Fávero, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. 11ª Ed. - São Paulo: Ática, 2009. 1. Introdução As causas do desenvolvimento da lingüística textual são, dentre outras, as falhas das gramáticas da frase no tratamento de fenômenos como a referência, a definitivização, as relações entre sentenças não ligadas por conjunção, a ordem das palavras no enunciado, a entonação, a concordância dos tempos verbais, fenômenos esses que só podem ser explicados em termos de texto ou em referência a um contexto situacional. O discurso é manifestado, linguisticamente, por meio de textos (em sentido estrito). O texto consiste, então, em qualquer passagem, falada ou escrita que forma um todo significativo independente de sua extensão. Trata-se, pois, de um conteúdo comunicativo contextual caracterizado pelos princípios p rincípios de textualidade: contextualização, coesão, coerência, intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e intertextualidade. 2. Coesão e coerência – devem se distinguir? # Halliday e Hasan: Coesão é um conceito!, a interpretação de um elemento textual depende da de outro. Os significados são codificados como formas e estas, realizadas como expressões. Assim, a coesão é parcialmente obtida pela gramática e parcialmente pelo léxico. # Isenberg (1.) Elementos de coerência : tipos de textualização (enunciados). (2.) Elementos de coesão : fenômenos somente explicáveis no âmbito da estrutura textual. Weinrich adiciona que devem levar em consideração : a distribuição dos artigos, que orienta o receptor na compreensão da estrutura sígnica textual ; os tempos verbais , que determinam os limites entre o mundo comentado ( discurso) e o mundo narrado (narrativa). # Beaugrand e Dressler Coesão (nível microtextual): como as palavras que ouvimos e vemos estão ligadas entre si dentro de uma sequência. Coerência (nível macrotextual): com os conceitos e relações subjacentes a estrutura superficial se articulam de maneira acessível e relevante. (É o resultado de processos cognitivos entre usuários). 3. Coesão referencial Função pela qual um signo lingüístico se relaciona a um objeto extralingüístico. Seus elementos não são interpretados semanticamente por seu sentido próprio, mas fazem referência a alguma coisa necessária a sua interpretação e podem ser anafóricas (quando retomam um item expresso) ou catafóricas (quando antecipam um item não expresso). Podem ser feitas por: (i) substituição: pronomes pessoais de 3ª pessoa, verbos e numerais, pronomes possessivos e demonstrativos; advérbios de lugar; (ii) reiteração: identidades ou similares; ou seja, repetição, sinônimos, hiperônimos, hipônimos, expressões nominais e definidas, nomes genéricos. A informação já e conhecida e mantida, não progride. >> Em uma sequência, um referente definido deve, para que se mantenha a identidade referencial, ser (re-) tomado por um definido. Obs.: A Substituição também pode ser feita por elipse, essa é a referência situacional ou substituição por substituição por zero zero. 4. Coesão recorrencial Retomada de estruturas com progressão do fluxo informativo. Seus elementos são denominados termos de dominância. Pode ser feita através de recorrência de termos (função de ênfase), paralelismo (estruturas reutilizadas, reutilizadas, acompanhadas de diferentes conteúdos), paráfrase. (ver “Ode triunfal”, de Álvaro de Campos). Obs.: As conjunções estabelecem relações específicas entre períodos, orações e parágrafos (suas relações semânticas devem ser bem claras) 4.1. Recursos fonológicos, segmentais e suprassegmentais. Em Dressler: em princípio, a forma fonética do texto é uma sequência da estrutura semântica fornecida pela sintaxe, ela só poderá ser prescrita se levarmos em conta pelo menos a pragmática, a estilística e a psicolingüística. # Ritmo A duração relativa das língua está ligada, de um lado, à posição das pausas, acentos e entonação; de outro, a mudança do tempo pode constituir por si só uma função delimitadora ou um realce. O silêncio também exerce e xerce inúmeras funções, podendo se destacar no fim do texto: (i) cala-se intencionalmente por não querer se comprometer abertamente; (ii) a entonação possui função distintiva e demarcativa. # Recursos de motivação sonora: a expressividade das vogais e consoantes e suas figuras. A harmonia das vogais contribui para a fluidez, vaguidão ou imprecisão do texto.
