Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, Vivo, Itaú, SESI e Terra Foundation for American Art apresentam:
HISTÓRIAS AFROATLÂNTICAS PUBLICAÇÃO EDUCATIVA
Concebida pelo Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake para a exposição Histórias Afro-Atlânticas, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake e no MASP de 29 de junho a 21 de outubro de 2018
Ministério da Cultura, Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, Vivo, Itaú, SESI e Terra Foundation for American Art apresentam:
HISTÓRIAS AFROATLÂNTICAS PUBLICAÇÃO EDUCATIVA
Concebida pelo Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake para a exposição Histórias Afro-Atlânticas, em cartaz no Instituto Tomie Ohtake e no MASP de 29 de junho a 21 de outubro de 2018
02 O Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake realiza um extenso programa que Tomie promove o engajamento e a atuação dos públicos em projetos ligados à arte e à cultura. As atividades, que acontecem no Instituto Tomie Ohtake e em outros territórios da cidade, buscam considerar as aspirações e os interesses das pessoas, seus repertórios culturais e papel como sujeitos de seu próprio desenvolvimento.
Desenvolver materiais educativos como este, com base na exposição Histórias Afro-Atlânti- cas , em colaboração com educadores e artistas e distribuído gratuitamente, é uma maneira
de ampliar para a esfera da educação formal e não formal, a partir de um olhar crítico e ininvestigativo, o alcance das discussões trazidas pela mostra. Neste caso, discussões urgentes e imprescin-
O programa inclui visitas e ateliês em torno das exposições do Instituto Tomie Ohtake, formação de professores, cursos, debates, seminários, workshops, performances, mostras de lmes, projetos de experimentação ar tística para jovens, premiações para professores, artistas, arquitetos e designers e publicações, como esta que você tem em mãos, além de outras oportunidades de experimentação nos campos culturais e artísticos.
díveis. O Brasil não foi apenas o último país do
Ocidente a abolir a escravidão, mas também o que recebeu o maior número de escravizados africanos (4,8 milhões de pessoas) durante quase 400 anos. Mesmo depois de 130 anos de sua abolição, completados em 2018, a escravidão revela cotidianamente suas heranças: a enorme violência, racismo e desigualdade social que produziu e que marcam profundamente a nossa cultura e sociedade. A ampliação do entendimento sobre as múltiplas histórias da escravidão e de seus efeitos na vida atual é um caminho fundamental para que nosso país se reconheça de forma ververdadeira em sua constituição e seus desaos – e n ão po r mei o de ideali zações como, por exemplo, a do mito da democracia racial – e possa alterar seus rumos.
03
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Como nos lembra a lósofa Djamila Ribeiro, “Falar de racismo, opressão de gênero, é visto geralmente como algo chato, ‘mimimi’ ou outras formas de deslegitimação. A tomada de consciência sobre o que signica desesdesestabilizar a norma hegemônica é vista como inapropriada ou agressiva porque aí se está confrontando poder.” poder.” Assim, abordar com crianças, jovens e adultos os temas ligados ao racismo e às desigualdades sociais deve ser feito de forma crítica, constante e concontundente, pois eximir-se da responsabilidade de revisão crítica da história e da discussão sobre as heranças perversas do sistema escravagista é uma forma de silenciamento. Ampliar consciências e buscar transformações é uma medida que deve alcançar também as próprias instituições, sejam elas educacionais, culturais, sociais, governamentais ou empresariais, de modo que as estruturas de poder possam corrigir suas práticas.
Se toda nossa formação começa na educação e na cultura, temos aqui uma boa oportunidade de, ao conhecer as obras da exposição Histórias Afro-Atlânticas e e os caminhos de debate que elas propõem, explorar nossas próprias crenças e convicções de que tipo de sociedade desejamos construir. Esperamos que esta publicação contribua para seus processos pedagógicos e que você retorne ao Instituto Tomie Ohtake para esta e outras exposições, cursos, debates, formações e apresentações artísticas que realizamos semanalmente de forma gratuita – conra a programação em www.institutotomieohtake.org.br. Teremos também a imensa satisfação em receber suas ideias, dúvidas ou comentários pelo e-mail participação@institutotomieohtake. org.br. Boa leitura! Felipe Arruda Diretor Núcleo de Cultura e Participação Instituto Tomie Ohtake
02 O Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake realiza um extenso programa que Tomie promove o engajamento e a atuação dos públicos em projetos ligados à arte e à cultura. As atividades, que acontecem no Instituto Tomie Ohtake e em outros territórios da cidade, buscam considerar as aspirações e os interesses das pessoas, seus repertórios culturais e papel como sujeitos de seu próprio desenvolvimento.
Desenvolver materiais educativos como este, com base na exposição Histórias Afro-Atlânti- cas , em colaboração com educadores e artistas e distribuído gratuitamente, é uma maneira
de ampliar para a esfera da educação formal e não formal, a partir de um olhar crítico e ininvestigativo, o alcance das discussões trazidas pela mostra. Neste caso, discussões urgentes e imprescin-
O programa inclui visitas e ateliês em torno das exposições do Instituto Tomie Ohtake, formação de professores, cursos, debates, seminários, workshops, performances, mostras de lmes, projetos de experimentação ar tística para jovens, premiações para professores, artistas, arquitetos e designers e publicações, como esta que você tem em mãos, além de outras oportunidades de experimentação nos campos culturais e artísticos.
díveis. O Brasil não foi apenas o último país do
Ocidente a abolir a escravidão, mas também o que recebeu o maior número de escravizados africanos (4,8 milhões de pessoas) durante quase 400 anos. Mesmo depois de 130 anos de sua abolição, completados em 2018, a escravidão revela cotidianamente suas heranças: a enorme violência, racismo e desigualdade social que produziu e que marcam profundamente a nossa cultura e sociedade.
Como nos lembra a lósofa Djamila Ribeiro, “Falar de racismo, opressão de gênero, é visto geralmente como algo chato, ‘mimimi’ ou outras formas de deslegitimação. A tomada de consciência sobre o que signica desesdesestabilizar a norma hegemônica é vista como inapropriada ou agressiva porque aí se está confrontando poder.” poder.” Assim, abordar com crianças, jovens e adultos os temas ligados ao racismo e às desigualdades sociais deve ser feito de forma crítica, constante e concontundente, pois eximir-se da responsabilidade de revisão crítica da história e da discussão sobre as heranças perversas do sistema escravagista é uma forma de silenciamento. Ampliar consciências e buscar transformações é uma medida que deve alcançar também as próprias instituições, sejam elas educacionais, culturais, sociais, governamentais ou empresariais, de modo que as estruturas de poder possam corrigir suas práticas.
A ampliação do entendimento sobre as múltiplas histórias da escravidão e de seus efeitos na vida atual é um caminho fundamental para que nosso país se reconheça de forma ververdadeira em sua constituição e seus desaos – e n ão po r mei o de ideali zações como, por exemplo, a do mito da democracia racial – e possa alterar seus rumos.
Se toda nossa formação começa na educação e na cultura, temos aqui uma boa oportunidade de, ao conhecer as obras da exposição Histórias Afro-Atlânticas e e os caminhos de debate que elas propõem, explorar nossas próprias crenças e convicções de que tipo de sociedade desejamos construir. Esperamos que esta publicação contribua para seus processos pedagógicos e que você retorne ao Instituto Tomie Ohtake para esta e outras exposições, cursos, debates, formações e apresentações artísticas que realizamos semanalmente de forma gratuita – conra a programação em www.institutotomieohtake.org.br. Teremos também a imensa satisfação em receber suas ideias, dúvidas ou comentários pelo e-mail participação@institutotomieohtake. org.br. Boa leitura! Felipe Arruda Diretor Núcleo de Cultura e Participação Instituto Tomie Ohtake
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
PUBLICAÇÃO EDUCATIVA
03
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
A Lei 10.639, ao inserir nos currículos escoescolares a abordagem da história e da cultura afro-brasileiras considerando a contribuição e o protagonismo de diferentes grupos étnico-sociais, demandou a reinvenção de práticas pedagógicas e a busca por materiais didáticos que trouxessem outras perspectivas. Alinhados aos novos desaos da educação e às discussões apresentadas pela exposição Histórias Afro-Atlânticas , construímos este ma terial, que pretende ser um ponto de apoio e uma ferramenta de trabalho e pesquisa para professores, educadores e outros prossionais
da educação, entendidos como um importante ponto de ligação entre os diálogos propostos pelas instituições culturais e a sociedade. O desejo de multiplicação de vozes e inserção de mais camadas de discussão acerca da história ocial e das novas narrativas são ideias que estruturam a espinha dorsal da publicação educativa. O ponto de partida foi a reexão coletiva sobre os processos históricos da formação do Brasil, suas reverberações sociais e a consciência de que não é possível – nem desejável – fechar o discurso com uma conclusão unívoca.
05 A partir de diálogos com professores, educadores, pesquisadores e artistas, identicamos
a potência de propor maneiras de articular conhecimentos, pesquisas, práticas pedagógicas e contribuições dos alunos e da comunidade escolar no trabalho relativo aos uxos
afro-atlânticos, ao continente africano e à cultura afro-brasileira. Assim, esta publicação pauta-se pela abordagem de ações armativas
que possam desconstruir práticas de racismo e criar processos educativos mais democráticos, críticos e inclusivos. Anal, a construção de uma sociedade mais justa e igualitária é uma responsabilidade intensamente implicada no trabalho de professores e educadores. O projeto gráco desenvolvido pelo Estúdio Margem partiu de investigações sobre a estética e os conceitos do Afrofuturismo, os ideogramas africanos e a geometria em diálogo com os conteúdos e propostas desta publicação educativa. Foi criada uma tipograa com a dupla função de questionar a universalidade e a neutralidade da fonte helvética e, também, propor a criação de uma nova fonte que considera a ancestralidade em diálogo com o futuro, evitando a abordagem estereotipada e folclorizada do continente africano e seus símbolos. As cores escolhidas remetem àque las utilizadas por boa parte dos movimentos de resistência negra. A partir desses elementos foi pensada uma estrutura que remete à ideia de camadas, convidado professores e educadores a revirar as histórias e acessar outras versões e maneiras de contá-las.
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HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
PUBLICAÇÃO EDUCATIVA
A Lei 10.639, ao inserir nos currículos escoescolares a abordagem da história e da cultura afro-brasileiras considerando a contribuição e o protagonismo de diferentes grupos étnico-sociais, demandou a reinvenção de práticas pedagógicas e a busca por materiais didáticos que trouxessem outras perspectivas. Alinhados aos novos desaos da educação e às discussões apresentadas pela exposição Histórias Afro-Atlânticas , construímos este ma terial, que pretende ser um ponto de apoio e uma ferramenta de trabalho e pesquisa para professores, educadores e outros prossionais
da educação, entendidos como um importante ponto de ligação entre os diálogos propostos pelas instituições culturais e a sociedade. O desejo de multiplicação de vozes e inserção de mais camadas de discussão acerca da história ocial e das novas narrativas são ideias que estruturam a espinha dorsal da publicação educativa. O ponto de partida foi a reexão coletiva sobre os processos históricos da formação do Brasil, suas reverberações sociais e a consciência de que não é possível – nem desejável – fechar o discurso com uma conclusão unívoca.
06 Com esses objetivos, propomos a vocês, professores e educadores, reexões, discussões
e atividades que auxiliem no diálogo com seus alunos, respeitando e considerando sua formação prévia e as especicidades de sua comunidade escolar. Para isso, nos utilizamos de diferentes conteúdos e estratégias que possam construir um novo universo de referências acerca de cultura e história africana e afro-brasileira.
DISCUSSÕES
Trazem conteúdos que partem da exposição Histórias Afro-Atlânti- cas e e visam dar apoio aos professores para a construção de novas práticas pedagógicas e estratégias de abordagem. Em Histórias estão reexões acerca da sobreposição e da reinvenção das histórias contadas sobre os africanos no Brasil a partir da busca por ououtros protagonismos e pontos de vista. O texto Palavras traz apontamentos sobre como a linguagem e as formas de comunicação constroem relações sociais e podem reproduzir ou reforçar racismos e segregações. O estímulo a uma leitura crítica e a busca por novas pos sibilidades de abordagem iconográca são as questões estruturantes de Imagens . Em Diásporas estão discussões sobre as contribuições dos africanos e novos imigrantes na construção do Brasil. A menção a alguns dos trabalhos presentes na exposição complementa as reexões trazidas pelos textos com possibilidades de leituras e diálogos.
Considerando a potência das histórias – termo colocado no plural –, as pequenas narrativas presentes nos 8 cartões contam momentos da história do Brasil partindo da vida de sujeitos
NARRATIVAS
especícos. Foram selecionadas pessoas que
protagonizaram processos de emancipações, resistências e ativismos desde o século XVIII até os tempos atuais. A escolha considerou as diferentes épocas, as possibilidades de atuação crítica dentro da sociedade e a diver sidade das estratégias de luta e resistência. Além das histórias de Tereza de Benguela, Maria Firmina dos Reis, Luiz Gama, Madame Satã, Abdias Nascimento, Marielle Franco e Elza Soares, há uma narrativa ainda por ser feita, como uma armação da existência de inúmeros outros sujeitos cujas histórias devem ser lembradas e contadas.
dores, pesquisadores e artistas, identicamos
a potência de propor maneiras de articular conhecimentos, pesquisas, práticas pedagógicas e contribuições dos alunos e da comunidade escolar no trabalho relativo aos uxos
afro-atlânticos, ao continente africano e à cultura afro-brasileira. Assim, esta publicação pauta-se pela abordagem de ações armativas
que possam desconstruir práticas de racismo e criar processos educativos mais democráticos, críticos e inclusivos. Anal, a construção de uma sociedade mais justa e igualitária é uma responsabilidade intensamente implicada no trabalho de professores e educadores. O projeto gráco desenvolvido pelo Estúdio Margem partiu de investigações sobre a estética e os conceitos do Afrofuturismo, os ideogramas africanos e a geometria em diálogo com os conteúdos e propostas desta publicação educativa. Foi criada uma tipograa com a dupla função de questionar a universalidade e a neutralidade da fonte helvética e, também, propor a criação de uma nova fonte que considera a ancestralidade em diálogo com o futuro, evitando a abordagem estereotipada e folclorizada do continente africano e seus símbolos. As cores escolhidas remetem àque las utilizadas por boa parte dos movimentos de resistência negra. A partir desses elementos foi pensada uma estrutura que remete à ideia de camadas, convidado professores e educadores a revirar as histórias e acessar outras versões e maneiras de contá-las.
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HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Traz as denições resuresumidas de termos, palavras e expressões que remetem à história e à estruturação de nossas relações sociais, tangenciando as práticas de racismo e vocabulários utilizados pela militância negra. Desejamos que você investigue esses termos com os seus alunos e, também, faça suas contribuições e apontamentos.
VOCABULÁRIO EM DEBATE
Foram selecionadas obras da exposição Histórias Afro- -Atlânticas a a partir de sua vinculação com os conteúdos aqui desenvolvidos, considerando a diversidade de formatos, técnicas, épocas e discursos. Norteou a escolha, também, o desejo de apresentar novas referências iconográcas sobre a presença de africanos e afrodescendentes na construção da história do
IMAGENS
Brasil e na produção artística. Esperamos que
Estão alguns dos acontecimentos ligados às emancipações, resistências e ativismos desde o século XVII até o século XXI. Diante da impossibilidade de abranger todas as informações, foram selecionados alguns dados sobre as lutas, revoltas, conquistas e segregações vividas e protagonizadas por africanos e afrodescendentes ao longo da história, c om destaque para o Brasil. Fique à vontade para desenvolver outras pesquisas e incluir mais informações no panorama.
PANORAMA
A partir de diálogos com professores, educa-
essas imagens possam estimular questionamentos, interpretações e processos de criação. Buscam auxiliar na abordagem das questões apontadas acima por meio do estímulo a debates, pesquisas e construções coletivas que explorem tanto a análise crítica quanto o potencial criativo dos estudantes. Desejamos que sua aplicação seja viável nos diferentes espaços de educação e que possam ser adaptadas a diferentes grupos, considerando cada comunidade escolar e as questões de acessibilidade.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
As 24 palavras são dispositivos para criar relações, aproximações, distanciamentos e sobreposições entre as imagens e os textos. Use esses conectivos para explorar os materiais presentes nesta publicação educativa junto com seus alunos e sinta-se livre para incluir mais palavras e mais elementos.
CONECTIVOS
No nal deste livreto há uma série de referências sobre a história do Brasil, o continente africano, a cultura afro-brasileira e as práti cas de racismo, e também produções literárias feitas por negros e negras. Além de livros e artigos, você encontrará indicações de páginas da internet e canais do YouTube. YouTube. Essas indicações sugerem caminhos para o aprofundamento da pesquisa e podem ser usadas nas atividades com os estudantes e a comunidade escolar.
REFERÊNCIAS
Esta publicação partiu de situações coletivas de diálogo e partilha, tendo como norte o compromisso com as revisões críticas da história que estimulam o respeito à diversidade e a transformação das práticas pedagógicas. Desejamos que você e seus alunos apropriem-se dela e deem continuidade às construções coletivas que a geraram. Divina Prado Pesquisa e Conteúdo Núcleo de Cultura e Participação Instituto Tomie Ohtake
06 Com esses objetivos, propomos a vocês, professores e educadores, reexões, discussões
e atividades que auxiliem no diálogo com seus alunos, respeitando e considerando sua formação prévia e as especicidades de sua comunidade escolar. Para isso, nos utilizamos de diferentes conteúdos e estratégias que possam construir um novo universo de referências acerca de cultura e história africana e afro-brasileira.
