ma Calor (s.) – pretón-ma Caminho (s) – ximan. ximan. Cana (s.) – tubanna. tubanna. ndlóno. Cantar (v.) – ndlóno. Capim (s.) – xapúko. xapúko. Capivara (s.) – bodaké. bodaké. Carne (s.) - haniké. Carvão (s.) – mbórvan. mbórvan. Casar-se - géyé. kavara. Cavalo (s.) – kavara. Céu (s.) - okóra. ñamaku-ú. Chover (v.) – ñamaku-ú. Colher (v.) - yága. Comer (v.) - maxé. Contar (v.) - txoré bakoyá. Corpo (s.) - imi.
F
(caçar
Faca (s.) - morandé. koyá. Falar (v.) – koyá. Farinha (s.) – makiprara. makiprara. xumbena. Feijão (s.) – xumbena. Feio (adj.) - krókon. Ferro (s.) – guamaraté. guamaraté. Filha (s.)- xambé-boema. Flecha (s.) – aphon. aphon. Flor (s.) – poubaina. poubaina. poté. Fogo (s.) – poté. Folha (s.) – djoplé. djoplé. Fome (s.) – taim taim bona. má. Fora () – má. Frente (s.) – poré. poré. Frio (s.) – ñamaitú. ñamaitú. morké. Fruto (s.) – morké. poké. Fumo (s.) – poké. dora-koara. Fundo (s.) – dora-koara. G
kapó. Golpear (v.) – kapó. Gostar (v.) – tl’amatl’i. – tl’amatl’i.
Tupan
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tahé. Grande (adj.) – tahé. guaxé. Guerra (s.) – guaxé.
H kuayma. Homem (s.) – kuayma. I
Irmão (s.) – xátam’. – xátam’. J
djogót-ámum. Jaguatirica (s.) – djogót-ámum. Joelho (s.) – tuonri. tuonri. L
Lábio (s.) – txé. txé. tlakára. Lagartixa (s.) – tlakára. Lago (s.) – ñama-rorá. ñama-rorá. Laranja (s.) – tariniána. tariniána. ñamanta. Leite (s.) – ñamanta. Limão (s.) – kahiramnua. kahiramnua. Língua (s.) – topé. topé. petara. Lua (s.) – petara. Lutar (v.) – tlegapé. tlegapé. poté. Luz (s.) – poté. M tanguá. Macaco (s.) – tanguá. ayam. Mãe (s.) – ayam. Mandioca (s.) – bihú. bihú. xambona; mopó. Matar (v.) – xambona; krókon. Mau (adj.) – krókon. Meio dia (s.) – huaratiruká. huaratiruká. butang. Mel (s.) – butang. mbléma. Menina (s.) – mbléma. Meu (pron.) – á. á. maki. Milho (s.) – maki. Monte (s.) – pré. pré. Morrer (v.) – ambónam. ambónam. prika. Muito (adv.) – prika. Mulher (s.) – boeman. boeman.
tablá. Ombro (s.) – tablá. ponan. Onça (s.) – ponan. Orelha (s.) – bipína. bipína. amni. Osso (s.) – amni. mreteléna. Ouro (s.) – mreteléna.
P arotá. Paca (s.) – arotá. Pai (s.) – atté, atté, até. éká. Palma (s.) – éká. pon. Panela (s.) – pon. Papagaio (s.) – xitróra. xitróra. xipú. Pássaro (s.) – xipú. Pé (s.) – xapepréra. xapepréra. Pedra (s.) – ukhuá. ukhuá. puiltha. Peito (s.) – puiltha. Peixe (s.) – ñamaké. ñamaké. Pena (s.) – xipupé. xipupé. Pênis (s.) - seheng. Perna (s.) – kathéra. kathéra. Pescoço (s.) - thong. alké. Poeira (s.) – alké. Pomba (s.) – xandó. xandó. katára. Pôr (s.) – katára. sotanxira. Porco (s.) – sotanxira. Preto (adj.) – beungána. beungána. Q Quati (s.) - xamutan. muyá. (quero). Querer (s.) – muyá. R ñaman preri. Raio (s.) – ñaman tathé. Respirar (v.) – tathé. Rio (s.) – ñaman ñaman róra. lipon. Rir (v.) – lipon.
N Nariz (s.) – ñé. ñé. Noite (s.) – mripón, mripón, miribauána. hueráxka. Nuvem (s.) – hueráxka.
S horvi. Sal (s.) – horvi. Saltar (v.) – guaxantlé. guaxantlé. Sangue (s.) – krim. krim. xalú. Sapo (s.) – xalú. Selva (s.) – herkuma, herkuma, montay. Serpente (s.) – xamúm. xamúm. opé. Sol (s.) – opé.
O xtengeli. Odiar (v.) – xtengeli. Olho (s.) – miri. miri.
T tuxáhi, toxóra. Tarde (s.) – tuxáhi, Testículos (s.) – ximbaki. ximbaki.
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mniatá. Teta (s.) – mniatá. galing. Tocar (v.) – galing. Touro (s.) – tapira. tapira. pon-rena. Tronco (s.) – pon-rena. tupan ruhuhú. Trovão (s.) – tupan
U omi. Um (num.) – omi. Umbigo (s.) – káira. káira. xapepreraké. Unha (s.) – xapepreraké. V
takkó. Vagina (s.) – takkó. Valente (adj.) – thamithí. thamithí. Veado (s.) - nom’ri. xatáma. Velho () – xatáma. Vento (s.) – djota. djota. Verde (adj.) – tongóna. tongóna. atú. Vestido (s.) – atú.
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REFERÊNCIAS ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von (2002). Journal do Brasil 1811-1817 . Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro. LEMOS, Marcelo Sant’ana. Vocabulário da Língua Puri. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2012. MARLIÈRE, Guido Thomaz (1906). Escritos avulsos, correspondência. Revista do Arquivo Público Mineiro , Ano X, fascículos III e IV: 383-668. Belo Horizonte. MARTIUS, Karl Friedrich Philip von (1863). Glossaria linguarum Brasiliensium: glossarios de diversas lingoas e dialectos, que fallao os Indios no imperio do Brazil . Erlangen: Druck von Jange. TORREZÃO, Alberto de Noronha. Vocabulário puri. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro , tomo LII, parte II, Rio de Janeiro, 1889, p. 511-3.