5. Coesão seqüencial # Sequenciação temporal: ordenação linear dos elementos; expressões que assimilam a ordenação ou continuação das sequências temporais; partículas temporais, correlação dos tempos verbais (consecutio temporum). # Sequenciação por conexão ! Operadores do tipo lógico: dizem o tipo de relação lógica que o escritor / interlocutor estabelece entre duas proposições (ver “linguagem e argumentação”) ! Operadores discursivos: estruturam enunciados em textos através de encadeamentos, dando-lhes direções argumentativas. (idem) ! Pausas: pontuação (ibidem) # Marcuschi e os fatores de conexão seqüencial Repetidores: recorrências, paralelismo e definitivização; Substituidores: paráfrase, proformas (nominais, verbais, adverbiais e prossintagmas), pronominalização (anáfora, catáfora e exófora) e elipse. Seqüenciadores: tempo, aspecto, disjunção, subordinação, tema-rema. Moduladores: entonação e modalidades. 6. Coerência como semântica procedimental Conhecimento declarativo é o conhecimento dado pelas sentenças e suas proposições que organizam os conhecimentos a respeito das situações, eventos e fatos do mundo real e entre as quais se estabelecem relações do tipo lógico, como de generalização, especificação, causalidade, etc. (armazenando na memória semântica). Conhecimento procedimental é o conhecimento dado pelos fatos ou convicções num determinado formato para um uso estabelecido. Esse conhecimento, armazenado na memória episódica através de alguns modelos globais, é culturalmente determinado e construído através da experiência e trazido à memória ativa (= espaço de organização dos conhecimentos declarativos e procedimental) no momento da interação verbal, a partir de elementos presentes no texto. 7. As estruturas cognitivas Conceitos (Marcuschi): conhecimento armazenado (“frames” de Minsky) nas memórias semântica e episódica, em unidades constituintes. + “Pensamento e Linguagem”, Judith Greene: Pensamento Sequencial
Pensamento Paralelo
_. Foco da atenção consciente -. Processo lógico que controla nosso comportamento no mundo real
_. Pensamentos e percepções irracionais -. Podem tornar-se parte de nosso pensamento consciente.
/v. Pensamento
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/v. Experiência Passada
/v. O pensamento coerente apoiase em vestígios de operações mentais anteriores
/v.
/v. Memória: Processo continuamente ativo de percepção da realidade
/v. Solução de Problemas
<<___Insight_____>>
/v. Aprendizagem
_. Para chegar à compreensão do texto como um todo coerente, é necessário que sejam trabalhadas não só as relações coesivas (a coesão é decorrência da coerência e a concatenação linear não é garantia de um texto coerente), mas, e principalmente, as de coesão conceitual-cognitiva. “é preciso que o leitor desenvolva habilidades que lhe permitam detectar as marcas que levarão às intenções do texto”.
8. Coesão e coerência no texto conversacional Conversação: intercurso verbal em que duas ou mais pessoas se alternam, discorrendo livremente sobre questões propiciadas pela vida diária. Tanto a língua falada quanto a escrita derivam da mesma base semântica, fazendo uso do mesmo sistema léxicosintático e variando principalmente na escolha e distribuição dos modelos sintáticos e do vocabulário, em resposta às restrições pragmáticas da modalidade específica. A língua falada é planejada localmente (locally managed). A rapidez com que o locutor constrói a fala tem conseqüências no controle do fluxo da informação, conduzindo-o a descontinuidades nesse mesmo fluxo, reveladas por fenômenos como repetições, paráfrases, inserções, anacolutos, falsos começos e outros; assim, ela vai mostrando seus próprios processos de criação ao contrário da escrita, que tende a escondê-los, apresentando só os resultados. # Regras de Betten, a partir das máximas de Grice 1.) Logo que perceber que o ouvinte compreendeu o que você quer comunicar, torna-se desnecessária a continuação de sua fala; 2.) Assim que perceber que oi ouvinte não está entendendo, interrompa seu discurso, mude seu planejamento ou insira algum esclarecimento; 3.) Assim que perceber que sua formulação não é adequada, interrompa e ou corrija-se na sequência. # A noção de “tópico discursivo” Tópico discursivo: aquilo acerca do que se está falando. Tem como propriedades: (i) a centração, ou seja, a utilização de referenciais explícitos ou inferidos; (ii) a organicidade, ou seja, a relação de interdependência que se estabelece simultaneamente entre os planos seqüencial e hierárquico; e (iii) a delimitação local, ou seja, marcações de início, desenvolvimento e fecho [essas delimitações podem ser lingüísticas (como marcadores conversacionais e elementos prosódicos) ou discursivas (como a implicatividade entre turnos)]. # Digressões: alternância entre tópicos dentro de um mesmo texto conversacional. - Digressões baseadas no enunciado: há algum tipo de relação de “conteúdo” entre o enunciado principal e a digressão; - Digressões baseadas na interação: não há relação de “conteúdo” entre o enunciado principal e a digressão; - Digressões baseadas em sequências inseridas: função metalingüística ou metaconversacional que pausa o fluxo conversacional.