DISCUSSÕES
Trazem conteúdos que partem da exposição Histórias Afro-Atlânti- cas e e visam dar apoio aos professores para a construção de novas práticas pedagógicas e estratégias de abordagem. Em Histórias estão reexões acerca da sobreposição e da reinvenção das histórias contadas sobre os africanos no Brasil a partir da busca por ououtros protagonismos e pontos de vista. O texto Palavras traz apontamentos sobre como a linguagem e as formas de comunicação constroem relações sociais e podem reproduzir ou reforçar racismos e segregações. O estímulo a uma leitura crítica e a busca por novas pos sibilidades de abordagem iconográca são as questões estruturantes de Imagens . Em Diásporas estão discussões sobre as contribuições dos africanos e novos imigrantes na construção do Brasil. A menção a alguns dos trabalhos presentes na exposição complementa as reexões trazidas pelos textos com possibilidades de leituras e diálogos.
Considerando a potência das histórias – termo colocado no plural –, as pequenas narrativas presentes nos 8 cartões contam momentos da história do Brasil partindo da vida de sujeitos
NARRATIVAS
especícos. Foram selecionadas pessoas que
protagonizaram processos de emancipações, resistências e ativismos desde o século XVIII até os tempos atuais. A escolha considerou as diferentes épocas, as possibilidades de atuação crítica dentro da sociedade e a diver sidade das estratégias de luta e resistência. Além das histórias de Tereza de Benguela, Maria Firmina dos Reis, Luiz Gama, Madame Satã, Abdias Nascimento, Marielle Franco e Elza Soares, há uma narrativa ainda por ser feita, como uma armação da existência de inúmeros outros sujeitos cujas histórias devem ser lembradas e contadas.
Traz as denições resuresumidas de termos, palavras e expressões que remetem à história e à estruturação de nossas relações sociais, tangenciando as práticas de racismo e vocabulários utilizados pela militância negra. Desejamos que você investigue esses termos com os seus alunos e, também, faça suas contribuições e apontamentos.
VOCABULÁRIO EM DEBATE
Foram selecionadas obras da exposição Histórias Afro- -Atlânticas a a partir de sua vinculação com os conteúdos aqui desenvolvidos, considerando a diversidade de formatos, técnicas, épocas e discursos. Norteou a escolha, também, o desejo de apresentar novas referências iconográcas sobre a presença de africanos e afrodescendentes na construção da história do
IMAGENS
Brasil e na produção artística. Esperamos que
Estão alguns dos acontecimentos ligados às emancipações, resistências e ativismos desde o século XVII até o século XXI. Diante da impossibilidade de abranger todas as informações, foram selecionados alguns dados sobre as lutas, revoltas, conquistas e segregações vividas e protagonizadas por africanos e afrodescendentes ao longo da história, c om destaque para o Brasil. Fique à vontade para desenvolver outras pesquisas e incluir mais informações no panorama.
PANORAMA
essas imagens possam estimular questionamentos, interpretações e processos de criação. Buscam auxiliar na abordagem das questões apontadas acima por meio do estímulo a debates, pesquisas e construções coletivas que explorem tanto a análise crítica quanto o potencial criativo dos estudantes. Desejamos que sua aplicação seja viável nos diferentes espaços de educação e que possam ser adaptadas a diferentes grupos, considerando cada comunidade escolar e as questões de acessibilidade.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
HISTÓRIAS AFROATLÂNTICAS
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HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
As 24 palavras são dispositivos para criar relações, aproximações, distanciamentos e sobreposições entre as imagens e os textos. Use esses conectivos para explorar os materiais presentes nesta publicação educativa junto com seus alunos e sinta-se livre para incluir mais palavras e mais elementos.
CONECTIVOS
No nal deste livreto há uma série de referências sobre a história do Brasil, o continente africano, a cultura afro-brasileira e as práti cas de racismo, e também produções literárias feitas por negros e negras. Além de livros e artigos, você encontrará indicações de páginas da internet e canais do YouTube. YouTube. Essas indicações sugerem caminhos para o aprofundamento da pesquisa e podem ser usadas nas atividades com os estudantes e a comunidade escolar.
REFERÊNCIAS
Esta publicação partiu de situações coletivas de diálogo e partilha, tendo como norte o compromisso com as revisões críticas da história que estimulam o respeito à diversidade e a transformação das práticas pedagógicas. Desejamos que você e seus alunos apropriem-se dela e deem continuidade às construções coletivas que a geraram. Divina Prado Pesquisa e Conteúdo Núcleo de Cultura e Participação Instituto Tomie Ohtake
09
Histórias Afro-Atlânticas é é uma iniciativa iné-
Buscando a pluralidade de imagens e histórias,
dita do Instituto Tomie Ohtake e do MASP, duas das principais instituições culturais de São Paulo. A curadoria da mostra é as sinada por Adriano Pedrosa e Lilia Schwarcz, junto aos curadores convidados Ayrson Heráclito, Hélio Menezes e Tomás Toledo. Trata-se de um desdobramento da exposição Histórias Mestiças , realizada no Instituto Tomie Ohtake com curadoria de Adriano Pedrosa e Lilia Schwarcz no ano de 2014.
a exposição apresenta cerca de 400 obras de mais de 200 artistas, tanto do acer vo do MASP quanto de coleções brasileiras e internacionais, incluindo desenhos, pinturas, esculturas, lmes, vídeos, instalações, fotograas, documentos e publicações de arte africana, europeia, latina, norte-americana, caribenha, entre outras. Os empréstimos foram cedidos por algumas das principais coleções particulares, museus e instituições culturais do mundo, como Metropolitan Museum of Art, J. Paul Getty Museum, National Gallery of Art, Menil
A exposição busca oferecer um panorama das múltiplas histórias possíveis acerca das trocas bilaterais – culturais, simbólicas, artísticas etc.
– representadas em imagens vindas da África, da Europa, das Américas e do Caribe. Além disso, ressalta as contribuições culturais dos povos africanos, seu protagonismo nas lutas pela liberdade e sua produção artística. Para isso, articula-se em torno de oito núcleos temáticos que friccionam diferentes movimentos artísticos, geograas, temporalidades e materialidades, sem compromisso cronológico, enciclopédico ou mesmo retrospectivo. No Instituto Tomie Ohtake estão os núcleos e Resistências e Ativismos . No Emancipações e MASP estão presentes Mapas e Margens , Co- tidianos , Ritos e Ritmos , Retratos , Modernis- mos Afro-Atlânticos e e Rotas e transes: Áfricas, Jamaica, Bahia .
Collection, Galleria degli Ufzi, Musée du quai
Branly, National Portrait Gallery, Victoria and Albert Museum, National Gallery of Denmark (SMK), Museo Nacional de Bellas Artes de Cuba e National Gallery of Jamaica. O Brasil coloca-se como um território chave
nessas histórias afro-atlânticas, pois recebeu cerca de 46% dos africanos que, ao longo de mais de 300 anos, foram tirados de seus países e escravizados deste lado do Atlântico. O número corresponde ao dobro dos portugueses que se estabeleceram no país para colonizá- lo,
o que evidencia a expressiva presença e a importância dos africanos em nossa história. De maneira bastante perversa, o Brasil foi também o último país a abolir ocialmente a escravidão,
em 1888, por meio da Lei Áurea, que completou 130 anos em maio de 2018. Assim, a discussão sobre as questões trazidas pela mostra faz-se necessária e urgente como forma de rever a história e ressignicar o presente.
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HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
HISTÓRIAS AFROATLÂNTICAS
Histórias Afro-Atlânticas é é uma iniciativa iné-
Buscando a pluralidade de imagens e histórias,
dita do Instituto Tomie Ohtake e do MASP, duas das principais instituições culturais de São Paulo. A curadoria da mostra é as sinada por Adriano Pedrosa e Lilia Schwarcz, junto aos curadores convidados Ayrson Heráclito, Hélio Menezes e Tomás Toledo. Trata-se de um desdobramento da exposição Histórias Mestiças , realizada no Instituto Tomie Ohtake com curadoria de Adriano Pedrosa e Lilia Schwarcz no ano de 2014.
a exposição apresenta cerca de 400 obras de mais de 200 artistas, tanto do acer vo do MASP quanto de coleções brasileiras e internacionais, incluindo desenhos, pinturas, esculturas, lmes, vídeos, instalações, fotograas, documentos e publicações de arte africana, europeia, latina, norte-americana, caribenha, entre outras. Os empréstimos foram cedidos por algumas das principais coleções particulares, museus e instituições culturais do mundo, como Metropolitan Museum of Art, J. Paul Getty Museum, National Gallery of Art, Menil
A exposição busca oferecer um panorama das múltiplas histórias possíveis acerca das trocas bilaterais – culturais, simbólicas, artísticas etc.
– representadas em imagens vindas da África, da Europa, das Américas e do Caribe. Além disso, ressalta as contribuições culturais dos povos africanos, seu protagonismo nas lutas pela liberdade e sua produção artística. Para isso, articula-se em torno de oito núcleos temáticos que friccionam diferentes movimentos artísticos, geograas, temporalidades e materialidades, sem compromisso cronológico, enciclopédico ou mesmo retrospectivo. No Instituto Tomie Ohtake estão os núcleos e Resistências e Ativismos . No Emancipações e MASP estão presentes Mapas e Margens , Co- tidianos , Ritos e Ritmos , Retratos , Modernis- mos Afro-Atlânticos e e Rotas e transes: Áfricas, Jamaica, Bahia .
Collection, Galleria degli Ufzi, Musée du quai
Branly, National Portrait Gallery, Victoria and Albert Museum, National Gallery of Denmark (SMK), Museo Nacional de Bellas Artes de Cuba e National Gallery of Jamaica. O Brasil coloca-se como um território chave
nessas histórias afro-atlânticas, pois recebeu cerca de 46% dos africanos que, ao longo de mais de 300 anos, foram tirados de seus países e escravizados deste lado do Atlântico. O número corresponde ao dobro dos portugueses que se estabeleceram no país para colonizá- lo,
o que evidencia a expressiva presença e a importância dos africanos em nossa história. De maneira bastante perversa, o Brasil foi também o último país a abolir ocialmente a escravidão,
em 1888, por meio da Lei Áurea, que completou 130 anos em maio de 2018. Assim, a discussão sobre as questões trazidas pela mostra faz-se necessária e urgente como forma de rever a história e ressignicar o presente.
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DISCUSSÕES HISTÓRIAS PALAVRAS IMAGENS DIÁSPORAS
P.13 P.19 P.25 P.31
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DISCUSSÕES HISTÓRIAS PALAVRAS IMAGENS DIÁSPORAS
HISTÓRIAS
P.13 P.19 P.25 P.31
13
“A história única cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-se a única história.” Chimamanda Ngozi Adichie
Griots e griotes são homens e mulheres que contam, dançam e cantam histórias sobre seu povo e seus antepassados africanos. Essas histórias são transmitidas oralmente de uma geração a outra, constituindo um ponto de ligação, identicação e pertencimento entre diferentes sujeitos de uma comunidade. Por seu importante papel na preservação e disseminação de narrativas tradicionais, os griots e as griotes são chamados de guardiões da memória. Através dos contadores de história que atravessaram o Atlântico na diáspora negra iniciada no século XVI, muitas histórias e memórias do povo africano permaneceram vivas e se disseminaram na cultura afro-brasileira.
HISTÓRIAS
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“A história única cria estereótipos. E o problema com estereótipos não é que eles sejam mentira, mas que eles sejam incompletos. Eles fazem uma história tornar-se a única história.” Chimamanda Ngozi Adichie
Griots e griotes são homens e mulheres que contam, dançam e cantam histórias sobre seu povo e seus antepassados africanos. Essas histórias são transmitidas oralmente de uma geração a outra, constituindo um ponto de ligação, identicação e pertencimento entre diferentes sujeitos de uma comunidade. Por seu importante papel na preservação e disseminação de narrativas tradicionais, os griots e as griotes são chamados de guardiões da memória. Através dos contadores de história que atravessaram o Atlântico na diáspora negra iniciada no século XVI, muitas histórias e memórias do povo africano permaneceram vivas e se disseminaram na cultura afro-brasileira.
HISTÓRIAS
As religiões de matriz africana também tiveram importante papel no processo de “diáspora narrativa”, levando as histórias dos Orixás, Inquices e Voduns aos terreiros, que constituem espaços de convivência, educação, memória, celebração e culto. Não só os griots e as griotes construíram nar-
rativas e contaram histórias no Brasil e em outros países da América, incontáveis outros
sujeitos também o zeram. Contar histórias, expressar-se, partilhar memórias e ensinamentos por meio da fala, para além de fortalecer comunidades e culturas, são formas potentes de resistência identitária. As narrativas, entendidas como práticas de signicação e processos simbólicos que estabelecem relações de poder, tornam-se campo de disputa. As histórias ociais, construídas a partir de modelos europeus e notadamente eurocêntricos, são repetidas e disseminadas até se naturalizarem como história única, que, além de ignorar a riqueza cultural das narrativas que estão nas margens, gera um processo de silenciamento, desumanização e anulação de subjetividades.
14 Quando se pensa na diáspora africana, o que vem à mente primeiro, muitas vezes, é o sistema escravocrata e a atuação dos africanos como força de trabalho. No entanto, todo o processo de construção da sociedade brasileira, que reverbera até hoje nas instituições e nas relações sociais, deu-se com a participação de um número exorbitante de sujeitos, cada qual com sua história, seus valores, suas vontades e suas lutas. Questionar as narrativas naturalizadas é o primeiro passo para a construção de novas histórias, mais diversas e inclusivas. Nesse sentido, a arte pode ser uma grande aliada. Investigar as narrativas presentes na produção artística e entendê-las a partir
de um ponto de vista crítico, confrontando-as com outras histórias e buscando outros protagonismos, pode ser um forte disparador para que os discursos ociais, tanto da arte quanto
das mídias, sejam colocados à prova.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
O trabalho Incômodo (2014), (2014), do artista brasileiro Sidney Amaral (1973-2017), traz uma narrativa diferente acerca da abolição da escravatura no Brasil. Ao invés de atribuir esse processo unicamente à assinatura da Lei Áurea, Sidney constrói um complexo quadro de referências que coloca negros como protagonistas, evi- QUESTIONAR AS denciando a presença de ex- NARRATIVAS -escravizados, abolicionistas NATURALIZADAS É e ativistas, a exemplo de Luiz O PRIMEIRO PASSO Gama e José do Patrocínio, PARA A CONSTRUÇÃO símbolos da cultura africana, DE NOVAS HISTÓRIAS, como o Xangô fotografado por MAIS DIVERSAS Pierre Verger no Benin, e ouou- E INCLUSIVAS. tros sujeitos que construíram essa história. O conjunto de imagens abre caminhos para uma investigação de outras histórias do Brasil e reitera o direito à memómemória e à ancestralidade, bem como as lutas dos afrodescendentes até os dias atuais.
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HISTÓRIAS
As religiões de matriz africana também tiveram importante papel no processo de “diáspora narrativa”, levando as histórias dos Orixás, Inquices e Voduns aos terreiros, que constituem espaços de convivência, educação, memória, celebração e culto. Não só os griots e as griotes construíram nar-
rativas e contaram histórias no Brasil e em outros países da América, incontáveis outros
sujeitos também o zeram. Contar histórias, expressar-se, partilhar memórias e ensinamentos por meio da fala, para além de fortalecer comunidades e culturas, são formas potentes de resistência identitária. As narrativas, entendidas como práticas de signicação e processos simbólicos que estabelecem relações de poder, tornam-se campo de disputa. As histórias ociais, construídas a partir de modelos europeus e notadamente eurocêntricos, são repetidas e disseminadas até se naturalizarem como história única, que, além de ignorar a riqueza cultural das narrativas que estão nas margens, gera um processo de silenciamento, desumanização e anulação de subjetividades.
HISTÓRIAS
14 Quando se pensa na diáspora africana, o que vem à mente primeiro, muitas vezes, é o sistema escravocrata e a atuação dos africanos como força de trabalho. No entanto, todo o processo de construção da sociedade brasileira, que reverbera até hoje nas instituições e nas relações sociais, deu-se com a participação de um número exorbitante de sujeitos, cada qual com sua história, seus valores, suas vontades e suas lutas. Questionar as narrativas naturalizadas é o primeiro passo para a construção de novas histórias, mais diversas e inclusivas. Nesse sentido, a arte pode ser uma grande aliada. Investigar as narrativas presentes na produção artística e entendê-las a partir
de um ponto de vista crítico, confrontando-as com outras histórias e buscando outros protagonismos, pode ser um forte disparador para que os discursos ociais, tanto da arte quanto
das mídias, sejam colocados à prova.
16
A pintura Rebelião de escravos em navio A conuência entre as Áfricas e as Américas negreiro (1833), (1833), do francês Edouard Antoine construiu e vem construindo narrativas plurais e diversas, com a participação de um número Renard (1802-1857), (1802-1857), e a es cultura Barca dos Exus , do brasileiro José Alves de Olinda (1953-), incontável de sujeitos que são protagonistas também trazem outros apontamentos sobre de suas próprias vidas. Nesse sentido, investigar novas formas de contar a história do Brasil, a história da escravidão e das emancipações. Edouard representa um homem africano em considerando a presença dos africanos e afrouma situação de revolta no navio, armando descendentes para além do contexto da escraque as resistências à escravividão e buscando novos prodão tiveram início durante as A CONFLUÊNCIA ENTRE tagonismos, é um campo fértil travessias do Atlântico e ne- AS ÁFRICAS E AS para a construção de procesgando a ideia de que os afri- AMÉRICAS CONSTRUIU sos educativos mais inclusivos, canos aceitaram passivamente E VEM CONSTRUINDO que respeitem a memória e a contribuição dos diferentes a situação que lhes foi imposta. NARRATIVAS PLURAIS A escultura de José Alves de E DIVERSAS. grupos étnico-raciais. Olinda constitui-se de um navio cheio de guerreiros portando lanças. Isso evidencia que os navios negreiros não trouxeram para as Américas apenas homens e mulheres que serviram como força de trabalho, mas também culturas, religiões, memórias, línguas
e mecanismos de resistência que, desde os primeiros momentos, representaram tensão para os tracantes e os senhores de escravos.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
15
O trabalho Incômodo (2014), (2014), do artista brasileiro Sidney Amaral (1973-2017), traz uma narrativa diferente acerca da abolição da escravatura no Brasil. Ao invés de atribuir esse processo unicamente à assinatura da Lei Áurea, Sidney constrói um complexo quadro de referências que coloca negros como protagonistas, evi- QUESTIONAR AS denciando a presença de ex- NARRATIVAS -escravizados, abolicionistas NATURALIZADAS É e ativistas, a exemplo de Luiz O PRIMEIRO PASSO Gama e José do Patrocínio, PARA A CONSTRUÇÃO símbolos da cultura africana, DE NOVAS HISTÓRIAS, como o Xangô fotografado por MAIS DIVERSAS Pierre Verger no Benin, e ouou- E INCLUSIVAS. tros sujeitos que construíram essa história. O conjunto de imagens abre caminhos para uma investigação de outras histórias do Brasil e reitera o direito à memómemória e à ancestralidade, bem como as lutas dos afrodescendentes até os dias atuais.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
De que formas as histórias são ensinadas? Como desconstruir, desaprender ou dar novas n ovas congurações? Onde uma história começa?
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HISTÓRIAS
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A pintura Rebelião de escravos em navio A conuência entre as Áfricas e as Américas negreiro (1833), (1833), do francês Edouard Antoine construiu e vem construindo narrativas plurais e diversas, com a participação de um número Renard (1802-1857), (1802-1857), e a es cultura Barca dos Exus , do brasileiro José Alves de Olinda (1953-), incontável de sujeitos que são protagonistas também trazem outros apontamentos sobre de suas próprias vidas. Nesse sentido, investigar novas formas de contar a história do Brasil, a história da escravidão e das emancipações. Edouard representa um homem africano em considerando a presença dos africanos e afrouma situação de revolta no navio, armando descendentes para além do contexto da escraque as resistências à escravividão e buscando novos prodão tiveram início durante as A CONFLUÊNCIA ENTRE tagonismos, é um campo fértil travessias do Atlântico e ne- AS ÁFRICAS E AS para a construção de procesgando a ideia de que os afri- AMÉRICAS CONSTRUIU sos educativos mais inclusivos, canos aceitaram passivamente E VEM CONSTRUINDO que respeitem a memória e a contribuição dos diferentes a situação que lhes foi imposta. NARRATIVAS PLURAIS A escultura de José Alves de E DIVERSAS. grupos étnico-raciais. Olinda constitui-se de um navio cheio de guerreiros portando lanças. Isso evidencia que os navios negreiros não trouxeram para as Américas apenas homens e mulheres que serviram como força de trabalho, mas também culturas, religiões, memórias, línguas
e mecanismos de resistência que, desde os primeiros momentos, representaram tensão para os tracantes e os senhores de escravos.
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HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
De que formas as histórias são ensinadas? Como desconstruir, desaprender ou dar novas n ovas congurações? Onde uma história começa?
PALAVRAS
19
Ubuntu. [Eu sou porque nós somos.]*
* Antiga palavra africana das línguas zulu e xhosa, pertencentes ao grupo linguístico bantu.
Palavras carregam histórias, camadas, valores e signicados que, muitas vezes, permanecem incógnitos quando elas são ditas. As revisões críticas do contexto da escravidão moderna têm provocado importantes reexões acerca das palavras e expressões usadas para contar as histórias da diáspora negra. O termo “escravo” tem sido preterido em prol do uso d o termo “escravizado”, que subentende a condição do indivíduo livre ao qual foi atribuída a condição jurídica da escraescravidão. Portanto, leva ao entendimento de que a escravidão não é uma condição inata do ser humano, mas uma situação imposta por agentes e contextos especícos – no caso da escravidão afro-atlântica, os colonizadores – e que não deve estar acima de sua condição de indivíduo portador de subjetividade, voz, livre arbítrio, memória e origem.
PALAVRAS
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Ubuntu. [Eu sou porque nós somos.]*
* Antiga palavra africana das línguas zulu e xhosa, pertencentes ao grupo linguístico bantu.
PALAVRAS
Ademais, nenhum grupo étnico-racial deve ser denido e historicizado a partir de uma condi ção de servidão a ele imposta arbitrariamente. Classicações étnico-raciais do mundo ocidental, que separam e denem indivíduos a partir de sua cor e de seus traços fenotípicos, têm como ponto de partida a ideia de um su jeito universal e neutro materializado na gura
do homem branco. Todos os não brancos são racializados e denidos a partir dessa classicação. Por exemplo, dicilmente são espeespecicados o grupo étnico ou o gênero de uma exposição de arte que contempla apenas artistas homens e brancos, situação em que são mencionados o assunto, a técnica ou outra característica vinculada unicamente à produprodução artística. No caso de mostras que trazem recortes diferentes, como as de artistas negros, artistas mulheres, artistas indígenas e outros grupos considerados não universais e não neutros, dicilmente os discursos que as denem dispensam classicações étnico-raciais ou de gênero.
20
Essas classicações pautadas pela cor e cen -
tradas no sujeito tido como neutro cumprem o papel de homogeneizar os diferentes grupos étnicos e culturais do continente africano, processo que foi reforçado pelo tráco atlântico ao denir os africanos a partir do porto de saída da África, nem sempre condizente com seu lugar de origem. Tais processos históricos incidem diretamente sobre os signos linguísti cos e a comunicação, atribuindo valor semântico pejorativo a alguns termos e perpetuando expressões essencialmente racistas, violentas e excludentes.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Palavras carregam histórias, camadas, valores e signicados que, muitas vezes, permanecem incógnitos quando elas são ditas. As revisões críticas do contexto da escravidão moderna têm provocado importantes reexões acerca das palavras e expressões usadas para contar as histórias da diáspora negra. O termo “escravo” tem sido preterido em prol do uso d o termo “escravizado”, que subentende a condição do indivíduo livre ao qual foi atribuída a condição jurídica da escraescravidão. Portanto, leva ao entendimento de que a escravidão não é uma condição inata do ser humano, mas uma situação imposta por agentes e contextos especícos – no caso da escravidão afro-atlântica, os colonizadores – e que não deve estar acima de sua condição de indivíduo portador de subjetividade, voz, livre arbítrio, memória e origem.
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Lélia Gonzalez (1935-1994), intelectual, femi- Por outro lado, o escritor e pesquisador RoRonista e militante do movimento negro brasileiro, land Barthes (19 (1915-1 15-1980) 980) arma que a língua criou o termo Pretoguês para para denir a forma é fascista não porque impede de dizer, mas como falavam os africanos escravizados no porque obriga a dizer. As práticas pedagógiBrasil. Tais grupos tiveram importante concon- cas que têm como objetivo a revisão crítica e tribuição na estruturação da língua brasileira, as ações armativas devem considerar uma que absorveu palavras, expressões e sota- orientação linguística que reveja criticamente ques oriundos dos povos africanos que aqui as expressões e os termos racistas e excludenaportaram. Além de menciotes usados no cotidiano – por nar os intercâmbios entre o TODOS OS NÃO exemplo, chamar os africanos sequestrados de “escravos” –, português e as diversas línlín- BRANCOS SÃO guas africanas, Lélia usa o RACIALIZADOS E propondo investigações acerca termo para denunciar o pre- DEFINIDOS A PARTIR de suas origens e suas reverconceito linguístico existente DESSA CLASSIFICAÇÃO. berações nas relações sociais. em relação à fala que se desvia das regras da norma culta. Assim, aponta O trabalho intitulado O que não precisa ser a linguagem dominante como uma forma de dito (2012), (2012), do norte-americano Hank Willis manutenção do poder por meio da atribuição Thomas (1976-), aproxima um pelourinho e de valor a um tipo de discurso e atribuição de um microfone. Ao unir objetos de contextos descrédito a todos os outros que dele se difetão distintos, o artista cria uma complexa rede rem. Esse processo tem como uma de suas de relações que estimulam reexões sobre implicações perniciosas a criação de silen- os processos de silenciamento, os lugares ciamentos das vozes de determinado grupo de fala e os discursos que reproduzem raétnico-racial ou social. cismos. Além disso, traz possibilidades de leitura sobre os signicados e as memórias que orbitam os objetos.
PALAVRAS
Ademais, nenhum grupo étnico-racial deve ser denido e historicizado a partir de uma condi ção de servidão a ele imposta arbitrariamente. Classicações étnico-raciais do mundo ocidental, que separam e denem indivíduos a partir de sua cor e de seus traços fenotípicos, têm como ponto de partida a ideia de um su jeito universal e neutro materializado na gura
do homem branco. Todos os não brancos são racializados e denidos a partir dessa classicação. Por exemplo, dicilmente são espeespecicados o grupo étnico ou o gênero de uma exposição de arte que contempla apenas artistas homens e brancos, situação em que são mencionados o assunto, a técnica ou outra característica vinculada unicamente à produprodução artística. No caso de mostras que trazem recortes diferentes, como as de artistas negros, artistas mulheres, artistas indígenas e outros grupos considerados não universais e não neutros, dicilmente os discursos que as denem dispensam classicações étnico-raciais ou de gênero.
PALAVRAS
Na série Ex-votos (2017), (2017), o artista Antônio Obá (1983-) investiga as palavras escravo [ex-cravo],], amnésia e identidade, utilizando-se [ex-cravo de madeira, betume, tinta, cravos e espelho para dar materialidade estética à investigação.
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Essas classicações pautadas pela cor e cen -
tradas no sujeito tido como neutro cumprem o papel de homogeneizar os diferentes grupos étnicos e culturais do continente africano, processo que foi reforçado pelo tráco atlântico ao denir os africanos a partir do porto de saída da África, nem sempre condizente com seu lugar de origem. Tais processos históricos incidem diretamente sobre os signos linguísti cos e a comunicação, atribuindo valor semântico pejorativo a alguns termos e perpetuando expressões essencialmente racistas, violentas e excludentes.
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Para desconstruir as relações sociais truncadas pela existência silenciosa de hierarquias que denem protagonistas e negam subjetividades, é necessário buscar palavras e expressões que considerem a diversidade dos Longe de armar um discurso unívoco sobre o integrantes de cada comunidade, grupo ou uso social e o substrato histórico das palavras, sala de aula e, desse modo, não reforcem Antônio Obá insere elementos e cria novas nem naturalizem processos de discriminação relações de modo a ampliar e exclusão. No entanto, isso as possibilidades de leitura É NECESSÁRIO não signica que seja necesnecese interpretação. Esses traba- BUSCAR PALAVRAS sário desviar dos termos vislhos trazem à tona as cama- E EXPRESSÕES tos como problemáticos – às das dos discursos ditos e não QUE CONSIDEREM A vezes é preciso enfrentá-los, dar nomes às memórias que ditos, bem como a polissemia DIVERSIDADE DOS de palavras e expressões de INTEGRANTES DE eles trazem e coletivizar a discussão pelos caminhos da uso corrente que inescapavel- CADA COMUNIDADE. mente estão relacionadas ao pedagogia do afeto. contexto da escravidão e à estruturação das sociedades escravocratas. Paulo Nazareth (1977-) e Bruno Baptistelli (1985-), respectivamente com os trabalhos (2012-13) e Linguagem (2015), Negro preto (2012-13) (2015), uti lizam-se das palavras “ negro” [neger] e “preto”. Paulo insere os termos em cartazes escritos à mão segurados por dois homens, enquanto Bruno reproduz as palavras com tinta preta sobre fundo preto com sutis variações de tonalidade. O procedimento de isolar as palavras e inseri-las em outros contextos traz reexões sobre os valores semânticos a elas atribuídos,
processos de autodeclaração, identidade, reconhecimento, racialização e colorismo.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
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Lélia Gonzalez (1935-1994), intelectual, femi- Por outro lado, o escritor e pesquisador RoRonista e militante do movimento negro brasileiro, land Barthes (19 (1915-1 15-1980) 980) arma que a língua criou o termo Pretoguês para para denir a forma é fascista não porque impede de dizer, mas como falavam os africanos escravizados no porque obriga a dizer. As práticas pedagógiBrasil. Tais grupos tiveram importante concon- cas que têm como objetivo a revisão crítica e tribuição na estruturação da língua brasileira, as ações armativas devem considerar uma que absorveu palavras, expressões e sota- orientação linguística que reveja criticamente ques oriundos dos povos africanos que aqui as expressões e os termos racistas e excludenaportaram. Além de menciotes usados no cotidiano – por nar os intercâmbios entre o TODOS OS NÃO exemplo, chamar os africanos sequestrados de “escravos” –, português e as diversas línlín- BRANCOS SÃO guas africanas, Lélia usa o RACIALIZADOS E propondo investigações acerca termo para denunciar o pre- DEFINIDOS A PARTIR de suas origens e suas reverconceito linguístico existente DESSA CLASSIFICAÇÃO. berações nas relações sociais. em relação à fala que se desvia das regras da norma culta. Assim, aponta O trabalho intitulado O que não precisa ser a linguagem dominante como uma forma de dito (2012), (2012), do norte-americano Hank Willis manutenção do poder por meio da atribuição Thomas (1976-), aproxima um pelourinho e de valor a um tipo de discurso e atribuição de um microfone. Ao unir objetos de contextos descrédito a todos os outros que dele se difetão distintos, o artista cria uma complexa rede rem. Esse processo tem como uma de suas de relações que estimulam reexões sobre implicações perniciosas a criação de silen- os processos de silenciamento, os lugares ciamentos das vozes de determinado grupo de fala e os discursos que reproduzem raétnico-racial ou social. cismos. Além disso, traz possibilidades de leitura sobre os signicados e as memórias que orbitam os objetos.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Quais memórias habitam as palavras? Quem pode falar? Quem consegue ser escutado? Que poderes as palavras expressam?
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PALAVRAS
Na série Ex-votos (2017), (2017), o artista Antônio Obá (1983-) investiga as palavras escravo [ex-cravo],], amnésia e identidade, utilizando-se [ex-cravo de madeira, betume, tinta, cravos e espelho para dar materialidade estética à investigação.
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Para desconstruir as relações sociais truncadas pela existência silenciosa de hierarquias que denem protagonistas e negam subjetividades, é necessário buscar palavras e expressões que considerem a diversidade dos Longe de armar um discurso unívoco sobre o integrantes de cada comunidade, grupo ou uso social e o substrato histórico das palavras, sala de aula e, desse modo, não reforcem Antônio Obá insere elementos e cria novas nem naturalizem processos de discriminação relações de modo a ampliar e exclusão. No entanto, isso as possibilidades de leitura É NECESSÁRIO não signica que seja necesnecese interpretação. Esses traba- BUSCAR PALAVRAS sário desviar dos termos vislhos trazem à tona as cama- E EXPRESSÕES tos como problemáticos – às das dos discursos ditos e não QUE CONSIDEREM A vezes é preciso enfrentá-los, dar nomes às memórias que ditos, bem como a polissemia DIVERSIDADE DOS de palavras e expressões de INTEGRANTES DE eles trazem e coletivizar a discussão pelos caminhos da uso corrente que inescapavel- CADA COMUNIDADE. mente estão relacionadas ao pedagogia do afeto. contexto da escravidão e à estruturação das sociedades escravocratas. Paulo Nazareth (1977-) e Bruno Baptistelli (1985-), respectivamente com os trabalhos (2012-13) e Linguagem (2015), Negro preto (2012-13) (2015), uti lizam-se das palavras “ negro” [neger] e “preto”. Paulo insere os termos em cartazes escritos à mão segurados por dois homens, enquanto Bruno reproduz as palavras com tinta preta sobre fundo preto com sutis variações de tonalidade. O procedimento de isolar as palavras
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Quais memórias habitam as palavras? Quem pode falar? Quem consegue ser escutado? Que poderes as palavras expressam?
e inseri-las em outros contextos traz reexões sobre os valores semânticos a elas atribuídos,
processos de autodeclaração, identidade, reconhecimento, racialização e colorismo.
IMAGENS
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“Eles querem de nós a lamentação Subestimam demais sem ter a visão Causamos espanto quando transformamos transformamos o pranto Em coragem e superação Sou apenas mais uma na multidão Clamando por progresso e proteção Num país onde a história do negro é velada E branquicada na televisão” Karol Conka
IMAGENS
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“Eles querem de nós a lamentação Subestimam demais sem ter a visão Causamos espanto quando transformamos transformamos o pranto Em coragem e superação Sou apenas mais uma na multidão Clamando por progresso e proteção Num país onde a história do negro é velada E branquicada na televisão” Karol Conka
IMAGENS
Assim como os textos, as imagens possuem autores. Mesmo que em algumas situações tais autores não sejam identicados, todas elas foram feitas por sujeitos que estiveram em contato com as estruturas sociais e políticas de
26 Grande parte das referências que habitam o imaginário sobre a presença de africanos e afrodescendentes na construção da cultura brasileira – ainda que cumpram um importante papel de documentação dos costumes, arquiteturas, vestimentas e outros aspectos da organização social de uma dada época – foram construídas a partir do ponto de vista normativo do sujeito livre, o que confere a elas algumas leituras já dadas de antemão e que
seu tempo, dialogaram com outros sujeitos – com ideias semelhantes ou diferentes das suas – e criaram representações que, que, no ato ato de criação, serviram a determinados propósitos. É necessário mencionar, também, a longevidade das imagens. Se hoje temos contato com imareforçam a história ocial. Vale mencionar que quase não existem registros gens construídas no passado, é porque houve preocupação ESSAS NOVAS iconográcos da escravidão feitos pelos próprios escravicom registro, documentação e NARRATIVAS NARRATIVAS TAMBÉM salvaguarda, processos apli- CRIAM SUAS zados, o que evidencia uma espécie de olhar estrangeiro cados a algumas imagens em ICONOGRAFIAS CONTEMPORÂNEAS, para tais cenas. Mesmo que detrimento de outras. algumas delas sejam imaREPRESENTANDO LEITURAS DA HISTÓRIA gens inverossímeis e romanromanDA DIÁSPORA NEGRA ceadas, cuja função de docuEM DIÁLOGO COM AS mento imparcial não resiste a IMPLICAÇÕES SOCIAIS um olhar atento e crítico, são CONTEMPORÂNEAS legitimadas e reforçadas por DESSE CONTEXTO. meio da reprodução em livros didáticos e livros de história sem considerar aspectos relativos a autoria, contexto e objetivo de criação.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Pesquisas mais aprofundadas sobre os trânsitos afro-atlânticos e as estruturas sociais escravagistas trouxeram novos dados e possibilidades de confrontação das imagens oociais, dos quais podemos nos munir para lançar outros olhares ao acervo iconográco dos
tempos da escravidão. Essas novas narrativas também criam suas iconograas contempocontemporâneas, representando leituras da história da diáspora negra em diálogo com as implicações sociais contemporâneas desse contexto.
27 A fotograa de Adenor Gondim (1950-), da sé-
rie Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte (década de 1990), mostra um grupo de cinco mulheres negras ricamente vestidas e adornadas. Trata-se uma confraria religiosa afro-católica brasileira criada na primeira metade do século XIX e que existe até hoje. Dentre as atividades da irmandade estavam a arrecadação de fundos para a compra de alforrias, a ajuda aos necessitados e a realização dos rituais fúnebres e sepultamentos. Além do forte sincretismo religioso, a fotograa traz discussões
As colagens Sem título (2005), (2005), da norte-amenorte-americana Kara Walker (1969-), revestem de visualidade as narrativas dissonantes. A artista se apropria de jornais ilustrados da época da Guerra Civil Norte-Americana (1861-1865) e faz intervenções sobre eles. A técnica da colagem é particularmente interessante nesse caso, pois possibilita a justaposição de fragmentos de diferentes épocas, lugares e contextos. Kara associa documentos do passado escravagista dos Estados Unidos a novas imagens e textos que tanto questionam os discursos do passado quanto expõem as persistências atuais, com destaque para a atribuição de estereótipos ao corpo negro e as violências sociais e simbólicas sofridas pelas mulheres negras.
sobre a preservação da memória como forma de resistência e a existência de diferentes tipos de organizações coletivas de africanos e afrodescendentes que lutaram continuamente pela emancipação dos escravizados. O retrato de Fon Ndofoa Zofoa III - rei de Ba- bungo (2012), (2012), do austríaco Alfred Weidinger (1961-) (1961-),, traz um contraponto à visão estereotipada que até hoje se conserva acerca do continente africano devido às teorias c unhadas no passado para justicar a colonização e a escravização. A imagem mostra um rei elegantemente vestido, com tecidos africanos, colares de contas e coroa, sentado em um trono imponente adornado por esculturas, peles e padrões geométricos, além de um número incontável de búzios – objetos que simbolizam riqueza para muitos povos africanos.
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IMAGENS
Assim como os textos, as imagens possuem autores. Mesmo que em algumas situações tais autores não sejam identicados, todas elas foram feitas por sujeitos que estiveram em contato com as estruturas sociais e políticas de
Grande parte das referências que habitam o imaginário sobre a presença de africanos e afrodescendentes na construção da cultura brasileira – ainda que cumpram um importante papel de documentação dos costumes, arquiteturas, vestimentas e outros aspectos da organização social de uma dada época – foram construídas a partir do ponto de vista normativo do sujeito livre, o que confere a elas algumas leituras já dadas de antemão e que
seu tempo, dialogaram com outros sujeitos – com ideias semelhantes ou diferentes das suas – e criaram representações que, que, no ato ato de criação, serviram a determinados propósitos. É necessário mencionar, também, a longevidade das imagens. Se hoje temos contato com imareforçam a história ocial. Vale mencionar que quase não existem registros gens construídas no passado, é porque houve preocupação ESSAS NOVAS iconográcos da escravidão feitos pelos próprios escravicom registro, documentação e NARRATIVAS NARRATIVAS TAMBÉM salvaguarda, processos apli- CRIAM SUAS zados, o que evidencia uma espécie de olhar estrangeiro cados a algumas imagens em ICONOGRAFIAS CONTEMPORÂNEAS, para tais cenas. Mesmo que detrimento de outras. algumas delas sejam imaREPRESENTANDO LEITURAS DA HISTÓRIA gens inverossímeis e romanromanDA DIÁSPORA NEGRA ceadas, cuja função de docuEM DIÁLOGO COM AS mento imparcial não resiste a IMPLICAÇÕES SOCIAIS um olhar atento e crítico, são CONTEMPORÂNEAS legitimadas e reforçadas por DESSE CONTEXTO. meio da reprodução em livros didáticos e livros de história sem considerar aspectos relativos a autoria, contexto e objetivo de criação.
IMAGENS
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Diante da persistência de relações sociais Tais imagens são de extrema importância para a incitação de diálogos sobre história e cul- caudatárias da escravidão e da discriminatura afro-brasileiras que considerem a r iqueza ção racial, o trabalho pedagógico vinculado cultural do continente africano e dos trânsi- à Lei 10.639 implica que professores e edutos afro-atlânticos. Ademais, constituem um cadores invistam na leitura crítica das imaimacontraponto à ainda parca representatividade gens tradicionalmente encontradas nos livros negra nas mídias de massa, que reforçam didáticos e na investigação de imagens que estereótipos negativos ao inserirem os afro- criem identicação e referenciais para criandescendentes em contextos de ças e adolescentes de diferentes grupos étnico-raciais subalternidade e precariedade A BUSCA POR em telenovelas, revistas, dese- OUTRAS IMAGENS e sociais. A busca por outras nhos animados e propagandas. POSSIBILITA, TAMBÉM, imagens possibilita, também, a reconstrução das visões A RECONSTRUÇÃO sobre o continente africano, DAS VISÕES SOBRE seus povos e suas culturas. O CONTINENTE AFRICANO, SEUS POVOS
E SUAS CULTURAS.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Pesquisas mais aprofundadas sobre os trânsitos afro-atlânticos e as estruturas sociais escravagistas trouxeram novos dados e possibilidades de confrontação das imagens oociais, dos quais podemos nos munir para lançar outros olhares ao acervo iconográco dos
tempos da escravidão. Essas novas narrativas também criam suas iconograas contempocontemporâneas, representando leituras da história da diáspora negra em diálogo com as implicações sociais contemporâneas desse contexto.
27 A fotograa de Adenor Gondim (1950-), da sé-
rie Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte (década de 1990), mostra um grupo de cinco mulheres negras ricamente vestidas e adornadas. Trata-se uma confraria religiosa afro-católica brasileira criada na primeira metade do século XIX e que existe até hoje. Dentre as atividades da irmandade estavam a arrecadação de fundos para a compra de alforrias, a ajuda aos necessitados e a realização dos rituais fúnebres e sepultamentos. Além do forte sincretismo religioso, a fotograa traz discussões
As colagens Sem título (2005), (2005), da norte-amenorte-americana Kara Walker (1969-), revestem de visualidade as narrativas dissonantes. A artista se apropria de jornais ilustrados da época da Guerra Civil Norte-Americana (1861-1865) e faz intervenções sobre eles. A técnica da colagem é particularmente interessante nesse caso, pois possibilita a justaposição de fragmentos de diferentes épocas, lugares e contextos. Kara associa documentos do passado escravagista dos Estados Unidos a novas imagens e textos que tanto questionam os discursos do passado quanto expõem as persistências atuais, com destaque para a atribuição de estereótipos ao corpo negro e as violências sociais e simbólicas sofridas pelas mulheres negras.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
O que as imagens dizem? Quando uma imagem se torna um documento? Quem transforma as interpretações em verdades únicas?
sobre a preservação da memória como forma de resistência e a existência de diferentes tipos de organizações coletivas de africanos e afrodescendentes que lutaram continuamente pela emancipação dos escravizados. O retrato de Fon Ndofoa Zofoa III - rei de Ba- bungo (2012), (2012), do austríaco Alfred Weidinger (1961-) (1961-),, traz um contraponto à visão estereotipada que até hoje se conserva acerca do continente africano devido às teorias c unhadas no passado para justicar a colonização e a escravização. A imagem mostra um rei elegantemente vestido, com tecidos africanos, colares de contas e coroa, sentado em um trono imponente adornado por esculturas, peles e padrões geométricos, além de um número incontável de búzios – objetos que simbolizam riqueza para muitos povos africanos.
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IMAGENS
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Diante da persistência de relações sociais Tais imagens são de extrema importância para a incitação de diálogos sobre história e cul- caudatárias da escravidão e da discriminatura afro-brasileiras que considerem a r iqueza ção racial, o trabalho pedagógico vinculado cultural do continente africano e dos trânsi- à Lei 10.639 implica que professores e edutos afro-atlânticos. Ademais, constituem um cadores invistam na leitura crítica das imaimacontraponto à ainda parca representatividade gens tradicionalmente encontradas nos livros negra nas mídias de massa, que reforçam didáticos e na investigação de imagens que estereótipos negativos ao inserirem os afro- criem identicação e referenciais para criandescendentes em contextos de ças e adolescentes de diferentes grupos étnico-raciais subalternidade e precariedade A BUSCA POR em telenovelas, revistas, dese- OUTRAS IMAGENS e sociais. A busca por outras nhos animados e propagandas. POSSIBILITA, TAMBÉM, imagens possibilita, também, a reconstrução das visões A RECONSTRUÇÃO sobre o continente africano, DAS VISÕES SOBRE seus povos e suas culturas. O CONTINENTE AFRICANO, SEUS POVOS
E SUAS CULTURAS.
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HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
O que as imagens dizem? Quando uma imagem se torna um documento? Quem transforma as interpretações em verdades únicas?
DIÁSPORAS
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Punho cerrado Eu disse, tamo em formação Erguendo Erguendo império, superação Tipo a Chimamanda, trago informação Lindas ores do gueto, gueto, sou or do gueto Estrela do meu show, hei Triunfo pra nós, viva o povo preto Drik Barbosa
É impossível pensar a construção do Brasil sem considerar a inestimável contribuição dos diversos indivíduos que vieram de ououtros lugares do mundo e aqui se estabeleceram, com destaque para os povos da diáspora negra. O Brasil é o país que recebeu africanos durante o maior período de tempo
e em maior quantidade: das quase 13 milhões de pessoas sequestradas e trazidas às Américas, estima-se que 46% tenham vindo para o território brasileiro.
DIÁSPORAS
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Punho cerrado Eu disse, tamo em formação Erguendo Erguendo império, superação Tipo a Chimamanda, trago informação Lindas ores do gueto, gueto, sou or do gueto Estrela do meu show, hei Triunfo pra nós, viva o povo preto Drik Barbosa
É impossível pensar a construção do Brasil sem considerar a inestimável contribuição dos diversos indivíduos que vieram de ououtros lugares do mundo e aqui se estabeleceram, com destaque para os povos da diáspora negra. O Brasil é o país que recebeu africanos durante o maior período de tempo
e em maior quantidade: das quase 13 milhões de pessoas sequestradas e trazidas às Américas, estima-se que 46% tenham vindo para o território brasileiro.
DIÁSPORAS
32
Além disso, há os intercâmbios culturais que se fazem presentes não só na língua portuguesa entre tantos outros, protagonizaram trocas que se iniciaram nos navios negreiros e se desenfalada no Brasil, na música, nos festejos popovolveram nas senzalas, nos centros urbanos pulares, no sincretismo religioso, na culinária e nos quilombos. São resultantes da diáspora e em outros aspectos do desenvolvimento da negra a formação do território nacional e as cultura afro-brasileira, mas também na própria técnicas de agricultura, pecuária, mineração, estruturação da sociedade, visto que o país fundição e construção responsáveis pelo de- se formou sobre bases coloniais e escravosenvolvimento das cidades, moradias e hábi- cratas que até hoje determinam a organização da economia, da política, da educação e das tos alimentares brasileiros, entre tantos outros exemplos possíveis. A modermoderrelações sociais, bem como nidade ocidental e o sistema O HIBRIDISMO visões de mundo e projetos de sociedade. Essa diversidade colonial se nutriram da explora- CULTURAL É UMA cultural, étnica e social deniu ção violenta de trabalhadores CARACTERÍSTICA uma estrutura de nação extreescravizados, cuja força de tra- MARCANTE DA mamente complexa. balho possibilitou a existência CONSTITUIÇÃO DA do sistema capitalista no BraBra- VIDA E DOS COSTUMES DOS AFRICANOS sil, da oligarquia e das classes operárias que representam a ESCRAVIZADOS QUE REVERBERA EM TODA maioria da população do país. A ESTRUTURA SOCIAL ATUAL DO BRASIL. Benguelas, congos, cabindas, angolas, minas,
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Os africanos trazidos compulsoriamente ao continente americano, além das violências do sistema escravocrata, vivenciaram um processo de desterritorialização e desconstrução de identidades e referências que culminou em uma redenição identitária a partir da inveninvenção de novas formas de existência gestadas no contato com outros lugares e indivíduos. O
hibridismo cultural é uma característica marcante da constituição da vida e dos costumes dos africanos escravizados que reverbera em toda a estrutura social atual do Brasil.
33 Na pintura Okê Oxossi (1970), (1970), Abdias Nascimento (1914-2011) (1914-2011) se apropria da bandeira brasileira e a refaz segundo outros referenciais e discursos. As cores e formas ganham uma nova conguração vertical e o tradicional lema
“Ordem e Progresso” é substituído pela repeti ção do termo “Okê”, palavra de origem iorubá que signica uma saudação ao Orixá Oxóssi. É possível observar, também, a presença do arco e da echa, tradicionalmente associados
a Oxóssi. Essa pintura traz incontáveis possibilidades de leitura e interpretação acerca da ideia de formação da nação brasileira, da bandeira como construção simbólica a serviço de um poder constituído, das tradições e suas
representações simbólicas, das negociações e intercâmbios entre diferentes grupos étnico-raciais e da importante presença das religiões de matriz africana na sociedade brasileira.
DIÁSPORAS
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Além disso, há os intercâmbios culturais que se fazem presentes não só na língua portuguesa entre tantos outros, protagonizaram trocas que se iniciaram nos navios negreiros e se desenfalada no Brasil, na música, nos festejos popovolveram nas senzalas, nos centros urbanos pulares, no sincretismo religioso, na culinária e nos quilombos. São resultantes da diáspora e em outros aspectos do desenvolvimento da negra a formação do território nacional e as cultura afro-brasileira, mas também na própria técnicas de agricultura, pecuária, mineração, estruturação da sociedade, visto que o país fundição e construção responsáveis pelo de- se formou sobre bases coloniais e escravosenvolvimento das cidades, moradias e hábi- cratas que até hoje determinam a organização da economia, da política, da educação e das tos alimentares brasileiros, entre tantos outros exemplos possíveis. A modermoderrelações sociais, bem como nidade ocidental e o sistema O HIBRIDISMO visões de mundo e projetos de sociedade. Essa diversidade colonial se nutriram da explora- CULTURAL É UMA cultural, étnica e social deniu ção violenta de trabalhadores CARACTERÍSTICA uma estrutura de nação extreescravizados, cuja força de tra- MARCANTE DA mamente complexa. balho possibilitou a existência CONSTITUIÇÃO DA do sistema capitalista no BraBra- VIDA E DOS COSTUMES DOS AFRICANOS sil, da oligarquia e das classes operárias que representam a ESCRAVIZADOS QUE REVERBERA EM TODA maioria da população do país. A ESTRUTURA SOCIAL ATUAL DO BRASIL. Benguelas, congos, cabindas, angolas, minas,
DIÁSPORAS
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O Brasil vivencia até hoje diversos procesprocessos migratórios que reforçam a sua complementos à reexão sobre hibridização cultural xidade estrutural. As estratégias de inclusão e processos migratórios. O artista utiliza ob- dos diferentes grupos étnico-raciais e sociais jetos encontrados nas ruas da cidade, frases, precisam considerar o respeito à diversidade. palavras e sua própria mão. O processo de Anal, inserir um sujeito num espaço que não coleta de fragmentos e vestígios da vida urur- o integra adequadamente gera uma anulação bana e a criação de associações, baseadas danosa de sua subjetividade e constitui, tamnas vivências e no repertório do próprio artista, bém, uma espécie de prática colonizadora. A geram imagens que reetem relações sociais educação deve tomar para si o desao de re contemporâneas e sua vinculação com a he- pensar as práticas pedagógicas e trazer novos rança escravagista, novas diásporas e violênreferenciais que promovam a diferença como cia policial. Moisés cria, assim, algo potente na construção DEVE-SE PENSAR das relações sociais, e não uma espécie de crônica visual da ocupação dos espaços ur- NA EXISTÊNCIA DE como um fator de exclusão. DIVERSIDADE banos por diferentes sujeitos UMA DIVERSIDADE e as negociações e conitos INTEGRADORA QUE POSSA RESPEITAR AS dela decorrentes. ORIGENS, TRADIÇÕES Em detrimento de uma ideia E ANCESTRALIDADES. de unidade homogênea dos povos escravizados e seus descendentes, deve-se pensar na existência de uma diversidade integradora que possa respeitar as origens, tradições e ancestralidades desses sujeitos em consonância com suas expressões individuais e sua atuação social, como coprodutores da sociedade e de si mesmos. As fotograas feitas por Moisés Patrício (1984-) na série Aceita? (2014-18) (2014-18) trazem novos ele-
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Os africanos trazidos compulsoriamente ao continente americano, além das violências do sistema escravocrata, vivenciaram um processo de desterritorialização e desconstrução de identidades e referências que culminou em uma redenição identitária a partir da inveninvenção de novas formas de existência gestadas no contato com outros lugares e indivíduos. O
hibridismo cultural é uma característica marcante da constituição da vida e dos costumes dos africanos escravizados que reverbera em toda a estrutura social atual do Brasil.
33 Na pintura Okê Oxossi (1970), (1970), Abdias Nascimento (1914-2011) (1914-2011) se apropria da bandeira brasileira e a refaz segundo outros referenciais e discursos. As cores e formas ganham uma nova conguração vertical e o tradicional lema
“Ordem e Progresso” é substituído pela repeti ção do termo “Okê”, palavra de origem iorubá que signica uma saudação ao Orixá Oxóssi. É possível observar, também, a presença do arco e da echa, tradicionalmente associados
a Oxóssi. Essa pintura traz incontáveis possibilidades de leitura e interpretação acerca da ideia de formação da nação brasileira, da bandeira como construção simbólica a serviço de um poder constituído, das tradições e suas
representações simbólicas, das negociações e intercâmbios entre diferentes grupos étnico-raciais e da importante presença das religiões de matriz africana na sociedade brasileira.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Que mundo estamos construindo? Como as individualidades se expressam dentro das coletividades?
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DIÁSPORAS
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O Brasil vivencia até hoje diversos procesprocessos migratórios que reforçam a sua complementos à reexão sobre hibridização cultural xidade estrutural. As estratégias de inclusão e processos migratórios. O artista utiliza ob- dos diferentes grupos étnico-raciais e sociais jetos encontrados nas ruas da cidade, frases, precisam considerar o respeito à diversidade. palavras e sua própria mão. O processo de Anal, inserir um sujeito num espaço que não coleta de fragmentos e vestígios da vida urur- o integra adequadamente gera uma anulação bana e a criação de associações, baseadas danosa de sua subjetividade e constitui, tamnas vivências e no repertório do próprio artista, bém, uma espécie de prática colonizadora. A geram imagens que reetem relações sociais educação deve tomar para si o desao de re contemporâneas e sua vinculação com a he- pensar as práticas pedagógicas e trazer novos rança escravagista, novas diásporas e violênreferenciais que promovam a diferença como cia policial. Moisés cria, assim, algo potente na construção DEVE-SE PENSAR das relações sociais, e não uma espécie de crônica visual da ocupação dos espaços ur- NA EXISTÊNCIA DE como um fator de exclusão. DIVERSIDADE banos por diferentes sujeitos UMA DIVERSIDADE e as negociações e conitos INTEGRADORA QUE POSSA RESPEITAR AS dela decorrentes. ORIGENS, TRADIÇÕES Em detrimento de uma ideia E ANCESTRALIDADES. de unidade homogênea dos povos escravizados e seus descendentes, deve-se pensar na existência de uma diversidade integradora que possa respeitar as origens, tradições e ancestralidades desses sujeitos em consonância com suas expressões individuais e sua atuação social, como coprodutores da sociedade e de si mesmos. As fotograas feitas por Moisés Patrício (1984-) na série Aceita? (2014-18) (2014-18) trazem novos ele-
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Que mundo estamos construindo? Como as individualidades se expressam dentro das coletividades?
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
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Observe com seus alunos as Narrativas que estão nas fichas que acompanham esta publicação educativa. As sete pessoas mencionadas auxiliam na pesquisa e na compreensão sobre a história do Brasil a partir de um ponto de vista distinto daquele utilizado pela históri a ocial, pois direcionam o olhar para sujeitos especícos, suas lutas e o modo como as polí ticas de estado e as relações sociais afetaram suas vidas. Leiam juntos, discutam, busquem mais informações. Conversem sobre os pontos de vista, as referências e as situações destacadas em cada história contada.
EXERCÍCIO DE CONSTRUÇÃO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
Peça para os estudantes escolherem, individualmente ou em pequenos grupos, uma história para ser recontada. Pode ser uma das narrativas presentes nos cartões, a trajetória de outras pessoas africanas ou afrodescendentes, algum acontecimento da história do Brasil ou a vida de avós, avôs ou outros anantepassados dos estudantes – esses relatos de família podem ser uma potente ferramenta para discutir a história recente do Brasil. Vocês
podem investigar possibilidades de pesquisa no Panorama ou no cartão que contém uma provocação para que novos protagonistas se jam descobertos.
37 Deixe-os livres para escolherem o melhor modo de construir a nova narrativa: pode ser um texto, um desenho, uma encenação, uma música, uma instalação, uma história em quadrinhos e o que mais eles sugerirem. Conversem sobre o processo de pesquisa, as escolhas, a construção e os resultados. Aproveitem para fazer conexões entre a atividade proposta, as revisões críticas e as novas narrativas sobre a abolição.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
Observe com seus alunos as Narrativas que estão nas fichas que acompanham esta publicação educativa. As sete pessoas mencionadas auxiliam na pesquisa e na compreensão sobre a história do Brasil a partir de um ponto de vista distinto daquele utilizado pela históri a ocial, pois direcionam o olhar para sujeitos especícos, suas lutas e o modo como as polí ticas de estado e as relações sociais afetaram suas vidas. Leiam juntos, discutam, busquem mais informações. Conversem sobre os pontos de vista, as referências e as situações destacadas em cada história contada.
EXERCÍCIO DE CONSTRUÇÃO: HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
37 Deixe-os livres para escolherem o melhor modo de construir a nova narrativa: pode ser um texto, um desenho, uma encenação, uma música, uma instalação, uma história em quadrinhos e o que mais eles sugerirem. Conversem sobre o processo de pesquisa, as escolhas, a construção e os resultados. Aproveitem para fazer conexões entre a atividade proposta, as revisões críticas e as novas narrativas sobre a abolição.
Peça para os estudantes escolherem, individualmente ou em pequenos grupos, uma história para ser recontada. Pode ser uma das narrativas presentes nos cartões, a trajetória de outras pessoas africanas ou afrodescendentes, algum acontecimento da história do Brasil ou a vida de avós, avôs ou outros anantepassados dos estudantes – esses relatos de família podem ser uma potente ferramenta para discutir a história recente do Brasil. Vocês
podem investigar possibilidades de pesquisa no Panorama ou no cartão que contém uma provocação para que novos protagonistas se jam descobertos.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
EXERCÍCIO DE RENARRATIVIZAÇÃO: PALAVRAS E IMAGENS
Esta publicação contém cartazes com imagens e 24 palavras em fichas. Distribua esses materiais entre seus alunos da maneira como preferir. Dividi-los em pequenos grupos pode ser uma estratégia potente para criar situações de diálogo em que todos consigam se expressar, além de desenvolver a autonomia ao estimular conversas nas quais os próprios alunos sejam os mediadores e os propositores. Peça para que analisem coletivamente as imagens, buscando perceber narrativas, símbosímbolos, pessoas, objetos, materiais usados, cores, cenários, gestos etc. Depois, peça para que associem as palavras das chas às imagens analisadas, considerando a vivência de cada aluno e garantindo que todos tenham espaço para expressar o porquê das escolhas, quais relações foram construídas e as reexões que
o processo gerou.
38
Sugerimos que você acrescente mais materiais à proposta, como outras palavras (por exemplo, vocês podem usar as que estão no Vocabulário em debate), papéis em branco para fazer anotações, mapas do c ontinente africano e do Brasil, imagens de revistas e jor nais, gravuras e pinturas presentes nos livros didáticos de história, fotograas da escola, do bairro ou da família feitas pelos próprios alunos e qualquer outro material que possa contribuir para sua proposta pedagógica.
A partir das conversas sobre os percursos, discussões e descobertas dos estudantes, criem juntos cartazes que possam comunicar o que vocês aprenderam para outros estudantes, professores e funcionários da escola. Escolham lugares movimentados para colocá-los e pensem em estratégias para registrar as reações que eles causam e ampliar as discussões. Vocês podem criar um diário a partir da observação das reações, construir novos cartazes, mediar as leituras, fazer registros fotográcos, utilizar um caderno de comentários
ou qualquer outra proposta que quiserem.
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
EXERCÍCIO DE INVESTIGAÇÃO: PESQUISA E DESCONSTRUÇÃO
39
Com base no perfil Indicamos que a pesquisa se estenda por algude seus alunos e nas mas semanas para que você possa acompaquestões que deseja nhar o processo dos alunos, sugerir caminhos, desenvolver em seu conversar sobre as diculdades e auxiliar no planejamento peda- registro das descobertas. O registro é uma ocabuláparte muito importante do processo, pois auxigógico, escolha alguns termos do V ocabulário em debate , organize sua turma em pe- lia na organização das informações coletadas quenos grupos e proponha que realizem uma durante o percurso. Ademais, a análise desse pesquisa para aprofundar a compreensão. material produzido pelos alunos pode indicar Fique à vontade para propor outros assuntos caminhos para que você crie novas propostas como, por exemplo, expressões e termos ra- de atividades e planos de aula. cistas usados no cotidiano. Você pode indicar como caminhos possíveis para iniciar a pespes- Ao nal da pesquisa, inventem maneiras de coquisa alguns dos canais do YouTube YouTube e páginas letivizar as descobertas. Vocês podem fazer cartazes, blogs, vídeos e até mesmo organizar da internet presentes na seção Referências uma exposição ou sarau na escola. Pensem deste livreto. Outro recurso de apoio pode ser a análise das imagens e narrativas presentes juntos em como desenvolver estratégias eduna literatura, no cinema, na televisão, nos jorcativas de abordagem dos assuntos pesquisados com a comunidade escolar, as famílias dos nais, nas revistas e nas propagandas. estudantes e as pessoas que moram no bairro.
PROPOSTAS DE ATIVIDADES
EXERCÍCIO DE RENARRATIVIZAÇÃO: PALAVRAS E IMAGENS
Esta publicação contém cartazes com imagens e 24 palavras em fichas. Distribua esses materiais entre seus alunos da maneira como preferir. Dividi-los em pequenos grupos pode ser uma estratégia potente para criar situações de diálogo em que todos consigam se expressar, além de desenvolver a autonomia ao estimular conversas nas quais os próprios alunos sejam os mediadores e os propositores. Peça para que analisem coletivamente as imagens, buscando perceber narrativas, símbosímbolos, pessoas, objetos, materiais usados, cores, cenários, gestos etc. Depois, peça para que associem as palavras das chas às imagens analisadas, considerando a vivência de cada aluno e garantindo que todos tenham espaço para expressar o porquê das escolhas, quais relações foram construídas e as reexões que
o processo gerou.
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Sugerimos que você acrescente mais materiais à proposta, como outras palavras (por exemplo, vocês podem usar as que estão no Vocabulário em debate), papéis em branco para fazer anotações, mapas do c ontinente africano e do Brasil, imagens de revistas e jor nais, gravuras e pinturas presentes nos livros didáticos de história, fotograas da escola, do bairro ou da família feitas pelos próprios alunos e qualquer outro material que possa contribuir para sua proposta pedagógica.
A partir das conversas sobre os percursos, discussões e descobertas dos estudantes, criem juntos cartazes que possam comunicar o que vocês aprenderam para outros estudantes, professores e funcionários da escola. Escolham lugares movimentados para colocá-los e pensem em estratégias para registrar as reações que eles causam e ampliar as discussões. Vocês podem criar um diário a partir da observação das reações, construir novos cartazes, mediar as leituras, fazer registros fo-
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HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
EXERCÍCIO DE INVESTIGAÇÃO: PESQUISA E DESCONSTRUÇÃO
Com base no perfil Indicamos que a pesquisa se estenda por algude seus alunos e nas mas semanas para que você possa acompaquestões que deseja nhar o processo dos alunos, sugerir caminhos, desenvolver em seu conversar sobre as diculdades e auxiliar no planejamento peda- registro das descobertas. O registro é uma ocabuláparte muito importante do processo, pois auxigógico, escolha alguns termos do V ocabulário em debate , organize sua turma em pe- lia na organização das informações coletadas quenos grupos e proponha que realizem uma durante o percurso. Ademais, a análise desse pesquisa para aprofundar a compreensão. material produzido pelos alunos pode indicar Fique à vontade para propor outros assuntos caminhos para que você crie novas propostas como, por exemplo, expressões e termos ra- de atividades e planos de aula. cistas usados no cotidiano. Você pode indicar como caminhos possíveis para iniciar a pespes- Ao nal da pesquisa, inventem maneiras de coquisa alguns dos canais do YouTube YouTube e páginas letivizar as descobertas. Vocês podem fazer cartazes, blogs, vídeos e até mesmo organizar da internet presentes na seção Referências uma exposição ou sarau na escola. Pensem deste livreto. Outro recurso de apoio pode ser a análise das imagens e narrativas presentes juntos em como desenvolver estratégias eduna literatura, no cinema, na televisão, nos jorcativas de abordagem dos assuntos pesquisados com a comunidade escolar, as famílias dos nais, nas revistas e nas propagandas. estudantes e as pessoas que moram no bairro.
tográcos, utilizar um caderno de comentários
ou qualquer outra proposta que quiserem.
REFERÊNCIAS A
A África na sala de aula: visita à história contemporânea (Leila Maria Gonçalves Leite Hernandez) A escrava (Maria Firmina dos Reis) A descoberta do insólito: literatura negra e literatura marginal no Brasil, 1960-2000 (Mário Augusto Medeiros da Silva) A integração do negro na sociedade de classes (Florestan Fernandes) A mão afro-brasileira: signicado da contribuição artística e histórica (Emanoel Araujo) A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira (Joel Zito Araújo) A África e os africanos na formação do mundo atlântico (1400-1800) (1400-1800) (John Thornton) África e Brasil africano (Marina de Mello e Souza) Americanah (Chimamanda Ngozi Adichie) Angola Janga: uma história de Palmares (Marcelo d'Salete) Antologia do negro brasileiro (Edison Carneiro)
Arte afro-brasileira: altos e baixos de um conceito (Renato Araújo da Silva)
Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade (bell hooks)
Aula (Roland Barthes)
Estudos Afro-Brasileiros (Roger Bastide)
B
H
Banzo (Coelho Netto)
Becos da memória (Conceição Evaristo)
Hibisco roxo (Chimamanda Ngozi Adichie)
História e cultura afro-brasileira (Regiane Augusto de Mattos)
Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil (Lourenço Cardoso e Tânia M. P. Müller)
I
Brasil: uma biograa (Lilia Schwarcz e Heloisa M. Starling)
Imprensa negra no Brasil do Século XIX (Ana Flávia Magalhães Pinto)
C
Intelectuais negras (bell hooks)
Crítica da Razão Negra (Achille Mbembe)
Culturas africanas e afro-brasileiras em sala de aula: saberes para os professores, fazeres para os alunos (Renata Felinto)
D
Dicionário escolar afro-brasileiro (Nei Lopes)
L
Identidade Cultural e Diáspora (Stuart Hall)
Lendas africanas dos Orixás (Pierre Verger)
Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica (Eduardo de Assis Duarte)
M
Mitologia dos Orixás (Reginaldo Prandi)
E
Mulheres Negras no Brasil (Érico Vital Brazil e Schuma Schumaher)
Enciclopédia brasileira da diáspora africana (Nei Lopes)
N
Necropolítica (Achille Mbembe) Negociação e conito: a resistência negra no Brasil escravista (João José Reis e Eduardo Silva) Negras imagens: ensaios sobre cultura e escravidão no Brasil (Lilia M. Schwarcz e Letícia Vidor de Sousa Reis) Negritude: usos e sentidos (Kabengele Munanga) Negros e Brancos em São Paulo, 1888-1988 (George Reid Andrews)
O
O mundo negro: relações raciais e a contribuição do movimento negro contemporâneo no Brasil (Amílcar Araújo Pereira) O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado (Abdias Nascimento) O negro no Brasil de hoje (Kabengele Munanga e Nilma Lino Gomes)
Maio (Lima Barreto)
Dicionário da Escravidão e Liberdade (Lilia M. Schwarcz e Flávio Gomes) E eu não sou uma mulher? (Sojourner Truth)
41
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
O negro revoltado (Abdias Nascimento) O que é racismo estrutural? (Silvio Almeida) O que é lugar de fala? (Djamila Ribeiro) Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites – Século XIX (Celia Maria Marinho de A zevedo)
REFERÊNCIAS A
A África na sala de aula: visita à história contemporânea (Leila Maria Gonçalves Leite Hernandez) A escrava (Maria Firmina dos Reis) A descoberta do insólito: literatura negra e literatura marginal no Brasil, 1960-2000 (Mário Augusto Medeiros da Silva) A integração do negro na sociedade de classes (Florestan Fernandes) A mão afro-brasileira: signicado da contribuição artística e histórica (Emanoel Araujo) A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira (Joel Zito Araújo) A África e os africanos na formação do mundo atlântico (1400-1800) (1400-1800) (John Thornton) África e Brasil africano (Marina de Mello e Souza) Americanah (Chimamanda Ngozi Adichie) Angola Janga: uma história de Palmares (Marcelo d'Salete) Antologia do negro brasileiro (Edison Carneiro)
Arte afro-brasileira: altos e baixos de um conceito (Renato Araújo da Silva)
Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade (bell hooks)
Aula (Roland Barthes)
Estudos Afro-Brasileiros (Roger Bastide)
B
H
Banzo (Coelho Netto)
Becos da memória (Conceição Evaristo)
Hibisco roxo (Chimamanda Ngozi Adichie)
História e cultura afro-brasileira (Regiane Augusto de Mattos)
Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil (Lourenço Cardoso e Tânia M. P. Müller)
I
Brasil: uma biograa (Lilia Schwarcz e Heloisa M. Starling)
Imprensa negra no Brasil do Século XIX (Ana Flávia Magalhães Pinto)
C
Intelectuais negras (bell hooks)
Crítica da Razão Negra (Achille Mbembe)
Culturas africanas e afro-brasileiras em sala de aula: saberes para os professores, fazeres para os alunos (Renata Felinto)
D
Dicionário escolar afro-brasileiro (Nei Lopes)
L
Identidade Cultural e Diáspora (Stuart Hall)
Lendas africanas dos Orixás (Pierre Verger)
Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica (Eduardo de Assis Duarte)
M
Mitologia dos Orixás (Reginaldo Prandi)
E
Mulheres Negras no Brasil (Érico Vital Brazil e Schuma Schumaher)
O
Origens africanas do Brasil contemporâneo: histórias, línguas, culturas e civilizações (Kabengele Munanga) Os Orixás do Abdias: pinturas e poesia de Abdias Nascimento (Elisa Larkin Nascimento)
P
Pai contra mãe (Machado de Assis)
42 R
Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica (Edward Telles)
Racismo e sexismo na cultura brasileira (Lélia Gonzalez)
S
SITES
100 livros infantis sobre meninas negras: w ww.100meninasnegras.com ww.100meninasnegras.com
O genocídio do negro brasileiro: processo de um racismo mascarado (Abdias Nascimento) O negro no Brasil de hoje (Kabengele Munanga e Nilma Lino Gomes) O negro revoltado (Abdias Nascimento) O que é racismo estrutural? (Silvio Almeida) O que é lugar de fala? (Djamila Ribeiro)
43 Museu Afro Brasil: www.museuafrobrasil.org.br Núcleo de Apoio à Pesquisa Brasil África: www.brasilafrica.fch.usp.br
Revista Raça: www.revistaraca.com.br
U
Poemas da recordação e outros movimentos (Conceição Evaristo)
Úrsula (Maria Firmina dos Reis)
The Trans-Atlantic Slave Trade Database: www.slavevoyages.org Uneafro: www.uneafrobrasil.org
Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África (Alberto da Costa e Silva)
Casa das Áfricas: www.casadasafricas.org.br Vozes Marginais na literatura (Érica Peçanha do Nascimento) Yorùbá: tradição oral e história (Olúmúyìwá Anthony Adékóyà)
CULTNE - Acervo Digital de Cultura Negra: www.cultne.com.br Fundação Cultural Palmares: www.palmares.gov.br GELEDÉS Instituto da Mulher Negra: www.geledes.org.br Ilú Obá De Min: www.iluobademin.com.br
Quem é quem na negritude brasileira (Eduardo de Oliveira)
O mundo negro: relações raciais e a contribuição do movimento negro contemporâneo no Brasil (Amílcar Araújo Pereira)
AfroeducAÇÃO: www.afroeducacao.com.br
Casa de Cultura da Mulher Negra: www.casadeculturadamulhernegra.org.br
Quem tem medo do feminismo negro? (Djamila Ribeiro)
O
A Cor da Cultura: www.acordacultura.org.br
Pode o subalterno falar? (Gayatri Chakravorty Spivak)
Que “negro” é esse na cultura popular negra? (Stuart Hall)
Negros e Brancos em São Paulo, 1888-1988 (George Reid Andrews)
Projeto Afreaka: www.afreaka.com.br Sejamos todos feministas (Chimamanda Ngozi Adichie)
Blogueiras Negras: www.blogueirasnegras.org
V Y
Negritude: usos e sentidos (Kabengele Munanga)
A mãe preta: www.amaepreta.com.br
Sonhos africanos, vivências ladinas: escravos e forros em São Paulo – 1850-1880 (Maria Cristina Cortez Wissenbach)
Q
Negras imagens: ensaios sobre cultura e escravidão no Brasil (Lilia M. Schwarcz e Letícia Vidor de Sousa Reis)
HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Pele negra, máscaras brancas (Frantz Fanon)
Quarto de despejo: diário de uma favelada (Carolina Maria de Jesus)
Necropolítica (Achille Mbembe) Negociação e conito: a resistência negra no Brasil escravista (João José Reis e Eduardo Silva)
Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites – Século XIX (Celia Maria Marinho de A zevedo)
Enciclopédia brasileira da diáspora africana (Nei Lopes)
REFERÊNCIAS
N
Maio (Lima Barreto)
Dicionário da Escravidão e Liberdade (Lilia M. Schwarcz e Flávio Gomes) E eu não sou uma mulher? (Sojourner Truth)
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HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Instituto de Pesquisa e Estudos AfroBrasileiros: www.ipeafro.org.br Movimento Negro Unicado (MNU): www.mnu.org.br
CANAIS YOUTUBE AD Junior Afros e Ans Cleyton Santana DePretas Emicida Neggata Papo de Preta PH Côrtes Preta Pariu Preta-Rara Pretinho Mais que Básico Racionais TV Spartakus Santiago Soul Vaidosa Tá bom pra você? Um abadá para cada dia
REFERÊNCIAS
O
Origens africanas do Brasil contemporâneo: histórias, línguas, culturas e civilizações (Kabengele Munanga) Os Orixás do Abdias: pinturas e poesia de Abdias Nascimento (Elisa Larkin Nascimento)
P
Pai contra mãe (Machado de Assis)
42 R
Racismo à brasileira: uma nova perspectiva sociológica (Edward Telles)
Racismo e sexismo na cultura brasileira (Lélia Gonzalez)
S
SITES
100 livros infantis sobre meninas negras: w ww.100meninasnegras.com ww.100meninasnegras.com
A Cor da Cultura: www.acordacultura.org.br Revista Raça: www.revistaraca.com.br AfroeducAÇÃO: www.afroeducacao.com.br Blogueiras Negras: www.blogueirasnegras.org
Pode o subalterno falar? (Gayatri Chakravorty Spivak)
U
Casa de Cultura da Mulher Negra: www.casadeculturadamulhernegra.org.br
Poemas da recordação e outros movimentos (Conceição Evaristo)
Úrsula (Maria Firmina dos Reis)
Que “negro” é esse na cultura popular negra? (Stuart Hall)
Vozes Marginais na literatura (Érica Peçanha do Nascimento) Yorùbá: tradição oral e história (Olúmúyìwá Anthony Adékóyà)
Quem tem medo do feminismo negro? (Djamila Ribeiro)
CULTNE - Acervo Digital de Cultura Negra: www.cultne.com.br Fundação Cultural Palmares: www.palmares.gov.br GELEDÉS Instituto da Mulher Negra: www.geledes.org.br Ilú Obá De Min: www.iluobademin.com.br
Quem é quem na negritude brasileira (Eduardo de Oliveira)
Instituto de Pesquisa e Estudos AfroBrasileiros: www.ipeafro.org.br Movimento Negro Unicado (MNU): www.mnu.org.br
FICHA TÉCNICA
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Instituto Tomie Ohtake
Presidente: Ricardo Ohtake Núcleo de Pesquisa e Curadoria: Paulo Miyada (coordenador), Carolina De Angelis, Luise Malmaceda, Priscyla Gomes e Theo Monteiro Produção: Vitória Arruda (diretora), André Luiz Bella, Carla Ogawa, Cecília Bracale, Karina Mignoni, Lucas Fabrizzio, Mana Mendonça, Patricia Castilho e Rodolfo Borbel Administração e Finanças: Roberto Souza Leão Veiga (diretor executivo), Bruno Damaceno, Carlito Oliveira Junior, Fabiana Cristina de Almeida, Joseilda Conceição, Moises Silva Mello, Renê Rossignol, Sergio Santos Souza e Willian dos Santos Negócios: Ivan Lourenço (diretor), Fernando Pinho, Flavio Alves e Kelly Lima Assuntos Institucionais: Simone Alvim, Eloise Martins, Marcella Nigro e Ricardo Miyada (audiovisual) Núcleo de Cultura e Participação: Felipe Arruda (diretor), Ágata Rodriguez, Andrea Souza, Bruno Coltro Ferrari, Claudio Rubino, Divina Prado, Elisabeth Barboza, Emol, Fernanda Beraldi, Isadora Borges, Isadora Mellado, Jane Santos, Jordana Braz, Julia Cavazzini, Luara Carvalho, Lucia Abreu Machado, Maiara Paiva, Mauricio Yoneya, Melina Martinho, Natame Diniz, Pedro Costa, Priscila Menegasso, Thiago Zati, Victor Gabriel da Silva (estagiário) e Victor Santos Assessoria de Imprensa: Pool de Comunicação, Marcy Junqueira, Ana Junqueira e Martim Pelisson Informática: André Biacca Documentação: Marcos Massayuki Sutani e Jodeval de Souza (aprendiz) Secretaria: Maria de Fátima Rocha de Sá e Deolinda Correia de Almeida Design gráco: gráco: Mônica Passinato, Nazareth Baños, Rafael Suriani e Rodrigo Passinato
The Trans-Atlantic Slave Trade Database: www.slavevoyages.org Uneafro: www.uneafrobrasil.org
Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África (Alberto da Costa e Silva)
Casa das Áfricas: www.casadasafricas.org.br
V Y
Núcleo de Apoio à Pesquisa Brasil África: www.brasilafrica.fch.usp.br Projeto Afreaka: www.afreaka.com.br
Sejamos todos feministas (Chimamanda Ngozi Adichie)
Sonhos africanos, vivências ladinas: escravos e forros em São Paulo – 1850-1880 (Maria Cristina Cortez Wissenbach)
Q
Museu Afro Brasil: www.museuafrobrasil.org.br
A mãe preta: www.amaepreta.com.br
Pele negra, máscaras brancas (Frantz Fanon)
Quarto de despejo: diário de uma favelada (Carolina Maria de Jesus)
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HISTÓRIAS AFRO-ATLÂNTICAS
Coordenação Operacional: Alexandre Lopes Pereira e Wagner Antônio Barbosa (supervisor) Apoio: Cícera Medeiros Fontão, Daniel Soares, Edmilson Pereira, Edson Jose Dias, Elcio Borges, Everton Alves, Fábio Araújo, Frants Ley Pierre, Giane Andrade, Gilmar Batista, Marcelo Mariano, Marina Neves, Orlando Rodrigues, Raina Ramos, Regis Santana Alves, Silva Regina Melo, Solange Sousa e Wellington Araújo Técnica: Adilson Oliveira da Silva, Jacildo Antonio de Paula, Jefferson Lima, Pedro Mario Costa e Silvio Santos Lima Limpeza: Carmelita Novais, Dionizia Conceição, Elizandro Ferreira Souza, Elza Martins, Jairo Nascimento, Luciene Monteiro e Valdir Ramos da Silva Zeladoria: Andre Luiz Cypriano, Aroldo Eça e Jessé de Souza Publicação Educativa
Coordenação: Divina Prado Laboratórios de criação: Ananda Andrade, Berenice Torres, Bruno Coltro Ferrari, Divina Prado, Eduardo Araujo Silva, Elidayana Alexandrino, Emol, Isadora Mellado, Janice de Piero, Jordana Braz, Julia Cavazzini, Kelly Lima, Luara Carvalho, Lucia Abreu Machado, Mariane Lima, Marília Carvalho, Melina Martinho, Mirella dos Santos Maria, Nádia Bosquê, Nathalia Cury, Paula Vaz Guimarães, Pedro Costa, Priscila Menegasso e Raylander Mártis dos Anjos Design gráco: gráco: Estúdio Margem (Alexandre Lindenberg, Fabiano Procopio e Nathalia Cury) Revisão: Revisão: Isabela Maia
CANAIS YOUTUBE AD Junior Afros e Ans Cleyton Santana DePretas Emicida Neggata Papo de Preta PH Côrtes Preta Pariu Preta-Rara Pretinho Mais que Básico Racionais TV Spartakus Santiago Soul Vaidosa Tá bom pra você? Um abadá para cada dia
FICHA TÉCNICA
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Instituto Tomie Ohtake
Presidente: Ricardo Ohtake Núcleo de Pesquisa e Curadoria: Paulo Miyada (coordenador), Carolina De Angelis, Luise Malmaceda, Priscyla Gomes e Theo Monteiro Produção: Vitória Arruda (diretora), André Luiz Bella, Carla Ogawa, Cecília Bracale, Karina Mignoni, Lucas Fabrizzio, Mana Mendonça, Patricia Castilho e Rodolfo Borbel Administração e Finanças: Roberto Souza Leão Veiga (diretor executivo), Bruno Damaceno, Carlito Oliveira Junior, Fabiana Cristina de Almeida, Joseilda Conceição, Moises Silva Mello, Renê Rossignol, Sergio Santos Souza e Willian dos Santos Negócios: Ivan Lourenço (diretor), Fernando Pinho, Flavio Alves e Kelly Lima Assuntos Institucionais: Simone Alvim, Eloise Martins, Marcella Nigro e Ricardo Miyada (audiovisual) Núcleo de Cultura e Participação: Felipe Arruda (diretor), Ágata Rodriguez, Andrea Souza, Bruno Coltro Ferrari, Claudio Rubino, Divina Prado, Elisabeth Barboza, Emol, Fernanda Beraldi, Isadora Borges, Isadora Mellado, Jane Santos, Jordana Braz, Julia Cavazzini, Luara Carvalho, Lucia Abreu Machado, Maiara Paiva, Mauricio Yoneya, Melina Martinho, Natame Diniz, Pedro Costa, Priscila Menegasso, Thiago Zati, Victor Gabriel da Silva (estagiário) e Victor Santos Assessoria de Imprensa: Pool de Comunicação, Marcy Junqueira, Ana Junqueira e Martim Pelisson Informática: André Biacca Documentação: Marcos Massayuki Sutani e Jodeval de Souza (aprendiz) Secretaria: Maria de Fátima Rocha de Sá e Deolinda Correia de Almeida Design gráco: gráco: Mônica Passinato, Nazareth Baños, Rafael Suriani e Rodrigo Passinato
Coordenação Operacional: Alexandre Lopes Pereira e Wagner Antônio Barbosa (supervisor) Apoio: Cícera Medeiros Fontão, Daniel Soares, Edmilson Pereira, Edson Jose Dias, Elcio Borges, Everton Alves, Fábio Araújo, Frants Ley Pierre, Giane Andrade, Gilmar Batista, Marcelo Mariano, Marina Neves, Orlando Rodrigues, Raina Ramos, Regis Santana Alves, Silva Regina Melo, Solange Sousa e Wellington Araújo Técnica: Adilson Oliveira da Silva, Jacildo Antonio de Paula, Jefferson Lima, Pedro Mario Costa e Silvio Santos Lima Limpeza: Carmelita Novais, Dionizia Conceição, Elizandro Ferreira Souza, Elza Martins, Jairo Nascimento, Luciene Monteiro e Valdir Ramos da Silva Zeladoria: Andre Luiz Cypriano, Aroldo Eça e Jessé de Souza Publicação Educativa
Coordenação: Divina Prado Laboratórios de criação: Ananda Andrade, Berenice Torres, Bruno Coltro Ferrari, Divina Prado, Eduardo Araujo Silva, Elidayana Alexandrino, Emol, Isadora Mellado, Janice de Piero, Jordana Braz, Julia Cavazzini, Kelly Lima, Luara Carvalho, Lucia Abreu Machado, Mariane Lima, Marília Carvalho, Melina Martinho, Mirella dos Santos Maria, Nádia Bosquê, Nathalia Cury, Paula Vaz Guimarães, Pedro Costa, Priscila Menegasso e Raylander Mártis dos Anjos Design gráco: gráco: Estúdio Margem (Alexandre Lindenberg, Fabiano Procopio e Nathalia Cury) Revisão: Revisão: Isabela Maia
TEREZA DE BENGUELA Tereza de Benguela (?-1770) foi uma liderança
Após 20 anos governando o Quilombo e impe-
quilombola que viveu na região do atual estado do Mato Grosso no século XVIII. Assumiu o comando do Quilombo do Quariterê, também conhecido como Quilombo do Piolho, após a morte de seu companheiro, José Piolho, em uma das ofensivas militares empreendidas pelo
dindo ataques, Tereza foi capturada em 1770.
governo para tentar destruir a comunidade. O Quilombo do Quariterê contava com uma complexa estrutura administrativa da qual fazia parte um parlamento negro formado por chefes
Alguns historiadores apontam que foi assas-
sinada por seus raptores, enquanto outros dizem que cometeu suicídio. O legado de Tereza de Benguela, a Rainha Negra, permanece vivo até hoje. Ela é lembrada como uma das principais articuladoras da resistência ao sistema escravocrata e foi homenageada pela Lei 12.987, sancionada em 2014 2014 pela presidenta Dilma Rousseff, que de
TEREZA DE BENGUELA Tereza de Benguela (?-1770) foi uma liderança
Após 20 anos governando o Quilombo e impe-
quilombola que viveu na região do atual estado do Mato Grosso no século XVIII. Assumiu o comando do Quilombo do Quariterê, também conhecido como Quilombo do Piolho, após a morte de seu companheiro, José Piolho, em uma das ofensivas militares empreendidas pelo
dindo ataques, Tereza foi capturada em 1770.
governo para tentar destruir a comunidade. O Quilombo do Quariterê contava com uma complexa estrutura administrativa da qual fazia parte um parlamento negro formado por chefes guerreiros que auxiliavam Tereza Tereza na tomada de decisões. Com uma população multiétnica que chegou a quase 200 pessoas, composta por africanos, indígenas e mestiços, a comunidade praticava agricultura agricultura de subsistência, criação de
animais de pequeno porte, fundição de metais e relações comerciais com vilas dos arredores.
Alguns historiadores apontam que foi assas-
sinada por seus raptores, enquanto outros dizem que cometeu suicídio. O legado de Tereza de Benguela, a Rainha Negra, permanece vivo até hoje. Ela é lembrada como uma das principais articuladoras da resistência ao sistema escravocrata e foi homenageada pela Lei 12.987, sancionada em 2014 2014 pela presidenta Dilma Rousseff, que dede niu 25 de julho como co mo o Dia Nacional de Tereza Tereza
de Benguela e da Mulher Negra.
MARIA FIRMINA DOS REIS Maria Firmina dos Reis (1825-1917) foi uma professora e escritora nascida no Maranhão, cuja trajetória nos ensina outras formas de olhar
para o passado e reinterpretar o presente.
O romance Úrsula foi foi a primeira obra literá-
ria abolicionista a considerar o ponto de vista dos escravizados, exaltando suas memórias, valores e dignidade humana. A narração em
terceira pessoa e os diálogos construídos por Foi a primeira mulher a ser aprovada num concurso público para o cargo de professora primária no estado do Maranhão, ofício que exerceu durante toda a vida. Ao se aposentar, ap osentar,
Maria Firmina apresentam interpretações da autora acerca da estrutura social, condenando assertivamente a escravidão e apontando a segregação social, socia l, racial e de gênero existente
criou a primeira escola escol a gratuita e mista – para
na época.
alunos negros e brancos – na cidade de Maçaricó, Maranhão, o que gerou escândalo na sociedade conservadora e escravocrata da época. A escola funcionou por dois anos e meio antes de seu fechamento denitivo.
Maria Firmina dos Reis dedicou a vida à literatura e à luta pelo m da escravidão e pelo pel o res peito à memória dos escravizados, deixando
Publicou crônicas, poesias e fcção em vários jornais, jorna is, contribuindo contribuindo assidua assiduament mente e com a imprensa local. Em 1859 publicou o romance Úrsula , uma das principais obras da literatura abolicionista brasileira e o primeiro romance publicado por uma mulher negra no contexto de um país colonizado e escravocrata. O livro foi lançado com a assinatura "Uma Maranhense", omitindo o verdadeiro nome da autora.
como legado o trabalho pela educação educaç ão e uma rica produção literária que se iniciou no anonimato e permaneceu no ostracismo até ser
redescoberta na década de 1960.
LUIZ GAMA Luiz Gonzaga Pinto da Gama (1830-1882) foi advogado, escritor, jornalista e orador. Dedicou sua vida à libertação dos escravizados, conseguindo alforrias para mais de 500 africanos e afrodescendentes. Dedicado aboli-
Desenvolveu estudos em direito e tornou-se rábula, título dado aos advogados que não possuíam diploma. Utilizou seus conhecimentos para atuar na libertação liber tação dos escravizados,
cionista e republicano, morreu antes de ver a concretização desses desejos.
africanos trazidos ao Brasil após a proibição do tráfco e auxiliando nos casos em que os senhores de escravos se negavam a assinar a alforria, ainda que os escravizados tivessem dinheiro para comprá-la. Fez parte do grupo dos abolicionistas legalistas, modo como eram chamados os que atuavam dentro das possi-
Era lho de um homem branco com uma afri cana livre. Sua mãe, Luiza Mahin, esteve envolvida na Revolta do dos s Malês (1935) (1935) e na Sabinada (1937), (1937), sendo até hoje considerada cons iderada uma
denunciando a ilegalidade da escravidão dos
heroína pelos movimentos negros. Apesar de ter nascido livre, visto que as crianças herda-
bilidades da lei.
vam o estatuto jurídico das mães, aos 10 anos de idade Luiz Gama foi vendido e escravizado, condição condiç ão na qual permaneceu permanec eu até os 17 17 anos.
Em 2015, 133 anos após sua morte, recebeu o título de advogado pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) como um reconhecimento reconhec imento por seus serviços prestados em prol da luta pela
Alfabetizou-se tardiamente, mas logo se tornou uma fgura importante da intelectualidade da época. Escreveu poemas satíricos que ridicularizavam larizavam a aristocracia e as guras guras poderosas da sociedade, publicados sob os pseudônimos Afro, Barrabás e Getulino. Em 1859 publicou seu primeiro livro, chamado Primeiras Trovas Burlescas e e assinado por Getulino.
liberdade e pela igualdade. Luiz Gama foi declarado Patrono da Abolição da Escravidão no
Brasil pela Lei 13.629, de 2018.
MADAME SATÃ João Francisco dos Santos (1900-1976), mais conhecido como Madame Satã, foi uma gura importante da vida cultural e noturna carioca na primeira metade do século XX. Destacou-se pela atuação como drag queen e e por lutar pela defesa dos marginalizados sociais da época. Ganhou o apelido ao se apresentar em um desle de bloco de rua do carnaval car naval carioca fantasiado de Madame Satã, cuja inspiração é o lme homônimo de Cecil B. DeMille.
A perseguição das autoridades do Estado a Madame Satã reete diretamente o contexto c ontexto da época. Pouco tempo após a abolição surgiram ideias eugenistas no Brasil, que se iniciaram com a criação da Sociedade Eugênica de São Paulo Paul o (191 (1918) 8) e estiveram estivera m presentes presen tes até o fm do governo de Getúlio Vargas. Com a implantação do Estado Novo, recrudesceu a perseguição aos ditos malandros, vadios, ociosos e pessoas consideradas suspeitas pelas
Madame Satã foi preso mais de uma vez. Os
autoridades, como os marginalizados, negros e homossexuais.
motivos de encarceramento estavam ligados
a desacato à autoridade, pois diversas vezes
A vida de Madame Satã foi marcada pela ex-
enfrentou policiais em defesa dos indivíduos marginalizados, como pessoas em situação de rua, prostitutas, travestis e afrodescendentes. Frequentava a boemia carioca e cuidava das mulheres que trabalhavam com prostituição para que não fossem vítimas de estupro ou
pressão da virilidade do malandro, a perfor-
agressão física.
mance artística, a capoeiragem, o samba e a homossexualidade, cujo estereótipo de fragilidade e delicadeza foi negado por suas ações. O personagem do malandro compartilha os valores do seu tempo e revela códigos sociais vigentes, sendo perseguido pelas autoridades ociais ao mesmo tempo em que é honrado e
exaltado pelo grupo social no qual se insere.
ABDIAS NASCIMENTO Abdias Nascimento (1914-2011) foi dramaturgo, ator, poeta, pintor, escritor, professor, ati-
vista e político. Durante seus 97 anos de vida desenvolveu um consistente trabalho em prol da defesa dos direitos dos negros e sua inclusão na vida social, cultural e política, lutando por políticas públicas afrmativas de igualdade racial. Em São Paulo, quando era cabo
do Exército, foi preso, torturado e excluído da instituição devido a sua resistência contra o racismo. Mais tarde, em uma viagem pela AméAmé rica Latina, assistiu no Teatro Municipal de Lima, no Peru, à peça O Imperador Jones , de Eugene O’Neill, na qual o protagonista negro era representado por um ator branco pintado de preto, o que provocou reexões acerca acerc a da
presença dos negros no teatro, maior palco e espelho da cultura naquela época. Voltando a São Paulo após um ano atuando no Teatro del Pueblo de Buenos Aires, Abdias foi preso, condenado à revelia pela justiça civil em virtude do mesmo incidente de resistência ao racismo pelo qual havia sido excluído do Exército. Na Penitenciária do Carandiru, criou o Teatro do Sentenciado, Sentenciado, um importante laboratório cênico para Abdias Nascimento e para os presos pres os que escreviam e encenavam suas próprias peças. Ao deixar a prisão, mudou-se para pa ra o Rio de Janeiro e fundou o Teatro Teatro Experimental Exper imental do Negro (TEN), em 1944. A primeira apresentação do grupo aconteceu no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1945, com a mesma peça vista em Lima, O Imperador Jones . O TEN chamou a atenção de muitos artistas e intelectuais para
a causa negra.
Abdias destacou-se pelo envolvimento envolvimento nas atividades culturais e pela forte militância no movimento negro. Fundou o Comitê Democrático Afro-Brasileir Afro-B rasileiro o (1945) (1945) e o Museu de Arte Negra
(1950). À frente do TEN, organizou a Convenção Nacional Nacion al do Negro (1945), (1945), fundou o jornal jorn al Quilombo (1948), (1948), organizou o I Congresso C ongresso do do Negro Brasileiro (1950) e publicou o livro O Negro Revoltado (1968), (1968), entre outras ações. Pela sua militância antirracista na época da Ditadura Civil-Militar, Civil-Mi litar, Abdias se exilou nos Estados Unidos, onde foi professor universitário,
atuou em certames internacionais pan-africanistas e desenvolveu sua produção pictórica. Ao regressar ao Brasil na década de 1980,
criou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros -Brasil eiros (IPEAFRO). (IPEAFRO). Em 1982 foi eleito deputado federal, tendo como bandeira política a luta contra o racismo
e a defesa dos direitos humanos do povo negro. Entre suas propostas, estiveram o questionamento da comemoração do 13 de maio,
sugerindo a substituição por 20 de novembro – data que marca a morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares –, a denição do racismo como crime de lesa-humanidade e o incentivo à criação de políticas armativas – como cotas
no acesso às universidades e ao mercado de trabalho e ensino da história e cultura africana
e afro-brasileira no currículo escolar.
MARIELLE FRANCO Marielle Franco Franc o (1978-2018 (1978-2018)) foi uma socióloga, sociól oga,
política, ativista, ativista , feminista e defensora dos direitos humanos nascida no Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. Foi eleita vereadora pela cidade do Rio de Janeiro em 2016 com a quinta maior votação votaçã o para o cargo:
cerca de 46 mil votos. Iniciou a militância pelos direitos humanos em
Como vereadora, presidiu a Comissão de Defesa da Mulher e integrou uma comissão criada para monitorar a intervenção federal no Rio de Janeiro, iniciada em fevereiro de 2018. O mandato de Marielle foi interrom-
pido ao ser assassinada a tiros no dia 14 de março de 2018 – crime que permanece sem resolução até o início da exposição Histórias Afro-Atlânticas.
2000, no Complexo da Maré, onde desenvolveu trabalhos com cultura e educação como
forma de resistência aos processos de exclusão, silenciamento e violência policial sofridos
diariamente pelos habitantes da comunidade. Marielle lutou pelos direitos das mulheres, apontando os alarmantes dados sobre violência e feminicídio, defendendo o direito ao aborto nos casos previstos por lei e combatendo a violência obstétrica, que culminou
na criação da Lei das Casas de Parto. Lutou, também, pela garantia de direitos à população
LGBTQI+.
Sua morte causou intensas reações no Brasil e em outros países, levando milhares de pessoas às ruas e incitando debates sobre
violência e impunidade. impuni dade. A Lei 8.054 incluiu no calendário ocial do Rio de Janeiro o Dia Ma rielle Franco – Dia de Luta Contra o Genocídio
da Mulher Negra, a ser lembrado anualmente em 14 de março.
ELZA SOARES Elza da Conceição C onceição Soares (1937 (1937-) -) nasceu em uma das primeiras favelas do Rio de Janeiro, atualmente conhecida como Vila Vintém. Ca-
Com dezenas de discos lançados, Elza cons-
sou-se muito cedo e aos 21 anos já era uma viúva com a responsabilidade de criar 5 lhos. A carreira musical também veio cedo, em 1953, quando participou do programa Calou-
últimos discos, A Mulher do Fim do Mundo (2015) e Deus é Mulher (2018), (2018), de grande projeção nacional e internacional, trazem a história de Elza Soares, seus desejos e projetos de mundo. A canção Exu nas Escolas , do álbum Deus é Mulher , destaca-se por abordar a discussão sobre história e cultura afro-brasileira nos currículos escolares. Elza Soares é considerada um símbolo de força da mulher negra brasileira e de luta contra o racismo, a
ros em Desfle ,
apresentado por Ary Barroso,
e ganhou o primeiro lugar. Usando roupas maiores que seu tamanho e muito jovem, causou risos na plateia e estranhamento no apresentador, que perguntou de qual planeta ela havia vindo. Elza prontamente respondeu: “do planeta fome”. A resposta faz alusão às privações que passou na infância e às dicul dades enfrentadas para cuidar dos lhos sem
o apoio do marido, que era alcoólatra e a tratava com violência. A musicalidade de Elza Soares ganhou muito destaque por destoar da bossa nova, ritmo da moda, e criar uma mistura original entre o
jazz, o samba e sua voz única. Na década de 1960, sua carreira decolou com a gravação de vários discos e a projeção internacional. Paralelamente, casou-se com Garrincha, famoso jogador de futebol da seleção brasileira, o que gerou violentas reações populares. Elza recebia ameaças de morte e era atacada nas ruas
e em sua própria casa sob a acusação ac usação de ser oportunista e ter acabado com o casamento c asamento do jogador – que já havia se casado c asado três t rês vezes
antes de conhecer Elza.
truiu uma sólida carreira e em 1999 foi eleita
a cantora do milênio pela Rádio BBC. Os dois
violência contra as mulheres e a homofobia.
Quantas histórias não foram contadas? Quantas vozes não foram ouvidas? Quantas pessoas permanecem sem nome, sem rosto, sem história?
O SILÊNCIO É UMA PROVOCAÇÃO RUIDOSA.
PANORAMA ALGUNS DADOS SOBRE EMANCIPAÇÕES, EMANCIPAÇÕES, RESISTÊNCIAS, RESISTÊN CIAS, ATIVISMOS, TIVISMOS, LUTAS, CONQUISTAS E SEGREGAÇÕES VIVIDAS E PROTAGONIZADAS POR AFRICANOS E AFRODESCENDENTES DO SÉCULO XVII ATÉ O SÉCULO XXI.
1597 1711 1791 1833
Primeiras notícias sobre a formação de focos de resistência em Palmares. Fundação da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, em São Paulo. Irmandades semelhantes surgiram em todo o território brasileiro com o intuito de abrigar a religiosidade de negros e negras impedidos de frequentar as igrejas dos brancos. Revolta de São Domingos ou Revolução Haitiana. Francisco de Paula Brito funda o jornal Homem de Cor , o primeiro periódico brasileiro a lutar contra a discriminação racial. Paula Brito foi responsável pela publicação dos primeiros livros de Machado de Assis. Revolta de Carrancas, em Minas Gerais.
S A C I T - N O Â R L F T A A
1835 1838 1849 1850 1854 1869
Revolta dos Malês, na Bahia.
1886 1888 1890 1910 1911
Revolta da Chibata, no Rio de Janeiro.
1915
A Lei 581, conhecida como Lei Eusébio de Queirós, proíbe o tráco
negreiro para o Brasil. Teve poucos efeitos práticos nos primeiros anos de aplicação. O Decreto 1.331-A proíbe o acesso dos escravizados à educação pública. O Decreto 1.695 proíbe a venda de escravizados em leilões públicos e a venda separada de membros da mesma família, com exceção dos lhos maiores
1929 1931 1934 1936
de 15 anos.
1871
A Lei 2.040, conhecida como Lei do Ventre Livre ou Lei Rio Branco, concede a liberdade aos lhos de escravizados
nascidos após 1871. Dene, também, que essas
crianças deveriam ser entregues ao governo ou permanecer aos cuidados dos proprietários de seus pais até os 8 anos, quando era dada aos senhores de escravos a opção de receber uma indenização do governo ou utilizar os serviços do “liberto” até que completasse 21 anos de idade.
S A I R Ó T S I H
1884 1885
As províncias do Ceará e do Amazonas abolem a escravidão em seus territórios. A Lei 3.270, conhecida como Lei dos Sexagenários ou Lei Saraiva-Cotejipe, concede a liberdade aos escravizados com mais de 60 anos de idade. A lei também dene que
deveriam trabalhar para seus senhores por mais 3 anos como forma de indenização pela alforria.
1938 1945
1950
A Lei 3.353, conhecida como Lei Áurea, declara extinta a escravidão no Brasil. O Decreto 528, que regulamenta a imigração no Brasil, veta a entrada de africanos e asiáticos. O Decreto 847, que aborda crimes e penas, proíbe a prática da capoeira.
Revolta de Manuel Congo, no Rio de Janeiro. Insurreição do Queimado, no Espírito Santo.
A Lei 3.310 proíbe a aplicação de pena de açoite aos escravizados.
João Batista de Lacerda, diretor do Museu Nacional, participa do Congresso Universal de Raças defendendo a tese de que em três gerações o Brasil seria um país branco. O poeta Deocleciano Nascimento funda o jornal O Menelick . Teve duração efêmera, mas constituiu um marco importante da imprensa negra no Brasil, inspirando a criação da revista O Menelick 2º Ato em 2007. Acontece o 1º Congresso Brasileiro de Eugenia. Fundação da Frente Negra Brasileira (FNB), que constitui-se como partido político em 1936. Getúlio Vargas dissolve a FNB em 1937. Antonieta de Barros (19011952) é eleita deputada pelo estado de Santa Catarina, sendo a primeira mulher negra do Brasil a alcançar o cargo. Laudelina de Campos Mello (1904-1991) funda a primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do Brasil. A atuação de Laudelina foi fundamental para que, anos depois, as empregadas domésticas tivessem acesso à Carteira de Trabalho e à Previdência Social. Em 1988 a associação foi transformada em sindicato. O Decreto-lei 406 concede ao Governo Federal o direito de limitar ou suspender a entrada no Brasil de indivíduos de “determinadas raças ou origens” (trecho extraído da publicação original). Ex-militantes da FNB fundam a Associação do Negro Brasileiro, em São Paulo. Getúlio Vargas assina o Decreto-lei 7.967, cujo artigo 2º diz: “Atenderse-a, na admissão dos imigrantes, à necessidade de preservar e desenvolver, na composição étnica da população, as características mais convenientes da sua ascendência europeia, assim como a defesa do trabalhador nacional.”
1951 1964 1976 1978 1981 1988 1989 1990 1991 1992 1995
O departamento feminino do Teatro Experimental do Negro (1944) cria o Conselho Nacional de Mulheres Negras, considerado a primeira organização autônoma de mulheres negras no Brasil. A Lei nº 1.390, conhecida como Lei Afonso Arinos, inclui entre as contravenções penais a prática de atos motivados por preconceito de raça ou de cor.
1998 2000 2003
Um golpe dá início à Ditadura Civil-Militar no Brasil. Na Bahia, a Lei Estadual 25.095 suprime a obrigatoriedade obrigatoriedade de exigência de registro, autorização policial e pagamento de taxa para funcionamento dos terreiros de candomblé. Criação do Movimento Negro Unicado (MNU).
Lélia Gonzalez (1935-1994) é eleita uma das mulheres do ano pelo Conselho Nacional de Mulheres do Brasil. Acontece o 1º Encontro Nacional de Mulheres Negras, no Rio de Janeiro, com a participação de cerca de 400 mulheres vindas de 18 estados brasileiros.
2007 2009 2010 2011 2012
como crime a prática ou incitação de discriminação ou preconceito de raça, etnia, religião e procedência nacional.
Acontece o 1º Encontro Latino-americano e do Caribe de Mulheres Negras, na República Dominicana. O encontro deu origem ao Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha. 1ª Marcha Nacional Contra o Racismo e pela Vida. 1º Encontro Nacional de Comunidades Negras Rurais Quilombolas, que dá origem à Comissão Nacional Provisória das Comunidades Rurais Negras Quilombolas. No ano seguinte é criada a Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ).
A Lei 10.639 torna obrigatório o ensino de história e cultura brasileira e afro-brasileira nas escolas públicas e particulares de todo o território nacional. Criação da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR). 1ª Jornada Desigualdades Raciais na Educação Brasileira, promovida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação. A Portaria 992 do Ministério da Saúde institui a Política Política Nacional de Saúde Integral da População Negra. A Lei 12.288 institui o Estatuto de Igualdade Racial. A Lei 12.519 dene 20
de novembro como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A Lei 12.711, conhecida como Lei de Cotas, obriga as universidades, institutos e centros federais a reservarem vagas para estudantes da rede também, a reserva de vagas para estudantes com renda familiar mensal por pessoa até 1,5 salário mínimo. A lei prevê reserva de vagas para negros, pardos, indígenas e
como Lei Caó, dene
O IPEAFRO, em conjunto com a Secretaria Extraordinária de Defesa e Promoção das Populações Negras do Governo do Estado do Rio de Janeiro, organiza o 1º Fórum sobre Ensino da História das Civilizações Africanas na Escola Pública, que deu origem à publicação A África na escola brasileira . brasileira .
Criação da Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB).
pública de ensino. Dene,
A Lei 7.716, conhecida
É criada a Campanha Nacional Contra a Esterilização de Mulheres Negras como resposta às esterilizações em massa que vinham acontecendo desde a década de 1980.
Criação do sistema de cotas na Universidade de Brasília (UnB).
pessoas com deciência
de acordo com a proporção desses grupos em cada unidade da federação. federação.
2013 2014
Aprovação da PEC dos Trabalhadores Domésticos. Mãe Stella de Oxóssi se torna a primeira mulher negra yalorixá a receber o título de “imortal” pela Academia de Letras da Bahia. A Lei 12.990 reserva aos negros 20% das vagas em concursos públicos. A presidenta Dilma Rousseff sanciona a Lei 12.987, que cria o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
VOCABULÁRIO EM DEBATE A AFROFUTURISMO E ETNOCENTRISMO P POLÍTICAS AFIRMATIVAS Imaginar possíveis futuros e realidades alternativas a partir de perspectivas negras. O termo surgiu em 1994 no texto Black To The Future , de Mark Dery. Nas palavras do próprio autor: “É possível a comunidade que teve seu passado deliberadamente apagado, e a energia subsequentemente consumida pela procura de traços legíveis de sua história, imaginar possíveis futuros?”
Concepção de mundo de um sujeito que considera o seu grupo étnico superior a todos os outros, o que gera hierarquização e desvalorização de grupos étnicos diferentes.
EUGENIA
signicados e as tradições para os indivíduos
representados por ela.
B
a população. No Brasil, a eugenia ganhou contornos racistas, culminando nas políticas de branqueamento.
I
BRANQUEAMENTO Clareamento da cor da pele ou internalização de comportamentos e culturas relacionados aos brancos em detrimento da cultura de matriz africana. O processo pode incidir sobre um indivíduo ou sobre o modo como sua imagem é reproduzida e sua história é contada.
C COLORISMO D
DIÁSPORA NEGRA Dispersão de pessoas do continente africano para outras regiões do mundo, principalmente devido às relações coloniais e ao escravagismo mercantil. Fenômeno histórico e social que teve início na Idade Moderna e se estendeu até o nal
do século XIX.
DISCRIMINAÇÃO RACIAL Atitude de exclusão, desvalorização, julgamento e negação de oportunidades, direitos e liberdades individuais a sujeitos de outra raça, cor ou etnia.
E EPISTEMICÍDIO
Desvalorização, negação ou silenciamento dos saberes, conhecimentos e culturas produzidos por grupos não dominantes e historicamente subalternizados.
ESTEREÓTIPOS
S A
Imagens mentais e conceitos que simplicam
a compreensão da realidade. Essas imagens mentais são baseadas em sistemas de valores e crenças individuais ou culturais que denem
indivíduos, grupos ou atitudes com base em informações adquiridas anteriormente, o que tende
INJÚRIA RACIAL Crime que consiste em ofender alguém com base em sua raça, cor, etnia, crença ou origem. No Brasil, a injúria racial está prevista no artigo 140, parágrafo 3º, do Código Penal, e estabelece a pena de reclusão de um a três anos e pagamento de multa.
7.716/1989, o racismo é crime inaançável e
imprescritível.
R RACISMO AMBIENTAL Ato de impedir a posse ou desapropriar as terras de indígenas, quilombolas, ribeirinhos e outros grupos raciais discriminados.
RACISMO CIENTÍFICO OU RACIALISMO
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA
Termo referente referente à identidade racial branca que coloca o sujeito branco em posição privilegiada, perpetuando discriminação, racismo e desigualdade de oportunidades.
Termo relacionado à discriminação a partir do julgamento dos tons tons de pele da população negra, ampliando as diferenças de oportunidades entre as pessoas a partir da tonalidade da pele e de traços fenotípicos.
Crime que parte da crença na superioridade de uma raça em relação às outras, gerando condutas discriminatórias dirigidas a determinados grupos ou coletividades. Previsto na Lei Federal
a seleção articial com o objetivo de melhorar
BRANQUITUDE
S A C I T - N O Â R L F T A A
RACISMO
Termo criado em 1883 por Francis Galton que defende a existência de raças superiores, vinculando características genéticas à atuação de cada indivíduo no meio social, bem como
APROPRIAÇÃO CULTURAL Fazer parte de uma cultura hegemônica e apropriar-se de elementos de outra cultura, historicamente subalternizada, sem considerar os usos,
Políticas públicas criadas com o objetivo de corrigir desigualdades sociais resultantes de processos históricos.
L
Atitude discriminatória, ofensiva ou violenta contra grupos ou pessoas que têm diferentes religiões ou crenças.
Criação de doutrinas cientícas que se pautam na superioridade de uma raça para justicar pro -
INTERSECCIONALIDADE
RACISMO ESTRUTURAL
Sobreposição de identidades sociais vinculadas a formas de subordinação, discriminação e exclusão, como raça, gênero, sexualidade e classe social.
Processo histórico e político que reproduz estruturalmente os privilégios ou as subalternidades de um sujeito com base em sua cor, raça e etnia.
cessos de dominação, exclusão e segregação.
RACISMO INSTITUCIONAL
LUGAR DE FALA O termo dene a localização social do sujeito
que fala e como ela afeta a maneira como é escutado, implicando em hierarquias, desigualdades, racismo e sexismo.
Termo criado na década de 1960 por Stokely Termo Carmichael e Charles V. Hamilton, ativistas do Panteras Negras . Dene a existência de desi gualdades baseadas na raça que ocorrem nas diferentes instituições, como órgãos públicos, empresas, universidades etc.
M MERITOCRACIA
REPRESENTATIVIDADE
Poder do mérito. Atribuição do sucesso pessoal ou prossional ao esforço e às capacidades do
indivíduo sem considerar as suas condições sociais e históricas. Mito do esforço pessoal que desconsidera a desigualdade de oportunidades e perpetua a subalternidade de determinados grupos ou indivíduos.
MITO DA DEMOCRACIA RACIAL Mito construído historicamente no Brasil que arma a igualdade entre brancos, negros e indí -
genas a partir do pressuposto de que cor de pele e traços fenotípicos não implicam em relações sociais. A negação da existência de desigualdade racial e de disparidade de acesso a direitos e oportunidades entre brancos, negros e indígenas contribui para a perpetuação das discriminações e segregações sociais.
N NEGRITUDE
Conceito multifacetado e dinâmico de caráter cul-
Presença e representação de indivíduos de diferentes grupos étnico-raciais, classes sociais e gêneros nas instituições, espaços de poder, produção cultural e mídias.
S
SEGREGAÇÃO RACIAL Separar, isolar ou impedir o acesso de um grupo étnico-racial a lugares, eventos, serviços e instituições.
DO T TESE BRANQUEAMENTO Política de incentivo à imigração de europeus brancos e aos casamentos inter-raciais visando ao branqueamento da população do Brasil. Surgiu no século XIX, antes da abolição da escravidão, reetindo uma preocupação das
SIDNEY AMARAL Sidney Amaral
2014
Incômodo
Cinco desenhos em aquarela,
grate, guache, lápis de cor e tinta de caneta permanente sobre papel
Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil Doação Associação Pinacoteca Arte e Cultura – APAC, 2017
SIDNEY AMARAL Sidney Amaral
2014
Incômodo
Cinco desenhos em aquarela,
grate, guache, lápis de cor e tinta de caneta permanente sobre papel
Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil Doação Associação Pinacoteca Arte e Cultura – APAC, 2017
JOS ALVES DE OLINDA José Alves de Olinda Barca dos Exus
sem data Madeira policromada, bra vegetal e metal
Coleção Associação Museu Afro Brasil, São Paulo, Brasil
JOS ALVES DE OLINDA José Alves de Olinda Barca dos Exus
sem data Madeira policromada, bra vegetal e metal
Coleção Associação Museu Afro Brasil, São Paulo, Brasil
KARA WALKER Kara Walker Sem título
2005 Colagem,
três quadros
Coleção particular, Rio de Janeiro, Brasil
KARA WALKER Kara Walker Sem título
2005 Colagem,
três quadros
Coleção particular, Rio de Janeiro, Brasil
ADENOR GONDIM
Adenor Gondim
década de 1990
Sem título, da série Irmandade da Nossa Senhora da Boa Morte
Impressão fotográca
Coleção do artista, Salvador, Brasil
ALFRED WEIDINGER Alfred Weidinger
2012
Fon Ndofoa Zofoa III — rei de Babungo
Impressão fotográca
[Fon Ndofoa Zofoa III — King of Babungo]
Acervo Associação Museu Afro Brasil, São Paulo, Brasil
ALFRED WEIDINGER Alfred Weidinger
2012
Fon Ndofoa Zofoa III — rei de Babungo
Impressão fotográca
[Fon Ndofoa Zofoa III — King of Babungo]
Acervo Associação Museu Afro Brasil, São Paulo, Brasil
HANK WILLIS THOMAS Hank Willis Thomas What Goes Without Saying
2012 Pelourinho de madeira e microfone
[O que não precisa ser dito]
© Hank Willis Thomas.
Courtesy of the artist and Jack Shainman Gallery, New York.
HANK WILLIS THOMAS Hank Willis Thomas What Goes Without Saying
2012 Pelourinho de madeira e microfone
[O que não precisa ser dito]
© Hank Willis Thomas.
Courtesy of the artist and Jack Shainman Gallery, New York.
ANT NIO OBÁ
Antônio Obá
Ex-cravo, da série Ex-votos
Amnésia, da série Ex-votos,
Identidade, da série Ex-votos
2017
2017
2017
Betume e
Betume e
cravos sobre
placa de madeira
acrílica sobre
placa de madeira
Betume e espelho sobre placa de madeira
Cortesia do artista e Galeria Mendes Wood DM, São Paulo, Brasil
Cortesia do artista e Galeria Mendes Wood DM, São Paulo, Brasil
Cortesia do artista e Galeria Mendes Wood DM, São Paulo, Brasil
BRUNO BAPTISTELLI Bruno Baptistelli Linguagem
2015
Impressão em papel offset sobre madeira
Coleção particular, São Paulo, Brasil
PAULO NAZARETH Paulo Nazareth Negro preto
2012-13
Impressão sobre papel algodão
Coleção Galeria Mendes Wood DM,
São Paulo, Brasil
MOIS S PATRÍCIO
Moisés Patrício Sem título, da série Aceita?
2014-18
Impressão fotográca digital
Coleção Fernando e Camila Abdalla,
São Paulo, Brasil
ABDIAS NASCIMENTO
Abdias Nascimento
1970 Acrílica
Okê Oxossi
sobre tela
Acervo Instituto Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), Rio de Janeiro, Brasil
SIDNEY AMARAL Sidney Amaral
2009-14
Mãe Preta ou A fúria de Iansã
sobre tela
Acrílica
Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil Doação Cleusa de Campos Garnkel, 2015
SIDNEY AMARAL Sidney Amaral
2009-14
Mãe Preta ou A fúria de Iansã
sobre tela
Acrílica
Acervo Pinacoteca do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil Doação Cleusa de Campos Garnkel, 2015
EDOUARD ANTOINE RENARD Edouard Antoine Renard
1833
Óleo sobre tela
A Slave Rebellion on a Slaveship [Rebelião de escravos em navio negreiro]
Coleção Musée du Nouveau-Monde,
coleções de arte e história, La Rochelle, França
HISTÓRIA NARRATIVA MEMÓRIA DIVERSIDADE IDENTIDADE OBJETO SUJEITO OUTRO
IDENTIDADE OBJETO SUJEITO OUTRO EU RESISTÊNCIAS ATIVISMOS EMANCIPAÇÕES
EU RESISTÊNCIAS ATIVISMOS EMANCIPAÇÕES LIBERDADE CULTURA CORPO DESLOCAMENTO
LIBERDADE CULTURA CORPO DESLOCAMENTO LONGE PERTO SILÊNCIO GRITO
LONGE PERTO SILÊNCIO GRITO QUEM ONDE QUANDO NÃO
QUEM ONDE QUANDO NÃO